O turismo em Portugal: evolução e distribuição
Enviado por José Alberto Afonso Alexandre
Partes: 1, 2, 3, 4, 5
1. Abreviaturas e Siglas
2. Introdução
3. Metodologia
4. Aspectos gerais do fenómeno turístico em portugal
5. A evolução do fenómeno turístico em portugal
6. Os espaços de atracção turística em portugal
7. Um caso particular: o turismo no algarve
8. Conclusão
9. Referências Bibliográficas
Abreviaturas e Siglas
CCRAl Comissão de Coordenação da Região do Alentejo
CCRAlg Comissão de Coordenação da Região do Algarve
CCRC Comissão de Coordenação da Região Centro
CCRLVT Comissão de Coordenação da Região de Lisboa
e Vale do Tejo
CCRN Comissão de Coordenação da Região Norte
CE Comissão Europeia
CEE Comunidade Económica Europeia
CEG Centro de Estudos Geográficos
CPRN Comissão de Planeamento da Região Norte
DGDR Direcção Geral do Desenvolvimento Regional
DGT Direcção Geral de Turismo
1
ENATUR Empresa Nacional de turismo
EUA Estados Unidos da América
FEDER Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
FLUC Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
ICEP Instituto do Comércio Externo de Portugal
IEG Instituto de Estudos Geográficos
IGM Instituto Geológico e Mineiro
INE Instituto Nacional de Estatística
MCT Ministério do Comércio e Turismo
MPAT Ministério do Planeamento e da Administração do
Território
NUTS Nomenclatura das Unidades Territoriais para fins
Estatísticos
OCDE Organização de Cooperação e Desenvolvimento
Económico
OMT/WTO Organização Mundial do Turismo
PIB Produto Interno Bruto
PROT Plano Regional de Ordenamento do Território
SEPDR Secretaria de Estado do Planeamento e
Desenvolvimento Regional
SET Secretaria de Estado do Turismo
SET Secretaria de Estado do Turismo
SNPRCN Serviço Nacional de Parques, Reservas e
Conservação da Natureza
TAP Transportes Aéreos Portugueses
TER Turismo em Espaço Rural
2
UE União Europeia
UL Universidade de Lisboa
UNESCO Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura
VAB Valor Acrescentado Bruto
WWW World Wide Web
Introdução
Este documento apresenta uma série de conclusões acerca do fenómeno
turístico em Portugal, desde o seu aparecimento até à situação actual, por
áreas geográficas e tipo de recursos.
Ainovação é sinónimo de produzir, assimilar e explorar com êxito a novidade
nos domínios económico e social. A inovação traz consigo soluções inéditas
para os problemas e permite responder às necessidades das pessoas e da
sociedade.
O contrário da inovação é "o arcaísmo e a rotina". Assim se explica que a
inovação encontre tantos obstáculos e esbarre em tão fortes resistências. Por
isso, também, o desenvolvimento e a partilha da inovação se transformaram
numa aposta capital para as sociedades actuais.
Os papéis que a inovação desempenha são múltiplos. Enquanto força motriz,
arrasta consigo as empresas em direcção a objectivos ambiciosos inscritos no
longo prazo. É ela que conduz à renovação das estruturas industriais e é ela
que dá origem a novos sectores de actividade económica.
O sector do turismo não foge à regra, pois num mundo em constante mudança,
as empresas têm que estar atentas e não deixarem fugir oportunidades.
No âmbito da cadeira de Turismo e Inovação do Mestrado em Inovação e
Políticas de Desenvolvimento foi atribuído um tema para a realização de um
trabalho prático que abordasse um assunto que se inserisse no âmbito daquela
disciplina.
3
O tema escolhido foi a caracterização espaço-temporal do fenómeno turístico
em Portugal e a sua relação com a produção científica efectuada sobre a
mesma actividade.
O turismo é uma das principais actividades económicas do mundo de hoje,
mesmo tendo em conta a diversidade de contextos geográficos, políticos e
socio-económicos. Organizado de um modo regular a partir da segunda
metade do século passado, tornou-se num dos sectores-chave da economia de
um grande número de países, justificando em maior ou menor grau numerosas
actividades, entre as quais a construção civil e obras públicas, os transportes, a
agro-pecuária e os serviços. Paralelamente os efeitos directos nos campos
social e cultural são indiscutíveis, tal como no domínio das relações
internacionais e mercado externo.
