7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
1/92
UNIVERSIDADE CATLICA PORTUGUESAFACULDADE DE TEOLOGIA
Instituto Universitrio de Cincias ReligiosasMESTRADO EM CINCIAS RELIGIOSASEspecializao: Educao Moral e Religiosa Catlica
FILIPE JOS BENTO BAIO
O Po de Cada Dia
Anlise filosfica, teolgica, pedaggica e didctica Unidade Lectiva Quatro do Sexto Ano do Ensino Bsicodo Programa de EMRC
Relatrio Final da Prtica de Ensino Supervisionadasob orientao de:
Doutor Bernardino Costa
Porto2015
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
2/92
- 2 -
Jo 6, 9:
H aqui um rapazito que tem cinco pes de cevada e dois peixes. Mas que isso
para tanta gente?
Maria Teresa Gerhardinger
(Fundadora da Congregao das Irms Escolares de Nossa Senhora):
Quando o Senhor abenoa, pouco po suficiente para muitos!
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
3/92
- 3 -
ndice
ndice ..................................................................................................................................... 3
Siglrio ................................................................................................................................... 5
Introduo .............................................................................................................................. 7
IAnlise filosfica e teolgica ......................................................................................... 10
1.1 Anlise filosfica ....................................................................................................... 10
1.2. Anlise teolgica ....................................................................................................... 14
1.2.1 Apresentao, aprofundamento e reflexo da percope Jo 6, 1-15 ..................... 14
1.2.1.1 Apresentao............................................................................................... 14
1.2.1.2 Aprofundamento ........................................................................................... 15
1.2.1.3 Reflexo ....................................................................................................... 21
IIAnlise pedaggica e didctica ..................................................................................... 23
1. Apresentao da Unidade Lectiva ............................................................................... 23
2. Anlise, reflexo e sugesto UL ............................................................................... 25
III. Experincia pessoal lectiva ............................................................................................ 38
1. Caracterizao da Turma (dados, sua leitura crtica e ilaes pedaggico-didcticas
para a disciplina de EMRC) ............................................................................................. 38
2. A experincia e as aprendizagens na Escola EB 2/3 Sophia de Mello Breyner .......... 39
2.1 A experincia ......................................................................................................... 39
2.2 As aprendizagens ................................................................................................... 54
3. Ser professor de EMRC, hoje ...................................................................................... 56
Anexos ................................................................................................................................. 61Materiais de apoio Unidade Lectiva ............................................................................. 61
Aula 1 ........................................................................................................................... 61
Aula 2 ........................................................................................................................... 62
Aula 3 ........................................................................................................................... 63
Aula 4 ........................................................................................................................... 66
Aula 5 ........................................................................................................................... 69
Aula 6 ........................................................................................................................... 83
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
4/92
- 4 -
Concluso ............................................................................................................................. 85
Bibliografia .......................................................................................................................... 89
Internet ................................................................................................................................. 92
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
5/92
- 5 -
Siglrio
1 Tm - Primeira Epstola a Timteo
2 Rs - segundo Livro dos Reis
a. C. - antes de Cristo
AA.VV.
- Autores Vrios
Act - Livro dos Actos dos Apstolos
AT - Antigo Testamento
CA - Caderno do AlunoCap. - Captulo
Cf. - Confrontar
CIC - Catecismo da Igreja Catlica
CN - Cincias da Natureza
Comp. - Competncias
EB - Escola Bsica
EMRC - Educao Moral e Religiosa Catlica
ERE - Ensino Religioso Escolar
EVT - Educao Visual e Tecnolgica
Ex - Livro do xodo
Gn - Livro do Gnesis
HGP - Histria e Geografia de Portugal
Introd. - Introduo
Jb - Job
Jo - Evangelho de JooLc - Evangelho de Lucas
LG - Lumen Gentium
LP - Lngua Portuguesa
MA - Manual do Aluno
Mc - Evangelho de Marcos
Mt - Evangelho de Mateus
N. - Nmero
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
6/92
- 6 -
NT - Novo Testamento
Pg. - PginaPe. - Padre
PP - Encclica Populorum Progressio
PPS - Prtica Pedaggica Supervisionada
S. - So
Sab - Livro da Sabedoria
Sir - Livro do Eclesistes
Sl - Livro dos Salmos
SNEC - Secretariado Nacional da Educao Crist
ss - Seguintes
Tg - Epstola de Tiago
Trad. - Traduo
UL - Unidade Lectiva
v. - Versculo
vv. - Versculos
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
7/92
- 7 -
Introduo
O objectivo da elaborao desta Dissertao dar a conhecer o meu trabalho
desenvolvido no ano de Prtica Pedaggica Supervisionada na Escola EB 2/3 Sophia de
Mello Breyner, em Arcozelo, Vila Nova de Gaia, sob orientao do Mestre Carlos Manuel
Meneses Moreira, docente de Educao Moral e Religiosa Catlica dessa mesma Escola, e
fazer uma reflexo teolgico-filosfico sobre a Unidade Letiva 4 do sexto ano do Ensino
BsicoO Po de Cada Dia a partir da percope Jo 6, 1-15para a concluso do Mestrado
em Cincias Religiosas, com especializao em ensino de Educao Moral e Religiosa
Catlica no Ensino Bsico e Secundrio.
Nem tudo pode ser ilustrado numa Dissertao desta natureza. Contudo, espero
conseguir demonstrar o meu esforo na procura do progresso na minha qualificao para a
excelncia e no desenvolvimento de competncias para o aperfeioamento do ensino de
EMRC.
Estou ciente que este um trabalho que no acaba e que no foi fcil delinear um
caminho, pois medida que a avanando, outros se apresentavam. Assim, tenho a
conscincia da complexidade deste trabalho e que o resultado apresentado apenas uma
interpretao, um caminho realizvel e com vrias possibilidades de explorao que
tendem disperso. Com efeito, tive a tendncia de me distender para outras opes e o
delinear um caminho, dispendiou-me energias e obrigou-me a escolhas.
Aps a fase de estabilizao do tema e do objectivo, parti para a realizao desta
Dissertao, dividindo-a em trs captulos, que, em seguida, apresentarei.
No primeiro captulo farei uma anlise filosfico-teolgica. No estudo filosficoapresentarei uma abordagem histrica e cultural do termo poem culturas e civilizaes
mediterrnicas como o Egipto, Grcia, Roma e a judaico-crist e mencionando que o po
ocupa um lugar de excelncia na alimentao humana, pois foi descoberta a presena de
cereais na localizao da gnese do ser humano, e , simultaneamente, uma referncia
espiritual em muitas religies, assumindo carcter religioso, tornando-se, assim, no
alimento com maior simbolismo.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
8/92
- 8 -
Assim, po no somente alimento bsico, vital e dirio, mas foi apropriado,
transformando-se em alimento espiritual, do qual a humanidade subsiste e que deve ser
repartido.
Na abordagem teolgica analisarei a percope Jo 6, 1-15. Farei uso da anlise scio-
histrico-cultural para a interpretao bblica, por me parecer ser um mtodo que ajuda a
contextualizar o texto para melhor interpret-lo hoje e analisarei os gestos de Jesus, j que
eles so o el de toda esta percope, pois Jesus apercebe-se da multido, acolhe-a e manda-
a sentar-se; toma o alimento, bendi-lo, distribui-o e manda recolher as sobras; a multido
ao ver tal sinal, quer entroniza-lO, mas Ele vai para a montanha, sozinho.
Procurarei encerrar este primeiro captulo, questionando sobre a possibilidade da
multiplicao dos pes e dos peixes, actualmente, atendendo ao significado real e
simblico do po e tendo em conta os gestos de Jesus.
Para a abordagem deste captulo, recorrerei a vrios biblistas, devidamente
identificados.
No segundo captulo analisarei pedaggica e didacticamente a Unidade Lectiva 4
O Po de Cada Diadireccionada ao Sexto Ano do Ensino Bsico. Farei a apresentao
da mesma, a sua anlise, reflexo e a respectiva sugesto ou reconstruo didctica.
No captulo terceiro farei uma caracterizao da Turma: dados, sua leitura crtica e
ilaes pedaggico-didcticas para a disciplina de EMRC. Abordarei a experincia e as
aprendizagens na Escola EB 2/3 Sophia de Mello Breyner e, no trmino, reflectirei sobre
como ser professor de EMRC, nos dias de hoje.
Para a elaborao desta dissertao, foram uma mais-valia as experincias
conseguidas ao longo do ano lectivo nas sesses de acompanhamento prtico por parte do
Orientador de Escola, nas aulas e sesses de Seminrio frequentadas na Faculdade,respectivos apontamentos pessoais, tal como a partilha e entre-ajuda realizada com os
colegas de Estgio e de Curso.
Para aprofundar e complementar melhor o estudo, requeri bibliografia Biblioteca
da Universidade Catlica Portuguesa, Plo da Foz, Biblioteca Escolar do Agrupamento
de Escolas de Argoncilhe, Biblioteca da Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro,
Biblioteca da Universidade de Coimbra, Biblioteca da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto e pesquisa na Internet.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
9/92
- 9 -
As tradues apresentadas so realizadas por mim, podendo, por isso, serem
passveis de incorreces, imprecises ou outras interpretaes.
As citaes bblicas, tal como a percope apresentada, so retiradas da Bblia de
Jerusalm.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
10/92
- 10 -
I Anlise filosfica e teolgica
1.1 Anlise filosfica
O po um alimento essencial que ocupa um lugar de excelncia na alimentao
mundial e, mais ainda, uma referncia espiritual em muitas religies, tomando carcter
religioso, tornando-se, assim, no alimento com maior simbolismo no mundo.
O po acompanha o nosso dia-a-dia e est na base da sobrevivncia da humanidade,
uma vez que a descoberta de vestgios da presena de cereais est na localizao da gnese
do ser humano. Conhece-se j a sua utilizao na alimentao no Neoltico e o Livro do
Gnesis faz referncia a ele: Com o suor do teu rosto comers teu po (Gen 3, 19).
O Homem, com o progresso gradual de caador a agricultor, de nmada a
sedentrio, verificou que o po, nas suas mais variadas formas e composio, se tornou o
alimento bsico da sua subsistncia e catalisador de vrios planos: agrcola, social,
econmico, poltico e religioso.
Ao olharmos para a alimentao dos povos mediterrnicos verificamos isso mesmo.
A civilizao egpcia desenvolveu-se nas margens do rio Nilo, pois este dota o Egipto dasmelhores condies para o cultivo dos cereais, mas um conhecimento profundo do Nilo
exactido no calendrio da progresso, das inundaes e da regresso das guas, que
deixavam uma lama, funcionando como adubo favorecia as melhores condies para a
agricultura1e, consequentemente, para o cultivo dos cereais.
Mas a grande inovao dos Egpcios para a histria do po est ligada utilizao
do forno2. Enquanto que, at aqui, outros povos coziam os gros em caldos ou tostavam-
nos no fogo ou em pedras aquecidas, o povo do Egipto descobriu que se o gro modoficasse algum tempo num espao quente formava uma espcie de levedura que aplicada
novamente a essa farinha a fazia crescer, tornando-a fofa e bastante agradvel ao paladar.
