UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VOZ DO MESTRE”
O AMOR NO ATO DE EDUCAR
Por: CLÁUDIA ALVARENGA PORTO COSTA
Orientador: PROF. ANTÔNIO FERNANDO VIEIRA NEY
Rio de Janeiro agosto - 2002
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VOZ DO MESTRE”
O AMOR NO ATO DE EDUCAR
CLÁUDIA ALVARENGA PORTO COSTA
TRABALHO MONOGRÁFICO APRESENTADO COMO
REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO GRAU
DE ESPECIALIDADE EM DOCÊNCIA DO ENSINO
SUPERIOR
AGRADECIMENTOS:
Primeiramente a Deus por ter me concedido a vida.
Aos meus pais, pois tudo o que sou é graças ao
amor dos dois.
Às colegas de curso que tanto me incentivaram,
não deixando que desistisse da caminhada.
A amiga e mestra Maria Thereza Soares de Souza
Lima pelo auto confiança e carinho dados.
Ao Mestre Antônio Fernando Vieira Ney pela
orientação e atenção destacada para esta monografia.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha filha Nathália e ao
meu esposo Valdir Costa pelo incentivo, carinho e
compreensão das horas que tive de me ausentar da
vida doméstica para a elaboração das pesquisas.
A todos os meus alunos que fizeram parte desses
vinte anos de magistério, principalmente os da 3ª série
do Ensino Médio, do Instituto Tereza Coutinho ʊ ITEC,
2002, que tanto fortalecem a crença de que “tudo vale a
pena quando a alma não é pequena” e, especialmente
ao meu aluno Pedro Abrantes Fortuna que foi a prova
viva de que a aprendizagem sempre é possível, com
afeto, paciência e muito amor.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................ 7 CAPÍTULO I UMA ANÁLISE SOBRE O AMOR.......................................................................... 9
1.1 – Eros e Anteros ...................................................................................................................... 9
1.2 – Filosofando o amor ............................................................................................................ 10
1.3 – O Amor-eros........................................................................................................................ 11 CAPÍTULO II O AMOR E A APRENDIZAGEM .......................................................................... 14
2.1 – O que é o Amor?................................................................................................................. 14
2.2 – Aprender ʊ Só com Amor................................................................................................. 17
2.3 – A Relação Professor X Aluno na Facilitação de Aprendizagem.................................... 19 CAPÍTULO III O AMOR MÃO ÚNICA E MÃO DUPLA................................................................ 23
3.1 – Amor ʊ Necessidade Vital ................................................................................................ 23
3.2 – Inclusão ʊ um ato de amor............................................................................................... 28 CONCLUSÃO....................................................................................................... 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 34
RESUMO
Os nossos primeiros mestres foram os nossos pais, eles nos
ensinaram a amar e nos transmitiram este sentimento tão difícil de ser falado e até
sentido por muitos. É ele que impulsiona um ser humano a escolher ou seguir a
sua vocação de professor.
Segundo Buscaglia os professores devem largar o papel de mestres
e se tornarem seres humanos, compreendendo que são guias; só podem dar o
que têm e ensinar o que sabem. É necessário ter amor pelo que fazemos, pois o
prazer no trabalho é fundamental.
Na relação ensino-aprendizagem o professor é facilitador da
aprendizagem. Entre professor e aluno deve haver uma relação de afeto e
confiança para que haja a quebra de alguns paradigmas.
INTRODUÇÃO
Vivemos hoje a intolerância, o desrespeito à vida humana, a
destruição do meio ambiente a crise econômica, a globalização selvagem
massacrando os países mais pobres, os índices de criminalidade abalando o
planeta, as crianças morrendo de fome, e se submetendo ao trabalho escravo;
enfim, pode-se afirmar que esse início de terceiro milênio confronta-se com a
destruição dos valores mais nobres da terra. Entretanto, só uma coisa derrubará
todos esses males que hoje se apoderam e aterrorizam, essa verdade é
incontestável, pois já há 2 mil anos atrás, confirmado pela história e por toda a
humanidade, um homem nasceu e apresentou a sua máxima “Amai-vos uns aos
outros como eu vos amei”, portanto, não há dúvidas de que o Amor em todos os
seus sentidos salvará todos os males.
