Nutrição e Lesões Desportivas
Nutrition and Sports Injuries
Ana Rita Bastos
Orientado por: Prof. Doutor Vitor Hugo Teixeira
Monografia
Porto, 2009
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Dedicatória
A todos os atletas, amadores ou competidores…
…deixo duas célebres frases de reflexão e motivação.
“Os dias prósperos não vêm por acaso. Nascem de muita fadiga e muitos
intervalos de desalento”
Camilo Castelo Branco
“Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...”
Fernando Pessoa
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Agradecimentos
Ao Prof. Doutro Vitor Hugo Teixeira pela sua disponibilidade, colaboração,
correcção científica e motivação que foram essenciais para construir e concluir
esta tese.
A TODAS as pessoas que me apoiaram e que, cada uma à sua maneira, se
dedicaram para que a realização desta tese fosse uma realidade!
Muito Obrigada!
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Índice
Dedicatória .......................................................................................................... i
Agradecimentos .................................................................................................. ii
Lista de Abreviaturas .......................................................................................... iv
Resumo .............................................................................................................. v
Abstract .............................................................................................................. vi
Introdução .......................................................................................................... 1
Lesões Desportivas ............................................................................................ 3
Estados de Fadiga e Lesão ................................................................................ 5
Nutrimentos no contexto das Lesões Desportivas ............................................. 6
Glícidos e Hipoglicemia ........................................................................... 6
Proteínas ................................................................................................. 9
Antioxidantes ......................................................................................... 11
Cálcio e Vitamina D ............................................................................... 14
Ferro ...................................................................................................... 16
Água ................................................................................................................. 18
Composição Corporal ....................................................................................... 20
Suplementos Alimentares ................................................................................ 23
Grupos de Risco ............................................................................................... 30
Análise Crítica .................................................................................................. 33
Conclusão ........................................................................................................ 35
Referências Bibliográficas ................................................................................ 36
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Lista de Abreviaturas
AACR – Aminoácidos de Cadeia Ramificada
AOX - Antioxidantes
CC – Composição Corporal
COI – Comité Olímpico Internacional
DRI – Dose Diária Recomendada
EF – Exercício Físico
ERO - Espécies Reactivas de Oxigénio
Hb – Hemoglobina
LD – Lesões Desportivas
MG – Massa Gorda
MM – Massa Magra
RD – Rendimento Desportivo
RL – Radicais Livres
SNC – Sistema Nervoso Central
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Resumo
Apesar dos avanços das ciências e tecnologia, os dados
epidemiológicos referentes às diversas modalidades desportivas revelam uma
elevada prevalência de lesões desportivas (LD) com perfis multifactoriais,
causando preocupação aos atletas e profissionais envolvidos, devido à
interrupção do processo de adaptações orgânicas, influenciando o rendimento
e capacidade para a prática desportiva.
A intervenção sobre os inúmeros factores que intervêm na etiologia das
LD é imprescindível no sentido de diminuir a sua incidência, bem como o
conhecimento dos mecanismos subjacentes ao tratamento e à optimização da
reabilitação, promovendo um regresso à prática desportiva o mais rápido e
eficazmente possível.
Uma óptima nutrição é reconhecida como essencial para melhorar o
desempenho e o rendimento, evitando os mecanismos de fadiga e prevenindo
doenças e lesões decorrentes da prática desportiva. Por outro lado, existem
poucos estudos explicativos da mecanística da Nutrição na prevenção da
ocorrência de LD e a sua função nos processos inerentes à sua reabilitação.
Uma ingestão correcta de Glícidos, Proteínas e Água, de vitaminas A, C
e E e oligoelementos como o Zinco, Ferro e Cobre entre outros, com função
antioxidante exógeno, de Cálcio e Vitamina D para protecção óssea, de Ferro
para um eficiente transporte de Oxigénio para os tecidos e músculos, relaciona-
se com múltiplos mecanismos envolvidos na ocorrência de LD. A desidratação
tem consequências a nível do rendimento desportivo (RD) e da saúde,
desencadeando mecanismos fisiológicos e neurológicos com impacto negativo.
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A Composição Corporal “ideal” será aquela que melhor se adapte à modalidade
praticada, trazendo menos obstáculos ao atleta no desempenho das suas
funções. Por fim, o recurso a Suplementos Nutricionais na prevenção ou na
recuperação das LD, deverá ser minuciosamente estudado, planeado e
monitorizado por um Nutricionista, para que exerçam o benefício esperado.
Apesar do papel da Nutrição ser limitado no conjunto de factores
associados à prevenção e reabilitação das LD, este é de extrema importância
quando o objectivo é elevar o rendimento físico e a preservação da saúde ao
mais alto nível.
Palavras-Chave: Lesões Desportivas, Prevenção, Tratamento, Nutrição,
Rendimento desportivo
Abstract
Despite advances in Science and Technology, the epidemiological data
regarding various sports modalities reveals a high prevalence of Sports Injuries
(SI) Profiles associated with multiple factors, causing concern over involved
athletes and professionals, due to an interruption of the organic adaptation
process, influencing sport performance.
In order to diminish Sports Injuries incidence, it’s essential to intervene
on many factors involved in its etiology, as well as to have the knowledge of the
mechanisms underlying rehabilitation treatment and its optimization, promoting
the fastest possible efficient return to sports activities.
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An excellent nutrition is recognized as essential to improve sport
performance, avoiding fatigue mechanisms and preventing diseases and
injuries resulting from sports activities. On the other hand, there are few studies
supporting Nutritional mechanisms in preventing the occurrence of SI and its
role in the rehabilitation process.
A correct intake of Carbohydrates, Proteins and water, Vitamins A, C and
E and trace elements such as zinc, iron and copper, among others, with
exogenous antioxidant function, Calcium and Vitamin D for bone protection, Iron
to an efficient oxygen transport to tissues and muscles, relates to multiple
mechanisms involved in SI occurrence. Dehydration has consequences in
terms of sport performance and health, triggering physiological and neurological
mechanisms with negative impact. The “ideal” Body Composition will be the one
that best fits sport practised, bringing fewer obstacles in the performance of the
athlete duties. Finally, the use of Nutritional Supplements in SI prevention and
recovery, should be thoroughly studied, planned and monitored by a nutritionist,
to promote the expected benefit.
Although the role of Nutrition is limited in the set of factors associated
with SI prevention and rehabilitation, this is very important when the objective is
to increase sport performance and health preservation at the highest level.
Key-Words: Sports Injuries, Prevention, Treatment, Nutrition, Sport
Performance
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Introdução
No panorama desportivo actual, a prevenção é uma palavra-chave. A
actividade desportiva pode ser utilizada com o objectivo de prevenir a
ocorrência de determinadas doenças, por exemplo as cardiovasculares, mas
por outro lado pode conduzir ao aparecimento de malefícios – lesões, ao
organismo dos praticantes se não forem tomados determinados cuidados na
sua prática (1).
A ocorrência de LD é um acontecimento que afecta desde o simples
atleta de recriação, ao atleta de elite. A lesão é um risco inerente ao próprio
treino desportivo, e com a qual os atletas têm de contar no decurso da sua
carreira, sabendo ultrapassá-lo física e psicologicamente (2). O aumento do
número de praticantes e do nível competitivo tem vindo a originar um crescente
aumento de lesões tipicamente desportivas (3).
