7/25/2019 Nazi-fascismo_uma Dominao Burguesa
1/14
7/25/2019 Nazi-fascismo_uma Dominao Burguesa
2/14
MNEMOSINE REVISTA. Programa de Ps-graduao em Histria/UFCG
Vol. 5 n 1 Jan/Jun 2014.
Campina Grande: PPGH, 2014.
Semestral.
ISSN: 2237-3217.
Universidade Federal de Campina Grande. Programa de Ps-graduao em Histria.
Programa de Ps-graduao em Histria
Endereo: Rua Aprgio Veloso, n 882 Bodocong
Campina Grande Paraba
BRASIL CEP:58.429-140
Telefone: 2101-1742
E-mail: [email protected]
Site:http://www.ufcg.edu.br/~historia/ppgh/
Equipe de Realizao:
Edio de Texto: Alisson Pereira Silva
Arte: Lays Anorina Barbosa de Carvalho
http://www.ufcg.edu.br/~historia/ppgh/http://www.ufcg.edu.br/~historia/ppgh/7/25/2019 Nazi-fascismo_uma Dominao Burguesa
3/14
MNEMOSINE REVISTANmero 1 - Volume 5 Jan/Jun 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDEReitor: Prof. Dr. Jos Edilson de Amorim
DEPARTMENTO DE HISTRIACoordenadora Administrativa: Prof. Dr. Marinalva Vilar de Lima
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM HISTRIACoordenador: Prof. Dr. Iranilson Buriti de Oliveira
COMIT EDITORIALProf. Dr. Joo Marcos Leito Santos - Editor
Prof. Michelly Pereira de Sousa Cordo
CONSELHO EDITORIAL
Alarcon Agra do (UFCG)Antnio Clarindo Barbosa de Souza (UFCG)
Elizabeth Christina de Andrade Lima (UFCG)Gervcio Batista Aranha (UFCG)Iranilson Buritide Oliveria (UFCG)
Joo Marcos Leito Santos - Editor Chefe (UFCG)Juciene Ricarte Apolinrio (UFCG)
Keila Queirs (UFCG)Luciano Mendona de Lima (UFCG)Maria Lucinete Fortunato (UFCG)
Marilda Aparecida de Menezes (UFCG)
Marinalva Vilar de Lima (UFCG)Osmar Luiz da Silva Filho (UFCG)
Regina Coelli (UFCG)Roberval da Silva Santiago (UFCG)
Rodrigo Ceballos (UFCG)Rosilene Dias Montenegro (UFCG)
Severino Cabral Filho (UFCG)
7/25/2019 Nazi-fascismo_uma Dominao Burguesa
4/14
Sumrio
ApresentaoAndr Figueiredo Rodrigues______________________________________________ 05
DOSSI AFRICANIDADES
OS ESCRAVOS NAS PROPRIEDADES DOS INCONFIDENTES DACOMARCA DO RIO DAS MORTES (MINAS GERAIS, 1789-1791)Andr Figueiredo Rodrigues _____________________________________________ 08
COMPORTAMIENTOS SOCIO-DEMOGRFICOS DEESCLAVOS EN UNA HACIENDA RURAL JESUTICO-FRANCISCANAEN CRDOBA, ARGENTINA (1752-1799)Dora Celton / Mnica Ghirardi / Federico Sartori______________________________ 20
CULTURA, RELAES DE PODER E FESTAS DEVOCIONAISNAS IRMANDADES RELIGIOSAS EM MINAS GERAIS NA POCA DA COLNIAAlisson Eugnio _______________________________________________________ 34
IMAGENS AMBGUAS: A ESCRAVIDO E O CIVILIZATRIONO BRASIL IMPERIALMarcelo Eduardo Leite __________________________________________________ 48
APRENDIZADO DA LIBERDADE: ESTRATGIAS DE MULHERESESCRAVIZADAS NA LUTA PELA EMANCIPAOLucia Helena Oliveira Silva ____________ __________________________________ 66
ENTRE POESIAS E CRNICAS: FALAS SOBRE ESCRAVIDOE ABOLIO NO MARANHO NA SEGUNDA METADE DO SCULO XIXRgia Agostinho da Silva _______________________________________________ 83
IMAGENS DA ESCRAVIDO, TORTURAS E RESISTNCIAS NO CONTOPAI CONTRA ME DE MACHADO DE ASSIS
Ariosvalber de Souza Oliveira ____________________________________________ 100
