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XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística”

Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.

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O IMPACTO DAS FERRAMENTAS DA

QUALIDADE NA GESTÃO DA

MANUTENÇÃO: ESTUDO DE CASO EM

UMA EMPRESA DE TRANSPORTE

PÚBLICO

Pablo Franco da Silva (Unisinos )

[email protected]

Jayme Diego Silva Peixoto (Unisinos )

[email protected]

O artigo relata um estudo de caso de melhoria na gestão da

manutenção de uma empresa de transporte público por meio da

implementação de ferramentas da qualidade. A empresa está situada

na capital do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Para a realização

do estudo, foram realizados levantamentos de dados por meio de

visitas técnicas à empresa. Os dados obtidos foram analisados e

expostos de forma a demonstrar o impacto gerado pela mudança na

gestão da manutenção, tendo como principal fonte de mudança, a

implantação de ferramentas da qualidade. O estudo limita-se a uma

empresa, contudo, a partir de dados públicos pode-se verificar que os

resultados frente às empresas concorrentes são relevantes e passíveis

de uma investigação mais ampla. A fim de conservas informações

sigilosas, não foram expostos dados referentes aos nomes das empresa

e períodos de ocorrência das mudanças, assim como detalhes

competitivos sobre as ferramentas utilizadas. O presente trabalho visa

contribuir com a gestão da manutenção de frotas, possibilitando uma

visão mais ampla a cerca da utilização de ferramentas da qualidade na

melhoria do transporte público de pessoas.

Palavras-chave: Transporte Público, Ferramentas da Qualidade,

Gestão da Manutenção, Indicadores de Eficiência

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1.Introdução

Segundo o instituto (NTU, 2017), aproximadamente 30% das empresas brasileiras de

transporte público possuem dívida ativa superior a 40% do faturamento anual. O sistema de

transporte público urbano é uma questão de suma importância em grandes metrópoles.Estudos

sobre o tema foram realizados, e sistemáticas propostas para melhorar o nível de

serviço.(VANALLE; LUCATO; RODRIGUES, 2016). A manutenção, como parte integrante

de suporte ao sistema de operação de transporte público, necessita de mais atenção por parte

dos gestores. (PRAJAPATI; BECHTEL; GANESAN, 2012). Na gestão de empresas

prestadoras de serviços para o transporte público, os custos são fatores chave, e a manutenção

tem um impacto relevantes frente este fator. A falta de foco na gestão dos indicadores de

eficiência são problemas comuns nas operações de manutenção. (PHOGAT; GUPTA, 2017).

Para o aumento da eficiência, a gestão da manutenção,no estudo realizado, utilizou a

implementação de ferramentas da qualidade. A necessidade de um diferencial na busca por

melhores resultados instigou a gestão a tal decisão. As ferramentas da qualidade podem ser

implementadas no gerenciamento da manutenção, nos planos estratégico, tático e operacional,

de forma contínua e progressiva.(ALJUMAILI et al., 2015). Foi realizado um levantamento

teórico para sustentar as ações implementadas no estudo de caso. A empresa, assim como o

órgão regulamentador apresentado, foram a base de coleta de dados que, analisados,

possibilitaram a obtenção dos resultados desta pesquisa. Na conclusão, obteve-se como

positivo o uso de ferramentas da qualidade na gestão de manutenção de frotas.

2. Referencial teórico

2.1.Custos de manutenção no transporte público

Qualidade e produtividade são dois pilares na prestação de um serviço que atenda as

necessidades dos usuários com preço justo e sem maiores prejuízos aos órgãos públicos

responsáveis.(NTU, 2018). Os custos de operações para o setor de transporte público

aumentaram significativamente a partir da virada do século, o óleo diesel, que é o principal

insumo para a operação, teve um aumento de 193,4% de 1999 a 2018, sendo superior ao

aumento da gasolina e 248,8% superior a variação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao

Consumidor Amplo). (NTU, 2018). Com o aumento no custo dos insumos, as empresas de

transporte público necessitam aumentar a qualidade das suas operações internas visando

reduzir os custos totais. O setor de manutenção é um dos locais onde as empresas podem

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buscar novos métodos de gestão para atingir o equilíbrio entre

lucratividade e qualidade na prestação do serviço. Segundo Vanalle, Lucato eRodrigues

(2016), a qualidade e eficiência dos sistemas de transportes são fatores críticos no

gerenciamento de operações e bons resultados dependem especialmente da manutenção.

