Anais do V Simpósio Internacional Lutas Sociais na América Latina “Revoluções nas Américas: passado, presente e futuro”
ISSN 2177-9503 10 a 13/09/2013
GT 10. Teoria política marxista 112
GT 10. Teoria política marxista
O enigma da ideologia: as indicações de Marx à luz da análise lukácsiana
Nara Roberta Silva
Resumo: Partindo do reconhecimento de que o conceito de ideologia apresenta uma gama de significações, acepções e definições, o presente trabalho procura debatê-lo dentro da leitura de György Lukács – considerando que não há uma concepção de ideologia sistematizada pelo próprio Marx. Com isso, partimos da relação não dicotômica entre objetividade e subjetividade visualizada a partir do trabalho, cerne da teoria marxiana, e definimos ideologia a partir de sua função social; em decorrência, sinalizamos para seu caráter de consciência prática do conflito social. A partir daí, exploramos aspectos concernentes à complexa dinâmica do fenômeno ideológico, que possibilitam compreender enfim sua atuação e sua influência em meio à formação social – dinâmica esta sintetizada no que optamos por chamar de linguagem da evidência. Palavras-chave: ideologia; ontologia; Marx; Lukács.
O conceito de ideologia é perpassado por inúmeros debates e, sem dúvida, é um dos mais
polêmicos no campo das ciências sociais e humanas. Há uma patente dificuldade em se
trabalhar com ideologia, já que o debate acerca dela sempre foi perpassado por aspectos
práticos e políticos. Como resultado, o termo ganhou, ao longo dos vários anos, uma
variedade de acepções e de significados impressionante, que torna qualquer exposição acerca
de tal variedade uma tarefa bastante extensa e difícil.
Entrementes, a própria validade analítica desta categoria foi por vezes questionada
durante o século XX, a partir da chamada tese do fim da ideologia. A despeito disso, sem que
tenha desaparecido a utilização do termo ideologia como forma de deslegitimação, ataque ou
depreciação de uma dada posição ou concepção, é reconhecida a importância deste conceito
para a análise e interpretação da realidade social. Ainda assim, estamos longe de qualquer tipo
de consenso ou, ao menos, de uma maior delimitação dos traços concernentes ao fenômeno
Doutoranda em Sociologia do IFCH/Unicamp. Email: [email protected]
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ideológico, persistindo, então, a multiplicidade de significados da qual o termo há tempos
vem sendo dotado.
Reconhecemos que grande parte das formulações – senão todas elas – sobre ideologia
emergente ao longo do século XX e início do século XXI tem como interlocutor as
proposições de Karl Marx – em maior ou menor medida (SILVA, 2012). Mais
especificamente, diversos autores preocuparam-se em ratificar ou retificar o que foi posto por
Marx – juntamente com Engels – n’A ideologia alemã, procurando ou aprofundar e refinar as
proposições tecidas a partir da crítica aos jovens hegelianos de esquerda ou então modificá-
las, parcial ou totalmente. Desse modo, as referidas formulações de Marx, acerca da questão
da ideologia, tiveram forte influência sobre outros teóricos.
Porém, a grande questão é que não há uma concepção de ideologia sistematizada pelo
próprio Marx (RANIERI, 2002-2003), que então nos leve a pontuar o fenômeno ideológico
seguramente enquanto o conjunto de ideias da classe social dominante, como uma consciência
invertida da realidade social – tal qual exposto na obra em questão (MARX; ENGELS, 2007,
p. 47; 94). Marx nos deixou importantes indicações, mas não as organizou e nem as
esclareceu a fundo – como ocorre também com a questão do Estado, das classes sociais e
ainda com a questão do método. Com isso, mesmo dentro do marxismo, não há uma posição
única acerca dos contornos característicos do fenômeno ideológico, de modo que também
persiste, dentre os adeptos das proposições marxianas, a dificuldade em se trabalhar com o
tema ideologia.
Como exploração das análises contidas em nossa pesquisa de mestrado, buscaremos
aqui instigar a reflexão sobre as indicações de Marx relativas ao tema. Colocamos, enquanto
pergunta norteadora, a busca pelo modo como se dá a inserção da ideologia na sociedade.
Sem nos preocuparmos com qualquer tipo de reformulação do conceito, procuramos, na
verdade, pensar o que é o fenômeno ideológico, se é possível que ele atue decisivamente na
formação social e, se sim, como o faz – justamente a partir do que foi legado pelas obras
marxianas. Em suma, nossos esforços voltam-se para a apreensão da enigmática dinâmica da
qual é dotada a ideologia – e que a torna, por isso, elemento extremamente complexo da vida
em sociedade.
