SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 4
INTRODUÇÃO 5
1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR 7
1.1 TIPOS DE INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR 7
1.2 TIPOS DE CURSOS SUPERIORES 12
1.3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 15
1.4 OS PAPÉÍS NO CENÁRIO EDUCACIONAL 17
2 O DOCENTE E O ENSINO SUPERIOR 20
2.1 A IMPORTÂNCIA E A NECESSIDADE DA FORMAÇÃO
PEDAGÓGICA DO PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
20
2.2 PERIODIZAÇÃO DAS IDÉIAS PEDAGÓGICAS NO BRASIL
SEGUNDO SAVIANI
21
2.3 TENDÊNCIAS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR 24
2.4 OS DESAFIOS DOS DOCENTES NO SÉCULO XXI 29
3 INDISSOLUBILIDADE DO ENSINO, DA PESQUISA, DA
EXTENSÃO E DA GESTÃO
34
3.1 A IMPORTÂNCIA DA INDISSOLUBILIDADE DO ENSINO, DA
PESQUISA, DA EXTENSÃO E DA GESTÃO
34
3.2 ATIVIDADES DE DOCÊNCIA CONSIDERANDO-SE O ENSINO, A
PESQUISA, A EXTENSÃO E A GESTÃO
37
3.3 A UNIVERSIDADE É UM ESPAÇO PARA REFLEXÃO,
CRESCIMENTO, DIVERSIDADE E TROCA
38
3.4 MULTIDISPLINARIDADE, INTERDISCIPLINARIDADE E
TRANSDICIPLINARIDADE
42
4 PRÁTICA DE ENSINO SUPERIOR 45
4.1 COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DO DOCENTE DE ENSINO
SUPERIOR
45
4.2 O DESENVOLVIMENTO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
DA INSTITUIÇÃO INTEGRADO AO PROJETO PEDAGÓGICO
INSTITUCIONAL E A MISSÃO
47
4.3 PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO 47
4.3.1 Concepção do Curso 47
4.3.2 Justificativa de Oferta 49
4.3.3 Matriz Curricular 50
4.3.4 Integração dos Recursos: Humanos, Pedagógicos, de
Infraestrutura e Sociais
54
4.4 PLANEJAMENTO DAS AULAS, CONSTRUÍDO EM
CONFORMIDADE AO PROJETO PEDAGÓGICO
INSTITUCIONAL, À PROPOSTA DO CURSO E AOS OBJETIVOS
DE FORMAÇÃO DO EGRESSO
55
4.4.1 Componentes do Planejamento de Aulas 55
4.4.2 Metodologias, Técnicas e Ferramentas para Aulas 61
4.4.3 Ferramentas para Cursos a Distância e os Desafios Docentes 66
5 DIMENSÕES DA AVALIAÇÃO 69
5.1 A AVALIAÇÃO 69
5.2 AVALIAÇÃO DE APRENDIZAGEM 69
5.3 O SINAES – SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DA
EDUCAÇÃO SUPERIOR
72
5.4 INDICADORES DO GOVERNO FEDERAL 75
CONSIDERAÇÕES FINAIS 77
REFERÊNCIAS 78
APÊNDICES 81
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 1 Tipos de Instituições de Ensino no Brasil 10
Gráfico 2 Classificação das Instituições no Brasil 12
Gráfico 3 Distribuição Regional das Instituições de Ensino
Superior no Brasil
13
Figura 1 Instituições de Ensino no Brasil – Classificação
quanto à Formação
17
Gráfico 4 Crescimento da EaD no Brasil 19
Gráfico 5 Titulação Docente no Brasil 30
Figura 2 Matriz Curricular do Curso de Tecnologia em Gestão
de Recursos
54
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Tipos de Instituições de Ensino no Brasil 11
Tabela 2 Classificação das Instituições no Brasil 13
Tabela 3 Distribuição Regional das Instituições de Ensino
Superior no Brasil
14
Tabela 4 Crescimento da EaD no Brasil 19
Tabela 5 Periodização Preliminar das ideias Pedagógicas no
Brasil
25
Tabela 6 Titulação Docente no Brasil 29
Tabela 7 Ampliação dos Cursos e das Vagas 30
Tabela 8 Ampliação dos Cursos e das Vagas 46
7
INTRODUÇÃO
Este material foi desenvolvido com o objetivo de apresentar um cenário global
do que representa o Ensino Superior, seus desafios e como devemos visualizar as
tendências da educação. Espera-se que o professor ou futuro professor, após ler este
material, tenha um conjunto de informações sobre a docência superior que possibilite
desempenhar melhor a profissão docente. É bom ter claro que estas informações
podem auxiliá-lo, mas sempre haverá a necessidade de aprofundar as discussões,
atualizar os conhecimentos e construir o futuro. Destaca-se, portanto, que é um
processo em conjunto com a sociedade e com o ambiente em que está inserido.
A Educação não deve estar atrás das tendências, mas construí-las. Um
professor, para ter capacidade de fazer isso, deve atualizar-se, integrar-se com a
sociedade de forma participativa, pesquisar, desenvolver projetos, conhecer e
desenvolver novas técnicas e ferramentas e acima de tudo ter interesse pelo
aprendizado e pelo desenvolvimento humano.
Dentro dessa perspectiva que foi construído este material. Abaixo estão os
objetivos de cada capítulo da apostila.
Objetivo do capítulo 1: Contextualizar e caracterizar o ensino superior no
Brasil;
Objetivo do capítulo 2: Analisar o papel do Docente de Ensino Superior e
descrever algumas tendências;
Objetivo do capítulo 3: Demonstrar a relevância da integração do ensino,
da pesquisa, da extensão e da gestão e de projetos pedagógicos
fundamentados na interdisciplinaridade, considerando-se as multiculturas
e a diversidade;
Objetivo do capítulo 4: Apresentar como desenvolver e planejar as
práticas pedagógicas em conformidade ao Projeto Pedagógico do Curso e
à Missão Institucional;
8
Objetivo do capítulo 5: O capítulo objetiva apresentar as diversas formas
de avaliação, sensibilizando para a importância dos processos e dos
momentos avaliativos. O capítulo aborda avaliação de aprendizagem,
autoavaliação e avaliação externa.
Portanto, convido a todos que são profissionais de diversas áreas a
ingressarem nesta leitura e nesta disciplina, com o espírito de que a profissão docente
é uma carreira que proporciona muito orgulho, muitas oportunidades, mas muitos
desafios e a exigência do aprendizado contínuo.
9
1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR
1.1 TIPOS DE INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR
Conforme a SESU – Secretaria de Educação Superior, no Sistema de Ensino
Superior Brasileiro, as instituições podem ser classificadas segundo a natureza jurídica
de suas mantenedoras, dividindo-as em Públicas e Privadas.
As Instituições Públicas podem ser:
Federais - mantidas e administradas pelo Governo Federal;
Estaduais - mantidas e administradas pelos governos dos estados;
Municipais - mantidas e administradas pelo poder público municipal.
As Instituições privadas, ou seja, mantidas e administradas por pessoas
físicas ou jurídicas de direito privado, podem ser:
Com Fins Lucrativos – Nesse caso, são as instituições particulares, em
sentido restrito;
Sem Fins Lucrativos – Essas instituições são classificadas em:
Comunitárias - que incorporam em seus colegiados representantes da
comunidade. São instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma
ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas de professores e
alunos que incluam, na sua entidade mantenedora, representantes da
comunidade;
Confessionais - que são constituídas por motivação confessional ou
ideológica. Instituídas por grupos de pessoas físicas ou por uma ou
mais pessoas jurídicas que atendam à orientação confessional e
ideológica específicas;
Filantrópicas - são aquelas cuja mantenedora, sem fins lucrativos,
obteve junto ao Conselho Nacional de Assistência Social o Certificado
10
de Assistência Social. São as instituições de educação ou de
assistência social que prestem os serviços para os quais foram
instituídas e os coloquem à disposição da população em geral, em
caráter complementar às atividades do Estado sem qualquer
remuneração.
Conforme os dados de 2007, no gráfico 1, as faculdades privadas
representam quase 90% das Instituições de Ensino Superior, mas as públicas também
têm crescido, permitindo o ingresso de novos docentes.
GRÁFICO 1 – TIPOS DE INSTITUIÇÕES DE ENSINO NO BRASIL
-
500
1.000
1.500
2.000
2.500
Pública Federal Estadual Municipal Privada Particular Comunitária
Instituições
Fontes: MEC/Inep/Deed. 2007.
CET/FaT - Centros de Educação Tecnológica e Faculdades de Tecnologia. 2007.
11
TABELA 1 – TIPOS DE INSTITUIÇÕES DE ENSINO NO BRASIL
Fontes: MEC/Inep/Deed. 2007. CET/FaT - Centros de Educação Tecnológica e Faculdades de
Tecnologia. 2007.
Quanto à sua organização acadêmica e respectivas prerrogativas
acadêmicas, são credenciadas como instituições de ensino superior do Sistema Federal
de Ensino1:
I – Faculdades - As Faculdades Integradas ou Isoladas não possuem
autonomia para a criação de cursos e, nesse caso, dependem de autorização
da SESU - Secretaria de Educação Superior, órgão do Ministério da
Educação;
II – Centros Universitários - São centros universitários as instituições de
ensino superior pluricurriculares, abrangendo uma ou mais áreas do
conhecimento, que se caracterizam pela excelência do ensino oferecido,
comprovadas pela qualificação do seu corpo docente e pelas condições de
trabalho acadêmico oferecidas à comunidade escolar.
III – Universidades - As universidades, na forma do disposto no art. 207 da
Constituição Federal2, caracterizam-se pela indissociabilidade das atividades
1 Decreto Federal nº 5.773 de 9 de maio de 2006. Ministério da Educação. Brasil. 2 Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Texto consolidado até a
Emenda Constitucional nº 52, de 08 de março de 2006. Brasil.
12
de ensino, de pesquisa e de extensão. As exigências em relação ao processo
de credenciamento e recredenciamento são maiores, buscando-se a garantia
da excelência.
Observa-se que as faculdades integradas ou isoladas representam a maioria
das Instituições, conforme o gráfico 2, mas a oferta de vagas das Instituições maiores
tem crescido muito nos últimos anos, além do processo de compra que tem sido
frequente no país. Muitas faculdades integradas também são pertencentes aos
complexos empresarias das universidades, integrando apenas uma proposta de ensino.
GRÁFICO 2 – CLASSIFICAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES NO BRASIL
Instituições
-200400600800
1.0001.2001.4001.6001.800
Universidades CentrosUniversitários
FaculdadesIntegradas
Faculdades,Escolas eInstitutos
CET/FaT
Fontes: MEC/Inep/Deed. 2007.
CET/FaT - Centros de Educação Tecnológica e Faculdades de Tecnologia. 2007.
13
TABELA 2 – CLASSIFICAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES NO BRASIL
Fontes: MEC/Inep/Deed. 2007. CET/FaT - Centros de Educação Tecnológica e
Faculdades de Tecnologia. 2007.
Em relação à região do país, a maior concentração de Instituições está no
Sudeste, com quase 50% das IES, mas observa-se um crescimento em todo o Brasil
nas últimas duas décadas. O gráfico 3 apresenta a distribuição:
GRÁFICO 3 – DISTRIBUIÇÃO REGIONAL DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
Fontes: MEC/Inep/Deed. 2007. CET/FaT - Centros de Educação Tecnológica e Faculdades de
Tecnologia. 2007.
14
TABELA 3 – DISTRIBUIÇÃO REGIONAL DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR NO BRASIL
Fontes: MEC/Inep/Deed. 2007. CET/FaT - Centros de Educação Tecnológica e Faculdades de
Tecnologia. 2007.
1.2 TIPOS DE CURSOS SUPERIORES
A Lei 9394/94 constitui-se na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB), que contém as orientações principais do Ensino Superior, sendo complementada
por outras legislações. A legislação Federal completa pode ser acessada no site do
MEC-Ministério da Educação (www.mec.gov.br).
A base da educação superior oferece cursos de graduação (Bacharelados,
Licenciaturas e Tecnólogos), sequenciais e de extensão. A pós-graduação compreende
cursos “Lato” e “Stricto Sensu”. Os cursos ofertados são:
1. Graduação
a) Bacharelado e Licenciatura: Os Bacharelados e as Licenciaturas são
as Graduações tradicionais, sendo que as Licenciaturas habilitam para
a docência. Essa observação é interessante, principalmente em cursos
como Educação Física ou Matemática, que podem ter as duas opções;
portanto, é muito importante o docente verificar qual é proposta do
curso que está ministrando aula. Cada curso possui a sua diretriz
15
própria, que também pode ser encontrada no site do MEC. Nela
constam as competências e habilidades, as cargas horárias mínimas,
as atividades obrigatórias e outras informações fundamentais para a
elaboração de um Curso Superior.
b) Tecnologia: Os Cursos de Tecnologia têm uma carga horária
obrigatória menor do que os Cursos de Graduação Tradicionais e
representam uma maior diversidade das profissões, buscando formar
graduados em várias áreas. O Ministério da Educação, no site
http://catalogo.mec.gov.br, disponibiliza o Catálogo de Cursos
Superiores de Tecnologia, que foi lançado em 2006. É um guia com as
informações sobre o perfil de competências dos profissionais que são
formados pelos Cursos, além de contar a carga horária mínima e a
infraestrutura recomendada.
2. Sequencial - Os Cursos Sequenciais são também uma modalidade de
ensino superior, mas não são graduações, e buscam atender as
demandas de mercado específicas; portanto, podem ser ofertados em
diversas áreas e a legislação exige uma carga horária menor que a dos
tecnólogos. No Brasil, muitos Cursos Sequenciais foram transformados
em Tecnológicos e há uma tendência deles limitarem-se apenas às áreas
não contempladas pelo Catálogo citado ou desaparecerem.
3. Extensão - Cursos livres, com objetivo de atender às demandas
existentes, sem controle governamental ou regras para criação.
4. Pós-Graduação - A LDB, no art. 66 afirma que: “A preparação para o
exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-graduação,
prioritariamente em programas de mestrado e doutorado.” Conforme
define a Lei o exercício da docência é exclusivo dos Pós-graduados,
sendo que no Brasil há profissionais que possuem apenas graduação,
mas a tendência é esse quadro mudar no futuro, sendo que anualmente
tem-se reduzido o número de docentes nesta situação.
16
a) “Lato Sensu” - Os Cursos de Pós-graduação Lato Sensu têm o
objetivo de possibilitar ao aluno uma formação específica,
especializando-o e atualizando-o, sendo que têm um caráter de
educação continuada. É exigida a carga horária mínima de 360 horas,
podendo ter horas dedicadas à elaboração da monografia ou de um
trabalho de conclusão de curso. Destaca-se que, justamente pelo fato
do lato sensu ter o objetivo de atualização, é comum que muitos
profissionais cursem vários.
b) “Stricto Sensu” - Os Cursos Stricto Sensu constituem-se em
Mestrados e Doutorados e são avaliados pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A avaliação é
realizada a cada três anos, sendo que as médias variam de 1 a 7 e o
curso de mestrado deve obter média mínima 3. O mestrado pode ser
acadêmico ou profissional. O acadêmico objetiva inserir o profissional
na pesquisa e espera que ele continue seus estudos, posteriormente,
com um doutorado. O mestrado profissional busca formar profissionais
para atuar em empresas, públicas ou privadas. Para consulta, é
possível acessar o site http://www.capes.gov.br.
17
O organograma da Educação Superior foi resumido na figura 1:
FIGURA 1 – INSTITUIÇÕES DE ENSINO NO BRASIL – CLASSIFICAÇÃO QUANTO À FORMAÇÃO
Fonte: SESU – Secretaria de Educação Superior, órgão do MEC – Ministério da Educação.3
1.3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
A educação a distância é hoje uma realidade no Brasil e no mundo, de forma
que está provado o seu crescimento e o fato de que é possível ofertar um curso com
qualidade.
INÍCIO DO BOX ATENÇÃO As ferramentas de educação a distância também
estão presentes no ensino presencial, com o objetivo de apoiar e de melhorar a sua
qualidade É o caso de docentes que disponibilizam materiais em ferramentas de EAD.
FIM DO BOX Os portais são importantes para documentação, para facilitar a
3 http://portal.mec.gov.br/sesu, pesquisa realizada em 02/10/2006.
18
distribuição dos materiais, para agilizar o acesso e a comunicação e para integrar
docentes e aluno.
O que se tem observado é uma redução da diferença em relação aos
procedimentos da educação a distância e o ensino presencial, pois a EAD busca
desenvolver ferramentas, métodos e técnicas para aproximar o aluno às instituições
(docentes, funcionários, infraestrutura e conteúdos) e ao mercado. Por sua vez, o
ensino presencial utiliza destes recursos para melhorar a sua qualidade e se
desenvolver. Outro fator é que o ensino presencial tem utilizado momentos à distância
e, novamente, observa-se a confusão entre as duas modalidades.
