O AMOR Espera Que Você O Encontre...
O que é melhor: amar ou ser amado?
Como, afinal, alcançar a felicidade no amor?
(Um Romance)
Bernardo Bastos Guimarães
Primeira Edição
Rio de Janeiro 2013
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APRESENTAÇÃO
Bernardo Bastos Guimarães, carioca de Botafogo (e botafoguense de
coração), é jornalista profissional e tem formação como professor de Ensino
Religioso católico. Casado, pai de uma menina e um menino, já tem outros
dois livros publicados: “‘Homem é tudo igual!’ – Então, procure pelas
exceções... (Guia prático para as mulheres que não querem ser enganadas)”
– uma crônica em forma de manual crítico, mas bem-humorado, para as
mulheres que tanto reclamam dos modos e das traições dos homens – e
“Contos (e Encantos) Infanto-Juvenis”, no qual reúne 18 contos e crônicas
abordando o universo infanto-juvenil, repleto de fascínio e sonhos.
Profundamente interessado nas emoções e nos sentimentos, desta vez ele
fala do amor não na teoria e sim na prática. É um romance cheio de
surpresas, palpitante, que vai demonstrando como o sentimento de amor
pode ser forte, verdadeiro e romper as barreiras do tempo. Quando o amor é
verdadeiro, é eterno. Na esteira deste romance vêm outros capítulos que
igualmente tratam do amor, fazendo de cada parte um todo com as restantes,
já que “O Amor Espera Que Você O Encontre”.
Colocando todas as palavras em maiúsculas, o autor quer chamar atenção
para este que é o maior sentimento do ser humano, o AMOR! Nenhum outro
ser vivo é capaz de experienciar o amor, em suas especificidades, grandeza e
complexidade. Amor não é brincadeira, é coisa séria, a ser levado a sério,
por pessoas maduras! Portanto, um sentimento assim não pode ser
considerado como tal antes da maturidade e nem em pouco tempo de
relacionamento. Enganos assim é o que mais acontece na vida de tantos e
tantas!
O romance expõe o pleno êxtase que o amor nos proporciona, ao mesmo
tempo em que toca nas feridas que surgem na relação a dois: o amor não
correspondido, a traição, as intrigas em torno do casal, entre outras
adversidades que sempre surgirão no decorrer de suas vidas. Paixão,
amizade, atração sexual, simples companhia... Esses são aspectos que
também permeiam o romance; sentimentos conflitantes com o amor, que
levarão o relacionamento a dois ao fim, mais cedo ou mais tarde. Todo
cuidado é sempre pouco.
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DEDICATÓRIA(S)
Dedico este meu terceiro livro, que fala de amor, à pessoa que acolheu,
desde o primeiro momento, meu amor: aquela menina de 17 anos, com
quem namorei por 12 anos, até nos casarmos, e assim permanecemos até
hoje, por mais de 20 anos. Elisabeth, obrigado por me amar tanto! Mais até
do que a você mesma; eu sei disso... ♥
Ofereço também aos dois frutos desse meu amor: meus filhos Alice e Noé,
esperando que, ao ler esses meus registros, fiquem mais atentos quando
chegar o mágico momento em suas vidas de escolherem o seu grande amor!
Escolherem! – friso de início. Porque o verdadeiro amor é resultado de
nossa escolha por ele. E, como diz nossa capa: O Amor Espera Que Você O
Encontre...
Ofereço, ainda, mesmo que ela não consiga mais ter conhecimento disso em
razão de sua doença de Alzheimer, à minha mãe, Moema. Foi ela quem,
desde os mais tenros anos, me ensinou, e a todos os meus irmãos homens,
que devemos respeitar as mulheres: “Não quero saber de ninguém com duas
namoradas, hem!!! Não enganem a moça. Se não querem mais, separem
dela antes de desrespeitarem!”. Nunca me esqueci disso. E sempre respeitei
essa sábia orientação...
Ofereço, como não poderia deixar de ser, esse livro, também, a meu querido
e falecido pai, de quem parece que herdei o gosto pela escrita. Ele
demonstrava sentir o mesmo, quando o via na antiga máquina de escrever
do pai dele, apoiada na mesa de fórmica azul da copa de nossa casa,
escrevendo trovas, ou críticas (sempre ferozes, como lhe era típico), ou
variados textos. De pai, para pai, para pai...