Procuramos pensar a constituição da ideologia enquanto uma força social – isto é,
enquanto capaz de contribuir para a conformação e o movimento de uma formação social e
para o rumo da história. Sendo assim, buscamos ultrapassar o plano das definições
comumente postas e da consideração de passagens isoladas da obra de Marx, focando no
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modo como a ideologia atua. Desse modo, finalmente, almejamos confirmar a potencial
contribuição de Marx para um debate tão polêmico e contemporâneo, fora dos sensos comuns
que comumente abatem a teoria marxiana.
Pressupostos para a compreensão da ideologia à luz de Marx
Mencionamos acima que, mesmo no interior da teoria marxista, não há uma posição
única em relação à concepção de ideologia – originada, em grande medida, da ausência de
sistematização desta temática por Marx. A consequência imediata dessa situação é a
necessidade de que, ao estudo da mesma, se tome não somente um dos escritos marxianos
para a extração das conclusões – tal qual comumente é feito a partir de A ideologia alemã –,
mas se considere um conjunto de proposições e o leque de sua obra, que nos proporcionam
então uma visão ampla do que nos ensina Marx.
Este indicativo de não se restringir somente a algumas formulações esparsas de Marx
compatibiliza-se com o próprio caráter do sistema teórico deste. Mais especificamente, a
teoria marxiana tem como objetivo a exposição da ordem social como um todo, sem ater-se
restritamente a aspectos específicos da composição de tal ordem – por exemplo, a ordenação
do poder, a ordenação econômica, as manifestações religiosas, as manifestações culturais etc..
Ao contrário, para ele, estes aspectos específicos devem ser compreendidos na sua
interrelação, fazendo sentido somente enquanto constituintes de um sistema – ou, então, de
uma totalidade.
Desse modo, a questão da ideologia que aqui nos interessa é perfeitamente elucidada
se estiver ela localizada dentro do edifício teórico construído por Marx. Embora não tenha ele
desenvolvido extensamente o tema, podemos visualizar, através do caráter sistêmico de sua
teoria, que as proposições a serem consideradas não poderiam ser somente definições ou um
traçado de características do fenômeno ideológico. Ao contrário, é possível vislumbrar uma
elaboração peculiar acerca da ideologia por parte de Marx, pois ela é mobilizada para a
compreensão não só de um dado acontecimento, mas para a potencial distinção de todo um
arranjo social.
Isso nos leva a uma outra consideração, importante para a incursão nos textos de
Marx. Com a tomada de seus escritos em conjunto, visando neles localizar as indicações
relativas ao tema da ideologia e com a necessidade, ainda, de equalizá-las a outros aspectos da
vida social, emerge a necessidade de ponderar acerca do alinhamento a uma dada leitura e
interpretação da obra de Marx, feita de maneira mais global e unificada. Em outras palavras,
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com a ausência de sistematização de alguns temas, que nos encaminham para a apreensão de
todo o intricado sistema teórico marxiano, revela-se a importância de intérpretes que, além de
levantarem diversas proposições originais, também ajudam a revelar o que não é diretamente
declarado ou óbvio nos textos de Marx – auxiliando, enfim, na composição de sua teoria
enquanto um sistema. Vale sublinhar que a adoção dos chamados “comentadores” respeita,
igualmente, o próprio caráter aberto do sistema teórico marxiano – isto é, de modo peculiar, o
caráter sistêmico de sua teoria tem como um dos pontos de apoio principais a historicidade do
conhecimento, o que dá fecundidade ao próprio materialismo histórico (SILVEIRA, 2007).
Com isso, suas propostas não são rígidas ou congeladas historicamente, mas são fruto do
próprio desenvolvimento social; assim, apresentam-se na forma de um sistema aberto, que
necessita ser continuamente enriquecido e confrontado com as sempre novas condições
materiais, logicamente elucidadas por aqueles e aquelas que vieram depois de Marx.
Tendo isso em consideração, partilhamos da posição de que uma leitura global e
unificada da obra de Marx revela, além disso, um fio condutor que caracteriza as proposições
marxianas. Mais especificamente, defendemos a centralidade do trabalho para a vida social,
tal qual proposto por György Lukács, em seu período de maturidade, como chave da
compreensão do sistema teórico de Marx. No decorrer da obra deste, sem dúvida ocorreram
modificações, mudanças, refinamentos, mas que não apagaram esta unidade fundamental
reivindicada.