Esta descoberta foi por acaso: algum deixou um pedao de massa, esquecido. No dia
seguinte, a massa tinha aumentado de volume e tinha desenvolvido um aroma e sabor
acres mas agradveis. Misturado esse resto de massa massa nova e deixando esta
1
Cf. PEREIRA-MLLER, M. MargaridaPo feito em casa. Feitoria dos livros, 2011, pg. 9.2Cf. PEREIRA-MLLERPo feito em casa, pg. 10.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
11/92
- 11 -
esperar um tempo antes de ser cozida, o po no s ficava mais fofo como tambm mais
saboroso3. Por oposio a este po fermentado, havia o po zimo ou no fermentado que
era usado nas celebraes religiosas4.
A partir do domnio do armazenamento e das tcnicas de confeco e cozedura, o
po no Egipto tornou-se o alimento principal da refeio e merecedor de respeito: comiam
os legumes, o peixe ou a carne dentro do po e recusar um po a um pobre era visto como
pecado. Chegou-se a pagar o salrio dos trabalhadores com po. Os historiadores gregos
chegaram a chamar aos egpcios comedores de po5.
Mas quem desdenha, quer comprar, os gregos importaram a tcnica de se fazer po
do Egipto e melhoraram a frmula, adicionando-lhes fermento e outros ingredientes
(leite, gordura, mel e especiarias). Estes melhoramentos deram aos gregos uma reputao
de excelentes padeiros6. Nos sculos V-IV a. C. os gregos eram exmios na arte do po e
tinham mais de setenta variedades. Tambm era usado como medicamento7.
Como a Grcia no era dotada das mesmas particularidades naturais do Egipto e
bastante longe de reunir as condies necessrias para uma agricultura satisfatria, apesar
do clima ser ameno e favorvel agricultura, a verdade que os terrenos eram maus
[], cobertos por umafina camada de hmus pobre em argila [] demasiado fina para
reter a gua8, Slon, no sculo IV, adoptou vrias posturas: aos agricultores perdoou-lhes
as dvidas; passaram a ver o indivduo que trabalhasse as terras como um sacerdote; o
trabalho que at ento era visto como vergonhoso, por tornar o homem escravo do esforo
e do suor, passou a enobrecer quem o praticava; e virou-se para o mar, para as transaes
comerciais, para poder importar o cereal que fazia falta sua populao 9. Por isso, os
gregos celebram as colheitas em nome de Demter, deusa da agricultura10.
3PEREIRA-MLLERPo feito em casa, pg. 9-10.4Cf. BUENO SNCHES, Manuel; BUENO LOZANO, Manuel Aceite, pan y vino. La triloga de la dietamediterrnea. Madrid: Ilusbooks, 2015, pg. 87.5Cf. JACOB, H. E.6000 anos de po. Lisboa: Antgona, 2003, pg. 30-32.6PEREIRA-MLLERPo feito em casa, pg. 10.7Cf. BUENO SNCHES, Manuel; BUENO LOZANO, ManuelAceite, pan y vino, pg. 87-88.8JACOB, H. E.6000 anos de po, pg. 33.9
Cf. JACOB, H. E.6000 anos de po, pg. 34-36.10Cf. BUENO SNCHES, Manuel; BUENO LOZANO, ManuelAceite, pan y vino, pg. 87.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
12/92
- 12 -
J Roma politizou a questo do po, pois, apesar de ter desenvolvido monhos
mecnicos (de vento e de gua) em detrimento dos habituais11, hierarquizou a necessidade
e a importncia das conquistas de determinadas zonas geogrficas. Como o solo em Roma
j estava demasiadamente sobrelotado, quer pela agricultura, quer pelos grandes centros
populacionais, e no sendo capaz de produzir o suficiente para essa mesma populao, os
romanos tiveram que partir conquista de territrios vizinhos. Prova disso so as
conquistas, quer no Norte de frica onde construiram vastos terrenos para a agricultura e
fundaram vrias cidades para a fixao da populao e assim satisfazer a carncia de po
em Roma, quer para a Hispnia. Graas a esta sua poltica de conquista e de expanso, os
cereais foram introduzidos em Portugal, tornando-nos no celeiro de Roma, quando ainda s
existamos como Lusitnia12. Em Roma quem confeccionava o po eram homens, mas em
Portugal eram as mulheres, sendo uma delas famosa: D. Brites, a padeira de Aljubarrota.
O po teve uma notvel influncia na Medicina. Galeno na sua De sanitate
tuenda escreve que tipo de po os idosos deveriam comer13.
Como vimos atrs, os Gregos festejavam Demter, mas os romanos celebravam
Ceres, deusa da agricultura, das colheitas e da fecundidade. O seu festival era
aCerelia ouLudi Ceriales(jogos de Ceres). Em portugus, cereal deriva do nome
desta deusa.
O que produz abundncia pode produzir a ruina e foi precisamente isso que se
passou com Roma: perto de 50 a.C. metade do solo arvel do Norte de frica estava nas
mos de apenas seis famlias romanas e s cerca de dois mil camponeses cultivavam a seu
prprio terreno14. A partir de dada altura os camponeses tinham passado condio de
arrendatrios nas suas antigas terras. Os pequenos arrendatrios eram explorados pelos
maiores e os grandes arrendatrios prestavam contas a algum senador romano, quandono ao milionrio que se encontrava cabea do Estado, o prprio Imperador.15Entre
outras, esta situao levou ao desencanto, revolta e declnio do Imprio Romano. Em
11Cf. PEREIRA-MLLERPo feito em casa, pg. 11.12Cf. PEREIRA-MLLERPo feito em casa, pg. 13.13Cf. BUENO SNCHES, Manuel; BUENO LOZANO, ManuelAceite, pan y vino, pg. 88.14
Cf. JACOB, H. E.6000 anos de po, pg. 39.15JACOB, H. E.6000 anos de po, pg. 40.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cere%C3%A1liahttps://pt.wikipedia.org/wiki/Cere%C3%A1liahttps://pt.wikipedia.org/wiki/Cere%C3%A1lia7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
13/92
- 13 -
linguagem actual, Roma no deu a devida importncia aos pequenos e mdios
proprietrios.
Uma cultura que viveu momentos de represso e anexao por vrios povos foi a
judaico-crist. Convivia com as regies perifricas e, por isso, no estava intocada pela
influncia estrangeira e a cultura greco-romana influenciava muitas esferas da sua vida.
A regio onde se inseria a cultura judaico-crist era pobre. O comrcio interno,
pouco conhecido, consistia nas trocas directas locais e, sobretudo, visava o abastecimento
das grandes cidades. Quanto ao externo, importavam produtos de luxo, consumidos pelas
elites e pelo Templo. Por outro lado, exportavam alimentosfrutas, leo, vinho, peixese
manufacturas, como os perfumes. Como nos informa Joaquim Jeremias, a profisso de
comerciante sempre foi muito valorizada na Palestina do tempo de Jesus. A principal
atividade econmica da regio, contudo, era a agricultura. Plantava-se trigo, cevada,
figo, azeitonas, uvas, tmaras, roms, mas, nozes, lentilhas, ervilhas, alface, chicria,
agrio, etc16. As atividades de pesca, pecuria e explorao florestal tambm no podem
ser esquecidas, devido sua grande importncia econmica.
A sua localizao geogrfica favorecia as rotas comerciais, quer terrestres, quer
martimas, entre o Ocidente, Mdio Oriente e Norte de frica. Era em torno de Jerusalm
que se desenvolviam as transaces comerciais devido sua posio de capital poltica e
religiosa, o que atraa para si a aristocracia sacerdotal e a nobreza, fontes de grandes
recursos financeiros.
Mas apesar de todo este comrcio e esplendor, o calor, seca e parcos recursos
hdricos17, levavam a que as pessoas fossem pobres e o po era muitas vezes o nico
alimento que se comia. A orao do Pai-Nosso resume bem no po nosso todos os
alimentos necessrios para a sobrevivncia humana18e que so dom de Deus, smbolo decomunho com o divino. Tal simblica foi adoptada por Jesus para se tornar presente na
Eucaristia. Assim, no somente do po que alimenta o corpo, mas tambm do Po que
alimenta o esprito que a Humanidade subsiste (nem s de po vive o homem, mas de toda
16JEREMIAS, JoaquimJerusalm no Tempo de Jesus: Pesquisas de histria econmico-social no perodoneotestamentrio. So Paulo: Paulinas, 1983.17Cf. TUYA, ManuelIntroduccin a la Biblia. Madrid: La Editorial Catlica, 1967, pg. 584-587.18
Cf. COENEN, L., BEYREUTHER, E. e BIETENHARD, H. Diccionario Teolgico del NuevoTestamento. Vol. III. Salamanca: Ediciones Sgueme, pg. 282.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
14/92
- 14 -
a palavra que vem da boca de Deus Mt 4, 4). Deste modo, o po no apenas alimento
bsico, dirio e vital, mas sinal de comunho, fraternidade, de partilha, de vida. Por
exemplo, se formos buscar a etimologia das palavras companhia, companheiro,
acampamento, apercebemo-nos da sua identidade mais profunda: o com-panis, o comer o
mesmo po19. Na linguagem bblica, o po tambm deve ser entendido dentro desta lgica,
como alimento que se destina a ser repartido20, implicando deste modo reunio (re-unio),
comunho (comum unio) e intimidade. Em direco contrria, a ausncia de po acaba
por significar, exactamente, a separao e o conflito, conforme o ditado popular: Casa
onde no h po, todos ralham sem razo.
1.2. Anlise teolgica
1.2.1 Apresentao, aprofundamento e reflexo da percope Jo 6, 1-15
1.2.1.1 Apresen tao
Multipl icao dos pes e dos peixes (M t 14,13-21;Mc 6,30-44;Lc 9,10-17)
1Depois disto, Jesus foi para a outra margem do lago da Galileia, ou de
Tiberades. 2Seguia-o uma grande multido, porque presenciava os sinais
miraculosos que realizava em favor dos doentes. 3Jesus subiu ao monte e
sentou-se ali com os seus discpulos.4Estava a aproximar-se a Pscoa, a festa dos judeus. 5Erguendo o olhar e
reparando que uma grande multido viera ter com Ele, Jesus disse ento a
Filipe: Onde havemos de comprar po para esta gente comer? 6Dizia isto
para o pr prova, pois Ele bem sabia o que ia fazer. Filipe respondeu-lhe:7Duzentos denrios de po no chegam para cada um comer um
bocadinho. 8Disse-lhe um dos seus discpulos, Andr, irmo de Simo
19Cf. MENDONA, Jos TolentinoPai-Nosso que estais na Terra. O Pai-nosso aberto a crentes e a no-crentes. Prior Velho: Paulinas, 2011, pg. 102.20
Cf. SESBO, Daniel Pan. In LON-DUFOUR, Xavier (dir.) Vocabulario de Teologa Bblica.Barcelona: Editorial Herder, 1965, pg. 566-567.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
15/92
- 15 -
Pedro: 9H aqui um rapazito que tem cinco pes de cevada e dois peixes.
