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    Compreenso, Interpretao de Textos

    TEXTO um conjunto de idias organizadas e relacionadas entre si, formando um todo significa-tivo capaz de produzir INTERAO COMUNICA-TIVA (capacidade de CODIFICAR E DECODIFI-CAR).

    CONTEXTO um texto constitudo por diversas frases. Em cada uma delas, h uma certa infor-mao que a faz ligar-se com a anterior e/ou com a posterior, criando condies para a estruturao do contedo a ser transmitido.

    A essa interligao d-se o nome de CONTEX-TO. Nota-se que o relacionamento entre as frases to grande, que, se uma frase for retirada de seu contexto original e analisada separadamente, poder ter um significado diferente daquele inicial.

    INTERTEXTO - comumente, os textos apresen-tam referncias diretas ou indiretas a outros auto-res atravs de citaes. Esse tipo de recurso denomina-se INTERTEXTO.

    INTERPRETAO DE TEXTO - o primeiro obje-tivo de uma interpretao de um texto a identifi-cao de sua idia principal. A partir da, locali-zam-se as idias secundrias, ou fundamenta-es, as argumentaes, ou explicaes, que levem ao esclarecimento das questes apresen-tadas na prova.

    Normalmente, numa prova, o candidato convi-dado a: 1. IDENTIFICAR reconhecer os elementos fundamentais de uma argumentao, de um pro-cesso, de uma poca (neste caso, procuram-se os verbos e os advrbios, os quais definem o tempo).

    2. COMPARAR descobrir as relaes de se-melhana ou de diferenas entre as situaes do texto.

    3. COMENTAR - relacionar o contedo apre-sentado com uma realidade, opinando a respei-to.

    4. RESUMIR concentrar as idias centrais e/ou secundrias em um s pargrafo.

    5. PARAFRASEAR reescrever o texto com outras palavras.

    EXEMPLO

    TTULO DO TEXTO

    PARFRASES

    "O HOMEM UNIDO

    A INTEGRAO DO MUN-DO A INTEGRAO DA HUMA-NIDADE A UNIO DO HOMEM HOMEM + HOMEM = MUN-DO A MACACADA SE UNIU (STIRA)

    CONDIES BSICAS PARA INTERPRETAR

    Fazem-se necessrios:

    a) Conhecimento Histrico literrio (escolas e gneros literrios, estrutura do texto), leitura e prtica;

    b) Conhecimento gramatical, estilstico (qualida-des do texto) e semntico;

    OBSERVAO na semntica (significado das palavras) incluem-se: homnimos e parnimos, denotao e conotao, sinonmia e antonimia, polissemia, figuras de linguagem, entre outros.

    c) Capacidade de observao e de sntese e

    d) Capacidade de raciocnio.

    INTERPRETAR x COMPREENDER

    INTERPRETAR SIGNIFICA

    COMPREENDER SIG-NIFICA

    - EXPLICAR, CO-MENTAR, JULGAR, TIRAR CONCLU-SES, DEDUZIR. - TIPOS DE ENUN-CIADOS Atravs do texto, INFERE-SE que... possvel DEDU-ZIR que... O autor permite CONCLUIR que... Qual a INTEN-O do autor ao afirmar que...

    - INTELECO, EN-TENDIMENTO, ATEN-O AO QUE REAL-MENTE EST ESCRI-TO. - TIPOS DE ENUNCIA-DOS: O texto DIZ que... SUGERIDO pelo autor que... De acordo com o texto, CORRETA ou ERRA-DA a afirmao... O narrador AFIRMA...

    ERROS DE INTERPRETAO

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    muito comum, mais do que se imagina, a ocor-rncia de erros de interpretao. Os mais fre-qentes so:

    a) Extrapolao (viagem)

    Ocorre quando se sai do contexto, acrescentado idias que no esto no texto, quer por conheci-mento prvio do tema quer pela imaginao.

    b) Reduo

    o oposto da extrapolao. D-se ateno ape-nas a um aspecto, esquecendo que um texto um conjunto de idias, o que pode ser insuficiente para o total do entendimento do tema desenvolvi-do.

    c) Contradio

    No raro, o texto apresenta idias contrrias s do candidato, fazendo-o tirar concluses equivo-cadas e, conseqentemente, errando a questo.

    OBSERVAO - Muitos pensam que h a tica do escritor e a tica do leitor. Pode ser que exis-tam, mas numa prova de concurso qualquer, o que deve ser levado em considerao o que o AUTOR DIZ e nada mais.

    COESO - o emprego de mecanismo de sinta-xe que relacionam palavras, oraes, frases e/ou pargrafos entre si. Em outras palavras, a coeso d-se quando, atravs de um pronome relativo, uma conjuno (NEXOS), ou um pronome obl-quo tono, h uma relao correta entre o que se vai dizer e o que j foi dito.

    OBSERVAO So muitos os erros de coeso no dia-a-dia e, entre eles, est o mau uso do pro-nome relativo e do pronome oblquo tono. Este depende da regncia do verbo; aquele do seu antecedente. No se pode esquecer tambm de que os pronomes relativos tm, cada um, valor semntico, por isso a necessidade de adequao ao antecedente.

    Os pronomes relativos so muito importantes na interpretao de texto, pois seu uso incorreto traz erros de coeso. Assim sedo, deve-se levar em considerao que existe um pronome relativo adequado a cada circunstncia, a saber:

    QUE (NEUTRO) - RELACIONA-SE COM QUAL-QUER ANTECEDENTE. MAS DEPENDE DAS CONDIES DA FRASE.

    QUAL (NEUTRO) IDEM AO ANTERIOR.

    QUEM (PESSOA)

    CUJO (POSSE) - ANTES DELE, APARECE O POSSUIDOR E DEPOIS, O OBJETO POSSU-DO.

    COMO (MODO)

    ONDE (LUGAR)

    QUANDO (TEMPO)

    QUANTO (MONTANTE)

    EXEMPLO: Falou tudo QUANTO queria (correto) Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria aparecer o demonstrativo O ). VCIOS DE LINGUAGEM h os vcios de lin-guagem clssicos (BARBARISMO, SOLECIS-MO,CACOFONIA...); no dia-a-dia, porm , exis-tem expresses que so mal empregadas, e, por fora desse hbito cometem-se erros graves co-mo: - Ele correu risco de vida , quando a verdade o risco era de morte.

    - Senhor professor, eu lhe vi ontem . Neste caso, o pronome correto oblquo tono correto O.

    - No bar: ME V um caf. Alm do erro de po-sio do pronome, h o mau uso.

    Estruturao do Pargrafo

    Familiarizados com o tema a ser desenvolvido, elencadas todas as ideias a serem discorridas... finalmente estamos aptos a comearmos nossa produo. Mas ainda resta outro detalhe de ex-trema relevncia a eficcia do texto depender da forma pela qual estas ideias se apresentaro mediante o transcorrer do discurso.

    Partindo deste pressuposto, temos a noo de quo importante a estruturao dos pargrafos, que permitem que o pensamento seja distribudo de forma lgica e precisa, com vistas a permitir uma efetiva interao entre os interlocutores.

    Obviamente que outros fatores relacionados competncia lingustica do emissor participam deste processo, entre estes: pontuao adequa-da, utilizao correta dos elementos coesivos, de modo a estabelecer uma relao harmnica entre uma ideia e outra, dentre outros.

    Esteticamente, o pargrafo se caracteriza como um sutil recuo em relao margem esquerda da folha, atribudo por um conjunto de perodos que representam uma ideia central em consonncia

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    com outras secundrias, resultando num efetivo entrelaamento e formando um todo coeso. Quanto extenso, bom que se diga que no se trata de uma receita pronta e acabada, visto que a habilidade do emissor determinar o mo-mento de realizar a transio entre um posicio-namento e outro, permitindo que o discurso seja compreendido em sua totalidade.

    Em se tratando de textos dissertativos, normal-mente os pargrafos costumam ser assim distri-budos:

    * Introduo tambm denominada de tpico frasal, constitui-se pela apresentao da ideia principal, feita de maneira sinttica e definida pelos objetivos aos quais o emissor se prope.

    * Desenvolvimento fundamenta-se na amplia-o do tpico frasal, atribudo pelas ideias secun-drias, reconhecidas na exposio dos argumen-tos com vistas a reforar e conferir credibilidade ora em discusso.

    * Concluso caracteriza-se pela retomada da ideia central associando-a aos pressupostos mencionados no desenvolvimento, procurando arremat-los de forma plausvel. Pode, na maioria das vezes, constar-se de uma soluo por parte do emissor no que se refere ao instaurar dos fa-tos. Quanto aos textos narrativos, os pargrafos cos-tumam ser caracterizados pelo predomnio dos verbos de ao, retratando o posicionamento dos personagens mediante o desenrolar do enredo, bem como pela indicao de elementos circuns-tanciais referentes trama: quando, por que e com que ocorreram os fatos.

    Nesta modalidade, a ocorrncia dos pargrafos tambm se atribui transcrio do discurso dire-to, em especial s falas dos personagens.

    Referindo-se aos textos descritivos, sua utilizao est relacionada pela minuciosa exposio dos detalhes acerca do objeto descrito, representado por uma pessoa, objeto, animal, lugar, uma obra de arte, dentre outros, de modo a permitir que o leitor crie o cenrio em sua mente.

    Colaborando na concretizao destes propsitos, sobretudo pela finalidade discursiva visando caracterizao de algo , h o predomnio de verbos de ligao, bem como do uso de adjetivos e de oraes coordenadas ou justapostas.

    Tipologia Textual

    1. Narrao

    Modalidade em que se conta um fato, fictcio ou no, que ocorreu num determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens. Refere-se a objetos do mundo real. H uma relao de anteri-oridade e posterioridade. O tempo verbal predo-minante o passado. Estamos cercados de nar-raes desde as que nos contam histrias infantis at s piadas do cotidiano. o tipo predominante nos gneros: conto, fbula, crnica, romance, novela, depoimento, piada, relato, etc.

    2. Descrio

    Um texto em que se faz um retrato por escrito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe de palavras mais utilizada nessa produ-o o adjetivo, pela sua funo caracterizadora. Numa abordagem mais abstrata, pode-se at descrever sensaes ou sentimentos.

    No h relao de anterioridade e posterioridade. Significa "criar" com palavras a imagem do objeto descrito. fazer uma descrio minuciosa do objeto ou da personagem a que o texto se Pega. um tipo textual que se agrega facilmente aos outros tipos em diversos gneros textuais. Tem predominncia em gneros como: cardpio, folhe-to turstico, anncio classificado, etc.

    3. Dissertao Dissertar o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer sobre ele. Dependendo do objetivo do autor, pode ter carter expositivo ou argumentativo.

    3.1 Dissertao-Exposio

    Apresenta um saber j construdo e legitimado, ou um saber terico. Apresenta informaes so-bre assuntos, expe, reflete, explica e avalia idi-as de modo objetivo. O texto expositivo apenas expe ideias sobre um determinado assunto. A inteno informar, esclarecer. Ex: aula, resu-mo, textos cientficos, enciclopdia, textos exposi-tivos de revistas e jornais, etc.

    3.1 Dissertao-Argumentao

    Um texto dissertativo-argumentativo faz a defesa de ideias ou um ponto de vista do autor. O texto, alm de explicar, tambm persuade o interlocutor, objetivando convenc-lo de algo. Caracteriza-se pela progresso lgica de ideias. Geralmente utiliza linguagem denotativa. tipo predominante em: sermo, ensaio, monografia, dissertao, tese, ensaio, manifesto, crtica, editorial de jornais e revistas.