2.2.Manutenção e o impacto na eficiência

A manutenção preventiva e a qualidade da manutenção no nível de reparo são fundamentais

quando o ativo em questão está relacionado a uma frota. (RAWAT; LAD, 2017).Como as

demandas sobre a qualidade dos serviços de ônibus e o custo de manutenção dos ônibus são

crescentes, melhorias de manutençãorefletem diretamente na competitividade das empresas

do setor.(LEUNG; LAI, 2003).

Usualmente, um desempenho satisfatório na manutenção não tem o reconhecimento

necessário para os demais gestores da organização. Contudo, a conexão entre ideias que

resultem em resultados na qualidade, exercidas por profissionais de manutenção, podem

apresentar melhorias nos indicadores de desempenho nos processos.(MALMIPURO, 1994).

Estudos recentes integram ferramentas da qualidade com aplicações de

manutenção.(BATAINEH et al., 2019). A carência de estudos que destaquem as dificuldades

na implementação de ferramentas de manutenção em países em desenvolvimento tende a

dificultar a identificação de problemas nessa etapa. (ABDALLAH, 2013).Subjetividade nas

medições de eficiência por parte dos especialistas em manutenção, dificultam a tomada de

decisão pela imprecisão dos dados de entrada. (RANA; KOROITAMANA, 2018).

As atividades de manutenção preventiva, bem como as preditivas, estão diretamente

relacionadas à disponibilidade, ao aumento nos resultados e na melhoria da qualidade.

(SHARMA; KUMAR; KUMAR, 2006).A manutenção preventiva tem efeito direto na

redução de paradas, ampliando o tempo entre manutenções corretivas, assim como a

velocidade na realização dos reparos. Um bom programa de manutenção, por meio do

histórico do equipamento, clarifica a identificação de problemas. (GUPTA; TEWARI;

SHARMA, 2009).A manutenção preventiva, quando da vida útil de sistemas relacionados a

frotas, tem impacto direto nos resultados. (RAWAT; LAD, 2017).

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2.3.Ferramentas da qualidade

Dentre as ferramentas da qualidade identificadas no estudo estão o Ishikawa, Gráfico de

Pareto e checklist. O Diagrama de Causa e Efeito, conhecido amplamente por Ishikawa, é

uma ferramenta direcionada para identificação de causas raízes de problemas organizacionais

específicos. Funciona como um instrumento de resolução de problemas e ampliado para além

da qualidade, englobando a empresa como um todo. (SUÁREZ-BARRAZA; RODRÍGUEZ-

GONZÁLEZ, 2018).

O checklist, uma ferramenta básica da qualidade, que quando seguida adequadamente tende a

resultar em ganhos diretos. A manutenção é um setor beneficiado pela implementação de

checklists. Uma lista de pontos relevantes, o checklist,utilizado naidentificação de problemas

específicos, organizados conveniente de maneira condensada,é uma ferramenta válida e útil

para os gestores.(CLAY, 2008). Uma análise detalhada do nível de reparo é fundamental na

definição dos resultados de frotas. (RAWAT; LAD, 2017). Neste contexto, o checklist, além

de ser uma ferramenta de simples implementação, tende a possibilitar a obtenção de

implicações positivas. Tanto na operação, quanto como nas decorrências gerenciais.

