Dissertao de Mestrado
O ROMANCE VIDAS SECAS EM SALA DE AULA: DA LEITURA
APROPRIAO DO TEXTO PELA PERFORMANCE
Universidade Federal de Campina Grande
Programa de Ps-Graduao em Linguagem e
Ensino
Mestranda: Aline Barbosa de Almeida
Orientadora: Prof. Dr. Mrcia Tavares Silva
INTRODUO
OBJETIVO
O objetivo geral estava para a ideia de
investigar a formao do leitor literrio
a partir de conceitos da Esttica da
Recepo de Hans Robert Jauss, do
Efeito Esttico de Wolfgang Iser e da
noo de performance de Paul Zumthor
na recepo do romance Vidas Secas,
de Graciliano Ramos.
ESTRATGIAS DE LEITURA
Experimentaes de leitura em voz
alta, roda de debates e leituras
performatizadas para compreender que
percurso analtico e receptivo os jovens
leitores, fazem na interlocuo com a
obra de Graciliano Ramos,
evidenciando de que forma suas
leituras dialogam com a obra e, em
especial, com o captulo O menino
mais velho.
1 O LEITOR SOB A LUZ DA TEORIA DARECEPO, DA PERFORMANCE E DO
ENSINO
1.1 O leitor nas
tramas textuais Jauss (1994)
Experincia
fruidora/ Horizonte
de expectativa
Iser (1979) - leitor
implcito
1.2 O leitor de
Carne e Osso Zumthor (2007)
Materializao da
palavra
Kefals (2012) -
Corpo a corpo com o
texto literrio.
1.3 O leitor no
ensino de Literatura
Rangel (2005)
Leitor proficiente
Aguiar e Bordini
(1993)/ OCEM
(2006) Contato
efetivo com o texto.
2 DA LEITURA APROPRIAO DO
GNERO ROMANCE EM SALA DE AULA
2.1 A leitura Literria na
formao do leitor
Candido (1995)
Humanizao
Zilberman (1998) prtica
efetiva da leitura
2.2 O gnero romance e o
leitor
Lukcs (2000) Totalidade
da apreenso do real
Bosi (1992)/ Candido
(1987) projees do leitor.
2.3 Os vazios do romance
Vidas secas: entradas
para leituras
Coutinho (1978)
temtica seca
Carpeaux (1943) e
Brunacci (2008)
Linguagem
Candido (2006) estrutura
2.4 A corporeidade da
palavra inferno como
porta de entrada para
leitura do romance Vidas
secas
Busca pelo significado
Cocorotes e puxes de
orelha;
Larrosa (2002) sujeito
da experincia
3 O ROMANCE VIDAS SECAS EM SALA DE
AULA: UMA EXPERINCIA DE LEITURA
Oficina: Vidas secas e seus horizontes;
Tempo de experincia: Dois meses (nove encontros - onze
encontros);
Pblico: alunos do terceiro ano do ensino mdio (15 participantes
14 participao efetiva);
Modo de seleo: inscrio/ Horrio da oficina: 18h30min s
20h;
Pesquisa: Quanti-qualitativa/Abordagem: pesquisa-ao;
Planejamento dos encontros: Mtodo recepcional de Aguiar e
Bordini (1993) Determinar, atender, romper, questionar e ampliar
os horizontes de expectativa dos leitores.
Determinar os
horizontes de
expectativa
Questionrio (16
questes) - experincia
de leitura e o contato
com a performance.
Diante dessa sondagem do horizonte de
expectativas do leitor, notamos que o nosso
pblico apresentou um perfil de experincia de
leitura literria no mbito escolar, no entanto, ela
ainda no havia sido vivenciada em dilogo com
a performance. Mesmo tendo passado por
algumas atividades eles ainda encaram a leitura
como algo cansativo, salvo algumas excees.
Atender os horizontes
de expectativa
Concepo de
romance
Incio da leitura
Livro Seca de Andr
Neves (ilustrativo)
Os leitores saram motivados para a entrada na
leitura do romance Vidas secas, uma vez que o
livro de Andr Neves abriu o imaginrio deles
para a ambientao que ir perpassar por todo o
romance, bem como a figurao da famlia nesse
ambiente e o entusiasmo para iniciar a leitura do
romance. .
4 UM SER NO OUTRO: A IDENTIFICAO
COM AS PERSONAGENS
Romper e questionar
os horizontes de
expectativa
4.1 O menino mais velho
4.2 Fabiano
4.3 Sinha Vitria
4.4 O menino mais novo
4.5 Baleia
O MENINO
MAIS VELHO
Palavra Inferno
Processo de busca no texto
Sentido do texto
Compreenso da experincia da personagem
Busca 1
L05: perguntou a me na cozinha e ela disse que era um lugar ruim de
espeto e vara quente.
Busca 2
L10: Essa foi com o pai. T aqui na primeira pgina. Mas ele no responde nada, manda o coitado arredar. Oxe e bicho ? (o leitor solta essa expresso em um tom de indignao).
Busca 3
L06: Com a me de novo.
Pesquisadora: [] O que ele faz?
L01: Ele pergunta como e se ela j tinha ido l.
Pesquisadora: Verdade. E o que a me dele fez?
L05: bate no coitado, com os cocorotes. Toda vez ela faz isso. Bichinho.