Observa-se que o Ensino a Distância, apesar de não ser algo novo, apenas
recentemente tem se desenvolvido em diversas áreas e que seus paradigmas não
estão tão enraizados nas Instituições. Logo, os agentes envolvidos têm maior facilidade
de desenvolver e implantar estratégias de ensino novas e/ou diferenciadas, ou seja,
incentiva a “experimentação”. Esse fato tem possibilitado um desenvolvimento grande
de metodologias e de formas novas de interações, contribuindo para mudanças
educacionais, ainda que algumas ações nem sempre obtenham os resultados
esperados.
Outro aspecto importante é a compreensão de todos agentes do processo
ensino-aprendizagem de que a Educação a Distância e as suas ferramentas são
apenas alternativas para possibilitar ao aluno o aprendizado.
19
GRÁFICO 4 – CRESCIMENTO DA EAD NO BRASIL
‐
100.000
200.000
300.000
400.000
500.000
600.000
2.002 2.003 2.004 2.005 2.006 2.007
Crescimento da EAD no Brasil
Alunos
Fonte: MEC/INEP/DEED. 2007.
TABELA 4 – CRESCIMENTO DA EAD NO BRASIL
Ano IES Cursos Alunos
2.002 25 46 29.702
2.003 38 52 21.873
2.004 47 107 50.706
2.005 73 189 233.626
2.006 77 349 430.229
2.007 97 408 537.959
Fonte: MEC/INEP/DEED. 2007.
1.4 OS PAPÉIS NO CENÁRIO EDUCACIONAL
É impossível considerar a educação sem compreender quais são seus
agentes envolvidos. Frases como: “quem faz a escola é o aluno” ou “eu não consigo
20
aprender por culpa do professor” são inverdades, pois a escola é formada por um
conjunto de agentes, que devem atuar e desenvolver a proposta pedagógica conforme
os objetivos do curso e os recursos disponíveis. INÍCIO DO BOX ATENÇÃO Além do
docente e do aluno, estão envolvidos no processo educacional os profissionais
responsáveis pelo desenvolvimento pedagógico, o Coordenador do Curso, outros
Gestores, o Estado e a Sociedade. FIM DO BOX “Pensar um curso” como sendo algo
isolado da sociedade ou como apenas um processo de interação entre docentes e
discentes é considerar que o currículo e o processo de formação do aluno são
segmentados. Essa visão levaria a uma concepção pedagógica tradicional, que não
respeita a bagagem cultural e as experiências vivenciadas pelos alunos, sendo que o
docente tem o papel de ser o transmissor do conhecimento. Por isso que, na
concepção do Projeto Pedagógico do Curso (PPC), conforme descrito no capítulo 4, é
fundamental o planejamento ser realizado de forma global, alinhado a missão
institucional e de forma interdisciplinar.
Logo, o currículo do aluno é formado pelo conjunto de experiências que traz,
adicionadas às que ele obtém no período escolar, em ambiente externo e interno à
faculdade. Portanto, o papel do professor é algo muito mais relevante, complexo, mas
com uma responsabilidade compartilhada pelo aprendizado. O professor passa a ser
um agente facilitador do processo ensino-aprendizagem, auxiliando o aluno na
construção do conhecimento.
Observa-se que auxiliar o aluno a construir o conhecimento não significa que
o docente é um agente passivo na educação, pois, quando ele desenvolve as suas
atividades, deve estar acompanhando e possibilitando ao aluno aprender a obter o
aprendizado. Essa atividade exige do docente um conhecimento muito maior, sendo
que ele não se limitará a apresentar um livro texto ou um material pré-elaborado. Para
finalizar, o papel docente, conforme essa concepção de ensino, considera que ele é um
facilitador/mediador do processo de construção do conhecimento, não devendo ser
confundido com posições de teóricos que defendem até mesmo que o aluno elabore o
conteúdo programático e a sua autoavaliação.
INÍCIO DO BOX ATENÇÃO O aluno, por sua vez, deve ingressar na
faculdade para aprender a buscar conhecimento, aprendizado esse não apenas para a
21
sua colocação/melhoria no mercado de trabalho, mas para a vida, para a formação dele
como cidadão, desenvolvendo o senso crítico e qualidades relacionadas à ética e as
relações humanas. FIM DO BOX O docente, em sua atuação, deve sempre ter claros
os quatro consagrados pilares da Educação, elaborados por Delors (2006),
disseminados pela UNESCO, que são: “aprender a conhecer (aprender a aprender)”,
“aprender a ser”, “aprender a fazer” e “aprender a conviver”.
22
2 O DOCENTE E O ENSINO SUPERIOR
2.1 A IMPORTÂNCIA E A NECESSIDADE DA FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO
PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
Observa-se que, conforme o Art. 66 da Lei 9.393, de 20 de dezembro de
1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), a preparação para o magistério
superior far-se-á em nível de pós-graduação, stricto ou lato sensu. Portanto, essa
obrigatoriedade legal é exigida nos processos avaliativos do MEC (Ministério da
Educação). A pós-graduação, porém, nem sempre assegura a formação pedagógica.
Destaca-se, ainda, que, nas avaliações do Ministério da Educação, é
considerado esse fator, mas não há consenso sobre o que é formação pedagógica. A
formação pedagógica para parte dos educadores é considerada a graduação em
Pedagogia, porém este curso não tem conteúdos voltados ao ensino superior. A
solução para os docentes enfrentarem os desafios do ensino superior é frequentarem
cursos e atividades de atualização, cursarem disciplinas de metodologia do ensino
superior e buscarem o aperfeiçoamento por meio da pesquisa, das atividades
pedagógicas e da leitura.
A compreensão do docente de métodos e técnicas de ensino e da
compreensão do sistema de ensino e do processo ensino-aprendizagem é fundamental
para o bom desempenho docente e para a melhoria dos resultados profissionais.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu art. 67, define,
ainda, que:
Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público: I - ingresso exclusivamente por concurso público de
provas e títulos;
23
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com
licenciamento periódico remunerado para esse fim;
III - piso salarial profissional;
IV - progressão funcional baseada na titulação ou
habilitação, e na avaliação do desempenho;
V - período reservado a estudos, planejamento e
avaliação, incluído na carga de trabalho;
VI - condições adequadas de trabalho.
O grande desafio e relevância desta disciplina é justamente atender a esta
formação pedagógica citada.
2.2 PERIODIZAÇÃO DAS IDEIAS PEDAGÓGICAS NO BRASIL SEGUNDO
SAVIANI4
Saviani, a partir de seus estudos, classifica as ideias pedagógicas em
preliminares, correspondentes aos anos de 1549 a 1996 e após a nova LDB (Lei de
Diretrizes e Bases). A tabela 5, elaborada com base no autor, aborda a evolução
histórica dividida em 4 períodos.
O primeiro período é fortemente influenciado pela dominação portuguesa,
impactando na cultura e na religião. Dividido em duas etapas, a primeira (Pedagogia
Brasílica) buscava agir muito sobre as crianças e estava diretamente relacionada às
estruturas de posse e de poder da época, com um trabalho pedagógico executado
principalmente pelo Padre Anchieta. A segunda etapa (Pedagogia Jesuítica) foi mais
elitista, com forte influência das teorias europeias e buscava defender a hegemonia
católica.
O segundo período foi fortemente influenciado pelo Iluminismo e pelas ideias
de Marques de Pombal. Conforme Rossato (2005 p. 76), o século XVIII teve processos
4 SAVIANI, Demerval. História das Idéias Pedagógicas no Brasil. Coleção Memória da Educação.
Campinas: Atlas, 2007. p. 14-22.
24
marcantes, pois foi o período em que se desencadearam os processos de emancipação
das colônias e manteve-se o processo de criação de novas universidades na Europa.
Apesar de algumas tentativas anteriores, apenas em 1813 foram criados os
primeiros cursos no Brasil, na Academia de Medicina do Rio de Janeiro: o Médico e o
Cirúrgico.
Rossato ainda afirma (2005, p. 131) que, nesse momento, a universidade
estava implantada em todos os países mais importantes do mundo, seja do ponto de
vista econômico, demográfico ou geográfico, quando em 1920 surge no Brasil, de fato,
a Universidade, portanto chamada de “temporã” ou “tardia”, que era a Universidade do
Rio de Janeiro.
No período de 1945 a 1964, há um grande crescimento das Instituições,
passando de 44 mil, em 1950, para 96 mil estudantes em 1960. Esse crescimento
amplia-se ainda mais nas próximas décadas.
Com a aprovação da LDB, conforme a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996
há uma nova estrutura do ensino no Brasil, com concepções pedagógicas mais atuais,
muito influenciadas pelo último período preliminar (1991-1996). Observa-se, porém, que
as mudanças ocorrem de forma gradual, considerando-se os recursos escassos e a
carência da formação no Brasil. Com a ampliação, ocorre uma interiorização do ensino,
maior acesso das camadas populares, além de maior diversificação dos cursos, das
suas modalidades, das formas de ofertas e das teorias pedagógicas utilizadas.
25
TABELA 5 – PERIODIZAÇÃO PRELIMINAR DAS IDÉIAS PEDAGÓGICAS NO BRASIL
Período Anos Comentários
1 Vertente Religiosa da
Pedagogia Tradicional
1549–1599 Período em que foi marcado pelo Plano de
instrução de Manuel de Nóbrega (Iniciava-se com
Português para indígenas). Pedagogia Brasílica.
1599-1759 Pedagogia Jesuítica.
2 Convergência entre as
Vertentes Religiosa e
Leiga da Pedagogia
Tradicional
1759–1827 Despotismo esclarecido
1827-1932 Idéias Pedagógicas Leigas: Ecletismo, Liberalismo
e Positivismo.
3
Predomínio da
Pedagogia Nova
1932-1947 Equilíbrio entre a pedagogia tradicional e a
pedagogia nova.
1947-1961 Predomínio da influência da pedagogia nova.
1961-1969 Crise da pedagogia nova e articulação da
pedagogia tecnicista.
1969-1980 Predomínio da pedagogia tecnicista, manifestações
da concepção analítica de filosofia da educação e
concomitante desenvolvimento da concepção
crítico-reprodutivista.
4 Configuração da
Concepção
Pedagógica
Construtivista
1980-1991 Emergência da pedagogia histórica-crítica e
propostas alternativas.
1991-1996 Neoconstrutivismo, neotecnicismo,
neoesolanovismo.
1996 aos
dias atuais
Após a elaboração e aprovação da Nova LDB.
Dados: SAVIANI, Demerval. História das Idéias Pedagógicas no Brasil. Coleção Memória da
Educação. Campinas: Atlas, 2007. p. 14-15.
26
Os próximos anos serão de muitos desafios, com uma sociedade globalizada
e com muitas mudanças, os docentes e as instituições de ensino devem reaprender a
ensinar, reavaliando seus objetivos, seus processos, seus papéis e as suas relações.
INÍCIO DO BOX ATENÇÃONa sociedade moderna, há maior riqueza de recurso, mas
nem sempre estes resultam em melhor aprendizado ou revisão de métodos.FIM DO
BOX
2.3 TENDÊNCIAS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR
Nos últimos anos, tem-se percebido um grande crescimento do Ensino
Superior no país, sendo que, com ele, podem ser observadas diversas tendências,
entre elas, as seguintes:
1. Aumento da escolaridade da população: observa-se que a população
brasileira com nível superior tem crescido nas diversas camadas sociais.
O ensino tornou-se mais acessível devido a fatores como: crescimento do
número de instituições e de vagas, facilidade de bolsas e de
financiamentos, ampliação da educação a distância e pressão do mercado
de trabalho sobre os profissionais. O governo brasileiro tem incentivado
muito esse crescimento, principalmente com o objetivo de melhorar os
indicadores nacionais, facilitando investimentos e financiamentos
externos.
2. Aumento do percentual das mulheres na maioria das áreas: praticamente
em todas as áreas tem crescido o número de mulheres, até mesmo em
profissões que tradicionalmente foram exercidas por homens, como a
Engenharia. Há outras profissões em que hoje há poucos homens ou
cursos com exclusivamente alunas matriculadas.
3. Aumento de docentes mulheres: O número de mulheres na docência tem
aumentado anualmente, sendo que, em 2007, elas representavam 55%
dos professores no Brasil e 59% em São Paulo. Esses índices variam
27
conforme a região e são um reflexo do aumento contínuo da escolaridade
das mulheres em relação aos homens.
4. Ensino Presencial integrado a EAD ou EAD Integrada a Ensino
Presencial: Observa-se que a Educação a Distância tem influenciado
muito o ensino presencial, melhorando-o, inclusive ofertando instrumentos
e técnicas de aprendizado, como a utilização dos ambientes virtuais. A
Educação a Distância, por sua vez, na maioria das vezes, não consegue
atender sozinha os objetivos, tendo que ser associada a momentos
presenciais. Logo, o ensino semipresencial, dentro de uma proposta mais
dinâmica que a tradicional, porém com instrumentos de controle e auxílio
ao aprendizado integrados aos dois sistemas, é uma tendência mundial da
educação. Inclusive, o Ministério da Educação poderia elaborar seus
modelos avaliativos para criação de um modelo de curso superior
semipresencial.
5. Atualização e Educação Permanente: Da forma como o mercado de
trabalho está dinâmico e competitivo, é necessário que os profissionais de
todas as áreas façam a atualização permanente. Isso faz com que muitos
alunos que possuam uma graduação retornem aos bancos escolares,
sendo muito importante identificá-los, pois seu perfil é diferente e o
docente deve explorar esse fato. Os alunos, em especial os de primeira
geração que possuem acesso ao ensino superior, devem compreender
que INÍCIO DO BOX ATENÇÃO a graduação não consiste em um término
da formação, mas uma etapa do processo. FIM DO BOX
6. Cultura de Avaliação: O Brasil é o país da América Latina em que está
mais implantada a cultura avaliativa, sejam as internas (autoavaliação) ou
as externas.
7. Maior acessibilidade do ensino por diversas classes sociais: O Ensino no
Brasil, que sempre foi elitizado, nos últimos anos tem mudado
gradualmente essa realidade. A família de baixa renda, sem ensino
superior, atualmente teme muito ficar fora do mercado de trabalho; logo,
28
tem sido feito um sacrifício financeiro maior, além de haver uma maior
acessibilidade de bolsas e financiamentos. Com esse aluno de baixa
renda, muda o perfil do ensino, devendo o docente saber que as suas
necessidades são outras. Logo, a qualidade de ensino ofertada para eles
deve ser a mesma, podendo haver ajustes no conteúdo, nas estratégias
de ensino e nas formas de recuperação de conteúdos.
8. Atração de Novos Investimentos para Educação e Internacionalização do
Ensino: Com o crescimento do ensino superior no Brasil e com a
facilidade de expansão da educação, muitas empresas, até de outros
ramos, estão investindo no Brasil de maneira crescente. Tais investidores,
muitas das vezes, tendem a criar cursos padronizados, apenas adaptados
às leis e à realidade nacional. Esse fato tem incentivado a fusão e a
aquisição, prática que recentemente tem sido comum no ensino superior.
9. Quebra de monopólios e rompimento de fronteiras: Até a década de 90,
constatava-se que, com raras exceções, as instituições de Ensino
Superior atuavam praticamente dentro da sua localidade. Com o
crescimento da Educação a distância, os investimentos e a atuação mais
agressiva dos investidores em educação, observa-se um avanço das
instituições de ensino para as diversas localidades. Isso amplia a
perspectiva de oferta e facilita uma padronização de processos.
10. Mudança no Modelo Organizacional: Com o crescimento e
desenvolvimento dos métodos e processos avaliativos e com as
mudanças estruturais do mercado, as instituições necessitam se adaptar e
mudar seus modelos organizacionais, adotando medidas como:
a. Planejamento mais integrado com os Projetos Pedagógicos;
b. Melhor utilização das TICs (Tecnologias da Informação e
Comunicação);
c. Otimização de recursos;
29
d. Análise da sociedade e dos nichos, para caracterização dos
mercados que atuam e dos seus objetivos, posicionando as
instituições;
e. Revisão mais frequente das suas práticas pedagógicas.
11. Consolidação da Pós-Graduação: Após o grande crescimento da oferta e
da demanda dos Cursos de Graduação, há um contingente de
profissionais no mercado de trabalho que necessita continuar seus
estudos; portanto, as consultorias preveem um crescimento muito grande
das pós-graduações, principalmente Lato Sensu, no país.
12. Aumento da Titulação dos Docentes: Conforme os dados do MEC, é
perceptível o aumento da titulação dos docentes. Esse fato deve-se a dois
fatores: maior oferta de cursos de Pós-Graduação no país e pressão do
mercado de trabalho.
TABELA 6 – TITULAÇÃO DOCENTE NO BRASIL
Ttiulação Número de docentes %
Doutorado 76.560 23%
Mestrado 120.348 36%
Especialista 99.104 30%
Graduado 38.573 12%
Sem Graduação 103 0%
Total 334.688 100% Fonte: MEC/INEP/DEED. 2007.
