5/12/2018 Mercado de Suplementos Minerais - DBO Rural - slidepdf.com
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Matéria-prima chegou
a sofrer reajuste de
130% e já não atende
demanda nacional
MaristelaFranco
Os suplementos minerais deramum grande susto nos pecuaristas esteano.Contrariandoseucomportamentorelativamente estável, eles quase do-braram de preço, acumulando reajus-tes entre 50% e 70%, dependendo doproduto edaempresa.A escaladaaltis-ta teve início em outubro de 2007 eacentuou-se em janeiro/fevereiro de2008. Quemcomprava umsacodemi-neral com90g defósforopor R$26-27,agora está desembolsando R$ 43-47. Eomercadonãoapresentasinaisdeaco-modação: fala-se em mais um reajusteestemês,emtornode10%.
O impacto desses aumentos emcascatanobolsodoprodutornão é pe-queno.Comoossuplementosmineraisrepresentam15%doscustosdeprodu-ção da pecuária, criar boi ficou 7,5%mais caro, considerando-se apenases-seinsumo,quenãoéoúnicoasubirnalista de despesas da atividade. No fe-chamento desta edição, produtoresbaianosjáestavampagandoR$95pelosacodesalmineral (efeito frete).
A causa da alta do sal mineral tem
nome: fosfato bicálcico. Nos produtosda chamada “linha branca”, esse ingre-dientechega a representar 60% da mis-tura. Por isso, quandoo preço dobicál-cico disparou, no segundo semestrede2007,puxadopelaescassezmundialdoproduto, foi impossível segurar o sal. Acorrelação entre os dois é nítida, comomostraatabelanapáginaaolado.
SegundoMarcosBaruselli,presiden-tedaAsbram–AssociaçãodasIndústriasde Suplementos Minerais, o bicálcico,alémdecaro,estáraro.Umapesquisafei-
tapelaentidadeentreseussóciosindicou
que81%deles tiveram dificuldades paracomprar essa matéria-prima na passa-gemde2007para2008eoproblemacon-tinuouemjaneiro.Dototaldeentrevista-dos,68%afirmaramque,seacriseperdu-rar,terãodedemitirfuncionários.
SérgioGottardiPaoliello, presiden-te da Cobrac – Cooperativa Agrope-cuáriadoBrasilCentral,com1.380asso-ciados na região de Uberlândia, MG – informa que a fábrica de suplementosda empresa está parada por falta de bi-
cálcico.“Ospecuaristasestãoirritadnosperguntamsenãoé possívelsutuir essa fonte de fósforo por outra,para baratearcustos, seja paranormzar o fornecimento. Não pretendefazer isso, pois sempre trabalhacom matéria-prima de qualidade,muita gente por aí pode se sentir teda a trocar o bicálcico por fosfato acola ou coisa pior”, diz o executacrescentandoqueaindanãoéposssabersehaveráquedanasvendasdemfunçãodaaltadepreços.“Neste
mento, nem conseguimos atenquemnosprocura”, salienta.
CONCORRÊNCIA – A crise do bicálnãoserestringeaoBrasil,temcaráteternacional e está diretamente assoda à forte demanda mundial por fezantes, que, segundo a publicaçãoropéia FeedinfoNews,passoude4milhões de toneladas em 2005 p43,75 milhões em2007, devidoà mpressão por alimentos, principalmcarnes(produzidasàbasedegrãos)
paísesemergentes como Chinae Ín34 DBOMARÇO/2008
Sal mineraldispara por causa do bicálcico
K Paulo Roberto:
mercado regular
em dois meses.
K Baruselli: pelo
fim da taxa de
importação.
K Preço do saco de sal passou de R$ 26 para R$ 44 em curtíssimo tempo
NUTRIÇÃO
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NUTRIÇÃO
“Outro fator que explica esse aqueci-mento na demanda é a febre do etanolnos Estados Unidos, que este ano desti-nará um terço de sua colheita de milho àprodução de biocombustível”, explicao presidente da Asbram.