Uma ferramenta de priorização para identificar o possível foco de melhoria é o Gráfico de

Pareto.(MURUGAIAH et al., 2010). Gráfico direcionado para apoiar a tomada de decisão,

apresentando hierarquicamente as variáveis e atributos que mais contribuem para a perda da

qualidade. (HAJI; SARYAZDI; GHAVIDEL, 2018). Tais ferramentas, quando aliadas,

resultam em um sistema de suporte à gestão e padronização das atividades e coleta de

informações, fundamentais para a construção dos indicadores.

2.4.Indicadores na gestão da manutenção de frotas

A avaliação do sucesso ou fracasso da implantação de uma melhoria, deve ser medido por

meio de indicadores suficientes para análise dos resultados.Os principais indicadores das

empresas refletem os resultados das melhorias aplicadas nos processos de

manutenção.(MACIÁN et al., 2010). A criação dos indicadores é influenciada pelos objetivos

e metas da empresa e refletem no planejamento e execução das atividades empresariais.

(NASCIMENTO et al., 2011).A utilização de indicadores contribui diretamente no controle

das operações, proporcionando a empresa oportunidades de planejar melhorias mais eficazes

aos seus processos. (MARTINI; ZAMPIN; RIBEIRO, 2015).

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O número de retrabalhos, representa a quantidade de serviços que

tiveram que ser refeitos em um período específico.O retrabalho é uma atividade que busca

atender os requisitos que não foram alcançados na primeira execução, impactando

diretamente na margem de lucro e na competitividade da empresa perante ao mercado. É um

minimizador de eficiência da empresa, poisdesperdiça tempo e dinheiro.(SOUZA et al.,

2017).

O MTBF (Mean Time BetweenFailure) é um indicador amplamente aceito entre os gestores

de manutenção. (LIMA, 2014). Para a referência em quilômetros, o índice indicado como

MKBF (MeanKilometerBetweenFailure) é definido como o total de quilômetros percorridos

dividido pelo total de falhas no período, buscando definir a média de quilômetros entre cada

avaria.(BUBICZ; SELLITTO, 2014; FALCONE; SILVESTRI; DURACCIO, 2003;

SANTOS, 2007)

Para garantir o desenvolvimento eficaz da empresa, estratégias viáveis de manutenção devem

ser alinhadas a um sistema de medição de eficácia. (LIMA; SANTOS; SAMPAIO, 2010). O

acompanhamento dos indicadores de eficiência possibilita ações que busquem reduzir as

ineficiências.(ANTUNES JR. et al., 2008). O setor de manutenção deve otimizar os recursos

disponíveis. (SHERWIN, 2000).O sucesso de uma empresa é diretamente dependente da

eficácia de gestão das atividades realizadas por ela. (DE SOUZA, 2012).

3. Estudo de caso

A condução do trabalho de pesquisa deve ser realizada com o rigor metodológico, justificando

a pesquisa por meio da definição de métodos e técnicas de coleta e análise dos dados.

(MIGUEL, 2007). A falta de rigor em pesquisas de estudos de caso pode influenciar no

significado das descobertas e conclusões. (YIN, 2015). Os estudos de caso direcionam-se para

pesquisas onde o argumento conceitual e seletividade da qualidade das informações

apresentadas necessitam de robustez. (SIGGELKOW, 2016). Estudos de caso tradicionais tem

como objetivo auxiliar na compreensão de fenômenos, visando como resultado a explicação

por meio de uma base empírica obrigatória. (LACERDA et al., 2013).

Para essa pesquisa foram utilizados dados coletados por meio de um estudo de caso com foco

na análise da melhoria dos indicadores de uma empresa de transporte público da cidade de

Porto Alegre/RS. Utilizando adaptação dos processos, ferramentas da qualidade e análise de

dados gerados pelo sistema de controle de manutenção da empresa.A empresa possuí um

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software que controla a quilometragem percorrida por cada

veículo, o consumo de combustível e principalmente os serviços que são realizados nos

veículos buscando controlar indicadores de retrabalhos, eficácia e falhas. O controle por meio

da quilometragem possibilita o acompanhamento das revisões preventivas ou corretivas no

veículo. Essa informação é utilizada para avaliar a qualidade das peças que foram utilizadas

na manutenção anterior, dos serviços realizados pelos profissionais de manutenção, e a

habilidade dos motoristas que dirigiram o veículo nesse período específico.