    4. Injuno/Instrucional

    Indica como realizar uma ao. Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos so, na sua maiori-

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    a, empregados no modo imperativo, porm nota-se tambm o uso do infinitivo e o uso do futuro do presente do modo indicativo. Ex: ordens; pedidos; splica; desejo; manuais e instrues para mon-tagem ou uso de aparelhos e instrumentos; textos com regras de comportamento; textos de orienta-o (ex: recomendaes de trnsito); receitas, cartes com votos e desejos (de natal, anivers-rio, etc.).

    OBS: Os tipos listados acima so um consenso entre os gramticos. Muitos consideram tambm que o tipo Predio possui caractersticas sufici-entes para ser definido como tipo textual, e al-guns outros possuem o mesmo entendimento para o tipo Dialogal.

    5. Predio

    Caracterizado por predizer algo ou levar o interlo-cutor a crer em alguma coisa, a qual ainda est por ocorrer. o tipo predominante nos gneros: previses astrolgicas, previses meteorolgicas, previses escatolgicas/apocalpticas.

    6. Dialogal / Conversacional

    Caracteriza-se pelo dilogo entre os interlocuto-res. o tipo predominante nos gneros: entrevis-ta, conversa telefnica, chat, etc.

    Gneros textuais

    Os Gneros textuais so as estruturas com que se compem os textos, sejam eles orais ou escri-tos. Essas estruturas so socialmente reconheci-das, pois se mantm sempre muito parecidas, com caractersticas comuns, procuram atingir intenes comunicativas semelhantes e ocorrem em situaes especficas.

    Pode-se dizer que se tratam das variadas formas de linguagem que circulam em nossa sociedade, sejam eles formais ou informais. Cada gnero textual tem seu estilo prprio, podendo ento, ser identificado e diferenciado dos demais atravs de suas caractersticas. Exemplos:

    Carta: quando se trata de "carta aberta" ou "carta ao leitor", tende a ser do tipo dissertativo-argumentativo com uma linguagem formal, em que se escreve sociedade ou a leitores. Quando se trata de "carta pessoal", a presena de aspec-tosnarrativos ou descritivos e uma linguagem pessoal mais comum.

    Propaganda: um gnero textual dissertativo-expositivo onde h a o intuito de propagar infor-maes sobre algo, buscando sempre atingir e influenciar o leitor apresentando, na maioria das vezes, mensagens que despertam as emoes e a sensibilidade do mesmo.

    Bula de remdio: um gnero textual descritivo, dissertativo-expositivo e injuntivo que tem por obrigao fornecer as informaes necessrias para o correto uso do medicamento.

    Receita: um gnero textual descritivo e injuntivo que tem por objetivo informar a frmula para pre-parar tal comida, descrevendo os ingredientes e o preparo destes, alm disso, com verbos no impe-rativo, dado o sentido de ordem, para que o leitor siga corretamente as instrues.

    Tutorial: um gnero injuntivo que consiste num guia que tem por finalidade explicar ao leitor, pas-so a passo e de maneira simplificada, como fazer algo.

    Editorial: um gnero textual dissertativo-argumentativo que expressa o posicionamento da empresa sobre determinado assunto, sem a obri-gao da presena da objetividade.

    Notcia: podemos perfeitamente identificar carac-tersticas narrativas, o fato ocorrido que se deu em um determinado momento e em um determi-nado lugar, envolvendo determinadas persona-gens. Caractersticas do lugar, bem como dos personagens envolvidos so, muitas vezes, minu-ciosamente descritos.

    Reportagem: um gnero textual jornalstico de carter dissertativo-expositivo. A reportagem tem, por objetivo, informar e levar os fatos ao leitor de uma maneira clara, com linguagem direta.

    Entrevista: um gnero textual fundamentalmen-te dialogal, representado pela conversao de duas ou mais pessoas, o entrevistador e o(s) entrevistado(s), para obter informaes sobre ou do entrevistado, ou de algum outro assunto.

    Geralmente envolve tambm aspectos dissertati-vo-expositivos, especialmente quando se trata de entrevista a imprensa ou entrevista jornalstica. Mas pode tambm envolver aspectosnarrativos, como na entrevista de emprego, ou aspec-tos descritivos, como na entrevista mdica.

    Histria em quadrinhos: um gnero narrativo que consiste em enredos contados em pequenos quadros atravs de dilogos diretos entre seus personagens, gerando uma espcie de conversa-o.

    Charge: um gnero textual narrativo onde se faz uma espcie de ilustrao cmica, atravs de caricaturas, com o objetivo de realizar uma stira, crtica ou comentrio sobre algum acontecimento atual, em sua grande maioria.

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    Poema: trabalho elaborado e estruturado em versos. Alm dos versos, pode ser estruturado em estrofes. Rimas e mtrica tambm podem fazer parte de sua composio. Pode ou no ser potico. Dependendo de sua estrutura, pode re-ceber classificaes especficas, como haicai, soneto, epopeia, poema figurado, dramtico, etc. Em geral, a presena de aspectos narrativos e descritivos so mais frequentes neste gnero.

    Poesia: o contedo capaz de transmitir emo-es por meio de uma linguagem , ou seja, tudo o que toca e comove pode ser considerado como potico (at mesmo uma pea ou um filme podem ser assim considerados). Um subgnero a pro-sa potica, marcada pela tipologia dialogal.

    Gnero Narrativo:

    Na Antiguidade Clssica, os padres literrios reconhecidos eram apenas o pico, o lrico e o dramtico. Com o passar dos anos, o gnero pico passou a ser considerado apenas uma va-riante do gnero literrio narrativo, devido ao sur-gimento de concepes de prosa com caracters-ticas diferentes: o romance, a novela, o conto, a crnica, a fbula.

    Porm, praticamente todas as obras narrativas possuem elementos estruturais e estilsticos em comum e devem responder a questionamentos, como: quem? o que? quando? onde? por qu? Vejamos a seguir:

    pico (ou Epopeia): os textos picos so geral-mente longos e narram histrias de um povo ou de uma nao, envolvem aventuras, guerras, viagens, gestos heroicos, etc. Normalmente apre-sentam um tom de exaltao, isto , de valoriza-o de seus heris e seus feitos. Dois exemplos so Os Lusadas, de Lus de Cames, e Odissia, de Homero.

    Romance: um texto completo, com tempo, es-pao e personagens bem definidos e de carter mais verossmil. Tambm conta as faanhas de um heri, mas principalmente uma histria de amor vivida por ele e uma mulher, muitas vezes, proibida para ele.

    Apesar dos obstculos que o separam, o casal vive sua paixo proibida, fsica, adltera, pecami-nosa e, por isso, costuma ser punido no final. o tipo de narrativa mais comum na Idade Mdia. Ex: Tristo e Isolda.

    Novela: um texto caracterizado por ser inter-medirio entre a longevidade do romance e a brevidade do conto. Como exemplos de novelas, podem ser citadas as obras O Alienista, de Ma-chado de Assis, e A Metamorfose, de Kafka.

    Conto: um texto narrativo breve, e de fico, geralmente em prosa, que conta situaes rotinei-ras, anedotas e at folclores. Inicialmente, fazia parte da literatura oral. Boccacio foi o primeiro a reproduzi-lo de forma escrita com a publicao de Decamero. Diversos tipos do gnero textual conto surgiram na tipologia textual narrativa: con-to de fadas, que envolve personagens do mundo da fantasia; contos de aventura, que envolvem personagens em um contexto mais prximo da realidade; contos folclricos (conto popular); con-tos de terror ou assombrao, que se desenrolam em um contexto sombrio e objetivam causar me-do no expectador; contos de mistrio, que envol-vem o suspense e a soluo de um mistrio.

    Fbula: um texto de carter fantstico que bus-ca ser inverossmil. As personagens principais so no humanos e a finalidade transmitir al-guma lio de moral.

    Crnica: uma narrativa informal, breve, ligada vida cotidiana, com linguagem coloquial. Pode ter um tom humorstico ou um toque de crtica indireta, especialmente, quando aparece em se-o ou artigo de jornal, revistas e programas da TV.. Crnica narrativo-descritiva: Apresenta alter-nncia entre os momentos narrativos e manifes-tos descritivos.

    Ensaio: um texto literrio breve, situado entre o potico e o didtico, expondo ideias, crticas e reflexes morais e filosficas a respeito de certo tema. menos formal e mais flexvel que o trata-do. Consiste tambm na defesa de um ponto de vista pessoal e subjetivo sobre um tema (huma-nstico, filosfico, poltico, social, cultural, moral, comportamental, etc.), sem que se paute em for-malidades como documentos ou provas empricas ou dedutivas de carter cientfico. Exem-plo: Ensaio sobre a cegueira, de Jos Saramago e Ensaio sobre a tolerncia, de John Locke.

    Gnero Dramtico: Trata-se do texto escrito para ser encenado no teatro. Nesse tipo de texto, no h um narrador contando a histria. Ela a-contece no palco, ou seja, representada por atores, que assumem os papis das personagens nas cenas.

    Tragdia: a representao de um fato trgico, suscetvel de provocar compaixo e terror. Arist-teles afirmava que a tragdia era "uma represen-tao duma ao grave, de alguma extenso e completa, em linguagem figurada, com atores agindo, no narrando, inspirando d e terror". Ex: Romeu e Julieta, de Shakespeare.

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    Farsa: uma pequena pea teatral, de carter ridculo e caricatural, que critica a sociedade e seus costumes; baseia-se no lema latino ridendo castigat mores (rindo, castigam-se os costumes). A farsa consiste no exagero do cmico, graas ao emprego de processos grosseiros, como o absur-do, as incongruncias, os equvocos, os enganos, a caricatura, o humor primrio, as situaes rid-culas.

    Comdia: a representao de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fcil. Sua origem grega est ligada s festas populares.

    Tragicomdia: modalidade em que se misturam elementos trgicos e cmicos. Originalmente, significava a mistura do real com o imaginrio.

    Poesia de cordel: texto tipicamente brasileiro em que se retrata, com forte apelo lingustico e cultu-ral nordestinos, fatos diversos da sociedade e da realidade vivida por este povo.

    Gnero Lrico:

    certo tipo de texto no qual um eu lrico (a voz que fala no poema e que nem sempre correspon-de do autor) exprime suas emoes, ideias e impresses em face do mundo exterior. Normal-mente os pronomes e os verbos esto em 1 pes-soa e h o predomnio da funo emotiva da lin-guagem.

    Elegia: um texto de exaltao morte de al-gum, sendo que a morte elevada como o pon-to mximo do texto. O emissor expressa tristeza, saudade, cime, decepo, desejo de morte. um poema melanclico. Um bom exemplo a pea Roan e yufa, de william shakespeare.

    Epitalmia: um texto relativo s noites nupci-ais lricas, ou seja, noites romnticas com poe-mas e cantigas. Um bom exemplo de epitalmia a pea Romeu e Julieta nas noites nupciais.