Mas que isso para tanta gente? 10Jesus disse: Fazei sentar as pessoas.
Ora, havia muita erva no local. Os homens sentaram-se, pois, em nmero de
uns cinco mil. 11Ento, Jesus tomou os pes e, tendo dado graas, distribuiu-
os pelos que estavam sentados, tal como os peixes, e eles comeram quanto
quiseram. 12Quando se saciaram, disse aos seus discpulos: Recolhei os
pedaos que sobraram, para que nada se perca. 13Recolheram-nos, ento, e
encheram doze cestos de pedaos dos cinco pes de cevada que sobejaram
aos que tinham estado a comer.14Aquela gente, ao ver o sinal milagroso que Jesus tinha feito, dizia: Este
realmente o Profeta que devia vir ao mundo! 15Por isso, Jesus, sabendo que
viriam arrebat-lo para o fazerem rei, retirou-se de novo, sozinho, para o
monte.
1.2.1.2 Ap rofun damento
- Pretexto e lugar
Depois do discurso que fez na Piscina de Betesda, onde curou um enfermo, Jesus
foi para a outra margem do lago da Galileia (v.2) e subiu ao monte com os seus discpulos
(v.3).
A sua pregao, atitude e sinais causavam polmicas, suspeitas e divises entre os
seus contemporneos21: uns crem e seguem-nO; outros tm dvidas em segui-lO, mas a
grande maioria rejeita-O, excluindo a Galileia, que era como um refgio22, um lugar calmo
e de descanso.Esta subida recorda a de Moiss no Sinai, recebendo as tbuas da Promessa da
Aliana (Ex 19, 3), local onde se revela a presena de Deus23.
21Cf. PINHO, ArnaldoJesus Cristo: Quem ? Lisboa: Universidade Catlica Editora, 2003, pg. 54-57.
22Cf. ROSAS, Ricardo Lpez; RICHARD, Pablo Evangelio y Apocalipsis de san Juan. Navarra: Editorial
Verbo Divino, 2006, pg. 137.23
AA.VV.A Eucaristia na Bblia. 2. Edio. Lisboa: Difusora Bblia, 2000, Coleco Cadernos Bblicos,n. 19, pg. 60.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
16/92
- 16 -
- tempo
O evangelista faz referncia proximidade da Pscoa dos Judeus (v.4), sublinhada
com a referncia muita erva (v.10). Estamos na Primavera; por isso, h erva abundante
naquele lugar. Mas esta envolvncia pascal mais que uma indicao cronolgica: uma
aluso Pscoa nova, em que Jesus a ser sacrificado como o novo cordeiro pascal. Deste
modo, sua carne sacrificada ser a comida da nova Pscoa crist.24 , tambm, um
convite do evangelista a ler a multiplicao dos pes na perspectiva da grande Pscoa
hebraica, a festa que celebra a libertao de Israel da escravido do Egipto.25
- acomodao
O sentar-se (v.3), para alm de ser sinal de descanso, -o tambm de igualdade,
onde no h pessoas privilegiadas nem pessoas menos importantes. Aqui, Jesus olha
sempre para o outro como prximo, coloca-o sempre Sua estatura, remetendo-o no a Si
mas ao Pai que olha para cada um pelo que e por aquilo que cada um . Desta forma, o
prximo aproximado humanidade de si mesmo e ao transcendente26.
- o milagre
Seguia-O uma grande multido (v. 2), como ovelhas sem pastor, e que vai ao
encontro de quem lhes proporcione algo mais do que um dia normal. Por isso O seguem e
O procuram, esteja Ele onde estiver, mesmo no deserto, porque presenciavam os sinais
miraculosos que realizava em favor dos doentes (v. 2). Seguem-nO por sentirem a solido
da prpria vida27. Por isso, Jesus sente compaixo pela multido, pois esta sente-se como
ovelhas sem pastor. Deste modo, coloca a questo a Filipe: Onde havemos de comprar
po para esta gente comer? (v. 5), mas tanto este como Andr no responderam como omestre desejava. Filipe reage a partir dos factos visveis, palpveis e no consegue ir mais
alm do que v e fica perturbado com a questo. Constata o problema e reconhece a sua
24CABALLERO, Baslio La palabra cada da. Comentario y oracin. 3. Edicin. Madrid: San Pablo,
1990, pg. 194.25
ARMELLINI, FernandoO banquete da palavra: comentrio s leituras dominicais do ano B . Paulinas,1996, pg. 347.26CARVALHO, Jos Carlos Educao crist: saudosismo, utopia ou futuro? Uma nota (artigo para aSemana de Teologia de Braga).InRevista Theologica, 37 (2002), pg. 132-133.27RAHNER, KarlPregaes bblicas. So Paulo: Editora Herder, 1968, pg. 71.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
17/92
- 17 -
incapacidade para resolv-lo, lana o alerta mas no apresenta respostas. J Andr mais
de aco (vv. 8-9), talvez louco ou cheio de f, e apresenta uma criana com cinco pes e
dois peixes.
Este pormenor curioso: as crianas como se sabeso os primeiros a comer
o que trazem; , pois, improvvel que, entre tanta gente, precisamente uma criana e s
uma criana tenha poupado a merenda. Mas o valor simblico deste detalhe evidente:
em muitas passagens do Evangelho, a criana indicada como o modelo do discpulo.
Assim, por exemplo, a quem entrar no reino dos cus, Jesus exige que se torne uma
criana (Mc 10, 15). claro o significado do episdio: o menino o discpulo chamado a
pr disposio dos irmos tudo o que possui. Esta a grande proposta! Basta que os
homens abandonem o seu egosmo e a sua ganncia de possuir e de acumular para si e
acolham a lgica do reino, a lgica da partilha, e o milagre pode repetir-se ainda hoje:
haver alimento em abundncia para todos28.
Jesus no se intimida com as respostas dos seus discpulos nem com o nmero da
multido. Ele age, pois de aco e j no a primeira vez que d ordens (por exemplo,
Mt 8, 3; Mc 2, 11; Mc 9, 25), e ordena para que as pessoas se sentem, todos na mesma
circunstncia, sem pressa, com todo o tempo do mundo e no na condio de escravos,
pressa (Ex 12, 11)29e sem ordem de lugar e hoje, de modo original, na erva, em contraste
com outrora, que foi em local deserto (Ex 16, 4-5.12-15; Sl 78, 24-30; Sab 16, 20-21)30ou
em cima de pedras (Gn 31, 46). Sentar-se com os pecadores o modo que Jesus encontra
para partilhar a sua convico de que as pessoas so mais importantes do que a lei31.
participando nas refeies e adoptando nelas atitudes pouco convencionais que Ele se
define diante de Israel e dos seus discpulos: Ele o profeta que suporta os pecadores
Sua mesa (Lc 7, 36-50) ou que aceita seu convite (Lc 5, 29-32; 19, 1-10); Ele d emprofuso o po da Palavra quele que quer receb-lO (Mc 7, 35-44; 8, 1-10); Ele o
servo do qual todos devem aceitar os servios, antes de O imitar (Jo 13, 2-15). [...] no
decurso de algumas refeies que Jesus se manifesta desta maneira, Ele que anuncia
28ARMELLINI, FernandoO banquete da palavra: comentrio s leituras dominicais do ano B . Paulinas,1996, pg. 350.29Cf. CARVALHO, Jos Carlos Fontes bblicas da eucaristia. In Revista Theologica, 2. Srie, 43, 1,2008, pg. 34.30
Cf. CARVALHO, Jos CarlosFontes bblicas da eucaristia, pg. 18.31Cf. CARVALHO, Jos CarlosFontes bblicas da eucaristia, pg. 38.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
18/92
- 18 -
finalmente a vinda dum dia em que os eleitos, instalados no Reino, exprimiro a sua
comunho comendo o po (Lc 14, 15).32
Depois de fazer sentar a multido, toma os pes e os peixes, d graas e distribuiu-
os a todos, saciando-lhes a fome. Esta sua aco lembra a Ceia Pascal (Lc 9, 16; 22, 19)33
quer tomando e abenoando o po, quer o vinho, smbolos do seu corpo e do seu sangue,
oferecidos a toda a humanidade. Neste sinal da multiplicao dos pes quando Jesus
disse a bno, partiu e os distribuiu pelos seus discpulos para alimentar a multido
prefigura a superabundncia deste po nico da Sua Eucaristia34.
Pronunciou a bno (v. 11): uniu-se a Deus de modo total, pois essa a
conotao fortssima da bno hebraica e bblica. Tomou os pes e distribuiu-os
(v.11). Partiu o po e deu-o. Gesto soberano e inaugural de uma forma nova de
viver35.
Dar graas pela refeio que se toma um rito judeu36, com origem exodal, para
agradecer e para no deixar cair no esquecimento o que Deus fez pelo seu Povo.
Depois da multido saciada, Jesus, que presidia mesa, mandou recolher as sobras.
Os mestres de Israel defendiam a sobriedade, mas com Jesus comeram quanto quiseram e
ainda sobrou, mas vai mais alm: no permite que se percam as sobras. So Paulo segue a
mesma linha: Pois tudo o que Deus criou bom e nada deve ser rejeitado, quando
tomado com aco de graas. Com efeito, tudo santificado pela palavra de Deus e pela
orao (1 Tm 4, 4-5)37. Da que se recolham as sobras para que nada se perca e se possa,
ento, partilhar com as pessoas necessitadas, luz das primeiras comunidades crists, que
faziam a distribuio dos bens38.
32AA.VV.A Eucaristia na Bblia, pg. 4.
33Cf. LANGNER, CrdulaEvangelio de Lucas, Hechos de los Apostoles. Navarra: Editorial Verbo Divino,2008, pg. 142.34Cf. Catecismo da Igreja Catlica. Coimbra: Grfica de Coimbra, 1993, n. 1335.35 Cf. COUTO, Antnio Como uma Ddiva. Caminhos de Antropologia Bblica . 2. Edio. Lisboa:Universidade Catlica Editora, 2005, pg. 266.36Cf. LANGNER, CrdulaEvangelio de Lucas, Hechos de los Apostoles, pg. 401.37Didach / doctrina apostolorum / epistola del Pseudo-Bernab.Edio de AYN CALVO, Juan Jos.
