“Eu sou um escritor. Não sou bailarino, não sou músico, não
sou Chico Buarque... Se você me quer como escritor, me trate como escritor.” Conosco-aqui, e que honra!, o escritor angolano
José Eduardo Agualusa, em entrevista exclusiva, bonita de
generosidades, a Iara Fernandes
E também-mais: Eabha Rose ● Maita Assy ● Germano Xavier ● James Wilker ● Rafael Kesler ● Carol Piva ● Toni McConaghie ● Karime Limon ● Little Eagle
McGowan ● Isabela Escher ● Tatiana Carlotti ● Zé Alfredo Ciabotti ● Sara Rauch ● Carol Caetano ● Paulo Cecílio ● Leonardo Valesi ● Marília Kosby ●
editorialEm giros, um ano depois, e revigorados! Estamos novamente
Equadores, aqui-neste número 4 que temos mais-que-honra
de trazer aos que nos leem. E (se) (re)confabulam. Gostam
de se embrenhar em páginas, palavras, folhas líquidas. Que
vêm e vão, se evaporam, ziguezagueiam, mas permanecem
— dentro. De muito que também — e que coisa!, isso do vi-
gor/revigor, era o que eu dizia — parece mesmo é que tudo
na gente “tem telescópios”, já poetava João Cabral de Melo
Neto. Telescópios. Que espiam a rua, espiando a alma e até
longe de nós uns mil metros. Te-les-có-pios. Dizendo do (re)
vigor o que na gente pulsa tão intenso quando se vão tecen-
do manhãs de literatura e arte, em flor, aéreas, à deriva, indo
livres de armação, em suas tênues teias — o mais importan-
te. Que é pra desdobrar a gente, bem no sentido deleuziano
de dobra, de umas tantas... querências. E de acreditamentos
impreteríveis: que gentes... existam sempre as-que sonha-
rão numa praia, sem saberem datas, fazendo seus aviões de
ideias, suas horas de mistério... Mesmo suas janelas de dor.
Ah...! Com a tarefa — deliciosa — de vir cá editorialista-hoje,
dou à estampa... que a gente retorna, neste 4º número, de vez
pra sempre(s), e que agora nos vamos pensando semestrais,
e que por conta dessa bem-boa reinauguração equadora ti-
vemos a alegria de conversar com o escritor José Eduardo
Agualusa, e que... minhanossa!, também foi sendo tanto
(inter)(con)texto dessa vez, e de novo, que... enfins... o tal re-
vigor vem é pra infinitar a gente de muitas bonitezas.
Nossas cinco editoras-convidadas participam com fatia
imensa desse revigor gostoso, em toda a sua temperança.
Eabha Rose, da Irlanda, abre pra nós este Equador muito
brilhantemente com o seu belo conto, alquimista-da-pala-
vra — ela. Iara Fernandes, nossa condessa-lis, é quem nos
oferta um punhado bom de prosa com o escritor Agualusa.
Isabela Escher, do Rio de Janeiro, nos poetiza em variadas
tessituras daqui em diante, e pra já! Toni McConaghie, que
apresento no “Brincando de fazer um quê”, é generosa-cá
ao nos cachoeirar com incrível universo artístico de cores,
traços, frestas e desvios. E a querida-bela Tatiana Carlotti
vem de Sampa, e de novo em sempres, nos dizer da pala-
vra, da escrita. Também ele, o grande idealizador-tudo des-
te bonito projeto-equador, Germano Xavier, nos convida
(-adentro) (em) Beckett’s. E a poeta Karime Limon, eter-
namente poética, nos apresenta mais um de seus poéticos
autores a serem apreciados e...e...e: Little Eagle McGowan.
Sara Rauch, Maita Assy, Marília Kosby e Carol Caeta-
no são as encantáveis escritoras-poetas cujos versos e sons
e texturas vêm pra sonhar a gente de literatura-esplendor.
Escrevem, ainda, cá-conosco Zé Alfredo, Paulo Cecílio,
Rafael Kesler, James Wilker e Leonardo Valenti —
êta-trato delicado com a palavra que dá mesmo gosto-além!
