MEMÓRIAS LITERÁRIAS: UM TRABALHO SIGNIFICATIVO EM
TURMAS DO 7º ANO
Eliane Marina Tirapelle Brasil
Profª. Dra. Marinês Lonardoni (UEM/Orientadora)
Resumo: Trabalhar com os gêneros textuais no Ensino Fundamental é essencial, pois contribui para o aprendizado da prática da leitura, favorece o trabalho de compreensão e interpretação dos textos lidos e repercute significativamente nos alunos, preparando-os para a produção escrita dos gêneros aprendidos Assim, o objetivo deste artigo é apresentar resultados do trabalho de leitura e produção escrita do gênero Memórias literárias em uma turma do 7º ano do Ensino Fundamental (anos finais), com a finalidade de despertar no aluno o prazer pela leitura e pela escrita, promover reflexões acerca do homem na construção de diferentes culturas e contribuir para a formação de seres humanos mais completos. Desse modo, o ensino-aprendizagem desse gênero buscou trabalhar a produção escrita por meio de oficinas, visando à mudança no modo de falar e escrever do educando, no sentido de uma consciência mais ampla da língua e do domínio da estrutura do gênero em questão. Esse trabalho foi desenvolvido com base nos estudos de Clara, R; Altenfelder, a. H; Almeida, N.(2010), Bakthin (1992) e através de sequências didáticas, propostas por Dolz e Schnewully (2010), que levam o educando a uma produção textual mais clara, concisa, coerente e diferenciada, tendo em vista o ensino da leitura e da escrita, já que essa atividade traz consigo um caráter mais humanizador. Os resultados dessa prática apontaram para a necessidade de mais leituras e aulas planejadas, voltadas para a produção da escrita, visando a formação de um estudante leitor.
Palavras chave: Leitura e escrita, gênero textual, memória literária
Introdução
No decorrer das atividades do PDE, surgiu a oportunidade de trabalhar com o
gênero “Memórias literárias”, pois este propicia um importante espaço para o estudo,
discussão e valorização dos aspectos culturais, do resgate e da maneira de manter vivas
as memórias vividas pelas pessoas, bem como a simplicidade dos indivíduos em valorizar
as “pequenas coisas” que a vida tem para oferecer e o diálogo na busca de uma melhor
identidade no ambiente escolar.
Nesse contexto, este artigo tem por finalidade apresentar, de maneira sucinta, o
resultado das atividades com o gênero “Memórias literárias”, propostas inicialmente no
projeto de Intervenção Pedagógica do Programa de Desenvolvimento Educacional
(PDE), desenvolvidas com alunos do 7º ano, do Colégio de Aplicação Pedagógica – UEM.
O gênero Memórias literárias se define como o relato de fatos ocorridos no
passado (infância, juventude, por exemplo) da vida de uma pessoa. Esses relatos podem
ser reais ou imaginários, já que são histórias contadas a partir das lembranças de alguém.
É muito mais que “contar uma história”, pois nele, o escritor pode relatar fatos referentes
a ganhos e/ou perdas em determinado tempo da vida, fazer refletir, buscar fatos
acontecidos em família através do diálogo, fotos, imagens, objetos muitas vezes não
compreendidos.
Desse modo, o ensino/aprendizagem desse gênero textual se justifica por estar
inserido no dia a dia do ser humano, seja na oralidade, através de uma conversa familiar,
seja por meio de textos escritos, disponíveis em livros, blogs, sites, entre outros. É um
instrumento indispensável da comunicação, servindo de base para a aprendizagem de
outros gêneros e, quanto mais domínio o educando obtiver da heterogeneidade textual
que circula socialmente, terá mais acesso à cidadania. Além disso, apresenta significativa
aplicabilidade no trabalho com a leitura e a escrita em sala de aula, transformando, assim,
a maneira de falar e escrever do aluno, bem como o domínio do gênero estudado.
Nesse sentido, as atividades tiveram como objetivo principal trabalhar a leitura e
a escrita do gênero “memória literária”, através de sequências didáticas, em uma turma
de 7º. ano. Para tanto, buscou-se: a) apresentar aos alunos o gênero “memórias
literárias” e suas principais características por meio da leitura, compreensão e
interpretação de diversos textos desse gênero; b) analisar as marcas linguísticas e os
recursos linguísticos presentes na construção dos textos de memórias através da leitura
e observação de textos que contam as experiências vividas pelos mais velhos; c) levar o
aluno a produzir memórias literárias, através de oficinas, enfatizando o registro de
sentimentos, sensações e lembranças que ocorreram no passado, com o intuito de
transformar o seu modo de falar e de escrever por meio de uma consciência mais ampla
do uso da língua e seus recursos, bem como o domínio do gênero estudado; d) propiciar
ao aluno os recursos e mecanismos linguísticos na reescrita do gênero memórias, a fim
de que a produção final do texto se apresente de forma clara, concisa e coerente.