Assim, seguindo as indicações do intérprete húngaro, localizamos na atividade
caracteristicamente humana denominada trabalho o cerne das manifestações e dos fenômenos
ocorridos na(s) sociedade(s) – que, a despeito disso, não deixam de prescindir de mediações
para serem compreendidos. A nosso ver, iluminadas a partir do trabalho e da peculiar relação
com ele forjada entre objetividade e subjetividade, as proposições acerca da ideologia
encontradas em Marx tornam-se mais coerentes e possibilitam que, enfim, as visualizemos em
sua ação sobre a sociedade.
Caracterização geral da ideologia a partir do trabalho
Quando Marx discute a relação entre o homem e o meio que o circunda, sinaliza para a
importância crucial da consciência. Nas Teses sobre Feuerbach, explicita diretamente sua
diferença em relação a um materialismo de tipo vulgar, representado na figura do próprio
Ludwig Feuerbach. Com isso, escreve Marx (1999, p. 11):
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O principal defeito de todo materialismo até aqui (incluído o de Feuerbach)
consiste em que o objeto, a realidade, a sensibilidade, só é apreendido sob a
forma de objeto ou de intuição, mas não como atividade humana sensível,
como praxis, não subjetivamente. Eis, porque, em oposição ao
materialismo, o aspecto ativo foi desenvolvido de maneira abstrata pelo
idealismo, que, naturalmente, desconhece a atividade real, sensível, como
tal (grifos da edição).
Através dessas palavras, percebemos a oposição de Marx à desconsideração da
dimensão subjetiva por parte dos materialistas vulgares – já que, em Feuerbach, por exemplo,
a objetividade é concebida de forma isolada (VÁZQUEZ, 2007). Porém, também notamos ao
final a crítica de Marx aos idealistas, em especial a crítica a Hegel – o qual hipertrofia “o
espírito pensante, o espírito lógico, especulativo” (MARX, 2004, p. 122), apontando a
consciência enquanto princípio movente da história.
Marx opõe-se veementemente a esta imputação de um movimento lógico à história, a
partir de uma autodeterminação do chamado Espírito Absoluto, e coloca que, ao contrário, a
mesma diz respeito aos movimentos práticos dos homens. Todavia, esclarece que a atuação
prática sobre a realidade objetiva só ocorre a partir de uma pré-formulação ideal da mesma, a
qual tem lugar na consciência do agente – esta última emergente e conformada a partir do
próprio imperativo de atuar sobre o mundo. Só assim, então, na contínua mediação, regulação
e controle da natureza pelo ser humano que é possível a modificação de ambos (MARX,
1985, p. 149-150).
A grande questão, então, é que a objetividade aparece como o ponto de partida efetivo
para o desenvolvimento social e histórico e para a compreensão do mesmo; porém, tal
objetividade só pode ser elucidada através de sua interrelação com a subjetividade, a qual
exerce um papel decisivo – já que a consciência então se configura como um guia da e para a
ação. Com isso, se antes eram visualizadas em oposição ou mesmo em contradição, a partir de
Marx, objetividade e subjetividade passam a ser compreendidas em sua necessária relação não
dicotômica – onde se entende o lugar de cada uma a partir da interação entre ambas. O
materialismo marxiano, assim, localiza na realidade objetiva a determinação fundamental,
sem deixar de atribuir aos produtos da consciência uma atuação não só possível, mas,
sobretudo, necessária.
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A partir da unidade entre objetividade e subjetividade, nota-se também que a interação
do homem com a natureza não ocorre pontual e isoladamente. Ao contrário, a atividade
humana desenrola-se continuamente e forja um cenário cada vez mais social, intrincado e
complexo, conformando a totalidade que o próprio sistema teórico marxiano preocupa-se em
traduzir. Em síntese, se a realidade objetiva sobre a qual atua o homem é o ponto de partida
efetivo, tem-se uma base produtiva, uma estrutura determinante materialmente e, sobre ela,
erige-se então uma superestrutura, constituída a partir do desenvolvimento daquela e formada,
em geral, por criações espirituais e teóricas e/ou formas de consciência, as quais auxiliam e/ou
influenciam os contornos e o rumo da produção.
A ideologia, sem dúvida, é componente da superestrutura de uma formação social.