30
GRÁFICO 5 – TITULAÇÃO DOCENTE NO BRASIL
‐
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
140.000
Doutorado Mestrado Especialista Graduado Sem Graduação
Titulação Docente no Brasil
Alunos
Fonte: MEC/INEP/DEED. 2007.
13. Ampliação da Oferta de Cursos e Vagas: O crescimento da oferta de
cursos e vagas ocorre no ensino público e privado. O Governo Federal e
os Governos Estaduais têm ampliado as suas redes e a oferta de vagas,
assim como a oportunidade para o ingresso de novos docentes. No
Estado de São Paulo, há a abertura de novas federais e a ampliação da
Fatec – Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo. No Ensino
privado, tem-se observado o crescimento em todos os estados brasileiros.
TABELA 7 – AMPLIAÇÃO DOS CURSOS E DAS VAGAS
Cursos Vagas Cursos Vagas Cursos Vagas
2002 5.192 295.354 9.147 1.477.733 14.339 1.773.087
2003 5.662 281.213 10.791 1.721.520 16.453 2.002.733
2004 6.262 308.492 12.382 2.011.929 18.644 2.320.421
2005 6.191 313.368 14.216 2.122.619 20.407 2.435.987
2006 6.549 331.105 15.552 2.298.493 22.101 2.629.598
2007 6.596 329.259 16.892 2.494.683 23.488 2.823.942
Público Privado Total
Ano
Fonte: MEC/INEP/DEED. 2007.
31
14. Automação dos processos administrativos: Os processos administrativos
estão mais sistêmicos e automatizados e devemos apoiar essas
mudanças, aprendendo com as ferramentas e auxiliando no
desenvolvimento delas.
15. Novos cursos e otimização do ensino: O mercado está mais dinâmico e
surgem muitos cursos e modalidades de ensino, havendo, também, uma
tendência de otimizá-los, por meio de módulos e outras estratégias.
2.4 OS DESAFIOS DOS DOCENTES NO SÉCULO XXI
Para o século XXI, há muitos desafios, pois temos que considerar não
apenas as tendências citadas no item 2.2, mas também a mudança de perfil do aluno.
O jovem do Século XXI recebe uma grande quantidade de informações e está
habituado a uma leitura muito dinâmica, influenciada e oriunda não apenas da internet,
mas de diversos recursos tecnológicos. Observa-se que quantidade de informação,
nem sempre é qualidade e o docente deverá, nesse ambiente de grandes mudanças e
muitos recursos, educar e ensinar o aluno a ler de forma diferente, despertando o
interesse e criando condições para ele construir o futuro.
Os apelativos sociais e benefícios imediatos para o jovem ter atenção
direcionada a outros objetivos ao invés da educação são muito frequentes. Portanto,
INÍCIO DO BOX ATENÇÃOo professor deve saber interagir com os discentes, não
apenas demonstrando a importância da educação, mas também a aplicabilidade dos
conteúdos na vida e a relevância para o seu desenvolvimento, respeitando os
interesses individuais de aprendizado, mas sem deixar de ministrar os conteúdos
previstos nas ementas e no planejamento acadêmico.FIM DO BOX
Moran (et al., 2004, p. 30) propõe cinco princípios metodológicos
norteadores para a prática pedagógica de professores, que são:
1. “Mediação pedagógica e o papel do professor como mediador/orientado.” -
O papel da mediação é um desafio a ser superado por muitos docentes.
Esse papel é adequado para ambientes presenciais, ainda que na maioria
32
das vezes seja associado apenas ao ensino a distância. O Professor
historicamente tinha um papel de transmissor do conhecimento,
distanciando-se do aluno e passando uma falsa visão de que apenas ele
detinha o saber. Essa visão transforma o aluno em um agente passivo e
receptor, mas a educação deve ser transformadora, sendo o aluno alguém
que busca e constrói conhecimento, um agente ativo, que é incentivado,
por meio do papel mediador do professor.
2. “Integração de tecnologias, metodologias e atividades, aproximando as
diversas mídias existentes” - INÍCIO DO BOX ATENÇÃO As tecnologias,
metodologias devem ser complementares e são auxiliares no processo
educacional. FIM DO BOX O docente não deve considerá-las um
problema, mas ferramentas de transformações do processo educacional.
As ferramentas de educação a distância, por exemplo, possibilitam levar
ensino com qualidade a localidades distantes, mas não devem servir para
padronizar a educação e sim para possibilitar a difusão do conhecimento,
considerando-se as diferenças e especificidades. Elas são agentes que
possibilitam ao educador ofertar ensino personalizado para as regiões
mais distantes.
3. “Variar a forma e as técnicas utilizadas em sala de aula e fora dela,
improvisando e não deixando, assim, tudo previsível e monótono” -
Considerando-se que as gerações do século XXI são muito dinâmicas e
visuais, a necessidade de aulas e conteúdos ministrados de forma
diferente e motivadora é um aspecto fundamental. O professor deve ser
cuidadoso, desde o momento em que elabora o material e o disponibiliza,
até o momento em que discute ou realiza formas de interação.
4. “Planejar e improvisar quando necessário, ajustando o planejado às
circunstâncias da prática” - O planejamento é necessário, mas o respeito
às diversas situações, peculiaridades e características individuais ou
locais, é necessário. Um professor pode ministrar a mesma disciplina com
o mesmo conteúdo em Instituições diferentes, em diversos cursos ou em
33
várias salas, porém as estratégias de ensino, a forma de abordagem, não
pode ser a mesma.
5. “Valorizar a comunicação virtual e os aspectos de presença e distância” -
As ferramentas para educação a distância são para suporte, mas as
estratégias de ensino devem estar integradas a elas, devendo o docente
saber usar cada instrumento, técnica de ensino e metodologia.
Há outros desafios que devemos considerar ao refletir sobre a docência, que
são:
Integração Docentes X Alunos X Objetivos do Curso X Política
Institucional – Ao ensinar a disciplina ou o conteúdo para que fomos
designados, devemos refletir sobre o todo, com questões como: Qual o
papel da disciplina no Curso? Por que esta disciplina está no currículo e
qual a função dela na formação do discente? Quais as diferenças em
relação à formação que esta instituição tem em relação às outras? Essas
diferenças devem impactar na proposta de aula? A disciplina pode ser
integrada às outras de que forma? Um exemplo é o caso de um professor
de Estatística, que ministrará aulas para um curso de Tecnologia em
Marketing. Na sua disciplina, o conteúdo pode ser igual a outros cursos,
mas a abordagem deve ser direcionada ao perfil do egresso. Podem,
portanto, ser realizadas aulas no laboratório de informática, utilizando
softwares específicos, que possibilitem analisar resultados de uma
pesquisa de mercado. A mesma disciplina em um curso de Tecnologia em
Gestão de Recursos Humanos, talvez, sugerisse analisar dados de uma
pesquisa sobre o mercado de trabalho.
Devemos ter cuidado com os nossos conceitos de qualidade e respeitar as
diversas formas de cognição – É comum um docente ministrar uma aula e
ficar orgulhoso pela qualidade, pois, segundo o seu conceito “do que é
bom”, atende plenamente. Ao terminar a brilhante aula expositiva, um
aluno aborda e comenta: “A aula foi muito boa professor, mas não é
possível o senhor nos enviar isso por escrito ou dar uma atividade prática
34
para compreendermos melhor?” O professor tenta explicar os motivos que
o levaram ter tal atitude e, às vezes, concluímos que o aluno quer algo
pronto, ou que não prestou atenção na aula. Na verdade, ele pode ter
forma de cognição diferente e devemos respeitar isso. Talvez ele consiga
assimilar bem aquele conteúdo simples, mas, após receber o material
escrito, fixe na hora de fazer exercícios. Esse tipo de reação, de sugerir
outra forma de ensinar, é muito comum quando trocamos o curso que
estamos ministrando a disciplina.
Interesse pela pesquisa e por projetos – INÍCIO DO BOX ATENÇÃO O
interesse pela pesquisa, pela atualização constante, pela publicação e
pelos projetos internos e externos é fundamental para o crescimento e
desenvolvimento, além de possibilitar ao docente ampliar a sua visão. FIM
DO BOX Desenvolver projetos integrados e com outros órgãos e áreas é
fundamental para o currículo e para a interdisciplinaridade.
Objetividade e clareza, considerando o perfil de um aluno de uma geração
muito diferenciada – Temos hoje no ensino superior alunos com pouco ou
nenhum conhecimento de informática e alunos da era digital que chegam
à universidade sem o hábito da leitura, mas que navegam na internet
desde que foram alfabetizados. Essa diferença de perfil varia muito,
novamente, conforme o curso e a instituição. Esse fato altera até o
processo de comunicação interna. Um desafio do docente é elaborar
estratégias de ensino para esses dois perfis. INÍCIO DO BOX ATENÇÃO
O aluno da era digital executa muitas atividades ao mesmo tempo, tem
formas de aprendizado diferentes, porém, na maioria das vezes, não
possui grande poder de concentração, em especial para longas aulas
expositivas. FIM DO BOX
Cultura Organizacional - O conceito de qualidade é diferente de uma
instituição para a outra e, buscar implantar a cultura de uma faculdade em
outra, ou fazer comparações, além de desagradável, pode gerar conflitos
desnecessários. Ao ingressar em uma nova instituição ou em um novo
35
curso, busque saber os valores e as formas de ensino-aprendizagem
adotados. Outros fatores a serem analisados são os processos internos e
os métodos avaliativos. Buscar novas formas de procedimentos é muito
importante e faz parte do desenvolvimento educacional, mas a forma de
implantá-los deve ser dialogada, respeitando-se a cultura organizacional.
Para complementar os desafios, destacamos os sete saberes considerados
necessários para Educação do Futuro, segundo Morin (2000, p. 13-18):
1. As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão: o autor destaca que se deve questionar o conhecimento e não simplesmente transmiti-lo.
É necessário introduzir e desenvolver na educação o estudo das características cerebrais mentais, culturais dos conhecimentos humanos, de seus processos e modalidades, das disposições tanto psíquicas quanto culturais que o conduzem ao erro ou à ilusão.
2. Os princípios do conhecimento pertinente: destaca a necessidade de promover o conhecimento capaz de aprender problemas globais e fundamentais para neles inserir os conhecimentos globais parciais e locais. O autor, nesse “saber”, traz muito forte o seu conceito tão defendido da transdisciplinaridade, que será estudado no item 3.4.
3. Ensinar a condição humana: considera que a condição humana deveria ser o objetivo essencial de todo ensino e novamente critica a divisão de disciplina que não traz o homem em sua concepção central. Trabalhar a unidade e a complexidade humana, reunindo e organizando conhecimentos dispersos nas ciências.
4. Ensinar a identidade terrena: o autor considera o destino planetário outra realidade chave, até agora ignorada na educação. Observa a necessidade de indicar o complexo de crise libertária, este “Saber” está muito relacionado à sustentabilidade e ao destino dos seres.
5. Enfrentar as incertezas: Aponta a necessidade de analisar e de elaborar estratégias para os tempos incertos. A incerteza está muito relacionada a diversas áreas, inclusive à Administração, não podendo a Pedagogia ficar excluída.
6. Ensinar a compreensão: Considera que a compreensão está presente no meio e no fim da comunicação humana, mas considera ausente na educação. Destaca a necessidade do planeta de compreensão mútua e da necessidade de se considerar a diversidade.
7. Ética do gênero humano: Destaca a ética com duas grandes finalidades: estabelecer uma relação de controle mútuo entre a sociedade e a democracia e conceber a comunidade como comunidade planetária.
36
3 INDISSOLUBILIDADE DO ENSINO, DA PESQUISA, DA EXTENSÃO E
DA GESTÃO
3.1 A IMPORTÂNCIA DA INDISSOLUBILIDADE DO ENSINO, DA PESQUISA, DA
EXTENSÃO E DA GESTÃO
Rossato (2006, pp.112-113) afirma que:
No sentido mais pleno da palavra, o professor é aquele que tem uma contribuição própria:
- tem uma doutrina própria; - é que tem um espaço próprio; - tem uma bagagem própria para transmitir via ensino; - tem uma visão própria de vida; - produz o conhecimento; - é que tem algo de novo para ensinar; - não é aquele que repete o que o outro ensinou; - quem repete é, no máximo, um discípulo.
As palavras do autor são fundamentais para reflexão dos docentes, pois é
comum os profissionais ingressarem na carreira sem refletir qual o seu papel. INÍCIO
DO BOX ATENÇÃO O professor jovem tem, muitas das vezes, vontade de colaborar e
de desenvolver um bom trabalho, mas não teve a oportunidade de ser alertado sobre a
importância da pesquisa e da extensão e do seu papel de formador e não de um
profissional que apenas transmita conhecimento. FIM DO BOX
Rossato (2006, p.113) afirma, ainda, que: “O professor é o que constrói uma
visão própria do mundo, que tem a sua palavra sobre o mundo”. Nessa frase, é possível
visualizar a importância e a responsabilidade da atividade docente para a sociedade,
assim como demonstrar o belo da profissão.
Portanto, há uma bandeira histórica de muitos educadores que consiste na
integração do Ensino à Pesquisa e à Extensão, mas é importante acrescentar a Gestão.
A seguir, descreve-se cada um desses componentes:
A Pesquisa - Conforme DEMO (2009), não há docência sem produção
própria. Essa afirmação do autor deve-se ao fato de que quem não
37
pesquisa não possui conteúdo para ensinar. No mundo atual, em que há
muitas transformações, a pesquisa torna-se mais importante ainda. O
docente que apenas busca informações para transmitir o conhecimento
está apenas treinando e atualizando seus alunos. A educação é formação
e o professor deve ir além, proporcionando transformações, identificando
tendências e tendo condições de auxiliar seus alunos a construírem o
futuro. INÍCIO DO BOX ATENÇÃO O professor deve conhecer e praticar a
pesquisa, até para cobrar dos alunos as atividades de pesquisa,
respeitando não apenas o seu aprendizado, como avaliando se os
trabalhos elaborados estão em conformidade aos padrões metodológicos
para elaboração. FIM DO BOX
A Extensão - A extensão significa os meios que as Instituições de Ensino
utilizam para propagar os seus conhecimentos, melhorar a comunidade
interna e a sociedade. O Ensino não pode ser voltado apenas ao
crescimento e ao desenvolvimento do aluno e a pesquisa deve ter uma
contribuição social, além dos muros e espaços acadêmicos e
ultrapassando a sua comunidade (alunos, professores e técnicos-
administrativos). Para que pesquisar se não há integração com a
sociedade? Como atividades extensionistas, entre outras, podem ser
consideradas:
- Cursos de curta duração ofertados para comunidade interna ou
externa;
- Projetos com a comunidade, como oficinas, atendimento médico,
atendimento jurídico, atendimento odontológico;
- Organização de exposições;
- Realização de Seminários, de palestras encontros e congressos;
- Disponibilização de auditórios, salas, laboratórios, bibliotecas e outros
recursos e espaços;
38
- Recepção de pessoas da comunidade externa para apresentar as
instalações;
- Semana da Saúde, Semana da Educação e outros.
A Gestão do Ensino Superior - Com a perspectiva da Universidade
integrada ao ensino, à pesquisa e à extensão, é necessário gerenciar o
conjunto de recursos humanos e tecnológicos, de capitais e materiais para
o desenvolvimento da sociedade e dos agentes envolvidos. Há uma
resistência de parte dos educadores em relação à gestão do ensino
superior, mas desconsiderá-la é afirmar que os recursos não são
escassos e que a sustentabilidade é algo irrelevante. Para otimizar os
recursos, é necessário planejamento, acompanhamento, elaboração de
metas, controle e políticas para médio e longo prazos.
Há diferentes formas e modelos de gestão de Ensino Superior, assim como
há diversos documentos. O Ministério da Educação, que avalia a Educação Superior no
Brasil, exige diversos documentos para todas IES (Instituições de Ensino Superior),
dentre eles:
1. Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) – Documento estratégico
de gestão para médio e longo prazo, sendo elaborado para um período
mínimo de três anos, mas é usual que sejam cinco anos. O objetivo é
definir a missão da instituição, alinhando as metas relacionadas ao ensino,
à pesquisa e à extensão, com a proposta pedagógica. No PDI contém,
também, a forma como a Instituição é organizada, qual a justificativa de
sua existência, como expressa, gerencia e administra seus recursos
humanos, tecnológicos e materiais. É considerado o principal documento
da instituição, pois expressa a sua relação com a comunidade interna, o
motivo da sua existência e quais são os seus rumos.
2. Projeto Pedagógico Institucional (PPI) – Traz a concepção pedagógica
da Instituição. É um instrumento fundamental, pois demonstra como os
valores são expressos em suas atividades pedagógicas. Nela há os
39
principais teóricos, a forma como será operacionalizada a teoria e como
serão implantadas as ações pedagógicas. Ele, muitas vezes, compõe o
PDI.