O medo da degradação da performance desportiva associada à
ocorrência de uma lesão é, provavelmente, o factor psicológico mais forte que
influencia o desempenho desportivo (4). Todas as medidas possíveis de serem
tomadas no sentido de prevenir a ocorrência de lesões e de optimizar a sua
reabilitação são fundamentais para que os objectivos da prática desportiva
sejam alcançados – bem-estar físico, psíquico e social, desde o simples
amador ao desportista de elite.
É da responsabilidade de todos os intervenientes ligados ao fenómeno
desportivo a colaboração num esforço inter e multidisciplinar para que o
desporto não se torne uma causa permanente de problemas mais ou menos
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invalidantes. Desses intervenientes, o Nutricionista tem sem dúvida um papel
fundamental.
A importância dada a influência da nutrição na performance desportiva é
já amplamente descrita e estabelecida na literatura científica. Uma nutrição
adequada às exigências desportivas e competitivas relaciona-se com uma
melhoria da actividade física, da performance e da recuperação (5).
Além do grande impacto que tem no treino desportivo, uma alimentação
adequada contribui para que o atleta suporte períodos de treino intensivos,
prevenindo a ocorrência de doenças ou lesões e promovendo adaptações do
organismo aos estímulos induzidos pelas cargas de treino (6). São diversos os
estudos que relacionam uma ingestão nutricional desadequada às
necessidades da população desportiva com impacto negativo nas funções
fisiológicas, imunológicas, no rendimento e na saúde dos atletas (4, 7-9). São
estes estudos que evidenciam o enquadramento da Nutrição como Ciência
implicada na prevenção e recuperação das LD.
Este trabalho pretende identificar os principais factores nutricionais
envolvidos na génese das LD e explicar como estes poderão ajudar a preveni-
las e, sempre que se aplique, abordar a forma como intervêm no tratamento e
reabilitação, pois apesar dos esforços preventivos, a ocorrência de LD é um
acontecimento que afecta muitos atletas ao longo da sua carreira desportiva.
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Lesões desportivas
A ocorrência de lesões no desporto é um risco inerente ao próprio
exercício físico (EF). O primeiro passo para minimizar esse risco é identificar os
factores que o predispõem.
As lesões resultantes de um trauma agudo ou de um stress repetido
associado ao EF, denominam-se Lesões Desportivas (LD). Existem diversas
classificações para LD, sendo que a do Conselho Europeu de Medicina
Desportiva as define como qualquer agravo decorrente da participação no
desporto, acompanhado de uma ou mais das seguintes ocorrências: redução
da intensidade ou nível de actividade física; necessidade de atendimento
médico, o qual prescreve tratamento ou medicação específica; impacto social
ou efeitos económicos decorrentes do agravamento, no âmbito individual ou
colectivo (10).
Em relação ao tipo de LD, elas variam entre desportos sendo mais
comuns as lesões musculares, as lesões ligamentares, onde ocorre o ferimento
total ou parcial do ligamento que une um osso ao outro e estabiliza as
articulações correspondentes, as lesões tendinosas, correspondem a
inflamações de tendões e as lesões esqueléticas, mais susceptíveis ao nível
dos membros superiores e inferiores. Mais raramente, e de maior gravidade,
surgem as lesões cerebrais, nomeadamente os traumatismos crânio-
encefálicos que levam a perdas de consciência, memória e equilíbrio (2, 11). As
lesões anteriormente referidas são normalmente classificadas como agudas,
ocorrendo em situações como uma queda ou colisão. Associado à crescente
competitividade e nível de desempenho exigido aos atletas, principalmente de
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elite, surge um “novo” tipo de lesões denominadas de overuse, resultantes de
microlesões repetitivas no mesmo tecido ou estrutura, ao longo do tempo e nos
diversos eventos da prática desportiva, sendo as mais comuns as fracturas de
stress, as tendinites e a osteoartrite entre outras associadas a alguns dos
sistemas indicados nas lesões agudas (11-13).
Considerando a causalidade das lesões desportivas, apontam-se como
factores intrínsecos aqueles que predispõem o atleta para a ocorrência das
mesmas, tais como a idade, o sexo, o desenvolvimento motor, a composição
corporal, o estado psicológico, a aptidão física (flexibilidade, força), a anatomia
do atleta e o estado de saúde (história de LD, instabilidade articular) que
quando expostos a determinados factores extrínsecos como o tipo de desporto,
o equipamento desportivo, o planeamento do treino (correcto aquecimento), as
cargas de treino e competição (tempo de repouso), as condições atmosféricas
e ambientais, a alimentação e a hidratação (14-16), vão determinar a
susceptibilidade do atleta de desenvolver uma LD num determinado momento
da prática de EF (12, 17). São considerados grupos de risco acrescido as
crianças, adolescentes e atletas do sexo feminino, devido a factores fisiológicos
específicos (7, 18). Apesar dos desportos de grupo (contacto) terem uma maior
susceptibilidade de provocar lesões, as de maior gravidade estão associadas a
desportos individuais (11, 19).
Percepcionando a multiplicidade de factores implicados na génese das
lesões desportivas, anteriormente referidos, e sabendo que a nutrição tem um
papel importante e crucial na causalidade de estados de fadiga e das lesões
desportivas, torna-se importante compreender a relação causa/efeito baseada
em pressupostos científicos.
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Existem diversos níveis na prevenção das LD, variando a classificação
entre autores. Consideremos a classificação utilizada por Bahr (14) e seguida
por outros autores (2, 20), que divide a prevenção em “Primária”, promotora da
saúde e preventiva da ocorrência de lesões, “Secundária”, definida como o
diagnóstico inicial e tratamento, e a “Terciária”, referida como o processo de
reabilitação que permite o regresso gradual à prática desportiva.
Estados de Fadiga e Lesão
A fadiga é determinada por uma inter-relação complexa, que culmina
num prejuízo para a performance devido a factores musculares, hormonais,
cardiovasculares ou centrais. Existem diversos modelos explicativos para a
ocorrência da fadiga muscular, no entanto sabe-se que esta se traduz numa
incapacidade para manter o nível de determinados parâmetros de produção
muscular durante o exercício, tais como diminuição da força máxima, das taxas
de força e relaxamento e, da potência muscular. Dos fenómenos que têm sido
explicados para a ocorrência destas alterações musculares, e consequente
fadiga associada, destacam-se as alterações na placa motora (mais
susceptíveis nas fibras tipo II), as alterações no acoplamento
excitação/contracção (directamente relacionada com a libertação de cálcio) e
as alterações metabólicas como a acumulação de ácido láctico, de fosfato
inorgânico, a diminuição das reservas de glicogénio muscular e hepático e,
consequentemente, uma diminuição da concentração de glicose (21). A fadiga
Central está associada com alterações funcionais específicas do Sistema
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Nervoso Central (SNC) que influenciam o humor, a sensação de esforço e a
tolerância à dor e ao desconforto, limitando de forma significativa o RD (22).
Apesar da complexidade dos mecanismos que levam o atleta a um
estado de fadiga, há que ter em conta que este fenómeno se encontra
envolvido na etiologia de muitas LD e, portanto, atrasar ou impedir a sua
ocorrência será um caminho essencial a percorrer quando se fala em prevenir
lesões. Abordaremos ao longo do trabalho, o papel da nutrição na prevenção
de estados de fadiga, como sendo essencial no trabalho multidisciplinar da
prevenção de LD (1, 23, 24).