A execução desses objetivos se concretizou a partir de atividades de leitura,
compreensão e interpretação de textos diversos sobre “Memórias literárias”, passeios
pelos pontos turísticos de Maringá, entrevista com pioneiros da cidade e produção escrita
do gênero textual memórias literárias.
Ao final da implementação pedagógica, verificou-se que o estudo contribuiu, não
só para formar novos leitores e escritores, mas fez com que os estudantes descobrissem
o valor das histórias familiares, promoveu reflexões acerca do homem na construção de
diferentes culturas, assim como, privilegiou a vida simples, o mundo em que vivem, onde
estão inseridos.
A proposta e o trabalho desenvolvido ancorou-se nos construtos teóricos de Clara,
R; Altenfelder, a. H; Almeida, N(2010), Bakthin (1992), no que concerne à Teoria de
Gêneros Textuais, e de Dolz e Schnewully (2010), como suporte acerca da Sequência
Didática,
1 - Referencial Teórico
1.1 – Gêneros textuais e ensino
As teorias estudadas sobre o ensino de língua portuguesa e de gênero textual,
fundamentam que o processo de ensino/aprendizagem deve ocorrer através de um
trabalho significativo em sala de aula, considerando a realidade do aluno, haja vista a
importância do uso da linguagem em situações reais de ensino.
De acordo com Bakthin (1992), todas as formas orais e escritas usadas no
cotidiano são gêneros discursivos e, por isso, repletos de significação, revelada por meio
do conteúdo temático, do estilo e da construção composicional. Assim, percebe-se que a
língua não pode ser separada dos atos de seus falantes nem das esferas sociais e dos
valores ideológicos. Desse modo, a língua é dialógica, interacional e concreta, pois
através da fala, da comunicação cotidiana entre seus usuários, é que ela se realiza, se
concretiza num enunciado.
Segundo Bakthin (1992, p.279), o enunciado reflete as condições específicas e as
finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo temático, por seu estilo
verbal, mas também e, sobretudo, por sua construção composicional.
Assim, um texto torna-se a forma que as pessoas usam para expor suas ideias,
com a intenção de torná-las compreensíveis. Ele varia de acordo com a esfera
trabalhada, ora da comunicação verbal (da vida cotidiana, da vida profissional), ora da
esfera da literatura (conto, crônica, fábula, memórias literárias, entre outros).
O estudo do enunciado e dos gêneros do discurso são fundamentais para se
compreender as palavras e orações, assim como melhorar a comunicação entre locutor
(quem diz) e leitor. E para que se efetue essa compreensão, o “intuito discursivo”, o
querer dizer deve ser amplo, claro, e isso se concretiza na escolha do gênero do discurso
a ser trabalhado. Cabe ao professor conhecer a especificidade do gênero, sem renunciar
à individualidade e à sua subjetividade, pois esse tipo de gênero existe sobretudo nas
esferas muito diversificadas da comunicação verbal oral da vida cotidiana (inclusive em
suas áreas familiares e íntimas) (BAKTHIN, 1992 p.301).
É importante salientar, também, que é a partir do gênero escolhido que o escritor
determina seu tema, a sua estrutura composicional e o estilo. De acordo com Bakthin
(1992, p.308), a estrutura composicional refere-se à necessidade de expressividade do
locutor diante do objeto de enunciado, e o estilo, aos seus aspectos expressivos, isto é,
o que envolve emoção, valores, assim como ocorre em memórias literárias, em que o
locutor terá que utilizar-se da caracterização de lugares, de objetos, de pessoas para dar
novos significados aos lugares, podendo estes virem carregados de valores sociais ou
afetivos. Desse modo, “o gênero do discurso não é uma forma da língua, mas uma forma
do enunciado que, como tal, recebe do gênero uma expressividade determinada, típica,
própria do gênero dado”. (BAKTHIN, 1992 p.312).