Assim o presente trabalho, abordando o tema de forma inédita, baseando-se
em duas dimensões (espaço e tempo), pretende relacionar, com base nos
meios disponíveis, todos os elementos inerentes à evolução e distribuição
espacial do fenómeno turístico em Portugal, com uma pequena alusão e
relação com o conjunto de obras e artigos editados no âmbito do turismo,
começando por apresentar os aspectos gerais referentes à actividade turística
em Portugal, seguindo-se o estudo da evolução do fenómeno turístico em
Portugal, desde a sua aparição até à actualidade. Por último far-se-á um
estudo dos vários espaços de atracção turística que caracterizaram o turismo
português ao longo da sua existência e dos problemas que mais o afectam.
Metodologia
metodologia a utilizar neste tipo de trabalhos encontra-se sempre dependente
da escassez de tempo para que alguns aspectos mais específicos pudessem
ser analisados com mais rigor e pormenor.
Através da bibliografia mais genérica procurou-se a compreensão de
determinados fenómenos que no início pareciam estranhos mas que à medida
que o trabalho foi avançando se tornaram mais claros e perceptíveis. Procurou-
se no fundo, com este tipo de bibliografia ter uma visão de conjunto que foi
complementada mais tarde com uma bibliografia mais directamente
4
relacionada com o tema central e que deu uma visão muito mais clara e
objectiva da problemática, influenciando a perspectiva com que se elaborou o
presente trabalho.
Através dum moroso trabalho de pesquisa e consulta bibliográfica sobre
turismo, efectuado em todos os Institutos e Bibliotecas das Universidades de
Coimbra e de Aveiro que tratassem do tema, elaborou-se uma listagem das
obras e artigos encontrados respeitantes a Portugal, quer como local de
edição, quer sobre a problemática do turismo português. Após uma leitura
atenta desse material, elaboraram-se breves resumos sobre os temas tratados
e as conclusões a que se chegou.
De seguida procedeu-se ao tratamento e síntese da informação, elaborando o
plano de trabalho que se ia efectuar, escolhendo da mesma forma os
indicadores com os quais se iriam apresentar os resultados finais do estudo.
O Turismo é uma actividade de pessoas que se deslocam a lugares diferentes
da sua residência habitual, com uma duração não superior a um ano, desde
que o motivo principal seja: férias, negócios, ou outra qualquer situação, à
excepção de exercer uma actividade remunerada no lugar visitado.
O sistema de turismo é composto pelas diversas estruturas e pelos múltiplos
intervenientes que contribuem para uma possível delimitação da procura e
oferta turística.
Assim, temos do lado da procura os fluxos populacionais que, na sua qualidade
de potenciais visitantes são condição para o próprio crescimento das
actividades turísticas de uma região e, do lado da oferta, as atracções
(recursos naturais e culturais, actividades desportivas ou de animação), os
transportes e acessibilidades, os equipamentos e serviços turísticos (de
alojamento, de restauração) e a informação/promoção.
As funções que se atribuem aos vários agentes do sistema são idênticas na
sua essência, e são constituídas por uma grande diversidade de organizações
que oferecem bens e serviços aos visitantes, atendendo às suas "solicitações"
turísticas. Por este motivo, é classificada pelos seguintes sectores: transportes,
5
alojamento, atracções construídas pelo homem, serviços de suporte ao sector
privado, serviços de suporte ao sector público e intermediários (como por
exemplo operadores turísticos).
Relativamente aos indicadores de ordem bibliográfica escolhidos foram: a
evolução anual da produção cientifica no período considerado através de
frequências simples e de frequências acumuladas, a sua subdivisão por épocas
distintas; a caracterização por áreas temáticas e a caracterização por Áreas
Turístico-Promocionais.
No que respeita aos indicadores caracterizadores do fenómeno turístico: foram
escolhidos indicadores gerais de procura turística tal como a entrada de
visitantes, a estada média dos turistas, as receitas cambiais do turismo, as
dormidas e indicadores de oferta turística, como a capacidade de alojamento.