Gostaria de oferecer este livro também a tantas e tantas pessoas que
entraram em meu coração para nunca mais sair. Amores... e amizades... e
parentes... tantas e tantas pessoas. Mas “amores”, no plural, nunca podemos
ficar remexendo, nem citando seus nomes, pois se não estão conosco na
prática, por mais que nos doa, é porque de alguma maneira escolheram
assim, por não nos quererem consigo. Se não pôde ser, não foi. E devemos
deixar lá mesmo: no fundo do coração.
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Introdução
A Magia do Amor
Quer se casar comigo?
Vamos morar juntos?
Você é a mulher da minha vida!
Você é o homem com que eu sempre sonhei!
Amor, eu te amo!
Estas e tantas outras declarações abrem os corações sedentos de amor,
ávidos por encontrar a plena felicidade na união com o outro, a cara-metade,
aquela parte que parece nos faltar em nosso próprio ser. A nossa verdadeira
alma gêmea!
Mas são tantos desencontros nessa jornada... Tantos enganos... São tantas
decepções que surgem no decorrer da vida, da convivência a dois, que
invariavelmente vem aquela pergunta: Será que eu escolhi a pessoa certa
mesmo? Será que eu deveria realmente ter dito “Sim” naquela época, tê-lo
aceitado em minha vida? Ou teria sido melhor que eu esperasse mais um
pouco... o conhecesse melhor... entrasse bem dentro dele, dos seus
sentimentos, seus pensamentos, seus desejos, sonhos, expectativas?... Será
que ele, de fato, me amava? Era amor ou seria... paixão?
A paixão é como fogo, que arde, queima, alimenta, transforma, aquece o
coração, mas... com o tempo se consome a si própria e, mais cedo ou mais
tarde, se extingue. Não há escapatória disso: paixão acaba. Sempre.
E aí... uniões que surgiram com toda força, toda entrega, todas as
declarações de amor, chegam ao fim. Ficam as mágoas, as marcas, tristezas,
rancores, cobranças de parte a parte – ou ao menos de uma das partes,
quando apenas um dos lados se vê como o enganado, traído, ludibriado
pelos sentimentos que pensava serem sinceros do companheiro...
Como identificar o amor verdadeiro? E por que isto parece ser assim tão
difícil para algumas pessoas? Por que elas se deixam enganar pelo outro?
Que lhe jura “amor eterno” – muitas vezes demonstrando total sinceridade
quanto a isso naquele momento, mas, no decorrer dos anos, passa a trair
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esse compromisso e, em determinado momento, se justifica dizendo que “se
enganou”.
Pessoas mergulham no sentimento... nas emoções... Mas, aí está o erro: se
jogam de corpo e alma, por inteiro, nas próprias sensações e percepções, no
que vai dentro de si, na forma como recebem essa demonstração de carinho
vindo do outro, e não – o que seria prudente e sábio – no que realmente se
passa dentro do outro. Sim, para se ter certeza do amor oferecido é preciso
entrar não dentro de si mesmo, mas... do outro!
Perceber movimentos, gestos, olhares, atitudes, diz muito mais do que
simplesmente ouvir as palavras de amor, deixando-se levar e acreditar nelas,
nessa sedução da fala, além dos abraços, toques, beijos... Porque é nas
atitudes corriqueiras, de cada instante juntos, e até mesmo nos momentos de
distanciamento, que uma pessoa atenta consegue, sem erro, perceber o que
vai dentro do coração do outro, daquele que diz amá-la, que se diz
apaixonado, “eternamente comprometido”.
É preciso manter sempre esse olhar atento... Entrar dentro da alma do
outro... E isso significa sentir o que o outro sente, não o que a própria pessoa
sente... Deve-se mergulhar no outro... Fácil? Não, não é fácil, certamente...
Mas quem pensa em encontrar o amor, o verdadeiro AMOR (com
maiúsculas) de modo fácil, certamente não o encontrará.
O verdadeiro amor não acontece simplesmente... Não cai do céu em nosso
colo... Não surge do nada em nossa vida... Desconfie desse amor, se ele
chegar a você... O verdadeiro AMOR (aquele com maiúsculas), precisa ser
observado atentamente, com todo cuidado... Quando ele chegar na sua vida,
e você o sentir, quando pulsar seu coração, mexer com sua cabeça e seus
sentimentos, não se entregue de imediato. Observe, apenas observe. Preste
bastante atenção a si próprio e... ao outro, àquele que emite toda essa
emoção para você.