3. Projeto Pedagógico de Curso (PPC) – Todos os Cursos da Instituição
devem ter o seu Projeto Pedagógico, ainda que com as suas
peculiaridades, todos devem estar integrados à missão, ao Plano de
Desenvolvimento Institucional e ao Projeto Pedagógico do Institucional.
3.2 ATIVIDADES DE DOCÊNCIA CONSIDERANDO-SE O ENSINO, A PESQUISA,
A EXTENSÃO E A GESTÃO
Outro fator que merece ser citado é que, ao optar por uma carreira docente,
deve-se estar atento ao conjunto de funções que podem ser desempenhadas, pois não
devemos nos limitar apenas à sala de aula.
Relacionadas à atividade docente estão atividades como:
elaboração e execução de aulas presenciais ou a distância, em sala de
aula, ambientes virtuais ou em laboratório;
orientações a estágios profissionais ou curriculares;
orientações para projetos, trabalhos de conclusão de curso, dissertações,
teses artigos e outros;
organização de visitas técnicas;
coordenação de cursos, de projetos e de pesquisa;
desenvolvimento de conteúdo para Educação a Distância ou presencial;
escrever livros, artigos e outros;
implantar e desenvolver consultorias de alunos, incubadoras e outras;
elaboração de projetos de curso ou institucionais;
40
coordenação de polos para educação a distância e realização de
tutorias;
atividades extras como palestras, participações em debates e mesas
redondas, participações em congressos, seminários e eventos e outros;
elaboração de estratégias de ensino e de atividades que relacionem o
ensino à pesquisa e/ou extensão;
atividades burocráticas, como alocação de docentes, condução e
participação de conselhos e reuniões pedagógicas, acompanhamento de
desempenho de alunos, análise de grades e outros;
gerenciamento da sua própria carreira buscando desenvolvimento,
atualização e crescimento.
É importante essa visão, pois há muitas pessoas que têm uma visão muito
tradicional da educação, acreditando que o docente limita-se às aulas, a aplicar
atividades e corrigir avaliações. Essa, aliás, é a concepção da maioria das pessoas e o
docente deve ser um agente responsável por mudar essa forma de ser visualizado por
parte da sociedade.
INÍCIO DO BOX ATENÇÃO A qualidade de uma Universidade ou até mesmo
de um curso de nível superior está diretamente ligada às atividades que estão além da
sala de aula e que contribuem para o progresso dos sistemas e métodos educacionais.
FIM DO BOX Observa-se que a implantação de estratégias de ensino contributivas a
uma política educacional que valorize a construção do conhecimento nem sempre está
condicionada à infraestrutura, assim como um investimento relevante não assegura
qualidade de ensino.
3.3 A UNIVERSIDADE É UM ESPAÇO PARA REFLEXÃO, CRESCIMENTO,
DIVERSIDADE E TROCA
A Escola, em especial o Ensino Superior, não pode ser visto como um espaço
em que alunos recebem informação por professores que detêm o conhecimento. O
41
professor deve ser um incentivador para que o aluno busque o conhecimento e o
crescimento. Portanto, nessa perspectiva, é importante considerar a Universidade como
um Espaço para:
Reflexão, Crescimento e Produção do Conhecimento: O aluno deve ser
um agente ativo no processo ensino-aprendizagem, onde ele seja
incentivado a pesquisar e a buscar o conhecimento. Atualmente essa é
uma tarefa difícil para o docente, pois os alunos saem do ensino médio,
na maioria das vezes, habituados a reproduzir o conhecimento que é
transmitido para eles, com trabalhos resultantes de fontes secundárias e
com pouca construção do conhecimento. O fato de propor a realização de
um trabalho sem cópias, com metodologia científica e que possibilite a ele
articular ideias, a construir textos novos e a refletir sobre o objeto
pesquisado, com análise e considerações, é algo novo para o aluno.
Portanto, temos que aprender a propor trabalhos e orientá-los de forma
que iniba qualquer plágio e que proporcione o aprendizado. INÍCIO DO
BOX ATENÇÃO O docente deve saber e admitir que um aluno que realize
uma pesquisa com qualidade sobre um tema específico pode conhecer
mais sobre o tema do que ele. FIM DO BOX Essa busca do conhecimento
pelo aluno consiste em um prazer de ser docente, mas é um desafio
constante buscar ferramentas e técnicas para obtenção de resultado. Na
Educação a Distância, esse papel de orientador/condutor no processo de
ensino-aprendizagem é fundamental, pois o aluno, por não ter a presença
física do docente, deve aprender a buscar e construir o conhecimento.
Uma das formas para conseguir atingir esse objetivo é articular o ensino, a
pesquisa e a extensão com propostas educacionais interdisciplinares e
que façam parte de uma coerência na proposta do curso. As atividades
devem ser pensadas de uma maneira além da disciplina e docentes e
discentes devem saber os motivos de cada atividade a ser realizada. O
docente deve repensar as atividades que serão desenvolvidas de forma a
estimular a reflexão e a produção do conhecimento;
42
Diversidade: respeitar a diversidade significa tratar a todos igualmente,
considerando-se as diferenças. Portanto, o Educador deve saber trabalhar
com as Diversidades, como as relativas a:
I. Gênero: O sexismo também é algo muito presente na sociedade, pois
conforme afirma Saffioth (1987: p.8), “Não é difícil observar que
homens e mulheres não ocupam posições iguais na sociedade
brasileira”, a autora afirma, também, que ”A sociedade delimita, com
bastante precisão, os campos em que pode operar a mulher, da
mesma forma como escolhe os terrenos em que pode atuar o homem.”
Apesar de ser nítida essa realidade, os indicadores demonstram que
as mulheres estão conquistando espaços masculinos e destacando-se
muito no mercado de trabalho em diversas áreas. A presença das
mulheres em sala de aula exige posturas dos docentes que respeitem
as suas peculiaridades.
II. Raça: Quando abordamos a questão racial, observamos que as
diferenças se repetem, pois o negro ainda tem menos oportunidades.
A mulher negra e de classe baixa é a que se encontra em situação
mais desfavorável, pelo triplo preconceito. O ensino e a pesquisa não
devem ser direcionados a determinada raça, mas respeitar a
diversidade de indivíduos, inclusive com propostas curriculares
inclusivas.
III. Cultura: Deve-se respeitar as diversidades culturais, considerando-se a
origem e a localidade. Por exemplo, um Projeto Pedagógico de Curso
pode atender a diferentes regiões do País, mas os docentes, na hora
de ministrar as aulas e implantar o projeto, não podem desconsiderar
as diferenças culturais do norte em relação ao sul. Ao ensinar
conteúdo referente à gestão de uma empresa, o docente pode buscar
segmentos que sejam de interesse para a comunidade local. Outro
exemplo é um curso de Pedagogia ter momentos em que se discutam
43
as experiências dos alunos no estágio, para que sejam dadas
respostas às suas realidades, não distanciando a teoria da prática.
IV. Diferenças Sociais: O fato de um Curso ser ministrado para diferentes
classes sociais não significa que ele deve ter qualidade diferenciada,
mas que deve considerar as diferenças. Logo, o Ensino para a
população de baixa renda deve considerar que as suas necessidades
e anseios são diferentes da classe média ou alta. Esse é um grande
desafio da educação para o ensino superior, pois é perceptível no país
a relação da qualidade do ensino recebido com a classe social, ou
seja, quanto melhor a condição social, melhor tende a ser a educação
recebida no ensino fundamental e médio. A maior prova desse fato são
os resultados do ENEM, que demonstram que os melhores resultados
são dos alunos que concluem os estudos em escolas particulares.
Portanto, adaptar o ensino para os alunos de baixa renda pode
representar a IES possuir estratégias para recuperação de conteúdo
do ensino médio ou o docente auxiliar na identificação dos alunos que
necessitam de determinado apoio. Outra forma é o Projeto Pedagógico
do Curso e consequentemente as atividades desenvolvidas serem
direcionadas para essa classe.
V. Necessidades Especiais: Os alunos portadores de necessidades
especiais devem ter condições para serem atendidos nos mesmos
espaços comuns. A sociedade, de forma geral, não está preparada
para atendê-los. Isso leva a escolaridade dos portadores a ser bem
menor do que a dos outros alunos. Espera-se, portanto, que esse
quadro mude, pois a inserção social tem crescido, ainda que
lentamente. Atualmente, é obrigatório no Brasil que as instalações das
faculdades sejam adaptadas, além de haver especificidades, como a
obrigatoriedade de todos os cursos superiores ofertarem a disciplina
de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). É importante o docente saber
trabalhar com esses alunos, pois, às vezes, eles necessitam até de
instrumento avaliativo diferenciado. Essa diferença não significa
44
facilitação em relação aos resultados do aprendizado, mas viabilização
para que o aluno atinja aos objetivos do curso.
3.4 MULTIDISCIPLINARIDADE, INTERDISCIPLINARIDADE E
TRANSDISCIPLINARIDADE
Multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade são três
conceitos que se misturam, mas são muito diferentes e, por isso, necessita-se ter claro:
a) Multidisciplinaridade – é a forma tradicional de ensino, como se o
conhecimento fosse separado por caixinhas. As aulas são separadas por
disciplinas e uma não pode invadir o espaço da outra; aliás, há
professores que nem se conhecem, pois nessa concepção de ensino é
considerado desnecessário;
b) Interdisciplinaridade – fundamental para o ensino moderno, além de
contribuir muito na formação do aluno e para direcionar as disciplinas ao
objetivo do curso. Ela consiste em integrarmos duas ou mais disciplinas.
Um curso de Jornalismo que possui em seu currículo as seguintes
disciplinas: “Editoração Eletrônica”, “Ética e Legislação em Jornalismo” e
“Comunicação e Expressão”, pode desenvolver um projeto de produção
de um periódico eletrônico sobre ética no jornalismo. A
interdisciplinaridade pode ir além do projeto, possibilitando aulas e ações,
visitas técnicas, avaliações conjuntas e outras atividades.
c) Transdisciplinaridade – é o grau maior de interdisciplinaridade, ou seja, é o
desaparecimento das disciplinas. Vamos imaginar um curso de tecnologia
em que o Trabalho de Conclusão aborde as diversas áreas por meio de
uma atividade prática, um projeto integrador que impossibilite separar as
disciplinas, de forma semelhante às experiências no mercado de trabalho.
Esse é um grande desafio para a educação. Um projeto transdisciplinar
deve ser muito bem elaborado e com formas de acompanhamento do
aprendizado e de avaliação muito claras.
45
É muito difícil um curso ser considerado transdisciplinar, sendo mais comuns
para cursos de pequena duração em que há como proposta atingir um objetivo. INÍCIO
DO BOX ATENÇÃO O docente deve buscar formas de interdisciplinaridade e de
transdisciplinaridade que contribuam com a formação do aluno e com os objetivos do
Curso. FIM DO BOX Essa busca requer que o docente aprenda continuamente a:
romper “pré-conceitos”, ou seja, conceitos prévios, tendo em vista que o
docente deve aprender a elaborar atividades de forma conjunta com
outras disciplinas;
a trabalhar em grupo, com outros docentes e até com empresas, escolas,
hospitais e outros;
a pensar de forma maior do que a dimensão da sua disciplina com o foco
nos objetivos do curso e atuando conforme a proposta pedagógica da
instituição.
46
A tabela 8, a seguir, foi elaborada com o objetivo de esclarecer e ilustrar:
TABELA 8 – AMPLIAÇÃO DOS CURSOS E DAS VAGAS
Exemplo
MULTIDISCIPLINAR
Grade curricular.
Composição de
disciplinas.
Ensino tradicional em que as disciplinas não se
integram;
INTERDISCIPLINAR
Associação de
disciplinas,
podendo
ocasionar
propostas
conjuntas.
Ações como:
1- O docente de uma disciplina citar a outra;
2- Um jornal on-line que integre as disciplinas de
“Comunicação Empresarial, Marketing” e “Ética
nas Organizações”.
3- Uma reunião das disciplinas de determinada área
para verificar como podem dar suporte entre si.
Um exemplo é o Professor de Matemática que
ministrará conteúdo o qual será utilizado na
disciplina de Contabilidade.
TRANSDISCIPLINAR
Desaparecimento
das disciplinas.
1- Curso de Administração: abertura de uma
empresa, com a criação e lançamento de um
produto e acompanhamento de resultados.
2- Curso de Farmácia: criação de um Laboratório
para pesquisa de Plantas Medicinais.
3- Curso de Pedagogia: criação e desenvolvimento
de um Curso, desde o projeto até a avaliação de
aprendizagem e a própria revisão do projeto.
4- Curso de Enfermagem: Análise de um ambiente
hospitalar propondo melhorias.
Fonte: Elaborado pelo autor da apostila.
47
4 PRÁTICA DE ENSINO SUPERIOR
4.1 COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DO DOCENTE DE ENSINO SUPERIOR
Com todos esses desafios e mudanças, o docente deve desenvolver novas
competências, habilidades e atitudes, dentre elas:
adquirir o hábito de atualização constante;
familiarizar-se com recursos tecnológicos e desenvolver a capacidade de
aplicá-los conforme as diferentes necessidades;
interessar-se e adquirir a habitualidade da pesquisa, relacionada ao
ensino e à extensão, resultando, sempre que possível, em publicações;
possuir visão e prática interdisciplinar;
ter a capacidade de desenvolver e viabilizar projetos interdisciplinares;
atuar de forma flexível em seus processos e práticas educacionais;
aprender constantemente;
saber orientar o aluno para que construa o conhecimento de forma
independente;
respeitar a diversidade;
conhecer e sensibilizar-se com a cultura organizacional e o ambiente em
que está inserido, respeitando as diversas áreas e realidades;
ter capacidade de mediar o processo de ensino-aprendizagem;
buscar de forma contínua a formação pedagógica, sabendo que as
metodologias e técnicas devem ser renovadas (atualizadas) e adaptadas
ao perfil das novas gerações;
rever continuamente as suas práticas pedagógicas;
48
possuir a capacidade de integração e interação com os diversos agentes
envolvidos no processo ensino-aprendizagem;
conhecer os diversos instrumentos avaliativos, saber desenvolvê-los e
aplicá-los.
O docente, além de buscar essas competências, habilidades e atitudes, que
podem ser desenvolvidas ao longo da carreira acadêmica, pode complementar com
valores; devido ao seu currículo, constrói valores durante a vida, que são fundamentais
ao seu perfil e que devem ser compatíveis com a Instituição em que está atuando, pois
de outra forma poderia gerar frustração, insatisfação ou até mesmo ser considerado
incompetente ou inábil, injustamente.
Observe que é praticamente impossível a um docente, ao iniciar, ter todas as
competências, habilidade e atitudes citadas, mas o fato de saber que a prática docente
não consiste em apenas saber fazer uma apresentação em uma sala de aula ou
transmitir o conhecimento é algo muito importante na sua formação.
Os recursos tecnológicos, também, não podem ser considerados apenas
ferramentas que auxiliam no seu desenvolvimento profissional, mas sim, facilitadores
que viabilizam novas formas de ensino. Um ensino moderno e que proporcione ao
aluno a reflexão, ensinando-lhe buscar e construir o conhecimento pode ser
proporcionado até sem recursos. Como exemplo, pode-se citar a educação a distância,
que se utiliza da internet, de softwares, mas que pode ser desenvolvida com ou sem
proporcionar uma visão crítica. Portanto, INÍCIO DO BOX ATENÇÃO “Power point”,
“teleduc”, material impresso e outros são apenas ferramentas para auxiliar o
aprendizado, mas a sua utilização não garante o ensino crítico, nem que o processo de
ensino seja moderno ou satisfatório. FIM DO BOX
49
4.2 O DESENVOLVIMENTO DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA
INSTITUIÇÃO INTEGRADO AO PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL E À
MISSÃO
O desenvolvimento e os investimentos de uma Instituição devem estar
associados sempre à proposta do Curso e às práticas pedagógicas; portanto, a
integração dos gestores (Reitores, Vice-reitores, Diretores e Coordenadores) com os
Docentes e com a realidade cotidiana é fundamental. Da mesma forma, os professores
devem buscar conhecer os instrumentos de Gestão citados no item 3.15 e alinhar as
suas aulas com os objetivos Pedagógicos Institucionais e com a proposta do Curso.
4.3 PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO
No Projeto Pedagógico do Curso (PPC), devem ser previstas as atividades
que serão desenvolvidas (aulas, projetos, atividades complementares, trabalhos de
conclusão e outros). Essas atividades devem estar integradas à missão da instituição e
articuladas conforme os objetivos do curso e o perfil planejado do egresso. A seguir,
destacam-se alguns dos componentes do PPC:
4.3.1 Concepção do Curso
Na concepção do Curso, descreve-se o perfil do egresso, ou seja, deve-se
definir qual o profissional que se busca formar. Nele, é relevante constar as
competências, habilidades e atitudes previstas conforme:
1. As diretrizes curriculares do Curso - Os cursos superiores no Brasil
possuem as diretrizes curriculares específicas para cada área. Nas
5 PDI – Plano de Desenvolvimento Institucional, PPI – Projeto Pedagógico Institucional e PPC - Projeto
Pedagógico do Curso.