Levantamento da AssociaçãoNacional para Difusão de Adubos indi-
ca que, somente no Brasil, a demandapor fertilizantes cresceu 17,3% entre2006 e 2007, passando de 20,9 milhõespara 24,6 milhões de toneladas, dasquais apenas 9,8 milhões foram produ-zidas no País, o que caracteriza forte de-pendência externa, com impacto nega-tivo sobre os custos. No ano passado, oPaís importou mais da metade dos ferti-lizantes que consumiu. Os preços tam-bém explodiram. O superfosfato sim-ples, por exemplo, subiu 70%. Segundoestimativas da Assessoria de Gestão
Estratégica do Ministério da Agricultura,em 2016, o consumo nacional de fertili-zantes chegará a 30,6 milhões de tonela-das, sendo 21,3 milhões importadas, aocusto de US$ 8 bilhões/ano.
Por que a forte demanda por adu-bos afeta os suplementos minerais?“Pode não parecer tão óbvio para os pe-cuaristas, mas os dois produtos concor-rem pela mesma matéria-prima: a rochafosfática, cuja produção não tem acom-panhado a expansão agrícola mundial”,diz Baruselli. Hoje, os maiores produto-res de rocha fosfática são os EUA e aChina, com 34 e 28 milhões de tonela-das/ano, respectivamente, mas elesconsomem tudo que produzem e aindaimportam. Quem abastece o mercadointernacional é principalmente oMarrocos, que produz 24 milhões de to-neladas, sendo seguido pela Rússia,com 11 milhões; a Tunísia, com 8 mi-lhões; a Jordânia, com 7 milhões; a Áfri-ca do Sul e Israel, ambos com 3 milhõesde toneladas. Esse grupo de fornecedo-res, contudo, não tem conseguido aten-der a demanda crescente por fosfato.
ÁPICE DA CRISE – “Quando a China vai àscompras, desestabiliza o mercado”, diz
Paulo Roberto de Carvalho e Silva, pre-sidente da Andifós, Associação Nacio-nal das Indústrias de Fosfato na Alimen-tação Animal. O Brasil é um player rela-tivamente pequeno perto dos gigantesasiáticos, mesmo assim é franco
comprador, poisproduz apenas 6milhões de to-neladas de ro-cha fosfática/ano, volume in-suficiente paraatender suas ne-cessidades defertilizantes. Apressão mun-
dial por essa matéria-prima cresceu tanto que as cotações da rocha começa-ram a subir, pulando de US$ 47 a tonela-da, em 2005, para US$ 80 a tonelada em2007 e US$ 190 em janeiro de 2008, se-gundo o Feedinfo. Em fevereiro, já se fa-lava em US$ 220 a tonelada.
Registrou-se também forte aumen-to nos fretes marítimos, mas o ápice dacrise ocorreu em dezembro passado,
devido à escassez de enxofre, uspara atacar a rocha fosfática e prod
ácido fosfórico, base tanto dos adufosfatados quanto do fosfato bicál(veja ilustração). “O preço do enxoque era de US$ 50 a tonelada em 2atingiu níveis estratosféricos no fina2007 até bater a marca histórica de 600 a tonelada em fevereiro de 2Ou seja, essa matéria-prima apretou um aumento de 1.100% em pomais de um ano”, informa o presideda Andifós.
Em dezembro, os marroquichegaram a suspender a produçãoácido fosfórico enquanto negociavo preço do enxofre com a Rú(principal fornecedor do produtoque provocou desabastecimento
vários países da Europa. O ácido, custava US$ 550 a tonelada em zembro de 2007, passou a valer 1.400. Preocupada com o tamanhcrise, a federação européia da indtria de alimentação animal (Fefacsigla em inglês) reiterou seu pedidUE para que volte a permitir o usofarinhas de carne e ossos em dietaaves e suínos.
O ELEFANTE E A FORMIGA – Na dispacirrada pelo fosfato, o setor de fezantes leva a melhor e já está sendo sado de roer a pequena fatia destinanutrição animal. Gigantesco em vme e disposto a assimilar reajustes, ddo à valorização das commodities acolas no mercado internacional, setor parece um elefante brigando cuma formiga pelo mesmo alimeCerca de 90% das 141 milhões de toladas de rocha fosfática produzida
mundo são transformadas em adu
Com alta do
sal, custo
de produção
da pecuária
ficou 7,5%mais caro
Esquema de produção do sal mineral
IMPACTO DO AUMENTO DO BICÁLCICO NO SAL MINERALFosfato Bicálcico Sal com 90 g de fósforo
Data R$/ton Aumento Acumulado R$/sc Aumento Acumulado21/12/2006 780,00 26,40
27/02/2007 810,00 3,85% 3,85% 27,70 4,92% 4,92%
25/05/2007 860,00 6,17% 10,26% 27,75 0,18% 5,11%
16/10/2007 900,00 4,65% 15,38% 28,40 2,34% 7,58%
30/01/2008 1.070,00 18,89% 37,18% 30,00 5,63% 13,64%
15/02/2008 1.380,00 28,97% 76,92% 35,80 19,33% 35,61%
01/03/2008 1.800,00 30,43% 130,77% 43,00 20,11% 62,88%
Fonte : Cobrac
Elaboração:DBO
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6% viram suplementos mine-rais e 4% vão para a indústriade detergentes, bebidas, etc.