    Ode (ou hino): o poema lrico em que o emis-sor faz uma homenagem ptria (e aos seus smbolos), s divindades, mulher amada, ou a algum ou algo importante para ele. O hino uma ode com acompanhamento musical;

    Idlio (ou cloga): o poema lrico em que o emissor expressa uma homenagem natureza, s belezas e s riquezas que ela d ao homem. o poema buclico, ou seja, que expressa o desejo de desfrutar de tais belezas e riquezas ao lado da amada (pastora), que enriquece ainda mais a paisagem, espao ideal para a paixo. A cloga um idlio com dilogos (muito rara);

    Stira: o poema lrico em que o emissor faz uma crtica a algum ou a algo, em tom srio ou irnico.

    Acalanto: ou cano de ninar;

    Acrstico: (akros = extremidade; stikos = linha), composio lrica na qual as letras iniciais de cada verso formam uma palavra ou frase;

    Balada: uma das mais primitivas manifestaes poticas, so cantigas de amigo (elegias) com ritmo caracterstico e refro vocal que se desti-nam dana;

    Cano (ou Cantiga, Trova): poema oral com

    acompanhamento musical;

    Gazal (ou Gazel): poesia amorosa dos persas e

    rabes; odes do oriente mdio;

    Haicai: expresso japonesa que significa versos cmicos (=stira). E o poema japons formado de trs versos que somam 17 slabas assim dis-tribudas: 1 verso= 5 slabas; 2 verso = 7 sla-bas; 3 verso 5 slabas;

    Soneto: um texto em poesia com 14 versos, dividido em dois quartetos e dois tercetos, com rima geralmente em a-ba-b a-b-b-a c-d-c d-c-d.

    Vilancete: so as cantigas de autoria dos poetas viles (cantigas de escrnio e de maldizer); satri-cas, portanto.

    Informaes Implcitas

    Muitas pessoas se perguntam como melhorar sua capacidade de interpretao dos textos. Primei-ramente, preciso ter em mente que um texto formado por informaes explcitas e implcitas. As informaes explcitas so aquelas manifesta-das pelo autor no prprio texto.

    As informaes implcitas no so manifestadas pelo autor no texto, mas podem ser subentendi-das. Muitas vezes, para efetuarmos uma leitura eficiente, preciso ir alm do que foi dito, ou seja, ler nas entrelinhas. Por exemplo, observe este enunciado: Patrcia parou de tomar refrigerante.

    A informao explcita Patrcia parou de tomar refrigerante. A informao implcita Patrcia tomava refrigerante antes.Agora, veja este outro exemplo: Felizmente, Patrcia parou de tomar refrigerante.

    A informao explcita Patrcia parou de tomar refrigerante. A palavra felizmente indica que o falante tem uma opinio positiva sobre o fato essa a informao implcita.

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    Com esses exemplos, mostramos como podemos inferir informaes a partir de um texto. Fazer uma inferncia significa concluir alguma coisa a partir de outra j conhecida. Nos vestibulares, fazer inferncias uma habilidade fundamental para a interpretao adequada dos textos e dos enunciados.

    A seguir, veremos dois tipos de informaes que podem ser inferidas: as pressupostas e as suben-tendidas.

    Pressupostos

    Uma informao considerada pressuposta quando um enunciado depende dela para fazer sentido.

    Considere, por exemplo, a seguinte pergunta: Quando Patrcia voltar para casa?. Esse enun-ciado s faz sentido se considerarmos que Patr-cia saiu de casa, ao menos temporariamente essa a informao pressuposta. Caso Patrcia se encontre em casa, o pressuposto no vlido, o que torna o enunciado sem sentido.

    Repare que as informaes pressupostas esto marcadas atravs de palavras e expresses pre-sentes no prprio enunciado e resultam de um raciocnio lgico.

    Portanto, no enunciado Patrcia ainda no voltou para casa, a palavra ainda indica que a volta de Patrcia para casa dada como certa pelo falan-te.

    Subtendidos

    Ao contrrio das informaes pressupostas, as informaes subentendidas no so marcadas no prprio enunciado, so apenas sugeridas, ou seja, podem ser entendidas como insinuaes.

    O uso de subentendidos faz com que o enuncia-dor se esconda atrs de uma afirmao, pois no quer se comprometer com ela.

    Por isso, dizemos que os subentendidos so de responsabilidade do receptor, enquanto os pres-supostos so partilhados por enunciadores e re-ceptores.

    Em nosso cotidiano, somos cercados por infor-maes subentendidas. A publicidade, por exem-plo, parte de hbitos e pensamentos da socieda-de para criar subentendidos. J a anedota um gnero textual cuja interpretao depende a que-bra de subentendidos.

    Quanto significao, as palavras so divididas nas seguintes categorias:

    Sinnimos

    As palavras que possuem significados prximos

    so chamadas sinnimos. Exemplos:

    Casa - Lar - Moradia Residncia

    Longe Distante

    Delicioso Saboroso

    Carro - Automvel

    Observe que o sentido dessas palavras

    so prximos, mas no so exatamente equiva-

    lentes. Dificilmente encontraremos um sinnimo

    perfeito, uma palavra que signifique exatamente a

    mesma coisa que outra.

    H uma pequena diferena de significado entre

    palavras sinnimas. Veja que, embora ca-

    sa e lar sejam sinnimos, ficaria estranho se fa-

    lssemos a seguinte frase:

    Comprei um novo lar.

    Obs: o uso de palavras sinnimas pode ser de

    grande utilidade nos processos de retomada de

    elementos que inter-relacionam as partes dos

    textos.

    Antnimos

    So palavras que possuem significados opostos,

    contrrios. Exemplos:

    Mal / Bem

    Ausncia / Presena

    Fraco / Forte

    Claro / Escuro

    Subir / Descer

    Cheio / Vazio

    Possvel / Impossvel

    Polissemia

    Polissemia a propriedade que uma mesma pa-

    lavra tem de apresentar mais de um significado

    nos mltiplos contextos em que aparece. Veja

    alguns exemplos de palavras polissmicas:

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    Cabo (posto militar, acidente geogrfico, cabo da

    vassoura, da faca)

    Banco (instituio comercial financeira, assento)

    Manga (parte da roupa, fruta)

    Coerncia e Articulao no Texto

    Na construo de um texto, assim como na fala, usamos mecanismos para garantir ao interlocutor a compreenso do que dito, ou lido.

    Esses mecanismos lingusticos que estabelecem a conectividade e retomada do que foi escrito ou dito, so os referentes textuais e buscam garantir a coeso textual para que haja coerncia, no s entre os elementos que compem a orao, como tambm entre a sequncia de oraes dentro do texto.

    Essa coeso tambm pode muitas vezes se dar de modo implcito, baseado em conhecimentos anteriores que os participantes do processo tm com o tema. Por exemplo, o uso de uma determi-nada sigla, que para o pblico a quem se dirige deveria ser de conhecimento geral, evita que se lance mo de repeties inteis.

    Numa linguagem figurada, a coeso uma linha imaginria - composta de termos e expresses - que une os diversos elementos do texto e busca estabelecer relaes de sentido entre eles.

    Dessa forma, com o emprego de diferentes pro-cedimentos, sejam lexicais (repetio, substitui-o, associao), sejam gramaticais (emprego de pronomes, conjunes, numerais, elipses), cons-troem-se frases, oraes, perodos, que iro a-presentar o contexto decorre da a coerncia textual.

    Um texto incoerente o que carece de sentido ou o apresenta de forma contraditria. Muitas vezes essa incoerncia resultado do mau uso daque-les elementos de coeso textual.

    Na organizao de perodos e de pargrafos, um erro no emprego dos mecanismos gramaticais e lexicais prejudica o entendimento do texto. Cons-trudo com os elementos corretos, confere-se a ele uma unidade formal.

    Nas palavras do mestre Evanildo Bechara (1), o enunciado no se constri com um amontoado de palavras e oraes. Elas se organizam segun-do princpios gerais de dependncia e indepen-dncia sinttica e semntica, recobertos por uni-dades meldicas e rtmicas que sedimentam es-tes princpios.

    Desta lio, extrai-se que no se deve escrever frases ou textos desconexos imprescindvel que haja uma unidade, ou seja, que essas frases estejam coesas e coerentes formando o texto.

    Alm disso, relembre-se que, por coeso, enten-de-se ligao, relao, nexo entre os elementos que compem a estrutura textual.

    H diversas formas de se garantir a coeso entre os elementos de uma frase ou de um texto:

    1. Substituio de palavras com o emprego de sinnimos, ou de palavras ou expresses do mesmo campo associativo.

    2. Nominalizao emprego alternativo entre um verbo, o substantivo ou o adjetivo correspondente (desgastar / desgaste / desgastante).

    3. Repetio na ligao semntica dos termos, empregada como recurso estilstico de inteno articulatria, e no uma redundncia - resultado da pobreza de vocabulrio. Por exemplo, Gran-de no pensamento, grande na ao, grande na glria, grande no infortnio, ele morreu desco-nhecido e s. (Rocha Lima)

    4. Uso de hipnimos relao que se estabelece com base na maior especificidade do significado de um deles. Por exemplo, mesa (mais especfi-co) e mvel (mais genrico).

    5. Emprego de hipernimos - relaes de um termo de sentido mais amplo com outros de sen-tido mais especfico. Por exemplo, felino est numa relao de hiperonmia com gato.

    6. Substitutos universais, como os verbos vicrios (ex.: Necessito viajar, porm s o farei no ano vindouro) A coeso apoiada na gramtica d-se no uso de conectivos, como certos pronomes, certos advrbios e expresses adverbiais, con-junes, elipses, entre outros.

    A elipse se justifica quando, ao remeter a um enunciado anterior, a palavra elidida facilmente identificvel (Ex.: O jovem recolheu-se cedo. ... Sabia que ia necessitar de todas as suas foras. O termo o jovem deixa de ser repetido e, assim, estabelece a relao entre as duas oraes.).

    Diticos so elementos lingsticos que tm a propriedade de fazer referncia ao contexto situa-cional ou ao prprio discurso. Exercem, por exce-lncia, essa funo de progresso textual, dada sua caracterstica: so elementos que no signifi-cam, apenas indicam, remetem aos componentes da situao comunicativa.

  • 9

    J os componentes concentram em si a significa-o. Elisa Guimares (2) nos ensina a esse res-peito:

    Os pronomes pessoais e as desinncias verbais indicam os participantes do ato do discurso. Os pronomes demonstrativos, certas locues pre-positivas e adverbiais, bem como os advrbios de tempo, referenciam o momento da enunciao, podendo indicar simultaneidade, anterioridade ou posterioridade. Assim: este, agora, hoje, neste momento (presente); ultimamente, recentemente, ontem, h alguns dias, antes de (pretrito); de agora em diante, no prximo ano, depois de (futu-ro).

    Esse conceito ser de grande valia quando tra-tarmos do uso dos pronomes demonstrati-vos.Somente a coeso, contudo, no suficiente para que haja sentido no texto, esse o papel da coerncia, e coerncia se relaciona intimamente a contexto.

    Como nosso intuito nesta pgina a apresenta-o de conceitos, sem aprofund-los em demasi-a, bastam-nos essas informaes.

    Vejamos como o examinador tem abordado o assunto:

    Assinale a opo em que a estrutura sugerida para preenchimento da lacuna correspondente provoca defeito de coeso e incoerncia nos sen-tidos do texto.

    A violncia no Pas h muito ultrapassou todos os limites. ___1___ dados recentes mostram o Brasil como um dos pases mais violentos do mundo, levando-se em conta o risco de morte por homic-dio.