Como parte de tal superestrutura, ela é – e só pode ser – condicionada materialmente,
emergente a partir da base produtiva – ainda que tenha como norte atuar sobre esta, assim
como o faz qualquer elemento da superestrutura. Todavia, para debatermos o que é, como se
constitui, quais as possibilidades ou os limites etc. do fenômeno ideológico, não cabe
ficarmos somente no apontamento de que ela é impulsionada a partir da base. Isto é, falar da
determinação material da ideologia não é suficiente: é preciso, além disso, elucidar qual é sua
especificidade enquanto elemento presente na vida social – considerando a própria indicação
das dificuldades que atingiram e ainda atingem a reflexão sobre ideologia dentro do
marxismo.
Para a distinção da especificidade do fenômeno ideológico, é preciso considerar então
dois “alertas” até aqui feitos: (i) a constituição da produção social enquanto uma totalidade,
que leva a que enxerguemos os diferentes elementos dela advindos em sua influência
recíproca e (ii) a crescente complexidade de tal totalidade social ao longo da história, que
revela cada vez mais claramente a necessária contribuição dos elementos da superestrutura.
Com isso, compreendemos, primeiramente, a existência de certos conflitos, impasses e
questões internamente a uma formação social, que inevitavelmente despontam através da
necessária vivência em coletivo, na interação entre distintos interesses presentes dentro de
uma formação social. Devido ao fato de que emergem justamente a partir das possibilidades
abertas historicamente, não é possível que determinemos de antemão os traços de tais
conflitos, impasses e questões; porém, sendo extensos ou pontuais, sendo concernentes a
aspectos mais existenciais ou então a aspectos mais imediatos da vida humana, têm todos eles
potenciais implicações para a organização da sociedade em questão – e, logo, com
ressonâncias no modo como se conforma a produção. Nesse sentido, faz-se necessário um
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elemento regulador, que se constitui enquanto um fator importante na e para a mediação
desses conflitos caracteristicamente sociais – os quais envolvem, enfim, uma multiplicidade
de possíveis manifestações.
É a ideologia justamente tal elemento regulador, emergente, por um lado, a partir da
possibilidade de que certas formas de consciência sejam sempre requeridas para a efetivação
dos caminhos abertos pelas condições objetivas e, por outro, a partir da inevitável existência
de interesses distintos internamente a uma formação social – que levam, então, aos conflitos,
questões, impasses etc. aludidos. A ideologia é capaz de atuar nessas situações pois nela se
representam justamente os aspectos relativos à vida em sociedade. Especificamente, segundo
precisam Marx e Engels (2007, p. 93), tais representações
são representações, seja sobre sua relação com a natureza, seja sobre suas
relações entre si ou sobre sua própria condição natural (...). É claro que, em
todos esses casos, essas representações são uma expressão consciente –
real ou ilusória – de suas verdadeiras relações e atividades, de sua
produção, de seu intercâmbio, de sua organização social e política (grifo
nosso).
Assim, na composição das representações debatidas acima, a ideologia procura atingir
a prática dos agentes em questão. Ela volta-se para a ação humana já que é somente através
desta que é possível concretizar qualquer opção aberta historicamente, a partir da divergência
ou mesmo da oposição constituída entre alguns interesses sociais. Nesse sentido, a ideologia é
a tomada de consciência de uma dada situação, o momento ideal da ação (RANIERI, 2002-
2003; VAISMAN, 2009) – a qual procura, conforme mencionado, dirimir qualquer conflito
de cunho social que então se apresenta.
Inevitavelmente, está associado à ideologia o atributo de formar a subjetividade
humana, por moldar o comportamento dos sujeitos a atuarem. Mas é preciso sublinhar que
existe um sentido específico na afirmação de que à ideologia relaciona-se a formação da
subjetividade. Lembremos que este elemento da superestrutura emerge devido à ocorrência de
um embate entre distintos interesses sociais, os quais procuram imprimir certos contornos à
produção social – certamente com eles em consonância. Com isso, a ideologia diz respeito à
organização da sociedade e, em consequência, ela sublinha, ainda que não de forma patente,
um projeto para a formação social então em questão. Sendo assim, quando falamos em
formação da subjetividade, o que pensamos é no encaminhamento de atitudes,
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comportamentos, reações, concepções etc. rumo aos interesses sociais em voga,
compatibilizando-os afinadamente com o projeto com o qual se alinha a ideologia em questão.
