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«Estes desejos das crianças… são um direito, não são umsonho.» É com estas palavras que o redator de um de arti-go publicado num jornal que dava a palavra a crianças detodos os meios sociais conclui o seu texto. "Um direito enão um sonho". Não se trata duma coisa que se publiquenum decreto, é algo que se constrói a partir de laços deproximidade, de laços de amizade, de laços de compreen-são, de confiança e de compaixão, e também de laçostecidos pela ação. É isto que exprimem os artigos desta"Carta", de diversas maneiras e em contextos variados.«Quando chove de noite, fico com o coração apertado enão durmo bem porque penso nas famílias dos bairrosmuito pobres.»«Elas aprenderam a defender os seus próprios direitos; eelas comprometeram-se a defender os direitos de outrasmulheres.»«O povo está acordando. Nossa luta não será em vão.»«A Brigitte (uma menina de 4 anos que sofre de paralisiacerebral) dá-me um belo exemplo de constância atravésda sua luta pela vida.»

«É uma comunidade que, apesar das situações problemá-ticas de muitos dos seus habitantes, consegue mantercondições de convívio intercultural e mobilizar-se naconstrução do seu próprio futuro.»

Todas as reações que recebemos e que dizem respeito àConvenção Internacional dos Direitos da Criança (página4) estão dentro do mesmo espírito. Embora falem de rea-lidades graves, dolorosas e inaceitáveis, elas revelam agrandeza dos homens e das mulheres que vivem essas rea-lidades, que as recusam, e que levam outras pessoas arecusá-las com eles. «Sem a solidariedade, nada é possí-vel neste mundo; viver é ajudar os outros a viver.» E é comesta afirmação que numerosos jovens arrastam muitosoutros para agirem todos em favor das crianças vivendoem condições difíceis.

Viver, é ajudar os outros a viver, é ter em si uma ambiçãoque engloba toda a gente.

HUGUETTE REDEGELD

Editorial Viver, é ajudar os outros a viver

• «Deu para sentir que opovo está acordando»

«Estive na Ocupação Dandara hoje,dia 30/08. Voltei animado. Houveassembleia (...) enquanto Jovianoatendia uma enorme fila de novasfamílias que estão desesperadasnecessitando de casa. Depois,peregrinei por quase todo oacampamento, parabenizandoquem está construindo eanimando o povo a construir. Játem mais de 30 casinhas sendoconstruídas. O medo está sendoexorcizado. Os tijolos estãoentrando no bagageiro de bicicleta,no bagageiro de automóveis, emKombi, em carrinho de mão, emcarrinho de carregar criança, nabacia, em tambor d'água, etc.Às 13:30h, almocei em uma casa já construída, já com águana torneira dentro de casa e luz elétrica. Era a casa de D.Maria (uma idosa muito esperta), Sr. Joaquim, Eduardo eLuísa, que com 15 anos, está no 4° mês de gravidez. Almoço

gostoso. Deu para sentir que o povo está acordando. Nossaluta não será em vão. Toda luta vale a pena quando a almanão é pequena. Penso que deveríamos começar aconstrução de um Centro Comunitário também.»

FREI GILVANDER M., BRÉSIL

M o v i m e n t o i n t e r n a c i o n a l AT D Q u a r t o M u n d o107, avenue du Général Leclerc - 95480 Pierrelaye - France OUTUBRO DE 2009 – N° 72

CARTA AOS AMIGOS

DO MUNDOFórum Permanente sobre a extrema pobreza no mundo

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• «Descobriram um novo sentido para assuas vidas»

A cidade de Ilo, situada no sul do Peru, tem mais de setentamil habitantes, cuja maioria é emigrante das zonas do alti-plano. A situação económica do Peru e de Ilo é muito difí-cil; há muito menos possibilidades de arranjar trabalho, epara as mulheres, para os jovens e para os que não têm for-mação é ainda mais difícil.

Em Ilo, nós somos cerca de quatro mil empregadas domés-ticas, a maioria são imigrantes e não sabem nenhuma profis-são. O facto de ir trabalhar numa casa faz com que possa-mos sobreviver e mais nada, porque o salário é baixo,pagam-nos em média entre 50 e 70 euros por mais de 320horas de trabalho por mês. E o que piora ainda a nossa situa-ção é que não temos nenhum dia de descanso fixo porsemana, não temos nenhuns benefícios sociais e nas casasonde trabalhamos somosmaltratadas, exploradas,marginalizadas e violadassexualmente pelos patrõese pelos filhos deles. Desde2004 há uma lei que nosdá certas garantias, masninguém a respeita e osnossos direitos são viola-dos.