Nutrimentos no contexto das LD
Glícidos e Hipoglicemia
Os Glícidos sendo o principal substrato energético da maioria das
modalidades desportiva, quando a sua ingestão é insuficiente leva à diminuição
do glicogénio muscular disponível, comprometendo o fornecimento de energia
para a realização do EF e diminuindo o RD. Uma ingestão adequada de
glícidos é essencial tanto para a prevenção de lesões como para o
fornecimento de energia.
O glicogénio muscular é uma das principais fontes de fornecimento de
energia durante o exercício físico e provém quase na sua totalidade da
ingestão alimentar de glícidos, existindo evidências de uma relação directa
entre a ingestão diária de glícidos e as reservas de glicogénio muscular após
exercício físico (25).
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Durante exercícios contínuos prolongados ou de elevada intensidade, o
glicogénio muscular é o substrato preferencial, podendo ocorrer depleção do
mesmo caso não haja reposição correcta entre sessões (25). Os défices de
glicogénio muscular podem instalar-se subitamente no caso de exercícios de
longa duração e predominantemente aeróbios ou de exercícios curtos
caracterizados por esforços intermitentes, ou de forma cumulativa e lenta em
períodos de treinos consecutivos em que a reposição através da alimentação é
insuficiente (1).
A depleção das reservas musculares de glicogénio leva à ocorrência de
fadiga, que se associa a lesões estruturais das fibras musculares e a músculos
fatigados que perdem força e capacidade de proteger as articulações mais
fracas, levando a uma maior predisposição para a ocorrência de lesões (23, 26).
A intensidade e duração do exercício, a condição física individual e a
alimentação são determinantes para ocorrência da fadiga, devendo ser
implementadas estratégias nutricionais específicas, adequando a ingestão de
glícidos antes, durante e após o treino, no sentido de atenuar ou eliminar a
ocorrência de lesões associadas à mesma (25).
Um outro factor responsável pelo aumento da susceptibilidade de lesões
no desporto e relacionado com a ingestão glicídica é a ocorrência de
hipoglicemia durante o treino/competição. A glicose é um substrato importante
para todas as células orgânicas, mas para o sistema nervoso central (SNC)
esta é a sua única fonte energética. Facilmente se compreende que qualquer
défice de glicose a nível sanguíneo compromete o bom funcionamento de
diversos sistemas, principalmente o SNC (1).
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A ocorrência de hipoglicemia durante o exercício deve-se a um
desequilíbrio entre a produção de glicose e/ou ingestão de glícidos e a sua
utilização a nível muscular (27). A intensidade do exercício é o maior
determinante quer da utilização de glicose pelo músculo quer da sua produção
endógena (28).
O principal fornecedor de glicose sanguínea é o glicogénio hepático,
antevendo-se que quando as reservas deste se encontram diminuídas no inicio
de um treino, a ocorrência de hipoglicemia na parte final do mesmo poderá
verificar-se. São vários os factores que podem levar à ocorrência de
hipoglicemia durante o exercício. Em exercícios de longa duração, o organismo
recorre à oxidação dos ácidos gordos como substrato energético e quando este
não consegue compensar a falta de glicose, fazendo com que a concentração
desta diminua no sangue e consequentemente no SNC, instala-se um estado
hipoglicémico (29).
A ocorrência de uma resposta hipoglicémica durante o exercício parece
estar relacionada com o tipo de glícidos ingeridos na refeição imediatamente
antes do treino/competição e o respectivo momento de ingestão (período de
tempo desde a ingestão até ao inicio da sessão). Alimentos de elevado índice
glicémico podem levar a uma resposta hiperinsulinémica e consequentemente
ao surgimento de uma hipoglicemia reactiva durante o exercício. Por outro
lado, longos períodos de jejum favorecem também a ocorrência de
hipoglicemia por défice de aporte glícido, como ocorre por exemplo de manhã
quando a ingestão de glícidos do pequeno-almoço não é suficiente para
compensar o prolongado jejum nocturno (28, 30).
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A sensibilidade à insulina não é igual em todos os atletas e,
consequentemente, a ocorrência de défices da glicose sanguínea também não.
Os atletas com maior susceptibilidade para hipoglicemia estão mais fragilizados
para a ocorrência de lesões musculares traumáticas e tendinites, durante a
prática desportiva (27), pois o mau funcionamento do SNC originado pelo
insuficiente aporte de glicose, origina alterações do equilíbrio, da coordenação
neuromuscular, da proprioceptividade, da concentração e da atenção,
aumentando a predisposição às lesões supracitadas (1).
Proteínas
A ingestão proteica é, sem dúvida, um dos pontos mais debatidos e
estudados na comunidade científica desportiva. A sua relação com as LD não é
fácil nem clara de estabelecer, uma vez que não existem estudo de
causa/efeito das mesmas.
Sabe-se que as proteínas têm uma função essencial na reparação,
manutenção e síntese muscular e que, em algumas circunstâncias, poderão
ser fonte energética em exercícios de longa duração. Quando utilizadas como
fonte energética, as perdas musculares, associadas à degradação proteica
para produção de ATP, poderão ser desvantajosas pois favorecerão a
ocorrência de lesões musculares (7).
A ingestão proteica “ideal” deverá ter em conta o tipo de desporto, a
intensidade e duração dos treinos, bem como a idade, sexo, peso e
composição corporal do atleta. Um balanço azotado (proteico) positivo é
desejável na fase de recuperação, pois promove uma diminuição da taxa de
degradação proteica que ocorre durante o treino e promove a hipertrofia, a
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reparação e a adaptação muscular decorrentes do estímulo causado pelo
exercício físico (EF). Este mecanismo é vantajoso pois auxilia na prevenção da
fadiga e outros sintomas, que estão relacionados com lesões músculo-
esqueléticas e/ou de overuse (31). Se a quantidade de proteína ingerida for
inferior às necessidades, ocorrerá degradação muscular devido ao catabolismo
proteico, os atletas não recuperarão eficazmente entre os eventos ficando mais
susceptíveis a estados de fadiga e a uma maior fragilidade muscular.
Importa referir que a co-ingestão de proteína e glícidos, torna mais
eficiente a síntese proteica e a reposição do glicogénio muscular, actuando de
forma sinérgica numa melhor recuperação e prevenindo a ocorrência de fadiga
precoce em eventos subsequentes (8, 32, 33).
Quando ocorre uma lesão, uma vez que há um stress adicional para o
organismo causado pelo processo inflamatório inerente à mesma, são
necessários nutrientes adicionais para optimizar os processos de reparação e
recuperação. A quantidade de proteína da alimentação e respectivos derivados
metabólicos (aminoácidos), está associada ao processo de regeneração dos
tecidos musculares. Em caso de deficiência a resposta de diversos
intervenientes da recuperação da LD será afectada, nomeadamente a
diminuição da proliferação dos fibroblastos, da neoangiogénese e da síntese de
colagénio, essenciais à reparação das lesões musculares e formação de novas
células e tecidos necessários ao processo de reabilitação (4).
Assim sendo, é necessário ter atenção à quantidade de proteína ingerida
após uma lesão e durante a fase de reabilitação, ajustando a mesma de acordo
com a severidade e variação das necessidades (34). Em modalidades como a
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ginástica, a patinagem artística ou desportos de resistência e por classes de
pesos (judo, remo), deverá existir uma vigilância redobrada no caso de
ocorrência de lesões, pois uma possível deficiência proteica é mais frequente
devido ao baixo peso e à baixa quantidade de massa muscular associados às
restrições energéticas frequentes, que levam à utilização das proteínas como
combustível, promovendo um ainda mais acentuado catabolismo muscular (35).
