O sOnhadOr …
Língua Portuguesa
Professora Elisabete Miguel
Mikeias Costa - 10º F – N.º 22
ESCOLA ARTÍSTICA ANTÓNIO ARROIO
Índice
Introdução
Poemas
o Sonho
o Pilotagem
o O primeiro de todos os meus sonhos
o Mergulha nos sonhos
o Não o sonho
o Tudo quanto sonhei se foi perdido
o Janela do sonho
o Che Guevara
o Acordando
o Fantasia
o Dor suprema
o O passado é presente na lembrança
o Gozo sonhado é gozo, ainda que em sonho
o Sonho. Não sei quem sou
o Entre sono e sonho
o Em plena vida e violência
o Sonho
o Quem?
o Anoitecer
o Dizem?
Ilustração
Porquê este poema e esta ilustração?
Porquê a escolha deste tema?
Conclusão
Webgrafia
Introdução
A professora de português propos a elaboração de um dossiê, de tema
livre, mas com uma linha condutora, no qual deveríamos incluir pelo menos 20
poemas em língua portuguesa, de poetas diferentes. Dos poemas escolhidos,
teríamos de eleger um, ilustrá-lo e explicar a razão da nossa ilustração.
Para concretizar o meu trabalho, comecei por pesquisar na internet,
depois escolhi os poemas de que mais gostei. Não tenho o número de poetas
pretendido pois, durante a fase de seleção, dei mais importância aos poemas e
aos temas abordados do que aos escritores.
O meu tema é “sonhos”. Sonhos, em geral, tanto aqueles que temos
durante o sono como aqueles que, acordados, construímos sobre o futuro.
Identifico-me bastante com este tema, sou um grande sonhador, amo a
liberdade dos sonhos. Viver sem ter liberdade de sonhar, é uma vida sem
esperança, uma vida incolor.
Dado que apenas procurei os poemas na internet e, por falta de
tempo, nem sempre testei em diferentes sítios, admito que possa haver um
ou outro erro. O poema que eu elegi para ilustrar, "Gozo Sonhado é Gozo,
ainda que em Sonho" , chamou-me logo à atenção pelo título e, depois, ao
lê-lo, senti profunda afinidade com a mensagem poética.
Para a ilustração do poema, usei uma foto que eu tirei numa aula de
projeto e tecnologia. Aguarelas no meu diário de projeto. Depois de ter
parado para olhar longamente a mancha, pensei que, por vezes, os sonhos
são como gotas de tinta que estão paradas numa folha e que por algum
motivo não se juntam nem se tocam.
Sonho
Teria passado a vida
atormentado e sozinho
se os sonhos me não viessem
mostrar qual é o caminho
umas vezes são de noite
outras em pleno de sol
com relâmpagos saltados
ou vagar de caracol
quem os manda não sei eu
se o nada que é tudo à vida
ou se eu os finjo a mim mesmo
para ser sem que decida.
Agostinho da Silva, in Poemas
Pilotagem
E os meus olhos rasgarão a noite;
E a chuva que vier ferir-se nas vidraças
compreenderá, então, a sua inutilidade;
E todos os sinos que alimentavam insónias
hão-de repetir as horas mortas
só para os ouvidos da torre;
E os outros ruídos abafar-se-ão no manto negro da noite;
E a mão alva que me apontava as noites
e ficou debruçada no postigo
amortalhada pela neve
reviverá de novo;
E os meus braços se erguerão transfigurados
para o abraço virgem dos teus braços
que andava perdido, sem dar fé deste meu reino;
E todas as luzes que tresnoitarem os homens
apagar-se-ão;
e o silêncio virá cheio de promessas
que não se cansaram na viagem;
E todos os povos de Babel
com as riquezas que há no mundo
virão festejar em minha honra;
E todos os caminhos se abrirão
para os homens que seguirem de mãos dadas:
O sangue derramado de Cristo
Terá finalmente significação
e da inútil cruz do martírio se erguerá o pendão da vitória;
E assim terão começo
os sonhados dias dos meus dias!