Vocês aqui conosco — com revigor, é assim que eu digo, em
respiração apaixonada e agradecida! Nesta e até a próxima,
Carol Piva.
issn 2357-8025 | fundado em março de 2012tiragem 1.000 exemplaresimpresso no Brasil | printed in Brazil
idealização e coordenação editorial | conception and editorial coordinationGermano Xavier (DRT BA 3647)
projeto gráfico, diagramação e traduções | designed and translated byCarolina Piva
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editores-chefes | editors-in-chief
Germano Xavier (Bahia, Brasil)Carolina Piva (Minas Gerais, Brasil)Karime Limon (California, United States)
editoras convidadas | guest editorsIara Fernandes (Minas Gerais, Brasil)Tatiana Carlotti (São Paulo, Brasil)Isabela Escher (Rio de Janeiro, Brasil)Toni McConaghie (Texas, United States)Eabha Rose (Dublin, Ireland)
textos, versos e prosas pra e com a gente for texts, swirls, and windows...to/with us
[email protected] [email protected] [email protected] fernandesiar@gmailcom [email protected] [email protected] [email protected] [email protected]
O Equador das Coisas é uma publicação semestral, independente e sem fins lucrativos. É todo ele janelas se abrindo a uma literatura o mais esquiva possível das tais “amarras-mercado” naquilo que faz a gente residuar desgostos. Propõe o diálogo com autores, seus textos e imagens, equadores que nos chegam, livre e deliciosamente, de acolás vários e, ainda, dos artistas convidados. Nossa paixão é pela escrita... palavras, sons, imagens e até os silêncios deles... este intercâmbio en-tre línguas e linguagens. O jornal ziguezagueia entre os t(r)atos editoriais no Bra-sil, Estados Unidos e agora, muito bonitamente, também na Irlanda. Uma honra-deliciúra! Tudo aqui publicado é de responsabilidade exclusiva de seus autores.
O Equador das Coisas, a biannual independent journal of literature/arts, features Brazilian and international writers, poets, artists. Launched in 2012 as a nonprofit publica-tion, it is against the so-called “market motives and motifs” that limit and annihilate the (re-demptive) power, (enthralling) aesthetics, and (vital) praxis embedded within art. Creative writing and its gleaming interstices/sparks are our passion! Then here it is, a collaboration between editors from Brazil, United States, and Ireland. Contributions can be submitted at any time to the editors. Artists are responsible for the statements made in their texts/pieces.
Lama por todo lado nas botas dele. Outono, fim de
tarde. Passos de pessoas se apressando. Multidão
a cujos pés — na toada, prosseguindo — os dele
então se juntavam. E iam, em cadência. Ele atra-
vessava o parque como se tivesse destino algum.
Ou plano, qualquer que. Em tempo, um tempo,
tempo de. Era quando ela dava o ar da graça. Aqui.
Ele ainda sentia. De tanto ela ali, por perto, tanto
que ele até gracejava. Cores bem vivas. Enquanto
ela, como se pirilampeasse, ia de canto a outro no
carrossel, volteando, volteando, a perder de vista.
No banco, já sentado, ele tentava acabar o san-
duíche. Dali a pouco, guardaria o resto em papel
celofane. E o embrulho, metido bolso adentro.
Um Outro — por ali, sacola de plástico em mãos
— alimentava os patos. “Engraçado”, ele dizia de si
para si, “como a vida de algumas pessoas parece
mesmo planejada, meticulosamente...” E é. Elas
chegam com suas comidinhas para os patos, mui-
tas delas trazem à frente seus cachorros, e suas
crianças, e livros, e almoços. E, em tudo, isso vem
empacotadinho. Linhas sem desvio. Coisas assim.
Inenarráveis eram as sensações. Isso, por exemplo,
de ela já ter-se sentido até fictícia. Mas as lem-
branças estavam em fragmentos. Feito lama, sem
fim. Esmagadas como folhas, sem viço. Ele tinha
estado com ela nos braços pela última vez fazia
já muito tempo. Em pequenina, dois eram os anos
dela quando. A mãe, aos berros. Arrancando ela
dele antes que ele cambaleasse de vez. E despen-
casse. Cabeça girando, o coquetel de pílulas, o
álcool. Aturdiam. Ele passaria os meses seguintes
em reabilitação. Recompunha-se, mesmo depois
de algumas vezes ter tentado esfaquear de si a dor.
A rua e seus passantes, o violão e ele. Sobreviven-
do, como dava. E de família a outra, ia sendo.
Ali, àquela altura, ele avistava. Ela. Cabelo ao ven-
to, comprido. Braços abertos, tão disponíveis. Em
direção... Ah, aos amigos. Dela. E, de novo, a cena.
Ela. Correndo. Ia toda ela. Para o carrossel. Ele.
Assistia, de frente. Rostinho iluminado pelo vento
que lhe esvoaçava os cabelos. (Entre)tempo(s).