Amor também não pode ser simplesmente esperado, mas ao contrário: deve
ser atentamente procurado. Não é procurá-lo andando pelas ruas, mas sim
dentro de si mesmo e do outro que diz tê-lo para oferecer! Se alguém pensa
que sentiu esse amor no encontro com outrem, precisará, portanto, examiná-
lo: em ambos. Somente sob cuidadosa avaliação, constante e permanente, se
poderá saber se aquele sentimento é, de fato, o amor, tanto da parte de um
quanto do outro. O sentimento dos dois precisa ser analisado intimamente,
para evitar-se a desilusão mais adiante.
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Trabalhe esse sentimento dentro do seu coração, alimente-o, incentive-o,
mas não se entregue, porque se for enganoso você terá caminhos de saída.
Não ficará preso de imediato, não permanecerá atrelado no decorrer dos
anos e não se decepcionará se, pensando ser o “amor eterno”, descobrir,
mais adiante, que essa “eternidade” chegou ao fim, ao triste fim...
Então: observe. Veja como é o outro de fato, suas atitudes, sua formação
pessoal, humana, e também familiar, os relacionamentos, gostos,
preferências religiosas, esportivas, e tantas outras... Porque, tomada pelos
sentimentos de amor ou paixão, é comum que a pessoa se mostre à outra de
um modo que não é o seu verdadeiro, mas sim um artifício de conquista, de
sedução... E, se ela não é assim de fato, essa máscara cairá um dia, é
inevitável... Ninguém consegue manter uma farsa por toda a vida...
E quando a máscara cai, quando a pessoa vê o companheiro como ele
verdadeiramente é – e isso pode levar anos e anos para acontecer, mas um
dia acontece –, vem a decepção, a frustração de anos, e até uma vida toda,
entregue à pessoa errada.
Casamento costuma ser uma grande encenação, onde somente os dois atores
principais sabem o que se passa em cena. Todas as demais pessoas,
inclusive os filhos e outros que morem na mesma casa, costumam ser mero
espectadores, e desinformados sobre a vida a dois. E é bom que seja assim.
O que é o amor, então? É doação. É entrega. É dar, sem esperar nada em
troca. Isso é AMOR de verdade, maiúsculo. Casados, um não faz algo pelo
outro porque espera retribuição – isso seria troca, negócio, o que qualquer
pessoa faz numa relação humana. Não! Um faz pelo outro porque lhe quer
bem, porque quer vê-lo feliz, e a felicidade do outro é a sua própria
felicidade! Se o homem dá o sustento e a mulher cuida da casa, é buscando
fazer um ao outro feliz. Se ela também trabalha e seus ganhos não são
colocados em comum, mas usados só por ela – como algumas mulheres
fazem – onde está o amor, a entrega? E se ele também reserva uma parte dos
seus recursos, sem que a mulher fique sabendo do fim, onde está também o
amor, a confiança, a cumplicidade esperada?
Esses são comportamentos de casais que não encontraram a união perfeita,
vivem num “Caixa 2 do amor”... Não conheceram o AMOR maiúsculo;
convivem, mas não desenvolveram o amor ao máximo. Talvez nem sintam
esse grande amor um pelo outro.
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E aí, quando começam a surgir as dificuldades da vida, os pequenos
problemas do dia a dia, ou as dificuldades maiores no relacionamento –
como na chegada e criação dos filhos, desemprego, doenças, atração sexual
por outros, etc. –, fatalmente vêm as discussões, as brigas e, muitas vezes, a
separação. Mas então, deve-se avaliar bem: era AMOR o que de fato existia,
desde o início? Será que havia amor de ambas as partes? Um pode ter-se
deixado enganar, desde o início, pelos sentimentos do outro. E talvez este já
estava até mesmo enganado sobre os próprios sentimentos. Portanto, um não
entrou bem dentro do outro, para ter certeza do que ele sentia, das suas
expectativas diante do relacionamento que se propunha manter. Pois se
assim o tivesse feito, não teria sido ludibriado por essa artimanha do amor
passageiro...
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CAPÍTULO 1
No amor, o tempo é sempre subjetivo...
Uma primeira namorada, um primeiro namorado. Era tudo o que Cássio e
Karina buscavam. Início do conhecimento do sexo oposto, primeiros
carinhos, passeios, beijos, abraços, sempre de mãos dadas... Contatos com a
família um do outro, nascimento e falecimento de familiares, festas de
aniversário, de bodas, viagens. Amigos se tornam comuns. Tudo é diferente,
maravilhoso, um novo mundo que se abre para ele e para ela, que até então
só tinham a própria família e amigos, mas passam a ter um universo
ampliado de novas relações humanas. Mas isso é o grande amor?
