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Traduzido por:
Williams Ribeiro de Farias
Dra. Yeda Ribeiro de Farias
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3
Título original: Tibetan Medicine Series 9
©1985 Library of Tibetan Works and Archives
Dharamsala, Índia
1998
Direitos de edição em línguas portuguesa e espanhola
adquiridos pela EDITORA CHAKPORI
Caixa Postal 6636 - CEP 13084-970
Campinas - SP - Brasil
4
ÍNDICE
UMA INTRODUÇÃO À MEDICINA TIBETANA .............................................. 5
O Corpo Saudável ................................................................ 12
O Corpo Doente ................................................................... 13
Métodos de Diagnóstico ....................................................... 16
Tratamento ........................................................................... 18
Farmacologia ........................................................................ 19
A PRÁTICA E A TEORIA DA TERAPÊUTICA NA MEDICINA TIBETANA.......... 22
Introdução............................................................................. 22
Capítulo 27 ........................................................................... 23
Capítulo 28 ........................................................................... 29
Capítulo 29 ........................................................................... 35
Capítulo 30 ........................................................................... 39
UM GUIA PARA A URINÁLISE MÉDICA TIBETANA .................................... 42
Urinálise Básica .................................................................... 43
Pré-requisitos ........................................................................ 43
Coleta da urina ..................................................................... 44
Recipientes ........................................................................... 45
Varinhas ............................................................................... 45
Horário da coleta .................................................................. 45
Horário de exame ................................................................. 46
Processo de análise ............................................................. 46
DOENÇAS DE RLUNG E SEU TRATAMENTO ........................................... 67
1. Etiologia ............................................................................ 70
2. Agentes Patológicos ......................................................... 70
3. Classificação ..................................................................... 72
4. Sinais e Sintomas ............................................................. 75
5. Terapêutica ....................................................................... 83
YOGA DO RELAXAMENTO
UM MÉTODO TIBETANO PARA PROPORCIONAR UMA SAÚDE MELHOR ..... 90
5
UMA INTRODUÇÃO À MEDICINA TIBETANA
Dra. Lobsang Dolma Khangkar
Recentemente, começamos a realizar em nossa consciên-
cia que o conforto proporcionado pela ciência e pela tecnologia não
necessariamente e nem sempre torna a vida mais fácil para nós,
quando não consideramos o fator humano no desenvolvimento. No
entanto, podemos afirmar que enfrentamos mais e mais situações
que produzem grande stress e tensão. Apesar de cuidarmos muito
melhor de nós mesmos, ingerindo alimentos bastante nutritivos, e
possuindo toda espécie de facilidades com relação aos cuidados
com a saúde, a vida tem significado pouco mais que trabalho e
preocupações. Obviamente, não podemos desfrutar de boa saúde
estando meramente saudáveis fisicamente. Temos que estar sau-
dáveis mentalmente.
A interpretação tibetana de saúde origina-se dos ensina-
mentos do Buda Sakyamuni que viveu na Índia no século 5 a.C. A
saúde total, disse ele, é o equilíbrio entre o adequado funciona-
mento do corpo e da mente e, sem o desenvolvimento de um, o
outro não pode funcionar de uma maneira saudável.
O corpo humano é estudado em termos da teoria hByung-
was, ou seja, esta estrutura é composta de cinco elementos (em
tibetano: hByung-was; em sânscrito: mahabhutas) e sem estes
nenhuma unidade de vida pode existir. Cada um destes cinco (ter-
ra, água, fogo, ar e espaço) possui uma função específica e apesar
de serem estruturalmente opostos um ao outro, trabalham em sim-
biose no aspecto funcional, através de várias combinações e per-
mutações. Uma unidade elementar adquire suas características
6
particulares, principalmente, em decorrência da combinação pre-
dominante de grupos de elementos específicos em uma unidade
maior. Por exemplo, um gênero alimentício é determinado como
pesado e doce porque é composto primariamente dos elementos
terra e água os quais contém intrinsecamente estas potências.
Em geral, o elemento predominante constitui 50% e a por-
ção remanescente da unidade estrutural está representada pelos
outros elementos em iguais proporções.
Um elemento é uma unidade composta de átomos. Sob este
aspecto, a teoria atômica moderna, na qual átomos são compostos
de prótons, elétrons e nêutrons, não é inconsistente com os princí-
pios médicos tibetanos dos cinco elementos. Peso, coesão, eletri-
cidade, movimento e relações espaciais envolvem estas funções e
potências primárias dos elementos terra, água, fogo, ar e espaço.
De muitas maneiras, os elementos podem ser comparados ao pro-
toplasma de que se constitui uma célula. Sais inorgânicos, água e
carboidratos orgânicos e gorduras podem ser identificados com a
estrutura e as funções dos elementos água e terra, enquanto pro-
teínas são, por um lado, similares ao fogo e, por outro lado, aos
elementos fogo e ar. Os elementos ar e espaço garantem a sim-
biose da água e da terra, por um lado, e do fogo e ar por outro lado,
através do controle sobre o arranjo e a organização destes elemen-
tos opostos.
Os três humores (em tibetano nepas; em sânscrito doshas),
que são rLung (em sânscrito vayu), mKris-pa (em sânscrito pitta) e
Bad-kan (em sânscrito kapha), são as representações biológicas
dos cinco elementos e responsáveis por todas as atividades do
corpo. Entre os três, rLung é o mais importante na saúde e na
doença. É o responsável pelo estímulo, pela concentração patoló-
gica e pela infiltração de mKris-pa e Bad-kan, não considerando o
desgaste natural do corpo quando este está em desequilíbrio. Suas
características funcionais de leveza e mobilidade garantem sua
presença tanto nos distúrbios frios como quentes. Além disso, sua
qualidade funcional agressiva (áspera) antagoniza facilmente
7
outras células e tecidos corporais. É rLung que assegura o arranjo
e a organização espacial das unidades mKris-pa e Bad-kan, os
quais não poderiam coexistir em harmonia, uma vez que possuem
características extremamente opostas. Alguns tendem a interpretar
os três nepas como conceitos abstratos semelhante ao sistema de
meridianos da medicina chinesa. Mas não é assim. Os humores
são compostos físicos que possuem diferentes qualidades físicas.
De fato, há três tipos principais em cada nepa, o grosseiro, o sutil e
o mais sutil. O rLung mais sutil é o substrato físico da conclusão e
da realização das ações virtuosas e não virtuosas (em sânscrito
karma) que determina a morte e o nascimento. É rLung quem
transfere uma vida para outra, como a base física do eu (eu cons-
ciente). Enquanto estruturalmente rLung é composto dos elemen-
tos ar e espaço, tecnicamente é definido em termos de suas
qualidades funcionais. É descrito como "aquele que é áspero, leve,
frio, móvel, compacto e sutil". Qualquer desequilíbrio de uma ou
mais destas qualidades, seja resultante de aumento, redução ou
alteração, resulta em sua patogenicidade. A causa primordial de
rLung é o apego, uma das três negatividades. Uma vez que, por
natureza, o apego é emocional, ele influencia sua contraparte físi-
ca, rLung. Apesar da patogenicidade de rLung resultar na morbida-
de de todas as seis qualidades funcionais, eventualmente um
grupo particular de qualidades é predominantemente alterada. A
ignorância sobre como as coisas existem na realidade faz com que
a mente considere tais fenômenos ou objetos como desejáveis ou
indesejáveis através da superposição de qualidades que os objetos
não possuem. Conseqüentemente, a consciência adquire qualida-
des como flutuação e mobilidade, que produzem mudanças físicas
correspondentes elevando rLung e concentrando-o em várias
regiões do corpo. Apesar de rLung estar presente em todo corpo,
em proporções variadas, seus sítios principais são a pele, os teci-
dos ósseos, as articulações, a região pélvica e principalmente o
intestino grosso.
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Basicamente, rLung coordena todas as atividades muscula-
res e conscientes do corpo através do sistema nervoso central e
periférico, conhecidos como sistema nervoso branco na anatomia
tibetana. Os cinco tipos de rLung, de acordo com suas funções
são:
- rLung da sustentação
- rLung ascendente
- rLung metabólico
- rLung descendente
- rLung infiltrativo
Estes cinco tipos de rLung são responsáveis pelos batimen-
tos cardíacos, ritmo respiratório, pelos movimentos do estômago e
atividades voluntárias e involuntárias do corpo. O rLung da susten-
tação está localizado principalmente no coração e suas funções
principais são a respiração e a deglutição dos alimentos. O rLung
ascendente está localizado na garganta e é responsável principal-
mente pela fala e pela voz. O rLung metabólico está localizado no
estômago e intestino delgado e auxilia na assimilação das enzimas
até os produtos finais da digestão e na separação nos vários ele-
mentos teciduais. Localizado no cólon e pelve, o rLung descenden-
te é responsável pela eliminação de fezes, urina , sêmen e sangue
menstrual. O rLung infiltrativo, localizado no coração, é responsá-
vel principalmente pelo funcionamento dos canais circulatórios no
corpo.
mKris-pa é o segundo dos humores. Apesar de sua forma
grosseira ser a bile produzida no fígado e armazenada na vesícula
biliar, suas características são encontradas em todo corpo na for-
ma de energia produzida predominantemente pelos elementos fogo
e ar. mKris-pa é a energia que produz calor e que determina o
tempo de vida de uma célula. É identificado principalmente com a
vesícula biliar, a porção média do estômago, intestino delgado,
sangue, sistema linfático e pele. Controla a temperatura corporal,
realiza funções metabólicas, estimula o processo digestivo através
de substâncias bioquímicas denominadas enzimas, juntamente
9
com uma combinação de calor ou temperatura endotérmica do tra-
to gastro-intestinal. Estruturalmente, mKris-pa é composto de fogo
e ar, enquanto funcionalmente é descrito como "aquele que é quen-
te, pungente, oleoso, leve, fétido, purgativo e aderente".O mKris-pa
não-patogênico adquire morbidade quando uma ou mais de suas
características, particularmente as três primeiras, sofrem elevação,
redução ou uma ruptura.
Basicamente, mKris-pa é causado pelo ódio, a um nível
primordial. O estado móvel e energético da mente proporcionado
pelo ódio ou aversão afeta a estrutura molecular do corpo ocasio-
nando alterações de uma forma homóloga e, como resultado, os
elementos fogo e ar predominam no corpo. Quando fatores exter-
nos, influências sazonais, padrões comportamentais e dietas pro-
dutoras de mKris-pa estão presentes, prolifera e afeta os tecidos,
concentrando-se em uma região particular do corpo. Há cinco tipos
principais de mKris-pa:
- mKris-pa metabólico
- mKris-pa da transformação
- mKris-pa da determinação
- mKris-pa da visão
- mKris-pa da coloração
O mKris-pa metabólico está localizado entre o estômago e o
duodeno e sua função principal é digerir o alimento, separar
nutrientes e produtos residuais, gerar energia, fornecendo vigor e
brilho ao corpo. Além disso, ele promove a formação saudável dos
mKris-pa remanescentes. Localizado no fígado está o mKris-pa da
transformação e sua função principal é a conversão do alimento
nos sete constituintes corporais. O mKris-pa da determinação que
está localizado no coração determina a geração de várias atitudes
mentais, tais como orgulho, desejo, etc. Na pele está localizado o
mKris-pa da coloração, o qual controla a compleição da pele.
Bad-kan é definido como "aquele que é pesado, gorduroso,
frio, estável, macio, adesivo e embotado" e estruturalmente predo-
mina em sua composição os elementos água e terra. Quando fato-
10
res endógenos na forma de dieta, padrões de comportamento,
traumas ou microrganismos invadem e afetam o corpo, resultam na
proliferação de Bad-kan. Suas características funcionais normais
como peso, untuosidade e outras elevam-se, reduzem-se ou são
alteradas. A nível primordial, o embotamento mental está relacio-
nado com a formação de Bad-kan no corpo. Há cinco tipos de Bad-
kan:
- Bad-kan da sustentação
- Bad-kan da mistura
- Bad-kan da experimentação
- Bad-kan da satisfação
- Bad-kan da conexão
O Bad-kan da sustentação está localizado no tórax e sua
função principal é sustentar os outros quatro Bad-kan e manter a
circulação dos fluidos corporais. Na primeira porção do estômago
está o Bad-kan da mistura cuja principal função é agitar e misturar
o alimento. O sabor dos gêneros alimentícios é determinado pelo
Bad-kan da experimentação que se encontra na língua enquanto
que a satisfação sexual é controlada pelo Bad-kan da satisfação,
localizado na cabeça. O Bad-kan da conexão equivale ao líquido
sinovial, encontrado entre as articulações, que lubrifica e dá elasti-
cidade às mesmas.
O conhecimento dos humores, suas funções e característi-
cas é um fator importante na determinação da saúde. Ao mesmo
tempo, é vital analisar as relações dos humores com os vários
estados mentais. O fato de que estas predisposições psicológicas
representam um papel vital na determinação da saúde e das doen-
ças pode ser observado nos vários níveis da vida humana. Cada
forma individual externa expressa as qualidades e os poderes da
mente os quais por sua vez são determinados pelos tipos de emo-
ções às quais o indivíduo está habituado. A mente controla o sis-
tema nervoso que por sua vez regula o sistema muscular. Os
músculos, em seguida, determinam a forma e as funções da face e
do corpo.
11
Basicamente, as estruturas do corpo, tais como os ossos,
os músculos, a pele e os cabelos, dependem muito da nutrição
tecidual. A nutrição dos tecidos é regulada pela composição do
plasma sanguíneo, controlado pela atividade dos sistemas glandu-
lar e digestivo, os quais refletem as condições das glândulas endó-
crinas, do estômago, dos intestinos e do sistema nervoso. Como
resultado de disparidades funcionais são encontrados diferentes
grupos de indivíduos, por exemplo, entre homens altos e delgados
e aqueles baixos e cheios. A mente é um fenômeno complexo com
diversas dimensões. A variação e a concentração mentais, que são
os meios principais de controle da mente, ensinados por Buda,
precisam ser moldadas pelo hábito do pensamento lógico. Todo
ser humano nasce com diferentes capacidades intelectuais, mas a
filosofia budista enfatiza que todo indivíduo possui basicamente o
potencial para desenvolver a mente e livrá-la de todos os bloqueios
e defeitos. Isto é possível cultivando-se hábitos de raciocínio preci-
so, através do estudo da lógica, da disciplina mental e da observa-
ção e concentração profundas da natureza do eu e de todos os
fenômenos. Exercitar e utilizar a mente, assim como o corpo,
levam ao refinamento, enquanto as observações superficiais, uma
rápida sucessão de impressões e a perda da disciplina intelectual
bloqueia o desenvolvimento da mente.
Quando estamos expostos ao rigor das estações, quando
nossas refeições são ora abundantes, ora inadequadas, quando
conseguimos alimento e abrigo através de extremo esforço físico e
mental, esgotando-nos quando lutamos contra a desigualdade físi-
ca e aprendendo a nos tornar mais pacientes e tolerantes frente às
adversidades, emerge o melhor de nós. Tais adaptações do indiví-
duo à disciplina determina mudanças definidas no sistema nervo-
so, nas glândulas endócrinas e nos processos mentais. O
organismo adquire uma melhor integração e maior vigor para ven-
cer as dificuldades da existência. Provavelmente, pode-se dizer
com um certo grau de verdade que a inatividade e um modo de
12
vida complacente tem elevado o surgimento de mais sofrimentos
físicos. Assim como músculos e órgãos, a inteligência e o senso de
moral atrofiam pela falta de exercícios e uso adequado.
Os pensamentos podem gerar distúrbios orgânicos e, além
disso, a instabilidade da vida moderna, repleta de trabalho e tensão
cria estados mentais que produzem desequilíbrios psicológicos e
orgânicos, mais observados no estômago e intestinos, além de
ocasionar deficiências nutricionais e a passagem de microrganis-
mos intestinais no sistema circulatório. Tais doenças são quase
desconhecidas em grupos sociais onde a vida é mais simples,
onde a ansiedade é menos constante. Da mesma forma, aqueles
que mantém a paz e o controle da mente são imunes a doenças
orgânicas e psicológicas.
A seguir descreveremos uma introdução aos princípios da
medicina tibetana, os quais devem ser estudados dentro dos con-
ceitos psicossomáticos já referidos.
O Corpo Saudável
Uma pessoa é constituída de cinco agregados que são for-
ma, sentimento, reconhecimento, vontade e consciência. O objetivo
básico da saúde é manter a simbiose dos três humores, dos sete
constituintes físicos e das três substâncias excretadas e assegurar
seu funcionamento normal no corpo.
1. Os Sete Constituintes Físicos
São os constituintes teciduais básicos e servem como base
para o corpo. São eles: Nutrientes essenciais, Sangue, Músculos,
Gordura, Ossos, Medula óssea e Fluido regenerativo.
Os nutrientes essenciais são a porção útil do alimento já
ingerido, o qual é convertido nos demais constituintes físicos, tal
como sangue. O sangue é a fonte da vida, sustenta e produz os
tecidos musculares, a partir dos quais é produzido o tecido adipo-
N. do T.: Refere-se ao modo de vida de pessoas pusilânimes e ego-
cêntricas.
13
so. Quando a gordura se solidifica, são produzidos os ossos, a par-
tir dos quais forma-se a medula óssea. A medula age como a fonte
do fluido regenerativo, tal como o sêmen nos homens.
2. As Três Substâncias Excretadas
As fezes são o resíduo sólido separado dos nutrientes nos
intestinos pelo rLung descendente. A urina é o resíduo líquido fil-
trado do sangue pelos rins e o suor é a substância residual do teci-
do adiposo.
A maneira de assegurar a saúde é através da observação
de padrões dietéticos e comportamentais adequados e do desen-
volvimento mental resultando no funcionamento saudável dos três
principais fatores fisiológicos (humores, constituintes físicos e
excreções).
O Corpo Doente
As doenças surgem quando ocorre uma ruptura no funcio-
namento normal dos três fatores fisiológicos, resultante de dieta
inadequada, padrões comportamentais incorretos, traumas ou
infecções.
1.Causas das Doenças
A causa raiz de todas as doenças é a ignorância no que diz
respeito à natureza das coisas. Isto ocasiona o nascimento dentro
do ciclo da existência e os seres são expostos a toda sorte de
sofrimentos, tais como as doenças. É esta ignorância que dá ori-
gem aos outros pensamentos negativos, sendo os mais importan-
tes o desejo, a aversão e o embotamento da mente, os quais por
sua vez alteram as funções orgânicas e produzem respectivamente
rLung, mKris-pa e Bad-kan. Apesar destes três humores gerarem
um corpo saudável quando em simbiose, basicamente são reco-
nhecidos como distúrbios, uma vez que possuem a capacidade de
produzir várias doenças.
2.Condições Precipitantes das Doenças
Estes são fatores sem os quais uma doença não pode ama-
durecer e se manifestar. Isto significa que mesmo estando presen-
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te uma causa básica, sem estes uma doença não ocorrerá. Há
quatro condições precipitantes principais: dieta imprópria, padrões
comporta-mentais impróprios, influências sazonais e outros fatores.
Por exemplo, a ingestão de carne e bebidas alcoólicas sob
o sol produzirá um distúrbio de mKris-pa, enquanto que a exposi-
ção ao frio durante o inverno causará um desequilíbrio de Bad-kan,
assim como sentar-se sob um sol muito quente durante o verão
pode causar mKris-pa.
3. Patogênese
Refere-se ao estágio de desenvolvimento da doença no
corpo. Geralmente, os estágios são os seguintes:
-Pele: A doença espalha-se primeiro sobre a pele.
-Tecidos musculares: Depois desenvolve-se nos músculos.
-Vasos: Representado por nervos, veias, artérias, vasos linfáticos.
Dos tecidos musculares a doença espalha-se e circula nos vários
vasos do corpo.
-Ossos: Depois penetra nos ossos onde se adere.
-Órgãos vitais: Representados pelo coração, pulmões, fígado, baço
e rins. Durante este estágio, a doença concentra-se nos órgãos
vitais.
-Órgãos ocos vitais: Finalmente uma doença estabelece-se nos
órgãos ocos, ou seja, estômago, intestinos, vesícula biliar, órgãos
regenerativos ou bexiga.
4. Sítios Patológicos
Tendo se desenvolvido através destes estágios, a doença
localiza-se finalmente em um local particular do corpo, dependendo
de fatores etiológicos. Há três sítios principais relacionados aos
três humores: Bad-kan – região superior a partir do diafragma –
mKris-pa – entre o diafragma e a pelve – e rLung – abaixo da
região pélvica.
5. Trajetórias Patológicas
É a rota percorrida pela doença quando se desenvolve no
corpo, com relação ao humor predominantemente afetado.
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a) Trajetórias patológicas de rLung: Os principais caminhos
de rLung envolvem os seguintes órgãos:
-Ossos: um dos sete constituintes físicos
-Ouvidos: um dos cinco órgãos sensoriais
-Pele: uma das três excreções, aqui relacionada à sudorese
-Coração: um dos cinco órgãos vitais
-Cólon: um dos seis órgãos ocos
b) Trajetórias patológicas de mKris-pa: Os principais cami-
nhos de mKris-pa envolvem os seguintes órgãos:
-Sangue: um dos sete constituintes físicos
-Suor: uma das três excreções
-Olhos: um dos cinco órgãos sensoriais
-Fígado: um dos cinco órgãos vitais
-Intestino delgado: um dos seis órgãos ocos
c) Trajetórias patológicas de Bad-kan: Os principais cami-
nhos de Bad-kan envolvem os seguintes órgãos:
-Nutrientes essenciais, músculos, gordura, medula óssea e fluido
regenerativo: entre os sete constituintes físicos
-Nariz e língua: entre os cinco órgãos sensoriais
-Pulmões, baço e rins: entre os seis órgãos ocos
-Fezes e urina: dentre as substâncias excretadas
6. Predisposições Patológicas
Referem-se aos fatores que favorecem os humores tais
como grupo etário, estações do ano, clima e regiões.
-Grupos etários: Idosos são mais susceptíveis a rLung, adultos a
mKris-pa e crianças a Bad-kan.
-Localização: Regiões frias favorecem rLung, locais muito secos
predispõem a mKris-pa e a umidade favorece Bad-kan.