JOAQUIM NABUCO, A POLTICA ESCRAVISTA E O ABOLICIONISMOMilton Carlos Costa____________________________________________________ 113
A ABOLIO NAS AMRICAS E A SUPRESSO DOCAPITAL ESCRAVISTA-MERCANTILIraci del Nero da Costa / Julio Manuel Pires__________________________________ 133
GUIN EQUATORIAL NA HISTRIA DO ATLNTICO:O TERRITRIO BRASILEIRO E A MANUTENO ESCRAVISTA EM CUBA
Pedro Acosta-Leyva____________________________________________________ 150
7/25/2019 Nazi-fascismo_uma Dominao Burguesa
5/14
DOUARD GLISSANT: NOVELSTICA DE ESCLAVITUD Y ERRANCIAMargarita Aurora Vargas Canales _________________________________________ 163
VIVNCIAS DE AFRO-BRASILEIROS NOS MUNDOSDO TRABALHO EM CAMPINA GRANDE-PB (1945-1964)Francisca Pereira Arajo ________________________________________________172
ARTIGOS DE FLUXO
A TRANSFORMAO NA PERCEPO DO HERIDA ANTIGUIDADE AO SCULO XVIII: UMA ANLISE CRTICAFrancisco Eduardo Alves de Almeida _______________________________________ 185
UM BISPO AMIGO DOS JESUTAS: CONSIDERAES ACERCADO BISPADO DE DOM FREI MANUEL DA CRUZ EM MINAS GERAIS (1749-1763)Leandro Pena Cato ___________________________________________________ 205
COMISSRIOS DO SANTO OFCIO NO BRASIL COLONIAL:CRONOLOGIA, GEOGRAFIA E DINMICAS DA FORMAODA REDE (SCULO XVIII)Aldair Carlos Rodrigues _________________________________________________ 224
UMA ANLISE SOBRE OS CONCEITOS DE CULTURA,CULTURA-POPULAR, ETNOGRAFIA E FOLCLORENA OBRA CIVILIZAO E CULTURA DE LUS DA CMARA CASCUDOGiuseppe Roncalli Ponce Leon de Oliveira ___________________________________ 242
NAZI-FASCISMO: UMA DOMINAO BURGUESAJorge Miklos _________________________________________________________ 255
7/25/2019 Nazi-fascismo_uma Dominao Burguesa
6/14
255
NAZI-FASCISMO: UMADOMINAO BURGUESA
Jorge Miklos1
ResumoEste artigo tem por objetivo apresentar
os principais fatores que promoveram a
ascenso do nazi-fascismo no sculo XX,
suas caractersticas, bem como procurar
articular tais eventos com os
desdobramentos do desenvolvimento do
capitalismo. O nazi-fascismo muitas
vezes interpretado pelo senso comumcomo apenas um inimigo das formas
democrticas e liberais e que foi vencido
pelo bloco aliado na Segunda Guerra em
1945. O intuito demonstrar que o nazi-
fascismo uma forma autoritria de
dominao capitalista e foi resposta
poltica para manter a dominao
burguesa na Europa bem como uma
reao ao crescimento e expanso do
socialismo.
Palavras-chaveCapitalismo; Dominao burguesa; Nazi-Fascismo.
AbstractThis paper aims at presenting the main
factors that promoted the rise of nazi-
fascism in the twentieth century, its
features, and strive to coordinate such
events with the unfolding development of
capitalism. The nazi-fascism is often
interpreted by common sense as just an
enemyof liberal and democratic forms,
and which was won by the block ally in
the War in 1945. The intention is that the
nazi-fascism is an authoritarian form of
capitalist domination and the political
response was to maintain the domination
of the bourgeoisie in Europe as well as a
reaction to the growth and expansion of
socialism.
KeywordsCapitalism; Bourgeois domination; Nazi-
Fascism.