Desde a antigüidade o Amor é questionado, definido, analisado e
experimentado. É o oposto da apatia, pois ele é vivo, latente. O homem precisa
dele em sua vida da mesma forma que a terra necessita de água e luz, para
sobreviver. É necessário, é vital. Quando não se tem amor, torna-se uma ser frio
e insensível.
Amar é condenar-se a servir porque servir é a exigência imperiosa da
dinâmica do amor. Para amar o outro, é preciso compreendê-lo. Acontece,
porém, que nunca haverá compreensão, se não houver amor.
Aplicando-se o amor, o afeto e o carinho na educação,
conseqüentemente proporciona-se aos discentes melhor oportunidade e ambiente
mais leve para o aprendizado, levando-os a uma melhor formação.
CAPÍTULO I
UMA ANÁLISE SOBRE O AMOR
“Para amar é preciso ser, mas para ser é
preciso antes de tudo, amar: pois quem não ama
é um simples fantasma.”
V. Jankélévitch1
1.1 – Eros e Anteros
Eros, em grego, é o deus anterior a toda a antigüidade, inspira ou
produz uma invisível simpatia entre os seres, para unir em outras procriações. Ele
tem um poder que vai além da natureza viva e animada: ele aproxima, une,
mistura e multiplica. É o deus da união, da afinidade universal; é invencível. Tem
como adversário no mundo divino ʊ Anteros, ou seja, a antipatia, a aversão, a
desunião, a desagregação. Tão forte e poderoso quanto Eros, ele impede que se
confundam os seres de natureza dissemelhante.
1 in ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Introdução à Filosofia. Editora Moderna, Rio de Janeiro, 2ª edição, 1999
Na linguagem comum e na poética as expressões Eros e Anteros
tomaram uma significação restrita. Eros passou a designar o amor, com a
acepção do termo latino amor. O seu composto Anteros teve o sentido de contra-
amor, mas também e mais geralmente, o de amor por amor.
Segundo os poetas, Vênus ao se queixar a Temis, deusa da justiça,
de que seu filho Eros estava sempre criança, ela disse que ele só cresceria
quando tivesse um irmão. Portanto, Vênus deu-lhe Anteros, com quem ele
começou a crescer. Através desta ficção, os poetas deram a entender que para o
amor crescer deveria sem correspondido. Anteros e seu irmão, eram
representados como meninos pequenos com asas, aljavam flechas e um cinturão.
A palavra cupido em latim, implica a idéia de amor violento, de
desejo amoroso, porém na mitologia latina, dá-se a esse deus, mais ou menos a
mesma história do deus grego Eros, amor.
1.2 – Filosofando o amor
O amor é essencial ao homem e uma filosofia puramente racional,
jamais poderá compreendê-lo.
O amor verdadeiro é transcendente, busca a lucidez e, quando
temos medo desta é porque a forma de amor que vivemos não é suficientemente
humana, é passional e instintiva. Quando há a degradação do amor, o homem é
levado ao fundo.
Segundo a filosofia grega, o amor ocupa um lugar importante. Na
Teogonia de Hesíodo, por exemplo, embora não seja totalmente explícito ele é
aquele que finaliza. Já Homero fala da filia (amor da amizade) poeticamente, e
não filosoficamente. Para Pitágoras não existe análise do amor, este é
simbolizado pelo número 8 (oito) porque ele unifica, ele é olhado como impulso
espiritual. Pitágoras e Parmênides concluem que é necessário um grande impulso
de amor para poder filosofar. Baseado nesta idéia, qualquer psicólogo hoje
confirmaria que o homem não desenvolve sua inteligência sem o amor e a mesma
não sofre um insight, sem estar movido por um grande desejo. Através do amor é
que há o desabrochar da inteligência, porém na ausência dele há a desistência, o
marasmo, a estagnação na busca.
1.3 – O Amor-eros
Segundo Platão, o amor-eros é o grande impulso que permite ao
homem ir até o termo para o qual ele é feito. O amor-eros é mais que o amor
instintivo.
No diálogo “O Banquete”, vários oradores discursam sobre o Amor.
Sócrates, o último deles, diz que Eros representa “um anelo de qualquer coisa que
não se tem e se deseja ter.”
Os mitos nos revelam que Eros é predominantemente desejo,
desencadeando, portanto, a procura de outro que nos completa. Eros leva o
homem a sair de si para que na relação com os outros, realize o encontro.
Pode-se caracterizar o homem como sendo um “ser desejante”, tal é
a força da energia que o impulsiona a agir, a procurar o prazer e a alegria que
representa alcançar o objeto de seus desejos.
