UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE PSICOLOGIA
Estudo do tema para qualificar a Equipe na intervenção e na pesquisa do Projeto InterSossego
Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/UFRGS:
Gabriela Zanin (Serviço Social)
Multidisciplinaridade, Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade
Orientadora e Coordenadora do Projeto: Profa. Dra. Alzira Maria Baptista Lewgoy (Serviço Social)
Porque estudar o tema?
A complexidade do mundo e da cultura exige
análises mais integradas. Qualquer acontecimento
humano apresenta diversas dimensões, uma vez
que a realidade é multifacetada.
A compreensão de qualquer fenômeno social
requer que se leva em consideração as informações
relativas a todas essas dimensões. (MENDES; VILELA, 2003).
Contexto Histórico
O paradigma cartesiano mostrou-se bastante adequado
para construir e tratar objetos simples e proporcionou
uma simbiose entre ciência e técnica, atendendo as
necessidades da industrialização. Dessa maneira, abriu-se
o caminho para a fragmentação do conhecimento,
uma vez que as indústrias necessitavam urgentemente de
especialistas para enfrentar os problemas e objetivos
específicos de seus processos de produção e
comercialização. Dessa maneira, o século XIX marca a
consolidação das especializações.
(MENDES; VILELA 2003)
Contexto Histórico
A tendência à disciplinarização, levando em consideração o mundo do
trabalho, foi estimulada pela necessidade de uma formação especializada. Ou
seja, no modelo taylorista/fordista, em decorrência da natureza dos
processos técnicos, rígidos, padronizados, sincronizados, rotineiros e
racionais de trabalho, cronometrados milimetricamente, voltados para a
maximização da produção com vista a reduzir custos da mercadoria, o
trabalhador qualificado era aquele que executava tarefas manuais singulares com
habilidade, precisão e rapidez.
(CARVALHO, 2002)
Contexto Histórico
A crise do taylorismo/fordismo iniciada no anos setenta trouxe a necessidade de
uma reestruturação produtiva. O pós taylorismo/fordismo busca, então, uma nova
forma de regulação (novas formas de gerência e contrato de trabalho) e
configuração das relações de trabalho, dando origem à globalização da
economia e à reengenharia da produção, responsáveis pelo novo padrão de
acumulação capitalista – acumulação flexível.
(...)
a crise dos anos 80-90 representou não apenas a falência de um modelo de
crescimento industrial fundado na produção de massa, mas, sobretudo, o prenúncio de
que a sua superação estaria vinculada à adoção de um novo paradigma
tecnológico organizacional, exigindo um novo perfil de qualificação da força
de trabalho, ou seja, um tipo de trabalhador com habilidade e capacidades
intelectuais que lhe possibilitem adaptar-se à produção flexível.
(CARVALHO, 2002)
Contexto Histórico
As instituições educativas (a família, a escola e outras) sempre estiveram
vinculadas às relações de produção. Com a Revolução Industrial, a escola vai-se
consolidando como principal instituição de formação para o trabalho, não só em
sua dimensão técnica – o capital beneficiou-se da desqualificação do trabalhador –
mas principalmente em sua dimensão política: a formação cultural ideológica dos
indivíduos para as novas relações de trabalho, na indústria, fundamentadas no
controle do tempo, na eficiência, na ordem e disciplina, na subserviência, etc.
(Enguita, 1989).
(PIRES, 1998)
Multidisciplinaridade
A multidisciplinaridade parece esgotar-se nas tentativas de trabalho conjunto, pelos
professores, entre disciplinas em que cada uma trata de temas comuns sob sua
própria ótica, articulando, algumas vezes bibliografia, técnicas de ensino e
procedimentos de avaliação. Poder-se-ia dizer que na multidisciplinaridade as pessoas,
no caso as disciplinas do currículo escolar, estudam perto mas não juntas. A idéia
aqui é de justaposição de disciplinas (Almeida Filho, 1997).