-Clima e estação: As doenças de rLung são mais predominantes
durante as chuvas de verão e o frio, ao anoitecer e ao amanhecer;
mKris-pa ocorre durante os outonos ensolarados, ao meio-dia e à
noite e Bad-kan predomina durante as primaveras chuvosas, no
frio e na umidade das manhãs e do anoitecer.
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Métodos de Diagnóstico
Há três métodos principais de diagnóstico: visual, toque e
interrogatório.
1. Diagnóstico Visual: Envolve o exame físico, tais como língua e
urina. A língua vermelha, seca e áspera na textura, com pequenos
pontos vermelhos nas bordas é característica de um distúrbio de
rLung. Uma camada de muco amarelado recobrindo a língua é um
sinal de mKris-pa, enquanto Bad-kan é demonstrado por uma lín-
gua úmida coberta de muco.
A análise da urina é utilizada tanto para diagnóstico como
para prognóstico. Há três estágios nos quais a amostra de urina
deve ser analisada e em cada um são estudadas diferentes quali-
dades.
-Na amostra colhida recentemente são analisados os seguintes
fatores: coloração, vapor, odor e bolhas.
-Na amostra em repouso analisam-se: depósitos.
-Na amostra em que a urina mudou sua coloração são analisados:
período de transfomação, forma de transformação e fatores que
ocorrem após a transformação.
2. Diagnóstico pelo Toque: Refere-se ao exame do pulso. A doença
é identificada pelos sinais e sintomas. A relação entre estes dois
pode ser comparada ao fogo e fumaça. A leitura do pulso é uma
arte em si pois requer anos de familiarização com as áreas do pul-
so.
O pulso esquerdo de um homem é lido primeiro, enquanto
na mulher analisa-se primeiramente o pulso direito. Para um
paciente do sexo masculino, os dedos da mão direita do médico
examinam o seguinte:
Polpa digital divisão superior divisão inferior
indicador coração intestino delgado
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médio baço estômago
anular rim esquerdo órgãos reprodutores
Os dedos da mão esquerda examinam o seguinte:
Polpa digital divisão superior divisão inferior
indicador pulmões intestino grosso
médio fígado vesícula biliar
anular rim direito bexiga urinária
No caso de uma mulher, os dedos que examinam os pul-
mões e o coração são trocados.
a) Pulso constitucional: Mesmo em um indivíduo saudável o
pulso é variável. Isto ocorre pois o temperamento e a predisposição
individuais diferem como consequência de um desenvolvimento
genético atribuído às três causas seguintes:
-karma
-padrões dietéticos e comportamentais da mãe
-dominância do esperma e dos elementos
Como resultado há três tipos de pulsos constitucionais:
masculino, feminino e neutro. O pulso masculino é volumoso e
grosseiro, enquanto o feminino é rápido e fino. O pulso neutro é
lento e suave.
b) Pulso sazonal: O ritmo do pulso muda de acordo com as
diferentes estações do ano. É importante conservar este aspecto
em mente durante a leitura do pulso. O pulso na primavera é por
natureza fino e tenso, no verão é volumoso e longo, no outono é
áspero e curto e no inverno o batimento é lento e suave.
c) Pulso saudável: Um pulso saudável é aquele que bate
cinco vezes, com um ritmo regular durante um ciclo respiratório ou
aproximadamente 75 vezes por minuto. Os batimentos não devem
ser fortes, lentos, profundos ou superficiais, vazios ou rápidos, etc.
Geralmente, se durante um ciclo respiratório o pulso bate mais do
que cinco vezes, isto significa um distúrbio quente e se forem
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detectados menos que cinco batimentos o distúrbio é considerado
frio.
d) Pulso doente: Para examinar o pulso de uma pessoa que
está doente é importante, primeiramente conhecer aquelas carac-
terísticas ou batimentos comuns às doenças quentes e frias.
-Pulsos das doenças quentes – Há seis tipos principais de pulsos
nestes casos: forte, superficial, arredondado, rápido, tenso e duro.
-Pulsos das doenças frias – Há seis tipos: fraco, profundo, decres-
cente, lento, vazio e frouxo.
e) Pulso de doenças específicas: As doenças de rLung
apresentam pulso superficial e vazio quando pressionado. As
doenças de mKris-pa apresentam pulso fino e tenso e as doenças
de Bad-kan, pulso profundo e decrescente.
3. Diagnóstico pelo Interrogatório: Envolve o questionamento do
paciente sobre sua dieta, padrões de comportamento e sintomas
para determinar a doença.
Tratamento
Uma vez diagnosticada a doença, o médico conta com qua-
tro métodos terapêuticos:
-dieta
-padrões de comportamento
-medicamento
-terapias secundárias ou acessórias
1. Dieta: Muitos distúrbios que não sejam sérios e que não causem
maiores problemas devem ser tratados com dieta. A qualidade, o
sabor e a potência dos alimentos corrige o desequilíbrio. Por
exemplo, carne envelhecida por um ano, manteiga, açúcar masca-
vo, alho, cebola, leite quente, vinho, sopas, etc. corrigem doenças
de rLung.
2. Padrões de comportamento: A dieta deve ser combinada com a
correção de padrões comportamentais. Por exemplo, um paciente
sofrendo de rLung deve permanecer em um local morno e pouco
claro, deve fazer amizade com pessoas de disposição tranquila.
19
3. Terapêutica medicamentosa: Podem ser de alívio e eliminativas.
Há cinco tipos de medicações de alívio:
-decocções
-pós
-pílulas
-xaropes
-manteigas medicinais
Estão incluídos também vinhos medicinais, emplastros
secativos, cinzas medicinais e outros.
As medicações de eliminação também podem ser de cinco
tipos:
-purgativas
-eméticas
-inalatórias
-supositórios
-enemas
4. Terapias secundárias: Esta linha de tratamento é indicada tam-
bém para prevenção. Podem ser de três tipos, ou seja, suaves,
fortes e agressivas. A terapia suave inclui técnicas de fomentação,
massagem, hidroterapia e outros. As mais fortes referem-se às
venisecções, à termoterapia e à acupuntura entre outras. Já as
terapias agressivas envolvem a dissecção, as incisões, excisões,
perfurações, suturas e outras.
Farmacologia
O alcance da ciência das drogas é expansivo. Trata-se de
nomenclatura, sinônimos, características morfológicas, proprieda-
des, ações das drogas e assim por diante.
A preparação de drogas envolve a manipulação de vegetais,
minerais e animais. A maioria das drogas são coletadas de plantas
selvagens e requerem o conhecimento completo da origem geográ-
fica e do habitat das plantas, posto que cada uma possui potência
intrínseca e suas propriedades são afetadas pelo habitat geográfi-
co. A coleta deve ser feita apenas em áreas onde as plantas cres-
20
çam adequadamente. Plantas medicinais com propriedades frias
devem crescer em áreas onde não fiquem expostas diretamente ao
sol ou a qualquer outra forma de calor. Da mesma maneira, as
plantas medicinais quentes devem ser cultivadas em áreas onde
estejam diretamente expostas ao sol. As áreas cultivadas devem
ser limpas, secas, suficientemente úmidas, livre de pestes e ani-
mais peçonhentos e mantidas na temperatura correta.
As raízes, ramos e talos devem ser colhidos durante o
outono, depois de cessado o processo vegetativo. As folhas, a sei-
va e as sementes devem ser colhidos durante o sétimo e o oitavo
meses na época da floração, quando a fotossíntese está mais ati-
va. As flores, frutas e sementes devem ser colhidas durante o
verão, na época da polinização e durante o período maturativo.
Cascas e secreções devem ser colhidas na primavera antes de
iniciar o processo vegetativo. Geralmente, as plantas medicinais
purgativas devem ser coletadas na primavera. A preparação dos
ingredientes envolve processos de secagem, seleção, desintoxica-
ção e neutralização.
Na farmacologia não mecanicista, a preparação das drogas
envolve o fortalecimento espiritual. O médico desenvolve práticas
espirituais por meio das quais transforma a si próprio em uma
divindade relacionada ao tipo de medicamento. Realiza então um
elaborado ritual e assim a divindade fortalece a droga adicionando-
lhe potências àquelas que já existiam.
Basicamente, Buda ensinou que não há um único ingredien-
te sobre a terra que não possua algum tipo de propriedade terapêu-
tica. A dificuldade reside em conhecer quais são estas
propriedades. Ao mesmo tempo, é virtualmente impossível isolar
uma droga medicinal em particular e decidir que aquela é a res-
ponsável pelo principal resultado terapêutico. O princípio sobre o
qual tais resultados são obtidos é determinado por uma complexa
interação de ações de componentes estruturais dos ingredientes
em uma droga. Por exemplo, a droga Genciana-15. A genciana é
especificada na nomenclatura porque é o ingrediente principal,
21
enquanto o número 15 indica o número de ingredientes utilizados
na droga.
Outro aspecto importante que será mencionado é a dificul-
dade em isolar drogas que possam ser indicadas para quaisquer
tipos de uma doença mais abrangente. Por exemplo, no caso do
câncer, no qual os médicos tibetanos têm obtido boas respostas
dos pacientes que procuram tratamento, não há uma única droga
que seja indicada especialmente para aquele tipo de câncer. A
melhor prescrição dependerá da localização, do envolvimento de
órgãos importantes, das condições gerais do paciente e das com-
plicações secundárias. Um paciente com câncer abdominal, entre-
tanto, será tratado com medicamentos inteiramente diferentes
daqueles indicados para um câncer de fígado.
22
A PRÁTICA E A TEORIA DA TERAPÊUTICA NA
MEDICINA TIBETANA Extraído do Tantra Explicativo
Dr. Barry Clark
Introdução
O artigo a seguir é uma tradução da Seção sobre Terapêuti-
ca e abrange quatro capítulos do Tantra Explicativo.
Este Tantra em particular contém um sumário detalhado dos
principais aspectos do sistema médico tibetano tradicional. Seus
procedimentos diagnósticos têm se tornado relativamente famosos.
Sobre este aspecto, no que diz respeito à patologia, às regras die-
téticas e aos fatores comportamentais alguma coisa tem sido escri-
to em inglês, mas quase nada surgiu até agora para explicar os
princípios básicos nos quais o tratamento é realmente efetuado.
Os capítulos que seguem revelam as contingências gerais
para todas as grandes categorias de doenças sindrômicas e os
significados estão ilustrados por metáforas e similares distintos.
Em nenhuma parte os efeitos terapêuticos dos sabores e das
potências de determinadas substâncias são melhor compreendidas
do que no sistema médico tibetano e aqui são citados muitos
exemplos específicos, juntamente com instruções detalhadas para
equilibrar as energias sutis do corpo de acordo com fatores com-
Os “Quatro Tantras” ou “Gyud-bzhi”, a obra mais fundamental e
importante da literatura médica tibetana, contém de forma condensada,
a essência de todos os ensinamentos da medicina tibetana. Ainda não
traduzido completamente para uma língua Ocidental, é dividido em
quatro tratados: Tantra Raiz, Tantra Explicativo, Tantra da Instrução
Oral e Tantra Final.
23
portamentais e ambientais. A seção sobre as terapias para perda e
ganho de peso descreve dietas apropriadas e fatores medicinais,
jejum e evacuação.
O capítulo final contém seções detalhadas e resumidas
sobre o tratamento dos desequilíbrios dos humores corporais atra-
vés da abordagem quádrupla tradicional de dieta, comportamento,
medicamentos e terapia acessória. Estes devem ser administrados
de maneira gradual, isto é, cada um dos quatro é aplicado sucessi-
vamente apenas quando o precedente se provou inadequado. Os
métodos terapêuticos recomendados para desequilíbrios humorais
duplos ou triplos também estão incluídos e em geral consistem de
combinações entre as terapêuticas apropriadas para distúrbios
humorais simples.
Que esta breve apresentação das palavras de Buda, manti-
das em forma de diálogo, sirva para ajudar a aumentar o interesse
no assunto da medicina tibetana, até o momento em que todos os
seus ensinamentos nos Quatro Tantras possam ser claramente e
corretamente apresentados ao mundo. O diálogo se mantém por
cento e cinquenta e seis capítulos.
Capítulo 27
Então o sábio Yi le' Kye perguntou:
– "Oh mestre, sábio Rig Pai Yeshe, como posso aprender o
princípio da terapêutica? Poderia o Rei dos Médicos explicar, por
favor?"
Disse o mestre:
– "Oh grande sábio, ouça. Uma vez diagnosticada a doença,
com relação ao tratamento, devo apresentar os princípios da tera-
pêutica (que são dois): técnicas terapêuticas e medidas medica-
mentosas. Primeiramente devo apresentar os procedimentos
terapêuticos. Apesar de certamente existirem incontáveis medidas
medicamentosas, utilizá-las sem as técnicas terapêuticas é como
atirar flechas no escuro. Esta (seção) possui três partes:
1. Técnicas Terapêuticas Gerais
24
1.1. O método de cura: Qualquer tipo de distúrbio de rLung, mKris-
pa, etc. deve ser eliminado de sua localização na época de acumu-
lação. Caso não se proceda desta forma nos distúrbios de rLung,
ao chegar a época das chuvas, quando estas doenças aumentam e
se desenvolvem (fortalecem), surgem conseqüentemente os dese-
quilíbrios de outros humores. Deve-se portanto tratá-los (por
exemplo) através de compostos, supositórios ou por pacificação,
que não alterem os demais (humores). Entretanto, se outras doen-
ças humorais são produzidas, então deve-se tratar aquela mais
predominante (primeiramente) seguido pelo tratamento dos outros
desequilíbrios humorais secundários.
1.2. O tratamento curativo: São os medicamentos para pacificação
e para eliminação. Na época de acúmulo (de rLung) deve-se pacifi-
car (a doença) enquanto que na época de amadurecimento (por
exemplo, nas monções) deve-se tratá-la com medicamentos para
eliminação.
Na época de pacificação (por exemplo, de rLung), o médico
deve ser cuidadoso com relação à dieta e aos padrões comporta-
mentais de forma a não desequilibrar (os demais humores). Entre-
tanto, quando circunstâncias e condições (correspondentes estão
presentes) fora da época, (ocorrerão, às vezes) acúmulo e amadu-
recimento dos distúrbios (humorais). Como é difícil tratar (um dis-
túrbio humoral) uma vez passada sua época, deve-se curá-la
imediatamente (através de medicamentos). O tratamento deve ser
administrado de 24 em 24 horas, de acordo com as refeições e
aplicado discriminadamente de acordo com a doença (isto é, nos
horários em que o desequilíbrio humoral está em seu pico). Há dez
métodos de administrá-lo. O medicamento deve ser administrado:
1) quando o estômago está vazio (no começo da manhã);
2) imediatamente antes da refeição;
3) no meio da refeição;
4) imediatamente após a refeição;
5) entre os bocados de alimentos;
6) em seguida à digestão;
25
7) em nenhum momento (específico), ou seja, repetidamente em
pequenas doses, como indicado, por exemplo, na asma brônquica;
8) misturado com o alimento (como no caso da anorexia);
9) imediatamente antes e imediatamente depois de uma refeição
(como no caso de soluços) ou
10) à noite, ao deitar-se (quando a refeição noturna já foi digerida,
por exemplo, para doenças localizadas acima da garganta.
Administrar medicamentos para todas as (doenças) em
horários não correspondentes (aos desequilíbrios humorais) e
(apenas) quando a digestão já ocorreu é um sistema insensato e
seria difícil combater o coração da doença (portanto, a administra-
ção do medicamento nos horários apropriados) é como distinguir
entre pontos (pretos e brancos).
1.3. Extensão do tratamento: Sempre que o tratamento para qual-
quer doença for instituído e o paciente apresentar muito escarro ou
muco, com sensação de peso no corpo, anorexia, indigestão, res-
secamento do fluxo (dos constituintes corporais e das excreções)
ou decomposição (das excreções), eliminação irregular de fezes e
urina, debilidade e fraqueza da voz, estes são sinais de que a
doença (ainda) não foi curada completamente (ou que não está
sendo acumulada para que o tratamento seja capaz de eliminá-la),
e toda vez que uma doença é pacificada, surgem sinais contrários
a estes citados acima. (Até que a doença seja eliminada, deve-se
insistir firmemente com o) tratamento e uma vez que isto ocorra,
não devem ser aplicadas terapias supérfluas.
2. Técnicas Terapêuticas Individuais
2.1. (Qualquer patologia) acompanhada de indigestão: Quando o
calor digestivo está reduzido, os alimentos sólidos e líquidos
(nutrientes) não serão digeridos. Assim, esta indigestão combinada
com (distúrbio humoral de) rLung ou outro, mistura-se com os obje-
tos da lesão (ou seja, os sete constituintes corporais e as excre-
ções). Deve-se portanto administrar o medicamento para
amadurecer a doença ou para aumentar o calor digestivo e assim
reduzir o problema. Quando surgem os sinais de que isto ocorreu,
26
deve-se eliminar a doença através de sua localização mais próxi-
ma (isto é, um emético se estiver localizada na região superior do
corpo e através de purgação se localizada na região inferior).
Se surgirem vômitos ou diarréia, estes processos não
devem ser bloqueados com medicação. Até que a doença tenha
amadurecido não se deve aplicar purgativos, pois resultará em
desequilíbrios humorais que se combinam com os constituintes
corporais, prejudicando-os. (Isto pode ser comparado, por exem-
plo, a espremer o líquido dos grãos da cerveja antes que tenham
fermentado, ou seja, estragaria os grãos).
2.2. Desequilíbrios humorais simples: Com relação a tais distúrbios
não acompanhados por indigestão, a causa é gerada por um ata-
que inicial de um desequilíbrio de rLung causado por fatores com-
portamentais não saudáveis seguido pelo ataque de outros
distúrbios.
Se (condições precipitantes) dietéticas e comportamentais
não estiverem presentes na época do ano, (quando o distúrbio
humoral simples) surgiria naturalmente, então o distúrbio se acu-
mulará em sua própria localização (natural), permanecerá por um
longo tempo e não adquirirá força (não se manifestará). Por exem-
plo, é como um conflito entre rivais: o mais fraco não retaliará até
que tenha encontrado ajuda de outros. (Da mesma forma), quando
as condições precipitantes forem encontradas, o distúrbio adquirirá
força e se manifestará a partir de sua localização. Antes (do início
de outros desequilíbrios), ocorrerá um distúrbio de rLung e por este
motivo os outros humores serão perturbados. Quando (os fatores
dietéticos e comportamentais adequados) reduzirem o distúrbio de
rLung, o mKris-pa digestivo (ganhará força) e quando (o distúrbio
anterior – rLung – que não estava amadurecido) amadurecer, será
como vento dispersando o último. (Este vento ou rLung) deve ser
interrompido de tal forma que a doença possa ser acumulada inter-
namente. Por exemplo, é como acabar com o vento para permitir
que a chuva caia.
27
O próximo passo é eliminar (o distúrbio através de purgação
ou emese) utilizando o percurso mais próximo. Se não for capaz de
coletar a doença internamente, nos membros e em regiões exter-
nas, quando a mesma foi disseminada, deve-se realizar externa-
mente uma venisecção nas “entradas das veias” e também “limpá-
las por dentro”.
2.3. Doenças combinadas, ou seja, duplas ou triplas: São distúr-
bios (humorais) acompanhados por uma doença secundária. Por
exemplo, quando (mKris-pa) eleva-se de sua localização natural
(pela força de rLung) e penetra em outro sítio (por exemplo, de
rLung), ele retorna para sua localização anterior para prejudicar e
alterar (o rLung que lá se instalou). Quando a força (de rLung)
diminui, deve-se tratar (o distúrbio de mKris-pa em sua própria
localização). (Mas se rLung) adquirir força posteriormente, por
estar sendo tratado este distúrbio secundário, a doença primária de
mKris-pa localizada em seu próprio sítio será curada sem necessi-
tar tratamento. Por exemplo, é semelhante ao chefe que confia em
um assistente, (um cúmplice para cometer um roubo. Se o conspi-
rador principal for dominado, é fácil levar a melhor sobre o cúmpli-
ce).
3. Técnicas Terapêuticas Específicas
3.1. Se o médico falhar em definir (a natureza da doença) e se
encontrar dúvidas, deve-se tratar experimentalmente a doença
indeterminada, da maneira como um gato permanece na espera
(por um rato), se suspeitar de um distúrbio de rLung, administre
apenas medicamentos para rLung em pequenas doses e então A técnica da venissecção consiste na retirada de algumas gotas de
sangue de pontos específicos, após a separação do sangue impuro
com medicamentos apropriados. É um ato médico extremamente bené-
fico no tratamento da obesidade, dos processos infecciosos, nos ede-
mas, processos dolorosos, gota, úlceras e doenças hematológicas,
observadas as contra-indicações. Se estudado corretamente sob
supervisão de médicos tibetanos, pode ser utilizado com grandes
benefícios no Ocidente.
28
faça as alterações no tratamento se as condições não responde-
rem.
3.2. Quando se diagnosticou (a doença), determinou-se sua natu-
reza e estando o médico convencido daquilo que deve tratar (a
doença), de uma maneira direta, deve ser como hastear uma ban-
deira no topo de uma montanha.
3.3. Se a medida tomada não atacou a doença, o médico deve
seguir seu caminho e tratar da maneira como se treina um cavalo a
ter fôlego para vencer uma corrida. De acordo com a razão pela
qual o tratamento não realizou sua função, deve-se amadurecer,
acumular ou separar os elementos da doença.
3.4. Tendo examinado porque o tratamento anterior do paciente foi
inadequado, excessivo ou errôneo, o médico deve tratar a doença
como um pescador fisgando seu peixe (isto é, de uma maneira
precisa e direta, após determinar quais) falhas (das três acima)
afetou o tratamento anterior.
3.5. No caso de uma doença séria, deve-se aplicar fatores dietéti-
cos e comportamentais, medicamentos e terapias acessórias, ou
seja, tratar com medidas terapêuticas poderosas, como alguém
que luta (para eliminar) seu inimigo ao encontrá-lo em um desfila-
deiro estreito.
3.6. Se o distúrbio é leve, deve-se aplicar gradualmente as terapias
dietética, comportamental, medicamentosa e acessória, uma de
cada vez, ou seja, deve-se tratar a doença como aquele que sobe
uma escada degrau por degrau.
3.7. No caso de um distúrbio humoral simples, assim como o herói
subjuga seu adversário (de maneira direta e sem erros), deve-se
tratar com compostos que não prejudiquem os outros humores.