• «O CEPRODETH é umespaço de encontros, deamizade, de partilha comoutras colegas, um espaçopara nos educarmos sobreos nossos direitos, ondeaprendemos a ser gente e asermos seres sociais.»Elizabeth, 27 anos

• «Cada domingo, podemos encontrar-nos todas, aprende-mos a tricotar, a coser, a bordar e outras coisas manuais,aprendemos a fazer bombons de chocolate, e uma porçãode coisas mais. Sentimo-nos úteis.» Maria, 21 anos

• «Quando sabemos de uma amiga que é explorada e mal-tratada, juntamo-nos para a trazermos para a CEPRODETH,para ela saber que direitos tem e para que ela saiba que nósa vamos ajudar e apoiar para que os patrões não abusemdela.» Jesusa, 24 anos

• «Já vivi como uma escrava, obrigavam-me a fazer tudo láem casa, não tinha nenhum dia de descanso, não podia sairde casa, vivi assim fechada durante mais de 6 anos porquea senhora me tinha trazido da serra quando eu tinha 12anos. Diziam-me que tinha de aprender a não ser preguiço-sa, abusaram de mim e nunca me pagaram nada.» Alicia, 21anos

Elizabeth, Jesusa, Maria eAlicia são companhei-ras no CEPRODETH.Descobriram um novosentido para as suasvidas, aprenderam oque é a amizade, aconfiança, aprende-ram a receber carinhosde irmã, a defender osseus direitos, torna-ram-se responsáveispara serem verdadeirascidadãs e comprome-teram-se a defender osdireitos de outras mul-heres que são empre-gadas domésticascomo elas.

ANA H, CEPRODETH,PERU

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Poderá também enviar-nos os seus comentários e as suas experiências para o site : www.atd-quartmonde.org/-Portugal ou mandar-nos um mail [email protected]

C o r r e i o d o s L e i t o r e s – C o r r e i o d o s L e i t o r e s – C o r r e i o d o s L e i t o r e s• É importante ler regularmente as vossas "cartas" pois fico a sabero que os outros fazem à sua volta para melhorar a vida das pessoascom muitas dificuldades. Acho que o meu espírito humanitário setem vindo a desenvolver dia após dia. Aqui, em Abidjão, estamosem plena estação das chuvas. Quando chove de noite, fico com ocoração apertado e não durmo bem porque penso nas famílias dosbairros muito pobres de Mossikro e de Abobo. Penso nos pais quenão tiveram coragem para sair das suas casas porque já não sabempara onde ir. Penso nas famílias que, tristes e impotentes, vêem assuas casas inundadas pelas águas das chuvas. Penso nas criançase nos adultos que são enterrados vivos pelos desabamentos de ter-renos ou que são arrastados pelas águas da chuva.Gostaria de mandar uma mensagem para todo o mundo: para asautoridades da Costa do Marfim, para as organizações humani-tárias locais e internacionais, e para todas as pessoas de boa von-tade, para que todos aqueles que atravessam tantas dificuldadese que estão provisoriamente alojados em escolas possam obterum alojamento para poderem viver em segurança e realizar osseus projetos. O. Siaka, Costa do Marfim

• «O trabalho da Casa Seis, passa essencialmente pela promoção daparticipação de todos quantos pertencem à comunidade. Aberta àsociedade que a rodeia, esta associação procura envolver as pes-soas na resolução dos seus problemas. A proximidade é já umainfluência positiva. Havendo um contacto pessoal frequente e umapresença permanente, há uma maior facilidade de ganhar aconfiança das pessoas e criar uma co-responsabilização efectiva,sobretudo no que toca aos mais novos, crianças e jovens. Mas tam-bém os adultos são chamados e incentivados a tomar parte nesteespaço de desenvolvimento humano e colectivo. Porém, trabalharpara um universo de cerca de 600 famílias ou acompanhar de perto64 crianças e pontualmente com o dobro, são tarefas que exigemdisponibilidade de meios, que nem sempre estão disponíveis. ACasa Seis, apesar de todas as dificuldades, é um sinal de persistên-cia e de esperança. É uma comunidade que, apesar das situaçõesproblemáticas de muitos dos seus habitantes, consegue mantercondições de convívio intercultural e mobilizar-se na construçãodo seu próprio futuro. Um exemplo a tomar em consideração.»

