Monitoramento de bacias hidrográficas
Piracicaba, 16 de setembro de 2008.
Carolina R. Fontana([email protected])
Hidrologia Florestal
A hidrologia florestal trata das relações floresta-água ramo da hidrologia que trata dos efeitos da floresta sobre o ciclo da água.
Hidrologia Florestal – O inícioEm 1910, na Europa os experimentos estavam mais voltados para a medição de variáveis (ou processos isolados) do ciclo da água dentro e fora de povoamentos florestais (método físico).
Nos Estados Unidos, este ano marca o início de uma modalidade diferente de estudo, referido como método hidrométrico, que basicamente procura medir toda a fase terrestre do ciclo da água em microbacias experimentais.
Região denominada de “Wagon-Wheel Gap”, no Estado do Colorado;Experimentação de 1910 a 1926;2 microbacias experimentais (±80 ha) cada, adjacentes e florestadas;Foram medidos a precipitação e o deflúvio (produção de água);Ao término do período inicial (calibração), uma das microbacias recebeu o
tratamento experimental, o corte raso da floresta, enquanto que a outra permaneceu inalterada, como testemunha;
Experimento pioneiro(Hoyt; Troxell, 1932)
Resultados:Q médio anual do período de calibragem = 157,5 mmQ médio anual do período de tratamento = 185,5 mm
∆Q = (185,5 - 157,5) - 2,5 = 25,5 mm
Primeiro experimento com a substituição da floresta nativa por floresta plantada de Pinus strobus
Resultado:Após 10 anos = - 94mm no deflúvio
Swank; Miner (1968)
A review of catchment experiments to determine theeffect of vegetation changes on water yield andevapotranspiration. Journal of Hydrology, v.55, p. 3-23.
A análise global de mais de 90 estudos em microbacias experimentais permitiu às seguintes conclusões:
Na escala da microbacia, pode-se dizer que o reflorestamento diminui o deflúvio e o corte da floresta aumenta o deflúvio;
Porém, os resultados são variáveis de lugar para lugar e e, às vezes, imprevisíveis.
Bosch; Hewlett (1982)
Alagoinhas - BA
-80-60-40-20
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Deficiência Excedente Retirada Reposição
Município de Avaré - SP
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020406080
100120
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
mm
Deficiência Excedente Retirada Reposição
P (mm) ETP (mm) ETR (mm) EXC (mm)Avaré - SP 1274 944 941 332Alagoinhas - MG 1233 1245 1081 151
O possível impacto das florestas plantadas sobre a quantidade de água nas microbacias pode ser mais ou menos severo, dependendo das condições hidrológicas regionais prevalecentes, assim como da disponibilidade natural de água, em termos de balanço entre a precipitação média e a demanda evapotranspirativa de água (Lima, 2006).
Torna-se, dessa maneira, muito importante que esse possível efeito das florestas plantadas seja devidamente analisado e levado em conta no plano de manejo (Lima, 2006).
Foco: espécie Foco: manejo
a perpetuação do funcionamento hidrológico (regime de vazão, quantidade e qualidade da água);
o potencial produtivo do solo ao longo do tempo (biogeoquímica; estrutura física);
a biodiversidade (mata ciliar, reservas de vegetação natural, etc.).
Qual é o nosso desafio?
Gerar produtos (agropecuários, florestais, industriais...) utilizando os recursos naturais, porém mantendo:
Monitoramento!
PROMAB/ReMAM(Rede de Monitoramento Ambiental em Microbacias)
Tem como foco o uso da microbacia hidrográfica experimental para a avaliação dos efeitos do manejo de plantações florestais sobre os recursos hídricos.
A microbacia é experimental, mas o monitoramento avalia, continuamente, as operações rotineiras, reais, do manejo.
O monitoramento é integrado na escala sistêmica da microbacia. Não é apenas o consumo de água, mas também:- Balanço hídrico da microbacia, o que implica na interação da disponibilidade de água com os demais usuários;- Qualidade da água, que tem conotação tanto para a sustentabilidade do manejo, quanto para os impactos a jusante e- Qualidade do ecossistema aquático, que atende a demanda de água pelo meio ambiente.
Histórico, Fundamentos e Conquistas(Documentos Técnicos No 1, 2008)
1987
1991
USP
Rigesa
Copener
Arauco
Jari
IP
Klabin PRKlabin SC
VCPEucatex
Veracel
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l)
Precipitação (mm) Sedimentos (mg/l)
Microbacias Pareadas
Uma única microbacia: parte-se do princípio que uma microbacia bem manejada, com floresta adulta, com estradas bem locadas e áreas de preservação permanente protegidas pode ser utilizada como referência.
Valores de referência
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Precipitação (mm) Vazão (l/s)
Área: 423 ha86% floresta plantada de Eucalipto8,5% mata nativaVazão média: 34,8 l/s
Relação Chuva – VazãoMicrobacia Experimental de Itatinga, EECFI, LCF/ESALQ/USP
0
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800
1200
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200091
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92‐93
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96‐97
97‐98
98‐99
99‐00
00‐01
01‐02
02‐03
Ano Hídrico
mm/ano
P (mm)
Q (mm)
C orte ra so
Área = 75 ha
A floresta e o manejo florestal desempenham enorme papel no ciclo hidrológico, o que permite concluir que a floresta e a água são inseparáveis, ou seja, não há como manejar um sem alterar o outro (Lima, 2006).
Essas relações de causa e efeito talvez não sejam marcantes, ou mesmo mensuráveis, na escala das grande bacias hidrográficas (efeito diluidor natural) (Robinson et al., 2003). Mas na escala das microbacias, inúmeros resultados atestam claramente as relações entre o manejo florestal e os recursos hídricos.
Contudo, a noção de que as florestas plantadas são necessariamente incompatíveis com a conservação ambiental e com a manutenção dos recursos hídrico éfalsa (Lima, 2006).
Produção florestal
Produção de água
Microbacia experimental de Igaratá
61% floresta plantada
30% floresta nativa
Assim...
A questão fundamental a ser abordada nessa relação (floresta plantada e água) deve envolver o consumo de água, mas deve incluir também muitas outras considerações, como a qualidade da água e do ecossistema aquático, a sedimentação, a hidrologia da microbacia, a permanência dos fluxos de base e o controle dos picos de vazão, assim como o princípio fundamental de equidade ao acesso à água (Nambiar; Brown, 1997; Lima, 2004).
O desafio é grande, mas não há outro caminho: Para o alcance do manejo florestal sustentável, é mais importante o que fica no campo do que o que é produzido! (Lima, 2008)
Obrigada!!!
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