Introduo
A histria do breve Sculo XX nopode ser entendida sem a RevoluoRussa e seus efeitos indiretos ediretos. No menos porque se reveloua salvadora do capitalismo liberal,tanto possibilitando ao Ocidenteganhar a Segunda Guerra Mundialcontra a Alemanha de Hitler quantofornecendo incentivo par o capitalismose reformar, e tambm paradoxalmente graas aparenteimunidade da Unio Sovitica Grande Depresso, o incentivo a
abandonar a crena na ortodoxia dolivre mercado. (HOBSBAWM, 1995, p.84)
O historiador britnico
Christopher Hill, refletindo acerca do
carter social do Estado Absolutista
na Europa Moderna, considera que:
A monarquia absoluta foi uma formade monarquia feudal diferente damonarquia dos Estados medievais quea precedera, mas a classe dominante
permaneceu a mesma, tal como umarepblica, uma monarquiaconstitucional e uma ditadura fascistapodem ser todas formas dedominao burguesa. (HILL, 1987, p.87)
O Estado uma das mais
complexas instituies sociais criadas
pelo homem ao longo da histria.
Este artigo procura adotar uma
perspectiva terico-epistemolgica
marxista para quem o Estado umainstituio poltica inserida em um
contexto social de lutas de classes e
sua funo interferir nessa luta
tomando o partido das classes sociais
dominantes. Dessa forma a funo
do Estado garantir o domnio da
classe.
Assim, a explicao das
formas jurdicas, polticas, espirituais
e de conscincia encontra-se na base
econmica e material da sociedade,no modo como os homens esto
1 Graduado em Histria
pelo Centro
Universitrio Assuno
(UNIFAI). Graduado em
Cincias Sociais pela
Universidade Metodista
de So Paulo (UMESP).
Mestre em Cincias da
Religio e Doutor em
Comunicao e
Semitica pela Pontifcia
Universidade Catlica
de So Paulo (PUC-SP).
Ps-Doutorando emComunicao pela
Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ).
Bolsista Jnior do
Conselho Nacional de
Desenvolvimento
Cientfico e Tecnolgico
(CNPq). Professor de
Histria nas Faculdades
de Integradas de
Cincias Humanas,
Sade e Educao de
Guarulhos. ProfessorTitular do Programa de
Ps-Graduao em
Comunicao da
Universidade Paulista
(UNIP). Email:
7/25/2019 Nazi-fascismo_uma Dominao Burguesa
7/14
256
organizados no processo produtivo.
No caso das sociedades onde se d a
apropriao privada dos meios para
produzir, esta base relaciona-se
diretamente forma adotada por
suas instituies.
Na relao imediata entre oproprietrio dos meios de produo eo produtor direto h que se buscar osegredo mais profundo, o cimentooculto de todo o edifcio social, e, porconseguinte da forma poltica que a
relao de soberania e dependnciaadota; em uma palavra, a base daforma especfica que o Estado adotaem um perodo dado. Isto no impedeque a mesma base econmicaapresente, sob a influncia deinumerveis condies empricasdistintas, de condies naturais, derelaes sociais, influncias histricasexteriores, infinitas variaes ematizes, que s podero seresclarecidos por uma anlise dessascircunstncias empricas. (MARX,1985, p. 75-76)
Nessa perspectiva, o Estado uma instituio detentora do poder
poltico (monoplio da fora) cuja
finalidade ltima garantir de
maneira legal e jurdica o domnio da
classe dominante. O aparato legal e
jurdico apenas dissimula o essencial:
que o poder poltico existe como
poderio dos economicamente
poderosos, para servir seus
interesses e privilgios e garantir-
lhes a dominao social.
A partir desse pressuposto
terico perguntamos: Sendo o Estado
um aparelho jurdico que garante a
dominao social de um grupo. Qual
a base social do Estado nazi-fascista?
Para examinarmos essa
questo preciso considerar que o
nazi-fascismo resultado de um
conjunto de mutaes que se
processaram no incio do sculo XXquando por fora da nova realidade
econmica do capitalismo
imperialista em crise foi preciso
alterar o modelo poltico como
estratgia de garantir a hegemonia
burguesa no ocidente.