De uma forma ampla, Hegel compreende a consciência de si como
desejo de reconhecimento, significando assim que no amor quando um corpo se
estende em direção a outro, exige que esse corpo, que ele deseja, também se
estenda; porque amar é desejar o desejo do outro.
O amor é o convite para sair de si mesmo, pois se a pessoa estiver
muito centrada em si mesma, não será capaz de ouvir o apelo do outro. O
narcisista “morre” à medida em que torna impossível a ligação fecunda com o
outro.
No adolescente, o egocentrismo persiste na passagem da vida
infantil para a adulta, pois ele muitas vezes não ama o outro; mas sim, o amor.
Trata-se de amor idealizado, romântico, em parte fruto do medo de jogar-se nas
contradições do exercício efetivo do amor. O exercício do amor é conquista do
amadurecimento.
CAPÍTULO II
O AMOR E A APRENDIZAGEM
“A pedagogia do amor é traduzida pelo código
da fé. Investe sem medo e acredita nas
possibilidades do seu próximo. Respeita as
diferenças individuais, porque todos aprenderão a
seu tempo.”
Ivone Boechat2
2.1 – O que é o Amor?
É difícil conceituá-lo, pois envolve muitas coisas para se ser definitivo
sobre ele. A medida que uma pessoa cresce no amor, sua definição muda e,
aumenta. O amor é dinâmico, é tudo a todo momento, quanto mais se aprende,
mais se expande a capacidade de amar.
2 BOECHAT, Ivone Por uma escola humana, Livraria Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 1987, pág. 81
Segundo os psicólogos, sociólogos e antropólogos o amor é algo que
se aprende, porém nem sempre estamos satisfeitos com a forma com que
aprendemos; portanto, podemos desaprender e reaprender a qualquer momento.
Para que isso ocorra, precisamos de liberdade e só conseguimos alguma
modificação quando trabalhamos arduamente.
É um tema bastante ignorado pelos cientistas e raramente o
encontramos em livros ou cursos. A verdade é que este sentimento tão nobre,
pode determinar o comportamento e personalidade do homem, influenciar a
evolução biológica, social, mental, moral e direcionar os acontecimentos
históricos.
O amor é uma emoção, uma verdade, uma expressão ativa.
Aprendemos a amar não só na família mas também através das influências sócio-
culturais. A cada dia de nossas vidas, nos tornamos melhores quando buscamos
mais conhecimento do mundo e de nós mesmos. Nessa busca, estaremos nos
transformando, tendo um coração livre e limpo de qualquer preconceito, para
transmitirmos da melhor forma possível “coisas” boas às pessoas que nos cercam.
Deveria ser através do processo educacional que cada pessoa
pudesse descobrir e compartilhar suas particularidades. Infelizmente, tem-se o
vício de fazer comparações, criar rótulos ou até querer que todos sejam iguais,
mas deve-se respeitar o tempo de cada um. Sabe-se que os rótulos afastam e
separam, por isso quem ama não deve utilizá-los, pois é o oposto do que se pensa
de amor. Quem ama não é perfeito, só é humano.
A seguir transcrição de texto que sintetiza o que pensamos sobre o
amor:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens
e dos anjos e não tivesse amor, seria como o
metal que soa ou como o sino que tine” .
O amor é a humanização de um ser criado à
“imagem e semelhança de Deus”. É o bálsamo
que amortece as quedas, massageando as dores.
É luz que clareia as dúvidas, fortifica os oprimidos
e engrandecerá.
O amor é o esforço mais sublime para a
purificação da estrada que nos leva a
compreensão. O amor é a contemplação da na-
tureza que, na sua grandiosidade, se veste
simplesmente de lírios e perfuma a vida. É o
respeito dos girassóis que murcham,
humildemente, sem dar as costas ao rei dos
astros.
O amor é a vida, porque uma vida significante
só se faz por amor. O amor não é livre, ele
liberta; não se declara, ele é sentido no calor de
cada gesto. Ele reabastece de esperança
aqueles momentos em que o homem se esquece
de que é um ser superior. Ele é a memória da
alma.
Amor e doação se interlaçam num abraço
missionário, cuja seara é o coração das pessoas.
O amor planta, a doação multiplica. O amor abre
a porta, a doação oferece. O amor é o próprio al-
tar de sacrifícios; a doação, o holocausto.