Antioxidantes
O EF eleva a produção de Radicais Livres (RL) e outras Espécies
Reactivas de Oxigénio (ERO) pelo sistema muscular esquelético (36). O sistema
de defesa do organismo depende da cooperação entre os antioxidantes (AOX)
endógenos (produzidos pelo organismo) e exógenos (obtidos através da
alimentação) e a sua capacidade de converter as ERO em moléculas menos
activas e/ou evitar que se tornem mais perigosas (37).
A quantidade ERO gerada durante a prática de exercício físico parece
estar directamente relacionada com a duração e intensidade do exercício (37).
Sendo estes compostos tóxicos para o organismo, uma insuficiência de
defesas orgânicas para compensar um aumento na produção de RL,
nomeadamente por défice de AOXs exógenos, leva à ocorrência de stress
oxidativo nas células, e este a uma diminuição das capacidades físicas e do
rendimento, levando em situações mais graves à destruição de membranas e
proteínas celulares, estruturas articulares entre outras lesões, decorrentes da
peroxidação lipídica que ocorre nas células musculares (1, 38, 39). O próprio
músculo tem mecanismos de resposta inflamatória no sentido de eliminar as
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células lesadas, estando estes associados às dores musculares que
frequentemente os atletas têm após treinos, ou períodos de treino, intensos (36).
Dos AOXs exógenos, as vitaminas A, C e E actuam directamente como
AOXs celulares, e os oligoelementos Manganésio, Selénio, Cobre, Zinco e
Ferro, actuam como co-factores ou componentes de enzimas AOXs (4) .
Nos atletas de elite, sujeitos a longos períodos de treino e elevada
intensidade, é previsível que haja uma maior produção de ERO, sendo
necessária uma ingestão adequada de alimentos ricos em AOXs de forma a
prevenir a indução de danos musculares e outras consequências nefastas para
a saúde e desempenho desportivo, que poderão estar na génese de algumas
LD (40, 41).
Todavia, há uma corrente que defende que na recuperação de
determinadas LD, os AOXs em excesso podem inibir a remoção do tecido
muscular danificado pelas células inflamatórias atrasando a regeneração de
lesões musculares. Pensa-se que as ERO podem ter um papel fisiológico
importante na regeneração muscular e, as tentativas para impedir a sua
produção através da intervenção antioxidante pós-exercício poderão ser
prejudiciais para o processo de recuperação (42,43). Uma suplementação em
AOX após a ocorrência de lesão muscular causada pelo exercício excêntrico,
tem sido relacionada com um aumento acentuado do dano tecidual nos dias
seguintes (44).
Vitamina A
A vitamina A promove a fase inicial da inflamação, evita a acumulação
de pus na zona lesada, aumentando o número de monócitos e macrófagos
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circulantes, facilitando a eliminação das células lesadas e tecidos mortos e
acelerando o processo de reparação e cicatrização do tecido, contribuindo para
uma recuperação mais rápida e eficaz (45, 46).
Vitamina C
Para além da função antioxidante anteriormente descrita, a vitamina C
tem um papel crucial na reabilitação das LD. Esta vitamina tem um papel
crucial na síntese do colagénio (são necessárias concentrações específicas de
vitamina C para activar a enzima responsável pela produção de colagénio),
coopera na actividade de diversas enzimas envolvidas em processos de
reparação tecidular, auxiliando na formação de fibroblastos e condrócitos,
células-chave para a produção de tecido conjuntivo e cartilagem (45). A vitamina
C favorece a absorção de ferro e participa na regeneração da vitamina E,
fortalecendo a capacidade AOX. É, portanto, essencial ter em conta uma
adequação da ingestão de vitamina C em períodos após lesões desportivas,
como fracturas, inflamações dos tendões e articulações, entre outras, pois além
das necessidades estarem aumentadas pelo stress orgânico causado, as
perdas urinárias poderão estar aumentadas, levando facilmente a uma situação
de deficiência prejudicial à reabilitação (4, 34, 47).
Vitamina E
Esta vitamina actua como um anti-inflamatório, pois está directamente
relacionada com a inibição da actividade da enzima Fosfolipase A2 e,
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consequentemente, com a produção de prostaglandinas, que são mediadores
químicos da resposta inflamatória, sendo importante, que as necessidades
sejam ajustadas durante períodos de recuperação de lesões (45). Parece que
uma correcta ingestão de vitamina E, aumenta a elasticidade das fibras
musculares, prevenindo o dano muscular e, consequentemente a ocorrência de
uma nova lesão (9).
Zinco
O Zinco é componente de mais de 200 enzimas chave envolvidas em
diversos processos de síntese e metabolismo, particularmente importante
quando é necessário promover crescimento celular. Após a ocorrência de uma
LD, o processo inflamatório inerente à mesma necessita deste oligoelemento
na formação de colagénio e de novo tecido epitelial. A deficiência de zinco está
associada a uma diminuição da elasticidade do colagénio e a um aumento da
susceptibilidade de infecções recorrentes. Na reabilitação de fracturas ósseas
em que ocorre imobilização temporária, a deficiência deste mineral está
associada a uma perda de densidade óssea que lentifica e prejudica a
reabilitação (45, 46, 48).
Cálcio e Vitamina D
O Cálcio tem um papel muito importante no metabolismo do osso, na
coagulação sanguínea, no SNC e na contracção muscular. A sua função no
primeiro e último processos biológicos interessam no contexto das LD,
nomeadamente no metabolismo do osso relacionado com as fracturas de
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stress e nos mecanismos de contracção muscular com a ocorrência de
contracturas musculas e miopatias do exercício (1).
A ingestão de cálcio é um dos factores que contribui para a densidade
óssea, podendo-se concluir que deficiências neste oligoelemento, poderão
causar maior fragilidade óssea ou osteoporose, que se relacionam
inversamente com os níveis de cálcio armazenados. Se o cálcio é essencial
para a densidade óssea, qualquer deficiência na sua ingestão vai repercutir-se
nas suas reservas, podendo levar a necessidade de reabsorção óssea e ao
consequente aumento o risco de fracturas (49-51).
Diversos estudos têm demonstrado uma associação directa entre a
prática de EF e aumento da massa óssea. Este efeito só é possível se houver
associado à prática de EF uma correcta ingestão de cálcio através de uma
alimentação rica em produtos lácteos e ricos em cálcio, caso contrário não
haverá efeito benéfico (52, 53). Caso a intensidade e duração do exercício forem
tais que haja uma elevada produção de suor, poderão ocorrer perdas
significativas de cálcio através do mesmo, aumentando portanto as
necessidades (49, 54).
A ocorrência de fracturas de stress, é frequente em atletas do sexo
feminino, jovens e envolvidas em desportos em que a aparência estética, o
baixo peso corporal e reduzida massa magra são factores valorizados
(ginástica, ballet, corrida de fundo), pois habitualmente sujeitam-se a elevadas
restrições energéticas associadas a deficiências da ingestão de diversos
alimentos, entre eles os produtos lácteos. Muitas destas atletas acabam por
sofrer alterações menstruais, que provocam uma diminuição da produção de
estrogénios e, consequentemente, a uma diminuição da densidade mineral,
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aumentando a predisposição para este tipo de lesões (40, 55, 56). Nesta
população é crucial que haja uma monitorização e controlo apertado
relativamente à ingestão de cálcio, pois apesar deste não ser o único e mais
importante factor da ocorrência de lesões, a sua deficiência poderá
comprometer ou agravar a saúde óssea destas atletas, predispondo-as a um
risco aumentado de fracturas (56, 57).