O chamado perodo entre
guerras (1919-1939) foi marcado por
dois processos interligados: a crise
econmica do mundo capitalista, cujo
auge se verifica no ano de 1929, e a
ascenso do nazi-fascismo como
resposta tanto a essa crise quanto aofortalecimento do movimento
socialista europeu.
A crise de 1929 foi uma
herana legada pela Primeira Grande
Guerra (1914-1918), devido
devastao provocada pelo conflito, e
representou o primeiro
questionamento de peso
capacidade ilimitada de reproduo
do modo de produo capitalista. O
centro da crise foram os EstadosUnidos, mas, pela dependncia
econmica de outros pases em
relao aos americanos, a crise
acabou se alastrando por imensas
regies do planeta.
Os resultados mais
expressivos dessa crise foram
expanso do iderio socialista (num
momento em que se consolidava o
comunismo sovitico) e a
consequente expanso do nazi-
fascismo, enquanto resposta tanto
incapacidade do liberalismo em dar
solues eficientes aos problemas
gerados pela crise, quanto pela
expanso do socialismo dela
decorrente. Alm disso, promove um
revigoramento do intervencionismo
estatal na economia.
7/25/2019 Nazi-fascismo_uma Dominao Burguesa
8/14
257
O Nazi-facismo
Denomina-se por nazi-
fascismo o modelo de dominao
poltica e os regimes totalitrios que
a seguiram, marcada por seu carter
nacionalista, antidemocrtico,
antioperrio, antiliberal e
antissocialista. O nazi-fascismo
emergiu com resultado poltico da
Primeira Guerra Mundial e expandiu-
se pela Europa como reao ao
avano do movimento operrio-socialista, amparado pela instaurao
do comunismo na Unio Sovitica.
Alm disso, apresentava-se como
alternativa ao liberalismo poltico e
econmico, tpico do sculo XIX, num
perodo em que o liberalismo j no
conseguia dar mostras de eficincia,
como revelou a crise de 1929. Nesse
sentido, propunha o autoritarismo
poltico e o intervencionismo
econmico.Dentre as principais
caractersticas dessa ideologia,
podemos mencionar as seguintes,
lembrando, porm, que algumas
delas emergem com maior
intensidade em determinados pases
e em outros, s vezes, pouco se
manifestaram:
Totalitarismo:
subordinao dos interesses
individuais aos do Estado;
Nacionalismo: tudo pela
nao, cuja grandeza deve
ser buscada pela totalidade
da sociedade;
Militarismo: a guerra
permite um aprimoramento
individual e nacional;
Expansionismo: expanso
territorial uma necessidade sobrevivncia da nao; no
caso nazista defendia-se a
ideia do espao vital;
Corporativismo: o Estado
totalitrio aparece como
rbitro de todos os conflitos
no interior da sociedade;
Anticomunismo: defesa do
combate ao comunismo
tanto dentro do pas
(perseguies) quanto no
mbito internacional
(aniquilao da UnioSovitica);
Racismo: crena na
superioridade racial dos
brancos sobre os no
brancos (arianismo); este
aspecto foi particularmente
importante no caso nazista.
A crise de 1929 afetou
profundamente a vida econmica de
algumas naes europeias, gerandodesemprego e misria. Muitos
trabalhadores, inspirados pelo
exemplo sovitico, aderem ao
socialismo, ameaando a ordem
burguesa. Simultaneamente, o
pensamento liberal no oferece
solues para os problemas
econmicos que o mundo ocidental
deve enfrentar. O nazi-fascismo,
portanto, surge num contexto de
crise do liberalismo e de ameaa de
avano comunista. Os pases em que
mais se desenvolve so Itlia e
Alemanha, coincidentemente os mais
duramente atingidos pela crise de
1929.
O Fascismo italiano
A palavra fascismo deriva de
fasces lictoris (latim) ou de fasciolittorio (italiano). Trata-se de uma
7/25/2019 Nazi-fascismo_uma Dominao Burguesa
9/14
258
espcie de cilindro, composto de umfeixe de varas ligadas volta de ummachado. Simboliza a fora da unioem torno do chefe. Era usado naRoma Antiga, associado ao poder e autoridade, em cerimnias oficiais -jurdicas, militares e outras. Nadcada de 1920, foi adotado comosmbolo do Fascismo, em Itlia. Nose deve confundir com facho, que
se usa como equivalente de chama
em facho olmpico, por exemplo, eque um dos smbolos dasOlimpadas.