Relativamente à Procura Turística, e recorrendo à classificação dos viajantes
da Organização Mundial do Turismo, importa distinguir dois tipos de visitantes:
turistas e excursionistas.
Os Turistas são visitantes temporários que permanecem pelo menos 24 horas
no país visitado e cujo propósito da viagem pode ser classificado como: lazer,
negócios, família, missão, encontro. É importante referir que a definição de
turista se estende a viajantes em férias e também em negócios, encontros,
congressos e conferências, visitas a familiares e amigos, desportos, estudos,
religião e outras obrigações. Embora a maior parte do turismo mundial seja
turismo de lazer, o turismo de negócios, em geral, envolve maiores gastos por
pessoa, enquanto as visitas a familiares e amigos constituem uma parcela de
turismo muito importante para alguns destinos. Relativamente aos diplomatas
ou aqueles que viajam com o objectivo primário de se empregarem e serem
remunerados por organizações sediadas em determinado destino não são
considerados turistas. Isto implica que um turista geralmente traga dinheiro
ganho no país de origem para gastar no seu destino – o que é um ponto
importante na análise da contribuição do turismo para uma economia.
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Os Excursionistas são visitantes temporários que permanecem no país menos
de 24 horas, pelos mesmos motivos, e que nele não pernoitam (excluindo
passageiros em trânsito).
No que concerne à Oferta Turística, "a oferta turística é constituída por todos os
elementos que contribuem para a satisfação das necessidades de ordem
psicológica, física e cultural que estão na origem das motivações dos turistas. A
complexidade e a diversidade das razões que motivam desejo de férias
exigem, cada vez mais, uma variedade e uma complementaridade dos factores
de atracção. As potencialidades turísticas de qualquer destino só podem ser
desenvolvidas mediante a existência de infra-estruturas, equipamentos e
serviços que complementem, na realidade, a verdadeira oferta turística. De um
modo geral, a oferta turística engloba tudo aquilo que o local de destino tem
para oferecer aos seus turistas actuais e potenciais, sendo representada por
uma gama de atracções, bens e serviços que determinarão a preferência do
visitante." (Livro Branco do Turismo, 1991).
Não menosprezando a importância crescente dos turistas nacionais, tentou-se
relacioná-los com o aumento da população que goza férias.
O recurso turístico, por sua vez, pode ser definido como "todo o elemento
natural, activi-dade humana ou seu produto, capaz de moti-var a deslocação de
pessoas, de ocupar os seus tempos livres ou de satisfazer as necessi-dades
decorrentes da sua permanência". Neste ponto far-se-á uma breve resenha de
recursos alternativos às praias do litoral e que de forma crescente ganham
cada vez mais importância.
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Aspectos gerais do fenómeno turístico em Portugal
1. Definição de Turismo
2. Factores do Desenvolvimento da Actividade Turística
3. Tipos de Turismo em Portugal
4. Consequências do Turismo
1 – Definição de turismo
O turismo não é um fenómeno novo, muitas civilizações anteriores ao século
XIX o conheceram: residências secundárias nos subúrbios de Atenas; entre os
Romanos, as termas reuniam as classes privilegiadas, como as de Pompeia, S.
Rafael, Hyères ou Miróbriga. Tal como hoje, estas formas de vida, que
afectaram apenas uma pequena elite, desenvolveram-se num mundo
enriquecido e politicamente estável: correspondem ao supérfluo que a mais
pequena crise põe em jogo. As invasões bárbaras e a queda do Império
Romano votaram à estagnação as aglomerações de recreio dos Romanos. O
movimento reaparece na Idade Média, mas com feição e motivos diferentes: o
culto dos lugares sagrados, as peregrinações e as romarias, as termas como
locais de cura. Meca, Jerusalém, Roma, Santiago de Compostela e Braga são
grandes locais de visita.
8
Os descobrimentos alargaram consideravelmente os horizontes. Generalizou-
se o interesse e a paixão por regiões diferentes e populações exóticas.
Formam-se grandes impérios coloniais, organiza-se o comércio e, apoiada pela
circulação e acumulação de dinheiro, de matérias primas e pela criação de
novos mercados, começa, desde os meados do século XVIII, a Revolução
Industrial, seguida de importante movimento de proletarização e de
crescimento urbano.