Fernando Namora, in Mar de Sargaços
O Primeiro de Todos os Meus Sonhos
o primeiro de todos os meus sonhos era sobre
um amante e o seu único amor,
caminhando devagar(pensamento no pensamento)
por alguma verde misteriosa terra
até o meu segundo sonho começar—
o céu é agreste de folhas; que dançam
e dançando arrebatam(e arrebatando rodopiam
sobre um rapaz e uma rapariga que se assustam)
mas essa mera fúria cedo se tornou
silêncio: em mais vasto sempre quem
dois pequeninos seres dormem (bonecas lado a lado)
imóveis sob a mágica
para sempre caindo neve.
E então este sonhador chorou: e então
ela rapidamente sonhou um sonho de primavera
— onde tu e eu estamos a florescer
E. E. Cummings, in livrode poemas
Tradução de Cecília Rego Pinheiro
Mergulha nos Sonhos
Mergulha nos sonhos
ou um lema pode ser teu aluimento
(as árvores são as suas raízes
e o vento é o vento)
confia no teu coração
se os mares se incendeiam
(e vive pelo amor
embora as estrelas para trás andem)
honra o passado
mas acolhe o futuro
(e esgota no bailado
deste casamento a tua morte)
não te importes com o mundo
com quem faz a paz e a guerra
(pois deus gosta de raparigas
e do amanhã e da terra)
E. E. Cummings, in livrodepoemas
Tradução de Cecília Rego Pinheiro
Não o Sonho
Talvez sejas a breve
recordação de um sonho
de que alguém (talvez tu) acordou
(não o sonho, mas a recordação dele),
um sonho parado de que restam
apenas imagens desfeitas, pressentimentos.
Também eu não me lembro,
também eu estou preso nos meus sentidos
sem poder sair. Se pudesses ouvir,
aqui dentro, o barulho que fazem os meus sentidos,
animais acossados e perdidos
tacteando! Os meus sentidos expulsaram-me de mim,
desamarraram-me de mim e agora
só me lembro pelo lado de fora.
Manuel António Pina, in Atropelamento e Fuga
Tudo quanto Sonhei se Foi Perdido
O que sonhei e antes de vivido
Era perfeito e lúcido e divino,
Tudo quanto sonhei se foi perdido
Nas ondas caprichosas do destino.
Que os fados em mim mesmo depuseram
Razões de ser e de não ser, contrárias,
Nas emoções que, dentro em mim, cresceram
Tumultuosas, carinhosas, várias.
Naqueles seres que fui dentro de um ser,
Que viveram de mais para eu viver
A minha vida luminosa e calma,
Se desdobraram gestos de menino
E rudes arremedos de assassino.
Foram almas de mais numa só alma.
Francisco Bugalho, in Dispersos e Inéditos
Janela do Sonho
Abri as janelas
que havia dentro de ti
e entrei abandonado
nos teus braços generosos.
Senti dentro de mim
o tempo a criar silêncio
para te beber altiva e plena.
Mil vezes
repeti teu nome,
mil vezes,
de forma aveludada
e era a chave
que se expunha
e fecundava dentro de mim.
Já não se sonha,
deixei de sonhar,
o sonho é poeira dos tempos
é a voz da extensão
é a voz da pureza
que dardejava na nossa doçura.
Quando abri as tuas janelas
e despi teus braços
perdi a vaidade
e a pressa,
amei a partida
e em silêncio abri,
(sem saber que abria)
uma noite húmida
em combustão secreta
desmaiado no teu ombro
de afrodite.
Carlos Melo Santos, in Lavra de Amor
Che Guevara
Contra ti se ergueu a prudência dos inteligentes e o arrojo dos patetas
A indecisão dos complicados e o primarismo
Daqueles que confundem revolução com desforra
De poster em poster a tua imagem paira na sociedade de consumo
Como o Cristo em sangue paira no alheamento ordenado das igrejas
Porém
Em frente do teu rosto
Medita o adolescente à noite no seu quarto
Quando procura emergir de um mundo que apodrece
Sophia de Mello Breyner Andresen, in O Nome das Coisas
Acordando
Em sonho, às vezes, se o sonhar quebranta
Este meu vão sofrer; esta agonia,
Como sobe cantando a cotovia,
Para o céu a minh'alma sobe e canta.