A economia italiana, frgil na vsperado conflito [Primeira Guerra], sofreuperdas considerveis, mormente noNordeste: estradas, ferrovias,fbricas, edifcios diversos destrudos;as matrias-primas e os capitais, emconjunto, fizeram muita falta, comofez falta a mo-de-obra, em virtudeda mobilizao dos homens tanto nosetor industrial quanto no setor
agrcola, onde se empregarammulheres, crianas, prisioneiros. Naagricultura a produo diminuiusensivelmente (por falta de adubos emquinas agrcolas) ao mesmo tempoque os preos se estagnavam,bloqueados por uma medidagovernamental, para evitar a elevaodo custo de vida, geradora deagitao social. No plano financeiro, obalano desastroso: balanacomercial em dficit, evaso dedivisas em razo das importaesindispensveis e, para cobrir o esforode guerra, majorao dos impostos,
endividamento pblico atravs deemprstimos sucessivos e inflao,que provoca a depreciao da lira evigorosa elevao dos preos. (...) no seio das classes laboriosas que aagitao aparece primeiro. Ostrabalhadores da indstria e daagricultura conhecem a parteessencial que lhes cabe na vitria daqual pensam poder tirar algumproveito imediato; ora, o seu nvel devida est deteriorado (alta dos preosmais rpida que a dos salrios) e odesemprego uma consequncia dacrise econmica; nos campos, no secumprem as promessas feitas depoisde Caporetto relativas s soluesque devero ser dadas aos problemas
da distribuio das terras; finalmente,
a revoluo russa de 1917 aparececomo um modelo interessante emmais de um sentido. Desde aprimavera de 1919, a agitao sedesenvolve: onda de greves contra avida cara, amide seguidas de motinsnas cidades e atividades maispolitizadas. (NR, 1981, p. 410-412)
O texto acima revela asituao na Itlia aps o trmino daPrimeira Guerra Mundial: acentuada
crise econmica, acompanhada deagitao social. Nesse contexto, emque a ordem liberal-burguesa pareceameaada, nasceu o Partido Fascista,fundado por Benito Mussolini. Em seuinterior, organizaram-se asesquadras - tambm conhecidascomo camisas negras - milciaarmada que espalhava o terror entreos adversrios do fascismo:perseguiam comunistas, sindicalistasde esquerda, adeptos em geral dosocialismo, praticavam atentadoscontra jornais de esquerda esindicatos, dispersavam, comviolncia, comcios e manifestaes.
Em 1921, favorecidos pelacrise instaurada na Itlia ps-guerrae apoiados pela burguesia que temiao avano socialista no pas, osfascistas obtiveram expressiva vitria
eleitoral para o Parlamento,conquistando a maioria das cadeiras.Tal vitria, associada ao terrorismopraticado pelas esquadras, contribuiupara fortalecer o partido.
Em um discurso, pronunciadoem outubro de 1922, o lder doPartido Fascista, Benito Mussolini,assim criticava o regimedemocrtico:
O fascismo italiano representa umareao contra os democratas que
7/25/2019 Nazi-fascismo_uma Dominao Burguesa
10/14
259
tornaram tudo medocre e uniforme e
tentaram sufocar e tornar transitriaa autoridade do Estado. (...) Ademocracia tirou a elegncia da vidadas pessoas, mas o fascismo a traz devolta, isto , traz de volta cor, afora, o pitoresco, o inesperado, omisticismo, enfim, tudo o que falta salmas da multido. (REMOND, 1995,p. 47)
Nesse mesmo ano, amparado
pelo crescimento e fortalecimento do
partido, Mussolini promoveu,
juntamente com as esquadras, aMarcha sobre Roma, tomando de
assalto o poder. O rei Vtor Emanuel
III no reagiu contra o golpe fascista,
acreditando que, Mussolini e seus
adeptos neutralizariam os socialistas
e, a seguir, seriam derrotados pelos
liberais dos quais o rei era
representante. Nesse contexto,
Mussolini tornou-se o primeiro-
ministro italiano e passou a adotar
uma srie de medidas autoritriasque escapavam do controle da
monarquia.