É dentro de um contexto de desejo/necessidade de evasão e satisfação da
curiosidade que se difunde o gosto pelas viagens, base do turismo moderno.
Fenómeno de massas, o turismo actualmente, é um reflexo duma sociedade
que, às motivações mais profundas conseguiu adicionar as possibilidades
económicas e de as tornar realidade, passando desta forma, de uma fruição
dos espaços exteriores através de interposta pessoa, a um desfrute in loco,
gerador só por si de gigantescos fluxos humanos e financeiros.
É difícil encontrar uma definição para turismo sendo a de J. L. MICHAUD
(1983), citado em F. J. MOREIRA (1994) a mais aproximada ao caso português
até para a própria definição de turista ligada à informação estatística, assim, "O
turismo agrupa o conjunto de actividades de produção e de consumo
motivadas pelas deslocações de pelo menos uma noite fora do domicilio
habitual, e sendo o motivo da viagem tanto o agrado, os negócios, a saúde ou
a participação numa reunião profissional, desportiva ou religiosa".
2 – Factores do desenvolvimento da actividade turística
O turismo, até aos anos de 1925-30, teve uma importância geográfica e
económica limitada. Era um luxo das aristocracias e burguesias endinheiradas,
que passavam o inverno em sítios favorecidos pelo sol, como a Côte d’Azur, a
Flórida, a Califórnia, ou se deslocavam temporariamente aos lugares de termas
como Vichy, Marienbad, Hanogate, Royal Leamington Spa, Bath, por vezes
com casinos célebres, e, desde meados do século XIX, também para as praias.
Todavia, os progressos sociais tornaram-se extensivos à classe média, fala-se
na democratização do turismo, em turismo de massa, como uma característica
da civilização contemporânea.
9
A partir de 1930, não deixou mais de crescer e vários são os factores que estão
na sua origem e desenvolvimento: o aparecimento da circulação automóvel e a
extensão das férias pagas, a evolução dos salários reais anuais, a tendência
para um certo nivelamento económico, pela atenuação das grandes
disparidades entre categorias profissionais, a redução da duração dos horários
de trabalho, a extensão da escolaridade obrigatória, os seguros sociais, os
abonos de família, a maior esperança de vida e reformas, a monotonia das
profissões actuais, pois a civilização contemporânea, uma civilização urbana -
pesadelo do modo de vida urbano, necessidade de encher-se de ar puro, ver
verdadeiras arvores, tocar a terra, retomar por um tempo os ritmos da natureza.
Contudo, estas condições favoráveis não alcançaram todos os países, e dentro
de cada país existem grandes disparidades sociais.
Os valores pessoais, meios económicos e técnicos, tempo livre e moda são os
factores que comandam as escolhas turísticas.
3 – Tipos de turismo em Portugal
Geograficamente, o turismo dilui-se por vastos espaços da beira-mar,
montanha e campo (ver organigrama seguinte). Assim a instabilidade dos
turistas acentuou-se.
Em Portugal os territórios turísticos por excelência são as praias,
principalmente as do litoral do Algarve. De facto, a qualidade da nossa orla
marítima meridional, no que se refere às condições naturais para o acolhimento
de veraneantes (condições físicas e climáticas), é, sem dúvida, bastante
superior às oferecidas por outros países europeus, nomeadamente
mediterrâneos, em que o turismo, como sector económico, é bastante mais
agressivo que no nosso país.
Outro território turístico com importância em Portugal é constituído pelos
centros históricos das cidades, situadas no litoral ou no interior, em que a
marca da vivência das épocas passadas as torna quase exóticas aos olhos dos
visitantes oriundos das regiões desenvolvidas do Centro e Norte da Europa ou
da América do Norte. Entre os centros históricos portugueses destaca-se
10
Évora, considerada património mundial pela UNESCO desde 1986. Mas,
mesmo com menor riqueza histórico-monumental, todos os pequenos e médios
centros urbanos do País, cuja origem é, na maioria dos casos, anterior à
nacionalidade, oferecem fortes motivos de interesse aos viajantes que nos
procuram.
Territórios turísticos são, também, os santuários, e Fátima é um dos principais
da Europa, tendo-se desenvolvido à volta dele um dos centros urbanos mais
prósperos do País, onde se registam as maiores receitas provenientes da
passagem e estada de visitantes.