De pé, ele abotoou o casaco, meteu a mão no bolso.
E se pôs a alimentar os pássaros.
The mud was thick on his boots. It
was autumn, late afternoon. People
hurried past. He joined the throngs,
crossed the park in a straight line like
he too had a destination, a plan. It was
her time to be here. He knew it. He’d
watched her here before, laughing
as she jumped on and off the round-
about, spinning in and out of view.
Sitting on the bench, he tried to finish
his sandwich before wrapping the re-
mainder in cellophane and shoving it
in his pocket. A man carrying a plas-
tic bag was feeding the ducks. Funny,
he thought, how some people’s lives
are so carefully planned. They arrive
with food for the ducks, dogs on leads,
wrapped up children, books, lunches.
This elusive thing, how she’d felt un-
real at times, the memories fragment-
ed, as if they’d been pulled through
the mud, crushed like dead leaves.
The last time he’d held her she’d been
two years old. Her mother had pulled
her out of his arms, screaming, before
he’d staggered across the floor, head
spinning from the cocktail of pills
and alcohol. He’d spent the next few
months in rehab, tried a few times to
cut the pain out with a knife before
taking up guitar, playing to the pass-
ersby and moving from one family
to the next.
And then he saw her, long hair
swaying, arms outstretched. She ran
towards her friends, jumped on the
roundabout. He watched her face
light up as the wind caught her hair.
He got to his feet, zipped up his coat,
dug in his pocket and began to feed
the birds.
O artista de ruaThe Busker,
por Eabha Rose
Q
e2
Ela vinha arrastando umas chinelas, quando a avis-tei. Atravessava a pracinha pelas sombras tão lenta-mente que o tempo quase parava. Aquela velha maltra-pilha andava como se não fosse a lugar algum. Passava os olhos no chão, varrendo sem interesse. Um costume, talvez. Suas roupas rotas, escuras como a sua pele, pare-ciam desprender do seu corpo, despetalar. Uma sombra pelas sombras, foi isso que atraiu minha atenção. A au-sência de sua presença, como folhas mortas.
Havia chovido muito, mas o sol quente já tornava a manhã escaldante. Tanta coisa pra fazer, sendo enume-rada, uma a uma, numa lista mental. E o carro estacio-nado junto ao meio fio. E o calor já devia estar sufocante dentro dele. E, mais uma vez, a velha aparece. Saiu da praça e foi se agachar no meio da rua. Como será a ma-nobra do carro, se ela não sair de lá?
Estava diante de uma poça d’água onde ela enfiava as mãos. Lavava as mãos? Seus braços foram se moven-do como garranchos até conseguir se sentar de costas, na beira daquela água parada no asfalto. Não entendi nada. Ia ficar ali? Não ia. Continuou quebrando cotovelos, pu-nhos, ombros, pescoço até se deitar na poça que cabia seu corpo, fora as pernas e a cabeça.
Os olhos dela, arregalados, se agitavam, concentra-dos dentro do que lhe acontecia. Da boca à testa, con-torcia. Esforçava-se inteira para entrar na poça d’água, sustentar o pescoço, erguer as pernas.
Por que tamanho esforço? Se queria um banho, será que não se lembrava do rio ali pertinho? Viera daquela direção, lá da beira das águas claras, correntes, refres-cantes. Será que se perdia em cada lugar, a ponto de es-quecer por onde passara?
— O rio está logo ali...— Água quente... — escapou dela baixinho e sucinto.Água quente, rara pelas ruas. Com os ossos travados
da noite fria de chuva, ela achou. E catou.
Com as sinceras e efusivas pala-vras de sempre, digo com veemên-cia: é deprimente visitar as sessões legislativas da desordenada Câma-ra Municipal de Mediocrenópolis. Chegamos ao pequeno e antigo prédio, acomodamo-nos em precá-rio e desconfortável assento. O es-paço é apertado, sufocante; não há lugar disponível nem mesmo para 1% dos mais de 80 mil cidadãos mediocrenopolenses. O ambiente é defasado e decepcionante; recin-to totalmente inapropriado para abrigar sede do Poder Legislativo.