    Em 1980, tnhamos uma mdia de, aproximada-mente, doze homicdios por cem mil habitantes. ___2___, nas duas dcadas seguintes, o grau de violncia intencional aumentou, chegando a mais do que o dobro do ndice verificado em 1980 121,6% , ___3___, ao final dos anos 90 foi supe-rado o patamar de 25 homicdios por cem mil habitantes. ___4___, o PIB por pessoa em idade de trabalho decresceu 26,4%, isto , em mdia, a cada queda de 1% do PIB a violncia crescia mais do que 5% entre os anos 1980 e 1990.

    Estudos do Banco Interamericano de Desenvol-vimento mostram que os custos da violncia con-sumiram, apenas no setor sade, 1,9% do PIB entre 1996 e 1997. ___5___ a vitimizao letal se distribui de forma desigual: so, sobretudo, os jovens pobres e negros, do sexo masculino, entre 15 e 24 anos, que tm pago com a prpria vida o preo da escalada da violncia no Brasil.

    a) 1 Tanto assim que

    b) 2 Lamentavelmente

    c) 3 Ou seja

    d) 4 Simultaneamente

    e) 5 Se bem que

    COMENTRIO: As lacunas no texto ocultam pa-lavras e expresses que atuam como conectores ligam oraes estabelecendo relaes semnti-cas entre os perodos. A banca sugere algumas opes de preenchimento.

    Dessas, a nica que no atende ao solicitado a de nmero 5, uma vez que a expresso Se bem que deveria introduzir uma orao de valor con-cessivo, estabelecendo, assim, idia contrria que foi apresentada at ento pelo texto.

    Verifica-se, contudo, que o que se segue ratifica as informaes anteriores ao fornecer dados complementares s estatsticas sobre homicdios. Sendo aceita a sugesto da banca, a coerncia textual seria prejudicada. Por isso, o gabarito a opo E.

    A Referenciaro/ Os Referentes/ Coerncia E Coeso

    (Texto publicado no site da UFSC)

    A fala e tambm o texto escrito constituem-se no apenas numa seqncia de palavras ou de fra-ses. A sucesso de coisas ditas ou escritas forma uma cadeia que vai muito alm da simples se-qencialidade: h um entrelaamento significativo que aproxima as partes formadoras do texto fala-do ou escrito.

    Os mecanismos lingsticos que estabelecem a conectividade e a retomada e garantem a coeso so os referentes textuais. Cada uma das coisas ditas estabelece relaes de sentido e significado tanto com os elementos que a antecedem como com os que a sucedem, construindo uma cadeia textual significativa.

    Essa coeso, que d unidade ao texto, vai sendo construda e se evidencia pelo emprego de dife-rentes procedimentos, tanto no campo do lxico, como no da gramtica.

    (No esqueamos que, num texto, no existem ou no deveriam existir elementos dispensveis. Os elementos constitutivos vo construindo o texto, e so as articulaes entre vocbulos, entre as partes de uma orao, entre as oraes e en-tre os pargrafos que determinam a referencia-

  • 10

    o, os contatos e conexes e estabelecem sen-tido ao todo.)

    Ateno especial concentram os procedimentos que garantem ao texto coeso ecoerncia. So esses procedimentos que desenvolvem a dinmi-ca articuladora e garantem a progresso textual.

    A coeso a manifestao lingstica da coern-cia e se realiza nas relaes entre elementos sucessivos (artigos, pronomes adjetivos, adjetivos em relao aos substantivos; formas verbais em relao aos sujeitos; tempos verbais nas relaes espao-temporais constitutivas do texto etc.), na organizao de perodos, de pargrafos, das par-tes do todo, como formadoras de uma cadeia de sentido capaz de apresentar e desenvolver um tema ou as unidades de um texto. Construda com os mecanismos gramaticais e lexicais, confe-re unidade formal ao texto.

    1. Considere-se, inicialmente, a coeso apoiada no lxico. Ela pode dar-se pelareiterao, pe-la substituio e pela associao.

    garantida com o emprego de:

    Enlaces semnticos de frases por meio da repetio. A mensagem-tema do texto apoiada na conexo de elementos lxicos sucessivos pode dar-se por simples iterao (repetio). Ca-be, nesse caso, fazer-se a diferenciao entre a simples redundncia resultado da pobreza de vocabulrio e o emprego de repeties como recurso estilstico, com inteno articulatria. Ex.: as contas do patro eram diferentes, arranjadas a tinta e contra o vaqueiro, mas fabiano sabia que elas estavam erradas e o patro queria engan-lo.enganava.Vidas secas, p. 143);

    Substituio lxica, que se d tanto pelo emprego de sinnimos como de palavras quase sinnimas. Considerem-se aqui alm das pala-vras sinnimas, aquelas resultantes de famlias ideolgicas e do campo associativo, como, por exemplo, esvoaar, revoar, voar;

    Hipnimos (relaes de um termo especfi-co com um termo de sentido geral, ex.: gato, felino) e hipernimos (relaes de um termo de sentido mais amplo com outros de sen-tido mais especfico, ex.: felino, gato);

    Nominalizaes (quando um fato, uma ocorrncia, aparece em forma de verbo e, mais adiante, reaparece como substantivo, ex.: consertar, o conserto; viajar,a viagem). preciso distinguir-se entre nominalizao estri-ta e.generalizaes (ex.: o co < o animal) e especificaes (ex.: planta > rvore > palmeira);

    Substitutos universais (ex.: joo trabalha muito. Tambm o fao. O verbo fazer em substitu-io ao verbo trabalhar);

    Enunciados que estabelecem a recapitula-o da idia global. Ex.: o curraldeserto, o chi-queiro das cabras arruinado e tambm deserto, a casa do vaqueiro fechada, tudo anunciava aban-dono (vidas secas, p.11). Esse enunciado chamado de anfora conceptual. Todo um enun-ciado anterior e a idia global que ele refere so retomados por outro enunciado que os resume e/ou interpreta. Com esse recurso, evitam-se as repeties e faz-se o discurso avanar, manten-do-se sua unidade.

    2. A coeso apoiada na gramtica d-se no uso de:

    Certos pronomes (pessoais adjetivos ou substantivos). Destacam-se aqui os pronomes pessoais de terceira pessoa, empregados como substitutos de elementos anteriormente presentes no texto, diferentemente dos pronomes de 1

    e

    2 pessoa que se referem pessoa que fala e

    com quem esta fala.

    Certos advrbios e expresses adverbiais;

    Artigos;

    Conjunes;

    Numerais;

    Elipses.

    A elipse se justifica quando, ao remeter a um enunciado anterior, a palavra elidida facilmente identificvel (Ex.: O jovem recolheu-se cedo. Sabia que ia necessitar de todas as suas for-as. O termo o jovem deixa de ser repetido e, assim, estabelece a relao entre as duas ora-es.). a prpria ausncia do termo que marca a inter-relao.

    A identificao pode dar-se com o prprio enunci-ado, como no exemplo anterior, ou com elemen-tos extraverbais, exteriores ao enunciado. Vejam-se os avisos em lugares pblicos (ex.: Perigo!) e as frases exclamativas, que remetem a uma situ-ao no-verbal. Nesse caso, a articulao se d entre texto e contexto (extratextual);

    As concordncias;

    A correlao entre os tempos verbais.

    Os diticos exercem, por excelncia, essa funo de progresso textual, dada sua caracterstica: so elementos que no significam, apenas indi-

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    cam, remetem aos componentes da situao comunicativa. J os componentes concentram em si a significao. Referem os participantes do ato de comunicao, o momento e o lugar da enunci-ao.

    Elisa Guimares ensina a respeito dos diticos:

    Os pronomes pessoais e as desinncias verbais indicam os participantes do ato do discurso. Os pronomes demonstrativos, certas locues pre-positivas e adverbiais, bem como os advrbios de tempo, referenciam o momento da enunciao, podendo indicar simultaneidade, anterioridade ou posterioridade. Assim: este, agora, hoje, neste momento (presente); ultimamente, recentemente, ontem, h alguns dias, antes de (pretrito); de agora em diante, no prximo ano, depois de (futu-ro).

    Maria da Graa Costa Val lembra que esses recursos expressam relaes no s entre os elementos no interior de uma frase, mas tambm entre frases e seqncias de frases dentro de um texto.

    No s a coeso explcita possibilita a compreen-so de um texto. Muitas vezes a comunicao se faz por meio de uma coeso implcita, apoiada no conhecimento mtuo anterior que os participantes do processo comunicativo tm da lngua.

    Variao da Lngua

    Pelo estudo da seleo vocabular e da sintaxe, objetivamos descrever as mudanas que podem ocorrer na produo textual escrita, a partir do vocabulrio e do uso deste pelo emissor, nos processos de comunicao dos quais faz parte.

    Ao produzir seu texto, seja ele falado ou escrito, o emissor estar, mesmo sem ter conscincia disto, envolvendo, alm da seleo vocabular e da sin-taxe, outros campos de pesquisa nesta produo. Referimo-nos semntica e estilstica.

    Dessa forma, tentaremos desvendar a rede de relaes que existe desde o momento em que o emissor pretende construir sua mensagem, pas-sando pela influncia que a oralidade pode exer-cer sobre ela e pela sua escritura propriamente dita, at sua conseqente interpretao por de-terminado interlocutor.

    Para o falante, a sua lngua materna um instru-mento de suma importncia tanto para a sua pr-tica comunicativa quanto para sua afirmao en-quanto sujeito que exerce determinado papel na sociedade.

    O que existe por trs do ato comunicativo, da fala em si, no est explcito para o emissor. Porm,

    mesmo que o falante desconhea ou (re)conhea este fato, isto no far com que sua mensagem seja menos eficiente, pois os sentidos das pala-vras que emprega no se acham dissociados do prprio pensamento. Marx esclarece muito bem esta relao entre fala e pensamento/conscincia:

    A fala velha como a conscincia, a fala uma conscincia prtica, real, que existe tanto para os outros como para mim mesmo. E a fala, como a conscincia, nasce apenas da necessidade, da imperiosidade de contato com outras pessoas. (Marx apud Schaff, 1968, p. 317.)

    A necessidade inegvel de que o homem sente em se comunicar com o outro resulta em esco-lhas: a quem falar, o que falar, como falar. O dis-curso produzido a partir dessas escolhas ser somente seu, visto que refletir seus fracassos e conquistas, sua histria, seu eu.

    Fazendo parte de uma sociedade, na qual estar em contato constante com outros, o indivduo necessitar no apenas da linguagem oral para se comunicar. Dentre outras linguagens, a escrita ser mais um instrumento disposio dele para demonstrar sua competncia lingstica.

    Acontece que esta competncia constantemen-te colocada prova, como se o usurio da lngua nunca tivesse tido contato com ela. Referimo-nos especificamente ao ensino da lngua.

    Ao tentar transportar os conhecimentos lingsti-cos que j possui e que emprega eficientemente, da linguagem oral para a linguagem escrita, reve-la-se muitas vezes um fracassado.

    difcil entender por que precisamos expressar-mo-nos diferentemente na escrita. Por que exis-tem tantas regras que j no traduzem a realida-de do usurio da lngua? Por que a cada esquina de uma pgina h tantas excees, contradies?

    H extrema urgncia em se rever o ensino da lngua nas escolas, principalmente de ensino fundamental, para que estas questes possam ser esclarecidas. E, antes de tudo, a reformulao precisa estar presente tambm nos cursos de formao de professores, para que esta nova viso ganhe o devido espao.