“O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera’’. É
a razão e o equilíbrio entre as visões celestiais e
as loucuras da carne. É a tradução fluente da
mudez dos seres brutos que se manifestam de
todas as maneiras.3
2.2 – Aprender ʊ Só com Amor
Foi feita uma pesquisa em relação aos acontecimentos que mais ou
que menos marcaram a vida escolar de professores, funcionários e alunos do
Ensino Médio e percebeu-se que o lado negativo prevaleceu, pois tiveram
problemas com a matemática na infância na maioria das vezes, outras (a maioria)
com a professora, que não soube conduzir a aprendizagem, causando bloqueios e
danos psicológicos. Muitas dessas pessoas até hoje, na idade adulta, não
conseguiram superar os traumas; algumas através de exercícios individuais, com
3 idem, pág. 155
muita força de vontade, e até mesmo, com ajuda de terapeutas conseguiram
sucesso.
Em relação ao que mais marcou positivamente a vida escolar, as
respostas foram divididas em dois grupos: uma minoria fez comentários sobre
relacionamentos entre os colegas, mas a grande maioria foi em relação ao
sucesso que tiveram de alguma forma, por aprender determinados assuntos, com
o auxílio e afeto do professor.
Chegou-se a conclusão que para haver aprendizagem é necessário
liberdade, confiança, afeto, cumplicidade, reciprocidade, espírito de doação,
tolerância, respeito: enfim, tudo isso se resume em: Amor.
Podemos observar que as dificuldades que as pessoas têm na vida
adulta, são frutos de algum bloqueio ou trauma que tiveram quando crianças.
Muitos de nós se buscarmos atentamente, encontraremos lembranças boas e
ruins em nossa vida escolar.
Antigamente a escola era responsável por fornecer instrução aos
alunos, de uma forma dissociada da vida, dotando-os de certas técnicas
essenciais de comunicação como a leitura e a escrita, de conhecimentos
matemáticos e dando-lhes algumas informações sobre o meio em que vivam,
através de estudos sistemáticos sobre História, Geografia e Ciências. Hoje a
criança ainda aprende as técnicas fundamentais de leitura, escrita e cálculo,
porém essa aprendizagem não tem fim em si mesma, é apenas um recurso para o
aluno viver melhor, participando de experiências que o levem à auto-realização e
ao ajustamento social.
A função do professor é proporcionar aos alunos oportunidades e
ambiente, para que participem das experiências em sala e também que aprendam
a formar atitudes e hábitos que os conduzirão a uma vida melhor e mais produtiva
e não bloquear a aprendizagem como ocorreu com alguns entrevistados.
“O valor do mestre depende essencialmente
de seu valor humano. Qualidades como amor esclarecido, sendo de responsabilidade, imparcialidade, autocrítica e fé no poder da educação são condições pessoais que caracterizam o bom professor.
O professor não nasce feito. É necessário
uma formação cuidadosa para tornar um indivíduo em mestre.”4
2.3 – A Relação Professor X Aluno na Facilitação de Aprendizagem
Na atual situação educacional, se o professor quiser sobreviver,
deverá facilitar a mudança e a aprendizagem. O ser humano se educa a partir do
momento em que aprende como aprender; que aprende a se adaptar e mudar;
4 MARCOZZI, Alayde Madeira; DORNELES, Leny Werneck; RÊGO, Marlon Villas Boas Sá. Ensinando à Criança, pág. 2., 3ª ed., Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico, 1980.
que se convence de que nenhum conhecimento é puramente seguro, de que
somente na busca do conhecimento é que há uma base de segurança. No mundo
moderno, a única coisa que parece ter sentido como objetivo da educação é
mutabilidade, dependência de um processo, antes de um conhecimento parado.
Para mudar o contexto dessa situação temos que sair do nosso
“egocentrismo existencial”, e podemos citar Piaget:
“O egocentrismo é, com efeito, caracterizado
por uma indiferença entre o sujeito e o mundo
exterior e não por um conhecimento exato que o
sujeito adquire de si mesmo: longe de conduzir a
um esforço de introspecção ou de reflexão sobre
o eu, o egocentrismo é ao contrário ignorância da
vida anterior e deformação do eu assim como
ignorância das relações objetivas e deformação
das coisas.