Madrid, Ciudad Nueva, 1992, pg. 42.38Cf. Act 2, 42 (ver especialmente a nota de rodap l); 4, 32-34.
http://www.biblioteca.porto.ucp.pt/docbweb/plinkres.asp?Base=ISBD&Form=COMP&StartRec=0&RecPag=5&NewSearch=1&SearchTxt=%22TCO%20Didach%E9%20%3A%20doctrina%20apostolorum%20%3A%20epistola%20del%20Pseudo-Bernab%E9%22%20%2B%20%22TCO%20Didach%E9%20%3A%20doctrina%20apostolorum%20%3A%20epistola%20del%20Pseudo-Bernab%E9%24%22http://www.biblioteca.porto.ucp.pt/docbweb/plinkres.asp?Base=ISBD&Form=COMP&StartRec=0&RecPag=5&NewSearch=1&SearchTxt=%22TCO%20Didach%E9%20%3A%20doctrina%20apostolorum%20%3A%20epistola%20del%20Pseudo-Bernab%E9%22%20%2B%20%22TCO%20Didach%E9%20%3A%20doctrina%20apostolorum%20%3A%20epistola%20del%20Pseudo-Bernab%E9%24%22http://www.biblioteca.porto.ucp.pt/docbweb/plinkres.asp?Base=ISBD&Form=COMP&StartRec=0&RecPag=5&NewSearch=1&SearchTxt=%22TCO%20Didach%E9%20%3A%20doctrina%20apostolorum%20%3A%20epistola%20del%20Pseudo-Bernab%E9%22%20%2B%20%22TCO%20Didach%E9%20%3A%20doctrina%20apostolorum%20%3A%20epistola%20del%20Pseudo-Bernab%E9%24%227/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
19/92
- 19 -
Este respeito que as sobras recebem sublinha a qualidade misteriosa deste po. Os
restos deste contrapem-se ao man de Moiss (Ex 16, 18-20)39, pois Jesus o verdadeiro
man, superior ao primeiro.
- Os nmeros
Acerca dos nmeros, vejamos um quadro comparativo entre os quatro evangelhos
e, depois, uma breve reflexo.
Cinco mil homens Mt 14, 21 Mc 6, 44 Lc 9, 14 Jo 6, 10
Cinco pes e dois peixes Mt 14, 18 Mc 6, 38 Lc 9, 13 Jo 6, 9
Sobraram doze cestos de po Jo 6, 13
Sobraram doze cestos de po e peixe Mc 6, 43
Sobraram doze cestos cheios (semreferir se eram de po ou de peixe)
Mt 14, 20 Lc 9, 17
Pela anlise do quadro, verifica-se que h unanimidade em relao aos nmeros de
homens, pes, peixes e cestos, embora neste ltimo haja uma ligeira divergncia em
relao designao concreta das sobras, embora insignificante.
Seriam doze cestos? O nmero doze poder ser simbolismo da reunio das doze
tribos de Israel, ou melhor, do Israel Escatolgico40, e tambm da plenitude
transbordante e inesgotvel41. Neste sentido, o que Jesus pretende com o seu gesto que
chegou o momento de fazer festa porque o reino, em que haver abundncia de po paraos pobres, j comeou [...]. At os doze cestos que sobraram sublinham esta abundncia e
so sinais dum alimento destinado a multiplicar-se, a nunca mais acabar42.
39 ROSAS, Ricardo Lpez; RICHARD, Pablo Evangelio y Apocalipsis de san Juan. Navarra: Editorial
Verbo Divino, 2006, pg. 139.40ROSAS, Ricardo Lpez; RICHARD, PabloEvangelio y Apocalipsis de san Juan, pg. 140.41 COUTO, Dom Antnio Quando Ele nos abre as escrituras. Domingo aps Domingo. Uma leiturabblica do Lecionrio. Ano B. Lisboa: Paulus Editora, 2014, pg. 237.42
ARMELLINI, FernandoO banquete da palavra: comentrio s leituras dominicais do ano B . Paulinas,1996, pg. 349.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
20/92
- 20 -
- Tentati va de entronizaoEste realmente o Profeta que deveria vir ao mundo (vv. 14). Porque exclamaram
isto? Porque interpretaram o sinal como a manifestao do profeta que lhes sacia a fome.
Por isso, queriam proclam-lo seu rei, pois nunca viram tais sinais: curar as enfermidades,
ressuscitar os mortos e alimentar milhares de pessoas apenas com migalhas. Um obreiro
assim, no se encontra todos os dias.
Porque buscavam o po da eternidade, Deus d-lhes tambm o po deste mundo.
E, porque Ele lho d, tornam a procurar o po terreno e no a Deus. Querem transformar
o seu Deus em rei desta vida. Ao se sentirem saciados, desejam mais po material e, o que
era visado, como suposio para a busca de Deus com calma e liberdade interior de
esprito, transforma-se-lhes em tentao de ambicionar avidamente as alegrias terrenas,
pervertendo at mesmo o dom de Deus43.
- I da para outro lugar
A nsia de o fazerem rei leva a que o encontro da multido com Jesus seja um
fracasso. Encontram-no fisicamente, mas perdem-no espiritualmente. Ele quer que o
reconheam como o po vivo descido do cu (Jo 6, 51), mas apenas O vem como
resposta s suas necessidades, como rei, segundo a ideia messinica tradicional de chefe do
povo. Por isso, Jesus se retirou sozinho para um monte.O Deus que lhes oferecera
tambm o po material desaparece, afasta-se deles, por serem eles assim, por terem
pervertido a ddiva divina, porque a fome saciada lhes aguou ainda o apetite pelas
coisas desta terra44.
Se ficasse ali com a multido, ficava apenas algum tempo. No ficava,
portanto. O modo divino, excessivo, de ficar dar-Se. Mas dar-se no ficar retido.
Para ficar connosco, Jesus deu-se a ns. E dando-se a ns, derramando-se em ddiva
pessoal, dando por ns a vida toda, no pode estar mais ali. Desaparece naturalmente
mas fica mais presente do que nunca na nossa vida, pois se dar reclama a realidade do
43
RAHNER, KarlPregaes bblicas, pg. 72.44RAHNER, KarlPregaes bblicas, pg. 72.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
21/92
- 21 -
dom, dar-se reclama a presena do doador, presena no apenas real, mas ntima e de
amor45.
1.2.1.3 Ref lexo
Ser possvel, hoje, a multiplicao dopo?
Atendendo ao significado real e simblico do po e se tivermos em conta as
atitudes de Jesus na percope atrs apresentada, acredito na multiplicao do po
actualmente.
Para isso, ter-se- que se realizar o milagre do amor, ou seja, a f e o amor cristo
tero que passar da eucaristiaonde Jesus se apropria dopocomo alimento espiritual (Jo
6, 35) e que se multiplica em cada celebrao da fraco do po(Lc 22, 19) para saciar a
fome da comunidade eclesial e de todo o Homem , para a vivncia do dia-a-dia: no
trabalho, na famlia, no crculo de amigos, na comunidade... para ser, de verdade, f e amor
em aco, ou seja, perante a falta depo, sairmos do nosso conforto e tomarmos as atitudes
de Jesus: aperceber, ver, ter compaixo, procurar solues, dar-se, servir e servir-se a quemest faminto. Apropriando-me das palavras de Bento XVI, Jesus no nos pede aquilo de
que no dispomos, mas faz-nos ver que se cada um oferecer o pouco que tiver, pode
realizar-se sempre de novo o milagre: Deus capaz de multiplicar o nosso pequeno gesto
de amor e tornar-nos partcipes do seu dom46.
A exemplo de Jesus, devemos estar atentos s necessidades das pessoas que nos
rodeiam (o nosso prximo, imagem da parbola do bom samaritano Lc 10, 29-37)
partilhar o que se tem, mesmo que seja pouco, pois poder ser muito para quem nada tem.A partilha implica sair do conforto da casa, do dar, para o ir e dar-se. A isto chama-
se ddiva total, pois j no s partilhar o que se tem, o que sobra ou at o que se
compra para dar, mas j uma ddiva de si mesmo, um dar tudo, dar-se todo, dar-
se sem nenhuma reserva, sem nada a que recorrer amanh. Por outras palavras, no
45 Cf. COUTO, Antnio - Como uma Ddiva. Caminhos de Antropologia Bblica. 2. Edio. Lisboa:Universidade Catlica Editora, 2005, pg. 267.46
Bento XVI, Orao do Angelus de 29 de Julho de 2012. In http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/angelus/2012/documents/hf_ben-xvi_ang_20120729.html (acedido a 2015.07.24).
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
22/92
- 22 -
retendo, amealhando, segurando a vida, que se fica; dando a vida, que se fica,
segundo o critrio paradoxal de Jesus e do Evangelho: Aquele que procurar ganhar a
sua vida, perd-la-;e aquele que a perder conserv-la- (Lc 17,33)47. Assim, ans
compete-nos comungar, isto , implicarmo-nos nessa maneira nova e bela de viver48.
47
Cf. COUTO, Antnio - Como uma Ddiva, pg. 266.48Cf. COUTO, Antnio - Como uma Ddiva, pg. 267.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
23/92
- 23 -
II Anlise pedaggica e didctica
1. Apresentao da Unidade Lectiva
O po de cada dia49
6. ano Unidade Lectiva 4
Competncias Especficas:
1. Reconhecer, luz da mensagem crist, a dignidade da pessoa humana.5. Interpretar produes culturais (literrias, pictricas, musicais ou outras) que utilizam
ou aludem a perspectivas religiosas ou a valores ticos.6. Interpretar criticamente episdios histricos e factos sociais, a partir de uma leitura da
vida fundada em valores humanistas e cristos.8. Relacionar o fundamento religioso da moral crist com os princpios, valores e
orientaes para o agir humano, propostos pela Igreja.9. Organizar um universo coerente de valores, a partir de um quadro de interpretao tica
humanista e crist.10. Mobilizar princpios e valores ticos para a orientao do comportamento em situaesvitais do quotidiano.
12. Relacionar-se com os outros com base nos princpios de cooperao e solidariedade,assumindo a alteridade e diversidade como factor de enriquecimento mtuo.
14. Identificar o ncleo central constitutivo da identidade do Cristianismo, particularmentedo Catolicismo.
22. Usar a Bblia a partir do conhecimento da sua estrutura.23. Interpretar textos fundamentais da Bblia, extraindo significados adequados e
relevantes.24. Reconhecer as implicaes da mensagem bblica nas prticas de vida quotidiana.
25. Interpretar produes estticas de temtica crist, de mbito universal e local.26. Apreciar produes estticas de temtica crist, de mbito universal e local.