    De outro modo, no vemos como o falante deixa-r de sentir-se perplexo diante de um D-me um cigarro no lugar de um Me d um cigarro.

    O estudo da seleo vocabular e da sintaxe na produo dos sentidos durante a textualizao justifica-se tendo em vista que

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    atravs da seleo vocabular que o emissor revela a sua intencionalidade ao produzir deter-minado texto;

    o contexto situacional do ato comunicativo de-terminar, em parte, a escolha vocabular do sujei-to escritor;

    a organizao das palavras selecionadas levar interpretao desejada pelo emissor;

    se faz necessrio evitar as interferncias negati-vas no processo de produo textual escrita, uma vez que, por serem negativas, prejudicam o bom entendimento da mensagem.

    Estudo da Seleo Vocabular

    Chega mais perto e contempla as palavras.

    Cada uma tem mil faces secretas sob a face neu-tra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrvel, que lhe deres:

    Trouxeste a chave?

    Todo usurio da lngua possui a chave que lhe d acesso ao mundo das palavras. A capacidade da linguagem humana essa chave. Quando crian-a, o falante, de modo bastante natural, principia a utilizar o valioso instrumento da linguagem. Enquanto tmido aprendiz de palavras reproduz muito e cria pouco.

    Porm, seguindo um caminho irretornvel, no mais necessita de que lhe digam o que falar como falar. J se sente perfeitamente capaz de seguir sozinho. Sente-se seguro do conhecimento que possui, do acervo vocabular de que dispe. O uso que fazemos desse acervo vocabular determi-nado pelas situaes que vivenciamos.

    Dessa forma, em um dado contexto, a seleo vocabular da qual lanaremos mo para produzir um texto dever estar de acordo com o sentido que queremos dar nossa mensagem. Ento, no nos causa espanto que o nosso alu-no/usurio da lngua queira manter-se fiel ao seu texto, reproduzindo na escrita aquilo que pensou e disse. Mesmo que esse texto passe a ser con-denado por no se ajustar aos padres impostos pelas gramticas normativas. Parece-lhe que, ao mexerem no seu texto, esto retirando o seu di-reito de ser autntico.

    O pessoal fizeram muita baguna na sala, profes-sora!

    A gente gostamos de aula vaga.

    perfeitamente compreensvel que tais constru-es sejam usadas pelo falante/escritor, uma vez

    que ele no quer deixar dvidas de que est refe-rindo-se a um grupo de vrias pessoas. No seu entender, o verbo no singular soa de forma estra-nha, no condiz com a verdade que ele quer ex-pressar.

    Sobre o papel do sentido nas relaes entre as palavras, afirma Guiraud (1972, p. 26-27):

    O sentido, tal como nos comunicado no discur-so, depende das relaes da palavra com as ou-tras palavras do contexto, e tais relaes so determinadas pela estrutura do sistema lingsti-co.

    estrutura do sistema lingstico chamamos gramtica internalizada por cada indivduo, o mesmo que conhecimento implcito da lngua, conforme Perini (2000, p. 12.). Por saber empre-g-la, o falante faz as relaes que deseja com as palavras escolhidas de seu lxico, de forma que molda seu texto para este atenda s suas inten-es.

    A disposio em que coloca as palavras valoriza o significado delas. Wittgenstein (apud Rector, 1980, p. 53.) corrobora esta idia ao constatar que as palavras s significam na medida em que esto num contexto interativo, isto , como se seu valor variasse em funo de sua disposio face s demais.

    A interao da palavra com o contexto revela-se no discurso, pois nele que se manifestam estas relaes da linguagem, visto que o discurso o lugar de encontro do significante e do significado e o lugar das distores da comunicao que ocorrem devido liberdade da comunicao. (Rector, 1980, p. 130.)

    O falante no deseja perder a liberdade de comu-nicar-se, de colocar no ato de comunicao do qual faz parte sua marca pessoal. Atentemos aqui para a questo do estilo prprio.

    Uma entonao diferente, uma determinada fle-xo de grau, uma intencional ausncia de flexo de nmero so exemplos de marcas pessoais que ocorrem na fala e que naturalmente se con-cretizam na escrita.

    AMIGO 1: - Comprei um estojo manero. Custou s dois real!

    AMIGO 2: - Tambm, voc filhote de loja de um e noventa e nove!

    H tendncia, por parte do falante de lngua por-tuguesa, a reduzir ditongos em simples vogais, conforme atesta Coutinho em sua Gramtica Histrica (COUTINHO, p. 108.). Assim, para o usurio da lngua, perfeitamente correto falar

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    manero em vez de maneiro. Tal tendncia acaba por ser explicitada na escrita por influncia da oralidade. Se ningum praticamente fala man-teiga, conseqentemente estaremos diante da palavra mantega nas redaes de nossos alu-nos.

    Quanto questo da ausncia de flexo de n-mero da palavra real, temos aqui duas coloca-es. Por um lado, poderamos considerar a ex-presso dois real apenas um caso de erro de concordncia; por outro lado, estaramos diante de uma seleo vocabular empregada para ex-pressar, por exemplo, esperteza de quem compra um bom produto por um pequeno preo.

    Em nossa literatura, h muitos exemplos em que a seleo vocabular aliada linguagem oral, s para determo-nos em assuntos objetos de nosso estudo, produzem obras originalssimas. Citemos, para ilustrar, Mrio de Andrade com Macunama (texto em prosa) e Oswald de Andrade com o texto em verso que vai transcrito a seguir:

    brasil

    O Z Pereira chegou de caravela

    E preguntou pro guarani da mata virgem

    - Sois cristo?

    - No. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte

    Teter tet Quiz Quiz Quec!

    L longe a ona resmungava Uu! ua! uu!

    O negro zonzo sado da fornalha

    Tomou a palavra e respondeu

    - Sim pela graa de Deus

    Canhem Bab Canhem Bab Cum Cum!

    E fizeram o Carnaval.

    (Andrade apud Cereja & Magalhes, 1995, p. 312.)

    Para o falante/usurio da lngua o que conta a praticidade. Se na linguagem oral, ele dispe de tanta liberdade para comunicar-se, por que no fazer uso dessa liberdade tambm na escrita? No queremos dizer com isso que devemos abo-lir, no ensino da lngua, as regras que estruturam nosso sistema lingstico, mas que precisamos adapt-las realidade do falante. Por que no acompanhar na escrita a dinamicidade da lngua?

    Concluindo, o ensino da lngua pode contribuir para que o nosso aluno (falante competente da

    lngua materna) aproprie-se de conhecimentos que permitam que ele no apenas chegue perto e contemple as palavras, mas que faa bom uso da chave que possui para que no d respostas pobres ou terrveis s perguntas que lhe forem feitas.

    Sintaxe de Concordncia

    A oralidade influencia constantemente a produo de um texto escrito. Muitas vezes, esta influncia considerada negativa, pois resulta nos chama-dos erros de concordncia. As gramticas nor-mativas costumam listar regras muitas vezes inflexveis para determinar o que certo e o que errado. Porm, estudiosos mais modernos tm percebido e registrado casos passveis de discus-so.

    Perini (2000, p. 19.) cita o caso da expresso os relgio, comprovadamente utilizada por falantes cultos e incultos. No estamos diante de um mero caso de erro de concordncia e sim de uma tendncia lingstica da oralidade que vem sendo empregada tambm na escrita. Tendncia esta que no pode ser ignorada pelos profissionais que lidam com o ensino da lngua.

    Para Lapa (1991, p. 157.) o erro de concordncia no existe, pois a construo de um texto reflete o estilo de cada um. Vejamos sua colocao so-bre o assunto:

    ...esses desvios aparentes de concordncia se explicam sobretudo por trs motivos: um que consiste em concordar com as palavras no se-gundo a letra mas segundo a idia; outro, segun-do o qual a concordncia varia conforme a posi-o dos termos do discurso; e um terceiro, que traduz o propsito de fazer a concordncia com o termo que mais interessa acentuar ou valorizar.

    preciso que analisemos bem os casos dos chamados erros de concordncia que surgem nos textos produzidos por nossos alunos. Muitas vezes, a produo do aluno revela textos coeren-tes e coesos, dentro de seus propsitos, diferen-tes do que esperamos e desejamos encontrar.

    Observemos um trecho de uma redao de um aluno da 7. Srie do ensino fundamental:

    Gosto de sair curto muitos bailes fanks todos os finais de semana vou ao baile. (sic)

    Ignorando em nosso comentrio as questes da pontuao e da grafia equivocada da palavra funk, vamos ao caso de concordncia que a se apresenta: curto muitos bailes fanks. Ns, pro-fessores da lngua, esperaramos encontrar a seguinte construo: curto muito bailes funks, na qual a palavra muito estaria funcionando como

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    advrbio e no como pronome indefinido, tal co-mo se encontra na redao do aluno. Para que se considere errada a construo do aluno, preciso analisar seu texto com cuidado, tentando perce-ber sua inteno, seu propsito.

    Acreditamos que a falta de organizao do pen-samento influencia a produo do discurso do nosso aluno, seja tal produo oral ou escrita. A forma como o ensino da lngua ainda tratado no tem oportunizado o exerccio da organizao do pensamento, uma vez que os contedos gra-maticais so priorizados em detrimento de outros (produo oral e escrita, por exemplo), tornando a aula de portugus um amontoado de coisas sem sentido.

    No temos dado ao nosso aluno espao suficien-te para que ele exera seu direito de fala. Nor-malmente, ele est na sala apenas para ouvir, para copiar, para reproduzir o que se espera dele. Ao ser solicitado a falar, muitas vezes, sua fala truncada, inicia um assunto e no capaz de conclu-lo. Questo de timidez? Em alguns casos, sim. Essa fala fragmentada, no desenvolvida, concretiza-se na escrita de forma bem clara: au-sncia de coeso e de coerncia, fuga ao tema proposto, repeties excessivas, para citar ape-nas os problemas mais encontrados.

    Prycila eu quero que voc fiquei torcendo porque agora porque no dia 16 de outubro vou fazer pro-va com padre para crisma porque no final do vou se alistar. (sic) (Trecho de um texto produzido por aluno de 6. Srie do ensino fundamental.)

    Atentemos para a mistura de assuntos que o alu-no realiza, utilizando basicamente um conectivo (porque). Que relao existe entre os dois fatos, o de ser crismado e o de se alistar no final do ano (palavra omitida, provavelmente sem que o aluno tenha tido esta inteno)? Acreditamos que aqui no estejamos diante de um caso de desconhe-cimento do significado do conectivo apenas. E sim de incapacidade de relacionar idias, de fazer conexo de sentidos.

    Por tudo o que foi exposto at aqui, cremos que o exerccio da leitura e da escrita, como forma de desenvolver a competncia lingstica, seria uma das estratgias numa tentativa de minimizar mui-tos dos problemas citados.

    Sintaxe de Regncia

    Na maioria das gramticas normativas, o conceito de regncia aborda a relao de dependncia entre termos da orao. Fazer com que o nosso aluno, que traz influncias (negativas e positivas) da oralidade, perceba e compreenda essa idia

    de dependncia , por vezes, tarefa bastante rdua.