50
diretrizes, constam as competências e habilidades necessárias para o
egresso, além de outras obrigatoriedades que devem ser seguidas pelas
Instituições de Ensino;
2. A missão institucional - Consiste na vocação da Faculdade, ou seja, o
motivo da sua existência. Um exemplo: uma universidade que tem como
missão uma formação humanista deve expressar essa missão nos cursos.
A vocação da missão não necessita ser apenas profissional, pois pode ser
de ordem social ou religiosa.
3. Os diferenciais do Curso - Quais os diferenciais que este curso tem em
relação aos concorrentes? O que um curso pode acrescentar na vida dos
alunos? A busca de diferenciais é fundamental para a existência do curso,
para a sua definição do papel que exerce na sociedade e para o
posicionamento estratégico institucional. Na concepção do curso, deve-se
expressar, também, a linha filosófica institucional e quais as práticas
pedagógicas previstas.
As instituições devem, ainda, apresentar metodologias e/ou estratégias de
ensino-aprendizagem conforme as suas concepções, como nos exemplos a seguir:
ter como objetivo um ensino tradicional, que busque transmitir conteúdos
ou ter uma prática de ensino que propõe o desenvolvimento do aluno por
meio de projetos que valorizem a sua busca pelo conhecimento e pela
construção e articulação da pesquisa;
utilizar avaliação contínua ou avaliações em datas pré-definidas;
incentivar atividades em grupo ou individuais.
Estas práticas são resultantes dos teóricos adotados pelas Instituições e
refletem diretamente no cotidiano das Universidades.
51
4.3.2 Justificativa de Oferta
Um curso, para ser construído e ofertado para uma comunidade, deve ter
uma justificativa para sua existência. Portanto, é recomendada a realização de uma
pesquisa, ainda que com dados secundários, que aborde os motivos da sua criação.
Os motivos de sua existência podem ser:
1. a ausência de outros cursos nas regiões onde será ofertado;
2. a necessidade de profissionais na área, devido às características da
região;
3. o fato da Instituição ofertar um curso diferenciado, conforme citado no item
4.3.1.
A justificativa, nos modelos atuais de avaliação, tornou-se um dos aspectos
mais importantes do Curso e deve estar relacionado ao egresso, por exemplo, o que
justificaria a abertura de um Curso de Turismo na região do Caparaó, entre o Espírito
Santo e Minas Gerais? Poderiam ser aspectos como:
o fato da região ter poucas faculdades ou nenhuma, portanto, no projeto,
deve ser destacada as faculdades e os curso mais próximos, com as suas
respectivas distâncias;
a necessidade de desenvolvimento da região, podendo ser demonstrados
dados sobre o local;
o fato de haver muitas empresas de pequeno porte que não têm
condições de ter um turismólogo, devido a não haver profissionais na
região;
o forte potencial turístico da região que poderia ser melhor explorado,
podendo ser novamente apresentado dados.
Todas as informações citadas necessitam de fonte, ou seja, citar a origem de
onde foram extraídas as informações.
52
Ao final, com estes dados coletados, é possível elaborar a matriz curricular e
o perfil do egresso.
Observe que a justificativa afirmou que as pequenas empresas necessitam
deste profissional; portanto, a formação desse aluno deve ser contemplada com algum
conteúdo voltado às empresas deste perfil. Considerando-se que o curso tenha uma
disciplina de Contabilidade, até poderá conter conteúdo direcionado às grandes
corporações, mas é imprescindível abordar como é o cotidiano do pequeno empresário.
O mesmo ocorre quando cita que os profissionais, ou parte deles, serão
absorvidos na região, logo, nos conteúdos recomenda-se constar alguma abordagem
regional.
Outro exemplo é uma faculdade que está instalada na Amazônia, que faz
toda a justificativa para a abertura de um curso considerando aspectos ambientais, mas
que não possui nenhum conteúdo que aborde o tema. O fato de incluir uma ou outra
disciplina também pode não caracterizar que o perfil atenda à proposta ambiental, pois
ela deve estar integrada às outras disciplinas e demonstrar relevância para a formação
do egresso.
4.3.3 Matriz Curricular
A matriz curricular consiste na sequência das disciplinas e atividades do
curso, representadas de forma gráfica. A representação é utilizada como instrumento
didático para:
o corpo docente compreender o sequenciamento das disciplinas, como os
conteúdos se relacionam, quais disciplinas são pré-requisitos de outras ou
podem desenvolver conteúdos de forma integrada, melhorando a sua
interdisciplinaridade e desenvolvendo atividades e projetos conjuntos;
o coordenador do curso elaborar estratégias para o ensino, para a
pesquisa e para a extensão, relacionadas ao curso;
nos processos avaliativos ou em momentos de rever o projeto possibilitar
uma visualização global;
53
os alunos conhecerem seu curso de maneira mais abrangente e integrada
e melhorarem a visualização do papel de cada disciplina no curso;.
auxílio na gestão, pois possibilita a todos uma melhor visualização do
curso;
facilitação de um processo avaliativo do curso (interno ou externo), pois
proporciona a visão global e as relações do curso;
percepção da existência de conteúdos sobrepostos ou que deixem de ser
abordados;
auxílio na revisão do Projeto Pedagógico do Curso.
A matriz não consta apenas a citação das disciplinas, mas a demonstração,
utilizando-se recursos visuais que facilitam a análise, podendo ser setas, cores ou
outros. A separação das disciplinas na matriz em grupos, também pode auxiliar na
gestão e no desenvolvimento das atividades.
A seguir apresenta-se, como exemplo, a matriz curricular de um Curso de
Graduação Tecnológica em Gestão de Recursos Humanos:
54
FIGURA 2 – MATRIZ CURRICULAR DO CURSO DE TECNOLOGIA EM GESTÃO DE RECURSOS
HUMANOS
Fonte: Elaborado pelo autor. Adaptação do Curso de Tecnologia em Gestão de Recursos
Humanos da UNISA.
Não há uma regra sobre a forma gráfica da elaboração da matriz, sendo
comum encontrarmos profissionais que utilizam formas diferentes, sempre muito
relacionadas às suas teorias pedagógicas.
Nessa matriz apresentada, dividem-se as disciplinas em semestres e
conforme a cor as classifica em eixos temáticos. Os eixos, caso fossem analisados por
55
outros profissionais, provavelmente, teriam outras denominações ou alocariam algumas
disciplinas em eixos diferentes dos citados. Por exemplo, a disciplina “Planejamento de
Carreira e Sucessão” poderia muito bem se enquadrar, também, no Eixo “Administração
e Economia”. A opção pela classificação em determinado eixo está relacionada a
fatores como a interdisciplinaridade, melhor contribuição para a gestão, as teorias
pedagógicas utilizadas pela Instituição e principalmente pelo perfil do seu Coordenador
e do Corpo Docente. Observe que a Pedagogia e a Didática, mesmo quando se trata da
construção de um gráfico não é exata, possibilitando vários olhares.
Após essa classificação por eixos, foram colocadas setas que têm o objetivo
de visualizar as relações entre as disciplinas, possibilitando que o docente, no caso de
não conseguir desenvolver uma atividade transdisciplinar ou que envolva diversas
disciplinas, pelo menos consiga elaborar um ou mais projetos que relacione o grupo de
disciplinas.
Essa visualização possibilita, ainda, ao gestor realizar reuniões com os
docentes conforme os eixos citados, melhorando a integração. É interessante que
essas reuniões podem resultar em muitas ideias e projetos, na maioria das vezes sem
investimentos ou com pouco, melhorando a qualidade do ensino e deixando para o
docente mais claro o seu papel no sistema em que está inserido.
Para cada Eixo é importante descrever as competências, habilidades e
atitudes que serão adquiridas pelo aluno ao cursar. Essa informação além de ser
relevante para o discente é fundamental para que cada docente reflita, de forma
contínua, qual o papel da sua disciplina no eixo e, consequentemente, no curso.
INÍCIO DO BOX ATENÇÃO O Conjunto de competências, habilidades e
atitudes dos eixos formam as características que compõem o perfil do egresso. FIM DO
BOX
A matriz curricular representa a estrutura do curso; portanto, é muito
relevante que todos os docentes conheçam e compreendam a sua estrutura,
atualizando ou adaptando sempre que necessário.
56
4.3.4 Integração dos Recursos: Humanos, Pedagógicos, de Infraestrutura e
Sociais
O Projeto engloba, ainda, outros aspectos do Curso, como os Recursos
Humanos e a Infraestrutura. É importante observar que todos devem estar articulados e
integrados ao perfil do egresso.
Os Recursos Humanos consistem na Coordenação, nos Técnico-
Administrativos e no Corpo Docente.
A Infraestrutura aborda desde o atendimento ao aluno, a secretaria e o
financeiro, até o cotidiano do processo ensino-aprendizagem, que pode ser sala de
aula, aula em laboratório, aulas a distância, estágios ou outros. Destaca-se que ao
optar por recursos como laboratório ou um recurso áudio-visual é necessário refletir
sobre o motivo pelo qual o estamos utilizando. Um exemplo seria uma aula de
matemática com a utilização de “Power Point” e exposição por meio de “data show”.
Será que os recursos vão auxiliar na aprendizagem ou é melhor optar por giz e lousa?
Não é uma defesa dos recursos tradicionais, mas é uma reflexão sobre a possível má
utilização. O fato de existir “data show” não implica a obrigatoriedade da utilização.
Outra situação é a associação de recursos da Educação a Distância, como
ambientes virtuais, para apoiar o ensino presencial. O fato de a ferramenta ser para
EAD não impede de utilizá-la para acompanhamento de trabalhos, para disponibilização
de materiais, para facilitar a comunicação entre alunos e professores ou para auxiliar na
integração de disciplinas.
Em relação às aulas laboratoriais, novamente, isso merece uma análise dos
objetivos da utilização dos laboratórios. Uma aula em um laboratório de informática será
para utilização de apresentações ou para a utilização/desenvolvimento de determinado
sistema que possibilitará contribuir para o objetivo da atividade?
57
4.4 PLANEJAMENTO DAS AULAS, CONSTRUÍDO EM CONFORMIDADE AO
PROJETO PEDAGÓGICO INSTITUCIONAL, À PROPOSTA DO CURSO E AOS
OBJETIVOS DE FORMAÇÃO DO EGRESSO
4.4.1 Componentes do Planejamento de Aulas
Para realizar o Planejamento das Aulas, também chamado Plano de Ensino,
é necessário ter claro, além dos componentes citados, o número de aulas. O
recomendado é que, sempre ao iniciar uma disciplina nova aos alunos, sejam
apresentados tais componentes, que podem variar conforme a Instituição ou as
mudanças nos processos avaliativos.
Sugerem-se como componentes para planejamento de aulas:
a) Ementa;
b) Objetivos da disciplina;
c) Conteúdo programático;
d) Bibliografia Básica;
e) Bibliografia Complementar;
f) Metodologias utilizadas;
g) Recursos Utilizados;
h) Cronograma;
i) Forma de Avaliação;
j) Competências e Habilidades.
58
a) Ementa: Segundo o instrumento de avaliação dos Cursos de Graduação do
MEC/INEP6 a ementa constitui-se de tópicos ou unidades de conteúdo
programático de uma disciplina, ou atividade integrante do currículo de um curso.
É um componente obrigatório e deve ser seguido pelos docentes, consistindo na
síntese do conteúdo. Para a sua alteração é necessária aprovação dos gestores
do Curso, que pode ser o colegiado ou a coordenação, conforme a forma de
funcionamento da IES7, determinada em seu regimento interno. Esta
obrigatoriedade de aprovação de órgãos superiores evita conteúdos repetidos ou
que deixariam de ser ministrados. Observa-se que a ementa deve atender as
diretrizes curriculares do curso, citadas no item 4.3.1. Para todos analisarem e
compreenderem, a seguir será apresentada a ementa da Disciplina Didática do
Ensino Superior, que estamos ministrando:
“O Papel do Docente de Ensino Superior: Seu papel no ambiente globalizado, sua
relação com os outros personagens e as tendências. Indissolubilidade: Ensino,
Pesquisa, Extensão e Gestão. Prática de Ensino Superior: Técnicas de apresentação e
ferramentas para cursos presenciais e on-line. Dimensões da avaliação.”
b) Objetivos: Os Objetivos devem ser diretos e claros e podem estar divididos em
Gerais e Específicos. Observe que devem estar relacionados com os objetivos
do curso. Os Objetivos Gerais da Disciplina Didática do Ensino Superior são:
6 MEC - Ministério da Educação do Brasil/INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira. 7 IES – Instituição de Ensino Superior.
59
Conhecer e compreender o papel docente de ensino superior e a sua inserção na
sociedade e no mercado de trabalho;
Compreender a necessidade da indissolubilidade do ensino, da pesquisa, da
extensão e da gestão;
Conhecer e aplicar os conhecimentos no planejamento, na elaboração de
estratégias e execução, em atividades de ensino, pesquisa e extensão;
Conhecer, compreender e ter capacidade para planejar e aplicar conhecimentos
relacionados aos diversos tipos de avaliação, de forma sistêmica;
Compreender os desafios e as tendências do ensino superior.
Os Objetivos Específicos da Disciplina Didática do Ensino Superior são:
Aplicar as ferramentas para ensino presencial e a distância;
Aprender a elaborar Projetos Pedagógicos, Projetos Extensionistas e de
Pesquisa;
Aprender técnicas de apresentação presenciais e a distância.
c) Conteúdo Programático: O conteúdo é o detalhamento da disciplina. Destaca-se
que o professor tem autonomia para definir como será ministrado o conteúdo,
mas ao final do período, que é anual ou semestral, conforme cada caso, as aulas
devem contemplá-lo na íntegra. Um destaque relevante é que no conteúdo se
observa algumas especificidades da instituição ou do curso, por exemplo: a
disciplina “Ética Empresarial” pode ser ministrada em curso de Administração e
em curso de Engenharia Civil pelo mesmo docente e até com a mesma ementa,
mas o enfoque deve ser diferenciado. No curso de Engenharia Civil, é
recomendado abordar questões situacionais da área, demonstrando relação do
conteúdo ao perfil do egresso. Esse fato ocorre em várias disciplinas, como pode
ser citada também “Filosofia”, que para um curso de Ciências Sociais deve dar
ênfase aos pensadores das áreas, buscando, sempre que possível, relacionar à
prática. Mas, em Administração, o processo pode ser inverso, relacionando o
cotidiano à análise com base em teóricos da atualidade. Observa-se que em
60
ambos os casos há teoria e há prática, mas a forma de abordagem deve ser
diferenciada. A seguir, apresenta-se o Conteúdo Programático da Disciplina
Didática do Ensino Superior:
O Docente e o Ensino Superior: Tipos de Instituições de Ensino Superior e de
Cursos Superiores. O papel do docente, do discente e do gestor do ensino
superior. Importância e necessidade da formação pedagógica do professor
universitário. Tendências da Educação Superior. Os desafios do docente do
Século XXI;
Indissolubilidade: Ensino, Pesquisa, Extensão e Gestão. Projeto de Curso, de
Pesquisa e de Extensão;
Prática de Ensino Superior: Competências e habilidades do docente de ensino
superior (Presencial e a distância);
Planejamento educacional e a interdisciplinaridade: Projeto Pedagógico de
Curso, matriz curricular, Planejamento de aula, instrumentos de
acompanhamento. Técnicas de apresentação e ferramentas para cursos
presenciais e on-line;
Dimensões da avaliação: Avaliação de aprendizagem, institucional, de cursos e
autoavaliação.
d) Bibliografia Básica: A bibliografia básica deve ser prevista por disciplina, sendo
que deve respeitar as orientações institucionais para definição, pois tem impacto
na compra de livros pela biblioteca e nas avaliações pelo MEC. Atualmente o
Ministério da Educação pede para ter no mínimo três livros na bibliografia básica
para as Graduações. A bibliografia básica da Disciplina Didática do Ensino
Superior consiste em:
61
CARLINI, Alda Luiza & SCARPATO, Marta. (orgs.) Ensino Superior: Questões sobre a
formação do professor. Campinas: Avercamp, 2009.
GIL, Antônio Carlos. Didática do Ensino Superior. São Paulo: Atlas, 2006.
SAVIANI, Demerval. História das Ideias Pedagógicas no Brasil. Coleção Memória da
Educação. Campinas: Atlas, 2007.
