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254254254254254JANEIRO

2014O Bandeirante

Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional S.Paulo

O mundo das bengalas“Na Idade Média as bengalas eram decoradas com crucifixos eoutros símbolos da igreja, uma vez que prevalecia o domínio

destes prelados. Os reis europeus portavam bengalas comosímbolos de autoridade, muito bem observado nas pinturas da

época como, por exemplo, de Henrique VIII. Luiz XIV da Françaportava sempre bengalas ricamente ornamentadas com joias e

as restringiu apenas para a aristocracia. Não permitia que seussúditos usassem bengalas em sua presença...”

Leia o artigo de WALTER WHITTON HARRIS na p. 3

“São tantas cores a descobrir, tantos teores

Que não há nada a se dizer, nem embaraços.Apenas muito para sentir, que o tempo e o espaço

Admitindo as leis da física, serão abraços....”

Poesia de JOSYANNE RITA DE ARRUDA FRANCO na p. 5

Arte

Assombração“...Era noitinha, o céu estava nublado e sem lua, no pomarera um breu. Tio Pepino esperava, quando apareceu um vulto,vestido com uma roupa comprida. Sem mais delongas, tioPepino já foi atacando. Em prudente silêncio ele agarrou ovulto por trás, já foi levantando a longa roupa e beijando anuca. O vulto atacado deu uns berros, desvencilhou-se dele,disparou pelo quintal afora...”

O conto de GEOVAH PAULO DA CRUZ está na p. 6

JANEIRO CHEGOUAlcione Alcântara Gonçalves

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VIRGÍNIA e OFÉLIASérgio Perazzo

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CANTO DAS SEREIASJosé Jucovsky

Visite nosso BLOG: http://sobramespaulista.blogspot.com.br

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2 O Bandeirante - Janeiro 2014

Jornal O Bandeirante

ANO XXIII - nº. 254Janeiro 2014

Publicação mensal da Sociedade

Brasileira de Médicos Escritores -

Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP. Sede:

Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 278 - 7º. Andar - Sala 1 (Prédio

da Associação Paulista de Medicin a) - São Paulo - SP

Editores: Josyanne Rita de Arruda Franco e Marcos Gimenes

Salun (MTb 20.405-SP)

Jornalista Responsável e Revisora: Ligia Terezinha Pezzuto(MTb 17.671-SP).

Redação e Correspondência: Rua Francisco Pereira

Coutinho, 290, ap. 121 A – V. Municipal – CEP 13201-100 –

Jundiaí – SP E-mail: [email protected]

Tels.: (11) 4521-6484 Celular (11) 99937-6342.

Colaboradores desta edição: (Textos literários): Alcione

Alcântara Gonçalves, Geovah Paulo da Cruz, José Jucovsky,

Josyanne Rita de Arruda Franco, Sérgio Perazzo e Walter

Whitton Harris.| (Fatos & Olhares) Márcia Etelli Coelho.

Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de

1.000 exemplares PDF enviados por e-mail.

Diretoria - Gestão 2013/2014 - Presidente: Josyanne Rita

de Arruda Franco. Vice-Presidente: Carlos Augusto Ferreira

Galvão. Primeiro-Secretário: Márcia Etelli Coelho. Segundo-Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. Primeiro-Tesoureiro: José Alberto Vieira. Segundo-Tesoureiro: Aida

Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini. Conselho FiscalEfetivos:Hélio Begliomini, Luiz Jorge Ferreira e Marcos

Gimenes Salun. Conselho Fiscal Suplentes: José Jucovsky,

Rodolpho Civile e José Rodrigues Louzã.

.

Matérias assinadas são de responsabilidade de seus

autores e não representam, necessariamente, a opinião

da Sobrames-SP

Editores de O BandeiranteFlerts Nebó - novembro a dezembro de 1992

Flerts Nebó e Walter Whitton Harris - 1993-1994

Carlos Luis Campana e Hélio Celso Ferraz Najar - 1995-1996

Flerts Nebó e Walter Whitton Harris - 1996-2000Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun - 2001 a abril de 2009

Helio Begliomini - maio a dezembro de 2009

Roberto A.Aniche e Carlos Augusto F. Galvão - 2010

Josyanne R.A.Franco e Carlos Augusto F.Galvão - 2011-2012

Josyanne R.A.Franco e Marcos Gimenes Salun - 2013-2014

Presidentes da Sobrames-SP1º. Flerts Nebó (1988-1990)

2º. Flerts Nebó (1990-1992)