    Pesquisando em algumas gramticas disponveis aos nossos estudantes, observamos que alguns casos so tratados de forma diversa. Vejamos um caso: no Curso Prtico de Gramtica, de Ernani Terra (1996, p. 299.), h a seguinte afirmao referente regncia do verbo chegar:

    O verbo chegar exige a preposio a e no a preposio em.

    J a Gramtica, de Faraco e Moura (1999, p. 514.), apresenta a seguinte colocao em relao ao mesmo verbo chegar:

    intransitivo no sentido de atingir data ou local. (...) J bastante comum o uso da preposi-o em nesta acepo.

    Essas abordagens conflitantes apresentadas pelas gramticas citadas acabam por confundir o nosso aluno e, at mesmo, por dificultar o enten-dimento deste assunto. Que frase mais comum nas redaes de nossos alunos? Cheguei em casa muito tarde ou Cheguei a minha casa muito tarde? Com certeza, a primeira. Portanto, no mais cabvel afirmar que o verbo chegar no exi-ge a preposio em. Uma ou outra preposio perfeitamente admissvel.

    Reconhece-se que a lngua falada no Brasil no a mesma representada na escrita. tambm dessa questo que temos tratado at ento. O falante, com o propsito de passar adiante seu pensamento, suas idias, seleciona as palavras que melhor representam sua inteno e arruma-as de maneira que estas atendam aos seus dese-jos.

    Altera, propositalmente ou no, a sintaxe de con-cordncia ou de regncia, construindo seu prprio estilo. Sua mensagem poder ou no ser com-preendida da forma como gostaria de que fosse. As chances de que o entendimento ocorra tal como planejou so grandes.

    O estudo do emprego diversificado que se faz da lngua falada (situaes informais) e da lngua escrita (situaes formais) est cada vez mais ocupando espao nos meios acadmicos que tratam do ensino da lngua. Algumas obras vm acrescentar novas idias que auxiliam o presente trabalho, como Mrio Perini (Sofrendo a Gramti-ca), Celso Pedro Luft (Lngua e Liberdade) e E-vanildo Bechara (Ensino da Gramtica.

    Opresso? Liberdade?). Porm, dcadas de um ensino equivocado exigiro a adoo de um novo modo de ensinar a gramtica, a partir de uma viso de linguagem que liberte, que permita a

  • 15

    construo de um discurso de sujeito, e no de quem se sujeita.

    Voltando a mais um caso de sintaxe de regncia. Se um dos significados da palavra com a idia de companhia, como considerar errada a constru-o Namoro com Carlos? Para o falante/usurio da lngua, a frase est corretssima.

    Para tentarmos convencer este falante de que a sua construo incorreta, s temos o argumento de que o verbo namorar transitivo direto (no admitindo preposio), pois quem namora, namo-ra algum. Porm no argumento forte o sufici-ente para deslegitimar a sua inteno de transmi-tir a idia de um estar com o outro, de namo-rar com o outro.

    Finalizando, a estrutura lingstica que cada usu-rio da lngua internaliza, d-lhe subsdios para que ele elabore construes que, na escrita, so consideradas como erros de concordncia, de regncia, entre tantos outros erros. Cabe ampli-ar, na sistematizao das regras que estruturam a lngua, o registro das possibilidades de constru-es de que o usurio da lngua dispe. At por-que as invariaes dentro das variaes que do vida lngua.

    Sintaxe de Colocao

    No incio de nosso trabalho, comentamos a res-peito de o falante sentir-se perplexo diante da construo D-me um cigarro, verso conheci-dssimo do poema Pronominal, de Oswald de Andrade, muito usado para exemplificar casos de colocao pronominal. claro que o usurio da lngua estranha uma construo como essa, quando, no seu falar revela-se a tendncia de fazer uso da prclise.

    O nosso aluno jamais empregaria a frase Em-preste-me uma caneta ao dirigir-se ao colega a seu lado. At mesmo ns, professores e conhe-cedores da lngua, no dia a dia, empregamos a prclise com abundncia em nossa fala. Ainda mais que a questo da colocao dos pronomes na frase est mais a servio da estilstica que da sintaxe. Observemos:

    A. Se atrasou hoje, professora.

    B. Atrasou-se hoje, professora.

    De acordo com as regras que norteiam o empre-go da prclise, a frase A estaria fora dos padres, porm, numa linguagem informal, falada ou escri-ta, seria perfeitamente justificvel, na medida em que representaria um estilo despojado e simples do locutor/escritor. J a frase B exemplifica o correto emprego do pronome, mas na prtica de nossos alunos pouco utilizada.

    O emprego da mesclise ainda mais complica-do. Em primeiro lugar, h a preferncia de o usu-rio da lngua portuguesa no Brasil utilizar para o tempo futuro do presente do indicativo, por exem-plo, a locuo verbal: Vou fazer prova amanh no lugar de Farei prova amanh; em segundo lugar, o emprego da mesclise soa como pedan-tismo, prprio da linguagem rebuscada, empola-da: Far-te-ei uma proposta amanh. O uso da mesclise est reduzido produo escrita de usurios com bom domnio da estrutura da lngua.

    Faamos mais um comentrio:

    Est um calor! A janela est fechada, professora. Quer que abra ela?

    um tipo de construo amplamente empregada pelo falante. Devemos consider-la totalmente errada? E o que podemos dizer de construes do tipo Professora, eu se machuquei!? No se-ria mais relevante preocuparmo-nos com frases desse tipo? E no s uma questo de concor-dncia ou de colocao.

    uma questo de identidade. O falante no se reconhece no prprio discurso. No capaz de reconhecer-se no me, pois a partir do se que v o mundo: Entre, sente-se, cale-se, saia e vire-se; a minha parte eu j fiz.

    Organizao Frasal

    Toda frase de uma lngua consiste em uma orga-nizao, uma combinao de elementos lingsti-cos agrupados segundo certos princpios, que a caracterizam como uma estrutura. Para evidenci-ar estas estruturas, temos uma estruturas, temos de decompor a frase/orao em unidades meno-res, e substituir estas unidades, por aquelas e-quivalentes, que desempenham a mesma funo. Este procedimento denomina-se comunicao:

    Ex:

    Maria est na casa da vizinha

    Voc far o relatrio como a professora pediu

    Aquela menininha de cabelo loiro gosta de doce de leite.

    Estes subconjuntos so blocos significativos e possuem equivalncia entre si,pois a troca de um pelo outro,no destri a integridade das oraes, como demonstraram os exemplos. A estes blo-cos, ou unidades significativas, chamamos:

    Sintagmas.

    Constituintes Oracionais > Os Sintagmas

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    A Natureza do sintagma do sintagma depende por tanto do tipo de elemento que constitui o seu ncleo.

    Vantagens:

    * Ter controle sobre os mecanismos que utiliza-mos nos usos da linguagem;

    * Aumentar a versatilidade no uso que podemos fazer desses mecanismos.

    Base da Orao {SN (subst) = SA > Sintagma Adjetiva, SV (verbo) SP > Sintagma Preposi-cionado

    Sintagma: elementos constituintes das unidades significativas da orao relaciona-se por depen-dncia e ordem. Possuem um ncleo em relao aos demais constituintes, mas pode compor-se de apenas um ncleo.

    Alm das oraes com os dois sintagmas obriga-trios: SN + SV, h ainda a possibilidade de ora-o com trs partes: SN+SV+SP.

    Os Sintagmas Nominais e Verbais obrigatoria-mente existem como unidades significativas nas frases. Por isso, as frases sempre podem ser decompostas nesses dois subconjuntos, mesmo que elas sejam longas, ou mesmo que o sujeito esteja oculto ou no seja lexicalmente preenchido (sujeito inexistente).

    Ex: SN/SV

    A irm de uma conhecida de meu mari-do/recebeu uma belssima homenagem de seus companheiros de trabalho.

    A carrocinha de po [que passava pela minha rua todos os dias]/pertencia a um antigo empregado da prefeitura municipal.

    Sintagma Preposicionado (SP)

    Os Sintagmas preposicionados, quando assu-mem funo de advrbio, so facultativos na es-trutura sinttica das frases; mveis, podendo ser deslocados de sua posio normal (aps o SN e o SV);apresentam-se como modificadores cir-cunstanciais,geralmente sob a forma de locues adverbiais.

    Exs:

    As flores/ enfeitam os jardins/ na primavera.

    - SN, SV e SP

    O padeiro/ entrega o po / na minha casa / de madrugada

    - SN, SV, SP e SP

    O que Redao Oficial?

    Em uma frase, pode-se dizer que redao oficial a maneira pela qual o Poder Pblico redige atos normativos e comunicaes. Interessa-nos trat-la do ponto de vista do Poder Executivo.

    A redao oficial deve caracterizar-se pela im-pessoalidade, uso do padro culto de linguagem, clareza, conciso, formalidade e uniformidade. Fundamentalmente esses atributos decorrem da Constituio, que dispe, no artigo 37: "A admi-nistrao pblica direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios obedecer aos princpios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficincia (...)".

    Sendo a publicidade e a impessoalidade princ-pios fundamentais de toda administrao pblica, claro est que devem igualmente nortear a elabo-rao dos atos e comunicaes oficiais.

    No se concebe que um ato normativo de qual-quer natureza seja redigido de forma obscura, que dificulte ou impossibilite sua compreenso. A transparncia do sentido dos atos normativos, bem como sua inteligibilidade, so requisitos do prprio Estado de Direito: inaceitvel que um texto legal no seja entendido pelos cidados. A publicidade implica, pois, necessariamente, clare-za e conciso.

    Alm de atender disposio constitucional, a forma dos atos normativos obedece a certa tradi-o. H normas para sua elaborao que remon-tam ao perodo de nossa histria imperial, como, por exemplo, a obrigatoriedade estabelecida por decreto imperial de 10 de dezembro de 1822 de que se aponha, ao final desses atos, o nmero de anos transcorridos desde a Independncia. Essa prtica foi mantida no perodo republicano.

    Esses mesmos princpios (impessoalidade, clare-za, uniformidade, conciso e uso de linguagem formal) aplicam-se s comunicaes oficiais: elas devem sempre permitir uma nica interpretao e ser estritamente impessoais e uniformes, o que exige o uso de certo nvel de linguagem.

    Nesse quadro, fica claro tambm que as comuni-caes oficiais so necessariamente uniformes, pois h sempre um nico comunicador (o Servio Pblico) e o receptor dessas comunicaes ou o prprio Servio Pblico (no caso de expedientes dirigidos por um rgo a outro) ou o conjunto dos cidados ou instituies tratados de forma homognea (o pblico).

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    Outros procedimentos rotineiros na redao de comunicaes oficiais foram incorporados ao longo do tempo, como as formas de tratamento e de cortesia, certos clichs de redao, a estrutura dos expedientes, etc. Mencione-se, por exemplo, a fixao dos fechos para comunicaes oficiais, regulados pela Portaria n

    o 1 do Ministro de Estado

    da Justia, de 8 de julho de 1937, que, aps mais de meio sculo de vigncia, foi revogado pelo Decreto que aprovou a primeira edio deste Manual.

    Acrescente-se, por fim, que a identificao que se buscou fazer das caractersticas especficas da forma oficial de redigir no deve ensejar o enten-dimento de que se proponha a criao ou se aceite a existncia de uma forma especfica de linguagem administrativa, o que coloquialmente e pejorativamente se chama burocrats. Este antes uma distoro do que deve ser a redao oficial, e se caracteriza pelo abuso de expresses e clichs do jargo burocrtico e de formas arcai-cas de construo de frases.