No Brasil, a situação émuito semelhante: das 3,6milhões de toneladas de áci-do fosfórico (rocha já trata-da) produzidas pelo País,
apenas 11% são destinadas ànutrição animal, aí incluídosas aves, que, nos últimosanos, têm consumido bas-tante bicálcico em substitui-ção à farinha de carne e os-sos, sujeito a restrições por causa domal da vaca louca. Somente em 2007,a demanda de bicálcico pela avicultu-ra cresceu 20% e a participação dosegmento no mercado dessa matéria-prima já é de 26%.
O avanço do frango preocupa, mas
fabricantes de suplementos minerais
suspeitam mesmo é que as indústrias defosfato tenham direcionado maior volu-me de matéria-prima para a produçãode fertilizantes do que o habitual, dei-xando-se seduzir pela lucratividadedesse segmento. Paulo Roberto Silvagarante que essa suspeita não procede.
“Primeiramente, o ácido fosfórico que
se usa para alimentação mal não é o mesmo dos abos; passa por um processpurificação para eliminado excesso de flúor. Emgundo lugar, sempre tiveuma demanda por bicálrelativamente estável, c
crescimento de apenas 3%ano, mas em 2007 o mercapresentou sinais de aqumento atípico. Comerlizamos 957.500 tonelacontra 853.700 em 2006, 12
mais”, justifica o presidente da Andi
CORRIDA ÀS COMPRAS – Segundo quando se começou a falar no aumedo bicálcico em dezembro, houve ucorrida das misturadoras às comppara se proteger da alta. E essa cor
coincidiu justamente com o períem que as fábricas de bicálcico comam trabalhar em ritmo reduzidoparar para manutenção, por causa
demanda hricamente mbaixa, em corrência festas de fimano e das fochuvas de rão, que fazepecuarista ccar menos sacocho.
“Ocorreram também alguns pblemas pontuais em fábricas e a suspsão, em setembro, das importaçõeMAP (fosfato monoamônio, outra fode fósforo para alimentação animdevido a dificuldades com o fornecedesse produto. As indústrias de bicco tiveram de incorporar o aumentomatérias-primas em seu custo de dução principalmente no mês de jaro, quando os contratos de importaque eram anuais, foram renova
Mas, elas procuraram dividir o reajem três vezes, para amenizar o impsobre o setor”, justifica Silva.