L10: deve ter dodo que s a gota. Deu at para sentir aqui. A nica pessoa que tem pena dele a Baleia, toda vez est perto dele
FABIANO
Imaginao da personagem
Descrio;
Nome
Sertanejo ser bruto
L02 mencionou que as esporas, o chapu, as botas
que os sertanejos usam do uma imagem de pessoas carrancudas e
bravas
Construo imagtica - vazio - leitor
Sinha Vitria
Descrio da personagem
Cama;
Sapato encarnado;
Descrio fsica.
Construo imagtica
Campo ideolgico e sensitivo de recepo
L10: [...] ela feia e cheira a bode e a galinha. (fala enftico)
Pesquisadora (surpresa): Por qu?
L10: Professora a mulher fuma, fica cuspindo e desleixada.
Pesquisadora: Certo! E quanto a cheirar a galinha e a bode?
L10: que na casa do meu av que fica no serto tem uma mulher que do mesmo jeito, da
ela fica s matando as galinhas e tangendo os bodes e a mulher uma morena bem morena,
toda suada.
L06: eu acho que ela parece aquelas nordestinas bem sofridas, com a pele queimada,
muito magra e de cabelos ruins.
O MENINO MAIS
NOVO
Hereditariedade
Sobrevivncia (L01)
Danado, inquieto (L05)
Viso Ideolgica
Familiarizao com a escrita de Graciliano
Ramos
Caadores
Langlade (2012)
BALEIA
Personificao
Zoomorfizao
Diferena entre Baleia e Os meninos.
Nome identidade
L01 fbulas caracterizao dos
animais (fala)
Horizonte de expectativa
Jauss (1994)
L06: [...] ela era uma cachorrinha esperta, ela ia atrs de comida para o pessoal, ficava do lado dos meninos quando eles esto tristes.
L10: pois , eu acho que ela foi a principal dessa histria, porque ela est presente em tudo.
Pesquisadora: Esse comportamento natural de um animal?
L10: [] Bicho muito instintivo, meu av fala que tudo que a gente sente eles v. Eu tinha um cachorrinho que no saia do meu lado.
Pesquisadora: As atitudes de Baleia so normais para um ser humano?
L05: no! Por que bicho no tem conscincia, eu acho que eles se acostumam ao lugar que vive.
A apreenso de uma totalidade
Totalidade
Um sentido da obra
Captulo Fuga
Ciclo (L01) Lukcs (2000) sistema abstrato
Estrutura Recordao/um ser
no outro
Ideia de esperana
Apreenso do real
Lirismo
Ampliao do horizonte de expectativa :
performance versus encenao
Performance
Acordando o corpo
Relaxando o corpo
Nveis de posicionamento do
corpo (baixo, mdio, alto)
Os tpicos trabalhados nas aulas de Tcnica Klauss
Vianna no se reduzem ao virtuosismo nem ao acumulo de
habilidades corpreas, mas envolvem o pensamento do
corpo, que um "estar presente" em suas sensaes,
enquanto se executa o movimento, sentindo-o e assistindo-
o, tornando-se, desta forma, um espectador do prprio
corpo. (MILLER, 2007, p. 24)
Performance
L01: se posiciona para frente de forma firme, com pisadas pesadas no cho e cita:Voc no tem direito de provocar os que esto quieto. (fala de forma alta ertmica medida que balana o corpo).
L13: (se posiciona de forma vertical no espao, joga os braos para frente comosinal de descompromisso e despreocupao e repete a mesma frase que o Leitor 01,mas de forma lenta e tranquila.
L03: Comea a tocar o pandeiro.
L10 canta ao som do pandeiro: Ns no tem direito de provocar os que toqueto. (canta ao mesmo tempo que dana o movimento da dana o p direitopara frente e para atrs no ritmo de forr.
L01 bate palma criando uma mistura do som do instrumento com as das palmas).
Todos estavam fazendo a apresentao no plano alto (em p) e mantiveram o planodurante toda a apresentao.
Zumthor (2007, p.39) menciona que o ato performtico
no se liga apenas ao corpo, mas, por ele, ao espao.
Para que essa relao ocorra necessrio que o leitor
tenha uma identificao com outro espao. o corpo
torna-se a materializao daquilo que lhe prprio,
como uma realidade vivida e que determina uma relao
com o mundo. O corpo existe quanto relao, em cada
momento recriado, do eu ao ser fictcio.
Encenao
A encenao s tem seu valor cnico ao se tornar msica de
movimentos, ao se repetir os gestos, na mmica e pantomima, se
passando tambm para um plano espao-visual. A performance no
deixa de ser uma encenao, mas a proposta para os leitores era que
eles conseguissem articular voz e gestos simultaneamente, sem a
preocupao cnica de um teatro articulado entre eles.
De toda forma, no podemos negar que a experincia da
performance em sala de aula, com o acompanhamento da
pesquisadora no nono encontro, bem como a apresentao final
dos leitores, no deixou de propiciar esse contato corpo a corpo
com o texto literrio.
CONSIDERAES FINAIS
Prazer na leitura;
Esforo.
Romance
Escola como lugar de leitura.
Leitura Extra-classe
Fragmentao da
leitura;
Esttica da obra;
Presena do leitor.
Estratgias de leitura
Busca no texto literrio
Ritmo De leitura
Familiarizao com essa forma de recepcionar o texto literrio.
Fuga da performance
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