Há toda uma vida ainda pela frente. Término de ciclo escolar, início de
ensino universitário... Primeiros estágios, primeiros trabalhos... Os dramas e
alegrias que tudo traz no dia a dia. Os encontros, antes só nos fins de
semana, se ampliam. Todo cuidado é pouco para não se deixar prejudicar os
estudos, como também a vida individual de cada um dos namorados. Afinal,
isso é um namoro, uma troca de conhecimentos mútua, não é um
compromisso definitivo...
Passados dois anos, ele se apaixona por outra moça, Beatriz, no clube.
Ambos jovens, na faixa dos 18 anos, mas a relação é difícil, porque ela
também tem um namorado. Conversam, convivem como amigos. Então, ele
passa a monitorar o próprio sentimento, examinar o que sente, para saber
como agir, como manter contato com ela sem se precipitar numa atitude
errada.
Todos os dias de manhã, durante um ano, ele fica na janela, esperando-a
passar na frente de seu prédio, na ida para o colégio, e depois na volta. É
uma ligação muito intensa. Pensa nela durante todo o dia, sonha com ela,
começa a fazer planos de uma vida a dois. No segundo ano, o amor é ainda
mais crescente... Continua observando-a passar, pela janela, diariamente.
Mas o campo de encontro entre os dois é somente o clube, aos domingos, e
não surgem outras situações para ampliar esse contato. Os amigos em
comum também não chegam a criar uma convivência fora desse espaço. Ele
gostaria de uma aproximação maior do que as rápidas conversas no clube.
Mas como?
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Mais um ano se passa, Cássio e Beatriz estão mais próximos no clube,
conversam à beira da piscina, na cantina, nas arquibancadas da quadra
enquanto assistem aos treinos de esportes. Ele já tinha aulas de natação aos
sábados, e nesse ano ela passou a ir às quintas-feiras. Cássio viu nisso mais
uma oportunidade de vê-la, então disfarçava que ia ao clube nesses dias para
acompanhar amigos, quando na verdade queria só ter como falar com
Beatriz.
Ela era muito extrovertida sorridente, e gostava de falar de sua família, da
escola, cursos, religiosidade, assuntos diversos, riam muito um com o outro.
Tinha um lindo sorriso aberto! Certo dia, confidenciou-lhe que havia
brigado com o namorado porque este reclamou por ela ter cortado os longos
cabelos. Cássio sentiu que era o momento certo pelo qual já esperava há
tanto tempo. O coração dizia que essa era a hora certa de se abrir.
Então, termina o namoro, que completava três anos e, no encontro seguinte
com Beatriz, não se contém mais: pede que ela se sente com ele numa mesa
para conversar.
“O que houve?”, ela pergunta, surpresa.
Era muito difícil para ele dizer o que queria, se declarar à amada. Mas seu
amor por ela já o estava sufocando e Cássio sentia que precisava ao menos
desabafar, abrir-se. Coração disparado, mãos geladas. Mesmo que ouvisse
um “Não”, ele tinha que perguntar, porque sabia que, deste modo, ficaria
aliviado. E aí, ou passariam a namorar ou pelo menos ele ficaria tranquilo
por deixar tudo às claras com a moça. Teria certeza que, daí para frente, ela
já saberia o que ele sentia de verdade; não ficaria nenhum mal-entendido.
Cássio respirou fundo e olhou para ela:
“Beatriz, você quer ser minha namorada?”.
A moça estava olhando para baixo e, imediatamente, fixou bem dentro dos
olhos dele. Parecia que tinha entrado bem dentro do rapaz e sentido, pelo
olhar, que o que ele lhe perguntava vinha repleto de emoção, de amor, e que
era o mais sincero possível. Mas sua reação foi de grande surpresa. Recuou
levemente a cabeça, para vê-lo melhor, e também por efeito do grande susto.
“Não!!! Eu já tenho namorado!”, foi sua imediata resposta.
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Isso foi um balde de água fria. Triste com o que ouviu, como se ter um
namorado fosse tudo o que bastasse e não houvesse a possibilidade de
mudança, assustado com o que estava acontecendo consigo mesmo e sem
conseguir escolher bem as palavras, Cássio emendou, como num pedido:
“Não faz mal...”