Rui A., Portugal

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• « À escuta dos sonhos »

Uma leitora, impressionada por dois pequenos corposde crianças adormecidas, debaixo dum cobertor, ao pédo prédio onde ela vive, mandou-nos este artigo:

São egípcios e têm entre 6 e 12 anos. Vêm dos mais diversoshorizontes, desde uma casa num bairro residencial ou popu-lar, e até mesmo da rua, onde dormem e trabalham. Todoseles têm sonhos. Vamos ouvi-los:

• «Contaram-me que o meu avô era domador de tigres.Quando eu for grande gostava de ter a mesma profissão. Omundo do circo é uma coisa que me fascina. Também gos-tava de ter um teto onde os meus irmãos e eu pudéssemosdormir em paz, sem ter medo do dia de amanhã.»

• «O meu sonho é ser diplomata para dar a volta ao mundo,descobrir outras culturas e aprender línguas estrangeiras.»

• «O meu sonho era ser médico.»

• «O meu sonho era ficar fechado uma noite inteira numhipermercado cheio de brinquedos. Para jogar a todos osjogos e comer todos os doces que lá estão.»

• «O meu sonho era ser futebolista e marcar golos tãogeniais como os do Abou-Treika.»

• «Quando eu for grande, o meu sonho era ser talhante ouaçougueiro para poder comer carne todos os dias.»

• «O meu sonho era ter professores que sorrissem na aula,que falassem sem ser aos gritos, para eu poder gozar plena-mente o meu dia na escola e para não voltar para casa esma-gado por uma porção de trabalhos e de revisões. Sonho comuma vida sem a frase "é preciso", uma vida em que eu esti-vesse livre de todos estes pesos. Gostava que me ouvissemcom atenção antes de me falarem ou de me tocarem, e issocom cuidado. É assim que eupoderia mesmo crescer.»

Quando os ouvimosfalar, temos a impressão

de que todos pode-ríamos contribuir

para que osseus sonhos setornassem rea-lidade. E mui-

tos de nós com-prometeram-se a isso

mesmo, quer como pais,quer como profissionais, quer

como membros de associações.Todos estes desejos das crianças são,

a maior parte das vezes, um direi-to e não um sonho.

EXCERTO DE UM ARTIGO PUBLICADO NOAL-AHRAM HEBDO, A 31.12.2008,

E ESCRITO PORAMIRA DOSS,

EGIPTO

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•«É uma partilha que nos torna maishumanos»

«NUESTRO HOGAR» ("»O nosso lar») foi criado e é ani-mado pela Fundação AMI. Trata-se de um lar destinadoa acolher crianças feridas pela vida de 0 a 5 anos. Certascrianças foram acolhidas por outras estruturas e depoisconfiadas ao NUESTRO HOGAR por causa das deficiên-cias, atrasos ou problemas constatados, ou então foram-lhe diretamente entregues pelas autoridades (hospitais,polícia, juízes, etc.). As condições de acolhimento decada criança são diferentes conforme os casos. Elas che-gam ao lar com experiências de vida terríveis: abandona-das pelos pais naturais ou pela família, maltratadas fisi-camente e emocionalmente, abusadas, martirizadas, gra-vemente doentes. A AMI é responsável não só pelascrianças que chegam ao lar mas também pelo acompan-hamento das que regressam às suas famílias. A reinser-ção familiar das crianças acolhidas no lar é uma preo-cupação constante da Fundação.

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Chamo-me Liliana e sou puericultora na Fundação AMI. Tratodas crianças e acompanho todas as suas atividades. É umtrabalho que muito me satisfaz pois, dia após dia, graças aele, fico a conhecer melhor as crianças, e posso ouvi-las ecompreendê-las. É uma partilha que nos torna maishumanos, que nos permite unir-nos a elas para voltarmos aencontrar o caminho da alegria, da felicidade e da inocência.

Neste lar, cada criança recebe gestos de atenção, de proteção,de respeito, de gratidão, e ainda de outros sentimentospositivos, prodigalizados por todos os adultos que as rodeiam.

A Brigitte é uma menina que sofre de paralisia cerebral. Elaesforça-se todos os dias para tentar mover-se um pouco mais,efetuando gestos muito impressionantes. Sinto uma grandetristeza quando vejo a Brigitte desesperada por não podersair e correr como os outros. Apesar disso, ela dá-me umbelo exemplo de constância na sua luta pela vida.

A presença desta menina de 4 anos é uma grandeoportunidade para o lar pois faz com que ele se mantenha fielà sua missão. Com efeito, um dos seus objetivos maisimportantes é o respeito pelo ritmo de cada um. A evoluçãoda Brigitte desde a sua chegada é impressionante. Ela mostrauma capacidade de comunicação espantosa e uma grandefelicidade, graças à sua integração no meio das outrascrianças que lhe testemunham uma enorme afeição.