Samuel me assombrará no instante das cabeceiras mornas, sonolentas ainda, em acordes de manhã desdormida. Ele me dirá que não é assim que devo olhar as coisas dessa vida e que a vida é mesmo uma junção de esperanças... mesmo esperanças fajutas, mas esperanças. Eu acordarei so-bressaltado, quase indiferente, porque sou um mero mortal e desfaço uniformidades de unhas de pé. Aí o Samuel me dirá vai, e eu ainda dormindo em mim. Samuel dizendo já chega e que já é hora de levantar para a vida, e que é hora já de não haver mais horas, nem tempos, nem aqueles medos medonhos e medíocres de viver e ser feliz por ser simplesmente o que realmente somos... e eu despertando, paulatinamente, um passo de cada vez, um cílio de cada vez, ainda confuso, atur-dido em me prestar ouvidos logo pela matina viva e justo ao homem que li na madrugada inteira, insone. Samuel apontará os indicadores magrelos e sem vida aparente para a lâmpada do meu aposento e me dirá acenda, e me dirá brilhe, e me dirá clareie. E eu, levantando o corpo pesado, toneladas de pensamentos, direi que estou, que apenas estou e que ouço a palavra verde da vida, verve que quero no dorso carregar, no vulto e casa que sou. Ele, o homem que li na madrugada de hoje, levantar-se-á da cabeceira morna e começará a caminhar caminhos ao meu lado, me dizendo dizeres de pássaros, mesmo aqueles sem asas, mas pássaros. E na revolta dos meus frios, dirá siga e que eu consiga ser o que sempre quis e sempre desejei e sempre sonhei para mim. E me dirá que a vida é aquele galho que se rompe, talisca, fina, que se acende, gás, torto, que se perde fluido, morte. Dirá, o Samuel, que a vida é morte e que morte sempre haverá de existir para quem se vive a vida, do jeito que se quer viver, independente de tudo. E eu já de pé, ligeiramente acordado em acordos, percebendo que o fim sempre está na partida, e que um dia tudo há de acabar e ter a sua partida e não o seu fim, porque tudo que acaba não acaba, apenas parte, apenas parte... apenas é parte de uma água quebrada capaz de unir-se e fazer-se oceano, imensazul de cores, todas transformadas em azul. Dirá lute, o Samuel, dono de conselhos mil em monossílabos complicadíssimos, mas que os sentidos os decifram, porque literatura é também suor e testa franzida e retesada, dor de cora-ção que se abre e de girassol que se curva. Samuel insistirá eternamente a passear passos ao meu flanco esquerdo, avisando olhe o perigo e tocando meus ombros não é por aí... e eu modelando per-plexo a vida que se instaura estância, instância feita de instantes e sangues no papel, aqui, em mim, dentro, fundo, poço, calabouço de mim, masmorra de mim, guilhotina de mim, foice de mim que corta cortes no breu do mundo e que me separa o joio e que me diz vale o joio, não apenas o trigo. Ah, Samuel, você não acha mesmo que vou te esquecer assim foi só um momento, não é? Eu que te provo o gozo de meu deleite no pobre texto que agora redijo, mas que é alma pura o meu texto. Alma pura, Samuel... Eu que sempre lembrarei na revolta dos meus frios, que você, Samuel, você, dirá siga e que eu consiga ser o que sempre quis e sempre desejei e sempre sonhei para mim. Eu que sempre lembrarei você, que me dirá que a vida é aquele galho que se rompe, talisca, fina, que se acende, gás, torto, que se perde fluido, morte. Você, Samuel, que me dirá que a vida é morte e que morte sempre haverá de existir para quem se vive a vida, do jeito que se quer viver, independendo de tudo. Eu que sempre recordarei do dia em que eu, já de pé e ligeiramente acordado em acordos, percebi que o fim sempre está na partida, e que um dia tudo há de acabar e ter a sua partida e não o seu fim, porque tudo que acaba não acaba, apenas parte, apenas parte, Samuel...
O horário de início da reunião legislativa é ilógico e o habitual atraso ou a injustificada falta de alguns vereadores são fatos absolu-tamente insultuosos para com o público pre-sente. A maior parte da discussão de projetos de leis é implacavelmente entediante e os discursos de alguns edis no plenário demons-tram o quanto seus déficits de vocação políti-ca são manifestos, evidentes. Insensatos vere-adores que deveriam elaborar leis de grande relevância e utilidade municipal, preguiçosa e desleixadamente apenas propõem inócuas mudanças de nomes de ruas ou tragicamente aprovam desnecessário aumento de imposto ou, ainda, “debatem”, de maneira infrutífera, temas sem nenhuma importância político-social. Frequente e ridiculamente, utilizam a tribuna para manifestar seus esdrúxulos e eleitoreiros atos de clientelismo, politicagem, politiquices, etc. (homenagear “apadrinha-dos” é fato bastante costumeiro). Há certo cli-ma de algazarra na bizarra reunião.