Beatriz compreendeu mal essas palavras, que ele tentava exprimir como se
fosse “Eu posso esperar por você”. Então, olhou novamente para o rapaz,
mais surpresa ainda, e exclamou:
“Não!!!!! E completou: “E sua namorada?”
“Nós não estamos mais juntos. Desmanchamos”.
“Ah! Não sabia. Vocês eram noivos?”
“Não! Namorados. Mas separamos há alguns meses. Todo mundo no clube
sabia”, respondeu, pois pensava que já teria chegado a ela os comentários a
respeito. Por uma fração de momento, pensou também que a pergunta dela
pudesse guardar a demonstração de algum interesse por ele, e que pudesse
reconsiderar seu “Não” ao ter certeza que estava desimpedido.
“Eu não sabia”, sussurrou.
“Parece que é sonsa...”, disse Cássio, muito decepcionado e irritado por ser
rejeitado.
“Sonsa não!”, queixou-se. E completou: “Eu só não sabia”.
“Tudo bem. Eu entendi mal. Deixa para lá”, lamentou-se.
Olhando novamente para o rapaz e, mais cuidadosa, ela quis saber:
“O que foi que eu fiz, Cássio?”
“Nada, não foi você. Não pense assim. Foi coisa minha, eu é que confundi e
entendi mal”.
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“Não... Me diga o que eu fiz, por favor... No colégio também já aconteceu
coisa parecida, de alguns meninos até pararem de falar comigo e eu não sei
o que fiz. O que foi que eu fiz? Me diz”.
“Nada não. Deixa pra lá”, encerrou.
Com medo de perdê-la de vez, que ela decidisse afastar-se após o pedido
feito, ele falou:
“Beatriz, não existe nada entre mim e você, não é?”
“Não”, ela concordou.
“Então, posso te pedir só uma coisa? Não conte isso que falamos para
ninguém, tá? Nem em casa”.
“Cássio, minha mãe me ensinou uma coisa, quando eu era pequenininha:
quando alguém nos conta um segredo, não é para ninguém saber”.
“Está bem. Obrigado”.
E então os dois se despediram. Cássio deixou que Beatriz saísse primeiro da
sala em que estavam e do clube; depois saiu, desanimado. Por mais uns dias,
ele decidiu dar um tempo de espera, para ver se a moça voltava atrás, o
procurava, repensava a negativa. Pensou que o mais importante era manter
os contatos como antes, e que com a maior convivência ela viria a se
interessar por ele um dia. Mas aí com uma grande vantagem: ela já estava
completamente a par das suas intenções.
Ele ficou abatido, triste, com a reação dela, mas tentou superar. Concluiu
que não deveria insistir, sob risco dela afastar-se. Então, calou-se a esse
respeito. Guardou-a no coração.
Passaram dias, meses, e nada correu como ele esperava. Beatriz não se
aproximou mais dele no clube. Ficou arredia. E ele interpretou essa postura
como sinal de que não queria mesmo aproximação. Na noite do seu
aniversário, cinco meses após, Cássio lhe telefonou, com o coração aos
pulos. Morria de saudades, queria voltar a falar com ela e desejar-lhe os
parabéns, fazer-se presente. Desejava imensamente estar ao seu lado, o que
ela não quis, já que preferiu continuar com o mesmo namorado.
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“Tenho um presente para te dar”, disse ao telefone.
“Não precisa”, ela respondeu.
“Faço questão. Vou ficar feliz se você aceitar. Amanhã, me espere na saída
da sua aula de natação para eu te entregar, tá?”.
Beatriz insistiu que não precisava, mas concordou em encontrá-lo.
Naquela tarde, ele a cumprimentou com um sorriso e novamente deu os
parabéns, oferecendo-lhe o pequeno presente como um sinal que lhe
relembrasse o seu amor. Mais uma vez, a moça demonstrou resistência em
aceitar; disse que não precisava. Ele insistiu. Então, ela pegou o embrulho.
Cássio estava um pouco acanhado que ela abrisse na sua frente, e também
temeroso que não o levasse. Então, pediu:
“Abra só quando chegar em casa, tá?”
Beatriz assentiu com a cabeça. Despediram-se com um simples “Tchau”.
Era uma caixinha de madeira, feita por ele mesmo. Dentro, um pequeno
buquê de flores, um papel perfumado e uma mensagem que falava de amor.
Passados alguns dias, no domingo seguinte, Beatriz o procurou querendo
devolver o presente. Ele estava muito triste por não a ver com frequência e
ficou ainda mais abalado com essa sua atitude.