Mas o próprio país é um território turístico, pelo acentuado cariz natural da
maioria das regiões portuguesas, onde as marcas da estruturação humana não
foram suficientes para transformar ou ordenar a paisagem, conservando,
assim, um certo sabor selvagem, num contexto europeu profundamente
alterado. Por outro lado, a doçura climática, que domina ao longo do ano,
acentua o atractivo das condições histórico-naturais. De facto, o moderado
desenvolvimento económico e social do nosso país tem, pelo menos, a
vantagem de manter preservados vastos sectores do território numa
disponibilidade variada de propostas ao visitante nacional ou estrangeiro.
Manter essa diversidade é uma necessidade para a prossecução da actividade
turística, já que a originalidade neste campo é sempre um trunfo. Neste
sentido, a preocupação quanto à preservação dos recursos paisagísticos,
culturais, históricos e outros, face à crescente procura turística, bem como à
manutenção da diversidade regional, tem fundamentado a consolidação da
chamada regionalização turística.
11
Todavia, os recursos turísticos portugueses encontram-se, de um modo geral,
mal definidos e a sua promoção e comercialização têm tido, nos últimos anos,
uma tendência para se centrarem em regiões geográficas, em vez de se
concentrarem em produtos específicos. No entanto, tem-se vindo a verificar
uma alteração nesta política, ao lançarem-se campanhas de produtos
específicos dirigidos a certos sectores do mercado.
Em 1982, foi por fim publicado o estatuto das Regiões de Turismo bem como a
toda a orgânica regional da actividade, num processo semidirigido, já que os
grandes espaços turísticos (Áreas Turistico-Promocionais), Costa Verde, Costa
da Prata, Costa de Lisboa, Montanhas, Planícies e Algarve, são de iniciativa da
Administração Central, mas as regiões de turismo propriamente ditas são de
iniciativa local, como o Alto Minho, Alto Tâmega, Rota da Luz, etc.
Algumas dessas iniciativas decalcam-se nos traços da diversidade mais
acentuados do nosso território; outras procuram, numa originalidade menos
conhecida, uma alternativa ao desenvolvimento formal e às tendências
estabelecidas. No primeiro caso estão quase todas as regiões junto ao litoral,
por demais atraente no conjunto do território português desde tempos remotos.
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Aí se concentram gentes, actividades e testemunhos históricos, a par das
praias e recantos paisagísticos mais atraentes, mais ricos, mas também mais
frágeis face à procura constante que sobre eles recai.
No segundo caso estão as regiões do interior, marginalizadas até hoje na
promoção turística e por isso mesmo constituindo, nos nossos dias, novos
centros de interesse, fundamentais na renovação da oferta turística que, por
inerência de características, é altamente dependente da instabilidade da
procura.
De Trás-os-Montes ao Alentejo, passando pelas vilas raianas, outrora
indispensáveis à segurança da fronteira, do Minho ao Algarve, percorrendo os
troços menos conhecidos da costa portuguesa, como a Costa Alentejana, todas
as regiões se propõem entrar no mosaico policromo da oferta turística
portuguesa, equilibrando, pela diversidade, algumas situações que têm vindo a
tornar-se críticas pelo excesso de procura, como é o caso de algumas praias
da Costa Algarvia, no que se refere ao turismo externo, e da Costa de Lisboa,
relativamente ao turismo interno.
4 – Consequências do turismo
A actividade turística assume na sociedade contemporânea, uma importância
económica fundamental. Tanto a nível local ou regional, como à escala
nacional e, mesmo, mundial, o turismo desempenha um importante papel
enquanto gerador de riqueza e enquanto fenómeno capaz de contribuir para o
desenvolvimento de economias deprimidas, nomeadamente, através do
aproveitamento de recursos endógenos.
Não admira assim que a importância económica das actividades turísticas
imponha que o território seja cada vez mais utilizado e mesmo consumido,
pondo em causa não só os valores patrimoniais, tanto da natureza, como da
cultura, como mesmo o desenvolvimento harmónico de populações e território.