Se de outra maneira fosse concebida a formação da subjetividade, a ideologia poderia
ser apontada enquanto um mero conjunto de ideias ou como um sinônimo perfeito de visão ou
concepção de mundo. Na multiplicidade de significados que o conceito adquiriu, muitos
autores assim a qualificam, mas pensamos não ser este o caso de Marx. Na verdade, não se
pode esquecer a observação relativa à consideração, por parte deste, dos fenômenos enquanto
componentes necessários de uma totalidade, que se erige a partir do imperativo de satisfação
das necessidades humanas – “uma condição fundamental de toda história, que (...) tem de ser
cumprida diariamente, a cada hora, simplesmente para manter os homens vivos” (MARX;
ENGELS, 2007, p. 33). Dessa forma, a emergência de qualquer um dos elementos da
estrutura ou da superestrutura visa, em suma, contribuir para a reprodução social – o que
exclui a ideologia como simples conjunto de ideias, existentes de forma aleatória. Assim,
como esclarece no célebre “prefácio de 1859”,
é necessário distinguir sempre entre a transformação material das condições
econômicas de produção, que pode ser objeto de rigorosa verificação da
ciência natural, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou
filosóficas, em resumo, as formas ideológicas pelas quais os homens tomam
consciência desse conflito e o conduzem até o fim (MARX, 1982; p. 25,
grifo nosso).
É importante, ainda, notar algo mais a partir dessa citação. Com a elucidação da
importância de um elemento atuante aos momentos de conflito social, esvanece não só o
apontamento da ideologia enquanto um conjunto de ideias. Além dessa última posição, é
possível questionar também a célebre qualificação da ideologia enquanto falsa consciência ou
consciência invertida – mencionada ao início deste trabalho. Mais especificamente, a
contribuição e o alinhamento de uma dada ideologia a certo projeto para a formação social
implica o aspecto de luta que perpassa cada representação ideológica – aspecto este tão bem
expresso na citação acima. Com isso, a ideologia constroi sujeitos em movimento, que
incessantemente contribuem – mesmo que por vezes não o saibam – para o desenho da
história, na medida em que cada uma de suas ações sempre envolve, ainda que sob várias
mediações, a defesa ou a mudança das condições nas quais se encontram.
Desse modo, a ideologia pode ser verdadeira ou pode ser falsa em relação às
condições materiais e relações sociais que representa; pode ter um caráter progressista ou
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retrógrado frente a estas mesmas condições e relações. Porém, todos esses traços terminam
subordinados à função social que a ideologia detém (LUKÁCS, 1981) – e acerca da qual
viemos até aqui falando: a atuação e a incidência sobre os conflitos de cunho social que
emergem em meio à vida em coletivo. Seguindo Mészáros (2008, p. 11), vemos então que
A questão da “falsa consciência” é um momento subordinado dessa
consciência prática circunscrita pela época e, como tal, sujeita a uma
multiplicidade de condições especificadoras, que devem ser avaliadas
concretamente em seu próprio cenário (grifo da edição original).
Finalmente, é importante sublinhar, acompanhando o dito por Mészáros, que devemos
avaliar o cenário no qual floresce a ideologia em questão. Falar em função social não é, de
forma alguma, engessar a maneira pela qual se manifesta uma ideologia. Como vimos, esta
pode ser progressista, revolucionária ou retrógrada; também pode ser ilusória ou
esclarecedora em relação aos determinantes sociais. Ainda assim, em qualquer uma dessas
manifestações, a ideologia vem para que seja (re)organizada, de alguma forma, a vida social.
Na verdade, quando se fala em função social, busca-se tão somente respeitar a questão
da inserção deste elemento da vida social na complexa articulação das condições objetivas, de
modo, ainda, a congregar atributos importantes do fenômeno ideológico – a saber: sua
determinação pela base material, sua intervenção nos conflitos de cunho social, sua
(auto)construção enquanto momento ideal da prática dos homens e a conformação destes de
acordo com um projeto relacionado a essa mesma ideologia.
Pensamos que, além da consideração da ideologia a partir de sua função social, uma
outra formulação sintética deve ser levada em conta para a continuidade do debate acerca
deste intrigante fenômeno da vida social: a ideologia enquanto consciência prática do conflito
social – tal qual expressa por Mészáros (2008) e que buscaremos adiante explicar. É a partir
desses dois motes que nos embasaremos para uma rápida exposição da dinâmica típica da
ideologia – visando, enfim, contribuir para debates mais profundos sobre o tema.
Aspectos característicos da dinâmica da ideologia
Cientes da especificidade da ideologia frente a outros produtos teórico-espirituais,
podemos pensar, agora, caminhos pelos quais este fenômeno impõe suas influências,
efetivando-se. A dificuldade está em que, mesmo detendo uma função específica, a ideologia
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pode apresentar-se de variadas maneiras internamente à formação social – o que não deixa de
revelar, assim, também a sua amplitude dentro desta.