No gênero discursivo escolhido pelo locutor, no caso memórias literárias, tem-se,
de um lado, a visão de mundo, de valores, de emoções do entrevistado, do personagem
que conta a história e, de outro, o objeto do seu discurso e os recursos linguísticos que,
a partir daí, definirão seu tema, sua estrutura composicional e seu estilo.
Todavia, é dentro da perspectiva sóciocognitiva interacionista que surge a teoria
dos gêneros de Dolz e Schnewly (2004), uma vez que esses autores destacam o estudo
da língua dentro da teoria interacionista, levando em consideração o contexto sócio-
histórico em que as atividades de linguagem ocorrem. Para esses autores, os gêneros
discursivos caracterizam-se como um instrumento que atua como ponto de partida para
o ensino. Desse modo, trabalhar com gêneros textuais consiste em dar prioridade ao
funcionamento comunicativo da linguagem, sendo o professor um mediador na
construção da fala e da escrita do texto do aluno.
Dessa maneira, para o gênero deixar de ser apenas uma ferramenta de
comunicação e tornar-se um objeto de ensino/aprendizagem, Schneuwly e Dolz, na
tradução de Koch (2015, p.67-68), propõem três maneiras de abordar o ensino da
produção textual:
1. O domínio da produção textual, organizada através de uma sequência
de textos, indo do mais simples (descrição de objetos, eventos) aos mais
complexos (dissertação/argumentação);
2. A escola é vista como autêntico lugar de comunicação e as situações
escolares como ocasiões de produção/recepção de textos.
3. Diversificar à escrita, de levar o educando a ter o domínio do gênero
textual dentro ou fora da escola.
Considerando as três maneiras de abordar a produção textual na escola, entende-
se que o papel do professor é o de desenvolver capacidades que ultrapassem o gênero,
de criar maneiras autênticas de produção, de levar o aluno a situações o mais próximo
possível das verdadeiras, independentemente da sua origem.
No entanto, muitos professores encontram dificuldades para trabalhar com os
gêneros textuais e, pensando nisso, Dolz e Scheneuwly (2010) elaboraram um
procedimento didático que tem por objetivo a compreensão do gênero estudado em sala
com os gêneros que circulam fora da escola, propondo, assim, a sequência didática (SD),
que é um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em
torno de um gênero textual oral ou escrito.
Uma sequência didática tem, precisamente, a finalidade de ajudar o aluno a dominar melhor um gênero de texto, permitindo-lhe, assim, escrever ou falar de maneira mais adequada numa dada situação de comunicação. (DOLZ E SCHNEUWLY, 2010, p.97).
Desse modo, a sequência didática permite que o aluno coloque em prática os
aspectos da linguagem que já tem domínio e os que ainda não os tem, pois possibilita-o
aprender e compreender melhor o conteúdo que foi ensinado pelo professor. O uso dessa
metodologia aproxima o educando do gênero textual estudado, bem como melhora a
leitura e a escrita no âmbito geral.
1.2 Esquema da sequência didática
Na apresentação da situação, deverá ser explicada pelo professor, de forma
detalhada, a tarefa que o aluno realizará. Será uma tentativa de realização do gênero
proposto. É o momento em que o aluno, construirá um conceito, conhecerá um pouco
de suas lembranças, podendo ser uma atividade de linguagem que será executada e
produzido um texto oral ou escrito.
A produção inicial ocorre quando os alunos tentam elaborar seu primeiro texto, oral
ou escrito, em que o professor diagnosticará, no texto, as habilidades, o potencial e as
dificuldades encontradas, para procurar a melhor maneira dos educandos obterem um
bom resultado na produção final. Em seguida, professor trabalha várias atividades de
leitura para sanar as dúvidas, discussão dos textos lidos, troca de textos escritos entre
os alunos de sala, entre outros exercícios que permitiram ao educando dominar o gênero
escolhido.
Depois de abordados os pontos mais relevantes do levantamento de dados sobre
as dificuldades dos alunos em relação a leitura, a escrita e ao gênero, o professor deverá
usar os módulos para ajudar os alunos a superar as dificuldades encontradas no
entendimento do gênero e da primeira produção escrita.
No que concerne aos módulos, o professor deverá fornecer atividades aos
educandos, a fim de trabalhar os problemas que surgiram na primeira produção textual
e, depois disso, o professor apresentará os instrumentos necessários para os alunos
superarem às dificuldades.
Nos módulos, Dolz e Schneuwly (2010, p.89) apresentam três categorias de
atividades que podem ser diferenciadas:
As atividades de observação e de análise de textos – pôr em
evidência o ponto de referência e comparar vários textos de um mesmo
gênero ou de gêneros diferentes. Isso pode ser feito a partir de um trecho
de um texto ou de um texto completo.