3º. Helio Begliomini (1992-1994)

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14º. Josyanne Rita de Arruda Franco (2013-2014)

Editores: Josyanne R.A.Franco e Marcos Gimenes Salun

Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto

Diagramação: Marcos Gimenes Salun | Rumo Editorial

Produções e Edições Ltda. E-mail: [email protected]

Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica

Editora - São Paulo

Josyanne Rita de Arruda Franco

Médica Pediatra Presidente da Sobrames-SP

Anuidade 2014

01/01 – José Rodrigues Louzã06/01 – Evanil Pires de Campos13/01 - Aída Lucia Pullin Dal Sasso Begliomini16/01 - José Leopoldo Lopes de

Oliveira24/01 - Suzana Grunspun25/01 - Rodolpho Civile

Um novo ano alvorece prometendo as bênçãos por todosdesejadas. Façamos deste novo período um tempo decrescimento nos diversos aspectos de nossas vidas, e umcongraçamento constante em que brindemos, irmanados emofício e arte, ao grande presente que se oferece comooportunidade: viver cada dia com a gratidão de existir! Bem--vindos a 2014!

As Pizzas Literárias da SOBRAMES-SP acontecemna terceira quinta-feira de cada mês, a partir

das 19h00 na PIZZARIA BONDE PAULISTARua Oscar Freire, 1.597 - Pinheiros - S.Paulo

Será de R$ 330,00 o valor da anuidade para 2014, que poderá ser pagoem três parcelas de R$ 110,00, com cheques para fevereiro, março eabril. Para os pagamentos efetuados após esse prazo o valor será deR$ 360,00. A diretoria espera e agradece a contribuição de todos, poisesta é a única fonte de recursos para manter as atividades da SOBRAMES-SP.Prêmio Flerts NebóNa Pizza Literária de 20 de fevereiro será feita a entrega do Prêmio“Flerts Nebó” que, em sua 13ª. edição, será entregue ao melhor texto emprosa apresentado em 2013. Dois outros textos receberão mençõeshonrosas neste concurso.

Mais uma fornadaJá foram definidas as regras e condições para mais uma edição datradicional coletânea bianual da SOBRAMES-SP, que inclusive já tem datamarcada para lançamento: 07.11.2014. Nos próximos dias, serãodivulgadas por e-mail e correio convencional as informações detalhadaspara a participação na “A Pizza Literária - décima terceirafornada”. Prepare seus melhores textos e não deixe de participar.

Fim de festaEste é o mote para quem quiser participar do desafio da próximaSuperpizza. Os textos em prosa ou verso com o tema “fim de festa”deverão ser apresentados na Pizza Literária de 20.02.2014. O que forescolhido por um jurado convidado, receberá uma garrafa de vinho.

Nosso blog pelo mundoPerto de chegar ao marco de 20.000 visitas, nosso Blog agora tem ummecanismo para aferir de onde são os visitantes. Clicando no mapa dapágina inicial (no alto, à direita), aparecerá a listagem dos países visitantes.Clicando na linha correspondente ao país, aparecerão as cidades de ondese originaram os acessos. É muito gratificante saber que somos vistos naCosta do Marfim, EUA, Italia, Austrália, Senegal, Rússia, UK, Portugal,Angola, etc. Confira: http://sobramespaulista.blogspot.com.br

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Walter Whitton Harris

O mundo das bengalas

Desde que o Homemhabita a Terra, encontrou nogalho de uma árvore umobjeto para auxiliá-lo em suamarcha, seja apenas paraapoiá-lo em terrenosacidentados, como no casodo cajado, seja para ajudá-lo para ficar em pé porqualquer lesão dos membrosinferiores, traumática ouneurológica.

É óbvio pressupor-seque, com o avançar daHumanidade, o homemprimitivo foi se aprimorando,escolhendo galhos cada vezmais retos, ou então,recorrendo à pedra lascada,polida e aos metais paratambém trabalhar os galhos retorcidos. Imagina-se que, acidentalmente, algum primitivo descobriuque uma pequena bolota ou uma pequenacurvatura numa das pontas melhorava muito parasegurá-la pela mão.

Com o passar do tempo, bengalas tornaram-se símbolos de autoridade. No antigo Egito elasvariavam de acordo com a profissão do dono, fosseele um faraó, um tecelão ou um marinheiro. Erade suma importância que o acompanhasse até amorte e no além, tendo sido encontrada junto àsmúmias.