A vitamina D tem um papel vital na promoção da absorção de cálcio e
uma deficiência desta reduzirá a quantidade de cálcio absorvido pelo
organismo (48).
Deverá, então, ser garantida concomitantemente com a ingestão de
cálcio, uma adequada ingestão de vitamina D, como promotora da saúde
óssea, prevenindo a ocorrência das tão indesejáveis fracturas de stress
durante a prática de exercício físico (58).
Esta vitamina parece também ter um papel importante no sistema
imunitário, controlando a inflamação que resulta da acumulação de fluidos e
células imunitárias no tecido lesado. Assim sendo, é possível que
comprometendo os níveis de vitamina D no organismo aumente o risco ou a
severidade de algumas lesões relacionadas com a prática desportiva (58).
Ferro
Os atletas, em particular o sexo feminino e os adolescentes, são mais
susceptíveis à depleção das reservas de ferro devido ao aumento das
necessidades ou de perdas. Se não tratado, este défice poderá evoluir para
uma anemia, que afectará a capacidade de treino, a saúde e potenciará a
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ocorrência de LD (7). Este micronutrimento é o único que possui uma DRI
estabelecida para atletas, devido a um efectivo e amplamente estudado
aumento das necessidades em praticantes regulares de EF (59).
O ferro é um importante constituinte da hemoglobina (Hb), molécula que
transporta o oxigénio para os músculos e outros tecidos. A ferritina é a proteína
que está directamente relacionada com as suas reservas orgânicas, sendo a
sua concentração indicadora do estado nutricional. A influência da baixa
ingestão de ferro na Hb é um pouco controversa, no entanto é de prever que
baixos níveis de ferro, e consequente de ferritina, se reflictam numa baixa da
concentração de Hb, comprometendo a distribuição de oxigénio aos tecidos,
levando ao aparecimento precoce de estados de fadiga durante exercícios de
longa duração (maratona, por exemplo), relativamente a atletas com valores
normais. O músculo fatigado torna-se menos capaz de estabilizar e suportar as
articulações, como as do joelho e tornozelo, aumentando a susceptibilidade à
ocorrência de lesões nestes locais (40, 60, 61).
A produção de energia pelo sistema aeróbio necessita de ferro em
diversas reacções bioquímicas envolvidas, tendo este um importante papel na
manutenção de níveis adequados de energia para desportos de resistência (62).
Uma incorrecta ingestão diária de ferro, associada ao aumento das
necessidades, é, indubitavelmente, a causa primária de deficiências de ferro na
população desportiva. No entanto, outros factores como as perdas associadas
ao suor, patologias gastrointestinais, hematúria e hemólise intravascular
causada por mecanismos traumáticos associados ao EF, poderão contribuir
para uma maior predisposição à ocorrência de anemia e ao aumento da
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predisposição de LD associadas à fadiga e alterações funcionais despoletadas
por esta deficiência (49, 63).
Os atletas com uma alimentação vegetariana, do sexo feminino e jovens
deverão ter uma monitorização mais rigorosa pois estão mais susceptíveis à
deficiência, seja por ingestão insuficiente ou perdas aumentadas (64).
Água
A água é um nutrimento essencial para qualquer Humano, pois é o meio
preferencial onde se realizam diversas reacções químicas de produção de
energia no organismo, constituindo grande parte do volume celular e como tal
faz parte do músculo (40).
Ao iniciar a prática de exercício físico é essencial que o organismo se
encontre bem hidratado. À medida que a intensidade e duração do exercício
aumentam, a temperatura corporal também sobe, admitindo-se que a
temperatura ambiente se mantém constante. Deve-se ter em conta que o
mecanismo da sede não é suficiente para estimular eficientemente a ingestão
voluntária de forma a repor as perdas pelo suor, podendo levar a situações de
desidratação (65).
Os desportos de resistência, especialmente se realizados num ambiente
quente e húmido, resultam num aumento substancial da produção de suor, com
perdas importantes de água e electrólitos. Estas perdas provocam uma
diminuição do mecanismo de termorregulação corporal, com consequências
negativas na saúde e no desempenho desportivo, como o aumento da
frequência cardíaca, diminuição do aporte sanguíneo para os músculos,
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alterando o seu metabolismo (utilização do glicogénio muscular para a
produção de energia) e levando a uma sensação de esforço e aparecimento de
fadiga precoces (49, 66) como resultado da desidratação.
Considera-se desidratação quando ocorre uma perda de pelo menos
2% do peso corporal durante a prática de exercício, sendo um reflexo das
perdas hídricas e da não reposição das mesmas através da ingestão de
líquidos (67). O défice de hidratação pode ocasionar situações de fadiga aguda
(por exemplo na maratona) ou crónica, sendo esta última resultante de uma má
reposição de líquidos e electrólitos após treinos/competições em dias
consecutivos ou no mesmo dia, principalmente em climas quentes e húmidos.
Esta fadiga, associada a alterações da coordenação motora, do equilíbrio, da
proprioceptividade, e de outras alterações sensoriais e fisiológicas já referidas,
reflecte-se numa quebra do RD, intervindo na génese das LD. Também a fibra
muscular desidratada perde grande parte das suas qualidades contrácteis e de
elasticidade, predispondo o músculo à lesão (1, 65, 68).
Para além da duração e intensidade do exercício, são diversos os
factores que participam na ocorrência de desidratação, tais como temperatura
e humidade atmosféricas elevadas, a radiação solar, vestuário impróprio,
ingestão de bebidas com cafeína ou alcoólicas antes do treino/competição e o
estado de hidratação pré-exercício (49, 66).
Dependendo da severidade da desidratação, poderá ocorrer associado à
mesma uma perda de electrólitos, especificamente de sódio, uma vez que este
se encontra em grandes quantidades no líquido extra-celular, sendo o primeiro
electrólito perdido com o suor, originando situações de hiponatremia (69). A
desidratação e as perdas de sódio associadas à sudorese permite recomendar
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que em exercícios de longa duração se recorra a bebidas desportivas que
contenham água e quantidades adequadas de sódio (e normalmente também
glícidos), diminuindo as consequências decorrentes destes défices, que
poderão ser precursoras de alguns tipos de LD (70).
Composição Corporal
A composição corporal (CC) dos atletas depende de múltiplos factores,
tais como o sexo, a idade, a modalidade praticada, a posição em campo ou a
especialidade dentro de cada modalidade, o nível de prestação desportiva e os
factores étnicos, entre outros. Pensa-se que as diferenças na composição
corporal dos atletas entre as diferentes modalidades e especialidades
dependem de pré-requisitos constitucionais que determinam a selecção de um
determinado desporto e adaptações fisiológicas recorrentes do treino (9).
A quantidade de massa gorda e massa magra corporais vão determinar
o peso e composição corporal de cada indivíduo, sendo desejável que na
população desportiva a percentagem de massa gorda (MG) seja baixa, pois
diversos estudos relacionam o excesso de peso à custa desta a uma
diminuição do RD pelo aumento dos gastos energéticos para a realização do
esforço físico e ao aparecimento precoce da fadiga, principalmente em
modalidades desportivas de resistência e onde o corpo tem de ser deslocado
no espaço (1).
Por outro lado, há que ter em conta que um peso corporal elevado
relacionado com uma elevada percentagem de massa magra (MM) à custa de
musculatura não específica à modalidade praticada, não será proporcional a
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uma melhoria do rendimento nem a uma protecção relativamente às LD
associadas à sobrecarga (1, 9).