3.8. Nos distúrbios (que envolvem) desequilíbrios humorais duplos
ou triplos, deve-se tratar de um modo equilibrado, ou seja, como
um árbitro que resolve uma contenda entre inimigos.
3.9. Em todos os casos relacionados com os objetos da lesão,
devem ser aplicados dez fatores e o tratamento deve ser de acordo
29
com o nível (da doença), ou seja, como a carga de um dzo ou a
carga de um carneiro (pois estas não devem ser trocadas). Da
mesma maneira, medicamentos suaves devem ser administrados
para uma patologia leve e um medicamento poderoso deve ser
administrado para uma doença grave. Assim foi dito.
Desta maneira, o capítulo 27 expõe as terapêuticas gerais
do Tantra da Quintessência, a Tradição Oral Secreta dos Oito
Ramos.
Capítulo 28
Então o sábio Yid Les Kyes perguntou:
– "Oh Mestre sábio Rig Pai Yeshe-la, após ensinar-nos
resumidamente que as técnicas terapêuticas específicas possuem
nove aspectos, qual sua (explicação) extensiva e detalhada? Oh
Supremo Rei dos médicos, por favor, explique-nos isto." E assim
foi dito.
O Mestre respondeu:
– "Oh grande sábio, ouça.
3.1. Se estiver em dúvida quando analisar os sintomas de uma
doença, o médico deve curar “como um gato caça um rato”:
Por exemplo: No caso de um distúrbio de rLung, deve-se
administrar a sopa de tornozelo de carneiro como prova. No caso
de um distúrbio de mKris-pa, deve-se utilizar uma solução de
Swertia chirata como prova. Em um distúrbio de Bad-kan, deve-se
aplicar os três sais de rocha (em forma de decocção). Como prova
para infecções parasitárias ou para doenças gástricas e do intesti-
no grosso deve-se aplicar o composto Garuda-5. Como prova nas
doenças do sangue e (neuralgia) a decocção de Iris germanica
com quatro ingredientes deve ser utilizada. No caso de distúrbios
causados por compostos venenosos, deve-se administrar um com-
posto acumulador (por exemplo, decocção coletora de 13 ingre-
dientes). Na combinação de distúrbios frios e quentes, deve-se
Resultado do cruzamento do iaque com a vaca.
30
considerar sua própria experiência como prova (por exemplo, fato-
res dietéticos e comportamentais com os quais esteja familiariza-
do). Para checar a indicação do uso de um laxante, deve-se admi-
administrar a decocção sNa-Sel-Khrog ("roncos suaves"). Como
prova (para confirmar se é apropriado) aplicar moxabustão, deve-
se utilizar uma fomentação de óleo quente. Da mesma forma,
como prova para a aplicação de venissecção, deve-se aspergir
água fria ou aplicar uma pedra fria. Para testar a presença de
secreção purulenta, deve-se perfurar com uma cureta-oca-quente
(instrumento cirúrgico).
No caso de outras doenças de diagnóstico duvidoso (ou
suspeito), como prova, deve-se recorrer à administração de
pequenas quantidades dos compostos medicamentosos apropria-
dos. Em todos os casos de combinação e semelhança de duas
doenças (humorais) o médico deve fazer a comparação do distúr-
bio através da administração do remédio (apropriado), que seja de
importância primordial para tratar (a doença).
O médico deve manter-se cauteloso, mais do que explícito
(em um esforço calmo para definir a natureza da doença). Às
vezes deve-se falar em termos dissimulados, melhor que fazer
pronunciamentos claros.
3.2. “Como içar uma bandeira no pico de uma montanha”:
Uma vez definindo e estando convencido da natureza da
doença, pode-se estabelecer quais as causas e condições que a
produziram e depois qual a natureza e a localização que a doença
adotará nos seus estágios finais. O médico pode então afirmar
como a doença deve ser tratada e qual o período de tempo será
necessário para efetuar a cura. Entretanto, se a cura não for possí-
vel, deve-se revelar o momento da morte (se for iminente). Estes
diálogos que tornam os fatos conhecidos para todos assemelham-
se à bandeira tremulando sobre o topo da montanha.
3.3. “Como quem conduz um cavalo selvagem ao longo do cami-
nho desejado”:
31
Se o medicamento não dominar a doença, será difícil para o
primeiro entrar no caminho desejado (isto é, da cura). Medicamen-
tos frios administrados como tratamento para uma febre não ama-
durecida agirão sobre seus cúmplices (ou seja, rLung e Bad-kan) e
,ao elevar estes outros dois, eleva-se a febre em si. Por conseguin-
te, estes cúmplices, rLung e Bad-kan, devem ser separados pela
decocção (de Iris germanica-4 e outras). Doenças do sangue
(combinadas com) o sangue constitucional puro são semelhantes à
mistura de água e leite. Portanto, deve-se separar o sangue resi-
dual através da administração da decocção dos três frutos do
mirabólano, assim como se procede para ser possível realizar uma
venissecção. Se não os separar desta maneira, o procedimento
resultará em distúrbio dos constituintes corporais. Por exemplo, em
casos de infiltração de Bad-kan marrom e febre por toxinas, deve-
se coletar a doença para erradicá-la. Se a doença não for coletada,
as medidas terapêuticas posteriores irão dispersar a doença
novamente ao invés de curá-la. Em casos de febre oculta, deve-se
primeiramente remover a camada fria assentada por rLung ou Bad-
kan através de medicamentos fortes que aqueçam. Isto é necessá-
rio, pois do contrário, por causa dos fatores frios, a febre não res-
ponde favoravelmente à medicação fria.
Em todos os casos de indigestão, deve-se amadurecer a
doença ou administrar medicamentos que induzem ao aquecimen-
to. Quando obtém sinais de que dominou o pico da doença, deve-
se purgá-la através do caminho mais próximo (isto é, com purgati-
vos ou eméticos, como for apropriado).
Um purgativo preliminar erradica todas as doenças, porém
se não for capaz de eliminá-la com este procedimento, será como
a água que se encontra com o gelo (assim como o gelo não será
derretido, a doença não será disseminada).
3.4. "Como um Rei pescador":
Quando um paciente foi tratado previamente por outro
médico, e sua patologia não respondeu ao tratamento por medica-
ção excessivamente forte, inadequada ou errada, deve-se exami-
32
nar completamente, porque nenhuma recuperação aconteceu. Se a
doença não foi pacificada em conseqüência de tratamento inade-
quado, deve-se administrar um medicamento mais forte. No caso
de tratamento errôneo, que permitiu que a doença se desenvolves-
se mais, deve-se mudar o composto. Se o tratamento anterior foi
muito forte, surgiu uma doença secundária, e portanto deve-se eli-
miná-la com a medicação apropriada.
3.5. "Encontrando o inimigo em um desfiladeiro":
No caso de doenças envolvendo uma febre alta, deve-se
aplicar o medicamento denominado "quatro águas" e (venissecção
na veia conhecida como "pequeno ponto" são), respectivamente,
as "águas" da terapia medicamentosa e acessória. O jejum é a
"água" da terapia dietética e permanecer em local frio é a "água" da
terapia comportamental.
No caso de uma doença fria grave, deve-se "acender os
quatro fogos": o “fogo” da terapia medicamentosa é um composto
com todos os tipos de ingredientes que induzem ao aquecimento,
enquanto que o “fogo” da terapia acessória é o moxabustão. Ali-
mentos fortemente aquecedores e nutritivos constituem o "fogo" da
terapia dietética, enquanto permanecer em locais aquecidos ves-
tindo roupas quentes constituem o "fogo" dos fatores comporta-
mentais. Se o tratamento não for aplicado desta maneira, a doença
se desenvolverá colocando em risco a vida do paciente.
3.6. "Subindo degrau por degrau uma escada":
Nas doenças leves, deve-se primeiro recorrer cautelosa-
mente aos fatores comportamentais. Se a doença não for elimina-
da, deve-se determinar quais os alimentos benéficos e quais os
prejudiciais, administrando-os de acordo. Se este procedimento
não aliviar o problema (deve-se avaliar) qual a medicação, com
poder frio ou com poder quente, é benéfica e administrar (adequa-
damente). No caso destes métodos não erradicarem a doença,
Linguagem figurada referindo-se ao poder refrigerante comum em
todos os quatro ingredientes do medicamento.
33
deve-se retirar a doença de sua localização através da terapia
acessória.
3.7. "Como o herói que vence o inimigo":
Este é o caso de todas as doenças humorais simples de
rLung, mKris-pa ou Bad-kan, quando são eliminadas com o trata-
mento apropriado, sem produzir nenhuma outra doença secundá-
ria. Quando o médico falha na compreensão deste fato, quaisquer
das doze reações de desequilíbrio pode ocorrer. Quando um trata-
mento errado falha em aliviar a doença em si, será criada uma
doença secundária; por exemplo, ao utilizar dieta e medicamentos
com sabor amargo e picante em um distúrbio de rLung, esta não
será aliviada e resultará em uma reação de desequilibrio de Bad-
kan e mKris-pa, respectivamente. Ao utilizar medicamentos e dieta
com sabor salgado e picante em uma doença de mKris-pa, esta
não será aliviada e surgirá um desequilíbrio de Bad-kan e rLung,
respectivamente, em virtude destes dois sabores. Medicamentos e
dieta com sabor amargo e salgado administrados em uma patolo-
gia de Bad-kan falharão em eliminá-la e provocarão reações de
desequilíbrio de rLung e mKris-pa respectivamente.
Através da combinação de tais condições insalubres, será
produzida uma reação de desequilíbrio humoral triplo, enquanto
que uma medicação e dieta excessivamente fortes aliviarão a
doença mas não sem gerar uma condição secundária posterior.
Por exemplo, medicamentos, dieta, etc. extremamente doces e
salgados aliviarão rLung, mas produzirão respectivamente dese-
quilíbrios de Bad-kan e mKris-pa . Além disso, medicamentos, etc.
com sabores azedos e picantes aliviarão Bad-kan e elevarão res-
pectivamente rLung e mKris-pa. Compostos doces e amargos ali-
viarão mKris-pa e produzirão respectivamente Bad-kan e rLung.
3.8. “Como um chefe resolve contendas”:
Nas doenças humorais duplas e triplas, deve-se administrar
um medicamento equilibrado que possua poderes mornos e frios
em sua combinação, por exemplo, Terminalia chebula e exsudato
mineral possuem geralmente um efeito medicamentoso balancea-
34
do sobre as doenças humorais combinadas. Em tais casos, os
ingredientes suplementares individuais recomendados devem ser
adicionados de acordo com a localização e a natureza humoral,
etc. fundamental da doença.
Os ingredientes adicionais recomendados em cada caso
são os seguintes: Myristica fragrans, nos distúrbios cardíacos;
resina do bambu para os pulmões; Crocus sativus para o fígado,
Syzigium aromaticum para o canal vital, Elletaria cardamomum
para os rins, Amomum sabulatum para o baço e Punica granatum e
Piper longum para o estômago.
Deve-se adicionar Swertia chirata e pepino amargo nos
casos de distúrbio de mKris-pa secundário; Myristica fragrans, uma
planta menispermácea e sopa dos três tipos de ossos para doen-
ças de rLung; Iris germanica, Coriandrum sativum e Chaeromeles
tibetica para Bad-kan; Adhatoda vasica e Picrorhiza kurroa para
distúrbios do sangue; resina de Shorea robusta, Cassia fetida e
Cannabis indicadas para doenças da linfa e almíscar e resina de
Baellium indiana para infecções e distúrbios causados por espíri-
tos.
Estes ingredientes adicionais devem ser compostos con-
forme a necessidade, de acordo com a doença e seus sintomas.
Quando quaisquer destas condições forem combinadas, não
importa quantas sejam, todos os ingredientes suplementares adi-
cionais devem ser administrados. Em casos de doenças combina-
das duplas ou triplas, conforme os humores estejam igualmente
desequilibrados ou se um ou mais predominam, devem ser adicio-
nados os ingredientes suplementares apropriados ao medicamen-
to, de acordo com o humor ou humores predominantes. Ou trata-se
alternativamente o humor mais desequilibrado previamente, tratan-
do-se os outros em seguida, ou remove-se a doença de uma vez
com o medicamento que se opõe diretamente. Por exemplo, a
febre de mKris-pa deve ser eliminada ao meio-dia e à meia-noite,
ou seja, aplicando-se medicamentos e fatores dietéticos com pode-
res frios nestes horários de febre. Ao anoitecer e pela manhã,
35
antes de fazer qualquer atividade, deve-se manter o calor digestivo
e tratar qualquer desequilíbrio frio de Bad-kan com medicamentos
e fatores dietéticos quentes. À noite e por volta do amanhecer
deve-se cuidar de rLung, ou seja, respondendo imediatamente ao
mais leve desequilíbrio de rLung com medicamentos e fatores die-
téticos nutritivos com poder de aquecer.
Se um humor eleva-se excessivamente, ele antagonizará os
restantes dois humores como um filho que sobrepuja seus dois
irmãos pelo seu maior poder e riqueza. Porém, se um humor se
reduz, isto deveria ser corrigido assim como uma má esposa (que
se tornou má apenas por desleixo). Portanto, deve-se eliminar as
elevações e reduções de quaisquer humores e restaurá-los a um
estado de equilíbrio. Os constituintes corporais são como materiais
de produção e não devem ser desperdiçados. Uma vez que o
estômago é como um campo, deve-se manter o calor digestivo.
Assim, aquele que compreender estes princípios se tornará um
médico.
3.9. "Não colocando a carga de um dzo sobre um carneiro e vice-
versa":
Através dos dez objetos do distúrbio (os sete constituintes
corporais e as três excreções), do ambiente, das estações do ano
(e horas do dia), da natureza humoral, vigor e hábitos da pessoa,
sua idade, dos elementos naturais do distúrbio e do calor digestivo
deve-se examinar minuciosamente os sintomas mais sutis. Se
estes são todos semelhantes em sua natureza, deve-se administrar
uma terapia medicamentosa forte que seja apropriada. Se não for o
caso, deve-se aplicar uma dosagem moderada e conveniente.
E assim foi dito. Este foi o vigésimo-oitavo capítulo expondo
as técnicas terapêuticas específicas do Tantra da Quintessência, a
Tradição Oral Secreta dos Oito Ramos da Cura.
Capítulo 29
Então, o sábio Rig Pai Yeshe-la falou o seguinte:
36
– "Oh grande sábio, ouça. Embora as técnicas terapêuticas
sejam numerosas, elas são agrupadas em dois tipos: gerais e
específicas.
Com relação às técnicas gerais, há dois objetos de cura e,
portanto, dois métodos terapêuticos. Os dois objetos de cura são:
aqueles que necessitam adquirir vigor devem ganhar peso e os
demais que estão acima do peso devem perdê-lo através do jejum.
O ganho de peso requer cinco fatores:
1. O objeto (o paciente)
2. O método (os meios utilizados)
3. As vantagens
4. As falhas (pelo uso excessivo)
5. As técnicas (para tratar este último)
Com relação ao objeto, quando o paciente está gravemente
afetado por um desequilíbrio de rLung ou com uma deficiência dos
constituintes corporais, nos casos de cansaço em recém casados,
hemorragia pós-parto, lesão perfurante do pulmão, na velhice, na
perda do sono, no ascetismo, tristeza, cansaço após exercícios ou
no verão, o tratamento para ganho de peso deve ser aplicado inva-
riavelmente. Este deve ser feito a partir de uma dieta nutritiva com
carne de carneiro, açúcar de cana bruto, açúcar branco, manteiga,
leite, iogurte, cerveja de grãos, etc. Com relação à medicação,
deve-se administrar uma manteiga medicinal adequada para o dis-
túrbio. As terapias acessórias como supositórios, banhos medici-
nais e massagens devem ser aplicados, enquanto que o ganho de
peso pode ser adquirido por meio de fatores comportamentais tais
como dormir, relaxar e conservar a mente feliz. Através destes
meios adquire-se vigor e todas as doenças são eliminadas.
E então, do mesmo modo que alguém abusa no ganho de
poder (e produz efeitos por seus abusos), o uso excessivo dos
métodos acima produz obesidade e conseqüentemente desenvolve
úlceras, crescimentos tumorais, embotamento mental, disúria, pre-
sença de muco na garganta e elevação de Bad-kan. Nestes casos,
os fatores dietéticos e a medicação para reduzir Bad-kan e gordura
37
serão benéficos. Por exemplo, A resina de Baellium indiana, exsu-
dato mineral e a casca da Berberis em um composto concentrado
com mel removerá todos os tipos de obesidade. Outra alternativa é
a composição dos três frutos da Terminalia chebula com mel ou
gengibre selvagem, hidróxido de potássio, Embelia ribes, Emblica
officinalis e farinha de cevada não torrada adicionados ao mel
removerá a obesidade. Portanto o ganho de peso deve ser mode-
rado uma vez que é melhor permanecer magro.
A perda de peso envolve cinco fatores:
1. O objeto (o paciente que necessita perder peso)
2. O métodos (através dos quais o peso será reduzido)
3. Os benefícios
4. As falhas (com a aplicação excessiva)
5. As técnicas terapêuticas (para tratar o último)
Com relação ao objeto a ser tratado, nos casos de indiges-
tão (daquele que se alimenta habitualmente de dietas gordurosas),
nas doenças de rLung manifestada com "rígidez da coxa", febres
infecciosas, micção excessiva, úlceras internas, gota, reumatismo,
doenças do baço, doenças da laringe, distúrbios cerebrais, doen-
ças cardíacas, diarréia febril, vômitos, torpor, anorexia, constipa-
ção, retenção urinária, obesidade, distúrbios linfáticos e síndromes
combinadas mKris-pa/Bad-kan graves, se o paciente é um adulto
forte, o tratamento deve ser através do jejum durante o inverno (por
três dias). A medicação nestes casos é de dois tipos: pacificação e
purgação.
A pacificação requer o equilíbrio dos elementos de rLung,
mKris-pa e Bad-kan perturbados, através de uma combinação de
fatores dietéticos e comportamentais, medicamentos e terapia
acessória. Se o paciente está debilitado, ele deve abster-se de ali-
mentos sólidos e líquidos por três dias e depois disso, ingerir
pequenas quantidades de alimentos leves, de fácil digestão. Se o
paciente possui um vigor moderado, (ele deve jejuar) e deve-se
prescrever decocções, pós medicinais, etc. e quaisquer composi-
ções que sejam benéficas para a produção de calor e amadureci-
38
mento de Bad-kan. No caso de uma pessoa forte, o tratamento
deve ser como descrito acima acompanhado de exercícios este-
nuantes durante a noite e o dia, assim como terapias acessórias
como sudoríficos, moxabustão, fomentação, embrocação e venis-
secção.
A evacuação é realizada através do amadurecimento da
doença e sua eliminação. Se a doença localiza-se na fase pré-
digestiva (isto é, no estômago), a eliminação deve ser feita através
de uma composição emética, enquanto que se estiver na fase pós
digestiva, deve-se expeli-la através de enema. Se a doença estiver
disseminada, como no caso de uma moléstia dos canais, deve-se
aplicar um purgativo ou um limpador dos canais.
A pacificação e a evacuação reduzem o vigor, mas os bene-
fícios dos mesmos são o clareamento dos órgãos dos sentidos,
luminosidade física, um apetite saudável, energia em todas as
ações, sede e fome equilibradas e fácil eliminação das fezes e
gases intestinais.
A aplicação excessiva destes métodos desgasta os consti-
tuintes corporais, gera enfraquecimento, vertigem, insônia, embo-
tamento da compleição, rouquidão, debilidade dos sentidos, sede,
anorexia, dor na panturrilhas, nas coxas, no cóccix, costelas, cora-
ção e crânio, crises de febre contagiosa, náuseas e distúrbios de
rLung. Nestes casos, todos os métodos para ganho de peso serão
benéficos, em especial, o paciente deve ingerir carne de animais
carnívoros, aplicar supositórios e dormir estando com a fome
saciada. Portanto, o indivíduo ganhará peso até ficar rechonchudo.
Para aquele que necessita ganhar peso não há nada mais vitali-
zante que a carne. Resumindo, não se deve fazer nada que reduza
o vigor daquele que adquiriu peso (pelos métodos acima). Entre-
tanto, se a terapia de eliminação provar ser necessária, deve ser
utilizado apenas um laxante suave. Se a perda de peso é obrigató-
ria, deve-se evitar a terapia para aumento de peso, mas no caso de
uma elevação de rLung, se os demais humores estiverem reduzi-
dos, deve-se aplicar a terapia de ganho de peso. O método de tra-
39
tamento será o mesmo quando qualquer constituinte corporal e seu
humor relacionado estiverem elevados ou reduzidos (exceto no
caso de rLung, onde o tratamento é o mesmo se rLung eleva-se e
o constituinte corporal se reduz ou vice-versa).
Este foi o vigésimo-nono capítulo, apresentando dois méto-
dos terapêuticos do Tantra da Quintessência, a Tradição Oral
Secreta dos Oito Ramos.
Capítulo 30
Então o sábio Rig Pai Yeshe disse o seguinte:
– “Oh grande sábio ouça; o ensinamento quanto ao trata-
mento de desequilíbrios específicos dos três humores é o seguinte:
Nas doenças de rLung combinadas, o óleo de gergelim é
superior (quando ingerido, além de tratar o desequilíbrio) com fato-
res dietéticos pesados, oleosos, macios, geradores de calor, assim
como o açúcar de cana bruto, a cerveja de grãos, manteiga enve-
lhecida, carne de carneiro estocada há um ano, carne de marmota,
cavalo, macaco, alho e cebola, etc. Quanto aos fatores comporta-
mentais, deve-se permanecer em locais aquecidos e tranquilos,
ouvir conversas agradáveis em companhia de pessoas amigas,
dormir e vestir roupas quentes. Com relação aos medicamentos,
deve-se preparar a sopa dos três tipos de ossos nutritivos (o osso
do tornozelo, do quarto traseiro e do quarto dianteiro de um carnei-
ro), além da administração da sopa cujo ingrediente deve ser uma
cabeça de carneiro que tenha sido conservada durante três anos, a
decocção das quatro essências (carne envelhecida, cerveja de
grãos maduros, manteiga envelhecida e açúcar de cana envelheci-
do) e a decocção de “Assafétida-3”. O pó de Myristica fragrans e
assafétida também deve ser prescrito e devem ser preparadas as
sopas medicinais de manteiga clarificada, de carne de carneiro, de
alho e de cerveja de grãos, as manteigas medicinais de Myristica
fragrans, de alho, de acônito, de osso humano, das três frutas
(Terminalia chebula, Terminalia belerica e Emblica oficinalis) e das
três raízes. Tratamentos rápidos devem ser administrados recor-
40
rendo-se a alimentos, medicamentos, etc. que possuem sabores
doce, azedo e salgado, com poderes resfriantes. Recomenda-se a
aplicação de um supositório de manteiga envelhecida. Como tera-
pia acessória, deve-se massagear com manteiga envelhecida por
um ano, aplicar fomentações nos pontos dolorosos e moxabustão
nos pontos localizados no topo da cabeça, etc. e nos pontos secre-
tos de rLung.