Para nós, a força de uma ideologia advém do fato de que ela profere o que optamos
por chamar de linguagem da evidência (SILVA, 2012) – esta mesma também resultado do
próprio processo pelo qual se consolida uma ideologia. Especificamente, a ideologia, como
vimos, é o momento ideal da ação humana – considerando que somente através desta última
será consolidada tal ou qual possibilidade aberta historicamente. Com isso, é crucial para seu
funcionamento que ela seja profundamente incorporada pelos sujeitos aos quais se direciona,
de modo que, para estes, a ideologia em questão “faça sentido”, expresse-se com um “tom de
verdade” – sendo, em síntese, evidente.
Como o momento ideal da ação, uma forma de consciência, a ideologia é um modo
pelo qual o sujeito apreende o mundo que o envolve. Nesse sentido, inevitavelmente deve esta
específica representação compor um quadro da realidade social no qual sejam distinguidos os
seus determinantes – que, então, expliquem os contornos detidos por essa mesma realidade.
Mas é preciso também lembrar que a ideologia procura incidir sobre os conflitos por ventura
existentes em uma formação social e, desse modo, o impulso dado pelos específicos interesses
sociais em jogo termina influenciando a construção do reflexo – entendido enquanto a
representação ideal da realidade.
Na verdade, visando encaminhar algum ou alguns dos conflitos sociais existentes, uma
ideologia não precisa necessariamente prover uma imagem “correta” da realidade e/ou da
conjuntura em questão; diferentemente, cabe a ela somente distinguir algum ou alguns traços,
aspectos, fatores etc. presentes na realidade social que tenham afinidade com algum ou alguns
dos interesses sociais em voga – ainda que isso não seja patente e nem mesmo um processo
“consciente”. Dessa forma, sua preocupação não é obrigatoriamente o reflexo verdadeiro das
condições objetivas, mas tão somente uma explicação plausível das mesmas, pela qual seja
possível projetar um decurso da vida social que lhe seja então desejável (MÉSZÁROS, 2004,
p. 69). Sem dúvida, quando se move a partir do anseio de modificar a ordem social, a
ideologia tem na elucidação verídica das condições materiais e das relações sociais vigentes
uma grande aliada – diferentemente do que ocorre com a ideologia dominante. A esta, cabe
somente manter a estabilidade da ordem social, o que implica, inevitavelmente, valer-se da
mistificação e da ilusão. Mas, em ambos os casos, o mais importante é fazer frente aos
latentes ou manifestos embates existentes em meio à sociedade, dando vazão à específica
função social que move qualquer ideologia.
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A grande questão é que uma explicação só será plausível aos sujeitos aos quais se
endereça se, em alguma medida, mantiver correspondência, em maior ou menor grau, com as
condições cotidianamente vivenciadas por tais sujeitos. Retomando, vimos que, por ser
veículo da prática humana, a ideologia deve incorporar-se intimamente aos homens e
mulheres, considerando o imperativo de que sejam equalizados os conflitos por ventura
existentes socialmente. Com isso, cabe ter em conta a necessidade de que a saída elegida seja
continuamente disseminada – até quando estejam em voga as possibilidades objetivas e os
interesses sociais que a sustentam. Na atenção a tais indicativos, a vida cotidiana, assim, é o
ponto de partida e o ponto de chegada da ideologia: dela são retiradas os traços, fatores,
aspectos etc. a serem mobilizados, as respostas a serem então sintetizadas e a ela, finalmente,
devem estas retornar, para que realmente sejam levadas a cabo pelos sujeitos (FREDERICO,
2000; LUKÁCS, 1981; SILVA, 2012).
Entendemos aqui a chamada vida cotidiana não através de uma pretensa escala dentro
da qual conceberíamos peculiarmente certos fenômenos, considerando, por exemplo,
microrelações, microdecisões, microcausas, microconsequências etc.. Ao contrário, a vida
cotidiana é vista aqui como uma zona, um momento específico de atuação, na produção e
reprodução da vida humana, e que, por isso, erige uma forma de consciência específica,
interligada e interrelacionada a um também específico modo de se desenvolver a atividade
prática. Em pormenores, considerando a importância da contínua satisfação das necessidades
humanas (MARX; ENGELS, 2007), é característica da vida cotidiana então a espontaneidade
e o imediatismo – consonantes à impossibilidade de que se reflita sempre, em todos os
momentos e em todas as ocasiões, acerca da completude da totalidade social (HELLER,
2008).