Na Idade Média, as bengalas eram decoradascom crucifixos e outros símbolos da Igreja, umavez que prevalecia o domínio destes prelados. Osreis europeus portavam bengalas como símbolosde autoridade, muito bem observado nas pinturasda época como, por exemplo, de Henrique VIII.Luiz XIV da França portava sempre bengalasricamente ornamentadas com joias e as restringiuapenas para a aristocracia. Não permitia que seussúditos usassem bengalas em sua presença.

Basicamente, uma bengala é dividida emquatro partes: o cabo, a haste, o colarinho (queune o cabo à haste, especialmente se forem demateriais diferentes) e a ponteira.

O século XIX, com a Revolução Industrial,presenciou a fabricação em massa de bengalaspara todos os gostos. Continuaram representandoo poder, fundamentalmente monetário, poisquanto mais rico o proprietário, mais elaboradaera sua bengala. Tiffany as fazia, como todas asoutras firmas de porcelana. Faberge usava jade e

quartzo. Do oriente chegavambengalas com ornamentos emmarfim. Artesãos desenhavamcolarinhos, encrustando-os comdiamantes. Marinheiros aspreparavam de osso de baleia.

São várias as categorias debengalas. Sempre vem à menteo seu importante uso médico,desde bengalas de madeira, àsde metal, onde se pode regularsua altura, àquelas deextremidade com quatroponteiras para garantir maiorestabilidade.

As bengalas decorativas sãoprincipalmente do século XIX eaté 1920. Os cabos podiam seresmaltados, de prata, bronze,madeira, vidro, etc. As de cabo

de prata eram bastante trabalhadas com cabeçasde índios e outras figuras humanas, animais eflores. Os temas eram por demais variados.

Há também bengalas com várias funções.Podem camuflar uma arma branca ou de fogo,podem apresentar um esconderijo para portardocumentos ou drogas, ou então ter no seu cabouma bússola ou um relógio. Eram inúmeras asaplicações. O famoso violinista Jascha Heifitzfrequentemente portava um arco de violino dentrode uma bengala que retirava ao se apresentar nopalco para um concerto.

No entanto, talvez o uso mais comum foi deser, no século XIX e XX, um símbolo de elegânciapara as damas e cavalheiros da época. Não sepode esquecer, contudo, seu uso em plena SegundaGuerra Mundial, onde os comandantes das forçasarmadas carregavam bengalas finas e curtasdebaixo do braço, como símbolo de seu indiscutívelpoder.

Não poderia deixar de mencionar que existemminiaturas de escudos representando cidades oulocais que podem ser afixadas em uma bengalade madeira. Deixa de ser uma simples bengalapara ser uma bem viajada com histórias paracontar.

Gosto sempre de lembrar que me foi ensinadoque a bengala é um instrumento médico para darapoio, no entanto, apenas “apoio moral”. Istonão é verdade. Já tive de usar uma bengala emdiversas ocasiões e dou graças ao Homem Primitivopela sua descoberta, pois muito ajuda no apoioaos transtornos físicos também.

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José Jucovsky

O canto das SereiasOrfeu e os iniciados Órficos

Orfeu com sua viva voz angelicalPelas Musas e Bacantes amadoOrquestrava em ritmo sem igualAs naus para o destino almejado!

O canto das sereias a enfeitiçarNão competia com a Orfeu ternuraPois não podiam mais atrair para o marArgonautas à fatal desventura!

Orfeu ao saber da morte de sua ninfa amadaExplode em poética plangente melodiaCenário trágico da Eurídice invocadaProclamando seu querido nome noite e dia.

Solitário eco e canto n’alma, amarguradoA revelar a dor que não se cala, violentaCom a lira em desventura no céu estreladoApaixonado, imerso em dramática tormenta!

Palavras sob palavras dos cantos flutuantesRouba secretos segredos da grega culturaTrazendo iniciados libertos órficos bacantesOpondo-se à cólera de Zeus na Olímpica altura.

MITO DE ORFEUPara matar Orfeu não basta a MorteTudo morre que nasce e que viveuSó não morre no mundo a voz de Orfeu.

Vinícius de Morais (1913 – 1980).

Dezembro tem festas: Natal e Ano-NovoTradicionalmente festejadas pelo povoCom muita alegria, esperança e amor,Encerrando um ano de trabalho e fervor.

Um ano termina e outro começa,Com fogos de artifício e muita festa,Com presentes para Iemanjá, Rainha do Mar;E todos de branco na praia, para festejar.