    A redao oficial no , portanto, necessariamen-te rida e infensa evoluo da lngua. que sua finalidade bsica comunicar com impessoalida-de e mxima clareza impe certos parmetros ao uso que se faz da lngua, de maneira diversa daquele da literatura, do texto jornalstico, da correspondncia particular, etc.

    Apresentadas essas caractersticas fundamentais da redao oficial, passemos anlise pormeno-rizada de cada uma delas.

    1.1. A Impessoalidade

    A finalidade da lngua comunicar, quer pela fala, quer pela escrita. Para que haja comunicao, so necessrios: a) algum que comunique, b) algo a ser comunicado, e c) algum que receba essa comunicao. No caso da redao oficial, quem comunica sempre o Servio Pblico (este ou aquele Ministrio, Secretaria, Departamento, Diviso, Servio, Seo); o que se comunica sempre algum assunto relativo s atribuies do rgo que comunica; o destinatrio dessa comu-nicao ou o pblico, o conjunto dos cidados, ou outro rgo pblico, do Executivo ou dos ou-tros Poderes da Unio.

    Percebe-se, assim, que o tratamento impessoal que deve ser dado aos assuntos que constam das comunicaes oficiais decorre:

    a) da ausncia de impresses individuais de quem comunica: embora se trate, por exemplo, de um expediente assinado por Chefe de deter-minada Seo, sempre em nome do Servio Pblico que feita a comunicao. Obtm-se,

    assim, uma desejvel padronizao, que permite que comunicaes elaboradas em diferentes se-tores da Administrao guardem entre si certa uniformidade;

    b) da impessoalidade de quem recebe a comuni-cao, com duas possibilidades: ela pode ser dirigida a um cidado, sempre concebido co-mo pblico, ou a outro rgo pblico. Nos dois casos, temos um destinatrio concebido de forma homognea e impessoal;

    c) do carter impessoal do prprio assunto trata-do: se o universo temtico das comunicaes oficiais se restringe a questes que dizem respei-to ao interesse pblico, natural que no cabe qualquer tom particular ou pessoal.

    Desta forma, no h lugar na redao oficial para impresses pessoais, como as que, por exemplo, constam de uma carta a um amigo, ou de um artigo assinado de jornal, ou mesmo de um texto literrio. A redao oficial deve ser isenta da inter-ferncia da individualidade que a elabora.

    A conciso, a clareza, a objetividade e a formali-dade de que nos valemos para elaborar os expe-dientes oficiais contribuem, ainda, para que seja alcanada a necessria impessoalidade.

    1.2. A Linguagem dos Atos e Comunicaes Oficiais

    A necessidade de empregar determinado nvel de linguagem nos atos e expedientes oficiais decor-re, de um lado, do prprio carter pblico desses atos e comunicaes; de outro, de sua finalidade. Os atos oficiais, aqui entendidos como atos de carter normativo, ou estabelecem regras para a conduta dos cidados, ou regulam o funciona-mento dos rgos pblicos, o que s alcanado se em sua elaborao for empregada a lingua-gem adequada. O mesmo se d com os expedi-entes oficiais, cuja finalidade precpua a de informar com clareza e objetividade.

    As comunicaes que partem dos rgos pbli-cos federais devem ser compreendidas por todo e qualquer cidado brasileiro. Para atingir esse objetivo, h que evitar o uso de uma linguagem restrita a determinados grupos. No h dvida que um texto marcado por expresses de circula-o restrita, como a gria, os regionalismos voca-bulares ou o jargo tcnico, tem sua compreen-so dificultada.

    Ressalte-se que h necessariamente uma distn-cia entre a lngua falada e a escrita. Aquela extremamente dinmica, reflete de forma imediata qualquer alterao de costumes, e pode eventu-almente contar com outros elementos que auxili-

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    em a sua compreenso, como os gestos, a ento-ao, etc., para mencionar apenas alguns dos fatores responsveis por essa distncia. J a lngua escrita incorpora mais lentamente as trans-formaes, tem maior vocao para a permann-cia, e vale-se apenas de si mesma para comuni-car.

    A lngua escrita, como a falada, compreende dife-rentes nveis, de acordo com o uso que dela se faa. Por exemplo, em uma carta a um amigo, podemos nos valer de determinado padro de linguagem que incorpore expresses extrema-mente pessoais ou coloquiais; em um parecer jurdico, no se h de estranhar a presena do vocabulrio tcnico correspondente. Nos dois casos, h um padro de linguagem que atende ao uso que se faz da lngua, a finalidade com que a empregamos.

    O mesmo ocorre com os textos oficiais: por seu carter impessoal, por sua finalidade de informar com o mximo de clareza e conciso, eles reque-rem o uso do padro culto da lngua. H consen-so de que o padro culto aquele em que a) se observam as regras da gramtica formal, e b) se emprega um vocabulrio comum ao conjunto dos usurios do idioma.

    importante ressaltar que a obrigatoriedade do uso do padro culto na redao oficial decorre do fato de que ele est acima das diferenas lexi-cais, morfolgicas ou sintticas regionais, dos modismos vocabulares, das idiossincrasias lin-gsticas, permitindo, por essa razo, que se atin-ja a pretendida compreenso por todos os cida-dos.

    Lembre-se que o padro culto nada tem contra a simplicidade de expresso, desde que no seja confundida com pobreza de expresso. De ne-nhuma forma o uso do padro culto implica em-prego de linguagem rebuscada, nem dos contor-cionismos sintticos e figuras de linguagem pr-prios da lngua literria.

    Pode-se concluir, ento, que no existe propria-mente um "padro oficial de linguagem"; o que h o uso do padro culto nos atos e comunicaes oficiais. claro que haver preferncia pelo uso de determinadas expresses, ou ser obedecida certa tradio no emprego das formas sintticas, mas isso no implica, necessariamente, que se consagre a utilizao de uma forma de linguagem burocrtica. O jargo burocrtico, como todo jar-go, deve ser evitado, pois ter sempre sua com-preenso limitada.

    A linguagem tcnica deve ser empregada apenas em situaes que a exijam, sendo de evitar o seu uso indiscriminado. Certos rebuscamentos aca-

    dmicos, e mesmo o vocabulrio prprio a deter-minada rea, so de difcil entendimento por quem no esteja com eles familiarizado. Deve-se ter o cuidado, portanto, de explicit-los em comu-nicaes encaminhadas a outros rgos da ad-ministrao e em expedientes dirigidos aos cida-dos.

    Outras questes sobre a linguagem, como o em-prego de neologismo e estrangeirismo, so trata-das em detalhe em 9.3. Semntica.

    1.3. Formalidade e Padronizao

    As comunicaes oficiais devem ser sempre for-mais, isto , obedecem a certas regras de forma: alm das j mencionadas exigncias de impesso-alidade e uso do padro culto de linguagem, imperativo, ainda, certa formalidade de tratamen-to.

    No se trata somente da eterna dvida quanto ao correto emprego deste ou daquele pronome de tratamento para uma autoridade de certo nvel (v. a esse respeito2.1.3. Emprego dos Pronomes de Tratamento); mais do que isso, a formalidade diz respeito polidez, civilidade no prprio enfoque dado ao assunto do qual cuida a comunicao.

    A formalidade de tratamento vincula-se, tambm, necessria uniformidade das comunicaes. Ora, se a administrao federal una, natural que as comunicaes que expede sigam um mesmo padro. O estabelecimento desse padro, uma das metas deste Manual, exige que se aten-te para todas as caractersticas da redao oficial e que se cuide, ainda, da apresentao dos tex-tos.

    A clareza datilogrfica, o uso de papis uniformes para o texto definitivo e a correta diagramao do texto so indispensveis para a padronizao. Consulte o Captulo II, As Comunicaes Oficiais, a respeito de normas especficas para cada tipo de expediente.

    1.4. Conciso e Clareza

    A conciso antes uma qualidade do que uma caracterstica do texto oficial. Conciso o texto que consegue transmitir um mximo de informa-es com um mnimo de palavras. Para que se redija com essa qualidade, fundamental que se tenha, alm de conhecimento do assunto sobre o qual se escreve, o necessrio tempo para revisar o texto depois de pronto. nessa releitura que muitas vezes se percebem eventuais redundn-cias ou repeties desnecessrias de idias.

    O esforo de sermos concisos atende, basica-mente ao princpio de economia lingstica, mencionada frmula de empregar o mnimo de

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    palavras para informar o mximo. No se deve de forma alguma entend-la como economia de pen-samento, isto , no se devem eliminar passa-gens substanciais do texto no af de reduzi-lo em tamanho. Trata-se exclusivamente de cortar pala-vras inteis, redundncias, passagens que nada acrescentem ao que j foi dito.

    Procure perceber certa hierarquia de idias que existe em todo texto de alguma complexidade: idias fundamentais e idias secundrias. Estas ltimas podem esclarecer o sentido daquelas, detalh-las, exemplific-las; mas existem tambm idias secundrias que no acrescentam informa-o alguma ao texto, nem tm maior relao com as fundamentais, podendo, por isso, ser dispen-sadas.

    A clareza deve ser a qualidade bsica de todo texto oficial, conforme j sublinhado na introduo deste captulo. Pode-se definir como claro aquele texto que possibilita imediata compreenso pelo leitor. No entanto a clareza no algo que se atinja por si s: ela depende estritamente das demais caractersticas da redao oficial. Para ela concorrem:

    a) a impessoalidade, que evita a duplicidade de interpretaes que poderia decorrer de um trata-mento personalista dado ao texto;

    b) o uso do padro culto de linguagem, em princ-pio, de entendimento geral e por definio avesso a vocbulos de circulao restrita, como a gria e o jargo;

    c) a formalidade e a padronizao, que possibili-tam a imprescindvel uniformidade dos textos;

    d) a conciso, que faz desaparecer do texto os excessos lingsticos que nada lhe acrescentam.

    pela correta observao dessas caractersticas que se redige com clareza. Contribuir, ainda, a indispensvel releitura de todo texto redigido. A ocorrncia, em textos oficiais, de trechos obscu-ros e de erros gramaticais provm principalmente da falta da releitura que torna possvel sua corre-o.

    Na reviso de um expediente, deve-se avaliar, ainda, se ele ser de fcil compreenso por seu destinatrio. O que nos parece bvio pode ser desconhecido por terceiros.

    O domnio que adquirimos sobre certos assuntos em decorrncia de nossa experincia profissional muitas vezes faz com que os tomemos como de conhecimento geral, o que nem sempre verda-de. Explicite, desenvolva, esclarea, precise os termos tcnicos, o significado das siglas e abrevi-

    aes e os conceitos especficos que no possam ser dispensados.

    A reviso atenta exige, necessariamente, tempo. A pressa com que so elaboradas certas comuni-caes quase sempre compromete sua clareza. No se deve proceder redao de um texto que no seja seguida por sua reviso. "No h assun-tos urgentes, h assuntos atrasados", diz a m-xima. Evite-se, pois, o atraso, com sua indesej-vel repercusso no redigir.

    Estrutura e Formao de Palavras

    Observe as seguintes palavras:

    Escol-A

    Escol-Ar

    Escol-Arizao

    Escol-Arizar

    Sub-Escol-Arizao

    Observando-as, percebemos que h um elemento comum a todas elas: a forma escol-.

    Alm disso, em todas h elementos destacveis, responsveis por algum detalhe de significao.