Nos distúrbios de mKris-pa a manteiga fresca é superior.
Devem ser tratados com carne de vaca fresca, carne de animais
montanheses, águas frias, chá preto, iogurte e manteiga de leite de
vaca e cabra, mingaus de cinzas e dente de leão amarelo, de grãos
finos, de farinha de cevada torrada e outros alimentos com poderes
frios. O comportamento recomendado exige que o paciente fre-
qüente ambientes com brisas e campinas verdejantes, que perma-
neça sentado sob a sombra das árvores, relaxado e tranquilo na
beira de rios ou de outros locais frescos, e submeta-se à aplicação
de fomentações frias, com fragrância suave. Os três tipos de medi-
camentos são aqueles à base de ervas, decocções e remédios
com ingredientes não nativos selecionados. De acordo com a gra-
vidade de uma febre, deve-se administrar cânfora (o mais potente),
Santalum album ou bile de animais (o mais suave). Resumindo,
deve-se tratar as doenças de mKris-pa com sabores doces, amar-
gos e adstringentes e com medicamentos de poderes frios. São
recomendados especialmente purgativos de sabor doce. Como
terapia acessória, o médico deve aplicar sudoríficos, utilizar uma
fonte de água (ou seja, chuveiro frio ou banho sob qualquer casca-
ta), proceder com venisecção de uma veia relacionada com a
doença ou com aplicação de fomentação fria.
Para os distúrbios de Bad-kan, o mel branco é superior.
Além disto, o tratamento deve ser feito através de fatores dietéticos
como carne de carneiro, de peixe, iaque selvagem, lince e abutre,
assim como grãos envelhecidos, bolinhos quentes feitos de farinha
de cevada, cerveja de grãos maduros, água fervida fria, decocção
de gengibre e outros alimentos que aqueçam, em pequenas quan-
41
tidades, com poderes leves. Com relação aos padrões comporta-
mentais, o paciente deve aquecer-se próximo ao fogo ou sob o sol,
usar roupas quentes, exercitar-se mentalmente e fisicamente em
um local seco e abster-se de dormir (durante a tarde). Através dos
medicamentos deve-se administrar decocções concentradas sal-
gadas ou picantes e combinar as sementes da Punica granatum e
Rhododendron anthopogonoides com medicamentos calcinados.
Resumindo, deve-se adotar medicamentos com poderes leves,
ásperos e pungentes e com sabores picantes e azedos. São reco-
mendados especificamente eméticos com poderes pungentes e
ásperos. Como terapia acessória, o médico deve aplicar fomenta-
ções de sal aquecido, bolas de terra ou de pele de animais. Nos
casos extremamente graves de Bad-kan, estão indicados moxa-
bustão ou um procedimento cirúrgico para o qual se utiliza um ins-
trumento semelhante a uma colher.
Assim, as doenças de rLung devem ser tratadas com supo-
sitórios e fatores nutritivos, distúrbios de mKris-pa, com purgação e
fatores com poderes frios e as doenças de Bad-kan, através de
eméticos e fatores com poderes quentes. Nos distúrbios combina-
dos de rLung e mKris-pa, deve-se adotar fatores frios e nutritivos,
enquanto que nas moléstias combinadas de Bad-kan e mKris-pa, o
tratamento deve ser através de fatores com poderes leves e frios.
Já a combinação de rLung e Bad-kan deve ser tratada com fatores
nutritivos quentes, enquanto que nas patologias triplas combinadas
dos humores devem ser utilizados métodos com poderes frios,
nutritivos e leves.
Mais essencialmente, todas as doenças quentes serão tra-
tadas com fatores frios; todas as patologias fundamentalmente frias
devem ser tratadas como Bad-kan. No caso de uma doença com-
binada rLung-quente, o tratamento envolverá fatores oleosos;
moléstias rLung-frias necessitam de fatores que aqueçam.
E assim foi dito. Este é o trigésimo capítulo, apresentando
as técnicas terapêuticas específicas do Tantra da Quintessência, a
Tradição Oral Secreta dos Oito Ramos.
42
UM GUIA PARA A URINÁLISE MÉDICA TIBETANA
Dr. Lobsang Rapgay
A tradição médica tibetana é provavelmente o sistema de
medicina menos conhecido e a única ciência documentada que
desfruta de uma ininterrupta continuidade há mais de 2500 anos.
Originalmente, o Ayurveda, o sistema de medicina da Índia, foi pra-
ticado no Tibete, e médicos tibetanos e indianos viajavam freqüen-
temente entre os dois países para promover e trocar informações
médicas. Assim, a partir do século 7, médicos gregos, persas e
chineses visitaram o Tibete a convite de reis tibetanos para com-
partilharem e ensinarem suas ciências médicas. No século 8,
Yuthok Yontem Gonpo, o mais famoso médico tibetano na história
da medicina, organizou o sistema tibetano atual.
Um médico tibetano utiliza numerosos procedimentos diag-
nósticos, incluindo a urinálise que um dos métodos mais importan-
tes. O diagnóstico pela urina é originário dos gregos e esta
afirmação é sustentada em numerosos textos sobre a história da
medicina, inclusive pelo mais competente deles, escrito por Desi
Sangye Gyatso, ministro do 5º Dalai Lama, médico, historiador e
escritor. Ele cita textos antigos e um destes, o “Sutra de Manjush-
ri”, afirma: “Os chineses especializaram-se na arte da acupuntura,
os indianos em plantas medicinais, enquanto os gregos aperfeiçoa-
ram os métodos diagnósticos (urinálise)”.
A urinálise é utilizada pelo médico tibetano tanto para detec-
tar um estado de saúde, como um desvio do mesmo. É utilizado
rotineiramente, em associação a outros procedimentos não apenas
para obter informações clínicas válidas sobre a saúde do paciente,
mas também para diagnosticar patologias orgânicas, sua severida-
43
de e o prognóstico, através de técnicas inteiramente diferentes do
sistema moderno de urinálise.
Urinálise Básica
A urinálise é exame de rotina em todos os pacientes vistos
no consultório médico e é repetido a cada visita – às vezes é
necessário um exame diário por períodos que duram de uma a
duas semanas, em doenças graves e específicas. Quando o médi-
co não é capaz de examinar o paciente pessoalmente, o exame de
uma amostra de urina é o único procedimento confiável disponível
para ele. A questão sobre se um tratamento pode ser prescrito
simplesmente com base na urinálise é um tema de discussão entre
os médicos tibetanos. Porém, muitos médicos experientes podem
fazer um diagnóstico e um tratamento completos apenas com um
exame da urina (dados fornecidos e disponíveis na história da
medicina).
A urinálise de rotina envolve quatro procedimentos básicos:
1.Exame físico: envolve análise da coloração, odor e presença de
vapor ou névoa.
2.Depósitos: envolve observação de sedimentos e formação de
“mucina”.
3.Exame da amostra após transformação: momento em que ocorre
a mudança, a maneira como ela ocorre e as características pós-
mudança.
4.Testes para definir diagnóstico e determinar procedimentos tera-
pêuticos: testes para avaliar linha de tratamento e testes para
determinar intoxicação.
Pré-requisitos
A concentração da urina, sua aparência física e coloração
variam completamente no período de 24 horas e depende parcial-
mente da dieta ingerida pelo paciente e de suas atividades. Por
exemplo, a ingestão de chá forte, de vegetais verdes leves, intensa
ansiedade e depressão afetam a urina dando-lhe uma característi-
ca rLung. Após as refeições, surgem depósitos de Bad-kan, tais
44
como glicosúria e após intensa atividade física devem ocorrer
depósitos mKris-pa, tais como proteinúria. Dependendo do fluido
ingerido, as substâncias normalmente conservadas ou excretadas
em pequenas quantidades devem surgir na urina em maior concen-
tração e substâncias normalmente excretadas podem ficar retidas.
A temperatura e o clima também afetam a quantidade de urina eli-
minada e a sudorese profusa reduz sua quantidade. A ingestão de
certas bebidas diuréticas, como o café, chá e álcool, a presença de
tremores, nervosismo, ansiedade e fluidos endovenosos resultam
em aumento na excreção de urina. Esta eliminação é significante-
mente reduzida com a redução na ingestão de fluidos e com
aumento do aporte de alimentos salgados e azedos.
Para evitar que estes fatores influenciem na aparência e na
composição da urina, um conjunto de exigências é recomendado e
deve ser observado pelo menos um dia antes do exame. As princi-
pais exigências são:
-evitar dieta hipoproteica, chá forte e vegetais verdes leves
-evitar dieta excessivamente rica e, particularmente, com excesso
de alimentos oleosos e especiarias
-evitar uso excessivo de carboidratos comuns, como açúcar
-evitar ingestão excessiva de fluidos
-evitar relações sexuais
-dormir regularmente
-evitar atividades físicas estenuantes
-evitar situações de ansiedade e depressão tanto quanto possível.
A observação destes pré-requisitos é particularmente rele-
vante no caso de um paciente já habituado a quaisquer das dietas
citadas. Para observá-las, ele deve procurar a orientação do médi-
co.
Coleta da urina
Para que a urinálise produza seus resultados, a urina deve
ser adequadamente colhida. O primeiro jato deve ser desprezado
uma vez que, provavelmente, esteja contaminado com bactérias e
45
produtos finais do metabolismo. O jato médio deve ser coletado e a
quantidade deve preencher cerca de meia xícara de chá. A coleta
inadequada pode invalidar os achados do exame, particularmente
se o recipiente não estiver limpo.
Recipientes
Aqueles utilizados para coletar urina são específicos e
devem estar completamente limpos e secos antes da amostra ser
coletada. Sem estes cuidados iniciais, os resultados serão pouco
significativos, se não insignificantes. Recipientes de cerâmica, por-
celana ou mesmo de aço polido são apropriados. Qualquer outro
recipiente, por exemplo, de barro, cobre ou ferro, não devem ser
utilizados. A coloração deve ser branca, pois outras cores podem
refletir-se na amostra.
Varinhas
Tradicionalmente, são utilizadas três varinhas retiradas das
fibras utilizadas no fabrico de vassouras medindo cerca de um pé
de comprimento. Um cordão é amarrado firmemente a uma pole-
gada de uma das extremidades. A outra extremidade é separada
para formar um triângulo de forma que a urina possa ser vigorosa-
mente agitada. O uso de quaisquer varinhas de madeira prepara-
das de maneira similar são perfeitamente convenientes.
Horário da coleta
Em geral, a primeira urina eliminada pela manhã, mais con-
centrada e, portanto, mais adequada à análise. Freqüentemente,
no entanto, a primeira amostra da manhã pode ser impossível de
se obter. Nestes casos permite-se que seja colhida uma amostra
da micção anterior ao desjejum da manhã. A primeira urina da
manhã deve ser aquela eliminada após 4 horas, uma vez que qual-
quer micção anterior a este horário contém, provavelmente, excre-
ções renais e metabólicas em grandes proporções para o volume
total de urina.
46
Horário de exame
A urina deve ser examinada tão logo possível, preferencial-
mente por volta do nascer do sol. O exame deve ser feito à luz do
dia e não sob luz elétrica, uma vez que a coloração da urina não
pode ser observada claramente.
Processo de análise
De maneira diferente dos métodos modernos de urinálise,
os médicos tibetanos estudam várias características físicas, tais
como coloração, odor, etc., na forma de informações patológicas
sobre a maioria das doenças. Há nove características principais de
urina, estudadas em termos dos três estágios por que passa a
temperatura da amostra. As primeiras quatro, denominadas colora-
ção, odor, vapor e bolhas, são analisadas durante o primeiro está-
gio, quando a urina está fresca. Quando a amostra está morna, os
sedimentos e a mucina são examinados e finalmente, no estágio
final, quando está fria, observa-se o momento em que a mudança
ocorre e as alterações após esta transformação.
1. Exame físico
Envolve a avaliação da coloração, do odor, do vapor e das
bolhas quando a urina está fresca. As várias características de
cada um destes aspectos e sua relação com a patologia estão
categorizados formando um sistema de referência e diagnóstico
altamente efetivo.
1.1. Coloração: Esta é a qualidade física mais visível da urina. É
determinada principalmente pela concentração, pigmentos alimen-
tares, sangue e a presença de uma patologia. A quantidade de
líquidos ingerida também afeta a coloração. Durante as estações,
particularmente o verão e o inverno, a coloração é afetada distin-
tamente pela presença de calor no verão e pela sua ausência no
inverno.
Normalmente, a coloração da urina é amarela ou âmbar,
principalmente resultante da presença de um pigmento amarelo,
um tipo de mKris-pa. Durante o desenvolvimento da doença, a
47
coloração da urina sofre nítidas alterações resultantes da presença
de pigmentos normalmente ausentes. Pigmentos biliares podem
produzir uma coloração amarela ou marrom-amarelada ou mesmo
esverdeada; a hemoglobina dá uma coloração marrom-
avermelhada e a melanina faz com que a urina adquira cor mar-
rom-enegrecida.
A coloração é normalmente diagnóstica quando correspon-
de à concentração da urina. Uma amostra eliminada recentemente
é normalmente transparente, mas pode apresentar uma aparência
turva resultante da presença de fosfatos e carbonatos, se a amos-
tra é alcalina.
Patologicamente, uma coloração amarelo-avermelhada,
concentrada, indica doença quente ou inflamatória, enquanto uma
amostra transparente, diluída e aquosa indica doença fria ou não-
inflamatória. No caso da urina não estar concentrada, quer esteja
amarelada ou avermelhada, não estará indicando necessariamente
uma condição inflamatória. Da mesma maneira, se a urina estiver
concentrada, suas características diluídas e aquosas podem não
indicar uma condição não-inflamatória.
Agentes como corantes, vitaminas e mesmo os alimentos
podem alterar a coloração da urina, portanto, esta pode ser fre-
qüentemente duvidosa. Por esta razão, é de vital importância ava-
liar a coloração patológica da urina juntamente com as demais
características patológicas da mesma.
1.2. Odor: Este é basicamente afetado pelos produtos finais do
metabolismo dos alimentos. A urina de um diabético pode apresen-
tar um odor resultante da presença de acetona (um tipo de Bad-
kan). Nas infecções do trato urinário, a urina pode ser malcheirosa
por causa dos agentes infecciosos. Certos alimentos podem impor
um odor característico e normalmente, nestes casos, a causa é
uma indigestão.
Urina com odor forte, penetrante e concentrada indica doen-
ça inflamatória ou quente enquanto a ausência ou a presença de
um odor mínimo significa doença não-inflamatória.
48
1.3. Vapor: Não é visível quando a urina está fresca e, portanto, a
amostra fria de urina deve ser aquecida por um minuto ou até sua
temperatura normal para que sejam estudadas as características
do vapor. A qualidade do vapor e a velocidade com que desapare-
ce são os principais fatores a observar. Uma grande quantidade de
vapor que desaparece rapidamente indica doença inflamatória,
enquanto a ausência ou uma quantidade mínima de vapor significa
uma doença não-inflamatória. Uma quantidade moderada que
desaparece de maneira variada indica presença de ambos os fato-
res, frio e quente.
1.4. Bolhas: A maneira como as bolhas se formam, sua velocidade
e a razão do desaparecimento, a coloração e a localização são
fatores a serem observados. Em certas doenças, não há formação
de bolhas, mesmo quando a urina é agitada vigorosamente e este
sinal indica, freqüentemente, severidade da doença. Quando há
dificuldade em se determinar a coloração da urina, deve-se mistu-
rá-la e estudar a coloração das bolhas nas bordas do recipiente.
As bolhas que surgem nas doenças inflamatórias são
pequenas (do tamanho de uma cabeça de alfinete), formam duas
ou mais camadas sobre a superfície e desaparecem rapidamente
após serem agitadas. Nas doenças não-inflamatórias as bolhas
são cheias, grandes ou pequenas, em grande quantidade e perma-
necem longo tempo após a amostra ser agitada. As bolhas repre-
sentam a característica mais consistente e confiável do exame de
urina e, portanto, devem ser estudadas detalhadamente.
2. Análise dos depósitos
2.1. Sedimentos: Substâncias metabólicas normalmente acumula-
das ou excretadas em pequenas quantidades podem surgir em
grandes concentrações na urina e substâncias normalmente excre-
tadas podem ser retidas.
Os médicos tibetanos classificam os sedimentos de acordo
com os três processos fisiológicos do corpo. Podem ser sedimen-
tos de rLung, semelhantes a fios de cabelos, espalhados em quan-
tidade moderada na urina, ou sedimentos de mKris-pa, com
49
aparência de névoa e escuros, geralmente concentrados no centro
da amostra de urina. Os sedimentos de Bad-kan são como partícu-
las de areia, concentrados principalmente no fundo do recipiente.
A quantidade de sedimentos, o local onde se localizam, a
coloração e a forma indicam uma patologia específica. Geralmente,
a presença profusa de sedimentos indica doença inflamatória
enquanto a ausência ou uma quantidade mínima indica doença
não-inflamatória. Entretanto, a mera presença de sedimentos não
deve indicar necessariamente a presença de um distúrbio inflama-
tório. Na verdade, a forma e o tipo de sedimentos determinam a
natureza da patologia. A presença de granulações de areia, indi-
cam a existência de uma doença inflamatória em primeiro plano ou
é um sinal de distúrbio inflamatório secundário.
2.2.Mucina: É uma formação oleosa como a nata que permanece
sobre a superfície do leite. A presença maciça de mucina indica
processo inflamatório, enquanto a ausência ou uma mínima quan-
tidade significa processo não-inflamatório. Sua localização, colora-
ção e quantidade devem ser observadas para fins diagnósticos.
3. Exame da urina após a transformação
Após um minuto ou mais, a urina recém eliminada torna-se
fria e ocorrem mudanças em sua coloração e concentração. O
momento em que a alteração acontece é patologicamente significa-
tivo e é determinado em termos de quando a urina esfria. Igual-
mente importante para o propósito do diagnóstico é a maneira
como a urina se transforma ou, principalmente, se do centro para a
periferia ou se do fundo para a superfície.
3.1. Momento em que ocorre a transformação: Estabelecer o
momento no qual a coloração e a concentração se alteram é pato-
logicamente significativo. Quando estas alterações ocorrem antes
que a urina esteja fria, é uma indicação de doença inflamatória.
Entretanto, quando a mudança ocorre depois que a urina esfriou, é
um sinal de processo não-inflamatório. Quando a mudança ocorre
simultaneamente com o resfriamento da urina, geralmente coexis-
tem ambas as condições, inflamatória e não-inflamatória. A coexis-
50
tência de ambos não significa necessariamente que um único
órgão esteja afetado pelos dois processos, quente ou frio. Na ver-
dade, indica que um órgão constitucionalmente não-inflamatório, tal
como o rim, está acometido por um processo inflamatório. Para
analisar este procedimento a urina deve ser primeiramente aqueci-
da à temperatura normal.
As variações sazonais, entretanto, influenciam na velocida-
de e na maneira como a urina se transforma. Por exemplo, durante
o inverno a urina sofre mudanças na coloração e na concentração
imediatamente após ter sido eliminada, um efeito resultante da bai-
xa temperatura. No verão, as mudanças ocorrem um considerável
período de tempo após a urina ter sido eliminada e são ocasiona-
das pela ação do calor.
3.2. Modo como as transformações ocorrem: No caso de proces-
sos inflamatórios, a mudança de coloração e concentração ocorre
do fundo para a superfície enquanto que nos processos não-
inflamatórios as mudanças ocorrem da periferia para o centro do
recipiente.
3.3. Qualidades pós-transformações: Como a amostra de urina
está disponível apenas depois que já esfriou, a maioria das análi-
ses clínicas são feitas em termos de características pós-
transformações, ou seja, coloração, bolhas e depósitos.
Cada uma das nove características da urina são altamente
significantes. Elas determinam não apenas a doença específica,
mas também sua cronicidade ou intensidade, auxiliando também
na decisão sobre o tipo de tratamento a ser administrado. Este
último dado é de vital importância, pois para cada doença há uma
enorme variedade de medicamentos disponíveis. Para prescrever
a correta combinação de medicamentos, o médico deve estar
consciente quanto ao tipo de processo fisiopatológico envolvido,
sua severidade e quanto à presença de complicações secundárias.
A análise da urina fornece informações conclusivas sobre estes
fatores.
51
Entretanto, um diagnóstico preciso depende principalmente
de perícia, experiência e da habilidade do médico em relacionar
clinicamente seus achados, a partir de todos os procedimentos
diagnósticos e da história completa do paciente. Pelo fato da urina
ser tão variável e facilmente influenciável por fatores que não têm
relação direta com a doença, as características da urina são enga-
nosas com frequência. Conseqüentemente, a coloração da urina
pode não ter qualquer relação com o atual problema do paciente.
Por exemplo, influências sazonais no verão podem fazer com que
a urina de doença não-inflamatória tenha uma coloração amarela.
No caso de uma doença crônica como o câncer gástrico, os sinto-
mas e as características da urina são freqüentemente suprimidas
pelas condições mais imediatas do paciente. Como este desenvol-
ve extremo stress e tensão e não é capaz de modificar sua doença,
sua urina estará claramente dominada pelos sintomas de seu esta-
do psicológico atual. As bolhas serão grandes, desaparecem rapi-
damente e conseqüentemente o médico que não obtiver a história
médica completa fará um diagnóstico incorreto deixando sem defi-
nição o problema real da pessoa.
A orientação para os iniciantes é observar tantas corres-
pondências quantas forem possíveis nas características da urina.