Espelhos, rosas, perfume, colocadas num barco,Como oferenda e agradecimento ao orixá;Bilhetes, cartas e rituais, fazendo os pedidosDe emprego, casamento, realizações, são jogadas ao mar

Assim o “Réveillon” é festa do despertar,Comemorando a entrada do ano novo,Após velório festivo do ano que acabou,Anunciando ao povo que janeiro chegou!

Janeiro chegouAlcione Alcântara Gonçalves

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Virgínia e OféliaSérgio Perazzo

Quando tiramos os seixos dos bolsos do casaco, ocorpo flutuou na superfície do rio. Não se sabe se Oféliaou Virgínia, separadas que estavam por séculos efronteiras, por um fio de cabelo, o teatro da vida no fundodas águas. Ofélia encerrada num castelo de Elsinore noreino gelado da Dinamarca, Virgínia afogada no Rio Ouse,na paisagem campestre do Sussex, quase uma pastoralde Beethoven revisitada. Umcolapso nervoso, disseramdepois, confirmado por seusbiógrafos.

Ofélia, repaginada naloucura, seu lastro também aafogá-la no fundo de outro rio.Sempre as águas. Farol e Wavesde Virgínia, Mrs. Dallowaytomando conta de tudo,desenterrando Ofélia da areiade um riacho, leito do leito deuma corrente revolta. Um lapsono tempo.

Ofélia sucumbindo na loucura a falsa loucura deHamlet. A bengala e o chapéu de Virgínia deixados namargem, não dando margem a qualquer dúvida, a qualquerdesvio neste estranho, úmido, exílio, exílio para dentrode si mesma. Estranha viagem essa, sem trem e sembarcos, arcos, arcobotantes das ramagens ribeirinhas,sem remos, velas infladas de uma nau de ficção apagandovelas noturnas com um sopro, deixando tudo no escuroneste último percurso no curso das águas sem fim,cabrestantes içando âncoras, labirintos, colmeias,caracóis, em que se perde de vista as asas da imaginação,sopradas por um vento de quase inverno.

Duas suicidas, produto e fonte de literatura, dacriação, resultado da vivência do desalento. Uma,personagem, outra, palco e ação da tragédia.Shakespeareanas ambas, cada uma em sua própriadimensão, quer ficcional, quer na vida concreta do correrdos dias, que teimamos chamar de vida real, no turbilhãoda correnteza, afluentes uma da outra, boiando, enfim,

no remanso de um braço de rio.Como Marília e Marina, as

duas mocinhas de Botafogo, dabalada de Vinicius que, de mãosdadas se atiraram nos trilhos dobonde num desesperado abraço desolidão e desesperança sem saída.As duas mocinhas que davam quenem galinhas na perspectivaimplacável do poeta, na falta deperspectiva do isolamentoirreversível.

Heroínas trágicas destinadas aviver para sempre nas páginas de um livro e de habitarestantes envidraçadas de uma biblioteca e a quem, hoje,apenas, se oferecesse o sacrifício da beberragem dealguma classe e de alguma dose de prozacs.

Diante do afogamento de Ofélia, de Hamlet ou deVirgínia Woolf com seu chapéu e bengala no fundo do rioou do sangue nos trilhos das mocinhas de Botafogo, aredenção de transformar a morte, com seu paralisantehorror, numa obra de arte, tirando as pedras do bolso docasaco e devolvendo ao rio as flores recém-despetaladasde nossos anseios mais secretos. Ser ou não ser, viverou deixar morrer. Conflito eterno e recorrente entre autore personagem.

Sem te dizer por que nem quando,Deixo-me levar em teus mistérios.Que me dirás quando chegarem os planos,O que farás se te disser que quero?

Há a distância nos evitando danos...Desconhecidos querem perder-se tanto!Inebriados de sedução e apelos,Nós nos amamos entre versos-novelos.

Só felizardos conseguem amar sem pranto.Desatinados nutrem obsessiva ideia.Resta aos poetas querer amar nos cantos,Nas tênues trincas que a prisão empresta.

O frio convida ao crespo fogo da lareiraCriando um quadro de expressivo movimento:Se realista ou abstrato, se aquarela,Tudo comporta o ir e vir... Pincel e tela!

São tantas cores a descobrir, tantos teoresQue não há nada a se dizer, nem embaraços.Apenas muito para sentir, que o tempo e o espaçoAdmitindo as leis da física, serão abraços.

Pois no prenúncio do misturar textura e tinta,E no silêncio das coisas que não serão ditas,Há um desejo de perdição sem ter castigo...E a vontade de se achar noutro destino.