3.1.Descrição da empresa

A empresa estudada será chamada por convençãocomo Empresa 1. Com sede em Porto

Alegre/RS, é uma das empresas pertencentes ao consórcio que atende o transporte público

coletivo urbano.Possui 102 ônibus em sua frota, aproximadamente 500 funcionários, e atende

as linhas da zona sul da cidade 24 horas por dia, com grande pico de prestação de serviço no

início da manhã e final de tarde. Destaca-se pela aplicação de ferramentas da qualidade na sua

gestão de manutenção, proporcionando a diminuição de custos e despesas e ampliando a

disponibilidade da frota.

3.2.Órgãos regulamentadores

As linhas atendidas pela empresa são definidas pela Empresa Pública de Transporte e

Circulação (EPTC) e pelo Consórcio que a empresa pertence. Independente da lotação dos

veículos, o não cumprimento dos horários acarreta a multas e custos.A EPTC e o Consórcio

possuem um programa de qualidade, onde são estimadas metas para as empresas. A principal

meta destacada é o número de falhas dos veículos no trecho. A quantidade de falhas

permitidas é 20% do total de veículos da frota de cada empresa. O Consórcio da Zona Sul é

constituído por quatro empresas (Empresa 1, Empresa 2, Empresa 3 e Empresa 4).

Falhas mecânicas no trecho acarretam multas, despesas e custos a empresa. Para cada trajeto

cuja falha seja evidenciada, a empresa é multada pela Prefeitura Municipal. Além das multas,

o valor pago pelos usuários que estavam no coletivo durante a ocorrência, não são repassados

à empresa. Outros custos ocorrem na realização do socorro ao veículo (mecânico,

combustível, peças temporárias, perda de produtividade na pista de manutenção por

diminuição da equipe).O custo médio estimado para cada quebra no trecho é de R$ 870,00.

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As intervenções de manutenção preventiva estão diretamente

relacionadas ao ano de fabricação e quilometragem, visando evitar manutenção corretiva ou

uma falha durante a operação.

4.Desenvolvimento

4.1.Cenário inicial

Considerando os indicadores da empresa, no primeiro ano, a Empresa 1 estava apresentando

como resultado 243 registros de retrabalhos. AEficácia da Manutenção estava em 98,99% e o

MKBF em 264.694,25 Km. Na visão dos órgãos regulamentadores a Empresa 2 apresentava o

melhor resultado, com 27 falhas no ano. Na sequência, a Empresa 1 com 30 falhas, a Empresa

4 com 56 e a Empresa 3 com 59 falhas.

Na realização do estudo de caso, a identificação da equação utilizada para o cálculo de

Eficácia de Manutenção da frota, na Empresa 1, é descrita pela formulação apresentada:

Onde, pela medição do número de serviços realizados, os serviços de retrabalho, subtraídos

dos serviços realizados, quando dividido pelos serviços realizados, resultam na Eficácia de

Manutenção Percentual.Para o cálculo de MKBF, foi identificada na seguinte equação:

Os indicadores supracitados são calculados pela empresa para fins gerenciais. Pois impactam

diretamente na gestão voltada para os resultados. No entanto, os órgãos regulamentadores

utilizam uma métrica mais ampla, representada pela equação:

Onde o simples somatório de falhas no trecho, define o desempenho da empresa frente ao

contrato. A métrica tem uma relação mais íntima com o impacto do serviço na sociedade, os

Quantidade de falhas no trecho = 𝐹𝑎𝑙ℎ𝑎𝑠 𝑛𝑜 𝑡𝑟𝑒𝑐ℎ𝑜𝑛𝑘=1

MKBF = 𝑄𝑢𝑖𝑙𝑜𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜𝑠 𝑝𝑒𝑟𝑐𝑜𝑟𝑟𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑛𝑜 𝑝𝑒𝑟 í𝑜𝑑𝑜𝑛𝑘=0

𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑓𝑎𝑙ℎ𝑎𝑠 𝑚𝑒𝑐 â𝑛𝑖𝑐𝑎𝑠 /𝐸𝑙é𝑡𝑟𝑖𝑐𝑎𝑠

Eficácia de Manutenção = 𝑆𝑒𝑟𝑣𝑖 ç𝑜𝑠 𝑟𝑒𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑜𝑠 −𝑆𝑒𝑟𝑣𝑖 ç𝑜𝑠 𝑟𝑒𝑡𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙 ℎ𝑎𝑑𝑜𝑠

𝑆𝑒𝑟𝑣𝑖 ç𝑜𝑠 𝑟𝑒𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑜𝑠

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clientes, que na saúde da operação da empresa prestadora de

serviço. Esta, por sua vez, precisa de ferramentas gerenciais e de melhorias específicas para

manter a sustentabilidade.

4.2.Ações de melhoria

A primeira ação foi aplicada durante o ano 2 por meio da modificação no processo de vistoria

dos veículos. Anteriormente, cada mecânico revisava os veículos que ele iria realizar os

serviços.Assim, diversas atividades deixavam de ser realizadas e o veículo era liberado com

defeitos, resultando em retrabalhos, manutenções corretivas e falhas mecânicas/elétricas no

trecho. Após análise, foi identificada a necessidade de um vistoriador independente em local

separado. Após realizada essa vistoria, o veículo era deslocado para a pista de manutenção,

ondeexecutava-se a ordem de serviço. Com essa mudança do processo, verificou-se a

diminuição dos retrabalhos e consequentemente o aumento da eficácia da manutenção. Porém,

o índice de MKBF teve uma queda considerável nos anos 2 e 3.Utilizou-se um diagrama de

Ishikawa a fim de identificar as possíveis causas na queda do indicador. Participaram da

montagem do diagrama: o vistoriador, o mecânico de pista mais experiente, o coordenador de

manutenção e o gerente de manutenção. O resultado pode ser observado na Figura 1.

Figura 1- Diagrama de Ishikawa

Fonte: Adaptado a partir do padrão da empresa (2019)

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Após a criação e análise do Ishikawa verificou-se que o

mecânicoresponsável pela realização da vistoria nos veículosnão indicavatodas as atividades

que deveriam ser realizadas. Verificou-se que anteriormente cada mecânico realizava a

vistoria nos veículos cujo quais tinham mais experiência, assim atividades críticas sempre

eram realizadas. O Gráfico de Pareto foi utilizado na verificação dos modelos que

apresentaram mais falhas no trecho. Após a análise do gráfico, foi verificado que dois

modelos específicos tinham mais falhas no trecho: o Modelo B e o Modelo C, ambos veículos

com motor traseiro, cuja experiência do mecânico vistoriador era mais restrita.A Figura 2

ilustra o resultado obtido no Gráfico de Pareto.

Figura2 -Gráfico de Pareto- Quebras por Modelo

Fonte: Adaptado a partir do padrão da empresa (2019)

Analisadososresultadose identificado o problema, verificou-se que o impacto era o alto

número de quebras dos modelos B e C, onde a experiência do vistoriador era reduzida. Para

buscar uma padronização, foram criados checklists específicos para os modelos da frota.

Assim, quando o vistoriador realizasse asatividades orientado pelo novo documento, nenhum

item crítico ficaria isento de revisão. O vistoriador também passou por treinamentosa fim de

ampliar o conhecimento para os demais modelos.

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A proposta apresentada na Figura 3 representa o primeiro checklist

utilizado, nele continham os itens que deveriam ser verificados em todos os veículos.

Figura 3- Checklist Manutenção Preventiva

Fonte: Adaptado a partir do padrão da empresa (2019)

A partir do documento apresentado, foi adaptado um checklist para cada modelo de veículo.