Material de Apoio produzido para a disciplina.
e) Bibliografia Complementar: A bibliografia complementar pode ser mais ampla,
em número de títulos e em abordagem e também deve ser prevista por
disciplina, sendo que deve respeitar as orientações institucionais para definição,
pois tem implicações na compra de livros pela biblioteca e nas avaliações pelo
MEC. Novamente, com o objetivo de ilustrar, apresentamos a bibliografia
complementar da disciplina:
BRASIL. Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases
da educação nacional. Brasília.
MASETTO, Marcos Tarciso. Competência pedagógica do professor universitário. São
Paulo: Summus, 2003.
Legislação atualizada da Educação Superior Brasileira.
Sites:
Unesco: http://www.iesalc.unesco.org.ve/
INEP/MEC: http://www.inep.gov.br
f) Metodologias utilizadas: As metodologias devem ser compatíveis com a matriz
curricular, com os objetivos do curso, com o projeto pedagógico e com a filosofia
institucional. Consistem nos métodos que serão utilizados para ministrar as
disciplinas. Os métodos podem ser debates, aula expositiva, estudos dirigidos,
62
análise de instrumentos e materiais diversos, trabalhos em grupo ou individuais,
análise de estudos de caso, discussões temáticas, aulas via satélite e outros.
g) Recursos utilizados: No momento do planejamento, devem ser definidos os
recursos que serão utilizados pela disciplina. Deve ser observada a metodologia,
pois há necessidade de ser compatível.
h) Cronograma: As aulas podem ser preparadas para o semestre e o docente
gerenciar como irá ministrar ou elaborar um cronograma diário, observa-se que,
independente da forma adotada pela instituição, deve-se respeitar o art. 47 da
LDB: “Na educação superior, o ano letivo regular, independente do ano civil, tem,
no mínimo, duzentos dias de trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo
reservado aos exames finais, quando houver.” Portanto, se o curso previr seis
dias por semana de aula, devem ser cumpridas no mínimo 17 semanas
semestrais; no caso de previsão de apenas cinco, serão necessárias 20
semanas. Nas semanas podem ser incluídas atividades extraclasse,
planejamento de aula, aulas a distância ou outras atividades.
i) Formas de avaliação: As formas de avaliação devem estar bem definidas e
explícitas para o alunado. A avaliação deve estar clara, pois neste momento
ficam estabelecidas “as regras do jogo”, com os pesos de cada avaliação, forma
(trabalho, testes, avaliação sem consulta, atividade e outros). Nesse momento, o
docente estabelece o chamado de “contrato”, onde se definem os direitos e
deveres do aluno e o que se espera da disciplina. De todos os elementos do
Plano de Aula ou de Ensino, é mais complicado para o professor mudar após o
início do semestre. É recomendável que, ao ingressar um novo docente à
determinada instituição, esse verifique as formas como os outros professores
avaliam para respeitar a cultura organizacional.
j) Competências e Habilidades: É muito importante descrever, e todo docente ter
claras, as competências e habilidades do Curso. No caso, elas podem ser
descritas por disciplinas ou por grupo de disciplinas, os eixos, citados na matriz
curricular (item 4.3.3). Quando uma disciplina está sendo ministrada sem refletir
63
sobre os objetivos de seu aprendizado, é necessário repensar os conteúdos
imediatamente.
INÍCIO DO BOX ATENÇÃO Os recursos, a metodologia e o conteúdo
programático podem ser alterados após o início das aulas, desde que se cumpra a
ementa e conforme as orientações da Coordenação de Curso. FIM DO BOX Tais
mudanças se justificam se foram realizadas a fim de melhor atingir aos objetivos.
Todo esse planejamento de aulas pode envolver atividades diferenciadas,
como visitas externas ou projetos integrados a outras disciplinas. Mas tais práticas
sempre devem estar contempladas no Projeto Pedagógico do Curso, além de
documentadas e formalizadas, com atas, relatórios e avaliações.
O Planejamento das aulas deve ser fornecido aos alunos ao iniciar uma nova
disciplina, deixando claro como as atividades serão desenvolvidas, as suas obrigações
e direitos, como serão avaliados e os objetivos dos conteúdos ministrados.
4.4.2 Metodologias, Técnicas e Ferramentas para Aulas
Para os cursos presenciais ou a distância é possível utilizar diversas
metodologias, técnicas e ferramentas que possibilitariam um curso apenas sobre o
tema, mas neste momento o objetivo será abordar apenas alguns procedimentos.
É relevante ponderar que o ideal é, sempre que possível, utilizar instrumentos
variados, pois os alunos têm formas de aprendizado diferentes e assim é possível
atingir melhor a todos. INÍCIO DO BOX ATENÇÃO Lembre-se de que o resultado de
sucesso no aprendizado depende do aluno e das condições em que o ensino é
ofertado. FIM DO BOX Ao mesmo tempo em que é difícil o aluno aprender se não
estiver motivado, é uma falha institucional não ofertarmos condições para a motivação.
O docente, por sua vez, deve atuar buscando os melhores resultados, considerando as
condições e os recursos limitados.
64
a) Aulas Expositivas Presenciais ou à Distância
As aulas expositivas podem ser presenciais ou não. No ensino tradicional é
utilizada, na maioria das vezes, para transmitir o conteúdo, que posteriormente será
cobrado por meio de avaliações. Atualmente os alunos têm demonstrado a necessidade
das atividades práticas serem agregadas às aulas expositivas. Elas podem ser
utilizadas para transmitir conceitos e expor ideias, mas podem ser complementadas
com propostas pedagógicas em que os alunos sejam agentes ativos do processo.
Neste caso, o tempo de exposição passa a ser menor, podendo ser contemplada a
carga horária com projetos de pesquisa ou extensão ou atividades laboratoriais ou
práticas.
Nas aulas expositivas, o docente deve se preocupar muito com a linearidade,
ou seja, com a sequência de ideias e sempre buscar um feedback do aluno, seja por
meio do seu olhar, por questionamentos em sala ou por instrumentos que avaliam a
exposição.
Não é viável a exposição ter excesso de conteúdo e nem de ideias a serem
apresentadas, pois os alunos tendem a perder a informação, além de que é
recomendável o conteúdo sempre vir acompanhado de outro meio de comunicação,
podendo ser impresso ou arquivos digitais. Na impossibilidade de enviar todo o
conteúdo impresso anteriormente, auxilia muito o aprendizado o aluno possuir pelo
menos os tópicos impressos.
A cada aula, é importante iniciar explicando os seus objetivos e se houver
alguma atividade adicional comunicar aos alunos.
Gil (2008, p.138) destaca alguns aspectos relevantes para uma
apresentação:
A Voz: O autor destaca a sua importância e argumenta que o docente
deve conhecer a sua própria voz, gravando e ouvindo. É um fator
importante de entretenimento ao aluno devendo ser observado fatores
como: respiração, intensidade, dicção, velocidade e ritmo.
Expressão Corporal: É muito importante atentar para expressão corporal e
para a sua postura em sala. Um docente deve buscar se posicionar mais
65
ao centro. Às vezes caminhar para o meio da sala é importante para
demonstrar atenção para com todos. Deve ter cuidado com posições das
pernas, com as mãos no bolso, com as canetas e outras situações.
Observe que ao utilizar “data-show” ou outro recurso, o docente deve ficar
também na frente, mas no lado contrário ao do recurso. A utilização de
tópicos em papel, em “data-show” ou em lousa é muito adequada, pois
auxilia na orientação da exposição. A utilização de textos em “data-show”,
de apresentações muito coloridas ou com excesso de recursos sonoros e
de “efeito”, na maioria das vezes, prejudica a exposição.
O contato Visual: É relevante se preocupar com o contato visual,
buscando dar atenção especial aos olhos mais desatentos, como uma
forma de demonstrar a importância pelo aprendizado do aluno.
Observe que, como foi citado, as aulas sempre necessitam de uma sequência
e separá-las em tópicos que contemplem uma introdução, o desenvolvimento e uma
conclusão é algo muito interessante e didático.
b) Mesas Redondas
Reunir dois ou mais docentes, profissionais de mercado ou alunos que
podem trazer contribuições relevantes para um debate direcionado sobre determinado
tema é uma forma de aprendizado interessante e que sai do tradicional da sala de aula,
podendo contribuir muito para o aprendizado.
Uma experiência interessante, realizada por um Curso de Engenharia de
Produção Mecânica foi uma mesa redonda sobre o filme “Tempos Modernos” do Gênio
Charles Chaplin. Na ocasião, reuniam-se à mesa um Administrador, um Cineasta e um
Sociólogo (observe que nenhum deles era Engenheiro e os alunos consideraram o
resultado muito satisfatório para o aprendizado). Os organizadores eram professores da
área de Engenharia, justamente para alinhar os objetivos da mesa redonda ao do curso
e eles faziam toda a condução do processo, desde a abertura até o encerramento. De
uma forma descontraída os alunos aprendiam e ao final elogiaram muito a iniciativa.
66
Outra experiência interessante é trazer alunos ou ex-alunos para contarem as
suas experiências profissionais ou de pesquisa, inclusive para retirar os “medos” dos
Trabalhos de Conclusão de Curso. Ao convidar um grupo de três ou quatro ex-alunos
para apresentarem novamente seu trabalho para os alunos atuais, proporcionando uma
mesa redonda, é perceptível a satisfação de todos (alunos e ex-alunos), pois há um
crescimento conjunto na troca.
c) Discussões Temáticas, Reflexões, Debates e Análise de Estudos de Caso,
com Textos de Apoio e/ou Instrumentos
Outra prática interessante utilizada é a discussão em grupos ou em sala,
utilizando-se textos de apoio, filmes, estudos de caso ou outros. A utilização de estudo
de caso deve sempre ser associada às teorias aprendidas nas disciplinas, pois não há
prática sem teoria. A teoria tem que ser identificada pelo aluno ao analisar as questões
situacionais. O professor deve ser um motivador desse processo, além de contribuir
com esclarecimentos, complementações e problematizações.
d) Participações em Congressos, Seminários e Outros
A participação do aluno, muitas vezes em conjunto com o professor, em
atividades internas ou externas à instituição, pode ser uma importante estratégia para o
crescimento do aluno e consequentemente para o currículo do docente. O docente
deve participar, assim como incentivar a participação de seus alunos. Um aluno de
graduação, ao elaborar um trabalho de iniciação, necessita da orientação e do
acompanhamento do docente, que deve ser periódico, sistemático e dirigido.
e) Estudo Dirigido
O Estudo dirigido, em trabalhos de conclusão de curso, ou em trabalhos
complementares às disciplinas requer, na maioria das vezes, um atendimento periódico
e individualizado do docente, mas é uma forma de possibilitar ao aluno a construção do
67
conhecimento e incentivar a publicação e/ou produção. Pode ser realizado
individualmente ou em grupo de pesquisa.
f) Aulas Laboratoriais
Por atividades laboratoriais são compreendidas atividades em que se simula
um ambiente, não necessariamente utilizando-se de laboratório, podendo utilizar
estudos de caso ou outros. Há até instituições que estão desenvolvendo laboratórios
virtuais, com simulador para abertura e gestão de empresa.
g) Apresentação de Seminários em sala
Os seminários são relevantes para incentivar o aluno a assumir a
responsabilidade pelo processo ensino-aprendizagem, além de ser uma forma de o
aluno expor e compartilhar ideias. É recomendado em Trabalhos de Conclusão de
Curso ou pesquisas mais elaboradas. A prática cotidiana de tal recurso deve ser muito
bem analisada, pois há alguns aspectos que dificultam a sua operacionalização e
avaliação, pois:
possibilita uma avaliação muito subjetiva;
há alunos que têm dificuldade de exposição, e este fato não deve ser
confundido com conhecimento, exceto para cursos de oratória ou
situações muito específicas;
o professor deve ser agente participativo do processo, pois necessita
intervir sempre que faltar algo para complementar, evitando que os alunos
deixem de ter conteúdo ou que aprendam conceitos errôneos;
perde-se muito tempo e na maioria das vezes a carga horária é limitada.
As apresentações podem ser realizadas, mas recomenda-se que seja
analisada a viabilidade, conforme a disciplina e o conteúdo e que não seja utilizada a
maior parte do tempo, nem tenha o maior peso para a nota na disciplina.
68
h) Trabalhos em Grupo ou Individuais
O Critério para definir se um trabalho ou uma avaliação será individual ou em
grupo deve ser sempre a análise sobre qual forma o aluno poderá obter maior
aprendizado. Atividades em grupo devem ser realizadas na faculdade, pois dessa forma
ensina-se ao aluno como trabalhar em equipe, desenvolvendo habilidades como
relação interpessoal ou liderança, além de otimizar recursos humanos para melhores
resultados. Observa-se, porém, que as atividades individuais, também, são
necessárias, principalmente para avaliação, pois a instituição de ensino necessita
verificar se o aluno obteve o aprendizado mínimo esperado e necessário para o
exercício da profissão.
Destaca-se, ainda, que todas as atividades devem ser planejadas e sempre
relacionadas aos objetivos da disciplina e do curso, além de ser necessário descrever o
processo para melhorar o Projeto Pedagógico do Curso e para que outros docentes
possam realizar também. É comum um curso não possuir suas práticas escritas ou
documentadas e, ao receber uma visita do Ministério da Educação, o curso ser mal
avaliado, pois as atividades são consideradas inexistentes; por esse motivo, é muito
importante frisar a necessidade dos procedimentos formais para a realização das
atividades.
4.4.3 Ferramentas para Cursos a Distância e os Desafios Docentes
No ensino a distância é possível recorrer a diversos Ambientes Virtuais de
Aprendizado (AVA), sendo que as plataformas mais utilizadas no Brasil são Moodle e
Teleduc. A utilização dos diversos recursos, também, deve estar relacionada aos
objetivos do aprendizado.
Entre as ferramentas/estratégias destacam-se:
a) espaços para depósito de materiais de docentes e de alunos;
b) chat;
c) fórum;
69
d) portfólio;
e) espaço para vídeos;
f) mural;
g) correio;
h) disponibilização de informações com histórico avaliações e outros;
i) calendário;
j) formas de avaliação de aprendizado on-line.
INÍCIO DO BOX ATENÇÃO O Professor, ao ministrar os conteúdos
utilizando-se de ferramentas a distância, deve ter claro que novas competências devem
ser aprendidas e que será muito mais cobrada a interatividade com os alunos. FIM DO
BOX O fato de o docente não estar presente fisicamente propicia aos alunos
comportamentos diferentes, além da cobrança intensa de respostas imediatas. O
docente necessita, portanto, fornecer respostas em pouco tempo, além de ser um
importantíssimo agente de retroalimentação do processo ensino-aprendizagem,
identificando o desempenho de forma individualizada. A utilização da imagem do
professor e do aluno, ainda que de forma assíncrona8, auxilia para minimizar essa
distância.
Outro fator que se deve considerar são as ferramentas para Educação a
Distância, um erro de comunicação nessa modalidade de ensino tem implicações muito
mais graves do que no ensino presencial, pois o processo está documentado. Assim
como o crime de plágio, que pode ser realizado por qualquer um dos agentes.
Portanto, o docente, ao cometer um erro, ainda que conceitual, deve pedir
desculpa e continuar o seu trabalho, pois falhas acontecem; mas o plágio ou falta de
ética por parte do docente ou do aluno não pode ser aceito em hipótese alguma.
Para finalizar este tópico, é importante destacar que as ferramentas, os
ambientes virtuais e os processos de educação a distância podem auxiliar muito ao
ensino presencial e podem ser utilizados em perfeita harmonia. Outro fator a ser citado
8 Assíncrona – Em tempo não real. No caso de imagem, pode ser uma foto.
70
é que a educação e os docentes necessitam urgente e constantemente rever as suas
práticas pedagógicas.
71
5 DIMENSÕES DA AVALIAÇÃO
5.1 A AVALIAÇÃO
Os processos avaliativos envolvem valores, julgamento, poder; portanto,
sempre é delicado abordar o tema, pois as pessoas temem o processo e os seus
resultados. Um processo avaliativo, ao ser planejado, deve ser ético, útil, viável e claro
para todos os agentes envolvidos. Para tal, é fundamental definir os objetivos do
processo.
5.2 AVALIAÇÃO DE APRENDIZAGEM
A avaliação de aprendizagem do aluno é um momento muito significativo para
ele, principalmente em uma educação voltada aos resultados avaliativos, ou seja, que
estes definem o seu futuro. INÍCIO DO BOX ATENÇÃO O Ensino deve ser voltado ao
aprendizado e a avaliação é a verificação desse resultado. FIM DO BOX Portanto, se o
aluno conseguiu aprender o exigido pela disciplina, ele deve ser aprovado. Observa-se
que, ao avaliá-lo, deve-se considerar o seu aprendizado, assim como as implicações na
carência parcial deles.