Poder encontrar seres humanos tão especiais é umaexperiência muito enriquecedora pois, apesar de serem tãopequenos, eles já sabem o que é sofrer e o que representaa falta de um lar. E mesmo assim, conseguem manter umaforça impressionante. Para mim, o mais importante é saberque aqui os seus primeiros valores e modos de julgar serãoformados de maneira positiva. Os conhecimentos que vouadquirindo cada semana e ao fim de cada mês permitem-me ficar a saber mais profundamente qual a atenção quedevemos prestar a cada criança e, ao mesmo tempo, vou-me formando eu própria para poder ser um guia para todasas crianças.

Cada criança é única, cheia de coisas valiosas e de felicidadee, sobre tudo, traz em si um grande coração cheio de amor.

LILIANA A., FUNDAÇÃO AMI, EQUADOR

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Os direitos da criança são direitos humanos,universais e inalienáveis

✏ Há milhares de imigrantes que conti-nuam a chegar de barco à costa meridio-nal da Itália, e há centenas que morremao tentarem chegar ao meu país. Entretodos eles, há muitas crianças que vêmtambém, umas acompanhadas pelos pais,e outras sozinhas. A AmnestyInternational dá-lhes o nome de "invisí-veis". Muitas delas escapam aos contro-les de identidade e são depois apanhadasnas redes do crime e da prostituição. Háno mundo milhões de crianças e dejovens que, por causa das guerras e dapobreza, são obrigados a deixar os seuslares para irem pedir asilo noutro país.Temos ainda que percorrer um longocaminho até que todos se convençam deque os direitos da criança são direitoshumanos, e que portanto são universais einalienáveis.

Sérgio P., Itália

✏ A RDC, que é o nosso país, está ainstalar os mecanismos necessários parareunir, analisar e publicar regularmente eatempadamente os dados permitindo oacompanhamento dos indicadores sociaisrelativos ao bem-estar das crianças, taiscomo a percentagem de mortalidade dosrecém-nascidos e das crianças, a percen-tagem da mortalidade materna e dafecundidade, os níveis de nutrição, acobertura a nível de vacinas, os níveis demorbidade relativos às doenças impor-tantes para a saúde pública, assim comoas percentagens de escolarização, desucesso escolar e de alfabetização.Cada ano, o Congo é convidado a rever,levando em conta a sua situação particu-lar, o seu orçamento geral e, quanto aospaíses doadores, o orçamento de ajuda aodesenvolvimento, de tal maneira que osprogramas destinados a realizar os obje-tivos de sobrevivência, de proteção e dedesenvolvimento das crianças sejamconsiderados prioritários no momento daatribuição dos recursos. As crianças pre-cisam de uma proteção e de uma atençãoespeciais dada a sua vulnerabilidade.

A. B. A., República Democrática do Congo

✏ O meu marido, que trabalha há 10anos com as crianças da rua, primeiro noRuanda e depois no Congo, ficou muitocontente quando leu a "Carta" de Maiode 2009 sobre a Convenção Internacionalrelativa aos Direitos da Criança. Lemos ecomentámos com a equipe da AFIA-FEV, a nossa associação, aquele pequenoartigo: «Tanto para os adultos como paraas crianças, nunca é impossível nemnunca é tarde demais para aprender».Achámos todos que muitos países africa-nos, e sobre tudo o nosso, fariam bem eminspirar-se nas experiências do Quénia eda Bolívia, com o CEMA, sobre a gratui-dade da escola, e também na coragem doSenhor Kimani Nganga Maruge.

Beatrice K-B em nome da AFIA-FEV,República Democrática do Congo

✏ A paz no mundo começa com ascrianças de hoje (…) Em certas localida-des do Gana, o tráfico e o trabalho dascrianças têm vindo a aumentar. Há atécrianças que são apanhadas pela prosti-tuição. Antes da chegada de fundos paraajudar as vítimas das inundações noGana em 2007, eu já tinha falado a várias"kayayie". A palavra "kayayie" designaas meninas, quase sempre ainda crianças,que emigram do norte do país paraKumasi, na região Ashanti, em busca depastagens mais verdejantes, mas queparalelamente transportam à cabeça umaporção de mercadorias para ganharemalgum dinheiro. Sem domicílio fixo, elasdormem em edifícios inacabados. Nessaocasião, eu tinha-lhes falado na prostitui-ção infantil, nas doenças transmitidasatravés do sexo e do SIDA. Em 2006, eujá tinha estado com homens jornalistas darádio FOX FM, que se tinham precipita-do para um local onde a maioria daskayayie dormia, para obterem uma gra-vação de uma das crianças que estava ater relações sexuais com um adulto paraganhar algum dinheiro. E eu fiquei entãomuito triste. E se ela tivesse apanhado oSIDA, como teria sido? Mas vou conti-nuar a trabalhar ao serviço da juventudee de toda a comunidade, esteja eu ondeestiver.