J em 1923, o primeiro-
ministro determinou a alterao da
legislao eleitoral: a partir de ento,
o partido que obtivesse 1/3 dos votos
nas eleies parlamentares ocuparia
2/3 das cadeiras da Assembleia, isto
, assumiria o controle do
Parlamento. Com isso, o partido
fascista conquistou a hegemonia no
legislativo, aprovando todas as
medidas de exceo que se
seguiram. Ao mesmo tempo, a ao
terrorista das esquadras continuava,
fortalecendo ainda mais o poder dos
fascistas.
No ano seguinte, o lder da
oposio ao fascismo no Parlamento
italiano, o socialista Matteotti, foi
cruelmente assassinado, aps terdenunciado irregularidades no pleito
que deu aos fascistas a maioria
parlamentar. O primeiro-ministro
nada fez para apurar em que
circunstncias e quem foram os
responsveis por sua morte.
Finalmente, em 1926, o Duce
(o guia, ttulo atribudo a Mussolini)
decretou o unipartidarismo na Itlia,
suprimindo todos os partidos polticos
e rgos de imprensa oposicionistas.
Institua-se, assim, o Estado
totalitrio na Itlia. A oposiosempre foi reprimida atravs de
perseguies, prises arbitrrias e
at execues sumrias.
Mussolini, em 1929, conseguiu
o apoio do clero para a causa fascista
ao assinar o Tratado de Latro, que
criou o Estado do Vaticano,
resolvendo assim a questo surgida
na poca da unificao em que a
autoridade administrativa do papa
sobre a cidade de Roma ficousubordinada do rei.
Nesse mesmo ano, a crise econmica
atingiu violentamente os Estados
Unidos e irradiou-se pelo mundo
capitalista. A Itlia foi duramente
atingida e o governo fascista passou
a defender mais intensamente o ideal
expansionista, alm de intensificar a
produo blica do pas: os italianos
invadiram a Abissnia e a Albnia,
dominando seus territrios.
O Nazismo alemo
Ao final da Primeira Guerra, a
Alemanha, que no perdera no
campo de batalha, acabou sendo
trada pelas potncias ocidentais
com a imposio do Tratado de
Versalhes. Alm da humilhao, uma
violenta crise econmica atingiu aeconomia alem no incio dos anos
7/25/2019 Nazi-fascismo_uma Dominao Burguesa
11/14
260
1920, crise essa que a Repblica de
Weimar, recm-instituda, no
conseguiu solucionar.
A crise econmica gerou
inflao (em 1923, o ndice foi de 32
400% ao ms) e desemprego,
acarretando misria e, sobretudo,
descontentamento entre os
trabalhadores alemes. Ao mesmo
tempo em que estes desacreditavam
do regime liberal, aproximavam-se
dos pressupostos socialistas,amplamente difundidos na Europa
ocidental depois da Revoluo Russa
de 1917.
Em resposta ao avano socialista e a
ineficincia liberal, nasceu na
Alemanha o Partido Nacional
Socialista dos Trabalhadores Alemes
ou Partido Nazista, de cuja fundao
participou um ex-cabo do exrcito
alemo que lutara na Primeira
Guerra, Adolf Hitler. Em poucotempo, o novo partido conquistou
milhares de adeptos, recrutados,
sobretudo entre a burguesia,
descontentes com a crise, mas
temerosa com a o avano socialista,
e tambm entre os setores populares
que respondiam ao apelo
nacionalista.
No interior do Partido Nazista,
a exemplo do que se verificou no
Partido Fascista Italiano, surgiram
milcias cuja atividade principal era
reprimir com violncia as
manifestaes de oposio ao
nazismo. Essas milcias chamavam-
se SA (Sees de Assalto) e seus
integrantes eram conhecidos como
camisas pardas.