As tarefas simplificadas de produção de textos – atividades em que o
aluno pode reorganizar o conteúdo de uma narrativa para um texto
explicativo, inserir uma parte que falta num dado texto; revisar um texto com
base em critérios bem definidos; elaborar argumentos a partir de uma
resposta dada etc.
A elaboração de uma linguagem comum - é usada para falar dos
textos, melhorá-los, comentá-los, criticá-los. Esse é um trabalho feito ao
longo de toda a sequência para tornar o texto claro, conciso ao leitor.
Com o ensino dos módulos, os estudantes constroem conhecimentos, interagem
com os colegas por meio das atividades propostas pelo professor, aprendem a falar sobre
o gênero estudado, a pensarem sobre o seu próprio comportamento, além de permitirem
a revisão de seus textos. Isso faz com que haja a real construção do conhecimento do
aluno, obtendo, então, o ensino/aprendizagem em sala de aula.
Na produção final, depois do aluno ter estudado as diversas sequências didáticas,
chega o momento de escrever a versão final de um texto. Nele, eles devem demonstrar
todas as técnicas, habilidades aprendidas nos módulos.
2 - Da teoria à prática
Após a reflexão e discussão dos aspectos teóricos acerca dos gêneros textuais,
é o momento de relatar a experiência do ensino/aprendizagem a partir do gênero
memórias literárias em sala de aula. Para o desenvolvimento dessa prática pedagógica,
utilizou-se a sequência didática proposta por Dolz e Schneuwly (2010), planejando
atividades etapa por etapa.
Para levar o aluno a produzir memórias literárias foram utilizadas oficinas nas
aulas de Língua Portuguesa, com o intuito de verificar a progressão da compreensão e
da interpretação de uma leitura para outra, o avanço de uma produção para outra. Ou
seja, observar se o aluno conseguiu expandir suas capacidades linguístico discursivas.
Cada oficina tratou de um tema, um assunto, com abrangência de uma ou duas aulas,
dependendo do rendimento da turma. Na tentativa de oferecer uma apresentação mais
concisa e coesa dessas oficinas, elas foram assim distribuídas:
Oficinas 1, 2 e 3: apresentação do gênero memórias literárias aos
alunos
1.Os estudantes ouviram o CD-Rom de Memórias literárias com os textos
“Transplante de menina”, de Tatiana Belinky e “Meus tempos de criança”, de Rostand
Paraíso. Em seguida, fez-se à discussão desses textos com os estudantes, com o intuito
de valorizar as lembranças das pessoas mais velhas, bem como identificar objetos e
imagens que trouxeram lembranças de um tempo já vivido.
2.Nesta oficina trabalhou-se a leitura de novos textos de memórias: “Minha vida
de menina”, de Helena Morley; “Mercador de escravos”, de Alberto da Costa e Silva e
“Memória de livros”, de João Ubaldo Ribeiro. Antes da leitura, a professora solicitou aos
alunos que observassem o nome dos autores e a data em que os textos foram publicados.
Depois, organizou os alunos em grupos para que realizassem a atividade. Ao final da
leitura e debate, a professora explicou aos educandos a diferença entre diário, relato
histórico e memórias literárias, apresentando as principais características de cada um
deles por meio da leitura e compreensão de textos referentes a esses gêneros.
3. A professora iniciou as atividades do dia solicitando que um estudante lesse o
fragmento do livro “Viver para contar”, de Gabriel Garcia Márquez e, em seguida, a turma
leu parte do livro “O segredo da xícara cor de nuvem”, de Sônia Barros. Após as duas
leituras, os alunos desenharam o local descrito nos textos lidos e comentaram o que
entenderam da leitura. Em seguida, solicitou-se que os alunos lessem o texto “A galinha
ou eu”, de Denizia Moresqui. Na sequência, eles assistiram ao vídeo construído pela
autora e personagens da história, que participou de um concurso da Petrobrás. (Texto
disponível em: https://www.youtube.com/channel/UC2OrsfdHSw_1xYjoG9V1UEA )
Ao término dessas atividades, solicitou-se aos alunos que produzissem um texto
de memórias literárias, retratando lembranças da infância de cada um.
