Caio César de Moraes
Professora Doutora Roseli Benassi
EDS
Narradores de Javé – Crítica
A proposta da atividade era elaboração de uma resenha sobre o filme da
cineasta Eliane Caffe – Narradores de Javé – filme que conta a história de um
pequeno vilarejo no Vale de Javé que enfrenta uma situação bastante comum
no Brasil: suas casas e terras serão alagadas para a construção de uma usina
hidrelétrica. Contudo, tentarei abordar a questão sob uma ótica diferente.
Resenhas e críticas desse longa metragem são fartas dentro do meio acadêmico
nacional, principalmente sob a perspectiva de uma crítica social aos menos
afortunados. Não me debruçarei sobre essa questão desta mesma maneira.
O filme se inicia mostrando um problema, e se desenrola mostrando como
as pessoas são impotentes em lidar com a situação, em como suas vidas seriam
mudadas sem seu consentimento. A pergunta que não é respondida desde o
início é: por que as pessoas têm de justificar a importância das suas terras e de
suas conquistas para que a usina não seja construída? Por que não há respeito
a propriedade das pessoas? Isso nos remete a questões culturais, políticas e até
jurídicas do Brasil.
No Brasil, por questões históricas, há uma certa aversão cultural a
propriedade privada. Essa cultura é tão enraizada que ela se refletiu a atual
constituição que em seu Art. 5º, inciso XXIII, que diz que “a propriedade atenderá
a sua função social”. Função social é um conceito completamente vago e sem
definição, mas que acabou criando um vácuo jurídico capaz de promover,
ironicamente, injustiças sociais, do mesmo tipo mostrado no filme. Se houvesse
uma garantia de propriedade privada no país e não a subjetividade da “função
social” os simples moradores do Vale do Javé não seriam forçados a encarar a
realidade que lhes fora imposta. Pelo contrário, eles seriam os agentes principais
da negociação e os proponentes a construção de uma usina hidrelétrica que
deveriam ceder as condições exigidas pelo vilarejo. O problema principal do
filme, que acaba sendo o desequilíbrio entre os moradores e os construtores
(que tem ao seu lado o Estado) e como os primeiros podem se defender dos
segundos, sequer existiria se o direito à propriedade fosse realmente garantido
e respeitado, não deixando brechas para esse tipo de absurdo.
Portanto, é importante fugir do pensamento comum e da crítica batida,
que sempre se debruça sobre os sintomas ao invés da causa da doença. O filme,
tradicional referência na academia brasileira, é de boa execução e trata bem da
situação real brasileira e critica suas consequências, contudo não ataca a causa
raiz do problema, que é a falta de garantia a propriedade privada, sem
artimanhas que atendam interesses coorporativos e estatais.
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