Enquanto espero abrir no tempo a brechaQue me desloque rumo do inevitável encontro,Vou me entregando ao sonho que banqueteia a festa:De chama ardente... libido acesa... cair do pano.

ArteJosyanne Rita de Arruda Franco

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AssombraçãoGeovah Paulo da Cruz

Meu bisavô Giussepe, nascido no Tirolitaliano, era alto, alourado, bonitão. Aqui noBrasil pôs o pinto a juros e “fez América”,casando-se sucessivamente duas vezes comfilhas de ricos fazendeiros. Como era instruído,letrado num meio de analfabetos, esperto etrabalhador, multiplicou o patrimônio e setornou quase um milionário. Chegou a ser tãoimportante que a missa não começava antes deele e sua família chegarem. Deixou fazendapara cada um dos numerosos filhos, e algunscumpriram o ditado: pai rico, filho nobre,neto pobre. O que o inteligente carcamanoamealhou, os filhos aproveitaram. Vários deleseram boas-vidas. Um deles, irmão de minhaavó, meu tio-avô Pepino, diminutivo dodiminutivo Giuseppino (Giuseppe=José), erarenomado mulherengo. Era bonitão como o pai,bem apessoado como então se dizia. Folgazão emalandro vivia para a alcova.

Na sua fazenda não havia mulher e filhade empregado que ele não assediasse, e emgeral não conquistasse. Tinha filhos bastardospor toda a região. Quando uma criança não separecia com o pai, dizia-se que era filho doPepino. Muitos usavam um trocadilho, dizendoque ele vivia de pepino duro. Por aquelasparagens ninguém gostava de comer pepino, tala má fama que o vegetal alcançou. A palavrapepino ficou demonizada.

Logo após a imigração italiana, chegaramos japoneses. Foram todos para a lavoura. Umdeles foi parar na fazenda do tio Pepino. Lámorava com sua jovem esposa e alguns filhospequenos. Não se sabe como, algocompletamente fora dos padrões nipônicos,

mas o fato é que tio Pepinoseduziu a mulher do japonês.Tinha com ela encontrosfrequentes no retiro afastado ondeela residia.

Certa vez o Don Juan veiopara mais uma rapidinha. Ele tinhaum código para avisá-la de queestaria no quintal, à espera dela.Relinchava igual a um burro,depois assobiava como um pássaropreto, e novamente relinchava.Nunca havia engano. Fosse qualfosse a hora, a japonesa ia para oquintal, para a moita debananeiras. As antigas casas defazenda não tinham banheiro, e as

de empregados, nem ao menos latrinas.Usavam-se moitas mesmo. Era um costumetrivial que dava um álibi perfeito.

A japonesa costumava usar um longoquimono, muito prático para a ocasião. Eranoitinha, o céu estava nublado e sem lua, nopomar era um breu. Tio Pepino esperava,quando apareceu um vulto, vestido com umaroupa comprida. Sem mais delongas, tio Pepinojá foi atacando. Em prudente silêncio eleagarrou o vulto por trás, já foi levantando alonga roupa e beijando a nuca. O vulto atacadodeu uns berros, desvencilhou-se dele, disparoupelo quintal afora. Era o marido, que chegouem casa esbaforido, gritando:

-Chombraçom! Chombraçom!Chombraçom memo non?!! Dizem que o japonêsnunca mais foi ao quintal à noite, até que semudou para bem longe.

Velho e falido, já sem terras após umavida de esbórnia, meu tio-avô Pepino foi morarna cidade, e para sobreviver tornou-se vendedorambulante de bilhetes de loteria. Agora pobre emenos respeitável, era alvo do pessoal gozador:

- “Seu” Pepino, é verdade que ojaponês “tava de caganeira” e borrou osenhor todinho?

Tio Pepino dava um risinho sardônico esaía de fininho.