O excesso de peso corporal associado a um excesso de MG provoca
alterações posturais, uma maior carga e tensão sobre as estruturas músculo-
tendinosas e articulares, podendo conduzir à lesão das mesmas (71). Em
diversos estudos, nomeadamente em corredores de fundo, o excesso de peso
associa-se a um stress aumentado das extremidades, ao desenvolvimento de
sintomatologia dolorosa do joelho e anca, derivado do aumento do impacto nas
articulações, e osteoartrite (degeneração articular). Assim, é desejável nesta
população um peso corporal baixo, pois para além de facilitar o desempenho
desportivo e retardar a fadiga, por diminuição da energia dispendida, diminui a
incidência de lesões microtraumáticas, nomeadamente tendinites e fracturas de
fadiga (10, 72, 73).
Tendo em conta as exigências de cada modalidade desportiva, como foi
dito anteriormente, a composição corporal “ideal” será diferente. Caso haja
movimentação corporal na vertical, para saltar, ou na horizontal, para correr,
será uma vantagem metabólica e mecânica ter baixos níveis de MG. Pelo
contrário, desportos de contacto, como o rugby e o futebol, níveis adequados
de MG apropriadamente distribuídos, poderão ser vantajosos para absorver os
choques e promover a disputa de contacto (74).
Em atletas de desportos por classes de pesos, como as artes marciais,
ou em que a aparência estética é valorizada, como a ginástica, é habitual a
percentagem de MG e o peso corporal atingirem valores mínimos. No primeiro
caso, muitas vezes a obtenção do peso desejado ocorre à custa de métodos
desaconselhados como a desidratação, diuréticos, sauna, restrição energética
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drástica, levando obviamente a diversas perturbações fisiológicas que terão
repercussões graves na saúde, aumentando a susceptibilidade de LD (6).
Quando o peso e respectiva percentagem de MG são muito baixos devido a
uma elevada restrição energética, como acontece nas ginastas e bailarinas,
poderão ocorrer alterações hormonais, com disfunções menstruais, que
poderão associar-se a uma maior incidência de LD, especificamente de
fracturas, por desmineralização óssea (55, 72, 74).
As variações que podem ocorrer na CC associadas à interrupção na
actividade desportiva, que serão mais acentuadas quanto maior a intensidade
habitual de treino e o tempo da paragem, aos períodos de férias e às
interrupções forçadas pela ocorrência de uma lesão ou doença, deverão ser
monitorizadas e controladas para que não hajam alterações comprometedoras,
com recurso a métodos impróprios de controlo do peso e para que o regresso à
prática desportiva não esteja comprometido.
As LD têm quase sempre associada uma interrupção da actividade
desportiva de duração variável de acordo com a gravidade e processo de
reabilitação.
Assim, para garantir uma nutrição adequada, promovendo a ingestão
dos nutrientes específicos envolvidos nos processos de reparação e
recuperação, é crucial manter uma alimentação equilibrada, fornecendo a
quantidade de energia necessária. Dependendo da severidade da lesão e do
trauma associado à mesma, as necessidades energéticas poderão sofrer
alterações associadas à diminuição da actividade física. No caso de fracturas
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de ossos como o fémur, traumatismos cranianos, infecções graves ou cirurgias,
geradoras de maior stress metabólico ao organismo, levam a um aumento das
necessidades energéticas no período imediato após a lesão ou intervenção.
Nos casos de lesões em que a recuperação, devido a imobilização ou restrição
à prática de actividade física se preveja de longo termo, como nas lesões
musculares ou overuse, a ingestão energética devera ser reajustada, devido à
diminuição da actividade física, evitando que ocorra um aumento do peso
durante a reabilitação, associado a um aumento da MG, que depois será
prejudicial no regresso (75).
Uma restrição demasiado severa na ingestão energética poderá levar a
uma perda desnecessária de peso, deficiência de nutrientes essenciais e
consequentemente a um atraso da reabilitação.
É extremamente importante o acompanhamento do atleta por um
nutricionista a fim de evitar as alterações supracitadas, reajustando as
necessidades energéticas e nutricionais, de forma a optimizar a recuperação e
acelerar a reabilitação para que no regresso à prática desportiva o atleta se
sinta preparado e confiante (4).
Suplementação
O consumo de suplementos nutricionais tem vindo a crescer por parte da
população desportiva, desde os escalões mais jovens até aos atletas de elite.
Para quem treina arduamente, a suplementação é vista como uma ajuda para
promover adaptações ao treino permitindo que estes sejam mais consistentes e
intensos, melhorando a recuperação entre sessões e reduzindo as interrupções
provocadas por lesões ou doenças, aumentando a performance competitiva (6).
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No entanto, o uso em atletas deverá ser baseado em mecanismos de
acção plausíveis e identificados, conhecendo o metabolismo e outros factores
implicados nas repercussões no desempenho e na saúde do atleta (35).
No caso de deficiências específicas de um nutriente, que não seja
possível obter através da alimentação diária as quantidades necessárias,
normalmente associadas a dietas ou escolhas alimentares restritivas este
poderá ser suplementado por um período limitado de tempo, numa quantidade
definida e com acompanhamento de um profissional de nutrição, até que esta
deficiência seja tratada (76).
A suplementação nutricional na prevenção das LD só fará sentido
quando os nutrientes identificados como envolvidos na etiologia das mesmas
não puderem ser obtidos através da alimentação diária, levando a um prejuízo
das exigências desportivas de nutrimentos e de hidratação, com repercussões
directas no RD e na protecção de estados que predisponham à ocorrência de
lesões, como o aparecimento da fadiga (8, 33).
Proteínas e Aminoácidos
O recurso aos suplementos proteicos é um assunto amplamente
discutido. É claro que uma correcta ingestão proteica, na quantidade certa e
nos momentos adequados trará benefícios ao atleta e protegê-lo-á de algumas
LD. No entanto a suplementação neste nutriente só fará sentido caso o atleta
não consiga obter através da sua alimentação a quantidade diária, seja por
restrição energética ou por necessidades proteicas aumentadas numa
magnitude tal, que a quantidade necessária para suprir as necessidades se
torna impraticável (76, 77). Para além da suplementação proteica, existem
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suplementos de misturas de aminoácidos, particularmente aminoácidos de
cadeia ramificada (AACR: leucina, isoleucina e valina), que parecem ter um
papel importante na recuperação após o exercício associada à manutenção
dos níveis de glutamina, ao estímulo da síntese proteica e protecção da
degradação da mesma, à ressíntese do glicogénio muscular e no atraso da
fadiga, por competição com o triptofano na barreira hematoencefálica,
diminuindo as acções deste último na promoção da fadiga central (77-79). Sendo
os factores anteriormente descritos associados à ocorrência de determinadas
LD, a suplementação com AACR poderá ser uma medida preventiva quando a
ingestão dos mesmo via alimentar não está garantida (80).
A suplementação proteica e/ou de misturas de aminoácidos, poderá
também ser necessária na fase de tratamento e/ou reabilitação de uma LD.
Dependendo da gravidade da lesão e da extensão do processo inflamatório
inerente, poderá ocorrer um stress metabólico acrescido, com um aumento da
degradação proteica e da perda de massa muscular associada,
comprometendo os processos de cicatrização e recuperação caso não haja um
incremento da ingestão proteica proporcional às necessidades (76).