Canta a luz, a alvorada, a estrela santa,
Que ao mundo traz piedosa mais um dia...
Canta o enlevo das cousas, a alegria
Que as penetra de amor e as alevanta...
Mas, de repente, um vento húmido e frio
Sopra sobre o meu sonho: um calafrio
Me acorda. — A noite é negra e muda: a dor
Cá vela, como d'antes, ao meu lado...
Os meus cantos de luz, anjo adorado,
São sonho só, e sonho o meu amor!
Antero de Quental, in Sonetos
Fantasia
Há uma mulher em toda a minha vida,
Que não se chega bem a precisar.
Uma mulher que eu trago em mim perdida,
Sem a poder beijar.
Há uma mulher na minha vida inquieta.
Uma mulher? Há duas, muitas mais,
Que não são vagos sonhos de poeta,
Nem formas irreais.
Mulheres que existem, corpos, realidade,
Têm passado por mim, humanamente,
Deixando, quando partem, a saudade
Que deixam toda a gente.
Mas coisa singular, essa que eu não beijei,
É quem me ilude, é quem me prende e quer.
Com ela sonho e sofro... Só não sei
Quem é essa mulher.
Alfredo Brochado, in Bosque Sagrado
Dor Suprema
Um amigo me disse: «O que tu crias
É sonho e pretensão, tudo fingido;
O pranto com que a mente sã desvias
É decerto forçado e pretendido!
Em toda a canção e conto que fazes
Porquê palavra dura, amargurada?
Por que ao vero e bom não te comprazes
E, jovem, a alegria é desdenhada?»
Porque, amigo, embora seja a loucura
Ora doce, ora dor inominada,
Nunca a dor humana a dor atura
Da mente louca, da loucura ciente;
Porque a ciência ganha é completada
Com o saber dum mal sempre iminente.
Alexander Search, in Poesia
O Passado é o Presente na Lembrança
Se recordo quem fui, outrem me vejo,
E o passado é o presente na lembrança.
Quem fui é alguém que amo
Porém somente em sonho.
E a saudade que me aflige a mente
Não é de mim nem do passado visto,
Senão de quem habito
Por trás dos olhos cegos.
Nada, senão o instante, me conhece.
Minha mesma lembrança é nada, e sinto
Que quem sou e quem fui
São sonhos diferentes.
Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Gozo Sonhado é Gozo, ainda que em Sonho Gozo sonhado é gozo, ainda que em sonho.
Nós o que nos supomos nos fazemos,
Se com atenta mente
Resistirmos em crê-lo.
Não, pois, meu modo de pensar nas coisas,
Nos seres e no fado me consumo.
Para mim crio tanto
Quanto para mim crio.
Fora de mim, alheio ao em que penso,
O Fado cumpre-se. Porém eu me cumpro
Segundo o âmbito breve
Do que de meu me é dado.
Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Sonho. Não Sei quem Sou
Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.
Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.
Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.
Fernando Pessoa, in Cancioneiro
Entre o Sono e Sonho
Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre
Esse rio sem fim.
Fernando Pessoa, in Cancioneiro
Em Plena Vida e Violência
Em plena vida e violência
De desejo e ambição,
De repente uma sonolência
Cai sobre a minha ausência.
Desce ao meu próprio coração.
Será que a mente, já desperta
Da noção falsa de viver,
Vê que, pela janela aberta,
Há uma paisagem toda incerta
E um sonho todo a apetecer?
Fernando Pessoa, in Cancioneiro
Sonho
Quantas vezes, em sonho, as asas da saudade
Solto para onde estás, e fico de ti perto!
Como, depois do sonho, é triste a realidade!
Como tudo, sem ti, fica depois deserto!
Sonho... Minha alma voa. O ar gorjeia e soluça.
Noite... A amplidão se estende, iluminada e calma:
De cada estrela de ouro um anjo se debruça,
E abre o olhar espantado, ao ver passar minha alma.
Há por tudo a alegria e o rumor de um noivado.
Em torno a cada ninho anda bailando uma asa.
E, como sobre um leito um alvo cortinado,
Alva, a luz do luar cai sobre a tua casa.