De facto, o turismo gerador de riquezas significativas, mas consumidor
insaciável de recursos naturais vários, pode ter impactos fortemente negativos
sobre o ambiente, colocando seriamente em risco o ordenamento do território
das regiões implicadas, sobretudo se pensarmos nos fluxos turísticos mais
13
massificados, como os que afluem às regiões costeiras e os que cada vez mais
atingem os espaços de montanha.
Em 1999, 664 milhões de viajantes internacionais, em todo o mundo, gastaram
455 mil milhões de dólares, montantes esses que constituíram receitas
largamente superiores às geradas pela maior parte das actividades
tradicionais. Paralelamente, em muitos países, as deslocações dos residentes
passaram a representar valores apreciáveis que permitem afirmar que o
turismo interno terá uma expressão acima do que indicam os índices do
turismo internacional. De facto, o turismo é um poderoso factor de mudança
com incidências múltiplas em todas as comunidades, dependendo os seus
efeitos, por um lado, do grau de autonomia, originalidade e sedimentação das
culturas visitadas bem como do tipo de oferta e, por outro, das características
das populações visitantes.
A prosperidade do turismo na actualidade está ligada ao desenvolvimento
socio-económico e cultural das sociedades, dependendo do regime de férias e
ao repouso criativo, bem como da liberdade de viajar, num quadro de fruição
do ócio e dos tempos livres, caracteristicamente moderno. O turismo é, assim,
um cobiçado bem de consumo universal.
Em Portugal, por razões ligadas a factos de conjuntura político-económica, as
Grandes Guerras deste século e a Guerra Civil Espanhola, bem como à
condução da vida portuguesa por uma política pouco inclinada à mudança, só a
partir da década de 60, o turismo começou a ter expressão significativa no
conjunto das actividades nacionais. Nos últimos 20 anos, o turismo passou a
ser uma actividade económica fortemente participante na formação do PIB. Por
outro lado, tornou-se no mais poderoso, original e multifacetado instrumento de
animação dos lugares e das populações ao longo do país. De 1 milhão de
visitantes registados em 1964, passou-se para 27 milhões em 1999, quase 3
vezes a população portuguesa, com uma receita de divisas superior a 5196
milhões de US$ (cerca de 1137 milhões de contos), o que equivale a um quarto
das exportações totais.
A evolução do fenómeno turístico em Portugal
14
1. Relação do fenómeno turístico com a produção cientifica na área do
Turismo em geral e da Geografia do Turismo, em particular
2. Os primórdios do Turismo em Portugal (até final do Século XIX)
3. O alvorecer do Turismo em Portugal (primeira metade do Século XX)
4. A afirmação de Portugal como país de destino do turismo internacional
(a partir da década de 1960)
5. Situação actual
1 – Fenómeno turístico e produção cientifica no âmbito do turismo
O turismo considerado durante muito tempo como uma actividade marginal,
assume a partir dos anos 50 uma importância cada vez maior a ponto de ter
provocado em muitas regiões, nomeadamente na Europa Mediterrânica,
consequências económicas e sociais com uma dimensão até aí raramente
atingidas.
É sobretudo, a partir dos anos 60 e início da década seguinte que numerosos
autores, nomeadamente geógrafos, iniciaram e prosseguem um conjunto de
estudos procurando analisar as profundas modificações que o fenómeno
turístico não só revela, mas, sobretudo, introduz no espaço geográfico (Figuras
1, 2 e 3).
O sul da Europa converte-se rapidamente no espaço de ócio das populações
oriundas da Europa industrializada; o espaço deixa de ser, em muitas regiões
europeias, um factor de produção para se tornar num objecto de consumo.
Mas, se de facto o turismo gera desenvolvimento, trata-se, no entanto, de "uma
actividade que depende largamente das conjunturas económicas o que
introduz um caracter de vulnerabilidade que não pode deixar de ser sempre
considerado. Da circunstância do sector do turismo interferir e depender de
outros sub-sectores, como a construção civil, comércio, transportes, etc. leva a
que qualquer oscilação operada se reflicta, de imediato, em importantes
sectores da actividade económica. O seu efeito multiplicador pode, assim,
funcionar como importante acelerador de desenvolvimento mas pode também
permitir que situações de crise se expandam mais rapidamente a outros
sectores produtivos"(F. D. CRAVIDÃO, 1989-b).15
Associado a este crescimento do turismo como actividade económica, está o
crescimento do turismo como área da ciência onde cada vez se produz mais
em Portugal, pois existe uma relação estreita entre a entrada de estrangeiros
nas fronteiras portuguesas e o volume de obras e artigos produzidos no âmbito
do turismo (Figura 3), optou-se por estes indicadores, pois eram os que tinham
dados mais disponíveis, e porque as conclusões são significativas.