Antioxidantes
A suplementação em AOX, nomeadamente Vitaminas A, C e E,
por atletas apresenta-se um pouco controversa. Por um lado, diversos estudos
têm demonstrado o efeito protector da sua suplementação, contra os danos
musculares induzidos pelos RL produzidos durante o EF (81, 82). Por outro lado,,
estudos mais recentes demonstram que um desportista tem aumentados os
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seus mecanismos AOX endógenos, pelo que a suplementação se mostra
desnecessária (64, 83).
É de referir que em caso de suplementação, esta deve ser
minuciosamente controlada, uma vez que alguns destes nutrientes funcionam
como pro-oxidantes quando ingeridos em doses mais elevadas (84).
Minerais e Oligoelementos
A suplementação de minerais como o cálcio ou ferro, e outros
micronutrientes como o zinco e selénio poderia ser apetecível na população
desportiva como forma de prevenir a ocorrência de deficiências dos mesmos
com possíveis repercussões em mecanismos lesionais. No entanto, a
suplementação “cega” poderá ter consequências negativas para os atletas,
como a ocorrência de toxicidade e envolvimento de mecanismos pro-oxidativos
ou simplesmente não trazer qualquer benefício para o atleta (5, 84, 85).
Glutamina
O exercício intenso e de longa duração, particularmente se regular,
provoca uma redução marcada deste aminoácido no plasma podendo levar à
imunodepressão. Pelo facto da glutamina ser o substrato primordialmente
utilizado por diferentes células imunitárias, como linfócitos e macrófagos, esta
redução dos níveis de glutamina em circulação compromete a capacidade dos
atletas responderem à infecção, o que torna o atleta mais vulnerável à
ocorrência das mesmas e, em caso de LD a um comprometimento da
recuperação (86, 87). Este aminoácido não essencial relaciona-se com um
aumento da síntese proteica e de colagénio (88), essenciais em períodos de
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recuperação, sendo referido por alguns autores que uma diminuição da sua
concentração poderá ser um importante marcador para prevenir situações de
overtraining (87, 89).
A suplementação deste aminoácido poderia ser tentadora para manter a
sua concentração plasmática e prevenir o decréscimo da função imunitária
após sessões de exercício prolongado. No entanto, actualmente não há um
consenso em relação aos benefícios desta suplementação, existindo estudos
que comprovam o seu efeito benéfico e outros que não (90-92).
Enzimas Proteolíticas
Alguns estudos fazem referência à utilização de enzimas proteolíticas ou
Proteases no tratamento de lesões músculo-esqueléticas, nomeadamente
entorses, fracturas e contusões. Estas enzimas actuam na moderação do ciclo
inflamatório inerente a todas as LD e a regulação do processo cicatricial
subsequente. Estas enzimas têm a capacidade de aumentar a permeabilidade
dos tecidos, facilitando a reabsorção do edema gerado, diminuindo a dor e
aumentando a sensibilidade da estrutura lesada e acelerando a sua
reestruturação, diminuindo o tempo necessário à reabilitação da lesão em
causa. Assim sendo, a suplementação oral com estas misturas enzimáticas
poderá ser benéfica no tratamento de algumas LD (45, 93, 94).
Creatina
A ingestão de creatina como suplemento nutricional é efectuada por
atletas que pretendem aumentar a sua massa muscular e a relação entre a
força muscular e a potência aplicáveis ao desempenho, trazendo vantagens a
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nível competitivo (79, 95). No caso da reabilitação de lesões em que seja
necessária imobilização temporária, esta leva a perda de massa muscular no
membro afectado e diminuição da sua capacidade funcional. Nestes casos, há
evidências científicas que demonstram um aumento no estímulo da hipertrofia
muscular associado a um aumento da capacidade funcional após desuso,
optimizando e acelerando a reabilitação, com recurso à suplementação oral de
creatina (79, 96-99).
Sulfato de Glicosamina e Condroitina
As articulações dos atletas são estruturas muitas vezes lesadas,
nomeadamente as dos joelhos e tornozelos, devido a sobrecargas contínuas,
stress ou desgaste por overuse da estrutura, levando a que a sintomatologia
dolorosa das mesmas seja uma queixa frequente na população desportiva (100).
A glicosamina está envolvida na produção de glicosaminoglicanos e colagénio,
factores essenciais para a protecção e reparação da cartilagem das
articulações e a condroitina faz parte da cartilagem, tendões e tecidos
conjuntivos, desempenhando um importante papel como amortecedor. A
utilização de suplementos de Sulfato de Glicosamina e Condroitina,
administrados individual ou conjuntamente, associa-se à diminuição da
severidade dos sintomas dolorosos e à prevenção da degeneração articular
que pode levar ao aparecimento de osteoartrite e outras lesões osteo-
articulares (76, 79, 101, 102).
No caso da população desportiva feminina, envolvida em
modalidades caracterizadas por baixas ingestões energéticas, existem
inúmeras descrições de deficiências ao nível da ingestão de lípidos, cálcio,
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ferro entre outros, sendo necessário o recurso a suplementação destes
nutrientes para evitar consequências graves tais como fracturas ósseas,
anemia e diminuição das defesas imunitárias (81). Na restante população
desportiva recomenda-se uma vigilância do estado nutricional, preconizando
uma alimentação diversificada e equilibrada, capaz de fornecer a quantidade
de todos os nutrientes necessária ao óptimo desempenho e prevenção dos
mecanismos envolvidos na origem das LD. A suplementação só será
necessária em casos especificamente identificados de deficiência de um
determinado nutriente e por período limitado de tempo, tendo sempre vigilância
de um profissional na área (5, 6, 37, 79, 103).
Grupos de Risco
Quando se fala em prática desportiva e seus benefícios para a saúde,
esta mensagem é transmitida para a população em geral. No entanto, e apesar
do Desporto ser considerado para todos, existem alguns grupos específicos
com os quais se deverá ter um cuidado adicional na prevenção e reabilitação
das LD, pois estas poderão estar condicionadas por factores hormonais, de
crescimento e desenvolvimento, comportamentais, entre outros, levando a uma
susceptibilidade aumentada de contrair lesões durante a prática de EF (104).
Atletas do sexo feminino
Com a recente envolvência do sexo feminino em alguns desportos até
há pouco tempo considerados “para homens” e do aumento do número de
praticantes deste sexo quer a nível recreativo quer competitivo, existem
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diversos esforços a fim de desenvolver e implementar medidas para reduzir a
incidência de LD neste género e melhorar a qualidade da sua participação (105).
Existem, estudos que demonstram uma maior prevalência de lesões do
ligamento cruzado anterior, relativamente a homólogos do sexo masculino. As
razões por detrás desta ocorrência poderão estar relacionadas com factores
anatómicos, como o maior perímetro perineal ou o ângulo do joelho, hormonais
e/ou da própria condição física (106). Em relação às lesões por overuse, mais
especificamente as fracturas por stress, o sexo feminino terá um risco que
poderá ser explicado em alguns casos pela tão documentada “Tríade da
Mulher Atleta”. Este fenómeno verifica-se quando as raparigas/mulheres sobre
treino intenso, restringem a sua ingestão energética, tornando-a insuficiente
para suprir as necessidades energéticas do EF, levando a irregularidades
menstruais associadas a uma diminuição da produção de Estrogénios. Estes
últimos são essenciais na formação óssea e quando em défice provocam uma
diminuição do conteúdo mineral ósseo, fragilizando os ossos e aumentando o
risco de fracturas e osteoporose associados ao tipo de treino (107).