Oficinas 4, 5 e 6: reescrita textual, elaboração de roteiro para entrevista,
coleta de dados e produção da primeira versão das memórias
coletadas na entrevista
4.A professora entregou o 1º texto produzido pelos estudantes, já corrigido, e ajudou-
os a reescrevê-lo, anotando na lousa suas falas e enfatizando que não deveriam usar
termos como: “daí”, “aí”, “e depois né”, “né”. Lembrou-os de que é interessante iniciar o
parágrafo com a lembrança que mais marcou o autor. Lembrou-os, também, que o tempo
verbal do gênero memórias é o passado: pretérito perfeito, pretérito imperfeito e também
o pretérito do subjuntivo, para fatos que ensejam uma possibilidade de ocorrência, mas
sobre os quais não há certeza.
E com a finalidade de preparar os estudantes para a escrita das memórias dos futuros
entrevistados, a professora explicou que, no texto em que irão relatar as entrevistas,
deveriam fazer menção a objetos e lugares antigos, comparando-os com os que existem
hoje. Além disso, deveriam se atentar para o emprego adequado da pontuação e, no final
do texto, deveriam incluir informações sobre o entrevistado: nome completo, idade,
profissão, cidade em que mora. Depois de escrito o texto, pensariam coletivamente no
título.
5.Iniciou-se a aula com a leituras da Coletânea de textos: ”Meu pé de goiaba”; “A roda
gigante” e “Zé Milton”, todos de Denizia Moresqui. Depois, a professora entregou esses
textos recortados em várias partes, a fim de que os alunos os organizasse, seguindo a
estrutura: início, meio e fim. Em seguida, solicitou que escrevessem, com suas próprias
palavras, qual o principal fato lembrado nos textos lidos e as diferentes características do
lugar, da época, das pessoas e de como esses fatos foram vivenciados nos textos de
memórias literárias. Depois dessa atividade, a professora pediu que os alunos
descrevessem oralmente sobre um local atraente, interessante do lugar onde vivem e o
relacionassem ao dos textos lidos.
Ainda nesta oficina, a professora solicitou que cada aluno escolhesse alguém mais
velho da família (avô, avó) ou da comunidade e que fosse morador antigo da cidade de
Maringá para realizarem uma entrevista nessa entrevista, os entrevistados deveriam
contar um pouco das memórias vividas. Para essa atividade, juntamente com os alunos,
elaboramos o roteiro para a realização da entrevista que está em anexo.
6.Na aula seguinte, cada estudante trouxe a entrevista realizada com algum familiar
ou alguém da comunidade. De posse desses textos, a professora convidou os alunos a
observarem as expressões, objetos e palavras diferentes usadas na época em que
ocorreram as memórias relatadas, com as devidas explicações, quando necessárias.
Depois, auxiliados pela professora, transformaram essa entrevista em um texto, escrito
em 1ª. pessoa (eu), com os alunos tomando, naquele momento, o lugar do entrevistado.
Em seguida, fez-se a leitura do livro “O segredo da xícara cor de nuvem”, de Sônia
Barros, discutido sobre as memórias literárias presentes no livro. Identificou-se o tempo
verbal em que os fatos foram relatados e explorou-se, com explicações na lousa, as
palavras e expressões do texto que eram diferentes do cotidiano dos alunos e o
significado de cada uma delas.
Oficinas 7, 8 e 9: visita aos pontos turísticos de Maringá, descrição de
lugares e nova produção de memórias
7.Nessa oficina, promoveu-se um passeio de jardineira, com os alunos, levando-os
aos pontos turísticos de Maringá, com o objetivo de fotografarem esses lugares,
observarem as mudanças ocorridas desde a formação da cidade até os dias atuais. Para
a aula seguinte, a professora solicitou que os alunos trouxessem fotos antigas dos
lugares visitados.
8.A professora solicitou aos alunos que escolhessem um dos lugares visitados na aula
anterior (Catedral, Parque do Ingá, Praça do Peladão, Capela Santa Cruz, Portalha do
Colégio Santa Cruz, Gruta Nossa Senhora de Lourdes, Teatro Callil Hadad, Mesquita
mulçumana, Templo budista, Capela Madre Paulina e Parque do Japão), e
descrevessem-no, comparando as imagens vistas no passeio com as fotografias antigas
desses lugares. Em seguida, os alunos leram os textos “A escola”, de Denizia Moresqui
e “Memórias de livros”, de João Ubaldo Ribeiro e, depois, fez-se um debate, relembrando
o que costumava acontecer nas férias escolares dos autores lidos.