A. Justus Triumph, University forDevelopment Studies (UDS), Gana

✏ Nunca deveríamos nascer em luga-res que ficam longe de tudo. Por maisque se fale do direito a uma educaçãogratuita, aos cuidados de saúde e a umaproteção especial, todas essas priorida-des continuam a ser uma ilusão, pelomenos até hoje. Está provado estatistica-mente que o abandono escolar e a morta-lidade infantil têm continuado a aumen-tar pois as crianças não conseguem lutarcontra a fome. A educação é inacessívelpara quem vive na extrema pobreza. Hácrianças (…) que ficam marcadas moral-mente a vida inteira pelo fato de teremnascido num meio pobre.

Stephen Serge T., Madagáscar

✏ Nós, os jovens da "AssociaçãoSalvemos os Órfãos para um Desenvol-vimento Integral e Melhor" (ASODIM),trabalhámos para a organização de umaatividade atípica de apoio à infância des-favorecida. Esta atividade denominada"Operação: um Pensamento para Eles"consistia em nos apresentarmos nos ser-viços administrativos locais e em nosdirigirmos à população com uma ficha derecolha de donativos, de pensamentossobre as crianças pobres e de fundos paraauxiliarmos as crianças que vivem emcondições extremamente difíceis. Estaoperação foi o nosso modo de defender-mos a promoção dos Direitos da Criança(…), baseada numa filosofia que se poderesumir com a frase: "o desenvolvimentoatravés da Educação e da Solidarie-dade"- para afirmarmos que sem a solidarieda-de nada é possível neste mundo.Durante a operação, quando alguém fin-gia que não ouvia o apelo, os que faziama coleta de donativos e de pensamentos,atiravam-lhe calmamente com a frase:"Viver, é ajudar os outros a viver". Poroutras palavras, cada pessoa tem umaparte de responsabilidade no que dizrespeito à melhoria das condições de vidadas crianças em dificuldade.No fim, a Associação conseguiu coletarmaterial escolar, roupas, mantimentos,dinheiro, e muitos pensamentos sobre osórfãos e outras crianças vulneráveis.

Rodrigue G., Association ASODIM,Burkina Faso

Aqui vão algumas respostas às perguntas que nós fizemos no último número sobre os direitos das crianças:

OS DESENHOS SÃO DE

HÉLÈNE PERDEREAU

QUE, HÁ MUITO,OS OFERECE GRATUITAMEN-TE AO MOVIMENTO ATDQUARTO MUNDO.

PAGINAÇÃO :L. ROUFFET

O «Fórum Permanente sobre a extrema pobreza no mundo» é uma rede de pessoas empenhadas no desenvolvimento de uma amizade e deum conhecimento mútuos, a partir do que vivem e nos ensinam as populações pobres e muito pobres: aquelas que acumulam várias precariedadesao nível da educação, do alojamento, do trabalho, da saúde e da cultura; aquelas que são as mais rejeitadas e as mais criticadas. O Fórum é umconvite à adesão de todos os que aspiram a uma forte participação numa corrente de pensamento e de acção que tem como prioridade a recusada miséria no mundo, declarando-a intolerável e provocando a construção de comunidades onde os mais pobres, munidos dos direitos fundamentais,possam assumir as suas responsabilidades em pé de igualdade e em parceria com os outros. Esta corrente exprime-se através da Carta aos Amigosdo Mundo que publica as mensagens dos nossos correspondentes três vezes por ano em francês, inglês, espanhol e português, graças ao trabalhode tradutores profissionais que oferecem os seus serviços gratuitamente. O Fórum Permanente é fomentado pelo Movimento ATD Quarto Mundo,OING (organização internacional não-governamental) com sede em Pierrelaye, França e permite a todos os que nele participam guardarem asua identidade, não passando, por isso, a ser considerados membros de ATD Quarto Mundo.O nosso endereço E-mail: [email protected] Internet : www.atd-quartmonde.org Assinatura anual: $8 / €8 Assinaturade apoio: $10 / €10. © Movimento internacional ATD Quarto Mundo – tipografia ATD – Méry-sur-Oise – N°72 - Outubro de 2009.