Porém, subitamente, um relâmpago corta
Todo o espaço... O rumor de um salmo se levanta
E, sorrindo, serena, apareces à porta,
Como numa moldura a imagem de uma Santa...
Olavo Bilac, in Poesias
Quem?
Não sei quem és. Já não te vejo bem...
E ouço-me dizer (ai, tanta vez!)
Sonho que um outro sonho me desfez?
Fantasma de que amor? Sombra de quem?
Névoa? Quimera? Fumo? Donde vem?...
- Não sei se tu, amor, assim me vês!...
Nossos olhos não são nossos, talvez...
Assim, tu não és tu! Não és ninguém!...
És tudo e não és nada... És a desgraça...
És quem nem sequer vejo; és um que passa...
És sorriso de Deus que não mereço...
És aquele que vive e que morreu...
És aquele que é quase um outro eu...
És aquele que nem sequer conheço...
Florbela Espanca, in A Mensageira das Violetas
Anoitecer
A luz desmaia num fulgor d'aurora,
Diz-nos adeus religiosamente...
E eu, que não creio em nada, sou mais crente
Do que em menina, um dia, o fui... outrora...
Não sei o que em mim ri, o que em mim chora
Tenho bênçãos d'amor pra toda a gente!
Como eu sou pequenina e tão dolente
No amargo infinito desta hora!
Horas tristes que são o meu rosário...
Ó minha cruz de tão pesado lenho!
Meu áspero e intérmino Calvário!
E a esta hora tudo em mim revive:
Saudades de saudades que não tenho...
Sonhos que são os sonhos dos que eu tive...
Florbela Espanca, in Livro de Soror Saudade
Dizem?
Dizem?
Esquecem.
Não dizem?
Disseram.
Fazem?
Fatal.
Não fazem?
Igual.
Por quê
Esperar?
Tudo é
Sonhar.
Fernando Pessoa, in Cancioneiro
Gozo Sonhado é Gozo, ainda que em Sonho
Gozo sonhado é gozo, ainda que em sonho.
Nós o que nos supomos nos fazemos,
Se com atenta mente
Resistirmos em crê-lo.
Não, pois, meu modo de pensar nas coisas,
Nos seres e no fado me consumo.
Para mim crio tanto
Quanto para mim crio.
Fora de mim, alheio ao em que penso,
O Fado cumpre-se. Porém eu me cumpro
Segundo o âmbito breve
Do que de meu me é dado.
Ricardo Reis, in Odes
Heterónimo de Fernando Pessoa
Porquê este poema e esta ilustração?
A ilustação surgiu durante um trabalho de projeto, o pincel deixou cair uma
gota e se fez arte, pois a realidade nunca é o que nós bem queremos, vivemos
num mundo de sonhos, por isso sonhar é o que me dá energia, faz com que
acredite no futuro e me motiva a criar e a esquecer o que está à minha volta e o
mundo. O motivo pelo qual escolhi este poema foi porque me revejo, ali, no
escrito. Gosto de criar, dá-me gozo sonhar e viver no sonho, mesmo que muitas
vezes não seja a melhor forma para expressar o que está dentro de mim e o que
eu sinto.
Porquê tema?
Escolhi o tema “Sonhos” porque ‘sonhar’ é o que eu mais gosto de fazer. É
o sonho que, tantas vezes, me dá força para o dia a dia e porque também eu
sei que
o sonho comanda a vida
e que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos duma criança
(de “Pedra Filosofal”, de António Gedeão, In Movimento Perpétuo.
Interpretado por Manuel Freire - trabalho da E.S.B. – aqui)
Conclusão
Ao concluir este trabalho, afirmo que me foi bastante enriquecedor o
percurso da sua elaboração. Ao ler tantos poemas, para os selecionar, tive de
ao refletir um pouco sobre mim mesmo, então descobri o quanto os sonhos são
fundamentais na minha vida, descobri também que o juntar as palavras e jogar
com o seu sentido nos faz encarar a vida, as pessoas, os sentimentos, de
vários ângulos diferentes.
Webgrafia
Para este dossiê, consultei: http://www.citador.pt/index.php
Top Related