Para a discussão que aqui nos interessa, cabe apontar que tanto a espontaneidade
quanto o imediatismo citados favorecem uma apreensão da realidade que sintetize cada vez
mais os determinantes fundamentais de uma dada conjuntura ou da própria realidade social –
a qual, como sabemos, é “uma concentração (...) de muitas determinações” (Marx, 1997, p. 9).
Com a simplificação dos determinantes sociais, o que temos é a tendência ao fortalecimento
do vínculo entre o reflexo gerado e a atitude prática dos agentes, na medida em que passa o
caminho daí resultante a se constituir enquanto uma alternativa praticamente óbvia,
obscurecendo outras possibilidades existentes. Assim, quando a ideologia consegue formular
uma síntese simplificadora, em alguma medida correspondente ao que é vivenciado pelos
sujeitos, calcando-se em alguma tendência histórica então em aberto, é possível sua maior
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inserção internamente à sociedade e ela ganha ainda mais força, continuamente concretizada
através da prática humana. Conforme as palavras de Lukács (1981, p. 116):
A ontologia da vida cotidiana, como simplifica e muitas vezes vulgariza as
partes da ideologia que nela desembocam (os fatos históricos aí assumem
frequentemente um caráter mítico), possui assim também uma tendência à
síntese: ambas as coisas por reforçar a função ideológica, a guia imediata da
prática.
Com isso, pode-se concluir que a forma de consciência da cotidianidade é lócus
favorável para a encorpadura da ideologia. Porém, para compreendermos a possibilidade de
que o fenômeno ideológico aja enquanto uma força social, devemos também pontuar outros
elementos, que se somam à explicação acerca da chamada linguagem da evidência, defendida
enquanto característica da ideologia.
Consideremos ainda o âmbito da cotidianidade. Com a breve explicação até aqui, é
possível concluir que considerar a vida cotidiana é entender e dar sentido à questão da
ideologia como uma consciência prática do conflito social. Isso porque ser uma forma de
consciência implica que, à ideologia, assim como ocorre com outras formas de consciência,
cabe uma determinada imagem do mundo e da vida social – então forjada segundo sua
específica função social; mas, ao ser prática, emergente de um conflito, demonstra-se que
essa apreensão deve necessariamente colocar-se em movimento, inserindo-se na realidade que
se quer manter ou se quer modificar – e, para tal, deve estar intimamente vinculada aos
sujeitos que empunharão, através de sua ação, as indicações implícita ou explicitamente
elucidadas por tal apreensão da realidade.
No imediatismo e na espontaneidade da vida cotidiana explica-se o melhor
desenvolvimento da ideologia, devido às afinidades que se tem entre os objetivos da
representação ideológica e os traços da consciência apresentada quando à reprodução
ordinária da vida. Porém, para que mencionássemos tais características típicas da
cotidianidade, ressaltamos que a ideologia deveria manter alguma correspondência com as
condições e com as relações compartilhadas pelos sujeitos – o que explicava, inclusive, a
própria menção aqui feita à vida cotidiana. O ponto é que, juntamente com a espontaneidade e
com o imediatismo, a vida cotidiana abre mais um caminho à sedimentação de uma dada
ideologia, para que esta profira a chamada linguagem da evidência. E justamente quando é
possível, de alguma forma, o reconhecimento da imagem construída pela ideologia pelos
sujeitos envolvidos – ainda que isso ocorra sob um viés mistificante.
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Lembremos que Marx (2004, p. 128) indica “O homem enquanto ser objetivo
sensível” e, desse modo, todos os produtos por ele exteriorizados conformam uma dimensão
afetiva nele atuante, uma conexão entre sujeito que exterioriza e objeto exteriorizado, na
medida em que nada mais fazem do que confirmar sua existência (MARX, 2004, p. 128;
MÉSZÁROS, 2006, p. 181). A ideologia é também uma criação humana e, com isso, ao
estabelecer certos valores conformadores da prática de homens e mulheres, termina forjando
potencialmente um vínculo com aqueles e aquelas que a proferem – se a ideologia é capaz,
enfim, de claramente confirmar pelo menos algum importante aspecto relativo às condições
objetivas da qual emerge. Desse modo, mais uma vez ela ganha força, pois, no trânsito de
externalização e confirmação dos valores que uma tal ideologia propaga, ela termina
progressivamente sedimentando-se e, consequentemente, dando certo formato à subjetividade
dos agentes, em consonância ao que seja então visado e condicionando seu olhar e sua postura
frente à realidade social. Enfim, mais uma vez ela aparece como um caminho “natural” a ser
seguido pelos sujeitos aos quais se endereça, pois ela torna-se a própria justificativa para o
mundo – sem precisar, aparentemente, ser explicada.