Por exemplo, se a coloração estiver alterada mas não concordar
com os achados quanto à concentração, bolhas e sedimentos, o
diagnóstico deve ser feito com base na conformidade de caracte-
rísticas principais. Inicialmente, no treinamento para fazer uma
análise da urina, a avaliação em termos dos três processos fisiopa-
tológicos é absolutamente essencial. O primeiro dos três, rLung
(atividade humoral), está associado com as funções do sistema
nervoso central e periférico; mKris-pa (energia humoral), está rela-
cionado com os sistemas endócrino e secretório e Bad-kan (estru-
tura humoral), com os sistemas digestivos e de fluidos corporais.
Cada um destes três são identificados fisiologicamente com órgãos
específicos, tecidos e mecanismos do corpo e, portanto, ser capaz
de determinar seu envolvimento e patogenicidade no processo da
52
doença significa fornecer dados para atingir um diagnóstico corre-
to. Tomemos como exemplo uma amostra que apresenta uma uri-
na transparente, de coloração aquosa, com bolhas grandes, em
pequena quantidade que desaparecem instantaneamente após a
agitação. O tamanho das bolhas, sua transparência e coloração
indicam uma patologia de rLung. No entanto, a pequena quantida-
de de bolhas e seu rápido desaparecimento indicam claramente a
presença de um processo inflamatório.
Clinicamente, há dois locais normalmente associados com
tais características do exemplo acima, o estômago e os rins. O
estômago como sítio patológico neste caso está instantaneamente
excluído, pois a natureza diluída e aquosa, assim como as bolhas
esparsas indicam claramente um envolvimento do rim. Isto ocorre
porque apesar dos dois órgãos serem intrinsecamente sítios de
Bad-kan, o rim é predominantemente um órgão Bad-kan fluido
enquanto o estômago é um órgão Bad-kan sólido. O diagnóstico
final, então, é processo inflamatório dos rins.
4. Características da urina normal
-coloração -âmbar ou palha
-odor -moderado ou tolerável
-vapor -moderado
-bolhas -tamanho de pequenas ervilhas, moderada quantidade,
espalhadas sobre a superfície, no máximo em duas
camadas, não desaparecem instantaneamente nem
permanecem completamente após a agitação
-sedimentos -moderado, cobre a superfície
-mucina -moderada
-momento da
transformação
-aproximadamente no mesmo momento em que a urina
se resfria
-maneira como
ocorre
-da periferia para o centro
-características pós-
transformação
-clara, cor palha ou âmbar com moderada quantidade
de sedimentos.
Clinicamente, uma urina saudável com todas as caracterís-
ticas mencionadas é raramente encontrada.
53
5. Urina patológica
Como a clínica médica tibetana é apresentada em termos
dos três processos fisiopatológicos, as características da urina são
classificadas de maneira similar.
5.1.Urina rLung:
-coloração -azulada, aquosa e transparente
-odor -leve ou ausente
-vapor -moderado ou insignificante
-bolhas -grandes como “olhos de búfalo”, permanecem por algum tempo
após agitação e desaparecem entre bolhas de tamanho moderado
que permanecem longo tempo dependendo da patologia.
-sedimentos -geralmente nenhum, entretanto, em algumas doenças de rLung
estão presentes depósitos semelhantes a fios de cabelo.
-mucina -ausente
Na determinação de uma doença de rLung, apesar de todas
as características clínicas da urina serem importantes, a coloração
e a estrutura das bolhas são as mais conclusivas. Apesar destas
bolhas serem descritas como grandes, não significa que todas as
bolhas sejam iguais. Melhor, a maioria das bolhas apresentam
tamanho moderado (como ervilhas) e ao agitar a amostra surgem
algumas poucas bolhas grandes entre estas. Quando a urina é
azulada, clara e com a agitação surgem grandes bolhas que desa-
parecem instantaneamente quando cessa, está indicando um pro-
cesso inflamatório secundário. Isto é diagnosticado como rLung
inflamatório. No entanto, quando a urina é clara e as bolhas per-
manecem após a agitação, este é um caso de rLung não-
inflamatório.
Apesar de processos inflamatórios de rLung apresentarem
eventualmente grande quantidade de bolhas, estas são mais trans-
parentes do que nos casos de doença não-inflamatória de rLung e
desaparecem de maneira errática. Nos casos de rLung não-
inflamatório, as bolhas são densas tornando-se difícil ver o fundo
do recipiente claramente e ao tentar retirar as bolhas do centro do
mesmo com a varinha, as bolhas permanecem na superfície.
54
Com freqüência, a coloração da urina de rLung pode não
ser azulada – pode ser levemente amarelada ou suavemente tingi-
da de vermelho, exceto no verão. Nesta estação, o calor influencia
principalmente a urina de rLung que adquire tal coloração. Durante
as demais estações, tal azulado geralmente significa a presença de
uma condição inflamatória secundária.
5.2. Urina de mKris-pa:
-coloração -amarelo-avermelhada, chocolate ou semelhante a óleo -odor -forte e penetrante
-vapor -profuso e persiste por um curto período
-bolhas -pequenas (cerca da cabeça de um alfinete), não con-
gestas como as de Bad-kan, com a agitação não for-
mam muitas camadas e logo desaparecem
-sedimentos -profusos e concentrados na superfície, no meio e no
fundo do recipiente, dependendo da localização da
doença; são escuros e assemelham-se à névoa
-mucina -profusa e principalmente concentrada no centro
-momento da
transformação
-antes que a urina esfrie
-maneira como
ocorre
-do fundo para a superfície
-características pós-
transformação
-turva e concentrada, vermelho-amarelada, com bolhas
pequenas
A turvação, a concentração e as bolhas são as característi-
cas clinicamente mais significativas no diagnóstico da urina de
mKris-pa. A coloração é freqüentemente enganosa e pode apre-
sentar valor clínico apenas se a urina estiver concentrada. Geral-
mente, a forma de medir a concentração da amostra é através da
observação de quão claramente pode ser visto o fundo do recipien-
te. Se este puder ser observado tão claramente como a água, a
urina é diluída e indica um processo não-inflamatório. Por outro
lado, se estiver turva, o fundo não poderá ser observado, indicando
uma doença inflamatória.
Com freqüência, a coloração da urina amarelada ou aver-
melhada pode suscitar dúvidas. Para determinar a coloração, incli-
55
ne suavemente o recipiente e observe a borda do lado inclinado.
Se estiver claro, considere-a uma amostra indicativa de processo
não-inflamatório.
Normalmente, as bolhas de um distúrbio inflamatório ou de
mKris-pa são pequenas (do tamanho de uma cabeça de alfinete),
congestionadas, mas não abundantes, não formando mais do que
poucas camadas sob agitação, diferente do que ocorre nos casos
de Bad-kan. A urina é concentrada e as bolhas desaparecem rapi-
damente ainda durante a agitação. Após um minuto ou menos, o
centro do recipiente está sem bolhas e, finalmente, podem ser
observadas apenas algumas delas nas bordas .
5.3. Urina de Bad-kan:
-coloração -geralmente esbranquiçada ou branca como leite -odor -ausente ou mínimo
-vapor -mínimo e desaparece antes da transformação
-bolhas -congestas, pequenas, abundantes à agitação e perma-
necem tempo considerável após a mesma, raramente
desaparecem completamente
-sedimentos -mínimos ou ausentes, mas nas doenças de Bad-kan
metabólicas e renais estão presentes grãos de areia no
fundo do recipiente
-mucina -ausente
-momento da
transformação
-após o resfrimento da urina
-maneira como
ocorre
-da periferia para o centro do recipiente
-características pós-
transformação
-branca, geralmente clara, bolhas congestas e abun-
dantes que permanecem
As bolhas são a principal característica clínica a ser obser-
vada na urina de Bad-kan. Bolhas congestionadas, pequenas
abundantes após agitação, indica claramente uma doença de Bad-
kan. Entretanto, a coloração geralmente determina a localização da
doença. Por exemplo, uma urina com bolhas com carcterísticas
Bad-kan, que permanecem, mas que apresentam coloração mar-
rom-amarelada possui a cor associada a distúrbios abdominais,
56
particularmente estômago e duodeno. Como o estômago está
associado a Bad-kan, pode-se inferir através desta urina que há
uma patologia de Bad-kan localizada no estômago. A coloração
amarelada pode indicar a presença de processo inflamatório tam-
bém.
O rim é outro dos principais órgãos de Bad-kan, mas está
associado com fluidos, as bolhas não são abundantes, nem per-
manecem longo tempo. Além disso, a urina é aquosa e diluída na
maioria dos casos.
5.4. Urina de mKris-pa/rLung:
-coloração -amarelada e clara
-odor -moderado e levemente pungente
-vapor -moderadas quantidade e duração
-bolhas -tamanho pequeno a moderado, algumas grandes, que desapare-
cem imediatamente após agitação
-sedimentos -levemente concentrada, mas geralmente clara
-mucina -mínimo
O diagnóstico diferencial para este tipo de urina é sinusite,
gripe, febre do feno e enterite. Entretanto, há certas diferenças em
cada caso. Na sinusite e na febre do feno, a coloração e a concen-
tração são mais claras do que no caso da gripe ou resfriado
comum. Há presença de tosse, as bolhas são abundantes, de
tamanho moderado e formam camadas com a agitação. Na enteri-
te, a urina não é concentrada, mas mais amarelada, com esporádi-
cas bolhas características de rLung que desaparecem
instantaneamente.
5.5. Urina de Bad-kan/rLung:
-coloração -aquosa e clara
-odor -ausente ou mínimo
-vapor -mínimo, desaparece antes das transformações
-bolhas -pequenas, congestionadas, com algumas de tamanho grande
que aparecem com a agitação e permanecem esporadicamente
após a mesma
-sedimentos -geralmente mínimos, exceto em casos de indigestão
57
-mucina -ausente
5.6. Urina de Bad-kan/mKris-pa:
-coloração -amarelo-avermelhada, chocolate ou negra como óleo
-odor -forte e penetrante
-vapor -profuso, mas de moderada duração
-bolhas -tamanho pequeno a moderado, permanecem após a agitação
-sedimentos -um sedimento escuro ou grãos podem estar presentes
-mucina -moderada
Este tipo de urina é típica no caso de doenças que cursam
com icterícia como sinal principal. Entretanto, nos cálculos biliares
a urina é mais clara, surgem menos bolhas, que desaparecem
erraticamente com a agitação.
5.7. Doenças complexas de Bad-kan:
-coloração -marrom-amarelada e concentrada
-odor -forte e pungente
-vapor -moderado a profuso, dependendo da presença de febre
-bolhas -pequenas a médias, congestas, que permanecem por longo tem-
po após a agitação
-sedimentos -moderados e concentrados principalmente no centro; a borda do
recipiente pode aparecer clara
-mucina moderado nos casos de doença complexa de Bad-kan com com-
ponente inflamatório
A doença complexa de Bad-kan é um estado patológico que
envolve todos os três processos fisiopatológicos principalmente na
região abdominal. Há três estágios principais da doença denomi-
nados primário ou inflamatório, secundário ou terciário ou não-
inflamatório. Correspondem à gastrite grave, úlcera e úlcera perfu-
rada. A urina apresentar-se-á diferente em cada estágio. No primei-
ro estágio, é amarelada e com características inflamatórias; no
segundo, apresentará tanto características inflamatórias como não-
inflamatórias e durante o terceiro estágio a urina conterá células
sanguíneas e pequenas bolhas que permanecem após a agitação.
5.8. Urina do resfriado comum ou gripe:
-coloração -amarela clara e concentrada no centro
58
-odor -penetrante se houver presença de febre
-bolhas -difusas, cobrem a superfície com duas camadas, mas não abun-
dantes, o tamanho é moderado e desaparecem erraticamente
fazendo um som sibilante
A urina do resfriado comum pode ser facilmente confundida
com uma variedade de outras doenças tais como enterite, febre do
feno, etc. A principal característica é a presença de sedimentos
levemente escuros e concentrados no centro, enquanto a borda é
clara. Nas enterites e na febre do feno, a urina é clara e mais ama-
rela.
5.9. Meningite:
-coloração -vermelho-amarelada, levemente concentrada
-odor -forte e pungente
-vapor -profuso
-bolhas -pequenas, difusas, mas não aumentam muito após a agitação e
desaparecem rapidamente
-sedimentos -moderados
-mucina -mínima ou ausente
Deve-se observar que na maioria dos casos de processos
inflamatórios do sistema nervoso a urina tende a apresentar uma
coloração avermelhada.
5.10. Cólicas intestinais:
-coloração -amarela e clara
-odor -moderado
-bolhas -pequenas a médias, podem ser esparsas e desaparecerem
-sedimentos -mínimo ou ausente
Na maioria dos casos de processo inflamatório orgânico, a
presença de febre afetará a concentração, o vapor e o odor da uri-
na diferentemente. No caso da febre estar presente, a urina será
mais concentrada, escura e com odor penetrante. Quando está
ausente, a urina será transparente, particularmente se o processo
inflamatório estiver ocorrendo em um órgão constitucionalmente
frio.
59
5.11. Síndrome de debilidade digestiva:
-coloração -esbranquiçada e concentrada
-odor -moderado, em geral aquele do alimento ingerido
-bolhas -pequenas, congestionadas com bolhas ocasionais tipo rLung que
permanecem
-sedimentos -produtos finais do metabolismo podem estar presentes, em geral
dão à urina uma aparência turva, leitosa
5.12. Dispepsia:
-coloração -amarelo-avermelhada e branca, leitosa
-odor -do alimento ingerido
-bolhas -pequenas, difusas e permanecem por um momento após a agita-
ção
-sedimentos -podem estar presentes produtos finais do metabolismo
Geralmente, a dispepsia não tratada, causada pela ingestão
escessiva de alimentos cremosos e condimentados ou de alimen-
tos insalubres pode afetar por completo o metabolismo. O calor
digestivo é prejudicado resultando em debilidade permanente do
sistema digestivo. Conseqüentemente, negligências posteriores
com hábitos dietéticos levarão a processos inflamatórios graves ou
atrofia de Bad-kan, resultando em crescimentos tumorais na região
abdominal.
5.13. Flatulência:
-coloração -aquosa e diluída
-odor -mínimo
-bolhas -grandes, distribuídas entre grande quantidade de médias, que
permanecem por um instante
-sedimentos -ausentes, observados se houver processo inflamatório
5.14. Enterite:
-coloração -amarelo-avermelhada e basicamente clara
-odor -penetrante
-bolhas -pequenas, algumas grandes espalhadas, podendo algumas
vezes cobrir a superfície, desaparecem rapidamente
-sedimentos -geralmente ausentes, pode haver alguns grânulos
60
5.15. Hepatite:
-coloração -chocolate ou semelhante a óleo
-odor -forte e penetrante
-vapor -profuso, mas persiste por longo tempo
-bolhas -amareladas, pequenas a médias, congestionadas que permane-
cem por longo tempo
-sedimentos -concentrado e escuro
-mucina -moderado
5.16. Colecistite aguda:
-coloração -amarelada e concentrada
-odor -penetrante
-vapor abundante, que não permanece
-bolhas -pequenas, amareladas, mas não abundantes (formam-se uma a
duas camadas após a agitação) e desaparecem rapidamente ape-
sar de bolhas de pequeno tamanho permanecerem na borda do
recipiente
5.17. Colecistite:
-coloração -amarelada, mas transparente
-odor -moderado
-bolhas -pequenas e algumas de tamanho médio, pequena quantidade,
desaparecem erraticamente com um som sibilante
-sedimentos -geralmente clara, mas a urina pode estar concentrada às vezes
-mucina -circunscrita, do tamanho de ovos de rã, pode ser encontrada
espalhada sobre a superfície
Quando a dor é o sintoma clínico predominante, em qual-
quer patologia, as bolhas geralmente são esparsas ou em quanti-
dade moderada, freqüentemente grandes e desaparecem
erraticamente com um som sibilante.
5.18. Parasitose intestinal:
-coloração -amarelo-esbranquiçada e transparente
-bolhas -esparsas, algumas de tamanho grande que desaparecem comple-
tamente após a agitação
5.19. Pneumonia:
-coloração -amarelo-avermelhada e levemente concentrada
61
-odor -moderado
-vapor -moderado e persistente
-bolhas -pequenas a médias, quantidade regular, mas transparentes,
pode-se ver o fundo do recipiente (nas doenças abdominais, as
bolhas estão em igual ou maior quantidade, mas são densas e,
portanto, não se pode ver o fundo do recipiente) e desaparecem
rapidamente
-sedimentos -levemente concentrada ou escura; pode ser transparente
Nas doenças respiratórias a urina é geralmente amarelo-
avermelhada e quando a tosse é o sintoma principal formam-se
camadas de bolhas, mas são frouxas e localizam-se umas sobre
as outras. Geralmente o tamanho destas bolhas é médio, mas
podem ser um pouco maiores e tendem a desaparecer com um
som sibilante.
5.20. Bronquite:
-coloração -branco-amarelada e transparente
-odor -moderado
-bolhas -pequenas a médias, congestionadas, mas não abundantes e per-
manecem por um momento
5.21. Asma:
-coloração -esbranquiçada e clara
-bolhas -médias entremeadas por algumas de tamanho grande, profusas e
permanecem por um momento
5.22. Cardiopatia funcional:
-coloração -levemente avermelhada ou azulada; transparente
-bolhas -grandes, que não permanecem por muito tempo, quantidade
moderada
Nas cardiopatias orgânicas a coloração da urina é verme-
lho-amarelada, concentrada e as bolhas são profusas e pequenas.
5.23. Cardite reumática:
-coloração -amarelada e levemente concentrada
-odor -moderado
62
-bolhas -grandes entremeadas com bolhas de tamanho moderado que
desaparecem gradualmente
5.24. Hipertensão:
A urina nestas patologias varia grandemente. No caso de
hipertensão por rLung, a amostra é geralmente transparente, azu-
lada e apresenta uma moderada quantidade de bolhas. Na hiper-
tensão orgânica, tal como doença coronariana, a urina apresenta-
se concentrada, vermelho-amarelada, com bolhas menores entre-
meadas por algumas de tamanho grande.
5.25. Anemia:
-coloração -azulada, clara e levemente tingida de amarelo nos processos
inflamatórios
-bolhas -tamanhos variados, congestionadas e permanecem
Quando há febre a urina é levemente amarelada e as bolhas
podem ser menos profusas e tendem a desaparecer após a agita-
ção. Entretanto, quando não há febre, a amostra apresenta-se azu-
lada, aquosa e formam-se grandes quantidades de bolhas que
duplicam quando a urina é agitada, enchendo todo o recipiente.
5.26. Crescimentos tumorais:
-coloração -levemente amarelada ou marrom-avermelhada
-odor -penetrante ou moderado
-bolhas -pequenas a moderadas, levemente congestionadas e permane-
cem nos casos de tumores benignos e não-inflamatórios. Nos
tumores inflamatórios as bolhas são esparsas e desaparecem
erraticamente
-sedimentos -concentrada no centro; na superfície onde a urina foi eliminada
ou onde a urina foi agitada com as varinhas formam-se pequenas
bolhas oleosas
-mucina -circunscrita, do tamanho de ovos de rã espalhados sobre toda a
superfície
Geralmente, os crescimentos tumorais são classificados
como inflamatórios e não-inflamatórios. Estes últimos são benignos
enquanto os primeiros, malignos. Entretanto, o sítio de crescimento
também determinará a natureza do tumor. Por exemplo, se o cres-
63
cimento tumoral ocorre em um órgão constitucionalmente quente a
urina apresentará ambas as características clínicas quentes e frias.
5.27. Artrite:
-coloração -amarelo-avermelhada ou marrom; geralmente transparente
-odor -moderado, pode ser forte às vezes
-bolhas -pequenas a médias, não abundantes mas cobrem a superfície da
urina quando agitada e desaparecem rapidamente
Quando fraqueza e dor são os sintomas principais, as
bolhas tendem a apresentar tamanhos médio a grande, podem ser
esparsas e desaparecer erraticamente com um som sibilante. Nos
casos em que há edema, a urina é mais clara e as bolhas perma-
necem por um período mais prolongado.
6. Principais diagnósticos diferenciais
As características clínicas da urina podem ser facilmente
confundidas com numerosas doenças. Apenas a habilidade e a
experiência clínica podem determinar estas diferenças. Alguns dos
mais importantes diagnósticos diferenciais já foram mencionados.
Os textos médicos tibetanos discutem seis doenças principais
cujas características clínicas podem ser equivocadamente interpre-
tadas por outras. Estas serão discutidas aqui.
6.1. Coloração:
A coloração amarelada da urina em caso de febre por rLung
ou comum (sem rLung) pode fazer com que o médico tenha dúvi-
das na interpretação. Entretanto, a observação cuidadosa auxiliará
em sua distinção. A febre de rLung, apresenta características pró-
prias da febre, além de sinais de rLung, e a urina será clara com
grandes bolhas. A febre comum terá urina concentrada, chegando
a ser escura, com pequenas bolhas que desaparecem rapidamen-
te.
6.2. Transparência e sedimentos:
Quando clara, esbranquiçada e com sedimentos, a urina
pode ser erroneamente identificada como própria de uma doença
não-inflamatória. Entretanto, a presença de sedimentos é clinica-
mente mais significativa e, conseqüentemente, o diagnóstico deve
64
se basear em sua presença. A coloração clara e esbranquiçada da
urina é característica secundária. De maneira similar, se os sedi-
mentos não estiverem presentes em uma amostra de coloração
amarelo-avermelhada, a coloração é pouco significativa e o diag-
nóstico deve se basear na ausência de sedimentos.
6.3. Coloração e bolhas:
A coloração aquosa e azulada de uma amostra de urina, no
caso de uma febre oculta (denominação utilizada para febre em um
órgão constitucionalmente frio ou para febre que ocorre no inver-
no), na hipotensão e nas doenças renais frias, pode ser facilmente
confundida. Entretanto, suas características clínicas diferenciais
podem ser claras sob observação cuidadosa. No caso da febre
oculta, as bolhas pequenas que desaparecem indicam claramente
a presença de febre. Por outro lado, no caso de hipotensão, as
bolhas são grandes, como as de rLung, e permanecem por um
momento.
7. Fatores a serem lembrados durante a urinálise.
Muitas das causas que determinam a coloração e a compo-
sição da urina durante o estado de saúde ou de doença, foram dis-
cutidos nos itens anteriores. Entretanto, há certos pontos a serem
lembrados durante o exame de urina.