A partir dos conhecimentos adquiridos pelos alunos acerca do relato de memórias, a
professora explicou-lhes que as informações, nos textos, podiam aparecer de forma mais
sutil, poética, com o autor utilizando-se de metáfora, metonímia, hipérbole e ironia e, em
seguida, pediu que encontrassem nos textos as figuras de linguagem estudadas e
observassem o uso do tempo verbal no pretérito perfeito e imperfeito.
9.A professora iniciou a aula lendo o livro “A colcha de retalhos”, de Conceil Corrêa
da Silva Nye Ribeiro, fazendo uma comparação com o livro “O segredo da xícara cor de
nuvem”, de Sônia Barros. Logo após, pediu que os estudantes identificassem, oralmente,
em ambos os livros, as características do gênero memórias ali presentes, as expressões
e o tempo verbal usados. Discutiu-se com os alunos se havia algum termo igual ou
semelhante ao que seus entrevistados relataram na entrevista.
Em seguida, a professora pediu que produzissem, em sala, outro texto de memória
literária, mas agora, contando uma história que seus avôs ou avós sempre relataram em
família. Ao concluir o texto, o aluno deveria observar as vozes ali presentes, o uso de
aspas e, para finalizar, deveria retornar ao título dado e ver se a escolha seria a mais
adequada.
Oficinas 10, 11, 12 e 13: visita ao asilo, retorno aos entrevistados para
coleta de novos dados, construção da versão final do texto de memória
e apresentação dos textos em forma de livro
10.Nesta oficina, a professora entregou os textos produzidos pelos alunos na aula
anterior, já corrigidos, e pediu que observassem os erros e reescrevessem a parte que
apresentava inadequações. Além disso, solicitou que os alunos retornassem aos
entrevistados, a fim de estes pudessem fornecer mais dados, informações que serviriam
de base para os textos de memórias literárias a serem reescritos.
11.A visita ao asilo, infelizmente, não aconteceu, porque no local era permitida a
entrada de, no máximo, 20 alunos e a sala de aula excedia a esse número. Além disso,
percebeu-se a imaturidade de alguns dos estudantes para a visitação da instituição.
12.Nesta oficina, a professora levou os alunos ao Laboratório de Informática para
digitarem os textos de Memórias literárias por eles elaborados. Esses textos,
transformaram-se em um livro.
13.Para finalizar as atividades propostas no decorrer das oficinas, a professora
realizou um “Chá” com os alunos (as), pais e entrevistados, para apresentação do
trabalho realizado em sala. Na ocasião, fez-se a audição de algumas Memórias
produzidas a partir das entrevistas e a entrega dos livros contendo todas as memórias
literárias produzidas pelos estudantes aos pais e entrevistados. Algumas dessas
produções encontram-se anexadas no final do artigo (anexos x, y).
3 - Considerações finais
Mediante ao exposto, pode-se afirmar que o trabalho com o gênero Memórias
literárias no CAP-UEM foi uma experiência relevante, desde as leituras acerca da teoria
sobre gêneros (Bakthin, 1992, Geraldi, 1997 e Marcuschi, 2005) sobre as sequências
didáticas (Dol, Noverraz e Schneuwly, 2004), até à produção e a escrita das memórias.
Esse estudo proporcionou, no que se refere ao professor, conhecimentos sobre o ensino
da Língua Portuguesa e possibilitaram maior segurança e confiança para o trabalho a ser
realizado em sala de aula.
A experiência inicial do Projeto de Intervenção Pedagógica com os alunos do 7º
ano, do Ensino Fundamental, foi de desinteresse, dificuldade na escrita e na leitura por
parte de alguns alunos. No entanto, mostraram-se interessados em aprender. Foi
possível verificar que, com as leituras e os vídeos escolhidos para o trabalho, por se
aproximarem da realidade do aluno, o motivava a ler e a querer saber mais, a instigá-lo,
a relacionar as informações contidas no texto ao seu cotidiano e, dessa forma, dar o
retorno esperado pelo professor.
Ao longo das oficinas realizadas, verificou-se que os alunos se tornaram mais
maduros e seus textos, que antes tinham quatro ou cinco linhas foram melhorando,
ganhando forma, conteúdo e, como consequência, maior número de linhas.
Durante o processo das oficinas, ocorreu uma transformação nítida no que se
refere ao interesse dos alunos. Eles começaram a ir à biblioteca mais vezes, traziam
textos de memórias literárias que tinham pesquisado por conta própria, participavam mais
dos debates em sala, na exposição oral, apresentavam mais criticidade e desenvoltura
nas histórias estudadas e lidas em sala.