A avaliação deve ser clara e na apresentação do plano de aula devem ser
apresentados os critérios, podendo ser classificada das seguintes formas:
a) Contínua – quando o aluno é avaliado constantemente, de maneira
formativa. Em cada etapa do processo ensino-aprendizagem, agregam-se
informações a seu respeito. É uma forma de avaliação em que se
possibilita maior flexibilidade para correções no processo, melhorando os
resultados, mas para a sua realização é necessário um acompanhamento
praticamente individualizado dos alunos, podendo se tornar inviável.
72
b) Tradicional – o aluno recebe ou busca a informação e, ao final do
processo, realiza uma avaliação que irá mensurar o conhecimento
adquirido.
c) Instrumentos Combinados – a utilização de avaliação tradicional, somada
a trabalhos em grupo ou individuais e atividades.
d) Isolada ou Integrada – a avaliação pode ser apenas de uma disciplina
(isolada) ou abordar de forma integrada mais de uma, sendo que em
algumas instituições há até uma avaliação conjunta de todas as
disciplinas. Apesar de a avaliação integrada ser defendida por muitos
teóricos, há algumas reflexões necessárias sobre a sua aplicação, que
são:
O fato de ser um único instrumento avaliativo, como uma prova que
aborda mais de uma disciplina, não significa que a avaliação é
interdisciplinar ou integrada, pois pode ser uma avaliação que contém
questões isoladas de várias disciplinas. Como exemplo, podemos
citar os concursos públicos, que abordam várias disciplinas em
apenas uma avaliação, mas cujas questões não são integradas.
Elaborar uma avaliação interdisciplinar ou integrada é algo mais
difícil, principalmente quando há disciplinas com dificuldade de
relação.
Não tem lógica a avaliação ser integrada e os conteúdos serem
ministrados durante o curso de forma isolada, pois isso gera apenas
confusão para o docente.
Docentes e discentes ao trabalharem com avaliação integrada
necessitam de orientação anterior e de conhecer de forma prática o
processo, evitando-se problemas no processo.
e) Individual ou em Grupo – para decidir se a avaliação deve ser individual
ou em grupo, novamente é bom lembrar a necessidade de coerência com
o que se espera da avaliação e do egresso. Destaca-se que, em situações
73
comuns, não se justifica uma avaliação em grupo, pois o mercado não
costuma avaliar as pessoas dessa forma, mas, ao desenvolver um
complexo projeto de pesquisa, essa pode ser uma alternativa. Outra
hipótese é utilizar a avaliação em grupo para compor parte da nota.
Um aspecto polêmico é se a avaliação tem o objetivo de mensurar os
conhecimentos adquiridos pelo aluno (avaliação conteudista) ou se deve ser uma
avaliação que possibilite a reflexão e que verifique a capacidade de análise e
articulação do aluno, considerando-se os conteúdos absorvidos no período. O que se
pode afirmar é que, sempre que possível, é recomendado optar por um instrumento
avaliativo que mensure a capacidade de análise do aluno e que incentive o seu
aprendizado.
Outros aspectos polêmicos envolvendo avaliação podem ser citados, como:
a opção de utilizar questões abertas ou fechadas;
a utilização de estudos de caso;
o peso que se deve dar a cada questão ou a cada instrumento;
a utilização de trabalhos e outros instrumentos avaliativos.
Novamente, é importante lembrar que depende do Projeto Pedagógico de
Curso, dos recursos disponíveis, da filosofia da IES e das Normas Institucionais, mas
que é recomendável utilizar diferentes tipos de instrumentos, lembrando que INÍCIO DO
BOX ATENÇÃO Os alunos têm diferentes formas de aprendizado, devendo ser
respeitadas as suas diferenças. Respeitá-las não significa facilitar o processo avaliativo,
mas possibilitar que demonstre o aprendizado de diversas formas. FIM DO BOX
74
5.3 O SINAES – SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO
SUPERIOR
O SINAES – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – foi
elaborado pelo MEC/INEP. O objetivo é conhecer os métodos avaliativos e melhorar
suas práticas pedagógicas e a sua visão global na educação. O Sistema é composto
das seguintes avaliações:
a) Autoavaliação – a autoavaliação é o processo interno de avaliação da
instituição e possui as mesmas dimensões que a avaliação institucional,
que segundo a Lei Federal 10.861 de 14 de abril de 2004, que instituiu o
SINAES, são:
I. A missão e o plano de desenvolvimento institucional;
II. A política para o ensino, a pesquisa, a pós-graduação, a extensão;
III. A responsabilidade social da instituição;
IV. A comunicação com a sociedade;
V. As políticas de pessoal, as carreiras do corpo docente e do corpo
técnico-administrativo;
VI. Organização e gestão da instituição;
VII. Infraestrutura física;
VIII. Planejamento e avaliação;
IX. Políticas de atendimento aos estudantes;
X. Sustentabilidade financeira.
A Instituição elabora um Plano de Avaliação Institucional que contenha o
objetivo de avaliar as dez dimensões citadas, podendo ser utilizados
instrumentos qualitativos ou quantitativos. Essa avaliação é organizada
pela própria instituição, que para a sua realização deverá nomear uma
75
CPA (Comissão Própria de Avaliação) composta de representantes dos
seguintes segmentos:
1. Discentes;
2. Docentes;
3. Técnico-administrativos;
4. Comunidade Externa.
Não é a CPA necessariamente que irá planejar e conduzir o processo,
mas ela deverá acompanhar, além de assinar e se responsabilizar pela
veracidade dos resultados. O que se recomenda ao elaborar uma
autoavaliação é o maior envolvimento possível da comunidade interna e
da externa, considerando o ambiente em que está inserida. As etapas
tradicionais de um processo de autoavaliação são compostas de:
1. Sensibilização: etapa em que há um trabalho com a comunidade,
buscando divulgar os objetivos, demonstrando o caráter não punitivo
(no caso de não ser punitivo, pois é o que se recomenda) e em
alguns casos até propondo pessoas para colaborar na elaboração
dos instrumentos. Para maior credibilidade e sucesso no período de
sensibilização é fundamental que os membros da CPA, assim como
os responsáveis pela elaboração e condução do processo,
transmitam para a comunidade acadêmica uma confiabilidade;
2. Autoavaliação (operacionalização): consiste na operacionalização da
autoavaliação na prática, momento em que são elaborados e
aplicados os instrumentos;
3. Tabulação, Mensuração e consolidação: após a aplicação dos
instrumentos de autoavaliação, tabulam-se e consolidam-se os
dados;
4. Análise e difusão dos Resultados: os dados são analisados e
realiza-se a difusão para a comunidade. Observa-se que a análise
76
pode ser participativa por meio de fóruns abertos, ou com
representantes ou pelas áreas. Podem-se usar papel impresso,
internet, rádio interna e outros meios para a difusão.
5. Reavaliação ou Meta-Avaliação: momento em que se realiza uma
avaliação do processo avaliativo e a emissão de relatórios finais.
6. Replanejamento: consiste no planejamento para o novo ciclo.
Observa-se que a avaliação não precisa seguir de forma linear todas
as etapas, podendo ser realizadas de forma simultânea. Ao término,
fecha-se um ciclo para início do próximo. O processo de
autoavaliação deve estar muito coerente com a proposta pedagógica
da Instituição, com as metas estabelecidas no PDI (Plano de
Desenvolvimento Institucional) e com os Projetos Pedagógicos dos
Cursos. Também se observa que deve ser respeitada a cultura da
instituição, pois as dez dimensões citadas devem ser abordadas,
mas a forma como será desenvolvido o processo avaliativo é livre.
Para o sucesso do processo é recomendável:
Possuir diversos olhares internos: óptica dos discentes,
docentes, gestores, técnicos administrativos e profissionais
terceirizados;
Possuir olhares externos: óptica do egresso e de outros agentes
da comunidade externa;
Combinar diferentes instrumentos: quantitativos e qualitativos,
de opinião e documentais;
Elaborar e cumprir cronograma.
INÍCIO DO BOX ATENÇÃO A avaliação na óptica do egresso é
fundamental para verificar a empregabilidade dos ex-alunos, assim como
a sua intervenção social e a melhora da qualidade de vida. FIM DO BOX
Essa parte da avaliação está diretamente relacionada à responsabilidade
social da Instituição de Ensino.
77
b) Avaliação Institucional: realizada pelo MEC/INEP9, a avaliação
institucional pode ter o objetivo de permitir o funcionamento
(credenciamento) ou a continuidade (recredenciamento) de Faculdades
Isoladas, Faculdades Integradas, Centros Universitários ou Universidades.
No ano de 2009, foi realizada esta avaliação em diversas instituições no
país, englobando análise documental e visita “in loco”.
c) Avaliação de Curso: assim como a avaliação institucional, também
engloba análise documental e visita “in loco”, sendo responsável o
MEC/INEP. Esta avaliação tem o objetivo de autorizar um curso novo ou
de reconhecer ou renovar reconhecimento de cursos antigos. Aborda três
dimensões:
I. Organização Didático-Pedagógica;
II. Corpo Docente, Corpo Discente e Corpo Técnico-Administrativo;
III. Instalações Físicas.
d) ENADE – Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes: que,
conforme o INEP (2009), tem o objetivo de aferir o rendimento dos alunos
dos cursos de graduação em relação aos conteúdos programáticos, suas
habilidades e competências.
5.4 INDICADORES DO GOVERNO FEDERAL
Além dos processos avaliativos citados, o MEC/INEP criou dois indicadores
que são:
9 MEC - Ministério da Educação do Brasil/INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira.
78
a) CPC – Conceito Preliminar de Curso
Conforme o MEC/INEP:
O CPC tem como base o Conceito Enade (40%), o Conceito IDD (30%) e as variáveis de insumo (30%). O dado variável de insumo – que considera corpo docente, infraestrutura e programa pedagógico - é formado com informações do Censo da Educação Superior e de respostas ao questionário socioeconômico do ENADE.
b) IGC – Índice Geral de Cursos:
Conforme o INEP:
[O] Índice Geral de Cursos da Instituição (IGC) é um indicador de qualidade de instituições de educação superior que considera, em sua composição, a qualidade dos cursos de graduação e de pós-graduação (mestrado e doutorado). No que se refere à graduação, é utilizado o CPC (conceito preliminar de curso) e, no que se refere à pós-graduação, é utilizada a Nota Capes. O resultado final está em valores contínuos (que vão de 0 a 500) e em faixas (de 1 a 5).
O MEC/INEP afirma ainda que o IGC de cada IES do Brasil será divulgado
anualmente, sempre em momento imediatamente posterior à divulgação dos resultados
do ENADE e do CPC.
79
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A carreira docente, em todos os níveis, é muito importante para a sociedade.
Ser um professor não é uma função ou segunda atividade, mas uma profissão e
devemos exigir sempre que a sociedade considere dessa forma.
Optar por ser docente é algo gratificante, mas que implica compromissos com
a sociedade em geral, em especial com os alunos, com o aprendizado contínuo, com a
pesquisa e com extensão. Esse compromisso envolve a necessidade da revisão diária
das nossas práticas e das nossas ações, em reflexões como: Qual o nosso papel como
educador? Qual a contribuição das nossas aulas na formação dos alunos? Qual a
relevância das pesquisas e das publicações que realizamos? O que podemos fazer
para melhorar a nossa contribuição social? Qual é realmente a minha responsabilidade
com a sociedade? Qual o papel que temos na vida das pessoas como Educador?
INÍCIO DO BOX ATENÇÃO Ser professor é aprender sempre, é aprender a
aprender e rever as nossas práticas de forma contínua. FIM DO BOX
A educação e os seus métodos evoluíram muito pouco no Século XX, com
práticas de uma sociedade completamente diferente da atual. É necessário e urgente
que educadores e instituições de ensino reavaliem os seus processos e compreendam
a sociedade, fazendo uma releitura dos processos ensino-aprendizagem.
Parabenizo a todos que optaram pela carreira docente, mas destaco que ela
está repleta de desafios e de realidades, com muito mais perguntas do que respostas.
80
REFERÊNCIAS
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Educação, 2007.
BRASIL. Lei Federal nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional. Brasília: Ministério da Educação, 1996.
BRASIL. Lei Federal nº 10.861, de 14 de abril de 2004. Institui o Sistema Nacional de
Avaliação da Educação Superior – SINAES e dá outras providências. Brasília: Ministério
da Educação, 1996.
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formação do professor. Campinas: Avercamp, 2009.
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XXI. São Paulo: Cortez, 2006.
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INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
http://www.inep.gov.br, pesquisa realizada em 19/06/2009.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISA. Diretrizes para Avaliações das
Instituições de Educação Superior. Brasília: Ministério da Educação, 1996.
81
MASETTO, M. T. Competência pedagógica do professor universitário. São Paulo:
Summus, 2003.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO/INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS
EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Resumo Técnico – Censo da Educação
Superior 2007. Brasília: MEC/INEP, 2009.
______. Orientações Gerais para o Roteiro da Autoavaliação das Instituições.
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PIMENTA, S. G. & ANASTASIOU, L. das G. C. Docência no ensino superior. São
Paulo: Cortez, 2005.
ROSSATO, R. Século XXI: Saberes em Construção. 2ª ed., Passo Fundo:
Universidade de Passo Fundo, 2006.
______. Universidade: Nove Séculos de História. 2ª ed., Passo Fundo: Universidade
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SAVIANI, D. História das Ideias Pedagógicas no Brasil. Coleção Memória da
Educação. Campinas: Atlas, 2007.
82
UNESCO. Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século XXI: Visão e
Ação. Paris: UNESCO, 1998.
84
LEITURAS COMPLEMENTARES
DEMO, P. Professor/Conhecimento. 1ª ed. Brasília: UNB, 2001.
______ Universidade: Nove Séculos de História. 2ª ed., Passo Fundo:
Universidade de Passo Fundo, 2005.
CARLINI, Alda Luiza & SCARPATO, Marta. (orgs.) Ensino Superior: Questões
sobre a formação do professor. Campinas: Avercamp, 2009.
Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século XXI: Visão e Ação.
Paris: UNESCO, 1998.
DEMO, Pedro. Desafios Modernos da Educação. São Paulo: 1ª Ed. São Paulo:
Vozes, 2000.
DIAS SOBRINHO. Avaliação: Políticas Educacionais e Reformas de Educação.
1ª ed. São Paulo: Cortez, 2003.
DOWBOR, Ladislau; IANNI, Octávio e RESENDE, Paulo-Edgar de Almeida
(Orgs.). Desafios da Globalização. 4ª. ed., Petrópolis: Vozes, 2002.
GIL, Antônio Carlos. Didática do Ensino Superior. São Paulo: Atlas, 2008.
MORIN. Edgar. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. São
Paulo: Cortez, 2000.
ROSSATO, Ricardo. Século XXI: Saberes em Construção. 2ª ed., Passo Fundo:
Universidade de Passo Fundo, 2006.
SACRISTÁN, J. Gimeno. O Currículo: Uma Reflexão sobre a Prática. 1ª ed.,
Porto Alegre: ArtMed, 2000.
SAVIANI, Demerval. História das Ideias Pedagógicas no Brasil. Coleção
Memória da Educação. Campinas: Atlas, 2007.
85
SCHIMIDT, Benício Viero, OLIVEIRA, Renato de & ARAGÓN, Virgílio Alvarez
(Orgs.). Entre Escombros e Alternativas: Ensino Superior na América Latina.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro et al. Currículo e Avaliação na Educação
Superior. Uberlândia: Junqueira & Marin, 2005.
86
FILMES
1- Escritores da liberdade
Comovente relato de uma experiência bem-sucedida que ainda está em
desenvolvimento, “Escritores da Liberdade” é uma lição de dedicação, norteada por
uma prática docente que trabalha com o aluno real, com suas histórias de vida,
sonhos e desilusões.
2- Pro dia nascer feliz
O filme, espécie de documentário, mostra as situações que o adolescente brasileiro
enfrenta na escola, envolvendo preconceito, precariedade, violência e esperança.
Adolescentes de três estados, de classes sociais distintas, falam de suas vidas na
escola, seus projetos e inquietações. Situações com as quais podemos nos deparar
constantemente em nossa prática docente.
3- O sorriso de Monalisa
O filme relata a prática docente vivida por uma professora de História da Arte com
ideias a frente de seu tempo, enfrentando o feminismo, o conservadorismo,
inspirando suas alunas a pensarem de modo diverso e até mesmo ousado.
4- Como estrelas na terra – Toda criança é especial
Filme indiano que mostra como a atitude cuidadosa e o olhar meticuloso de um
professor para com seu aluno podem despertar um talento por muitos ignorado,
melhorando a autoestima e o desempenho do estudante.
5- Clube do Imperador
Um professor pacato tem sua vida mudada por um novo aluno que chega á escola.
O que inicialmente traz um profundo transtorno acaba desencadeando uma grande
amizade entre ambos, refletindo na vida futura de ambos.