Operacionalizao das Competncias Contedos
49
SECRETARIADO NACIONAL DA EDUCAO CRIST Programa de Educao Moral e ReligiosaCatlica. Ensino Bsico e Secundrio. Lisboa: SNEC, 2007, pg. 88-89.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
24/92
- 24 -
1. Interpretar produes culturais que
reflictam sobre a justia vs injustia nadistribuio dos bens. (Comp. 5)
2. Interpretar criticamente factos sociais, luz do reconhecimento da dignidade detodos os seres humanos, nos quais esteja
patente a injusta distribuio dos bens deprimeira necessidade. (Comp. 1 e 6)
A alimentao, a fome, a subnutrio, a
pobreza, a distribuio injusta dos bensde primeira necessidade
3. Organizar um universo de valoresfundado no respeito pela dignidade de
todos os seres humanos e na justiasocial. (Comp. 1 e 9)
Distribuio do alimento pela populaomundial
Instituies nacionais e internacionaisvocacionadas para a derrota da fome(Caritas, FAO, Banco Alimentar Contraa Fome)
4. Mobilizar os valores da dignidade detodas as pessoas, da solidariedade e dacooperao com vista resoluo dos
problemas relacionados com a ausnciade condies mnimas de subsistncia.(Comp. 1, 9, 10 e 12)
Solidariedade e voluntariado
5. Consultar a Bblia, mobilizandoconhecimentos sobre a estrutura do NovoTestamento, bem como outrosconhecimentos necessrios j exploradosem anos anteriores. (Comp. 22)
As divises do NT Evangelhos Actos dos Apstolos Cartas ou Epstolas Apocalipse
6. Interpretar textos bblicos sobre a relaodo ser humano com os bens materiais,reconhecendo as suas implicaes navida quotidiana. (Comp. 9, 14, 23 e 24)
7. Relacionar a identificao de Cristo comos mais necessitados com o fundamentodo agir cristo. (Comp. 8, 9 e 14)
A necessria distribuio justa dariqueza: Tg 5,1-6; 1Jo 3,17-18 O julgamento final: as obras de
promoo humana: Mt 25,31-45 Parbola do rico insensato: Lc 12,13-21
8. Interpretar produes culturais de
diferentes origens sobre o significado
O significado simblico-religioso do
alimento
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
25/92
- 25 -
simblico-religioso do alimento. (Comp.5)
9. Interpretar e apreciar produes estticassobre a ltima Ceia, identificando o seusignificado essencial para a mensagemcrist. (Comp. 14, 25 e 26)
A ltima Ceia como representao daentrega de Jesus por amor
Ser po para os outros: a doao de simesmo
Sugesto de interdisciplinaridade:Cincias da Natureza Trocas nutricionais entre o organismo e o meio.Educao Visual e TecnolgicaA alimentao.
2. Anlise, reflexo e sugesto UL
Neste ponto, utilizarei, em primeiro lugar, a estrutura original e depois explanarei
uma anlise, uma reflexo e uma sugesto. F-los-ei a partir de cada Contedoe respectiva
Operacionalizao das Competncias.
A)
apresentao
Operacionalizao das Competncias Contedos
1. Interpretar produes culturais quereflictam sobre a justia vs injustia na
distribuio dos bens. (Comp. 5)
2. Interpretar criticamente factos sociais, luz do reconhecimento da dignidade detodos os seres humanos, nos quais esteja
patente a injusta distribuio dos bens deprimeira necessidade. (Comp. 1 e 6)
A alimentao, a fome, a subnutrio, apobreza, a distribuio injusta dos bens
de primeira necessidade
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
26/92
- 26 -
reflexo
A Operacionalizao de Competncias dois, nesta idade, parece-me pertinente,
nestes ltimos anos devido crise que est a assolar todo o mundo, pois provoca os jovens
a reflectir no que lhes dado, no que possuem e a dar-lhes mais valor e ateno. Tambm
os desafia a estarem mais atentos aos sacrifcios que os pais fazem para que nada lhes falte,
quando, por vezes, falta aos prprios pais o essencial.
Na Operacionalizao de Competnciasum, haver distribuio injusta dos bens
de primeira necessidade ou os bens esto distribudos mediante a situao econmica,
social, recursos agrcolas, hdricos... de uma certa e determinada regio, pas ou
continente? Nestes ltimos meses temos ouvido falar muito nos Meios de Comunicao
Social que a crise maior nos denominados pases perifricos da Europa. Porqu?
Porque esto mais longe dos centros de deciso ou porque esto mais longe dos centros de
produo e de investigao? Sabemos que os pases perifricos tm mais dificuldades
econmicas, mas nesta circunstncia ser justo falar de distribuio injusta de bens de
primeira necessidade? Julgo que no, mas tratar-se-, sim, de distribuio desiquilibrada
dos bens de primeira necessidade. Ou, por distribuio injusta de bens de primeira
necessidade o Programa se refere a situaes como o desemprego prolongado,
precaridade de trabalho, doena, falta de recursos econmicos, escassez de alimentos e de
gua potvel... que impossibilita as pessoas menos capazes do acesso aos bens de primeira
necessidade? uma questo que deixo no ar...
Em vez de distribuio injusta, proponho distribuio desiquilibrada dos bens de
primeira necessidade.
Fala-se muito do Estado Social. Ser que o Estado, na sua orgnica, competncia e
na sua operacionalidade, v as pessoas como um nmero, como homo economicus ouhomo numeruse se esquece que as pessoas so seres morais, sociais e com necessidades
biolgicas? Penso que o Estado deveria ler com muita ateno a Carta Encclica
Populorum Progressiode Sua Santidade Papa Paulo VI, escrita a 26 de Maro de 1967 aos
Bispos, Sacerdotes, Religiosos, Fiis e a todos os homens de boa vontade sobre o
desenvolvimento dos povos.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
27/92
- 27 -
Felizmente, h campanhas e organizaes que no esto sob a tutela do Estado que
vo suprindo as necessidades das pessoas e no as vm apenas sob um prisma, mas na sua
globalidade.
sugesto
Operacionalizao das Competncias Contedos
1. Interpretar produes culturais quereflictam sobre a desiquilibradadistribuio dos bens. (Comp. 5)
2. Interpretar criticamente factos sociais, luz do reconhecimento da dignidadedo ser humano, nos quais estejam
patentes uma desiquilibradadistribuio dos bens de primeiranecessidade. (Comp. 1 e 6)
A alimentao, a fome, a subnutrio, asobrenutrio, a pobreza, a distribuiodesiquilibrada dos bens de primeiranecessidade
B)
apresentao
3. Organizar um universo de valoresfundado no respeito pela dignidade detodos os seres humanos e na justiasocial. (Comp. 1 e 9)
Distribuio do alimento pela populaomundial
Instituies nacionais e internacionaisvocacionadas para a derrota da fome(Caritas, FAO, Banco Alimentar Contraa Fome)
reflexo
Organizar um universo de valores...Valor no um modo consciente de actuar,
tanto individual como colectivamente? Mas olhando para os Contedosparece-me que a
Opercionalizao no alcance o que pretende, pois apenas apresenta instituies e no
valores, ficando, assim, aqum do desejado.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
28/92
- 28 -
sugesto
Operacionalizao das Competncias Contedos
3. Identificar um universo de instituiesfundadas no respeito pela dignidade detodos os seres humanos e na justiasocial. (Comp. 1 e 9)
A distribuio do alimento pelapopulao
C)
apresentao
Operacionalizao das Competncias Contedos
4. Mobilizar os valores da dignidade detodas as pessoas, da solidariedade e dacooperao com vista resoluo dos
problemas relacionados com aausncia de condies mnimas desubsistncia. (Comp. 1, 9, 10 e 12)
Solidariedade e voluntariado
reflexo
No que se refere minha turma adstrita, no tive dvidas de que este seria um
contedo a no leccionar, pois dezoito dos dezanove alunos inscritos a EMRC participam
ou participaram em aces de voluntariado.
Parece-me que este tema um aprofundar e um recordar da Unidade Lectiva 5 A
Fraternidadedo Quinto Ano
50
, o que poder dispersar a ateno dos alunos. No entanto,numa outra turma de outra Escola, os alunos reavivaram a memria e partilharam o que
tinham dado e realizado com o professor do ano anterior.
As Competncias Especficas dez e doze desenvolvem nos discentes a tica e a
Moral indo ao encontro do domnio do Saber e do Saber Fazer, procurando capacitar os
alunos para a autonomizao no momento de eleger o valor moral mais urgente e
50 Cf. SECRETARIADO NACIONAL DA EDUCAO CRIST Caminhos de Encontro. Manual do
AlunoEMRC 5. Ano do Ensino Bsico. Lisboa: Fundao Secretariado Nacional da Educao Crist,2009, pg. 152-191.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
29/92
- 29 -
operacionaliz-lo em situaes concretas da vida, o que nestas idades, compreendidas entre
os dez e os doze anos, se enquadra perfeitamente e pertinente.
sugesto
A proposta apresentada peloProgramaparece-me que est bem includa, no
tendo, por isso, uma proposta mais profunda para apresentar.
D)
apresentao
Operacionalizao das Competncias Contedos
5. Consultar a Bblia, mobilizandoconhecimentos sobre a estrutura do
Novo Testamento, bem como outrosconhecimentos necessrios jexplorados em anos anteriores. (Comp.22)
As divises do NT Evangelhos Actos dos Apstolos Cartas ou Epstolas Apocalipse
reflexo
A Competncia Especficavinte e dois desenvolvida ao longo do Ensino Bsico.
No entanto, pela experincia que tenho no Primeiro Ciclo e pelas Escolas por onde tenho
passado, maioritariamente na margem esquerda do rio Douro e todas no interior da
Diocese, esta Competnciano vem acrescentar conhecimento aos discentes do Sexto Ano,
uma vez que a maioria frequenta a Catequese, embora se saiba que h alunos que
frequentam EMRC e no Catequese e vice-versa, e ao longo do Primeiro Ciclo j se faz
referncia, leitura e interpretao de textos bblicos. Assim, nesta altura, j os discentes
sabem a organizao interna da Bblia (Saber) e j a sabem manusear (Saber-Fazer) pelo
que me parece extempornea a apresentao aqui do Novo Testamento. Alis, quando na
aula anterior se projecta o que se ir leccionar, a maioria dos alunos pergunta logo se
necessrio trazer a Bblia para a aula. A minha experincia diz que bom que a tragam
para se sentirem estimulados e integrantes no seu ensino-aprendizagem.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
30/92
- 30 -
Embora no esteja a analizar a UL um Viver juntos do Quinto Ano de
Escolaridade, no deixo de lhe fazer referncia, uma vez que um dos seus contedos a
diviso do Antigo Testamento. Mais uma vez, pela experincia que tenho, um contedo a
leccionar, aprofundar e ir mais alm do contedo proposto e acrescentar o Novo
Testamento, uma vez que os discentes sabem partes da Bblia, embora de forma no
organizada.
Alm disso, se analizarmos o DVD de apoio ao professor que se encontra
conjuntamente com o Manual do Professor do Quinto Ano, um dos contedos do material
de apoio precisamente a diviso interna da Bblia, no seu todo e no em partes.
sugesto
A minha sugesto passaria por, no Quinto Ano, na UL um Viver juntosfazer a
apresentao da Bblia de forma completa: o povo onde nasceu a Bblia, origem do seu
nome, onde foi escrita, em que lnguas, quais os materiais utilizados para a escrita dos
livros/rolos, a sua organizao e diviso, como encontrar um texto e como cit-lo51.
Esta minha sugesto venho a concretiz-la nos discentes do Quinto Ano e estes tm
reagido positivamente, uma vez que a maioria j sabe que a Bblia se divide em Antigo e
Novo Testamento e j expem com um elevado grau de rectido a constituio da Bblia.