Ao final das oficinas, constatou-se que os objetivos propostos inicialmente foram
alcançados. Percebeu-se o quão importante é trabalhar com algo diferente, que motive o
aluno, que desperte-lhe a atenção, e, da necessidade que há em propor o estudo, a
escrita, a aprendizagem de diferentes gêneros textuais. O gênero memória literária
despertou isso: algo além da sala de aula, pois transpôs horizontes, fez com que os
adolescentes conhecessem histórias de família pouco ouvidas e valorizassem suas
raízes.
Referências
BAKTHIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Maria E. Galvão e revisão por Marina
Appenzeller. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes,1992.
CLARA, R.; ALTENFELDER,A.H; ALMEIDA, N. Se bem me lembro...: caderno do
professor: orientação para produção de textos. São Paulo: Cenpec,2010.
__________;DOLZ, J. Os gêneros escolares: das práticas de leitura aos objetos de
ensino. Tradução de Roxane Rojo. Genève. Université de Genève, s/d. (Mimeo).
DOLZ,Joaquim & SCHNEUWLY, Bernard Gêneros orais e escritos na escola. 2ª edição.
São Paulo: editora: Mercado de Letras 2010.
GERALDI, João Wanderley. Portos de Passagem. 7.ed. Campinas: Martins Fontes,1997..
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Ângela
Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (Org). Gêneros textuais
& ensino. 2.ed. Rio de Janeiro: Lucerna,2005.
ANEXOS
Anexo 1 - Oficinas 4, 5 e 6:
FICHA DE ENTREVISTA
Aluno(a):_________________________Série:_______Turma:_____
Professora PDE: Eliane Marina Tirapelle Brasil
Orientadora: Marinês Lonardoni
DADOS DA ENTREVISTA
Entrevistador:___________________________________________________
Entrevistado(nome completo):______________________________________
Cidade onde nasceu:_____________________________________________
Local onde nasceu:______________________________________________
Data de nascimento :____/____/____
Tema da entrevista: “Minha história, minhas recordações”.
Objetivo: Promover a interação e o respeito entre alunos e idosos através da
valorização de suas memórias e histórias de vida.
Tempo de duração :______________________________________________
ROTEIRO PARA ENTREVISTA
1- Há quanto tempo o senhor(a) mora nesta cidade?
2-Como era o bairro, o local onde o senhor(a) passou sua infância? Comente.
3-Houve algum fato marcante neste local em que se recorda? Conte.
4-Fale sobre sua trajetória de vida.
5-Quais eram as brincadeiras daquela época? Como o senhor(a) se divertia?
6-O senhor(a) tem alguma foto daquele tempo? Algum objeto guardado que
recorde suas vivências?
7-Sua família era constituída de quantas pessoas? Seus pais e depois o
senhor(a) trabalhava em quê?
8-As roupas daquele tempo eram parecidas com as de hoje? Houve mudanças?
Qual(s)?
9-E a cidade, o bairro onde nasceu e viveu boa parte de sua infância teve
mudanças? Quais?
10-O que o senhor(a) gostaria que permanecesse igual aquele tempo de sua
infância ou mocidade? Faça uma comparação dessas duas épocas.
11-Após feita a entrevista, anexe uma foto da entrevista ou somente do
entrevistado.
http://direitodetodos.com.br/wp-content/uploads/2013/10/avos.jpg
PERGUNTAS PARA AUXILIAR NA PRODUÇÃO DE SEU TEXTO DE
MEMÓRIAS LITERÁRIAS
1-Foi fácil encontrar a pessoa para a entrevista? Quem era?
2-Como foi quando você chegou para entrevista, o que aconteceu?
3-Quais perguntas e respostas realizadas durante a entrevista que mais o
emocionou? Comente.
4- Que sentimentos e expressões o entrevistado demonstrou no momento da
entrevista? Demonstrou alegria, tristeza, saudade, relate.
5-Qual o recurso que você usou para não esquecer o que o entrevistado lhe
contou?
Anexo 2 - Oficinas 7, 8 e 9: Visita aos pontos turísticos de Maringá
Anexo 3 - Oficinas 10, 11, 12 e 13: Digitação dos textos no laboratório de informática
Segue abaixo alguns:
Meu passado
Nasci no sítio e me lembro ainda de ver a derrubada da última mata para plantio
do café. A casa de moradia era de madeira, de chão batido, não tinha energia elétrica,
nem água encanada. A iluminação noturna era feita por lamparina a querosene, a casa
não tinha banheiro, durante à note, às necessidades fisiológicas eram feitas no pinico.