As deficiências de micronutrientes mais comuns nesta população são o
Cálcio e o Ferro. O primeiro devido à restrição energética e a alguma
reabsorção óssea que pode ocorrer associado a distúrbios alimentares. No
segundo caso, para além das necessidades aumentadas pelo EF devido às
perdas possíveis, estas serão mais acentuadas devido às hemorragias
menstruais, podendo levar a casos de anemia quando a ingestão não assegura
uma reposição correcta deste elemento.
Alertar as raparigas/mulheres para a importância da nutrição no
desempenho desportivo e na preservação da saúde é fundamental para que
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estas atinjam níveis elevados de RD, que só será possível conseguindo
minimizar o risco da ocorrência das lesões a que são mais susceptíveis.
Atletas crianças e adolescentes
O início da prática de EF cada vez se verifica mais precoce,
nomeadamente em modalidades que implicam a aquisição de determinados
parâmetros físicos e adaptações fisiológicas essenciais para se ser bem
sucedido, mais fáceis em idades menores. Também ao nível competitivo, as
exigências aumentam nas idades mais baixas, fazendo com que crianças e
jovens tenham desde cedo uma elevada intensidade e regularidade de treinos,
sendo portanto essencial um planeamento correcto dos treinos e competições
que garantam uma carreira desportiva segura e saudável e promovam o seu
bem-estar futuro (108).
Sendo a infância e adolescência um período crucial de crescimento e
desenvolvimento, existem diversos aspectos nutricionais essenciais para que a
prática desportiva não prejudique estes processos e, consequentemente, não
cause problemas de saúde tais como determinadas LD, prevalentes nas idades
mais baixas (108).
A influência da actividade física associada a uma criança
saudável é um factor importante para o seu normal crescimento músculo-
esquelético, desenvolvimento cognitivo, função cardiovascular e coordenação
neuromuscular. No entanto, estes efeitos positivos poderão ser contrariados
e/ou prejudicados se não houver uma nutrição cuidada e adaptada ao atleta
jovem (13, 109).
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Sendo a infância, e principalmente a adolescência, períodos de
crescimento e desenvolvimento acelerados, as necessidades de macro e
micronutrimentos estão aumentadas. Associando a isto um aumento do gasto
energético total e de alguns elementos específicos percebe-se que poderá
ocorrer um atraso nos dois mecanismos referidos, aumentando o risco de LD
(13, 110). A hidratação torna-se fundamental, uma vez que as crianças têm uma
menor eficácia de termorregulação e, consequentemente, um risco aumentado
de hipertermia e hiponatremia caso não haja uma correcta monitorização da
ingestão de líquidos durante o EF, principalmente em ambientes quentes e
húmidos (104).
Uma alimentação equilibrada, diversificada e sustentável faz uma
diferença positiva no atleta jovem, sustentando a capacidade para treinar e
competir, e contribuindo para a saúde. A Hidratação adequada é essencial. As
necessidades nutricionais variam em função da idade, sexo, estado pubertal,
modalidade, regime de treinos, e da altura da época competitiva. Com o
avanço dos níveis de maturidade e competitividade, fisiológicos e psicológicos,
o treino físico e a alimentação devem ser específicos de cada desporto, de
acordo com os ciclos competitivos. O jovem atleta deverá ser avaliado de forma
confidencial, periódica e sensível desde a prescrição do treino à avaliação do
estado nutricional, que deve incluir medidas antropométricas, análises
específicas e avaliação clínica, de forma a estar preservado de consequências
negativas da prática de EF tais como as LD o são (110).
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Análise Crítica
Na sociedade actual, existe cada vez mais um alerta para os benefícios
da prática de EF associada a uma alimentação equilibrada como factor
promotor de saúde e preventivo de determinadas patologias. Obviamente que
os riscos inerentes a qualquer prática desportiva não podem ser eliminados,
mas, apesar destes, os benefícios obtidos através da mesma em muito os
superam!
Pequenas LD, ocorridas num atleta recreativo, terão repercussões na
sua qualidade de vida e no seu bem-estar, podendo levar a uma diminuição ou
abandono da prática desportiva. Apesar de não ser desejável, é compreensível
que a magnitude da gravidade das lesões contraídas por este tipo de
desportista seja significativa.
Ao abordarmos o tema das LD numa perspectiva do Alto Rendimento,
verificamos que cada vez mais é uma área de preocupação e investigação,
existindo trabalhos desenvolvidos por organizações como o Comité Olímpico
Internacional (COI), a Federação Internacional de Futebol, a Associação
Internacional de Atletismo, entre outras, com o objectivo de obter o maior
número de dados possíveis envolvidos na ocorrência de LDs. Segundo dados
obtidos pelo COI nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, 1055 (9,6%) dos
atletas participantes tiveram de receber assistência/tratamento devido a uma
LD (104). Para além dos efeitos directos que isto tem no atleta a nível físico e
psicológico uma vez que treinou arduamente para atingir um determinado nível
e estar presente na competição mundial com maior importância, existem custos
económicos, sociais e culturais associados a estes números.
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Ana Rita Bastos 2008/2009
Como este exemplo, penso que existirão muitos mais, justificando a
necessidade de levar a cabo estudos rigorosos que permitam a identificação de
métodos preventivos eficazes, de forma a proporcionar o máximo rendimento
aos atletas sem pôr em causa a Saúde (condição física e psicológica).
Partindo dos pressupostos teóricos da prevenção das LD, deverá existir
um esforço sinérgico de todos os envolvidos com na prática desportiva, de
recreação ou competição, no sentido de educar, aplicar, monitorizar e optimizar
a sua área de actuação, convergindo numa diminuição do número de lesões
decorrentes da prática desportiva e numa melhoria da sua recuperação e
levando à optimização dos resultados!
O Nutricionista será um destes intervenientes que, integrado numa
equipa multidisciplinar, terá um papel crucial na optimização do estado
nutricional dos atletas, analisando e monitorizando todos os factores
nutricionais envolvidos no RD, optimizando-o, o que só é possível se a
prevenção da ocorrência de deficiências nutricionais que predisponham o atleta
a uma LD for eficaz! Daí se advogar que a educação alimentar deverá iniciar-se
nos escalões de formação desportiva, criando uma base de conhecimentos,
práticas e hábitos alimentares adequados às necessidades inerentes a cada
atleta e modalidade ao longo do tempo. Só assim poderemos afirmar que a
ocorrência de uma lesão foi um “azar” ou um “acidente de percurso” e não um
descuido ou “negligência”!
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Conclusão
Apesar de tudo o que foi referido ao longo deste trabalho, o papel
da nutrição per si na prevenção e no tratamento das LD poderá ser modesto,
tendo em conta a multiplicidade de factores envolvidos. No entanto, se os
atletas e equipa envolvida tiverem em conta os factores nutricionais envolvidos
na génese das LD, estarão também a optimizar o desempenho e a potenciar o
rendimento, pois para além da herança genética, dos factores motivacionais e
do treino, nenhum outro factor influenciará tanto o Sucesso desportivo como
uma Nutrição adequada associada ao treino físico, sem a ocorrência de Lesões
Desportivas!
“Se pudermos dar a cada indivíduo uma quantidade suficiente de
alimento e de exercício, nem de mais, nem de menos, fornecer-lhe-emos o
meio mais seguro para atingir a saúde.”
Hipócrates, 400 anos a.c.
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