Operacionalizao das Competncias Contedos
5. Consultar a Bblia, mobilizandoconhecimentos sobre a sua estrutura,
bem como outros conhecimentos j
explorados em anos anteriores. (Comp.22)
As divises do AT Pentateuco Livros Histricos
Livros Sapienciais Livros Profticos
As divises do NT Evangelhos Actos dos Apstolos Cartas ou Epstolas Apocalipse
51Cf. SECRETARIADO NACIONAL DA EDUCAO CRIST Caminhos de Encontro,pg. 31-39.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
31/92
- 31 -
E)
apresentao
Operacionalizao das Competncias Contedos
6. Interpretar textos bblicos sobre arelao do ser humano com os bensmateriais, reconhecendo as suasimplicaes na vida quotidiana.(Comp. 9, 14, 23 e 24)
7. Relacionar a identificao de Cristocom os mais necessitados com ofundamento do agir cristo. (Comp. 8,9 e 14)
A necessria distribuio justa dariqueza: Tg 5,1-6; 1Jo 3,17-18
O julgamento final: as obras depromoo humana: Mt 25,31-45
Parbola do rico insensato: Lc 12,13-21
reflexo
positiva a interpretao de textos bblicos sobre a relao do ser humano com os
bens materiais e identificar Cristo com os mais necessitados de acordo com o agir cristo.
No entanto, os contedos pecam, pois da forma como se apresentam ou so apresentados,
no so contedos52, mas sim, recursos53.
A leitura de Tg 5, 1-6 poder ser de compreenso difcil para os discentes uma vez
que utiliza metforas. Em vez desta leitura, poder-se- utilizar Tg 2, 15-16 ou Sir 29, 11-
14, pois a linguagem utilizada nestas passagens mais simples e acessvel compreenso
vocabular do discente.
52 Cf. SECRETARIADO NACIONAL DA EDUCAO CRIST Programa de Educao Moral eReligiosa Catlica. Ensino Bsico e Secundrio. Lisboa: SNEC, 2007, pg. 16, diz que contedoscurriculares so entendidos como a base de conhecimentos e o conjunto de procedimentos que sorequeridos aos alunos para que possam tornar-se competentes, capazes de fazer deles um uso inteligente de
forma a poderem tornar-se cidados educados, e responder melhor a situaes da vida e ao desafios dopensamento.53 Graells (2000) considera recursos educativos quase tudo o que pode facilitar a aprendizagem, se forutilizado num contexto de formao especfica ou seja, recursos educativos so todos os materiais que sousados de modo a facilitar os processos de ensino e de aprendizagem . In DOS SANTOS BOTAS, DilailaOlviaA utilizao dos materiais didcticos nas aulas de Matemtica. Um estudo no 1 ciclo . Dissertaoapresentada para obteno do grau de Mestre em Ensino das Cincias Especialidade em Ensino da
Matemtica pela Universidade Aberta, sob a orientao da Professora Doutora Darlinda Moreira, em 2008.Texto policopiado, pg. 25.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
32/92
- 32 -
O julgamento final... parece uma linguagem apologtica e faz lembrar o filme
2012que retrata um cenrio apocalptico, de fim do mundo, quando, na realidade, o que se
pretende com esta passagem apenas demonstrar o que est certo ou errado, segundo a
perspectiva crist na relao com os mais necessitados.
Neste contedo, poderia ser apenas a segunda parte: as obras de promoo
humana com uma leitura menos catacltica e mais potica de Jb 31, 15-17.19-2254, ou,
ento, Mt 25, 34-45, sem os trs primeiros versculos propostos.
A passagem de Lc 12, 13-21 enquadra-se muito bem e vai de encontro ao texto
escolhido de Sir 29, 11-14.
sugesto
Operacionalizao dasCompetncias
Contedos Recursos
6. Interpretar textosbblicos sobre a relaodo ser humano com os
bens materiais,reconhecendo as suasimplicaes na vidaquotidiana. (Comp. 9,14, 23 e 24)
7. Relacionar aidentificao de Cristocom os maisnecessitados e com ofundamento do agir
cristo. (Comp. 8, 9 e14)
A necessria distribuiojusta da riqueza
Tg 2, 15-16 Sir 29, 11-14 Lc 12, 13-21
As obras de promoohumana
Mt 25, 34-45 Jb 31, 15-17.19-22
54Pois aquele que me criou no ventre, tambm o criou a ele, um s nos formou a ambos no seio materno. Serecusei aos pobres aquilo que pediam ou defraudei a esperana da viva; se comi sozinho o meu pedao de
po sem dar ao rfo a sua parte; se no fiz caso do miservel sem roupas, e do pobre que no tinha comque se cobrir; se no me ficaram agradecidos os seus membros, aquecidos com a l das minhas ovelhas;se
levantei a mo contra o rfo, por me ver apoiado pelo tribunal; que o meu ombro caia das minhas costas, eo meu brao seja separado do cotovelo!
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
33/92
- 33 -
F)
apresentao
Operacionalizao das Competncias Contedos
8. Interpretar produes culturais dediferentes origens sobre o significadosimblico-religioso do alimento.(Comp. 5)
O significado simblico-religioso doalimento
reflexo
Neste Contedo, o Programa apresenta a alimentao na cultura bblica. H que
reconhecer que um ponto positivo, tal como apresentar a simbologia do alimento noutras
culturas ou mitologias, dando o exemplo da simbologia escandinava.
sugesto
Este Contedo est bem elaborado, segundo a minha ptica, pelo que no tenho
sugesto a apresentar.
G)
apresentao
Operacionalizao das Competncias Contedos
9. Interpretar e apreciar produes
estticas sobre a ltima Ceia,identificando o seu significadoessencial para a mensagem crist.(Comp. 14, 25 e 26)
A ltima Ceia como representao da
entrega de Jesus por amor Ser po para os outros: a doao de simesmo
reflexo
Os Contedos apresentados referem-se Eucaristia, o que, primeira vista,
parecem descabidos, uma vez que em EMRC poder estar inscrito qualquer aluno de
qualquer confisso religiosa e poder entrar em conflito com a sua confisso religiosa ou
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
34/92
- 34 -
movimento religioso ou colocar em causa a legitimidade de EMRC como oferta obrigatria
mas de inscrio facultativa no ensino pblico portugus. Descortinados, posteriormente e
com mais reflexo, faz sentido a apresentao destes contedos, pois a disciplina de
EMRC de cariz catlica. Logo, faz sentido fazer a apresentao da Eucaristia, segundo
esta perspectiva, at porque vai de encontro com a simbologia judaico-crist do alimento e
coerente com oProgramade EMRC do Sexto Ano.
H)
O Programa faz uma sugesto de interdisciplinaridade que apresento e qual fao
uma reflexo e uma proposta.
apresentao
Sugesto de interdisciplinaridade:
Cincias da Natureza Trocas nutricionais entre o organismo e o meio.
Educao Visual e TecnolgicaA alimentao.
reflexo
A articulao interdisciplinar exige a resposta a questes directamente
relacionadas com o seu campo de saber especfico, mas tambm o restabelecimento de
relaes afectivas com os demais campos do saber55, de modo a que os alunos consigam
conectar os saberes entre si e, assim, ter uma viso o mais englobante possvel da matria
leccionada.
Para que isto seja possvel, tero que os docentes reunir e debater a matriaespecfica da sua disciplina e depois fazer uma planificao a longo prazo para assim se
poder articular e apresentar o mesmo assunto ao mesmo tempo s vrias disciplinas e da
resultar uma viso mais global da matria, e no apenas a viso de um campo do saber.
55
COMISSO EPISCOPAL DA EDUCAO CRIST Programa de Educao Moral e ReligiosaCatlica. Ensino Bsico e Secundrio. Lisboa: SNEC, 2007, pg. 22.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
35/92
- 35 -
Assim, CN56apresenta o alimento de modo biolgico, necessrio para viver: o bom
funcionamento do organismo, produo de energia, crescimento, compensar as perdas, em
que alimento se encontram os diferentes nutrientes, qual a funo de cada nutriente, tabela
das vitaminas, roda dos alimentos, alimentao saudvel e como fazer uma escolha
adequada dos alimentos.
EVT57 segue o esquema de CN, expondo o alimento de modo biolgico,
acrescentando dois temas:
os cuidados a ter para quem trabalha com os alimentos;
a cozinha regional.
EMRC58, para alm de apresentar o alimento enquanto biolgico, vai mais longe,
apresentando-o na perspectiva artstica, cultural, social, religiosa e bblica.
sugesto
A sugesto de interdisciplinaridade que vou apresentar, baseia-se em manuais
adoptados no ano lectivo 2011/12, no Agrupamento de Escolas de Argoncilhe e
consultados na Biblioteca Escolar do mesmo Agrupamento, podendo, por isso, noutros
Agrupamentos ou Escolas, haver outras opes/adopes.
Alm das disciplinas apresentadas pelo Programa de EMRC, acrescento:
Matemtica59no estudo da Proporcionalidade directa (cap. 8), mormente na
elaborao de escalas, percantagens e representao grfica de percentagens e
tambm na Estatstica (cap. 9);
Lngua Portuguesa60 na leitura de alguns textos poder-se- tirar
apontamentos, no s biolgicos, mas tambm morais/sociais, tais como A
cigarra e a formiga, de Bocage e Joo de Deus (pg. 62); A raposeta, de
56Cf. PERALTA, Catarina Rosa; CALHAU, Maria Beleza; SOUSA, Maria Fernanda de Pginas da Vida.Cincias da Natureza 6. Ano [Guia do Professor]. 1. Edio. Porto: Porto Editora, 2011, pg. 10-31.57 SEIXAS, Antnio; GASPAR, Fernando; ANDRADE, Lusa Educao Visual e Tecnolgica. CriarInovar. Manual do 2. Ciclo: 5. e 6. anos de escolaridade. Didctica Editora, pg. 117-124.58SECRETARIADO NACIONAL DA EDUCAO CRIST Ns e o Mundo. Manual do alunoEMRC
6. Ano do Ensino Bsico. 1. ed.. Lisboa: Edies Fundao Secretariado Nacional de Educao Crist,2009, pg. 138-179.59ROLO, Alice Pinto; MONTEIRO, Sandra Carina Onda matemtica. Matemtica 6. Ano. 1. Edio.Livraria Arnado, 2001.60
AFONSO, Isilda Loureno; PEREIRA, Nlson Rodrigues Palavras ao vento. Lngua Portuguesa / 6.Ano. Vila Nova de Gaia: Gailivros, 2005.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
36/92
- 36 -
Aquilino Ribeiro (pg. 118);Filmon e Bucis, de Antnio Srgio (pg. 137);
Hortas comunitrias, publicado no Jornal Pblico, a 29 de Novembro de 2003
(pg. 190) e curiosidades gastronmicas, tais como O Natal no pas do Sol
nascente, de Tomana de Carvalho (pg. 75) e O ch de Catarina, de Ana
Maria Magalhes e Isabel Alada (pg. 101);
Ingls61 na identificao das refeies, origem das mesmas, gostos
gastronmicos (no SET 2, Task B nice food, great drinks!) pg. 84-95),
eleio de restaurantes que melhor satisfazem o nosso paladar e, da, selecionar
a comida mais saudvel; hbitos alimentares em diversos pases SET 4, Task
BAround the world, pg. 126-137;
Educao Fsica62a importncia da alimentao equilibrada e da actividade
fsica para a manuteno saudvel do corpo;
Histria e Geografia de Portugal63 sendo mais complicada, mas no
impossvel, a articulao com esta disciplina devido leccionao cronolgica,
ous seja, segue-se o programa conforme as datas reais, no as intercalando, h
temas que articulam com EMRC. Vejamos esses captulos:
na parte 1, UL 3 Portugal na segunda metade do sc. XIX ,
especialmente sub-unidade 3.2 e 3.3mudanas no campo e mudanas na
cidaderespectivamente (Cf. Pg. 78-113);
na parte 2, UL 7A populao portuguesa no incio do sculo XXI, UL 8
Os lugares onde vivemos, UL 9 As actividades econmicas e UL 10
Ocupao de tempos livres (cf. Pg. 64-121).