7.1. Predisposição constitucional humoral:
Há sete constituições humorais entre os quais estão os três
processos fisiopatológicos denominados rLung, mKris-pa e Bad-
kan. Normalmente, a constituição humoral é determinada pelo
exame do pulso e pelo questionamento quando o indivíduo está
fisicamente saudável. Por este motivo, recomenda-se que durante
a realização da história médica, o paciente seja questionado sobre
seu humor constitucional. Se o mesmo não for capaz de fornecer
este dado, as informações sobre sua dieta normal, sua atividade e
predisposição podem dar uma idéia de sua constituição humoral.
7.2. Fatores sazonais:
As estações do ano representam um papel vital na determi-
nação das características da urina. Recomenda-se que o médico
65
tenha em mente a estação durante a qual ele esteja examinando a
urina, particularmente se for inverno ou verão. Geralmente, no
verão a urina patológica adquirirá características inflamatórias
independentemente se a doença é fria ou quente. No inverno,
adquirirá características não-inflamatórias. A urina deverá ser
examinada tendo em mente a estação e outros fatores como dro-
gas, dieta, atividade, etc. e suas influências sobre a mesma. As
características clínicas descobertas na urina devem ser compara-
das com as informações clínicas dos textos médicos antes do
diagnóstico ser definido.
No entanto, não é aconselhável fazer um diagnóstico com-
pleto baseando-se apenas na análise da urina. Antes de examinar
a urina, a história do paciente deve ser feita cuidadosamente.
8. Testes para determinar diagnóstico e procedimentos terapêuti-
cos
Quando o médico tem tempo, o caso é sério e requer
extremo cuidado no tratamento, testes adicionais devem ser reali-
zados.
8.1. Testes para determinar a linha de tratamento:
O teste mais comum e efetivo para determinar a linha de
tratamento é realizado aquecendo-se a urina até sua temperatura
normal, se a amostra estiver fria. A droga a ser testada, em forma
de pó, é espalhada sobre a superfície da urina, apenas sobre um
lado para que haja espaço para outras drogas serem testadas.
Se o pó espalha-se gradualmente sobre toda a superfície
tão logo seja pulverizada, esta droga é muito conveniente para o
paciente. Se o pó espalha-se instantaneamente, de uma maneira
rápida, apesar de ser efetiva e recomendada, é menos eficaz do
que aquela que se espalha gradualmente sobre a superfície.
Quando o pó afunda gradualmente até o fundo do recipiente, sem
qualquer difusão maior, a droga não é conveniente e não deve ser
indicada. Se o pó afunda instantaneamente, a droga também não é
adequada e não deve ser indicada. Ao conduzir este teste, as dro-
gas não devem ser experimentadas ao acaso. Para que haja bons
66
resultados é melhor que sejam testadas apenas aquelas drogas
normalmente indicadas para a doença e que possam estar cau-
sando dúvidas ao raciocínio do médico, assim como aquelas que
podem ser particularmente indicadas para o estágio da doença.
8.2. Testes para determinar diagnósticos:
Apesar de existirem inúmeros testes para a determinação
do diagnóstico, apenas aqueles relacionados com envenenamento
serão mencionados. Nas suspeitas de envenenamento, o médico
deve colocar um pouco de sua saliva fresca dentro da amostra de
urina. Se a saliva flutuar sobre a superfície, não há envenenamen-
to. Se a saliva vai imediatamente ao fundo, é um caso de envene-
namento.
Outro teste consiste em colocar um fio de cabelo de qual-
quer outra pessoa, que não seja o paciente, dentro da urina. Se o
fio ficar enrolado e adquirir uma aparência de queimado, este é um
sinal de envenenamento. De outro modo, não há envenenamento.
9. Conclusão
Nenhuma literatura sobre urinálise, não importa quão vasta,
pode substituir a importância do estudo da técnica sob a supervi-
são de um médico competente. Enquanto fornecemos aqui proce-
dimentos básicos de como diagnosticar as patologias, muitos
aspectos sutis do exame da urina foram deliberadamente elimina-
dos para evitar confusões ao iniciante para o qual este trabalho é
destinado. Informações adicionais baseadas nas observações clí-
nicas pessoais, e que não estão disponíveis em nenhum lugar,
foram adicionadas de forma a prover o iniciante com uma direção
mais clara para desenvolver.
67
DOENÇAS DE RLUNG E SEU TRATAMENTO
Dr. Lobsang Rapgay
No estudo da patologia no sistema médico tibetano, o reco-
nhecimento da imensa variabilidade dos nepas (doshas em sâns-
crito) no corpo humano é da maior importância. Uma vez que os
nepas são basicamente contrários um ao outro, tanto estrutural
como funcionalmente (mKris-pa e Bad-kan opõem-se, mas rLung
assegura a simbiose de ambos no organismo), é extremamente
difícil determinar o ponto de divisão onde termina a saúde e come-
ça o desequilíbrio.
Os nepas significam literalmente defeito e, patologicamente,
possuem conotação de morbidade. rLung, mKris-pa e Bad-kan são
denominados nepas porque, quando anormalmente elevados,
reduzidos e perturbados, tornam patogênicos os sete constituintes
físicos – as unidades estruturais básicas do corpo – e as três
excreções.
Anatomicamente, o corpo é constituído pelos cinco hByung-
wa (elementos) que constituem também o substrato de todo fenô-
meno animado e inanimado. Um fenômeno ou objeto adquire suas
características particulares principalmente através da combinação
predominante de grupos específicos de hByung-wa em uma unida-
de estrutural. Por exemplo, um gênero alimentício é determinado
como pesado e doce porque é composto primariamente dos
hByung-wa terra e água, que contém intrinsecamente estas potên-
cias. Geralmente, a predominância do constituinte hByung-wa é de
50% e o restante da unidade estrutural é formado pelos demais
hByung-wa em partes iguais.
Um hByung-wa é uma unidade composta de átomos. De
fato, a moderna teoria de que átomos são constituídos de prótons,
68
elétrons e nêutrons não é inconsistente com os princípios médicos
dos cinco hByung-wa. Peso, coesão, eletricidade, movimento e
relações espaciais estão relacionados com as principais potências
e funções dos hByung-wa, terra, água, fogo, ar e espaço respecti-
vamente.
O corpo humano é constituído inteiramente de constituintes
físicos e de três nepas que podem ser identificados por células,
tecidos e órgãos, assim como suas funções. Enquanto as células e
os tecidos são reconhecidos como unidades estruturais dos cinco
hByung-wa, os nepas são as unidades vivas do corpo que assegu-
ram todas as atividades do corpo. Mais especificamente, os nepas
podem ser definidos como aqueles fatores que governam as ativi-
dades físico-químicas e fisiológicas do corpo, enquanto os consti-
tuintes físicos podem ser vistos como a unidade básica funcional
deste organismo.
Enquanto estruturalmente os nepas estão intimamente rela-
cionados com os três hByung-wa principais – ar, fogo e terra – fun-
cionalmente eles são diferentes. Ar, fogo e água não são unidades
vivas como tal, enquanto os três nepas são unidades vivas e dei-
xam de existir quando ocorre a morte.
Entre os três, rLung é o mais importante fator de patogenici-
dade e profilaxia. Não causa apenas doenças relacionadas com o
mesmo, mas é responsável pela estimulação, concentração pato-
gênica e disseminação das doenças de mKris-pa e Bad-kan. Suas
características funcionais de leveza e mobilidade asseguram sua
presença tanto nas patologias frias como quentes. Ademais, sua
característica funcional agressiva (áspera) antagoniza facilmente
as células corporais e os tecidos.
Na filosofia médica tibetana, baseada no Budismo, rLung é
caracterizado por uma provável origem psicossomática. Há três
tipos de rLung: grosseiro, sutil e muito sutil. O rLung muito sutil é o
substrato físico da realização e fruição do karma virtuoso e não-
virtuoso, que determinam a morte e o nascimento. É este rLung
69
que atravessa de uma vida para outra como a base física da cons-
ciência do "eu".
Basicamente, rLung coordena todas as atividades muscula-
res e conscientes do corpo através do sistema nervoso central e
periférico, conhecidos como sistema nervoso branco, nos textos
médicos tibetanos. Há cinco tipos de rLung:
- rLung da Sustentação (prana)
- rLung Ascendente (udana)
- rLung Metabólico (samana)
- rLung Descendente (apana)
- rLung Difusor (vyana)
Estes cinco tipos de rLung são responsáveis pelos batimen-
tos cardíacos, ritmo respiratório, movimentos do estômago e intes-
tinos, da garganta na deglutição e outras atividades vitais
voluntárias e involuntárias do corpo.
O rLung da sustentação está localizado principalmente no
coração e suas funções normais são a respiração e a deglutição
dos alimentos. O rLung ascendente está localizado na garganta e é
responsável principalmente pela fala e pela voz. O rLung metabóli-
co localiza-se no estômago e intestino delgado e auxilia na ação
enzimática, assimilação dos produtos finais da digestão e sua
separação nos vários elementos teciduais. Localizado no cólon e
nos órgãos pélvicos, o rLung descendente é responsável pela eli-
minação das fezes, urina, sêmen e sangue menstrual. O rLung
difusor, localizado no coração, é responsável à princípio pelo fun-
cionamento dos canais circulatórios no corpo.
Enquanto rLung é composto estruturalmente pelos hByung-
wa ar e espaço, tecnicamente é definido em termos de suas quali-
dades funcionais. Está descrito como "aquele que é áspero, leve,
frio, móvel, compacto e sutil". Qualquer desequilíbrio entre uma ou
mais destas qualidades, seja elevação, redução ou perturbação,
resulta em sua patogenicidade.
A origem primordial de rLung é o apego, um dos três princi-
pais estados negativos da mente. Como a natureza do apego é
70
aflitiva, ele afeta suas bases física e operacional, ou seja, rLung.
Embora a patogenicidade de rLung resulte em morbidade de todas
as seis características funcionais, eventualmente um grupo particu-
lar de características é afetado mais diretamente, dependendo dos
fatores etiológicos.
O "Tantra da Transmissão Oral" que lida com a medicina
clínica e patológica explica as doenças de rLung e seus tratamen-
tos sob as seguintes divisões:
1. Etiologia
2. Agentes Patológicos
3. Classificação
4. Sinais e Sintomas
5. Terapêutica
1. Etiologia
A origem primordial de rLung é o apego. A ignorância de
como as coisas realmente existem faz com que a consciência ape-
gue-se a coisas desejáveis ou não-desejáveis pela superposição
de qualidades que os objetos ou seres não possuem. Conseqüen-
temente, a consciência adquire qualidades flutuantes e mobilidade
que produzem estimulação correspondente das células corporais,
fazendo com que aquelas que possuem propriedades intrinseca-
mente homólogas a rLung sejam afetadas, resultando em sua proli-
feração e aumento da concentração no corpo.
Apesar de estar presente em todas as partes do corpo em
proporções variadas, seus sítios principais são pele, tecido ósseo,
articulações, região pélvica e principalmente intestino grosso.
2. Agentes Patológicos
Um agente patológico é o fator que ativa as causas latentes
básicas de uma doença em sua manifestação.
Basicamente, a patogenicidade do corpo é classificada
como externa e interna. A patogenicidade externa é aquela que
resulta em morbidade dos nepas devido ao trauma inicial e lesões
dos tecidos corporais ou constituintes físicos. A patogenicidade
71
interna, por outro lado, envolve a morbidade inicial dos nepas atra-
vés da elevação, redução ou perturbação causadas pela dieta, pelo
comportamento, mudanças de estação e outras.
A seguir estão os agentes patológicos comuns, responsá-
veis pela patogenicidade de rLung:
-dieta hipoproteica, ou seja, ingestão de alimentos com qualidades
leves, azedas e ásperas
-atividade sexual excessiva
-ingestão inadequada de alimentos
-jejum
-insônia
-esforço físico, oral e mental particularmente de estômago vazio
-hemorragia
-vômitos e diarréia
-exposição ao frio, por exemplo, brisas
-anorexia
-melancolia
-depressão
-má-nutrição
-fala excessiva
-eliminação forçada de excreções
Uma ou mais destas causas produz proliferação e finalmen-
te um distúrbio de rLung. Os estágios de patogenicidade de rLung
são determinados pela lei da semelhança e dessemelhança.
Uma vez que os agentes patológicos de rLung produzem
efeitos que são homólogos ao mesmo, a proliferação ocorre ini-
cialmente em seus sítios normais, tais como a região pélvica, intes-
tino grosso, e outros. Uma agravação posterior, ocasionada pela
influência da dieta, comportamento, das estações do ano, traumas
e energias prejudiciais, culmina em distúrbio de rLung em outros
sítios através dos vários dutos e vasos do corpo
O desequilíbrio de rLung ocorre basicamente como resulta-
do de seu contato com qualidades homólogas. As qualidades e a
matéria de uma substância estão invariavelmente juntas. Como
72
ações e qualidades não estão diretamente relacionadas, a natureza
homóloga das ações é determinada com base em seus efeitos
empíricos, mais do que em suas qualidades. No caso de rLung,
padrões comportamentais como esforço, exercícios físicos, insônia
e outros produzem efeitos empíricos homológos que agem como
efeito patogênico e como causa. Mesmo que rLung não entre em
contato direto com seus fatores agravantes, estes fatores conec-
tam-se com o corpo quando rLung circula dentro do organismo.
O distúrbio e a manifestação patológica de rLung ocorre em
dois níveis: nos sítios normais de rLung (quando recebem a deno-
minação doença primária de rLung) e em outros locais (doença
secundária de rLung). Estas síndromes se manifestam primaria-
mente quando um rLung patogênico se localiza nas regiões do cor-
po através das seis entradas patogênicas, após ter sido difundido
aos vários vasos e dutos pelo rLung difusor. As seis entradas são a
disseminação pela pele, o desenvolvimento nos músculos, adesão
aos tecidos ósseos, circulação nos vasos, localização nos órgãos
sólidos e descida aos órgãos ocos.
3. Classificação
Juntas totalizam 63 tipos principais, classificadas em dois
grupos principais: geral e específico.
3.1. Doenças gerais de rLung: São de dois tipos principais, ou seja,
secundárias e primárias.
3.1.1. Doenças primárias de rLung são aquelas que ocorrem nos
sítios normais deste nepa, afetando os constituintes físicos e os
processos de excreção. Há 28 tipos:
-pele
-tecido múscular
-tecido adiposo
-veias e artérias
-vasos linfáticos
-tecido ósseo
-articulações
73
-medula óssea
-órgãos reprodutores
-pulmões
-coração
-fígado
-baço
-rim
-intestino grosso
-vesícula biliar
-estômago
-reto
-bexiga urinária
-útero
-intestino
-intestino delgado
-crânio
-olhos
-ouvidos
-nariz
-dentes
-o corpo em geral
Estes 28 tipos de doenças primárias de rLung são agrupa-
dos nas seguintes sete categorias:
-crânio
-coração
-baço
-pulmões
-estômago
-intestino
-rim
3.1.2. Doenças secundárias de rLung são aquelas com complica-
ções secundárias de mKris-pa e Bad-kan. Totalizam 20 tipos prin-
cipais:
-a.wa.tra
74
-da.rgyan che.gye
-da.rgyan nang.gug
-hgrams.pa nyams.pa
-lce ldib.pa
-phogs.gcig gug.pa
-rtsa.hdzin
-gzhogs.phyed skhams.pa
-lus.kun skham.spa
-doung.pa hjah.ba
-pi.sha rtse
-shing.ltar rengs pa
-brla.rengs
-sra.hteng
-ce.spyang.mgo
-tsher ma
-gzugs.kyums
-kha.li
-skang.pa brtse.ba
-rkag.pa tsha.ba
Estas podem ser agrupadas em oito classes principais:
-reng.ba (rigidez muscular)
-hkyums.pa (contração)
-skam.spa (fraqueza muscular)
-sbos.pa (edema sem hiperemia)
-hches.pa (desvios e deformidades)
-bchos.pa (delírio)
-sbog.pa (coma)
-gzer (dor)
3.2. Doenças específicas de rLung: Há 15 tipos específicos de
rLung, descendente, sustentação, ascendente, metabólico, difusor,
cinco tipos de rLung com complicações de mKris-pa e cinco tipos
de rLung com complicações de Bad-kan.
75
No total há 63 grupos maiores de doenças de rLung; 20
secundárias, 28 primárias e 15 específicas.
4. Sinais e Sintomas
O diagnóstico envolve três métodos principais: exame da
história etiológica, exame dos sinais e sintomas e exame da reação
à dieta, à conduta e à terapêutica.
4.1. O diagnóstico pelo exame da história etiológica envolve o
exame físico e o questionamento do paciente para confirmar se
padrões de dieta e comportamento causadores de rLung são os
responsáveis pela patogenicidade.
4.2. O diagnóstico pelo exame dos sinais e sintomas envolve prin-
cipalmente o exame do pulso e da urina. Os sinais e sintomas de
rLung são definidos conforme sejam gerais ou específicos.
4.2.1. Sinais e sintomas gerais de rLung. Os principais são relacio-
nados a seguir:
-pulso oco (desaparece quando pressionado), pulso aleatório
-urina clara e pouco concentrada, em geral não se modifica após o
resfriamento e caso isto ocorra apresenta-se diluída
-agitação
-soluços freqüentes
-delírio
-vertigem
-zumbido nos ouvidos
-língua seca, avermelhada e áspera
-alimento de sabor adstringente
-dores difusas e não localizadas
-calafrios e arrepios
-a movimentação resulta em dores difusas
-lassidão
-contração do tronco e das extremidades do corpo
-limitação da extensão ou flexão das extremidades
-rachaduras na pele
76
-impressão de ossos quebrados
-impressão de órgãos prolapsados e membros sendo curvados
-pústulas
-insônia
-bocejos
-desejo de flexionar os braços freqüentemente
-raiva
-impressão como se os ossos, as articulações e a região pélvica
fosse batida
-dor nas regiões occipital, torácica e mandibular
-dor nos pontos focais de rLung, tais como a primeira, a sexta e
sétima vértebras em particular, quando pressionadas
-ânsias de vômitos
-eliminação de saliva espumante pela manhã
-distensão abdominal
-ruídos intestinais
-exacerbação de rLung mais predominantemente durante a noite,
ao amanhecer e no período pós-digestivo.
4.2.2. A seguir os sinais e sintomas específicos das doenças
secundárias de rLung:
a)a.wa.tra:
-cifose dorsal
-atrofia orgânica
-fraqueza muscular e perda de peso
-lamentos freqüentes
-amnésia
-distúrbios neuróticos
-olhos salientes e arregalados
-dispnéia
b)da.rgyan che.gye:
-protrusão e elevação do tórax particularmente do manúbrio ester-
nal
-retração da cabeça
-aperta e bate os dentes
77
-saliva espumante
-dor no crânio, mandíbula e região dorsal superior
-dor no pescoço com impressão de que foi batido
-descoloração dos dentes e da boca
-olhos salientes e arregalados
-sudorese abundante
-bocejos freqüentes
-articulações frouxas
-dor focal bilateral aguda nas costelas
c)da.rgyan nang.gug:
A síndrome é basicamente semelhante à anterior. Entretanto, os
seguintes sintomas a diferenciam:
-retração do abdome causada pela infiltração patogênica de rLung
-protuberância disforme das costas
-cifose dorsal causada pela infiltração patogênica de rLung do pes-
coço para todas as partes do corpo através dos vasos do rLung de
sustentação
-mal estar geral
-bocejos freqüentes
-bater dos dentes
-vômitos com muco
-dor nas costelas
-disfagia
d)hgrams.pa nyams.pa:
-denervação da mandíbula
-entorpecimento
-trismo
-disfagia
-dislalia
e)lce.ldib.pa:
-disfagia
-paralisia parcial
-dislalia
-disfagia
78
-limitação dos movimentos da língua
f)phogs.gcig gug.pa:
-curvatura unilateral do corpo
-desvio dos ossos da mandíbula
-tremores no crânio
-disfagia
-exoftalmo
-amnésia
-medo ao despertar
g)rtsa.hdzin:
-pigmentação da fontanela resultante da infiltração patológica de
rLung e do sangue
-pele seca
-dor
h)gzhogs.phyed skams.pa:
-fraqueza muscular e denervação dos vasos e ligamentos resultan-
te da infiltração patológica de rLung nas laterais do corpo
-dor insuportável
-perda da sensibilidade
-limitação progressiva dos movimentos
i)lus.kun skams.pa:
-fraqueza muscular
-perda de peso
A síndrome é semelhante ao caso anterior
j)shing.ltar rengs.pa: (paralisia espástica)
-corpo rijo e ereto como uma árvore resultante do efeito patogênico
de Bad-kan e muco
-limitação progressiva da extensão e flexão dos membros
l)dpung.hjha.wa:
-limitação progressiva das extremidades superiores causada pela
infiltração patogênica de rLung na região clavicular
-denervação e degeneração dos nervos dos membros superiores
m)pi sha.rtse:
79
-limitação progressiva das funções do punho e falanges causada
pela infiltração patogênica de rLung nas palmas das mãos, e con-
tração dos ligamentos
n)sra.ltheng:
-tremores durante os movimentos das extremidades inferiores par-
ticularmente quando caminhando resultante da infiltração patogêni-
ca do rLung da região pélvica que se difunde para os ligamentos
das coxas
-articulações frouxas
-movimentos espasmódicos dos membros
-andar hesitante e arrastado
o)brla.rengs:
-dor insuportável causada pela infiltração excessiva de Bad-kan e
muco das coxas, congestionando os tecidos adiposos e o muco em
torno dos ossos, vasos e outros constituintes físicos
-denervação dos tecidos corporais
-perda do calor
-movimentos normais prejudicados
-dificuldade para levantar a perna
-peso nas extremidades inferiores
p)ce.spyang.mgo:
-edema sem hiperemia da patela semelhante à forma de uma
cabeça de chacal causado pela descida de sangue e rLung pato-
gênico
-edema da pele
q)tsher.ma:
-causado pela infiltração patogênica de rLung no maléolo
r)gzugs.kyums:
-rigidez causada pela infiltração de rLung dos ligamentos do maléo-
lo que se difundem para os ligamentos das falanges e posterior
ascensão até os ligamentos das coxas
s)kha.li:
-síndrome semelhante às de gzugs.kums e pisha.rtse
t)skang.pa brtse.ba:
80
-queimação e pontadas nas pernas causada pela infiltração pato-
gênica de rLung/Bad-kan
u)skang.pa tsha.baa:
-pés quentes
-sensação de queimação e pontada
-sensação de queimação particularmente ao caminhar
4.2.3. Sinais e sintomas específicos das doenças primárias de
rLung:
a)rLung da pele:
-impressão de pele rachada
-pele seca
-sensação de formigamento
b)rLung muscular:
-vergões e edemas
-pele seca
-compleição escura
-pústulas sem manchas
c)rLung adiposo:
-anorexia
-dor e edema
-crescimento nodular
d)rLung dos vasos:
- contração e relaxamento dos canais vasculares e não-vasculares
e)rLung do crânio:
-vertigem
-distúrbios neuróticos
f)rLung dos olhos:
-olhos inflamados e vermelhos
-impressão de exoftalmo
-dor
g)rLung nasal:
-obstrução nasal
-ruído no nariz
-anosmia
81
h)rLung dos dentes:
-dor
-edema e inflamação das gengivas
i)rLung corporal:
-síndrome semelhante à de rLung em geral
j)rLung da sustentação:
Etiologia -dieta hipoproteica
-jejum prolongado
-esforço físico
-evacuação e micção forçadas
Sinais e -vertigem
sintomas -dispnéia
-disfagia
-distúrbios neuróticos
l)rLung ascendente:
Etiologia -regurgitação do alimento ingerido
-depressão
-melancolia
-esforço físico
Sinais e -disfagia
sintomas -surdez
-fadiga
-mal estar geral
-desvio e deformidade da boca
-perda de memória
m)rLung difusor:
Etiologia -agitação
-descanso sobre locais úmidos
-hiperatividade
-choque e medo
-fobia mental
-depressão
-dieta hipoproteica
82
Sinais e -impressão de coração prolapsado
sintomas -desmaios
-olhos arregalados
-fala demasiada
-agitação
-choque e medo
n)rLung metabólico:
Etiologia -alimento não digerido
-sonolência diurna
-denervação
-força digestiva reduzida
Sinais e -hiperatividade abdominal
sintomas -anorexia
-vômitos
-indigestão
o)rLung descendente:
Etiologia -evacuação e micção forçadas
Sinais e -sensação de queimação na pélvis
sintomas - frouxidão e crepitação nas articulações
-halitose
-constipação
p)rLung com complicações de mKris-pa:
-síndrome típica de rLung combinada com síndrome de mKris-pa,
tal como, amarelecimento dos olhos, pele e urina (icterícia)
q)rLung com complicações de Bad-kan:
-síndrome típica de rLung e Bad-kan, tal como letargia e outros
sinais e sintomas
4.3. Diagnóstico através do exame das reações à dieta, à conduta
e às terapias: A reação positiva ao que está relacionado a seguir
confirma que a patologia é rLung:
-dieta hiperproteica, tais como carne, manteiga e outros gêneros
alimentícios
83
-massagem com ungüentos preparados com óleo vegetal, medula
e manteiga envelhecida
-exposição ao calor
A exacerbação dos sintomas resultantes do seguinte con-
firma que a doença é rLung:
-água gelada
-soro de leite de vaca
-chá
-fome e sede
-exposição ao frio
-falar em demasia
-relação sexual
-insônia
-depressão
5. Terapêutica
É explicada em termos de dois itens principais: terapêutica
geral e específica.