Alguns vereadores ociosos, muni-dos de sua inabilidade típica, fa-zem... simplesmente nada; a cena é absurda e eles, o desprezível bando de políticos corruptos e desprepa-rados. Legisladores mediocrenopo-lenses, obrigatoriamente, deveriam buscar o bem da coletividade, o aprimoramento da saúde, da edu-cação e da infraestrutura local nas mais diversas áreas. Lamentavel-mente, ao invés disso, o que solici-tam são patéticas, diversas e dispen-sáveis “pausas de 10 minutos” para um cafezinho ou para gozar o ócio, desperdiçando precioso tempo que poderia ser usado em prol de pro-postas e benefícios para a sofrida e subdesenvolvida Mediocrenópolis.
O site da Câmara Municipal mediocrenopolense é tra-gicômico, repleto de textos mal escritos, verdadeiras “pérolas”! Há uma seção com informações sobre cada edil. Com português deplorável, lá você pode vislum-brar quão pouco a maioria dos vereadores faz pela ci-dade medíocre. Entretanto, a pior mazela desta Casa Legislativa é o infame conchavo que parte expressiva dos vereadores faz com o abjeto prefeito. E ficam gra-vemente maculadas as estruturas e atribuições do ór-gão, sem a devida fiscalização do Poder Executivo. Há, digamos, um “excesso de harmonia” entre Legislativo e Executivo. Este impiedosamente domina aquele. Em decorrência disso, quem sai perdendo é a pobre e desam-parada população. Comissões Legislativas de Inquérito (CLI’s) são empurradas rapidamente para o “arquivo” por causa da submissão de covardes vereadores peran-te o ignóbil prefeito. Tudo o que este solicita é atendido servilmente. Mediocrenópolis é uma cidade sem infra-estrutura e devastada pelo caos, pela corrupção e pela incompetência governamental. A saúde é medíocre; a educação, lamentável; as ruas, esburacadas; as reparti-ções públicas, sucateadas. E a devassidão administra-tiva é, de fato, abundante... Quem é que assassina, que trucida brutalmente a cidade? E os cúmplices do crime — quem são? Eis como a grotesca vida mediocrenopo-lense segue... Sem muitas novidades.
Mediocrenópolis
e sua vergonhosa Câmara
Municipal,
por Rafael Kesler
Mediocrenópolis
e sua vergonhosa Câmara
por Maita AssyPu
ro a
chad
o,Samuel e eu, por Germano Xavier
por Rafael Keslerpor Rafael Keslerpor Rafael Kesler
Enfiaram o dedo no rabo da História. Botaram pra ferver o caldeirão da Mentira.
Mandaram pra “mamãe” que os pariu o resto da Política.E xingaram que a Filosofia não dizia nada.
Carnavalizaram a Seriedade do povo. Vomitaram a Esperança verde-amarela.
Jogaram merda na cara da Revolução vermelha E deram descarga no que sobrou de Ética e Moral.
Entupiram os canos do Conhecimento.Enlamearam a Arte com putaria de mau gosto. Botaram no pagode a Inteligência tupiniquim...
Cantaram: To be or not to be, eu te como!!E comeram mesmo, por trás, o nosso bom senso.
Um tchú pra cá, um tchê pra lá, e o Brasil ficou de Quatro.
Olha só o que eles
Maita Assy, professora de Jornalismo da Universidade do Estado da Bahia e uma das fundadoras do pt em Juazeiro. Diz dela o nosso Germano Xavier que “decerto ela não anda mais de Aero Willys por aí, mas sempre chega para lecionar no seu Passat verdinho da década de 80, com o adesivo do Lula no para-choque dianteiro e um Minister entre os delicados dedos...”
Esta é uma das estórias do livro de contos Sombras adentro, que está no prelo e será publicado em breve-brevíssimo.
James Wilker Freire Machado, 26, de Jussara-ba, é formado em Letras, poeta e professor de Literatura e Filosofia. Or-ganizador do Grupo Filosofia de Botequim, foi um dos fundadores do jornal Santo de Casa e da revista eletrônica Aos 4 Ventos.
Rafael Kesler, 24, é mineiro de Araguari e estuda Letras e Direito. Ganhou, por duas vezes consecutivas, o Concurso Nacional de Contos Abdala Mameri. E escreve, às terças e quintas-feiras, para o jornal Diário de Araguari.