Programa do Partido NazistaMunique, 24 de fevereiro de 1920
O programa do Partidooperrio alemo um programa para
a nossa poca. Os seus lderes
recusam-se, uma vez alcanados osobjetivos nele inscritos, a formularoutros unicamente com a finalidadede possibilitar que se prolongue aexistncia do partido excitandoartificialmente o descontentamentodas massas.1. Exigimos a reunio de todosos alemes numa grande Alemanha,fundamentados no direito dos povosde dispor de si mesmos.2. Exigimos a igualdade dedireitos entre o povo alemo e asdemais naes, e a abolio dostratados de paz de Versalhes e de
Saint-Germain.3. Exigimos terras (colnias)para alimentar o nosso povo e nelasinstalar a nossa populao excedente.4. Somente os membros dopovo podem ser cidados do Estado.S pode ser membro do povo aqueleque possui sangue alemo, semconsiderao de credo. Nenhumjudeu, portanto, pode ser membro dopovo.5. Quem no cidado s podeviver na Alemanha como hspede edeve submeter-se legislao relativaa estrangeiros.6. O direito de decidir sobre ogoverno e a legislao do Estado spode pertencer ao cidado. Porconseguinte, exigimos que todafuno pblica, seja ela qual for, tantoao nvel do Reich como do Land ou dacomuna, s possa ser ocupada porquem cidado.Combatemos o sistema parlamentarcorruptor por atribuir postosunicamente em virtude de um pontode vista de partido, sem consideraodo mrito nem da aptido.
(...)24. Exigimos liberdade dentro doEstado para todos os credos
religiosos, na medida em que noponham em risco a sua existncia eno contrariem o esprito doscostumes e da moral da raagermnica. Quanto ao partido,defende a ideia de um cristianismopositivo, sem, no entanto, vincular-sea um credo determinado. Combate oesprito judeu-materialista em ns eem torno de ns, e est convencidode que um saneamento duradouro donosso povo s pode realizar-seinternamente com base no seguinteprincpio: o interesse coletivoprevalece sobre o interesse individual.
25. Para a realizao de todasessas reivindicaes, exigimos que se
7/25/2019 Nazi-fascismo_uma Dominao Burguesa
12/14
261
constitua no Reich um poder central
forte; a autoridade absoluta doParlamento central sobre todo o Reiche os seus organismos. A constituiode cmaras de ofcios e profissespara que se apliquem nos diferentesEstados federais leis de cunho geraleditadas pelo Reich. (THIERRY;GAUCHON, 1984, p. 87-91)
Em 1923, ocorreu o Putsch de
Munique, tentativa fracassada de
golpe por parte de membros do
partido nazista. Seus principais
lderes, inclusive Hitler, foram presos,enfraquecendo temporariamente o
ideal totalitrio na Alemanha. Na
priso, Hitler escreveu um livro
chamado Mein Kampf, onde
desenvolve os principais elementos
da ideologia nazista - arianismo,
anticomunismo, antiliberalismo,
antissemitismo, militarismo
expansionista com vistas conquista
do espao vital.
A partir de 1929, com o
agravamento da crise econmica na
Europa e, sobretudo, na Alemanha, o
desemprego e a inflao atingiram
nveis insuportveis e a
incompetncia da Repblica de
Weimar em dar solues a ela
manifestou-se com grande
intensidade. Nesse contexto, o
Partido Nazista e suas ideias
ganharam fora, at porque a aodas SA tornava-se mais determinada
e contnua. A adeso ao nazismo,
que contava com eficiente
propaganda, foi enorme na Alemanha
e a oposio foi violentamente
reprimida.
Nas eleies parlamentares de
1932, o Partido Nazista obteve
expressiva vitria e Hitler foi
nomeado primeiro-ministro pelo
presidente Hindenburg. No anoseguinte, visando controlar de
maneira absoluta o aparelho de
Estado alemo e por fim Repblica
de Weimar, os nazistas forjaram um
plano de tomada do poder,
incendiando o prdio onde funcionava
o Reichstag (Parlamento alemo) e
acusando os comunistas do ato: o
Parlamento permaneceu fechado, os
partidos polticos foram suprimidos,
enquanto seus principais membros
foram presos, jornais e sindicatos de
oposio tambm foram extintos e,at mesmo, membros dissidentes das
SA foram eliminados.
A represso aos opositores do
nazismo - tanto comunistas quanto
liberais-democratas - intensificou-se
com a criao das SS (Sesses de
Segurana, a polcia poltica do
partido) e da Gestapo (polcia secreta
do Estado).