Quanto à terapêutica geral, subdividimo-la também em dois
itens: a história do paciente e os estágios da patogenicidade.
5.1. História do paciente: Além de estudar a história do paciente, o
nível social da família e o ambiente familiar também são conside-
rados importantes na determinação de uma linha de tratamento.
-pacientes ricos e da realeza devem ser tratados principalmente
com medicação oral
-pacientes da classe média devem ser tratados principalmente com
terapêutica nutricional e comportamental
-pessoas comuns devem ser tratadas principalmente com terapias
drásticas como venissecção, cauterização, e outras.
5.2. Estágios de patogenicidade: consistem do primeiro estágio ou
leve, segundo ou moderado e terceiro ou grave. Cada um destes
estágios podem ser de dois tipos: agudo ou crônico.
84
5.2.1. Primeiro estágio ou leve: Neste estágio de patogenicidade,
são indicados principalmente terapêutica dietética e comportamen-
tal. Entretanto, se eles não curam a doença, a medicação é reco-
mendada e se esta também falhar, estão indicadas as terapias
secundárias.
5.2.2. Segundo estágio ou moderado: Neste estágio, terapias dieté-
ticas e comportamentais são indicadas simultaneamente com a
medicação.
5.2.2.1. Terapias dietéticas para rLung: Recomenda-se o seguinte:
-urtiga
-alho
-cebola
-massa de grãos cozida
-sopa preparada a partir de partes de carneiro (carpo, tarso, cavi-
dade glenóidea e cóccix)
-carne de carneiro
-carne de cavalo
-carne de marmota
-manteiga envelhecida po um ano
-açúcar mascavado indiano
-carne envelhecida por um ano
-óleo de sementes envelhecido por um ano
-leite fresco
-vinho de trigo
-vinho de açúcar mascavado indiano
Enfim, uma dieta rica em proteínas.
5.2.2.2. Terapias comportamentais para rLung:
-ambiente luminoso, aquecido e apropriado
-roupas quentes feitas de peles, etc.
-conversa com amigos agradáveis
-amigos amáveis
5.2.2.3. Terapias medicamentosas para rLung: Medicamento ou
droga é definido como "qualquer substância que alivie e elimine a
dor e o sofrimento". Os principais tipos de drogas indicadas para
85
rLung estão a seguir: sopas medicinais, vinhos medicinais, elimina-
tivos, medicamentos em pó e manteigas medicinais.
5.2.2.4. Sopas medicinais:
-sopa medicinal preparada com fêmur, cavidade glenóide e cóccix
de carneiro, pulverizando-se os ossos e fervendo-os em água.
-sopa medicinal preparada com diversos ossos de carneiro, adicio-
nando-se gengibre, assafétida, sal de cheiro (vermelho ou preto),
alho e soda ou sal tibetano. Esta sopa é indicada para todos os
tipos comuns de rLung.
-sopa medicinal de carne de carneiro, manteiga envelhecida e açú-
car mascavado misturados e agitados até restarem dois terços da
quantidade original. Adiciona-se Myristica fragrans, sal de cheiro
(vermelho ou preto) e assafétida para tratar especificamente doen-
ças cardíacas e do rLung da sustentação.
-sopa medicinal de ossos, carne e cérebro de um carneiro macho
de três anos com alho, assafétida, sal-gema é indicada particular-
mente para rLung do crânio e geralmente prescrita para rLung em
geral.
-sopa medicinal preparada com alho, assafétida e sal de cheiro,
indicada para rLung em geral, mas particularmente para rLung gas-
tro-intestinal. É recomendado para rLung cardíaco e perda de
memória.
-sopa medicinal de alho, semente de anis e Myristica fragrans é
indicada para todos os tipos de doenças de rLung, mas particular-
mente para a memória.
5.2.2.5. Vinhos medicinais: Geralmente indicados para doenças
complexas.
-vinho medicinal preparado com Angelica sp. e Polygonatum cirrhi-
folium (Wall, Royle) é indicado para doenças gerais de rLung e
Bad-kan.
-trigo ou cevada processados em vinho, adicionando-se as subs-
tâncias acima, está indicado nos casos de complicações de Bad-
kan. Esta droga também é eficaz nas doenças renais de rLung.
86
-vinho medicinal preparado com açúcar mascavado indiano é
recomendado para todos os tipos de rLung.
-vinho medicinal de óleo de carneiro é indicado particularmente
para rLung frio
-vinho medicinal de Tribulus terrestris (Linn.) é recomendado para
doenças renais e para patologias de rLung em geral.
-vinho medicinal preparado de ossos de carneiro fêmea de três
anos é indicado para rLung do tecido ósseo.
5.2.2.6. Eliminativos: São indicados para eliminar a concentração
patogênica de rLung em diferentes partes do corpo particularmente
nos tecidos ósseos. Há quatro destes eliminativos:
-branco
-vermelho
-alcalino
-alho
Os eliminativos são indicados também para rLung em geral,
ou especificamente para perda da memória. São particularmente
eficazes no tratamento de doenças pós-rLung.
5.2.2.7. Pós medicinais: Agem com maior rapidez do que outras
formas de medicamentos:
-pó preparado a partir de Myristica fragrans, assafétida, sal de chei-
ro, tsab.ru.tsa (um tipo de sal), sal-gema, Piper longum (Linn.),
gengibre, Piper nigrum, casca de cinamomo, Punica granatum,
Elletaria cardamomum, fruto da Terminalia chebula, Tinospora cor-
difolia (Miers.), alho, açúcar mascavado indiano e açúcar como
veículos recomendado para doenças de rLung em geral. Nos casos
de rLung com complicações quentes, a Myristica fragrans deve ser
utilizada como o ingrediente principal da droga, enquanto que nas
complicações frias a assafétida deve ser utilizada como ingrediente
principal. Esta droga deve ser administrada com sopa medicinal
preparada a base de fêmur, cavidade glenóide e cóccix de carnei-
ro, ou com sopa medicinal com os quatro ingredientes nutritivos,
carne, vinho, açúcar mascavado indiano e mel preparados em
87
vinho e misturados à sopa. Esta droga é particularmente indicada
para rLung dorsal superior e inferior.
5.2.2.8. Manteiga medicinal: Esta droga é utilizada principalmente
como um tônico e restaurador da saúde.
-manteiga medicinal preparada a partir de sal de cheiro, Piper lon-
gum (Linn.), o fruto do mirabólano e manteiga de dri é indicada
para rLung em geral e em particular para rLung dorsal superior.
-manteiga medicinal preparada com Punica granatum em pó, coen-
tro, gengibre, Plumbago zeylanica (Linn.), Piper longum (Linn.),
manteiga de dri, indicada como estimulante digestivo e para rLung
em geral. Também abre o apetite e age como tônico para os mús-
culos.
-manteiga medicinal de alho em pó, açúcar mascavado indiano e
manteiga de dri é geralmente recomendada para rLung em geral.
-manteiga medicinal preparada com Aconitum ferox (Wall.), osso
humano pulverizado aos quais adiciona-se ossos de marmota, de
cavalo, macaco, iaque selvagem ou outros animais do mesmo tipo,
o fruto do mirabólano, Emblica officinalis, Polygonatum cirrhifolium
(Wall.,Royle), Asparagus spinnsissimus (Wang et S.C. Chen),
Angelica sp., Mirabilis himalaica (Edgew, Heim) e Tribulus terres-
tris é indicada para doenças traumáticas de rLung e outras.
5.2.3. Terceiro estágio ou avançado: Para tratar tais tipos de doen-
ças de rLung,estão indicados métodos mais severos e agressivos.
Geralmente, há sete tipos de terapias supressivas e seis
terapias acessórias ou secundárias. Estão indicadas principalmen-
te quando os cinco tipos principais de terapias de alívio não curam
a doença. As sete terapias supressivas são:
-enema suave
-enema radical
-oleação
-medicação nasal
-medicamentos para limpeza dos vasos
-eméticos
-purgativos
88
Os seis tipos de terapias acessórias são:
-fomentação
-hidroterapia
-termoterapia
-venissecção
-massagem
-cirurgia
Entre estes, o enema está indicado para rLung principal-
mente. Pode ser do tipo suave (preparado com manteiga envelhe-
cida levemente aquecida) e do tipo mais agressivo (preparado com
alho, sal-gema e manteiga clarificada). São geralmente indicados
para distúrbios de rLung na região pélvica.
As massagens e fomentações também estão indicadas no
tratamento das doenças de rLung e são particularmente efetivas
nos casos de neuralgia, paresia e outras doenças incapacitantes
de rLung. A massagem requer principalmente a aplicação de man-
teiga de iaque envelhecida sobre as áreas afetadas. A fomentação
envolve primariamente a aplicação de uma pasta aquecida prepa-
rada com ba.cha fervida em vinho, ou uma preparação de ossos
envelhecidos fervidos em vinho.
Há diferentes métodos de hidroterapia indicados no trata-
mento de uma doença. As doenças de rLung são tratadas com a
aplicação de vapor de vinho de osso envelhecido sobre a parte
afetada do corpo. Gordura residual deve ser aplicada posterior-
mente sobre o corpo e é indicada a massagem.
Estes tipos de tratamento são particularmente eficazes para
a maioria das doenças neurológicas, rigidez muscular, fraqueza
muscular e outras. Entretanto, estas terapias não estão indicadas
quando houver complicações de mKris-pa e Bad-kan secundárias.
Nos casos de rLung com complicações de mKris-pa e Bad-kan, no
lugar de massagem e oleação, as primeiras indicações são para
purgativos e eméticos oleosos. O tratamento acessório envolve
moxabustão (termoterapia) sobre os pontos focais de rLung. São
eles:
89
-fontanela
-pontos cervicais dorsais
-primeira vértebra
-sexta vértebra
-sétima vértebra
-décima-sexta vértebra
-ponto diafragmático
A oleação é muito eficaz. As melhores drogas para tratar
rLung são a manteiga clarificada, óleos, extratos de músculo, teci-
do adiposo e medula óssea. Entre estes, a manteiga clarificada é
particularmente eficaz por causa de seu poder de assimilar as pro-
priedades de outras substâncias sem perder suas próprias quali-
dades.
rLung, um nepa distinto dos demais, age basicamente como
um catalisador no organismo. Quando há equilíbrio máximo dos
nepas no corpo, rLung assegura a simbiose dos demais. Entretan-
to, quando o equilíbrio é perturbado e ocorre a patogenicidade,
rLung auxilia e agrava os fatores responsáveis pelo desequilíbrio.
Portanto, é da maior importância considerar cuidadosamente rLung
e suas características e funções quando do tratamento de qualquer
tipo de patologia em particular.
90
YOGA DO RELAXAMENTO
UM MÉTODO TIBETANO PARA PROPORCIONAR UMA SAÚDE
MELHOR
Dr. Lobsang Rapgay
Os médicos modernos estão tão intensamente interessados
em encaixar todas as queixas do paciente em um modelo de doen-
ça que hoje, para a maioria das pessoas, saúde significa nada
mais que a mera ausência de doenças. Poucos consideram a outra
metade – o aspecto positivo da saúde – como bem estar mental e
social. É por esta razão que nos últimos anos temos testemunhado
sistemas de cura alternativos, muitos dos quais não possuem base
histórica ou documentada, acomodando-se calmamente no vazio
deixado pela ciência. Não há qualquer dúvida sobre a superiorida-
de da medicina moderna, quando o modelo derivado do mundo
mecanicista, do ponto de vista de Newton, encaixa os sintomas e
explica a causa das doenças. Infelizmente, tais doenças existem
em menor número, e há toda uma variedade delas, funcionais, psi-
cológicas e psicossomáticas, com ou sem lesões anatômicas, que
não podem ser explicadas pelo modelo de doença. De fato, apenas
25% dos pacientes que visitam uma clínica de cuidados primários
são efetivamente tratados pela medicina moderna – os demais,
75%, são tratados mais pelos seus sintomas e complicações que
produzem, do que pela causa do problema (Benson, Herbert:
Beyond Relaxation Response, 1983).
Uma pessoa pode sentir um mal estar e queixar-se de sin-
tomas psicológicos por uma imensa variedade de razões, nem
todos associados à lesão anatômica. Uma pessoa que perdeu uma
91
pessoa amada ou falhou em seu trabalho queixa-se de cefaléias e
dispepsia, assim como uma personalidade compulsiva queixa-se
de hiperventilação, palpitação e angina. Tratar apenas os sintomas
proporciona cuidado com a doença, mas certamente não gera saú-
de. Por não considerar, em primeiro lugar, o stress e o esforço que
precipitaram a cefaléia ou a angina, a pessoa continuará a sofrer
deste problema muitas vezes.
É surpreendente como temos sido ensinados a considerar
tudo, inclusive nossa saúde, do ponto de vista mecanicista. Temos
nos esquecido, no decorrer deste processo, do aspecto positivo da
saúde, nosso bem estar mental e social, juntos. Apesar de sermos
eu ou você quem sofremos e experienciamos a dor, o desconforto,
a lesão ou a tensão, entregamos inteiramente ao médico – uma
outra pessoa – a solução de todo nosso problema. Não tomamos
para nós a responsabilidade sobre nossa saúde e não colaboramos
no que poderia ser uma maravilhosa oportunidade para o cresci-
mento e desenvolvimento pessoal – nós convenientemente pas-
samos a responsabilidade para outro.
Pelo contrário, nossos ancestrais estavam seriamente inte-
ressados em sua saúde e com o que poderiam fazer pessoalmente
sobre isto. Estavam conscientes da inter-relação entre a maneira
como pensavam e o corpo. De fato, toda sua filosofia baseava-se
em tal compreensão e todas as fases de suas vidas eram como
que influenciadas por este ponto de vista. De uma certa maneira,
nossos problemas atuais originam-se não tanto de nossa incapaci-
dade em compreender tal ponto de vista, mas melhor dizendo, é
uma falha na percepção de qual é o obstáculo.
Os médicos na Índia antiga e no Tibete observaram os efei-
tos das estações do ano, do ambiente, da dieta, das atividades
diárias e das alterações sazonais para estudar como a otimização
da saúde poderia ser conseguida. Pessoas que seguiam um estilo
de vida espiritual, tais como os iogues, eram particularmente cons-
cientes da boa saúde física e mental, pois isto significava realiza-
ções espirituais mais rápidas e efetivas. Suas práticas eram,
92
freqüentemente, em isolamento, possuindo pouco tempo para irem
às cidades consultar médicos, sem interrupção de suas práticas.
Para que se mantivessem constantemente saudáveis, utilizavam
uma técnica que os conservasse fisicamente preparados e, ao
mesmo tempo, que pudesse ser integrada a suas práticas diárias.
Tal técnica conveniente é conhecida como Yantra Yoga.
Yantra Yoga significa união da mente (através da medita-
ção) e corpo (através de asanas, ou seja, posturas eretas), com
pranayama (exercícios respiratórios) e meditação. O procedimento
é uma terapia auto-induzida consistindo de uma série de atividades
fisiológicas e meditativas auxiliares na promoção da súde física e
mental com ou sem aplicação espiritual.
Há vários sistemas de yoga e a maioria deles incluem asa-
nas (posturas eretas), pranayama (exercícios respiratórios) e medi-
tação. Apesar de todas as formas de yoga, incluindo os asanas
simples, serem essencialmente tântricas e, portanto, conhecidas e
praticadas apenas por iniciados, após preencher requisitos especí-
ficos, muitas das yogas orientadas para a saúde, tal como a Yantra
Yoga podem ser praticadas por qualquer pessoa para a qual seja
conveniente.
A Yoga Tântrica, em geral, é classificada em quatro tipos,
dividida de acordo com as capacidades e aptidões dos praticantes.
Ação, desempenho, Tantra Yoga e Yoga Superior constituem uma
série altamente sofisticada de exercícios psicológicos e meditação
que possibilitam ao praticante libertar-se da prisão de seu ego,
possivelmente dentro de uma vida. A prática principal implica na
pessoa assumir a personalidade da divindade com a qual tenha
uma afinidade especial. Daí em diante, todos os pensamentos,
ações e conceitos que ele experimentar seriam como os da divin-
dade. Utilizando tal prática, a pessoa gradualmente substitui seus
pensamentos e experiências comuns, e diminui sua dependência
dos mesmos. Ela é treinada a gerar intenso orgulho por ser capaz
de tornar-se uma divindade e por meio disso, o ego – o conceito de
quem pensamos que somos – consegue poucas oportunidades
93
para expressar-se através de pensamentos e experiências
comuns. Um estado alterado de consciência – que é o da divindade
– torna-se agora o ponto de contato para todas as experiências
posteriores.
Durante muitos anos, a técnica do Yantra Yoga, destinada à
saúde e ao preparo físico permaneceu confinado entre os pratican-
tes tântricos e pouco se tornou conhecido fora daquele círculo.
Apesar dos textos médicos e tântricos explicarem as técnicas em
detalhes e com ilustrações, poucas pessoas no passado ousaram
estudá-los fora do círculo, com medo de que pudessem ultrapassar
áreas não permitidas. Entretanto, os professores tibetanos estão se
tornando mais abertos para a idéia de introduzir estes ensinamen-
tos sob a alegação de que o preparo físico é absolutamente essen-
cial para o desenvolvimento das práticas espirituais. Como poucas
pessoas hoje podem se dedicar a tais práticas por longos períodos
de tempo, os professores tibetanos que lidam com a Yantra Yoga
perceberam que os ensinamentos poderiam ser introduzidos para
qualquer pessoa, mesmo aquela que não possuísse qualquer práti-
ca espiritual.
A filosofia da Yantra Yoga está fundamentada na medicina
budista e nos ensinamentos tântricos. Todos os fenômenos vivos e
não-vivos são constituídos de cinco elementos, traduzidos grossei-
ramente como “terra”, “água”, “fogo”, “ar” e “espaço”. Nos seres
vivos, estes cinco elementos funcionam como três processos fisio-
lógicos, comumente referidos como três “humores”. A atividade
humoral rLung está associada com os sistemas nervosos central e
periférico, o “humor” metabólico mKris-pa, com os sistemas diges-
tivo e endócrino, enquanto o “humor” estrutural Bad-kan está asso-
ciado com a estrutura fluida e tecidual do corpo. Os caminhos
através dos quais estes três processos fisiológicos agem são
conhecidos como branco (rLung), negro (mKris-pa) e fluido (Bad-
kan). As pessoas, com freqüência, confundem os caminhos dos
três processos fisiológicos com os três caminhos tântricos, comu-
mente conhecidos como central, direito e esquerdo. Estes últimos
94
são caminhos imaginários: o sistema de meridianos chinês. Os
chakras (rodas de energia), localizados em cinco partes vitais do
corpo, são compostos destes caminhos. Eruditos tântricos e fisio-
logistas possuem diferentes explicações sobre estes dois. Alguns
afirmam que eles são um único ou o mesmo aspecto, enquanto
outros – uma versão mais difundida – asseguram que os dois são
inteiramente diferentes e afirmam ainda que os três sistemas fisio-
lógicos originam-se dos três caminhos tântricos.