(...) egocentrismo opõe-se, portanto, à
objetividade na medida em que a objetividade
significa relatividade sobre o plano físico e
reciprocidade sobre o plano social.”5
A partir do momento em que o professor liberta a curiosidade,
permite que os alunos assumam o encargo de seguir em novas direções ditadas
por seus próprios interesses; desencadeia o senso de pesquisa; abre um espaço à
5 PIAGET, J. A. Psicologia da criança, pág., 206.
indagação e à análise; reconhece que tudo se acha em processo de
transformação ʊ eis que aí surgem de tal contexto, verdadeiros estudantes,
cientistas e profissionais criativos e críticos.
A facilitação da aprendizagem significativa é baseada em certas
características de comportamento que ocorrem no relacionamento pessoal entre o
facilitador e o aprendiz.
O facilitador deve ser autêntico, aberto, real, sem ostentar qualquer
aparência. Assim tem a probabilidade de ser eficiente. Significa que os
sentimentos experimentados estão a seu alcance, ou seja, ele é capaz de
vivenciá-los e obviamente, comunicá-los. Dirige-se para um encontro pessoal
direto com o discente, encontrando-se com ele próprio sem se negar.
Este tipo de atitude se contrasta claramente com a tendência da
maioria dos professores de se mostrarem aos seus alunos “apenas como um
profissional”.
Quando falamos da atuação dos professores em sala de aula,
lembramos de Buscaglia no início do seu livro: Vivendo, Amando e Aprendendo,
que cita a sugestão de Nikos Kazantzakis que diz:
“os professores ideais são os que se fazem
de pontes, que convidam os alunos a
atravessarem, e depois, tendo facilitado a
travessia, desmoronam-se com prazer,
encorajando-os a criarem as suas próprias
pontes.”
CAPÍTULO III
O AMOR MÃO ÚNICA E MÃO DUPLA
“Quando a criança nasce como resultado de
um desencontro, mas tem felicidade de aprender
sobre o amor, se vive num ambiente violento, mas
orienta-se por outros exemplo positivos, talvez,
pelo menos, terá a chance de experimentar da
mais bonita expressão ʊ o amor.”
Ivone Boechat6
3.1 – Amor ʊ Necessidade Vital
A maior parte das pessoas optam pela solidão apenas por momentos
curtos, nunca escolhem como um estado permanente. O homem é um ser social,
por isso o casamento, a escola, a família, as associações e comunidades.
É evidente que a convivência humana seja necessária para o
desenvolvimento de um ser. Um recém-nascidos pode ter uma excelente
alimentação e higiene; porém, poderá regredir em seu desenvolvimento e até
6 Ibdem, pág. 173
morrer se não houver uma intimidade com os outros seres humanos. Embora a
criança pareça não conhecer a dinâmica do amor, ela tem uma grande
necessidade dele.
Devido a agitação do moderno, as pessoas estão tornando-se muito
solitárias, e inábeis para amar os outros e muitas vezes com medo de amar para
não sofrer.
Nesse sentido, vale citar a belíssima poesia de Casimiro de Abreu:
Amor e Medo.7
Quando eu te fujo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, oh! bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
ʊ Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!
Como te enganas! meu amor é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela — eu moço; tens amor — eu medo!...
Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes,
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.
7 ABREU, Casimiro. Grandes Poetas Românticos do Brasil. Tomo I. São Paulo: Editora LEP, 1959, p. 372.
O Véu da noite me atormenta em dores,
A luz da aurora me intumesce os seios,
E ao vento fresco do cair das tardes
Eu me estremeço de cruéis receios.
É que esse vento que na várzea ʊ ao longe,
Do colmo o fumo caprichoso ondeia,
Soprando um dia tornaria incêndio
A chama viva que teu riso ateia!
Aí! se abrasado crepitasse o cedro,
Cedendo ao raio que a tormenta envia,
Diz: — que seria da plantinha humilde
Que à sombra dele tão feliz crescia?
A labareda que se enrosca ao tronco
Torrara a planta qual queimara o galho,
E a pobre nunca reviver pudera,
Chovesse embora paternal orvalho!
II
Ai! se eu te visse no calor da sesta,
A mão tremente no calor das tuas,
Amarrotado o teu vestido branco,
Soltos cabelos nas espáduas nuas!...
Ai! se eu te visse, Madalena pura,
Sobre o veludo reclinada a meio,
Olhos cerrados na volúpia doce,
Os braços frouxos — palpitante o seio!...