A morte do presidente
Hindenburg, em maro de 1933, deua Hitler oportunidade de fortalecer
seu poder: ao invs de convocar
eleies presidenciais, o chanceler
acumulou o cargo de presidente e
primeiro-ministro, fundando o
Terceiro Reich e adotando o ttulo de
Fhrer (guia). Nascia assim o
Estado totalitrio alemo que, nos
anos seguintes, tendeu
militarizao e ao expansionismo,
desrespeitando, pouco a pouco, as
determinaes do Tratado de
Versalhes, numa clara atitude de
agresso.
Consideraes finais
Para triunfar, o nazismo
precisava combater seu principal
concorrente ideolgico, o socialismo
revolucionrio ou comunismo, com oqual teria de disputar a adeso
7/25/2019 Nazi-fascismo_uma Dominao Burguesa
13/14
262
popular. Igualmente totalitrio, ocomunismo tambm se arvorava aconstruir uma sociedade perfeita, nos na Alemanha, mas no mundo.Entretanto, no lugar de uma raasuperior, colocava uma classe social -o proletariado - frente do processo.Por isso, o anticomunismo constituaum ponto central do pensamento deHitler.
Muito embora o senso comum
considere o nazi-fascismo como umafora antiliberal, percebe-se que elefoi antes de mais nada o caminhopoltico autoritrio e totalitrio deafirmao das formas burguesas dedominao. O nazi-fascismo era afora estratgia capaz de deter umapossvel expanso do socialismo naEuropa. Um argumento favorvel aessa tese aplica-se quando em 1938,em nome do arianismo defendido
pelos nazistas, a Alemanha anexou austria (Anchluss) e os Sudetos,regio ocidental da ex-Tchecoslovquia, habitada pormaioria alem. A autorizao paraessa agresso foi concedida pelaspotncias ocidentais (Inglaterra eFrana) depois da Conferncia deMunique. Tais potncias, no entanto,exigiram que a Alemanha deixasseindependente o restante do territrioTcheco. Em 1939, desrespeitando taldeterminao, Hitler desmembrou aTchecoslovquia e dividiu seuterritrio entre a Polnia, a Hungria ea prpria Alemanha que assumiu ocontrole sobre a Bomia e a Morvia.
Essa poltica foi batizada de Polticade Apaziguamento.
Impressionados com oelevado custo em vidas humanas daPrimeira Guerra Mundial, grupospolticos europeus convenceram-sede que a paz com a Alemanhadeveria ser mantida a qualquercusto, mesmo que tivessem queignorar as constantes violaes deHitler a diversos tratados
internacionais.Porm, a Poltica doApaziguamento tambm era umamaneira de fortalecer a Alemanha ecoloc-la em confronto com a URSS.
Ficou clebre a frase de umpoltico pernambucano HolandaCavalcanti que teria afirmado: Nadamais se assemelha a um saquarema(conservador) do que um luzia(liberal) no poder.Essa frase revela
a grande identidade entre Liberais eConservadores que juntos dominaroa cena poltica brasileira exercendo odomnio completo sobre asprovncias, restringindo e controlandoo nmero de eleitores no BrasilImprio. Parafraseando Cavalcanti,podemos dizer que nada maisparecido com um fascista do que umliberal no poder. O Capital no temptria, no tem tica, no temmodelo poltico. Uma democracia ouum fascismo servem para manter osinteresses do mercado superando ascrises arquitetadas pelo seuimperialismo.
7/25/2019 Nazi-fascismo_uma Dominao Burguesa
14/14
263
Referncias:
ECO, Umberto. O fascismo eterno. Disponvel em:
. Acesso em: 5 abr. 2012.
HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabea. So Paulo: Companhia das Letras,
1987.
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve sculo XX, 1914-1991. So Paulo:
Companhia da Letras, 1995.
MARX, K. O capital. So Paulo: Abril, 1985.
NR, Jacques. Histria contempornea. 2. ed. So Paulo: Difel, 1981.
REMOND, Ren. O sculo XX: de 1914 aos nossos dias. So Paulo: Cultrix, 1995.
THIERRY, Buron; GAUCHON, Pascal. Os fascismos. Rio de Janeiro: Zahar, 1984.
Top Related