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uel Beckett, para Marcos Élder Parente
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Olha só o que eles fizeram, por Jam
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Qe 11
escrevo porquepalavras são asas
prostitutas sem corpo
carregando
cruzes e sangue roxo chagas recentes ou velhas e podres
palavras são pedras
voando entre foguetes e mísseis que riscam o tempo
recebem
no silencio do ventomeus queridos guris do congo
despejam
afagos nos colos tantos das meretrizes mudas sem grito
talveznum tempo mais delicado
em praia alva e planaentre incensos e fogos
meu insano espírito cale-se em sono.
por Paulo Cecílio3
escrevo porquepalavras são asas
prostitutas sem corpo
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cruzes e sangue roxo chagas recentes ou velhas e podres
palavras são pedras
voando entre foguetes e mísseis que riscam o tempo
recebem
no silencio do ventomeus queridos guris do congo
despejam
afagos nos colos tantos das meretrizes mudas sem grito
talveznum tempo mais delicado
em praia alva e planaentre incensos e fogos
meu insano espírito cale-se em sono.
Prestes a não mais temer nadatemo tornar-me o tempo que me transborda.Peço, Senhor, que me dê do tempoa origem das carícias que aprecio:deixe-me as almas sobre o colodeixe-me às mãos renunciarde forma que os cabelos se afaguempelos quentes atrativos de meus olhosseus quentes clamores como são quentes os colosdeixe-me a maternidade sobre os pedaços incorruptíveisde natureza inanimada.E deixe-me, por fim, Pai de minhas cordas vivas,a corrupção das coresa corrupção dos tempose o mármore dos pensamentosnuma pequena cesta disposta sobre as mãosde quem a mim possa deitara alma sobre o colo.
1pr
ece d
o po
ema,
Deixa a luz do céu entrarJanela de mimEspelho da festaDeixa a luz do céu entrar
Eu vim buscar nos teus senõeslua nova e mansidãoVim colher no teu sorrisomadressilvas e porquês
Vim pra tudo ter que aprendera não saberPra ser veredae vendavalTe dar a semente, o soproe o sal
Do jeito de semprefirme, disformeeu venho vindo assimcomo quem vai embora
vind
a, po
r
4
Marília Kosby
o passo atravessa o muro o mundo acelera o peito
o furo desperta o sentimento o sentido enobrece o passo
o caminho é leve não se pode arrancar
um chão nem destampar as crenças
o sorriso fragiliza o olho o silêncio entorna o afago o medo desobedece o veio
o olho conhece o gesto o plano volta aberto
não se quer afastar uma raiz
nem abandonar histórias
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Marília Floôr Kosby, antropóloga e poeta, n
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em 1984
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2011, publicou seu primeiro livro, O
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estrela, porLeonardo Valesi Valente
por Carolina Caetano
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Prestes a não mais temer nadatemo tornar-me o tempo que me transborda.Peço, Senhor, que me dê do tempoa origem das carícias que aprecio:deixe-me as almas sobre o colodeixe-me às mãos renunciarde forma que os cabelos se afaguempelos quentes atrativos de meus olhosseus quentes clamores como são quentes os colosdeixe-me a maternidade sobre os pedaços incorruptíveisde natureza inanimada.E deixe-me, por fim, Pai de minhas cordas vivas,a corrupção das coresa corrupção dos tempose o mármore dos pensamentosnuma pequena cesta disposta sobre as mãosde quem a mim possa deitara alma sobre o colo.
Deixa a luz do céu entrarJanela de mimEspelho da festaDeixa a luz do céu entrar
Eu vim buscar nos teus senõeslua nova e mansidãoVim colher no teu sorrisomadressilvas e porquês
Vim pra tudo ter que aprendera não saberPra ser veredae vendavalTe dar a semente, o soproe o sal
Do jeito de semprefirme, disformeeu venho vindo assimcomo quem vai embora
o passo atravessa o muro o mundo acelera o peito
o furo desperta o sentimento o sentido enobrece o passo
o caminho é leve não se pode arrancar
um chão nem destampar as crenças
o sorriso fragiliza o olho o silêncio entorna o afago o medo desobedece o veio
o olho conhece o gesto o plano volta aberto
não se quer afastar uma raiz
nem abandonar histórias
por Carolina Caetano
palavras,por Paulo Cecílio
Marília Kosby
vind
a, po
r
Leonardo Valesi Valenteestrela, por
prec
e do
poem
a,
4
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