A clínica médica tibetana baseia-se no modelo de processo
fisiológico. Quando o médico tibetano reconhece o papel dos fato-
res psicológicos no processo da doença ele é essencialmente um
materialista e principalmente interessado no estudo da doença em
termos dos três processos fisiológicos – um modelo muito diferente
do moderno. Através de uma série de procedimentos técnicos, ele
chega a um diagnóstico. De acordo com esta definição, aplica uma
grande quantidade de tratamentos que incluem dieta, comporta-
mento, drogas, acupuntura, massagem, moxabustão e hidroterapia.
Ele está consciente do papel da compaixão na situação clínica e
esta é expressada na forma de comportamentos delicados por par-
te do médico, mas isso deve estar presente em todas as fases. O
médico tibetano é treinado em psicologia budista e técnicas iogues
que são áreas de disciplinas próprias.
Na yoga e psicologia tibetana, rLung (atividade humoral)
está relacionado com a base de toda atividade consciente também.
O sistema nervoso serve como a montaria ou o caminho através
do qual rLung responde aos estímulos. A relação entre a mente e o
corpo – há três tipos de corpos – é descrita como aquela existente
entre um cavaleiro (mente) e um cavalo (rLung). De certo modo,
podemos dizer que o médico tibetano trata os problemas fisiológi-
cos, enquanto as terapias que utilizam Yantra Yoga tratam rLung
em um nível psicológico.
A Yantra Yoga também deve ser utilizada como um método
para promover a saúde e o bem estar geral. Através de uma série
de exercícios posturais e meditações, uma pessoa torna-se mais
95
sensível às funções de seu corpo: mais consciente de suas áreas
de tensão, assim como das áreas de vigor, flexibilidade e movi-
mento. Uma vez que o corpo é estirado e utilizado, os músculos
contraem-se e relaxam-se alternadamente, as articulações são
geralmente estimuladas e começam a mover-se livremente. Os
músculos param de restringir a livre movimentação das articula-
ções; a circulação nestas áreas, como os discos entre as vérte-
bras, é melhorada e o corpo geralmente torna-se mais vigoroso. No
processo, a pessoa torna-se conciente de suas funções mentais,
de como se relaciona com os objetos de seus sentidos e como
forma impressões. Tal aumento de consciência auxilia o praticante
a realizar mudanças saudáveis em termos de dieta, atividade e
experiências mentais que terão um efeito significativo em suas
vidas.
Recentemente, cientistas ocidentais têm documentado as
alterações fisiológicas causadas pela prática da yoga e da medita-
ção. Estes pesquisadores descobriram que aqueles que utilizam
tais práticas efetivamente podem reduzir a cefaléia, a angina pecto-
ris, a pressão sangüínea, podem dominar a insônia, evitar os ata-
ques de hiperventilação, auxiliar no alívio dos sintomas de
ansiedade, incluindo náuseas, vômitos, diarréia, constipação, redu-
zir totalmente o stress e adquirir grande equilíbrio emocional.
Apesar de demonstrada a possibilidade de serem alteradas
as funções corporais involuntárias, descoberta apenas recente-
mente no Ocidente, os médicos e iogues tibetanos acreditam, des-
de tempos antigos, que um indivíduo possa conseguir controle
mental sobre tais funções. Através de uma ampla variedade de
atividades psico-fisiológicas, eles foram capazes de alterar funções
tais como as do sistema nervoso e dos ritmos respiratório, cardíaco
e metabólico. Em 1982, um grupo de cientistas, supervisionados
pelo Dr. Herbert Benson, M.D., Chefe do Departamento de Hiper-
tensão, Beth Israel Hospital, Harvard Medical School, E.U.A., con-
duziu experiências sobre monges budistas tibetanos e a prática de
um tipo especial de yoga conhecida como "Fierce woman", através
96
da qual a temperatura poderia ser elevada conforme a vontade do
praticante. Todos os monges exibiam uma capacidade de aquecer
sua pele que excedia em muito os experimentos registrados no
Ocidente quando se utilizava hipnose e técnicas de biofeedback. A
temperatura nos dedos das mãos destes monges elevava-se mais
de 5°C e nos dedos dos pés, ainda mais extraordinariamente, ele-
vava-se aproximadamente 7 a 9,5 °C. O fato de tais monges
demonstrarem cientificamente, através da dilatação mentalmente
induzida dos vasos sangüíneos, o que parecia ser um efeito sobre-
natural é muito significativo na compreensão da habilidade do cor-
po de alterar as funções involuntárias.
Tais declarações sobre o controle das funções fisiológicas
através do uso da yoga e de outras técnicas budistas têm sido
reforçadas por outros pesquisadores. Estas descobertas indicaram
que, através do controle de certas atividades mentais voluntárias,
mecanismos involuntários ou relacionados com o sistema nervoso
autônomo podem ser alterados. Os Drs. A. Kasamtsue e T. Kirai,
da Universidade de Tókio, descobriram que monges Zen budistas,
que meditavam com seus olhos semi-abertos, desenvolviam uma
predominância de ondas alfa, geralmente associadas com bem
estar. Posteriormente, durante a meditação, as ondas aumentavam
a amplitude e a regularidade. O Dr. B.K. Anand, Nova Delhi, e
outros pesquisadores na Índia, registraram a mesma intensificação
da atividade alfa durante a meditação dos iogues.
Os médicos tibetanos utilizam um sistema de referência e
diagnóstico para avaliar a atividade fisiológica durante o estado de
saúde e durante uma alteração patológica. Cada um dos três pro-
cessos fisiológicos no corpo estão associados com os tecidos e as
funções corporais principais. Todas as atividades fisiológicas
voluntárias e involuntárias principais, tais como ritmo respiratório,
índice metabólico e funções nervosas simpáticas estão associadas
com rLung, enquanto funções orgânicas são avaliadas pelo estudo
das atividades de mKris-pa e Bad-kan.
97
Entre os cinco tipos principais de rLung, o “rLung Sustenta-
dor da Vida”, que existe dentro da região posterior do cérebro
(hipotálamo?) e na medula espinhal, é responsável principalmente
por todas as funções corporais internas e atividades conscientes.
De fato, este rLung, ao qual nos referiremos como RSV (“rLung
Sustentador da Vida”), serve como a montaria sobre a qual a cons-
ciência caminha e, por sua vez, é sustentado pelos sistemas ner-
vosos central e periférico.
As patologias por RSV são geralmente classificadas em três
tipos: hiperatividade, hipoatividade e distúrbio da atividade do
mesmo. Apesar de serem categorizados em subtipos, na clínica, o
médico lida principalmente com os três grupos patológicos gerais.
A hiperatividade do RSV causa uma elevação das funções corpo-
rais resultando em pulso, índice metabólico e ritmos respiratório e
cardíaco também elevados. Por outro lado, a hipoatividade do RSV
causa reações inversas no organismo reduzindo, em todos os
níveis, as funções corporais internas. O distúrbio da atividade do
RSV envolve patologias psicológicas orgânicas ou funcionais mais
graves que não serão abordadas neste artigo.
Um imensa variedade de causas podem resultar em hipera-
tividade do RSV. Dietas hipoproteicas, ingestão excessiva de chás,
exposição do corpo aos efeitos refrescantes das brisas ou do tem-
po úmido causam aumento da atividade do RSV. Uma falha em um
empreendimento comercial, uma briga familiar ou mesmo uma
competição esportiva colocam em ação um ciclo vicioso de ansie-
dade cujos efeitos repercutem no organismo. Normalmente, nosso
corpo apresenta uma capacidade inata e notável de cuidar de si
mesmo frente a tais alterações. Dormir, modificar a dieta e relaxar
são formas de contra-atacar, através das atividades fisiológicas
opostas de Bad-kan, e corrigir estas disfunções, restabelecendo
um grau de normalidade.
Entretanto, quando estes fatores perturbadores surgem
novamente, pode começar a operar um ciclo neste organismo que
98
os mecanismos inatos não são capazes de avaliar. Neste caso,
deve-se procurar uma ajuda externa para corrigir a falha.
Como espero apresentar aspectos importantes da Yantra
Yoga em línguas ocidentais nos próximos meses e anos, escolhi
uma prática em especial para ser discutida, ou seja, uma técnica
preparatória utilizada pelos iogues e meditadores antigos.
A técnica consiste de asana, pranayama e concentração
sobre a respiração. Estes três, por si mesmos, podem ser familia-
res para muitos porque são comumente aplicados. Entretanto, a
singularidade da Yoga do Relaxamento é que tais técnicas, que
são normalmente praticadas separadamente, foram integradas em
uma única prática para maximizar o bem-estar físico e mental.
Uma das principais razões pelas quais devemos praticar a
Yoga do Relaxamento é o fato da mesma ter sido utilizada pelos
iogues, exatamente da mesma maneira como explicada aqui, há
milhares de anos. Na literatura budista internacional, os nove exer-
cícios respiratórios alternantes que formam uma das três partes da
Yoga do Relaxamento é recomendada como uma prática prepara-
tória antes de dedicar-se a qualquer yoga ou meditação. Os iogues
e meditadores budistas parecem estar conscientes de que a respi-
ração correta pelo abdome, como recomendada pelo pranayama,
acentua o fluxo de sangue para a pele e regiões periféricas do cor-
po, tais como cérebro e membros. A livre circulação do sangue
permite que todas as partes do corpo recebam seu suprimento de
oxigênio, permitindo-lhes funcionar em seu estado saudável. Tal
estado de equilíbrio permite que atividades como a meditação tor-
ne-se efetiva e significativa.
A técnica da Yoga do Relaxamento é fácil de realizar e deve
ser utilizada tanto para propósitos espirituais como físicos. Enquan-
to os iogues utilizavam-na como prática preliminar para suas prin-
cipais atividades espirituais, a Yoga do Relaxamento deve ser
utilizada como prática real para o desenvolvimento da saúde e da
mente. Por outro lado, deve ser efetivamente utilizada como um
nível preparatório para outras práticas, tais como a Meditação
99
Transcendental ensinada pelo iogue Maharishi, ou a Resposta ao
Relaxamento, pelo Dr. Herbert Benson.
Os benefícios do uso da Yoga são vastos, uma vez que
integram práticas como o enfoque sobre a respiração, exercícios
respiratórios e um asana, todos por si mesmos comprovados cien-
tificamente como benéficos na redução do stress, tensão e doen-
ças relacionadas.
Algumas pessoas podem ser mais adeptas ao asana,
enquanto outras consideram a meditação mais apropriada. Como a
prática dos três é similar, um iniciante, particularmente, pode que-
rer determinar com quais dos três apresenta melhor sintonia. A
Yoga do Relaxamento, através desta integração fornece meios
para constatar isso.
Enquanto práticas meditacionais bem conhecidas como a
Meditação Transcendental, pelo iogue Maharishi, e a Resposta ao
Relaxamento, pelo Dr. Herbert Benson, produzem alterações no
corpo e trazem à tona o poder básico e inato do mesmo de comba-
ter o sistema de luta e fuga produzida pelo stress e pela tensão, o
emergir destes poderes depende da capacidade da pessoa em
utilizar as técnicas efetivamente. A história do uso da meditação
indica que em uma certa categoria de pessoas, por exemplo, aque-
las que apresentam dificuldades com suas emoções, a meditação
pode produzir efeitos colaterais que se apresentam ao clínico como
distúrbios psicológicos. Por outro lado, qualquer fluxo anormal da
atividade do RSV repercute para criar variações na experiência. É
por este motivo que muitos meditantes que praticam apenas pra-
nayama, ou um asana relatam que durante duas sessões distintas
os resultados variam notavelmente. Médicos e iogues tibetanos
salientaram o potencial patológico de tais práticas, se estas não
forem conduzidas com a realização de introduções apropriadas. A
prática preparatória mais comumente recomendada é a Yoga do
Relaxamento.
A Yoga do Relaxamento serve como uma dupla checagem.
Enquanto integra as técnicas meditacionais básicas, tais como a
100
Meditação Transcendental e a Resposta ao Relaxamento, assegu-
rando, portanto, os benefícios que estas produzem, inclui também
um asana para ser realizado durante a prática dos 9 exercícios
respiratórios. A função principal do asana é regularizar o fluxo do
RSV no hipotálamo e na medula espinhal. O fluxo normal do RSV
produz o mesmo tipo de resposta que a meditação gera no corpo.
Como este rLung Sustentador da Vida controla as atividades fisio-
lógicas internas do corpo, sua atividade normal assegura o funcio-
namento adequado de atividades como ritmo respiratório,
batimentos cardíacos, etc. Se o enfoque sobre a respiração (medi-
tação) na Yoga do Relaxamento não produz resultados benéficos,
há chances de que a prática correta do asana o faça.
Finalmente, as possibilidades de utilizar a Yoga do Relaxa-
mento para propósitos terapêuticos são imensas. Enquanto os
médicos e iogues tibetanos indicam práticas de Yantra Yoga mais
avançadas para propósitos terapêuticos, no tratamento de neuro-
ses e psicoses, a Yoga do Relaxamento pode ser utilizada para o
tratamento de muitas doenças funcionais ou resultantes do stress.
A ênfase sobre a concentração na respiração, por exemplo, apre-
senta grande valor terapêutico. Através desta prática, o paciente
encontra-se face ao funcionamento de seus próprios processos
mentais. Enquanto assiste sua respiração, torna-se consciente das
interrupções sobre sua concentração, sob a forma de pensamentos
sobre acontecimentos passados (memórias), de fantasias, planos e
preocupações sobre futuros acontecimentos. Interrupções momen-
tâneas que surgem do presente, como barulhos, mudanças de
temperatura, dor e desconforto, podem ser usadas pelo paciente,
sob orientação de um terapêuta competente, para adquirir novos
discernimentos sobre si mesmo. Através do processamento das
técnicas, ele pode ser capaz de relacionar seus pensamentos às
causas de sua crise mental atual, por exemplo, pensamentos repe-
tidos sobre fatos do passado, tais como um abuso na infância,
pode ajudá-lo a associar aquele evento com sua reação atual de
raiva e culpa. Entretanto, o propósito desta apresentação não é
101
discutir os usos da Yoga do Relaxamento nas terapias, pois reque-
reria explicações extensivas da psicologia e psiquiatria budista.
Mencionando apenas um aspecto da maneira como a Yoga do
Relaxamento pode ser utilizada, espero demonstrar as inúmeras
possibilidades de empregar as terapias psicológicas budistas no
tratamento de pacientes neuróticos e psicóticos. A Yoga do Rela-
xamento consiste de uma combinação de nove exercícios respira-
tórios alternados, asana e meditação, envolvendo o enfoque da
mente na respiração.
A Técnica para a Yoga do Relaxamento
1. Postura
Sente-se na postura de lótus ou padmasana. Cruze as per-
nas sobre as coxas opostas. Junte suas mãos na altura do umbigo
com a palma da mão esquerda sobre a direita. Conserve o corpo
ereto, o pescoço endireitado e o peito para frente. Não fique com a
postura relaxada, inclinada. Mantenha os olhos fechados. Se esta
posição for muito difícil, sente-se na posição de pernas semicruza-
das, que é confortável e permitirá que você permaneça desta
maneira pelo menos por vinte minutos.
2. Os Nove Exercícios Respiratórios Alternantes
Sentado na postura de lótus. Inspire profundamente a partir
da boca do estômago através de ambas as narinas, como se ele-
vasse os cotovelos e os ombros, até uma contagem rítmica de 5.
Sem interrupção, feche a narina direita com o dedo médio
direito e expire pela narine esquerda, longa e suavemente, até a
contagem rítmica de 5.
Repita a inalação como explicado acima.
Sem interrupção, feche sua narina esquerda agora com o
dedo médio esquerdo e exale de sua narina direita, em uma longa,
profunda e suave expiração, até a contagem rítmica de 5.
Repita o exercício completo acima descrito três vezes.
3. Asana
102
Sem interrupção, inale profundamente através de ambas as
narinas até a contagem rítmica de 5, da mesma maneira como
explicado, e expire por ambas as narinas até a contagem rítmica
de 5.
Com a expiração, curve suas costas conservando-a tão ere-
ta quanto possível, até que a testa toque o chão, em uma conta-
gem rítmica de 5.
Ao inalar, traga suas costas para a posição ereta em uma
contagem rítmica de 5.
3. A Yoga Final
Sem interrupção, inale profundamente, através de ambas as
narinas, até a contagem rítmica de 5.
Repita o exercício completo três vezes.
4. Meditação
Enquanto inspira e expira, concentre-se em sua respiração.
Este respirar até a contagem de 5 foi introduzido para sincronizar
ritmo e regularidade e não é parte da prática original. Aqueles que
quiserem manter a prática original, podem fazê-la sem as conta-
gens; outros podem achar extremamente útil e integrá-las livre-
mente em sua prática de Yoga do Relaxamento.
Quando ocorrerem pensamentos que o distraiam, retorne
para a respiração. Pensamentos, imaginações, sentimentos podem
vaguear dentro de sua consciência. Não se concentre em nenhum
deles, mas permita que eles passem, focalizando a respiração
novamente. Não estabeleça metas para si mesmo e reaja às difi-
culdades experimentadas durante a prática.
Todas as três partes da Yoga do Relaxamento são compo-
nentes importantes para alcançar o máximo em benefícios. Entre-
tanto, por muitas razões os praticantes podem desejar fazer
modificações em sua prática. Você é bem-vindo a fazê-las contan-
to que as partes essenciais estejam incluídas, de uma forma ou de
outra, à sua prática.
O pranayama é o medidor, controlador e direcionador da
respiração e, portanto, da energia dentro deste organismo, de
103
maneira a restaurar e manter as funções internas normais. A respi-
ração adequada assegura um suprimento regular de oxigênio para
que as células de nosso corpo possam queimar carboidratos, pro-
teínas e gorduras, as quais produzem a energia que nos mantém.
Neste processo, conseguimos também eliminar nossas excreções,
como o dióxido de carbono.
A maneira mais eficaz de respirar é a partir do abdome,
melhor do que a respiração na região superior do tórax, como faz a
maioria das pessoas. Com a gravidade, a distribuição do sangue
dentro dos pulmões favorece as regiões inferiores do corpo. Com a
respiração abdominal ou diafragmática, maior quantidade de ar é
transportado para estas áreas, misturando eficientemente sangue e
oxigênio. Além disso, tal respiração assegura um menor consumo
de energia.
Esteja atento para a exalação. Através da concentração no
ato de exalar, as pessoas, às vezes, não esvaziam seus pulmões
suficientemente, para conseguir uma respiração completa de ar
fresco quando inalam novamente.
Praticando a Yoga do Relaxamento sistematicamente,
pode-se assegurar o adequado funcionamento de uma atividade
fisiológica vital. Se não se destinar a nada mais, pode-se praticar a
Yoga do Relaxamento até que a respiração realizada de uma
maneira saudável torne-se fácil para você. Além disso, você pode
desejar integrar imagens durante a prática. É benéfico e muito
recomendado, se você sentir que pode enriquecer sua prática.
Imagine que está direcionando sua respiração para a região esgo-
tada ou lesada do corpo. Ao pensar que está respirando para aque-
le ponto e energizando-a com a respiração, os capilares se abrirão
e um fluxo maior de sangue circulará nestas áreas. Para muitas
pessoas a Yoga do Relaxamento produzirá resultados quase que
imediatamente; para outros, haverá necessidade de um esforço
maior.
O asana, ou postura ereta, deve ser confortável, relaxante e
agradável. Para um iogue para o qual foi ensinado seu significado,
104
cada asana representa um estado específico da mente, de modo
que seu pensamento está refletido em suas funções corporais. Por-
tanto, são importantes tanto a preparação para a meditação como
a meditação em si. Sem envolver um esforço diretamente na con-
centração mental, um asana acalma e equilibra as funções da
mente e do corpo, admitindo aspectos intuitivos do funcionamento
do cérebro, como indicado nos experimentos com biofeed-back
durantes estados meditativos.
Através da prática dos asanas, após um certo período de
tempo, um músculo atrofiado ou debilitado torna-se fortalecido,
pois a circulação para esta região foi restaurada. Quando um mús-
culo está tenso, os capilares contraem-se, reduzindo a circulação
sangüínea enquanto as células na área continuam a produzir ener-
gia, nutrir-se, metabolizar e eliminar resíduos nas áreas adjacen-
tes. Com a utilização dos nutrientes disponíveis e com o contínuo
acúmulo de resíduos, a região torna-se mais susceptível à infecção
e à doença. Se as células estiverem executando inteiramente suas
atividades, os músculos devem ser utilizados regularmente e rela-
xados após o uso. De outro modo, as células acabam se tornando
subnutridas. A inclusão do asana na Yoga do Relaxamento pode
ajudar a melhorar a circulação sangüínea e a nutrição, reduzindo a
susceptibilidade às doenças.
Os princípios e práticas apresentadas aqui podem ser com-
binadas satisfatoriamente para conduzir a uma saúde melhor e ao
bem estar. Entretanto, deve-se usar de precaução quando tais prá-
ticas ou quaisquer técnicas meditativas ou da yoga forem indicadas
para uma finalidade médica. Deve-se buscar o aconselhamento de
um médico competente. Temos testemunhado com freqüência que
pessoas sem qualquer treinamento médico, seja em medicina con-
vencional ou alternativa, tendem a recomendar yoga e meditação
para o tratamento de todos os tipos de doenças, levando muitas
pessoas crédulas a abandonarem seu tratamento convencional
com garantias de cura por estes métodos. Para qualquer tipo de
patologia, quer fisiológica ou orgânica, o tratamento médico nunca
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deve ser abandonado sem o consentimento do mesmo. A yoga e a
meditação possuem imenso potencial para proporcionar uma saú-
de melhor, mas não podem substituir o delicado tratamento que a
medicina moderna e alternativa tem a oferecer.
A Yoga do Relaxamento pode, de fato, ser uma experiência
enriquecedora que trará mudanças vitais. Como o horizonte do
homem continua a se expandir, e como os médicos modernos se
tornam mais conscientes da relação entre corpo e mente, áreas até
o momento tratadas com ceticismo e indiferença têm recebido um
grande impulso e uma nova importância. Este trabalho, é meu
objetivo, vem a ser o início da apresentação da psicologia médica
budista tibetana para a promoção da consciência e melhores cui-
dados com a saúde.
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