Ai! se eu te visse em languidez sublime,
Na face as rosas virginais do pejo,
Trêmula a fala a protestar baixinho...
Vermelha a boca, soluçando um beijo!...
Diz: ʊ que queira da pureza d’anjo,
Das veste alvas, do candor das asas?
ʊ Tu te queimaras, a pisar descalça
ʊ Criança louca, ʊ sobre o chão de brasas!
No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem
Vil, machucara com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!
Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço
Anjo enlodado nos paúis
Depois... desperta no febril delírio,
ʊ Olhos pisados ʊ como um vão lamento,
Tu perguntaras: ʊ qu’é da minha c’roa?...
Eu te diria: desfolhou-a o vento!...
Oh! não me chames coração de gelo!
Bem vês: traí-me no fatal segredo.
Se de ti fujo é que te adoro e muito,
És bela ʊ eu, moço; tens amor, eu ʊ medo!
O ser humano em todas as etapas da vida está em direção “ao
outro”; quando crianças, para os pais; na adolescência, para os amigos; na
juventude, para os parceiros sexuais; na fase adulta, para os grupos apropriados;
e, para os asilos quando idosos.
Com freqüência há a necessidade do outro para amar e ser amado, e
sem sombra de dúvida, assim como o bebê estagnaríamos e até poderíamos
morrer.
Quando percebemos que o maior dos medos é o medo de deixar-nos
amar estamos dando início ao verdadeiro processo de libertação. Felizes de nós!
Não são poucas as pessoas que têm esse tipo de medo. Podemos reconhecê-las
quando dizem que não querem ou não devem se envolver em um dado momento;
ou dizem: “Sei que você me ama, mas não me sinto preparado..”. Muitas vezes já
ouvimos ou dissemos isso.
Para se receber amor não necessitamos de momento apropriado.
Receber amor é uma dádiva imensa, que deveria ser desprezada ou temida.
Quando ainda temos medo de receber o amor do outro, no fundo,
ainda estamos apegados a nós mesmos e temos medo de retribuir. Temos medo,
também, dos problemas que poderemos, possivelmente, enfrentar em nome
desse amor. Só quando recebemos livremente o amor do outro, estamos abertos
para o amor de Deus, o Outro que nos faz ser.
A verdadeira maturidade no amor começa quando não temos medo
de amar e ser amado.
3.2 – Inclusão ʊ um ato de amor
Trabalhar com a inclusão é saber livra-se dos rótulos porque eles
afastam, magoam e diminuem a auto estima. Antes de qualquer coisa é ter o
coração repleto de amor e paciência, disponibilidade e boa vontade para lidar com
pessoas que necessitam de ajuda. O que eles menos precisam é a comiseração,
devem ser tratados igualmente aos ditos “normais”.
Segundo Gardner, na sua teoria das inteligências múltiplas as
pessoas são capazes de atuar em diferentes áreas intelectuais. Define
inteligência “como a habilidade para resolver problemas ou criar produtos que
sejam significativos em um ou mais ambientes culturais”.
A Teoria das Múltiplas Inteligências é uma opção para a definição de
inteligência como qualidade inata, geral e única que permite às pessoas uma
melhor atuação em qualquer área. A insatisfação que tinha com a idéia de QI e
com visões individualizadas de inteligência, que enfocam, principalmente, as
habilidades para o sucesso escolar, levou-o a redefinir inteligência baseando-se
nas origens biológicas da habilidade de solucionar problemas. Avaliando as
atuações de profissionais com culturas diferenciadas e das diversas habilidades
das pessoas que estavam em busca de solucionar os problemas, ele trabalhou em
sentido oposto ao desenvolvimento, retroagindo para casualmente chegar às
inteligências que deram origem a tais realizações.
Em sua pesquisa, Gardner também estudou:
• As diferentes habilidades em crianças normais e superdotadas;
• Adultos com lesões cerebrais, embora não percam a intensidade
de sua produção intelectual, mas uma ou algumas habilidades,
sem que outras sejam atingidas;
• Os autistas que não possuem habilidades intelectuais.
Gardner acredita que processos psicológicos livres são empregados
quando a pessoa lida com símbolos lingüísticos, numéricos, gestuais e outros.
Descreve o desenvolvimento cognitivo como uma grande capacidade de entender
e expressar significado em vários sistemas simbólicos que são usados num
contexto cultural.