Para alm dos aspectos morfo-sintcticos da elaborao de um texto, seja em verso,seja em prosa, oral ou por escrito, como em Lngua Portuguesa; de clculo, como em
Matemtica; do alimento de modo biolgico, necessrio para a sobrevivncia do ser
humano, a CN; alerta para os cuidados a ter para quem trabalha com os alimentos e
61COSTA, Cristina; Teixeira, Isabel; MENEZES, Paula New Cool Kids. Ingls 6. Ano. Lisboa: TextoEditora, 2011.62COSTA, Jos David D.Jogo limpo. Educao Fsica 5./6. anos. Porto: Porto Editora, 2004.63
AMORIM, Ana; VARGAS, Beatriz; LOBATO, Maria Joo Histria e Geografia de Portugal. 6. Ano /2. Ciclo. Lisboa: Lisboa Editora, 2008. Nota: este manual constitudo por duas partes.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
37/92
- 37 -
apresentao da cozinha regional, a EVT; a evoluo da populao portuguesa desde 1850
at hoje, com as suas actividades econmicas e sociais, a HGP; a importncia da
alimentao equilibrada na manuteno do corpo e forma fsica, a Educao Fsica; e a
identificao das refeies, gostos gastronmicos, alimentao saudvel e hbitos
alimentares em diversos pases, a Ingls, a disciplina de EMRC pode fazer a diferena
atravs de:
valorizar a solidariedade das pessoas, procurando evidenciar a sua dinmica
cvica, com ateno prioritria s situaes de especial sofrimento e
vulnerabilidade humana;
apelar responsabilidade individual e colectiva na luta contra a pobreza e a
excluso social;
educar para a prtica de uma economia de solidariedade, de bem-comum;
fazer a distino entre o que essencial e no essencial;
mobilizar os valores da dignidade, da solidariedade, da cooperao e justia
social com vista resoluo dos problemas relacionados com a ausncia de
condies mnimas de sobrevivncia;
assumir que a pobreza um problema de todos.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
38/92
- 38 -
III. Experincia pessoal lectiva
1. Caracterizao da Turma (dados, sua leitura crtica e ilaes
pedaggico-didcticas para a disciplina de EMRC)
A turma adstrita do 6. E, tinha inscritos vinte e oito alunos, dos quais dezanove a
EMRC.
Esta turma constituda por doze meninas e dezasseis meninos. A EMRC so dez
meninas e nove meninos.
Destes dezanove alunos inscritos a EMRC, os seus Encarregados de Educao so
maioritariamente as mes, sendo s um pai o Encarregado de Educao.
Os alunos que apresentam melhores resultados escolares so oriundos de famlias
com habilitaes acadmicas mais elevadas: gerentes de bancos, de empresas e com cargos
de relevo em empresas de renome nacional e internacional. No entanto, mais de metade
dos pais dos alunos tm habilitaes acadmicas acima do sexto ano.A maioria dos alunos situa-se na faixa etria dos onze anos e so de nacionalidade
portuguesa.
Dezasseis alunos so oriundos de famlias tradicionais, dois de famlias
monoparentais e um de famlia reconstituda.
Dos dezanove alunos, trs tm ambos progenitores desempregados e dois tm um
dos progenitores desempregados.
A nvel de actividades desportivas regulares, quatro alunos jogam Voleibol naAssociao Acadmica de Espinho; trs frequentam uma escola de Karat, em Espinho;
um joga futebol no Futebol Club do Porto; uma menina joga futsal no Restauradores
Avintenses Futsal Feminino e trs meninos jogam hquei em patins na Associao Cultura
e Recreio de Gulpilhares.
Os passatempos preferidos so: ver televiso, jogar videojogos nas mais diversas
plataformas e consolas, conversao online com os amigos e ouvir msica.
Dos dezanove alunos inscritos a EMRC, oito frequentam o Escutismo.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
39/92
- 39 -
Em Dezembro, na altura da Campanha Alimentar Contra a Fome, dezoito alunos
participaram na angariao de alimentos junto dos Hiper e Supermercados.
O aproveitamento bom, mas o comportamento no o melhor, mas com a
aplicao de algumas medidas correctivas, como a mudana de disposio na sala de aula,
o comportamento foi melhorando ao longo do ano, no sendo ainda o desejvel, mas j
possvel leccionar-se sem incidentes crticos.
A Directora de Turma informou-me que o comportamento apresentado em EMRC
igual em todas as aulas.
No segundo perodo, as planificaes de EMRC passaram a incluir um Plano de
Interveno, pois no primeiro perodo houve aulas em que os alunos estavam distrados,
desconcentrados, conversadores, desrespeitadores e poucas vezes realizaram os Desafios
da Semana64. Estes Planos de Interveno surtiram o efeito desejado, pois quando foram
solicitados, a ttulo facultativo, a realizarem uma pea para a II Mostra Multimdia A
EMRC j se v na beleza do dilogo, dinamizada pelo Grupo Disciplinar de EMRC,
houve oito alunos que participaram.
2. A experincia e as aprendizagens na Escola EB 2/3 Sophia de
Mello Breyner
2.1 A experincia
Aps a caracterizao da Turma (dados, sua leitura crtica e ilaes pedaggico-
didcticas para a disciplina de EMRC), exponho, agora, a minha experincia que tive na
Escola Sophia de Mello Breyner, em Arcozelo, com Segundo e Terceiro Ciclo, na turma
adstrita do 6. E.
64Utilizei a terminologia Desafio da Semana em vez de Trabalho para Casa para descarregar o peso de
obrigatoriedade de realizao do trabalho e de comparao com as outras disciplinas e os discentesassumirem que um desafio que dura uma semana, assumindo mais um carcter ldico do que acadmico.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
40/92
- 40 -
Neste sentido, comearei por apresentar uma proposta de planificao a mdio
prazo da UL 4 e que ao longo da leccionao da UL, na planificao de aula a aula, sofreu
algumas alteraes.
Unidade Lectiva 4O po de cada dia
Contextualizao
Nesta Unidade Lectiva far-se- a apresentao do tema e tentar-se- orientar
sempre as aulas, a partir da experincia que o aluno faz do po de cada dia, enquanto
alimento biolgico, como smbolo e sinal da partilha e solidariedade, em geral, e, depois,
na perspectiva crist, apresentar Jesus como o po para os outros, doando-se a si mesmo,
e que se recebe na Eucaristiaalimento espiritual.
Para isso, apresentar-se- a importncia da alimentao, partindo da aprendizagem
do aluno na disciplina de Cincias da Natureza sobre a alimentao saudvel, explorando
imagens sobre a subnutrio e a sobrenutrio e razes que levaro a uma e a outra e tentar
encontrar solues, tanto para uma como para outra, para se manter um equilbrio ou
minorizar situaes que possam colocar em causa a dignidade da pessoa.
Como nem sempre as pessoas lutam pelo bem comum, o Estado tenta ajudar os
mais necessitados a minorar a desigualdade da distribuio dos bens de primeira
necessidade, criando, para o efeito, instituies e organismos. Um exemplo disso so as
Misericrdias que j tm uma vasta tradio neste campo, pois j h mais de quinhentos
anos que ajudam os mais necessitados e que tm por lema Mt 25, 33-4065.
Apresentarei, depois, a importncia da alimentao, em concreto, na cultura judaica
e crist, apresentando um texto (resumo das pginas 152-158 do manual do aluno) em
como a cultura judaico-crist v a simblica de certos alimentos, para, no fim, apresentar
Jesus como o po para os outros, doando-se a si mesmo, numa perspectiva crist, claro.
65 sua direita por as ovelhas e sua esquerda, os cabritos. O Rei dir, ento, aos da sua direita: Vinde,benditos de meu Pai! Recebei em herana o Reino que vos est preparado desde a criao do mundo.
Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me,estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na priso e fostes ter comigo. Ento, os
justos vo responder-lhe: Senhor, quandofoi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e tedemos de beber? Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? E quando te vimos doente
ou na priso, e fomos visitar-te? E o Rei vai dizer-lhes, em resposta: Em verdade vosdigo: Sempre quefizestes isto a um destes meus irmos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes.
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
41/92
- 41 -
No leccionarei os seguintes contedos:
Solidariedade e voluntariado, porque me parece repetitivo focar este tema, uma
vez que, se solidariedade ajudar todo o que precisa de mim, se encontra na
Unidade Lectiva 3 Jesus, um Homem para todos do Quinto Ano e, pelo
conhecimento que tenho da turma e da articulao com a Directora de Turma, os
alunos ajudam-se, enquanto turma e enquanto membros da Escola, pois a maioria
j participou e continua a participar em campanhas de recolha de alimentos nos
hipermercados;
As divises do Novo Testamento, uma vez que os alunos nas UL anteriores
demonstraram j serem conhecedores da estrutura interna da Bblia.
Planificao a mdio prazo da Unidade Lectiva 4: O po de cada dia
COMPETNCIASESPECFICAS
Reconhecer, luz da mensagem crist, a dignidade da pessoa humana; Interpretar produes culturais (literrias, pictricas, musicais ou outras) que utilizam ou aludem a
perspectivas religiosas ou a valores ticos; Interpretar criticamente episdios histricos e factos sociais, a partir de uma leitura da vida fundada em
valores humanistas e cristos; Relacionar o fundamento religioso da moral crist com os princpios, valores e orientaes para o agir
humano, propostos pela Igreja; Organizar um universo coerente de valores, a partir de um quadro de interpretao tica humanista e crist; Mobilizar princpios e valores ticos para a orientao do comportamento em situaes vitais do quotidiano; Relacionar-se com os outros com base nos princpios de cooperao e solidariedade, assumindo a alteridade
e diversidade como factor de enriquecimento mtuo; Identificar o ncleo central constitutivo da identidade do Cristianismo, particularmente do Catolicismo; Usar a Bblia a partir do conhecimento da sua estrutura; Interpretar textos fundamentais da Bblia, extraindo significados adequados e relevantes; Reconhecer as implicaes da mensagem bblica nas prticas de vida quotidiana; Interpretar produes estticas de temtica crist, de mbito universal e local; Apreciar produes estticas de temtica crist, de mbito universal e local.