É a dimensão afetiva potencialmente existente que então faz com que o confronto a
uma dada ideologia seja deveras complexo, na medida em que seu sustentáculo localiza-se
nos sujeitos de modo profundo e não pode ser modificado, assim, através de uma simples
escolha ou de uma inclinação voluntariosa. Ao contrário, a modificação de uma ideologia,
intimamente entrelaçada com os indivíduos, que com ela se armam perante o mundo, dá-se na
mudança das condições materiais nas quais se inserem os sujeitos, conjuntamente com o
fomento a outros valores e a outras práticas – que então possam transformar as condições e os
próprios sujeitos (MARX; ENGELS, 2007, p. 209).
Para finalizar, é importante sublinhar que a consideração da necessidade de que a
ideologia atinja os indivíduos não imagina que estes se encontram isoladamente – ao
contrário, coerentemente à perspectiva de Marx, enxerga-se sempre as determinações de uma
classe e/ou de um outro segmento social sobre os indivíduos. Com isso, na elucidação de que
a ideologia indica um rumo a ser seguido historicamente com e através da mobilização da
prática humana, vemos sua capacidade de, invariavelmente, estabelecer uma espécie de dever-
ser social. Nestes, estão talhados, patentemente ou não, os interesses das classes ou dos
grupos sociais em disputa e, desse modo, indica-se a formação de sujeitos que correspondam
a certos “papeis sociais”, capazes de incorporar e levar a cabo tais interesses – na construção
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de uma subjetividade que seja parte de um projeto para a formação social, conforme
afirmamos anteriormente.
Assim, é atribuição da ideologia também a disseminação de uma imagem relativa aos
referidos papeis sociais, juntamente com a propagação, tácita ou não, dos parâmetros dentro
dos quais deve agir um indivíduo. Na verdade, tal disseminação constitui-se enquanto uma
maneira de possibilitar que a ideologia apresente-se de forma mais imediata aos sujeitos,
como uma forma de evidente reconhecimento pelos indivíduos conformados segundo seus
ditames. Ao estimular uma espécie de modo de ser e agir, a ideologia termina, ainda,
promovendo uma força agregadora, dada a partir da identidade que forja, claramente ou não,
entre um indivíduo e outros que então compõem a coletividade na qual se insere. A
importância desta identidade e desta força agregadora está em fortalecer a representação da
realidade social e, logo, encaminhar a prática constituída com e pela a ideologia, inserindo-se
no modus operandi desta para que sejam melhor equalizados os conflitos de cunho social aos
quais se direciona.
Considerações finais
O modo como concebemos o que é e o que concerne ao fenômeno ideológico
modifica, sem dúvida, a maneira pela qual apreendemos e distinguimos sua intervenção e
contribuição para a vida em coletivo. Aqui, entendemos a ideologia a partir de sua função
social, enquanto consciência prática do conflito e isso apontou para a elucidação de sua
dinâmica segundo o que chamamos de linguagem da evidência – uma síntese de múltiplos
aspectos (força agregadora, identidade, dever-ser social, inserção na vida cotidiana, criação de
uma dimensão afetiva) que é tanto o resultado quanto o processo pelo qual uma ideologia se
constitui e atinge os sujeitos de uma formação social.
Certamente, mantivemo-nos num alto nível de abstração, dado a partir da opção em
traçar a ideologia segundo os moldes de uma categoria geral – que expressa uma gama de
características deste fenômeno presente repetidamente em vários momentos históricos em
várias formas de manifestação. A possibilidade de discussão da perspectiva de uma categoria
geral pode ser encontrada no próprio Marx (1997), que por diversas vezes desenvolveu suas
reflexões segundo este ponto de vista.
Embora um instrumento válido, a categoria geral não é capaz de esgotar todos os
traços da realidade – somente apreensíveis à análise concreta da situação concreta. A
categoria geral indica os caminhos possíveis à manifestação do fenômeno, sendo, assim,
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muito válida para as análises. Todavia, fica o desafio de utilizarmos as indicações dadas para
a compreensão e atuação em meio à realidade – desafio ainda maior quando o assunto é a
questão da ideologia: tão polêmica, tão complexa, tão perpassada por aspectos práticos e
políticos e tão importante para a transformação social, tal qual se confirma com a análise de
Marx.
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