Para tomar banho era aquecida água no fogão à lenha, depois transferida para um balde
tinha saída da água em forma de chuveiro.
Um fato marcante que me lembro foi a construção de um barracão para instalação
de uma olaria (fábrica de tijolo), todo construído com madeira bruta tirada da mata.
Felizmente não precisei nenhuma tragédia, apenas ocorrências naturais.
Enquanto menino brincava no rio, pescava de peneira e brincava de bola com os
amigos. Na época as crianças não tinham bicicleta, videogame, celular e nem televisão.
Nós éramos em nove irmãos, Nelson, Olivia, Maria Dirce, José, Romilda, Sergio,
Pedro Luis Mairon e Selina. Meu pai era agricultor e para completar renda trabalhava
como carpinteiro.
Lá no sítio a criança começava a trabalhar muito cedo, embora não tinha obrigação
diária, mas já ia para a roça, a partir de nove ou dez anos.
Naquele tempo se ouvia rádio e as músicas mais apreciados eram as chamadas
caipiras, hoje conhecida como sertanejo.
As roupas da época eram semelhantes às de hoje, geralmente eram costuradas pela
mãe. Tinha as roupas de usar nos dias de semana e as roupas do domingo, que eram
de melhor qualidade e as compradas em lojas. A mudança mais significativa foi o
surgimento da calça jeans na década de 70, 80 no Brasil.
Na infância e juventude não tinha praticamente nada, menino que conseguia estudar
até o quarto ano primário já era considerado uma pessoa estudada e daí para frente era
só trabalhar. Olhando por esse lado, aquele tempo deixa saudades. Nos dias de hoje, há
mais facilidade e conforto para se viver com certeza, um adolescente de hoje se sentiria
totalmente deslocado se fosse reproduzido o modo de vida antigo: sem energia elétrica,
sem água encanada, sem televisão, sem celular, computador entre outros. Os dias atuais
são melhores.
Nome do entrevistado: José Marega
Ass: Pedro Henrique – 7ºB
LEMBRANÇAS DA MINHA IRMÃ " ANNA "
HOJE, EU LEMBRO MAIS UMA VEZ DA MINHA IRMÃ, ELA É E ERA MUITO
ESPECIAL PARA MINHA FAMÍLIA, ELA TINHA PARALEZIA CEREBRAL, NO ENTANTO VIA
O AMOR QUE ELA TINHA POR MIM PELO SEU SORRISO. EU AJUDAVA MINHA MÃE A
CUIDAR DELA NAS HORAS VAGAS, COM UM SIMPLES ABRAÇO E UM BEIJO EU
DEMOSTRAVA MEU AMOR POR ELA.
POR CAUSA DE UMA DOENÇA QUE PODIA SER TRATADA, INFELIZMENTE ELA
ACABOU FALECENDO ANO PASSADO. GUARDO MUITAS LEMBRANÇAS BOAS DELA E
UMA DOR NO PEITO, HOJE ELA ESTÁ JUNTO A DEUS, LÁ NO CÉU.
PARA MIM, ELA É UM ANJO QUE VEIO MOSTRAR QUE TODOS SOMOS IGUAIS POR
DENTRO. A MINHA IRMÃ ERA A MINHA JÓIA RARA.
NOME: IAN SEBASTIAN FELIPE - 7ºB
As vivências de Julieta
Eu vivi minha infância na cidade de Paraisópolis em Minas Gerais. Naquele
tempo onde eu morava tinha um matadouro e eu e os meus irmãos ficávamos
brincando de passa anel, pique, pular corda e de amarelinha, mas o engraçado era ver
a nossa cara quando víamos o boiadeiro, a gente zarpava para dentro de casa.
Nos anos de minha infância, as crianças trabalhavam, eu trabalhava em uma
fábrica têxtil, meu pai era mecânico e minha mãe do lar, nós vivíamos em 12 pessoas
(dez filhos e os pais).
Naquela época as mulheres usavam muito saias longas e rodadas, sinto muita
falta dessa época e de um brinquedo que havia na praça. Comecei a namorar com 13
anos e casei-me com 21 e hoje sou separada. Eu tenho 79 anos e queria poder voltar
aos meus dez anos de idade.
Enzo – 7º A
Anexo 4 - Produção do livro de Memórias literárias elaborado pelos
estudantes