Aula Operacionalizao dascompetncias
Contedos Experincias de aprendizagem Avaliao
1
Adquirir rotinas deinteraco e cordialidadesocial.
A importncia do acolhimento e
saudao para o estabelecimento de um
bom clima pedaggico e relacional.
Saudao Observao directa
de:
comportamento
interesse nas
actividades
propostas
Estabelecer um contactoindividualizado com oprofessor.
Chamada
Identificar o tema da aula.
O tema a leccionar na aula.
Introduo ao tema: O po de cada
dia.
Sumrio
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
42/92
- 42 -
AulaOperacionalizao das
competnciasContedos Experincias de aprendizagem Avaliao
A luta contra a fome no mundo. participao
domnio da
linguagem
especfica da
disciplina
material necessrio
atitude de respeito,
tolerncia e
abertura aos outros
mobilizao de
informao
realizao do
Desafio da Semana
(T.P.C.).
Desenvolvimento
Mesa: sinal de unio familiar.
Actividade oral
Debate exploratrio acerca do local deconvvio, tomada de decises, partilha,alimentao... at chegar mesa. Aps sechegar mesa, apresentar, em powerpoint,a UL.
Apropriar-se da matria aleccionar nesta UnidadeLectiva.
1. A importncia da alimentao2.A luta contra a fome
3.O significado religioso da refeio nocontexto judaico-cristo
4.A ltima Ceia como representao daentrega de Jesus aos outros por amor:doao de Si mesmo.
Apresentao, em powerpoint, daunidade lectiva.
Recordar algunscontedos leccionados nadisciplina de Cincias da
Natureza.
Alimentao saudvel: mais fruta,legumes, peixe, carne branca,actividade fsica, cereais e menos
gorduras, refrigerantes, evitar acomida de plstico e refinados...
Dilogo sobre a importncia daalimentao, a partir do queaprenderam na disciplina de Cincias da
Natureza sobre a alimentao saudvel(utilizando o powerpoint anterior,projectar uma imagem com a roda dosalimentos).
Identificar razes queesto na origem dadistribuio injusta dosrecursos alimentares.
O que contribui para a subnutrio:pobreza; falta de recursos econmicos;escassez de alimentos; falta de guapotvel; falta de acesso comida, ou deuma forma insuficiente; falta denutrientes necessrios; precariedadedo emprego;
O que contribui para a sobrenutrio:riqueza; distribuio desequilibrada dosrecursos; egosmo;
O que fazer para se lutar contra asubnutrio e a sobrenutrio:distribuio mais equilibrada dosrecursos; condies de salrio; justiaequitativa (igual para todos); a luta pelobem comum (problema de um, problemade todos)
Projeco de duas imagens: uma de umapessoa subnutrida e outra de umapessoa sobrenutrida (que poder estarno mesmo powerpoint anterior).
Questionrio a explorar sobre as imagens(guio):
Razes que esto na origem dasubnutrio?
O que leva sobrenutrio?
O que se pode fazer para lutar contraa subnutrio e a sobrenutrio?
Fazer um apanhado da
aula leccionada.
Sintetiza a aula
Sntese
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
43/92
- 43 -
AulaOperacionalizao das
competnciasContedos Experincias de aprendizagem Avaliao
O valor da justia e da distribuioequilibrada de recursos.
2
Adquirir rotinas deinteraco e cordialidadesocial. A importncia do acolhimento e
saudao para o estabelecimento de umbom clima pedaggico e relacional.
Saudao
Observao directa
de:
comportamento
interesse nas
actividades
propostas
participao
linguagem
especfica da
disciplina
material
necessrio
atitude de
respeito,
tolerncia e
abertura aos
outros
mobilizao deinformao
realizao do
Desafio da
Semana.
Estabelecer umcontactoindividualizado com oprofessor.
Chamada
Identificar o tema da aula. O tema a leccionar na aula.
A luta contra a fome.
Sumrio
Desenvolvimento
Recordar as atitudes a terperante a distribuioinjusta dos bens mnimosde subsistncia
Causas que levam subnutrio/sobrenutrio
Atitudes a ter perante a distribuioinjusta dos bens mnimos desobrevivncia: ser justo (igual para comtodos) e lutar pelo bem comum.
Questionar os alunos sobre a matrialeccionada na aula anterior.
Algum capaz de descrever asimagens projectadas na aulaanterior?
Que problemas sociais foramretratados nessas imagens?
Que atitudes podemos ter perante
essas situaes? Interpretar criticamente
factos sociais, luz doreconhecimento dadignidade de todos osseres humanos, nos quaisesteja patenteinstituies/organismosna justa distribuio dosbens de primeiranecessidade.
Organizar um universo devalores fundado norespeito pela dignidade detodos os seres humanos ena justia social.
FAO (Food and Agriculture OrganizationOrganizao para a Alimentao eAgricultura); Caritas; Junta de
Freguesia; Cmara Municipal; SeguranaSocial; Centros Sociais e Paroquiais;Banco Alimentar; Conferncia Vicentina;projectos missionrios; Santa Casa deMisericrdia....
Partindo da sntese da aula anterior,perceber o que a sociedade/Estadofaz/cria numa tentativa de ajudar osmais necessitados a minorar adesigualdade da distribuio dos bensde primeira necessidade:
Que instituies/organismosconhecem que ajudam aspessoas mais necessitadas?
Apoio junto das pessoas maiscarenciadas atravs de apoiopsicossocial (acompanhamento dirioou semanal de uma assistente social
junto das pessoas necessitadas);atribuio de cabazes alimentaresmensais; ajuda na construo de
Quais as aces desenvolvidaspor cadainstituio/organismo?
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
44/92
- 44 -
AulaOperacionalizao das
competnciasContedos Experincias de aprendizagem Avaliao
melhores condies habitacionais;voluntariado; solidariedade; atribuiode subsdios escolares...
Mobilizar os valores dadignidade de todas aspessoas, da solidariedadee da cooperao comvista resoluo dosproblemas relacionadoscom a ausncia decondies mnimas desubsistncia.
Definio de solidariedade: virtudeeminentemente crist que pratica apartilha de bens, quer espirituais, quermateriais.
Partindo destas questes, chegar sMisericrdias nacionais que tm como lemaMt 25, 31ss.
Histria das MisericrdiasNos grandes centros urbanos, como Lisboa,o desenvolvimento da expanso martima,da actividade porturia e comercial,favorecia o afluxo de gente na procura detrabalho ou de enriquecimento. Ascondies de vida degradavam-se e as ruastransformavam-se em locais de pobreza,abandono, orfandade, mendicidade edoenas.A 15 de Agosto de 1498, em Lisboa, surgiu aprimeira Misericrdia portuguesa. Suafundadora foi a Rainha D. Leonor, viva deD. Joo II, com o total apoio do Rei D.
Manuel I, com o nome de Irmandade deInvocao a Nossa Senhora daMisericrdia. A Irmandade actuava juntodos pobres, presos, doentes, e apoiava oschamados "envergonhados" (pessoasdecadas na pobreza, por desgraa). Atodos os necessitados socorria dandopousada, roupas, alimentos,medicamentos Tambm promovia umaimportante interveno a nvel religioso,presente nas oraes e na celebrao demissas e procisses, nas cerimnias dosenterros, no acompanhamento decondenados morte ou na promoo dapenitncia. Desta forma, os Irmosanunciavam o Evangelho com palavras mastambm com obras concretas,testemunhadas atravs de atitudes crists.Com o correr dos anos, a Misericrdia foi-se expandindo por Portugal. Entre outroslocais, est presente no Porto, fundada em1499, estando o Hospital da Prelada sob asua superviso.
Distribuir o texto Histria das
Misericrdias.
Jesus identifica-se com os pequeninos,com cada um de ns,
Leitura de Mt 25, 34-40 (por parte deum aluno)
Com quem que o prprio Jesus
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
45/92
- 45 -
AulaOperacionalizao das
competnciasContedos Experincias de aprendizagem Avaliao
independentemente da categoria social. se identifica?
A concluso que se pode tirar que sedeve sempre ajudar quem necessita.
Que concluso se pode tirar daseguinte frase: sempre quefizestes isto a um destes meusirmos mais pequeninos, a mimmesmo o fizestes?
Dar de comer a quem tem fome;
Dar de beber a quem tem sede;
Acolher o peregrino;
Vestir o mal vestido;
Visitar os doentes e presos
Ouvir/Escutar/Ajudar o vizinho...
Que gestos e atitudes concretaspodes assumir para ajudar os quete rodeiam?
Fazer um resumo da aulaleccionada.
As obras de caridade devem ser vistase sentidas como actos pessoais[fraternidade] e como serviosprestados s pessoas necessitadas,tendo em ateno os princpios dasolidariedade, justia e bem comum.
Sntese
(enunciado escrito).
Consolidao dos factossociais, luz do
reconhecimento dadignidade de todos osseres humanos, nos quaisesteja patente instituiesou organismos na justadistribuio dos bens deprimeira necessidade deque exemplo a SantaCasa de Misericrdia.
1. A primeira Misericrdia surgiu em quecontexto/situao?
2. Em que data?
3. Onde?
4. Quem foi a sua fundadora?
5. Quem era o rei nessa altura?
6. Teve o seu apoio ou a sua oposio?
7. A Misericrdia apoiava quem?
8. Como fazia esse apoio?9. Para alm do apoio material, que outra
interveno fazia?
10.A primeira Misericrdia surgiu emLisboa. E a segunda?
11. Em que ano?
12.Que Hospital, no Porto, est sob a suasuperviso?
Desafio da Semana
Distribuio de um questionrio de resposta
curta e fechada sobre a Histria dasMisericrdias para resoluo domiciliria.
3 Adquirir rotinas de
interaco ecordialidade social.
A importncia do acolhimento esaudao para o estabelecimento de umbom clima pedaggico e relacional.
SaudaoObservao directa
de:
7/25/2019 O Po de Cada Dia_Dissertao_Actualizada e Corrigida
46/92
- 46 -
AulaOperacionalizao das
competnciasContedos Experincias de aprendizagem Avaliao
Estabelecer umcontactoindividualizado como professor.
Chamada
comportamento
interesse nas
actividades
propostas
participao
linguagem
especfica da
disciplina
material
necessrio
atitude de
respeito,
tolerncia e
abertura aos
outros
mobilizao deinformao
realizao da
actividade
proposta
(Desafio da
Semana T.P.C.)
Identificar o tema daaula.
O tema a leccionar na aula:
Correco do Desafio da Semana.
Simbologia judaico-crist de algunsalimentos.
Sumrio
Desenvolvimento
Aferir os seus
conhecimentos relativos ainstituies/organismosque esto implicados na
justa distribuio dosbens de primeiranecessidade, em especial,as Misericrdiasportuguesas.
Reconhecer a importnciada ateno nas aulas paraa aquisio e consolidaode conheci
Top Related