PERSPECTIVAS – Por enquanto, a prsão ainda é de “céu nublado” para oplementos minerais. Analistas intecionais citados pelo Feedinfo não cartam novos aumentos no enxofrejos preços devem continuar altos2009 ou 2010, quando são esperanovas produções significativas dematéria-prima. Segundo Paulo Rob
Silva, a instabilidade do mercado
A crise de desabastecimento do bicál-
cico é a principal preocupação das mistu-radoras. Paulo Roberto Silva, da Andifós,admite que algumas indústrias de suple-mentos minerais podem ter ficado semmatéria-prima, mas acredita que a situa-ção deve se normalizar dentro de dois me-ses. “Já tomamos providências para ajus-
tar a oferta à procura. A alternativa mais rá-
pida e simples é aumentar as importaçõesde ácido fosfórico, mas são necessários120 dias para se 'internar' esse produto,processá-lo e colocá-lo no mercado brasi-leiro. Construir novas fábricas não é solu-ção de curto prazo, pois isso demanda de
três a cinco anos. Além disso, há capacida-de instalada suficiente para atender o mer-cado.As indústrias já conseguiram produ-zir 11,6% mais bicálcico em janeiro desteano do que em janeiro de 2007. Agora quea demanda atípica provocada pela alta nospreços passou, a situação vai se regulari-
zar”, prevê Silva.Marcos Baruselli, presidente da
Asbram, discorda. “O desabastecimentoé grave e não se resolverá a curto prazo,por isso estamos solicitando ao governoque retire o imposto de importação de 10%sobre o bicálcico e de 4% sobre o ácido
fosfórico. Isso permitiria importar matéria-prima a custos competitivos. Já tem indús-tria de bicálcico trabalhando com sistemade cotas, restritas a clientes consideradosfiéis e, assim mesmo, com direito apenasao volume que compraram no ano passa-
do”, argumenta ele.Antenor Nogueira, presidente do
Fórum Nacional Permanente de Pecuáriade Corte, apóia o pleito da Asbram e con-dena a concentração do setor. “Hoje o mer-cado está nas mãos de quatro empresas:Bunge, Copebrás, Mosaic e PCS, pois a
Connan e a Tortuga só produzem ácidofosfórico para uso próprio. Essa concen-
tração é nociva e preocupante. Sou favorá-vel à desoneração das importações. Nãopodemos ficar reféns de poucos fornece-dores”, diz ele.
A Andifós, por sua vez, considera essa medida inócua. “Não há fosfato bicál-
cico sobrando no mercado internacional;se existisse os europeus estariam com-prando. Além disso, a alíquota de 10% fun-ciona como estímulo à produção interna,não é uma taxa absurda. O que defende-mos é a isenção do PIS/Cofins. Isso permi-tiria diminuir os custos de produção em pe-
lo menos 10%”, diz Paulo Roberto Silva.Segundo ele, ao contrário do que acontececom os fertilizantes, o Brasil é quase auto-suficiente em fosfato para nutrição animal:produz 97% do bicálcico e 70% do ácidofosfórico que consome embora importe
100% do enxofre. “Se o setor de suplemen-tos minerais prevê crescimento de 6% em2008, vamos atendê-lo, pois nossa meta écrescer 8%, atingindo 1 milhão de tonela-das. Precisamos, contudo, que o setor si-nalize claramente suas demandas, comotem feito a avicultura”, conclui.
Polêmica do imposto de importaçãoEnxofre é
vilão da crise:
subiu 1.100%
e gerou grave
escassez
na Europa.
Demanda de rocha fosfática no mundo
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fosfato é tanta que os fornecedores ago-ra somente firmam contratos trimes-trais. Acertam volumes, mas mantêm aprerrogativa de rever preços a curto pra-zo. Estão sendo feitos investimentos nomundo para aumentar a produção derocha fosfática, mas há prognósticos deque as reservas mundiais desse produto
(estimadas em 105 milhões de tonela-das, 50% delas localizadas na África) seextinguam antes do petróleo.
O Brasil poderia produzir mais fos-fato, pois possui reservas de 261,6 mi-lhões de toneladas (pequenas se com-paradas aos 21 bilhões de toneladas doMarrocos), entretanto, grande parte darocha brasileira tem baixa concentraçãode fósforo (3% contra 30% da marroqui-na), o que frequentemente torna sua ex-tração antieconômica, frente aos inves-timentos exigidos. Uma alternativa das
empresas brasileiras é “ir direito à mi-na”. A Bunge, por exemplo, montouuma joint-venture com o grupo marro-quino OCP (Office Cherifien desPhosphates) para produzir derivadosde fosfatos no país árabe. Nesse cená-
rio, parece evidente que o descolamen-to entre demanda e oferta continuarágrande.
Como fica o pecuarista em meio a
tudo isso? Segundo Marcos Mantelato,diretor da Asbram, o produtor deveconsiderar sempre a excelente relaçãocusto x benefício dos suplementos mi-nerais antes de tomar qualquer medidarestritiva, pois a mineralização correta é
fundamental para se obter bons índreprodutivos. “Há 10 anos, uma arrcomprava 50 kg de sal mineral paracas de cria; hoje continua compran
pois a arroba está valorizada. Ou sedescontinuidade de fornecimento é solução e sim aumentar a produtivde. É hora de olhar para o copo e verestá meio cheio e não que está meiozio”, alerta Mantelato.
K Fábricas nacionais de bicálcico dependem 100% do enxofre importado
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