Os documentos adaptados não serão divulgados por questão de sigilo da empresa.

Buscando melhorar o índice do MKBF, padronizou-se levantamento de dados mensal e

modelagem do Gráfico de Pareto. O objetivo foilevantaras principais causas que submeteram

qualquer veículo à uma manutenção corretiva e/ou uma falha mecânica/elétrica no trecho. A

verificação dos motivos das quebras auxiliou a gestão para implantação de ações planejadas,

que, realizadas em curto prazo, resultaram na eliminação de futuras falhas.

5. Resultados

Verifica-se a melhora dos indicadores quando analisadas no eixo temporal. A primeira ação

proporcionou uma redução no número de retrabalhos e consequentemente uma melhora no

indicador de eficácia de manutenção, mas afetou negativamente o índice de MKBF. As

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aplicações de melhorias resultaram em redução superior a 90% no

número de retrabalhos. O impacto deste trabalho reflete-se a partir da utilização das

ferramentas da qualidade, possibilitando identificar, quantificar e agir para a resolução dos

problemas. Assim, o índice de Eficácia de Manutenção atingiu um valor satisfatório.AFigura

4 apresenta o resultado na ampliação da eficácia, de 98,99% para 99,93%.

Figura 4 - Resultados Eficácia de Manutenção

Fonte: Criado pelos autores (2019)

O resultado obtido na eficácia está diretamente relacionado aos resultados de redução no

retrabalho, como verificado na composição da equação do indicador. No entanto, o MKBF,

apresentado naFigura 5, é uma relação entre as falhas relacionadas ao número de quilômetros

rodados entre cada ocorrência.

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Figura 5 - MKBF

Fonte: Criado pelos autores(2019)

A queda identificada no ano 3 teve sua reversão por meio de treinamento e inclusão dos

checklists. A identificação da necessidade de investimento em capacitação se deu por meio da

análise do Gráfico de Pareto, sendo a deficiência corrigida e os procedimentospadronizados

noschecklists. AFigura 6 apresenta a quantidade de falhas em números absolutos ocorridas no

trecho, medição oficial do órgão regulamentador.

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Figura 6 - Quantidade de Falhas no Trecho

Fonte: Criado pelos autores (2019)

O resultado da Empresa 1 apresentada no estudo de caso é identificado pelo marcador

redondo, com linha contínua. Cabe ressaltar que as quantidades absolutas identificadas no

Gráfico 5 são proporcionais à quantidade de veículos da frota alocados no contrato.

6. Conclusão

O transporte público urbano é um dos principais meios de transporte dentro das capitais,

especialmente no Brasil. Muitos brasileiros dependem desse meio para o seu dia a dia, e uma

boa prestação do serviço é essencial para atingimento da satisfação do usuário. Para atingirem

esse objetivo, as empresas de transporte público devem desenvolver melhorias internas,

buscando o aumento da qualidade dos serviços de manutenção e consequentemente um

reflexo positivo no resultado da empresa.

Esse trabalho apresentou os resultadosda empresa ao longo de cada melhoria aplicada no setor

de manutenção. Pelo fato de a empresa depender de seus veículos para captação do

faturamento, o principal setor da empresa é o de manutenção, pois é a área que garante a

disponibilidade dos veículos para o serviço. Verificou-se que com as melhorias, implantadas

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por meio das ferramentas da qualidade e aplicadas na gestão da

manutenção, o resultado geral da empresa melhorou. As perdas foram reduzidas e a moral da

empresa foi elevada perante os usuários e órgãos regulamentadores, tal como pelo

reconhecimento dos colaboradores. O estudo de caso único realizado, reúne condições para

um espraiamento em outras empresas do setor. Outra possibilidade é a ampliação para outros

setores cujas características de medição de desempenho sejam similares às explicitadas no

presente trabalho.

Por fim, a empresa em estudo possui um amplo campo de aplicação para outras ferramentas

da qualidade aliadas à manutenção a fim de melhorar os serviços de atendimento ao transporte

público com frotas.

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