De forma semelhante, a multidisciplinaridade, reflexo da
multifuncionalidade, também é insuficiente para superar os
problemas de fragmentação e desarticulação dos currículos nas
Escolas.
(PIRES, 1998)
Interdisciplinaridade: Origem
A origem da interdisciplinaridade está na transformação dos modos de
produzir ciência e de perceber a realidade e, igualmente, no
desenvolvimento dos aspectos político-administrativos do ensino e da
pesquisa nas organizações e instituições científicas.
Sem dúvida, entre a causa principal estão a rigidez, a artificialidade, e a falsa
autonomia das disciplinas, as quais não permitem acompanhar as
mudanças do processo pedagógico e a produção de conhecimentos novos.
A ciência e a tecnologia atuais, especialmente na área das ciências da
vida, projetam possibilidades de um futuro humano cujas estruturas
pedagógicas tradicionais não conseguem mais acompanhar.
(PAVIANI, 2008)
Interdisciplinaridade: Conceitos
Uma relação de reciprocidade, de multiutilidade que pressupõe uma
atitude diferente a ser assumida frente ao problema do conhecimento, ou
seja, é a substituição de uma concepção fragmentária para uma
concepção unitária do ser humano.
(FERREIRA, 1993)
Exige um permanente esforço racional e crítico.
Não existe fórmulas nem modelos de interdisciplinaridade.
(...)
Igualmente, de nada adianta afirmar que a interdisciplinaridade reside no
diálogo entre conhecimentos, pois ela, antes de tudo, é uma categoria de
ação.
(PAVIANI, 2008)
Interdisciplinaridade: Conceitos
caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os especialistas e
pelo grau de integração real das disciplinas no interior de um
mesmo projeto de pesquisa.
(PAVIANI, 2008)
A sua complexidade consiste justamente na sua própria construção, que é
Impregnada por trocas e articulações mais profundas entre os
diferentes elementos participantes.
(MENDES; LEWGOY; SILVEIRA, 2008)
Interdisciplinaridade: Conceitos
“ (...) não raro os diferentes profissionais mantêm a discussão presos à sua
especialização. Equivocadamente, pensam que o simples evento de estarem
ao lado umas das outras seja uma prática interdisciplinar.
(...) Tem tudo haver com a incapacidade que temos para ultrapassar os
nossos próprios princípios discursivos, as perspectivas teóricas e os
modos de funcionamento em que fomos treinados, formados e educados.”
(MENDES; LEWGOY; SILVEIRA, 2008)
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Continuidade e
Descontinuidade:
Dizer que o conhecimento
cientifico é descontinuo é
afirmar que ele progride de
fato em fato, de aspecto em
aspecto. Porém, se de um
lado, a ciência descreve,
analisa e explica os eventos,
os fenômenos de modo
isolado, do outro, o
discursivo teórico, as leis e
as teorias se caracterizam
por uma certa continuidade
ou universalidade.
Complexidade e
Emergência:
O principio
de complexidade anda
junto com o de
emergência. Um remete
ao outro. A
complexidade é um
conceito que procura
expressar as múltiplas
faces da realidade.
Unidade e
Multiplicidade:
O objetivo da
Interdisciplinaridade não é
o de diminuir ou de
retirar a especificidade
das ciências e das
disciplinas, mas de
possibilitar elos comuns no
intercâmbio entre os
conhecimentos e a
realidade.
Princípios da Interdisciplinaridade
(PAVIANI, 2008)
Ações: o produção de conhecimentos novos; o sistematização de conhecimentos produzidos; o intervenção profissional; o elaboração dos programas de ensino; o realização de projetos de pesquisa.
Níveis: o troca de conceitos entre duas ou mais disciplinas; o intercambio teórico entre as disciplinas; o intercâmbio metodológico entre as disciplinas;
o transferências de conhecimentos de uma para outra disciplina.