87
ESTUDO DE CASO
Artigo da Revista Ensino Superior nº 44 - 200710
Simples assim
Professor do Núcleo de Formação de Educadores da PUC-SP ensina como tornar as aulas mais
atraentes – sem gastar dinheiro
As universidades têm investido em equipamentos de ponta para atrair a atenção
dos alunos. Nas supersalas, há computadores ligados à internet, data show,
retroprojetor, home theater. Qualquer professor que dê aulas apenas expositivas
conhece bem a apatia dos alunos e o paradoxal respeito dos colegas de profissão. No
entanto, o professor de pós-graduação Marcos Masetto garante que manter uma classe
concentrada não custa nada além de alguns minutos diários de preparo - na frente da
TV, no cinema, lendo jornais e revistas. Em suas aulas de didática e metodologia do
ensino superior no Núcleo de Formação de Educadores da PUC-SP, Masetto ensina
aos futuros professores que, além de passar conteúdo, é preciso também saber fisgar o
aluno, mimado pela era da velocidade. Se tornar uma aula mais atraente pode ser
trabalhoso, mais difícil ainda é vencer a resistência do restante do corpo docente,
acostumado a dividir méritos com a tecnologia. Masetto não descarta o fascínio de uma
sala bem equipada nem ignora as jornadas de trabalho extenuantes a que se
submetem muitos professores. Mas se mantém firme ao dizer que uma aula atraente
pode ser feita apenas com conteúdo e boa vontade: "Se o professor tem muitas aulas e
pouco tempo, é só ele preparar trabalhos diferentes com uma turma apenas. Com o
tempo, ele vai ganhando confiança e estende sua metodologia para todas as classes.
Dar aulas pode ser muito mais gratificante."
Ensino Superior - Quais são as deficiências na formação do professor?
Marcos Masetto - Meu trabalho no Núcleo de Formação de Educadores, da PUC-SP,
visa ao desenvolvimento pedagógico de professores universitários. Dou aulas de
didática do ensino superior há 30 anos. O que tenho observado nos meus alunos é que
10 Disponível em: http://revistaensinosuperior.uol.com.br/textos.asp?codigo=10434 Acesso em
29/03/2010
88
eles dominam muito bem os conteúdos, as matérias ou disciplinas que vão lecionar,
mas têm poucas oportunidades de desenvolver as competências pedagógicas, ou seja,
a maneira de transmitir o que sabem de modo que o aluno aprenda mais
eficientemente. Há uma carência muito grande na formação pedagógica. Os
professores dominam o que vão transmitir, mas não sabem bem o que fazer para
manter a classe motivada. Como fazer o aluno se interessar pelas aulas, aprender a
pensar, produzir conhecimento, refletir criticamente, relacionar suas vivências com o
processo de aprendizagem.
Ensino Superior - Mas ser professor não pressupõe conhecimento das técnicas de
como transmitir conhecimento?
Masetto - Uma coisa é eu passar informações sobre biologia, por exemplo, e cobrar
isso numa prova. Outra coisa é estimular que o aluno se relacione com a matéria, que
compreenda a biologia e devolva esse entendimento para o professor. Hoje,
conhecimento não é mais monopólio do professor ou da escola. O acesso ao
conhecimento se faz de forma mais ágil, mais rápida, mais completa. Em qualquer área,
o profissional não é mais apenas aquele que desenvolve o domínio técnico e sim novas
soluções. É um mundo em mudança e se torna necessário pensar a formação de
professores. Questionamos o que se espera de um professor, como poderíamos fazer
com outros profissionais: o que se espera de advogados, administradores de empresas,
psicólogos, profissionais de marketing, políticos. Diante desse mundo cada vez mais
veloz e em que o acesso ao conhecimento é muito mais fácil, todas as profissões estão
em xeque.
Ensino Superior - Essa preocupação com a formação do professor não é um mérito da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), então? Masetto - Não. A LDB veio no
bojo disso tudo. A discussão quanto à formação do educador existe desde a década de
50, é um movimento internacional até, muito mais amplo. O mérito da LDB foi de entrar
nessa polêmica e focar o debate no professor brasileiro.
Ensino Superior - As pesquisas apontam que o professor brasileiro lê pouco, o que
acaba contribuindo para que os alunos também não gostem de ler. Como reverter esse
quadro? Masetto - Um dos caminhos é reverter a situação da leitura na formação inicial
do professor. As pesquisas mostram também que quanto mais os alunos avançam no
89
ensino superior, menos eles lêem. Em geral, o aluno de graduação e pós-graduação lê
estritamente o que é exigido pelos professores, nas disciplinas. Livros clássicos ou de
cultura geral, que estimulam o debate de questões mais amplas, acabam perdendo
para os livros técnicos. É preciso valorizar a leitura dentro da própria universidade. Esse
é um dos aspectos dos cursos e das atividades de reciclagem que ajudam a promover
a formação continuada dos professores. Em vez de assistir a palestras e conferências,
como habitualmente se fazia nesses cursos, hoje se trabalha com oficinas de leitura,
estimulando os professores a ler, estudar e debater.
Além disso, há um problema econômico sério: o salário do professor não dá muita
margem à compra de livros - que são caros. Então, é preciso estimular as universidades
a investir nas bibliotecas e a fazer com que os professores as frequentem. Em 1994, a
USP criou um programa de formação continuada muito interessante, que convidava
professores da rede pública a frequentar a biblioteca, conversar com educadores e
alunos de Pedagogia e Licenciatura. É uma integração muito interessante para todos:
os professores em campo se atualizam sobre os debates da academia e os alunos de
graduação têm a oportunidade de ouvir as queixas e dificuldades dos profissionais em
exercício.
Ensino Superior - Num mundo em que a imagem se impõe e, mais que a qualidade,
vale a velocidade da informação, aulas expositivas não conseguem manter classes com
100, 150 alunos concentrados. Como o professor pode melhorar a aula sem contar com
equipamentos de "multimídia"?
Masetto - Realmente, professor que dá aula para salas tão numerosas não consegue
manter os alunos atentos. Pode até mantê-los quietos, mas não concentrados. De fato,
não se trata de investir fortunas em data show, projetores, acesso à internet. O papel do
professor não é passar informação para o aluno responder. Ele tem de contribuir para
que o aluno aprenda. Para isso, o discente tem de participar da aula, realizar atividades
motivadoras e interessantes durante o tempo em que está na escola. Posso pedir para
meus alunos lerem um texto que preparei para a aula, mas já dou uma orientação: "Leia
o texto e responda a essa pergunta, porque essa resposta vai ser importante depois."
Ou então peço que o aluno leia, escreva os pontos mais importantes e veja se encontra
situações que vivenciou em casa ou no trabalho e que tenham a ver com o texto. Faço
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isso porque quero que ele participe e que a aula seja interessante. Em outra ocasião,
posso formar trios e pedir que leiam um determinado texto para os companheiros,
depois os alunos debaterão o que ouviram. O professor pode incrementar a aula com
textos de jornais e revistas ou comentários sobre programas de TV, o filme que estreou,
a peça de teatro que está em cartaz. Se trago novas informações, posso pedir que os
alunos comparem com as que trouxeram de casa ou então sugerir que escrevam um
texto. Com isso, tenho o aluno trabalhando, falando coisas interessantes, aprendendo
com os colegas e produzindo. No próximo encontro, corrijo os trabalhos e dou
prosseguimento ao conteúdo. Há centenas de técnicas de ensino. Não é preciso dispor
de muito dinheiro ou de equipamentos caros para usá-las. Quando o aluno participa da
aula, ele se interessa, se motiva e vê que está aprendendo. Também não preciso
apenas dar prova, posso usar essas atividades como parte da avaliação.
Ensino Superior - Por que os professores não fazem isso, se é tão simples?
Masetto – Esse tipo de atuação pedagógica não é valorizado na faculdade. Ainda
prevalece a mentalidade de que para ser um bom professor é preciso dominar
conteúdos - e o resto é perfumaria. Quando ele vai fazer essa outra parte, que é
fundamental, ele próprio não dá valor. Em sala de aula, o educador recém-formado vai
imitar o professor que teve na graduação. Os atuais professores tiveram aula de
didática, de psicologia educacional, aprenderam as técnicas, mas só priorizam a aula
expositiva, com muito conteúdo. Quando um professor dá uma aula diferente, os alunos
percebem, gostam e cobram dos outros professores. Aí, vira um problema para o corpo
docente, acostumado a trabalhar sempre do mesmo jeito. Eles pensam: "Se sempre
funcionou assim, para que fazer as coisas diferentes?" É mais fácil dar uma aula
expositiva.
Ensino Superior - Sem falar na pressão para que os professores sigam o programa...
Masetto - Isso é uma questão cultural, grave e séria, que exige uma mudança radical
por parte do professor. Somos escravos do programa. Em geral, nosso conteúdo é
colocado num número "x" de itens por um número "x" de horas/aula. Não se leva em
conta os assuntos mais importantes, os mais extensos ou quais pontos-chave dão
origem a uma série de conhecimentos que podem ser trabalhados juntos. Quando o
professor não tem esses critérios, distribui 60 pontos em 60 horas/aula. Há pontos
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fundamentais que, bem estudados, mesmo que se gaste 3 horas/aula com eles, depois
os outros ficam mais fáceis de ser apreendidos. Quando eu organizo o conteúdo em
temas fundamentais e temas integrados, posso ter em vez de 50 assuntos, seis, oito
grandes temas. Um assunto pequeno não merece ocupar 50 minutos de aula, o aluno
pode aprendê-lo como consequência de outro ponto. Se com um exemplo consigo fazer
o aluno entender toda uma questão, não preciso de 50 minutos para a explicação. Fiz e
faço muito trabalho com professores da Politécnica. Vários deles só corriam atrás de
cumprir um programa e não conseguiam chegar ao final. Quando eles passaram a
reorganizar o conteúdo, as aulas renderam mais.
Ensino Superior - Muitos professores têm jornadas de trabalho estressantes e dão
aulas em mais de uma instituição. Como esse profissional pode arrumar tempo para
incrementar a aula? Masetto – Incrementar as aulas não significa, necessariamente,
levar mais trabalho para casa. Não é preciso fazer trabalhos sempre. O aluno não
aprende apenas fazendo exercício. Posso passar atividades que eles mesmos corrijam
e aprendam com as correções. O professor tem de selecionar que atividade quer
revisar, não precisa corrigir todas - o que minimiza esse "levar para casa". Com isso,
não quero dizer que, ao lecionar do modo que eu proponho, ele terá menos trabalho.
Apenas será uma atividade diferenciada. Quando meus alunos aqui na PUC reclamam
que têm muitas aulas e não podem aprofundar uma didática diferenciada, digo que
esse raciocínio não leva a um bom caminho. Se o professor tem muitas classes, pelo
menos com uma delas, de preferência a que tiver menos alunos, ele deve desenvolver
projetos diferenciados. No momento em que eu começo a criar uma aula diferente com
uma turma, passo a dominar a técnica e vou ampliando para outras classes, em outras
escolas. Digo isso por experiência própria. Eu também tinha muitas classes e muitos
alunos. Depois que adquiri confiança nas aulas diferenciadas, fui ampliando, arranjei
um monitor e conseguia desenvolver uma porção de capacidades que me permitiam
trabalhar assim com várias classes. Isso torna a tarefa mais gratificante, você vê que os
alunos aprendem. Não é costumeiro, rotineiro, cansativo. De 1986 a 1990, fiz uma
pesquisa com os alunos da graduação, na USP. Na época, eles gritavam nos Centros
Acadêmicos que as aulas eram inúteis, que não aprendiam nada, que os professores
deviam liberar a presença. Os educadores ficavam ofendidos, reclamavam que se
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dedicavam, se sentiam frustrados. Publiquei essa pesquisa depois no livro Aulas Vivas.
Descobri que é possível criar aulas no ensino superior que não sejam inúteis para os
alunos e que possam ser gratificantes para os docentes. E tenho mostrado aos alunos
que vale a pena ir à aula, que ele aprende e o professor também.
Ensino Superior - Malba Tahan ensinava matemática usando coisas do dia a dia,
como grãos de arroz, animais etc. Por que esse tipo de professor não prosperou?
Masetto - Não sei dizer. Tenho dúvida se esse tipo de professor era tão frequente.
Acho que o sucesso dele foi justamente o fato de lecionar matemática de forma tão
gostosa, numa época em que todos eram conservadores. Não sei se houve uma
geração de professores que trabalhava dessa forma...
Ensino Superior - Ainda há muita confusão quanto ao fechamento dos cursos de
Pedagogia e a abertura do Curso Normal Superior. Como o senhor vê isso?
Masetto - Não entendo por que o governo criou o Curso Normal Superior. Por que as
universidades que formaram professores até hoje não são adequadas para formar
mais? É uma posição ilógica: se os cursos atuais de formação de professores não estão
formando bem, a política deveria ser a de entrar em contato com as universidades e
melhorar.
Reflita acerca dos apontamentos do professor Marcos Masetto com relação à prática
docente no ensino superior.
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TEMAS TRANSVERSAIS
As diferenças – um direito
Da mesma forma que cada homem se diferencia de seu vizinho no plano
biológico, assim, no plano cultural, religioso, ideológico, cada um tem sua própria
formação, tendências, desejos, alegrias e um sentimento de pertencer a um grupo
social definido. Cada homem é formado por uma infinidade de interações entre seu
patrimônio genético e as influências de seu meio, educação e experiências vividas.
Cada homem é único, tanto genética como culturalmente.
(...) Se suas tendências e aspirações de base são definidas uma vez por todas
pelos genes que recebeu na loteria do nascimento, por outro lado, sua personalidade é
modelada pelo meio e também por sua vontade. Ele vai se submeter mais ou menos
fortemente à influência da família e do meio social, será dependente das oportunidades
de educação ao longo de sua vida e dos encontros ocasionais que realizar. Mas,
apesar de todas essas restrições, continuará sendo um homem livre, livre em suas
escolhas, portanto, dono de parte do seu destino.
Em seu cérebro, de infinitas potencialidades, formar-se-ão os julgamentos, as
tomadas de posição, elaborar-se-ão conceitos antigos e novos e, quem sabe,
revolucionários. Suas opiniões e conceitos encontrarão eco em outros cérebros ou, ao
contrário, se entrechocarão com novas ideias.
(...) A liberdade de pensamento, a livre expressão de opiniões, o livre exercício
das culturas não são mais que a expressão das diversidades individuais dentro do
respeito de mútua estima. Cada indivíduo tem um direito inalienável à diferença porque,
biológica e ideologicamente, a diferença não é um direito, mas uma necessidade
absoluta, poderíamos dizer, um dever em relação à espécie humana.
A diversidade de opiniões, de filosofias, de pontos de vista, de crenças de cada
membro de uma coletividade é em si portadora de esperança e riqueza, que é preciso
não só tolerar, mas cultivar e incentivar.
Quem exige um direito para si mesmo deve compartilhá-lo com os demais. De
posse desse direito exigido e concedido, cada um deve assumir sem vergonha suas
diferenças de nascimento, cor, língua ou religião.
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(DAUSSET, Jean. “Pour lês droits de l’homme”. In: SEVERINO, Antonio
Joaquim. Filosofia da Educação: construindo a cidadania. São Paulo:
FTD, 1994 p. 84)
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TEMAS EMERGENTES
1- Acesse os instrumentos avaliativos do INEP e busque conhecê-los.
http://www.inep.gov.br/superior/condicoesdeensino/manuais.htm
2- Digite o seu currículo na Plataforma Lattes. Essa plataforma consiste em
uma base de dados do governo federal, disponível no site www.cnpq.br.
Ela é utilizada para recrutamentos de órgão públicos, consulta de
instituições públicas e privadas e outros.
3- Conheça e navegue com frequência no site do Ministério da Educação
(www.mec.gov.br) e do INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (www.inep.gov.br).
Dicas:
1. Muito cuidado com cursos de graduação ou pós-graduação no exterior,
pois a convalidação é difícil e depende de instituições no Brasil, podendo
ocasionar custo alto, anos para realização, ou até mesmo a não
aceitação, que é o mais provável.
2. Ao ingressar em uma Instituição procure saber a sua filosofia, suas
práticas e a sua cultura organizacional. Esse procedimento pode ser muito
importante para o seu desempenho profissional.
3. Faça uma avaliação da sua carreira, com base nas tendências e desafios
e reflita sobre o futuro.
4. Procure, com habitualidade, alternativas para financiamentos de projetos
na internet, pois poderão aparecer oportunidades interessantes.
5. Analise as suas competências e habilidades e compare com as exigências
do mercado.
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6. Sempre, ao iniciar o trabalho como docente de um curso, conheça o
Projeto Pedagógico e verifique quais as práticas comumente adotadas
pelos docentes.
7. Busque ser uma agente do processo de construção do curso que é ou
será docente, participando das atividades, propondo projetos e atividades
e revendo as práticas pedagógicas.
8. Ao atuar como docente, avalie constantemente as suas práticas
pedagógicas.
Reflita sobre os instrumentos avaliativos que elabora ou que irá
elaborar. Eles estão condizentes com os objetivos?
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