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O Bandeirante - Janeiro 2014 7Livros em destaque

NELSON JACINTHO“A Casa de Pedra”Funpec Editora - Ribeirão PretoRomance de aventuras onde omistério, o mundo real e o imagi-nário vão se mesclando e sendodescobertos por dois meninoscuriosos durante uma excursão docolégio em que estudam pelointerior de Minas Gerais. Aoencontrarem um velho índio, osdois meninos fazem descobertas edesvendam mistérios que prendemo leitor do começo ao fim. Voltadoao público infanto-juvenil, este é odécimo livro de Nelson Jacintho econtém ilustrações de DumaraPiantino Jacintho. Contatos:[email protected]

HELIO BEGLIOMINI“Esculápios da Casa deMachado de Assis”Expressão & Arte Editora - SPA obra de pesquisa históricapermite conhecer um pouco davida e obra de 24 médicos queligaram sua própria histórialiterária não apenas às ciênciasmédicas e da saúde, mas tambémà literatura no seu sentido maisamplo, e que desfrutaram ou aindadesfrutam da casa de Machado deAssis, a circunspecta AcademiaBrasileira de Letras. É o 25º. livro deHelio Begliomini e mais umaimportante contribuição à cultura.Contatos com o autor e aquisições:[email protected]

“QUEM é QUEM”

ROBERTO CAETANO MIRAGLIA era ogaroto da foto da edição de DEZEMBRO

Esqueço problemas

Obrigações e rotinas

Apenas caminho

sem me importar

se me vigiam

se me envenenam.

O verso abaixo é parte de uma poesia de um dos autoresda SOBRAMES-SP, já publicado anteriormente numa de

nossas coletâneas. Você consegue identificar o autor?Resposta na próxima edição.

Esta agenda está sujeita aalterações em decorrência defatores não previstos quando

de sua elaboração

Endereços e horários

Pizzas Literárias:Pizzaria Bonde Paulista. Rua OscarFreire, 1.507 - a partir de 19h00.

Balada Literária:APM - Espaço Maracá - Av. Brigadei-ro Luís Antônio, 278 - 11º. andar -das 18h30 às 22h00

Reuniões de Diretoria:Sede da SOBRAMES-SP na APM -Av. Brigadeiro Luís Antônio, 278 -7º. andar - às 19h00

PIZZAS LITERÁRIAS

JAN - 16FEV - 20MAR - 2OABR - 24*MAI - 15JUN - 26*

JUL - 17AGO - 21SET - 18OUT - 16NOV - 13*DEZ - 18

Realizadas na terceiraquinta-feira de cada mês

*ATENÇÃOEm virtude de feriados as datasdas reuniões de Abril, Junho eNovembro foram modificadas

CONGRESSO NACIONAL

OUT - 08 a 12 Recife - PE

ELEIÇÕES

JUL - 17 - Prazo final para ainscrição de chapas concorrentes

SET - 18 - Eleição

BALADA LITERÁRIA

MAI - 30 NOV - 07

COLETÂNEA 2014

FEV Divulgação das regras einício das adesões de autores

NOV - 07 Lançamento

REUNIÕES DE DIRETORIA

Primeira quinta-feira do mês

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FESTA DE FIM DE ANO IAmbiente festivo, decoração natalina, premiações e brindesmarcaram a Pizza Literária de 19 de dezembro de 2013.Destaque para o descerramento simbólico da placa emhomenagem aos membros beneméritos Dr. Manlio Mario MarcoNapoli e Dr. José Jucovsky. A placa será afixada na sede daSobrames-SP na APM, perpetuando a nossa gratidão pelacontribuição patrimonial de ambos.

CONDECORAÇÕESDepois de fundar a ATLECA – Academia Tupanense de Letras,Ciências e Artes de Tupã, o sobramista Alcione AlcântaraGonçalves recebeu o Diploma e a Medalha “Mérito PresidenteJuscelino Kubistchek” conferido pela ABRAMMIL (AcademiaBrasileira de Medalhística Militar) e a “Moção deCongratulação” outorgada pela Câmara Municipal daEstância Turística de Tupã. Homenagens mais que merecidas.

PRÊMIO COLABORADOR 2013Devido ao excelente trabalho na revitalização do jornal

“O Bandeirante”, a Sobrames-SP concedeu o Certificadode Colaborador 2013 a Marcos Gimenes Salun que

também se dedica à organização do Blog da entidade:sobramespaulista.blogspot.com.br

CONCURSO AFLAJHildette Rangel Enger foi uma das 50 classificadas noConcurso de Poesias da Academia Feminina de Letras e

Artes de Jundiaí - AFLAJ, que resultou emum belíssimo livro, lançado em 17 de dezembro

na cidade de Jundiaí. Parabéns.

FESTA DE FIM DE ANO IIRever amigos, alguns distantes, consiste em uma das

tônicas dessa época de confraternização.Indescritível, porém, foi a emoção com queacolhemos o Dr. Flerts Nebó, nosso decano,

aplaudindo-o de pé, demonstrando a honra e ocontentamento por sua presença. Foi mais um

encontro inesquecível desta grande família.