Interdisciplinaridade – Ações e Níveis
Interdisciplinaridade: boa e má
A verdadeira interdisciplinaridade permite resultados novos que não
seriam alcançados sem esse esforço comum e, desse modo, modifica a
natureza e a função das disciplinas tradicionais. (...)
A má interdisciplinaridade é a aproximação externa de pesquisadores.
Apesar de trabalharem conjuntamente, cada um se dedica somente à sua
especialização.
(PAVIANI, 2008)
Transdisciplinaridade
Nesse novo contexto epistêmico (Foucault, 1966), desponta a produção
discursiva comunicativa horizontalizada (não hierarquizada em termos
metodológicos e teóricos) entre os saberes disciplinares, através da
proposta da transdisciplinaridade.
(LUZ, 2009)
Transdisciplinaridade
Enquanto a interdisciplinaridade promove o intercâmbio teórico e
metodológico, a aplicação de conhecimentos de uma ciência em outra, a
transdisciplinaridade, na prática, propõe o rompimento de paradigmas e
modelos das disciplinas acadêmicas, tendo em vista as novas exigências
da sociedade. (PAVIANI, 2008)
Trata-se de transdisciplinaridade, uma busca de ultrapassar as barreiras
entre as disciplinas, que as afastavam umas das outras, e que se funde
numa outra coisa que transcede a todas.
(MENDES; LEWGOY; SILVEIRA, 2008)
Transdisciplinaridade
A transdisciplinaridade insere-se na busca atual de um novo paradigma para
as ciências da educação bem como para outras áreas, como na saúde
coletiva, por exemplo (Almeida Filho, 1997). Busca, como referência teórica, o
holismo e a teoria da complexidade, que, embora venham se constituindo em
um referencial interessante, ainda estão pouco compreendidos (Grün, 1995).
A totalidade, anunciada para o holismo tem sido tomada de forma factual;
total é tudo e, assim, pode apresentar um caráter de a-historicidade. A
totalidade não se esgota na soma das partes, mas constitui-se, num outro
patamar, na síntese histórica da realidade.
(PIRES, 1998)
“holismo” vem do grego “holos” que significa “todo”, “inteiro”, “completo”.
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Referências: PAVIANI, Jayme. Interdisciplinaridade: conceitos e distinções. Ed. rev. 2. Caxias do Sul:
Educs, 2008.
CARVALHO, Elma Júlia Gonçalves. Interdisciplinaridade para quê? ....
VILELA, Elaine M.; MENDES Iranilde J. M. Interdisciplinaridade e Saúde: Estudo
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em:julho, 2012.
MENDES, Jussara M. R.; LEWGOY, Alzira M. B.; SILVEIRA Esalba C. Saúde e
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http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faenfi/article/viewFile/3864/2957
Acesso em: julho, 2012
MANGINI, Fernanda N. R.; MIOTO, Célia T. A interdisciplinaridade na sua interface
com o mundo do trabalho. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rk/v12n2/10.pdf
Acesso em: julho, 2012.
GATTÁS, Maria L. B.; FUREGATO, Antonia R. F. Interdisciplinaridade: uma
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Acesso em: julho, 2012.
LUZ, Madel. Complexidade do Campo de Saúde Coletiva: multidisciplinaridade,
interdisciplinaridade, e transdisciplinaridade de saberes e práticas – análise sócio-
histórica de uma trajetória paradigmática. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v18n2/13.pdf Acesso em: julho, 2012.
NECKEL, Gecioni L.; SEEMANN, Giane; EIDT, Helena B.; RABUSKE, Michelli M.;
CREPALDI, Maria A. Desafios para a ação interdisciplinar na atenção básica:
implicações relativas à composição das equipes de saúde da família. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/csc/v14s1/a19v14s1.pdf Acesso em: julho, 2012.
PIRES, Marília Freitas de Campos. Multidisciplinaridade, Interdisciplinaridade e
Transdisciplinaridade no Ensino. Debates, São Paulo, n. , p.173-182, 1998.
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