Figura 1 – Produção cientifica no âmbito do Turismo em Portugal (1873 - 1996).
Portugal não fica alheio à expansão do fenómeno turístico, nomeadamente a
partir de 1960 como país receptor. De 1950 até ao início dos anos 60, assiste-
se a um aumento expressivo, quer das entradas de turistas, quer da
capacidade hoteleira nacional, a qual triplicará durante o período de 1957/67.
Note-se, no entanto, que apesar do aumento observado, Portugal durante esta
época é largamente ultrapassado por países seus concorrentes no tipo de
oferta.
A partir da década de 60, a situação de crescente desafogo económico
existente nos países industrializados, o reforço da acessibilidade e a
esmagadora preferência pelos litorais soalheiros, marcarão profundamente
todo o país. Multiplicam-se investimentos vultuosos no sector (especialmente
16
no Algarve e na Madeira), e as entradas de turistas estrangeiros sobem
vertiginosamente.
Até ao início da década de 70, as entradas de turistas estrangeiros vai
aumentando, ainda que de uma forma lenta. A crise económica internacional e
as alterações políticas em Portugal verificadas no decorrer dos anos 70,
geraram uma diminuição na procura do mercado nacional por parte de alguns
dos principais emissores turísticos internacionais. Segundo C. CAVACO, o ano
de 1975 registou, em relação a 1973, uma quebra de 46,5% nas dormidas de
estrangeiros e menos 61,8% de entradas de turistas.
Figura 2 – Produção cientifica no âmbito do turismo em Portugal, 1873-1996
(valores acumulados).
Nos anos seguintes inicia-se uma recuperação que parece já denunciar
grandes assimetrias na sua distribuição espacial. Os anos 80 vêm comprovar
que a regiões onde o fenómeno turístico continua a expandir-se, em alguns
casos provocando graves problemas ambientais, contrapõem-se outras onde
parece perfilhar-se alguma regressão.
17
Figura 3 – Produção Cientifica na área do Turismo e
entrada de Estrangeiros nas Fronteiras (1960 - 1996).
Nos anos 90, o fenómeno turístico acentuou-se havendo, contudo, algumas
oscilações, decorrentes da crise económica mundial que afecta os países
emissores, mas a tendência é para o crescimento, a que não é estranho o facto
de Portugal ter entrado para a CEE em 1986 e com a posterior livre circulação
de pessoas e mercadorias, o que vai ter reflexos em termos estatísticos nas
entradas de estrangeiros nas fronteiras, pois a entrada de pessoas oriundas de
países membros não é controlada, mas mesmo assim, as suas entradas foram
sempre crescendo, da mesma forma que a produção cientifica quase que
explodiu (Figura 2), com um crescimento enorme na edição de artigos e obras
no âmbito do turismo.
Relacionada com a diversificação do turismo interno está a crescente produção
e edição de revistas sobre destinos turísticos e viagens (Quadro I).
No entanto, o caminho percorrido pelo turismo nacional é longo, lento e
caprichoso, no início privilégio de uma minoria, até à sua massificação, quer de
estrangeiros, quer de nacionais.
Quadro I – Algumas Publicações Periódicas no Âmbito do Turismo
18
() Designação 1ª
Publ.
Periodicida
de
Editor Local
19
R Festas, Feiras e
Romarias
Mensal DGT Lisbo
a
I Gente e Viagens
I Viajar
D Hotéis de Portugal Bimestral
E Análise de Conjuntura Bimestral DGT Lisbo
a
D Lisboa - Turismo Trimestral Câmara
Municipal
Lisbo
a
D AresP revista Ass. Rest.
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Popular Turismo
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da OCDE
Anual OCDE
E EUROSTAT- Estat. de
Base UE
Anual CE
D IPT - Plano de
Actividades "ano"
Anual Inst.