“O Roberto viu a caixinha. Não posso ficar com ela. Preciso te devolver”,
disse, citando o namorado.
“Não se devolve presente...”, foi só o que ele conseguiu responder,
aborrecido.
“Então, o que eu faço? Posso aceitar o presente como de um amigo?”,
perguntou, insegura.
Ele sacudiu os ombros e encerrou, entristecido:
“Faça o que quiser”.
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Depois desse encontro, chegou o tempo das festas de final de ano e os dois
não se viram mais. Cássio alimentava amor cada vez maior por Beatriz,
pensava nela a cada instante do dia, mas via que a distância entre os dois se
mantinha. Em janeiro, quando iriam ser reiniciadas as atividades normais no
clube e Cássio ainda alimentava esperanças de voltar a conviver com
Beatriz, aproximar-se aos poucos para tentar um relacionamento, o pior
aconteceu. Ela decidiu se afastar dele de uma vez.
“Cássio, não vou mais continuar vindo aqui”.
“Por que? Não gosta mais do clube, das aulas?”
“Não. É porque preciso me dedicar mais aos estudos”.
“Mas dá para conciliar estudos com as atividades daqui”.
“Não. Não vai dar”, respondeu, com um leve sorriso de desculpa.
“Venha ao menos só aos domingos”, ele disse, tentando contornar e não
perder contato com a amada.
“Não. Não vai dar mesmo. Preciso estudar muito”, reiterou.
Cássio fez uma feição de lamento, encolhendo os lábios, abaixando a
cabeça, resignadamente.
“Tchau”, respondeu Beatriz, sorrindo, educadamente. E foi embora.
Esse foi o afastamento dos dois. Mas a explicação dada por Beatriz não
convenceu Cássio. Ela justificou-se que precisaria estudar mais, porém ele
deduziu que essa decisão era consequência da queixa do namorado, como
ela havia deixado transparecer antes. Terá sido a verdade dos fatos? E esse
afastamento seria suficiente para determinar o fim do forte amor dele por
ela?
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Parte 2 - Os caminhos na vida...
Cássio respeitou aquela decisão de Beatriz e houve o afastamento dos dois.
No seu íntimo, porém, ele alimentava a esperança de que, um dia, ela
voltaria a procurá-lo. Ele acreditava naquele amor que sentia, tão forte e
sincero. E, quem sabe, um dia ela pudesse explicar-lhe melhor sobre aquela
atitude, se reencontrarem e terem um reinício da convivência? Ele a amava,
sabia disso, mas não tinha como agir diante daquela atitude intempestiva, de
simplesmente afastar-se sob alegação de que seria para estudar.
Em seu coração, uma tormenta se formou. Entrou em crise pela saudade de
Beatriz. Abandonou o clube. Ia para o trabalho sem motivação alguma, não
se relacionava bem com amigos, colegas, nem tinha interesse em outra
moça. Fechou-se um círculo negativo na vida de Cássio. Esse amor forte por
Beatriz ficaria sufocado. Algumas vezes, viu-a com o namorado, o mesmo,
nas proximidades de onde morava e do clube. Ela, sempre sorridente ao lado
dele. Para Cássio, parecia que ela estava feliz e, pelas evidências, nunca
mais havia pensado nele...
“Já são seis anos de espera, e seis anos que ela namora o mesmo rapaz...
Meu Deus, o que eu estou fazendo da minha vida? Vivo apenas na
expectativa de que ela se separe ou me procure... Vamos ser realistas: nada
vai acontecer... Beatriz vai acabar se casando com o primeiro namorado... É
preciso que eu desista e passe a viver a minha própria vida, construa minha
história, sinta amor por alguém que também retribua esse amor por mim”.
Como por coincidência, Cássio conheceu no trabalho uma moça, Sueli, que
se parecia muito, fisicamente, com Beatriz, e sentiu-se atraído. Talvez fosse
a mudança que ele esperava para a própria vida! Já eram três anos só, desde
que terminou com a primeira namorada para tentar o relacionamento com
Beatriz.
Foram dias de euforia, tentativas de conquista, jogos de sedução, conversas,
saídas juntos, confidências, toques, carinhos, mas nada ainda firme. Passado
mais um ano, o romance não se concretizava. Mas ele não pensava agora em
Beatriz, e sim nessa nova moça.
Diante do romance frustrado, ele novamente vê Beatriz, numa noite, na
igreja. Estava bem acima do peso, cabelos desalinhados e muito compridos,
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