As inteligências mais estudas foram:
• Lingüística;
• Musical;
• Lógico-matemática;
• Espacial;
• Cinestésica;
• Interpessoal;
• Intrapessoal;
• Naturalista.
É através das múltiplas inteligências que os educadores repensarão
os paradigmas que nortearão a Educação deste século.
CONCLUSÃO
Na vida não há assimilação de nada “a frio”, seja o estudo, o trabalho
o amor.
O amor quando praticado com romantismo tem outro gosto, se for
precedido da “conquista”, não terá ninguém que o resista. O mesmo ocorre na
aprendizagem, se aplicarmos este ritual ao aprendizado teremos sem sombra de
dúvidas, aprendizes prazerosos do que alunos cruelmente coagidos.
A emoção é marcante e como tudo que é marcante, ou sai com
dificuldade ou não sai nunca.
O professor tem de ser, acima de tudo, um “emocionador”, caso
queira realmente tornar sua aula vibrante, atraente, agradável e descontraída.
Caso não queira que dê somente a matéria.
Um pensamento bonito para reflexão ou uma anedota provocando
uma boa gargalhada melhora muito a emoção do aluno tornando-o, por isso
mesmo, mais permeável à absorver o ensinamento ministrado do que se lhe for
transmitido “a seco”.
É preciso provocar a sensibilidade do aluno e não apenas aguçar-lhe
o olhar e a audição. É necessário mobilizar os sentimentos.
Seja na transmissão da informação, seja no desenvolvimento do
processo de formação, a lágrima e o riso têm de ser “relacionados” como
importantes armas pedagógicas.
A conquista do espírito do aprendiz tem de ser objeto de uma luta
incansável do professor. Essa conquista não se consegue apenas através do
saber, mas também, pelo sabor do afeto, do riso, da firmeza serena, pelo toque
das mãos, pelo olho no olho, da narração de amenidades e, às vezes, até mesmo,
através de uma auto-biografia.
Deve haver sedução, pois dar a matéria do dia é tornar a aula
puramente material.
Na verdade, para se tornar inesquecível, “para marcar presença”, é
necessário carisma e uma “pitada espiritual”.
O Verdadeiro e bom líder emociona e, emocionado é que ele envolve
e, ao envolver, freqüentemente torna-se sempre esperado (com prazer), aplaudido
por palpitações, amado, admirado, desejado e, portanto, um tipo inesquecível.
O grande professor é o que mora na alma do aluno, é o que fica na
sala mesmo após ir embora dela com o toque do sinal.
“Conhecer a si mesmo é conhecer em totalidade,
interdisciplinarmente. Em Sócrates, a totalidade só é
possível pela busca da interioridade. Quanto mais se
interiorizar, mais certezas vai se adquirindo da
ignorância, da limitação, da provisoriedade. A
interioridade nos conduz a um profundo exercício de
humildade (fundamento maior e primeiro da
interdisciplinariedade). Da dúvida interior à dúvida
exterior, do conhecimento de mim mesmo, à procura do
outro, do mundo. Da dúvida geradora de dúvidas, a
primeira grande contradição e nela a possibilidade do
conhecimento, do conhecimento de mim mesmo ao
conhecimento da totalidade.”8
8 FREIRE, Paulo. Educação e Mudança, pág. 29.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, Casemiro de. In Grandes Poetas Românticos do Brasil. Tomo I. São
Paulo: Editora LEP, 1959.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Introdução à
filosofia, 2ª ed., Rio de Janeiro, editora Moderna, Editora Moderna, 1999.
BAGNO, Marcos. Pesquisa na escola, o que é, como se faz. São Paulo, Edições
Loyola, 1998.
BOECHAT, Ivone. Por uma escola humana, Rio de Janeiro, Livraria Freitas
Bastos, 1987.
BUSCAGLIA, Leo. Amor. Tradução André Feijó, 21ª edição, Rio de Janeiro,
Record: Nova Era.
_______, Vivendo, amando e aprendendo. Tradução Luiza Caminha Machado da
Costa, 25ª ed., Rio de Janeiro, Record: Nova Era, 2001.
COMMELIN, P. (Professor honorário no Liceu Carnot). Mitologia Grega e Romana.
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VOZ DO MESTRE”
O AMOR NO ATO DE EDUCAR
Data da Entrega:______________________________________
Avaliado por:__________________________________Grau______________.
Rio de Janeiro_____de_______________de 20___
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Coordenador do Curso
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