    Compare, por exemplo, escola e escolar: partindo de escola, formou-se escolar pelo acrscimo do elemento destacvel-ar.

    Por meio desse trabalho de comparao entre as diversas palavras que selecionamos, podemos depreender a existncia de diferentes elementos formadores.

    Cada um desses elementos formadores uma unidade mnima de significao, um elemento significativo indecomponvel, a que damos o no-me de morfema.

    Classificao dos Morfemas:

    Radical

    H um morfema comum a todas as palavras que estamos analisando: escol-. esse morfema comum o radical que faz com que as conside-remos palavras de uma mesma famlia de signifi-cao os cognatos. O radical a parte da pala-vra responsvel por sua significao principal. Afixos

    Como vimos, o acrscimo do morfema ar cria uma nova palavra a partir de escola. De maneira semelhante, o acrscimo dos morfemas sub- e arizao forma escol- criou subescolarizao.

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    Esses morfemas recebem o nome de afixos. Quando so colocados antes do radical, como acontece com sub-, os afixos recebem o nome deprefixos. Quando, como arizao, surgem depois do radical os afixos so chamados de sufixos.

    Prefixos e sufixos, alm de operar mudana de classe gramatical, so capazes de introduzir mo-dificaes de significado no radical a que so acrescentados.

    Desinncias

    Quando se conjuga o verbo amar, obtm-se for-mas como amava, amavas, amava, amvamos amveis, amavam. Essas modificaes ocorrem medida que o verbo vai sendo flexionado em n-mero (singular e plural) e pessoa (primeira se-gunda ou terceira). Tambm ocorrem se modifi-carmos o tempo e o modo do verbo (amava, ama-ra, amasse, por exemplo).

    Podemos concluir, assim, que existem morfemas que indicam as flexes das palavras. Esses mor-femas sempre surgem no fim das palavras vari-veis e recebem o nome de desinncias. H desi-nncias nominais e desinncias verbais.

    Desinncias nominais: indicam o gnero e o nmero dos nomes. Para a indicao de gnero, o portugus costuma opor as desinncias -o/-a: garoto/garota; menino/menina.

    Para a indicao de nmero, costuma-se utilizar o morfema s, que indica o plural em oposio ausncia de morfema, que indica o singular: garo-to/garotos; garota/garotas; menino/meninos; me-nina/meninas.

    No caso dos nomes terminados em r e z, a desinncia de plural assume a forma -es: mar/mares; revlver/revlveres; cruz/cruzes.

    Desinncias verbais: em nossa lngua, as desi-nncias verbais pertencem a dois tipos distintos. H aqueles que indicam o modo e o tempo (desi-nncias modo-temporais) e aquelas que indicam o nmero e a pessoa dos verbos (desinncia nmero-pessoais):

    cant--va-mos cant--sse-is

    cant: radical cant:

    radical

    --: vogal temtica --: vogal temtica

    -va-: desinncia modo-temporal (caracteriza o

    -sse-:desinncia modo-temporal (caracteriza o

    pretrito imperfeito do indicativo)

    pretrito imperfeito do subjuntivo)

    -mos:desinncia nmero-pessoal (caracteriza a primeira pessoa do plu-ral)

    -is: desinncia nmero-pessoal (caracteriza a segunda pessoa do plural)

    Vogal Temtica

    Observe que, entre o radical cant- e a desinncia verbal surge sempre o morfema a. Esse morfema, que liga o radical s desinncias, chamado de vogal temtica. Sua funo ligar-se ao radical, constituindo o chamado tema. ao tema (radical + vogal temtica) que se acrescen-tam as desinncias. Tanto os verbos como os nomes apresentam vogais temticas.

    Vogais temticas nominais: So -a, -e, e -o, quando tonas finais, como em mesa, artista, busca, perda, escola, triste, base, combate. Nes-ses casos, no poderamos pensar que essas terminaes so desinncias indicadoras de g-nero, pois a mesa, escola, por exemplo, no so-frem esse tipo de flexo. a essas vogais temti-cas que se liga a desinncia indicadora de plural: mesa-s, escola-s, perda-s. Os nomes terminados em vogais tnicas (sof, caf, cip, caqui, por exemplo) no apresentam vogal temtica.

    Vogais temticas verbais: So -a, -e e -i, que caracterizam trs grupos de verbos a que se d o nome de conjugaes. Assim, os verbos cuja vogal temtica -a pertencem primeira conju-gao; aqueles cuja vogal temtica -e pertencem segunda conjugao e os que tm vogal temtica -i pertencem terceira conjuga-o.

    Primeira conju-gao

    Segunda conju-gao

    Terceira conju-gao

    Govern-a-va Estabelec-e-sse Defin-i-ra

    Atac-a-va Cr-e-ra Imped-i-sse

    Realiz-a-sse Mex-e-r Ag-i-mos

    Vogal ou Consoante de Ligao

    As vogais ou consoantes de ligao so morfe-mas que surgem por motivos eufnicos, ou seja, para facilitar ou mesmo possibilitar a leitura de uma determinada palavra.

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    Temos um exemplo de vogal de ligao na pala-vra escolaridade: o -i- entre os sufixos -ar- e -dade facilita a emisso vocal da palavra. Outros exemplos: gasmetro, alvinegro, tecnocracia, paulada, cafeteira, chaleira, tricota.

    Os Elementos Mrficos

    Ol, ilustres! Como esto? Bem? I hope so!

    O ttulo desta matria meio sinistro, no ? "Os elementos mrficos".

    ... "forte", mas no h motivos para medo; pro-meto que essas coisas no iro assust-los nem mord-los nem deix-los loucos; so apenas mais daqueles termos "pesados" da normatividade. Esta matria d incio aos nossos estudos morfo-lgicos; inofensiva; srio! Bem-vindos Morfolo-gia.

    Bom, se j est lendo este pargrafo, est na hora de saber uma coisinha: usei o ttulo "elemen-tos mrficos" s pra dar um pouco de tenso na matria. Na verdade, essas coisas so mais co-nhecidas como morfemas. Ah, agora sim, n? Muito bom clareou, clareou.

    Em uma palavra temos os morfemas como uni-dades possuidoras de significado. H morfemas lexicais e morfemas gramaticais.

    Morfemas lexicais (lexemas ou semantemas): indicam o significado primitivo da palavra; a ideia bsica.

    Morfemas gramaticais (gramemas ou forman-tes): indicam as flexes da palavra quanto ao gnero, nmero, pessoa, modo e tempo.

    Vejamos a anlise mrfica (uh!) da palavra linda. Onde estar o morfema lexical e o morfema gra-matical?

    Linda = lind este o morfema lexical indicando o conceito bsico da palavra: alguma coisa, ou algum, homem ou mulher, de grande beleza.

    linda = lind-a o a o morfema gramatical que indica que a palavra est no gnero feminino e no singular.

    Vale observar aqui uma das propriedades dos morfemas. Se mudarmos o morfema gramatical a para o morfema gramatical o, a palavra flexi-ona apenas o gnero, mantendo intacta a ideia de grande beleza. Se mexermos no morfema lexical, iremos alterar a raiz(1) da palavra e, consequen-temente, seu conceito, sua ideia, seu significado primitivo; tire o morfema lexical lind, colo-que fei e ver o que acontece.

    Alm disso, podemos brincar ainda mais. Inclua o morfema gramatical s no final e a palavra ser flexionada em nmero.

    Fei a lind a

    Fei a s lind a s

    Fei o lind o

    Fei o s lind o s

    Radical, Desinncia, Afixo, Vogal Temtica e Tema

    Radical - (1) Falamos h pouco de raiz; sim, o morfema lexical tambm chamado de raiz da palavra ou radical. O radical vem carregado de sentido dando significado e rumo palavra. Com-binando o radical com alguns vrios morfemas gramaticais, possvel formar palavras cognatas. pai, :

    -a

    -eiro

    morfema lexical (radical) pedr- -eira morfemas gramaticais

    -ada

    -ejar

    Desinncia (morfemas flexionais) as desi-nncias indicam as flexes das palavras. Temos:

    Desinncias nominais o indicando gnero masculino

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    a indicando gnero feminino

    s indicando o plural (o singular caracterizado pela ausncia de uma desinncia. Morfema-zero, )

    Desinncias verbais indicam o modo, tempo, pessoa e nmero nas formas verbais:

    escrev ero = indicativo / futuro / 3 pessoa / plural

    escrev i = indicativo / pretrito perfeito / 1 pes-soa / singular

    Afixos (morfemas derivacionais) geralmente modificam o sentido da raiz qual se agregam, formando palavras novas. Temos dois tipos de afixos, os prefixos e os sufixos.

    - Os prefixos so os afixos que se antepem ao radical:

    Desleal

    - Os sufixos so os afixos que se pospem ao radical:

    Terreiro

    Vogal temtica a responsvel pela ligao entre o radical e as demais desinncias ou sufi-xos. Analisemos os elementos formativos da pa-lavra estudamos.

    estud a mos (o morfema a liga o radical es-tud com a desinncia verbal 'mos'; vogal temti-ca, portanto)

    Tema este fcil; igual a uma frmula mate-mtica:

    T = R + VT

    Onde: T = tema

    R = radical

    VT = vogal temtica

    Sendo assim, localizemos o tema da pala-vra estudamos.

    T = R + VT

    R = estud-

    VT = -a-

    Logo: T = estud + a

    Resposta: T = estuda- (quem disse que gramtica no pode ser exata?)

    Ufa! Acho que basta por agora, n?

    Fala a verdade, no so to assustadores, so?

    um prazer saber que ests lendo estas ltimas frases. A prxima matria da parte de morfologia ser formao das palavras. melhor ter flego; vai ser uma saga.

    Sinonmia, Antonmia, Homonmia e Paronmia

    Sinonmia um processo muito utilizado por falantes de uma lngua. Sabe quando no quere-mos repetir o mesmo termo ou palavra a todo momento? Uma das maneiras de sanarmos esse problema com uso de sinnimos.

    Por exemplo, se digo: Passe um dia na mi-nha casa. e quiser referir-me novamente ao ter-mo sublinhado casa, posso lanar mo de um sinnimo para no o ter que repetir: Passe um dia na minha casa e ver como meu lar acon-chegante.

    Para saber se o candidato domina mais esse subterfgio da Lngua Portuguesa, a banca pede a ele que substitua palavras ou termos retirados do texto e assinale em qual opo encontram-se aqueles que no alteram o sentido, ou os que alteram.

    Para se resolver esse tipo de questo importan-te que o candidato tenha um certo domnio lexi-cal, ou seja, que conhea muitas palavras, o que possvel conseguir por meio de muita, mas mui-ta leitura.

    Pode-se ler de tudo. Jornais, revistas, livros, bu-las de remdio, outdoors, placas de trnsito o fundamental ser um leitor crtico, aquele que busca informao, que reflete a respeito.

    Antonmia nada mais do que palavras que possuem significados contrrios, como largo e estreito, dentro e fora, grande e pequeno. O im-portante, aqui, saber que os significados so opostos, ou seja, excluem-se.

    Homonmia a identidade fontica e/ou grfica de palavras com significados diferentes. Existem trs tipos de homnimos:

    Homnimos homgrafos palavras de mesma grafia e significado diferente. Exemplo: jogo (substantivo) e jogo (verbo).

    Homnimos homfonos palavras com mesmo som e grafia diferente. Exemplo: cesso

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