Promoção
Lisbo
a
20
Tur
R Portugal Hotel Guide
"ano"
Anual Maisturism
o
Lisbo
a
I VERT - Bodybord
Magazine
I BomBordo Mensal
I Portugal Radical Mensal
D Publituris 1967 Quinzenário
E O Turismo em Portugal -
Cont. e Reg.Aut
1969 Anual DGT Lisbo
a
D Equipotel 1970 Bimestral
D Portugal, Turismo
Actualidade
1970 Mensal
E As Férias dos
Portugueses
1971 Anual SET Lisbo
a
D BAR 1972 Bimensal A.Barmen
Portugal
Lisbo
a
D Turismohotel 1977 Mensal
D Turismo-semanário dos 1979 Semanário Lisbo
21
tempos livres a
E Estatísticas do Turismo 1980 Anual INE Lisbo
a
D Hotelaria e Turismo 1983 Trimestral F.S.H.O.T. Lisbo
a
D Turisver 1985 Semanário
I Surf-Portugal 1987 Mensal
D Turismo 1988 Trimestral DGT Lisbo
a
D Ambitur 1989 Mensal
D InterMagazine 1989 Mensal
R Alojamento Turístico:
Guia Oficial.
1989 Anual DGT Lisbo
a
I Grande Reportagem 1989 Mensal
R Tur. em Espaço Rural:
Guia Oficial.
1990 Anual DGT Lisbo
a
I Tempo Livre 1991 Mensal
I Descobrir 1994 Mensal
I Volta ao Mundo 1994 Mensal
22
I Comércio e Turismo 1995
I Rotas e Destinos 1995 Mensal
I 48 Horas 1997 Mensal
I Riscos e Desafios -
Aventura, evasão ...
1997 Mensal
I Volta ao Mundo 1997 Mensal
2 – Os primórdios do turismo em Portugal (até final do século XIX)
É o período que vai até à institucionalização do turismo em Portugal, época
romântica e elitista. Nesta altura havia dificuldades em realizar viagens, só
alguns é que as faziam; havia viajantes e não turistas, por isso abundavam os
livros de viagens nos séculos XVIII e XIX. Quem viajava, fazia-o para se
cultivar intelectualmente e não por prazer. Na segunda metade do século XVIII
e início do século XIX aparecem as primeiras viagens de recreio.
O mecanismo impulsionador do turismo era comandado da seguinte forma, por
um lado funcionava a velhíssima atracção causada pelo brilho da realeza e da
sua corte, as quais sempre talharam as modas e encorajaram o snobismo, do
outro, com idênticos resultados turísticos, a nova força difusora das ideias e
das opiniões, representada pela nascente comunicação social, ainda limitada
ao livro e à gazeta.
A partir do momento em que, rendida aos efeitos de tamanho arsenal de
seduções, foi despertada a vontade de excursionar, restava apenas aguardar
que aparecessem os meios logísticos, cómodos e baratos, capazes de
satisfazer tais intenções. Eles vão aparecendo uns a seguir aos outros
(principalmente em Inglaterra): estradas de macadame e vapores (1815),
23
comboios (1825), telégrafos (1837), hotéis padronizados (1830-1840) e, por fim
o moderno agente de viagens (Thomas Cook, 1841).
Como é natural, os progressos que este prototurismo foi absorvendo ao longo
da primeira metade do século XIX, tiveram em Portugal uma expressão
consoante o seu próprio desenvolvimento. Só após as invasões napoleónicas
(1807-1810) e a absorção das convulsões políticas e civis provocadas pelo
ajustamento da sociedade às novas concepções liberais (1820-1847) é que o
país dispôs de condições propícias a um desenvolvimento sustentado e
abrangente que, por seu turno, irá permitir o anuncio de acalmia e estabilidade
política e social para os potenciais visitantes.
O primeiro sinal concreto desta acalmia vital para o florescimento do turismo
viria a ser dado com a instalação em 1840, em Lisboa, de um grandioso hotel
para o tempo: o Bragança. Entretanto, dentro das estruturas pró-turísticas
regista-se o passeio público de Lisboa (1764-1870), os teatros líricos de S.
Carlos (Lisboa, 1793) e de S. João (Porto, 1798), o Teatro Nacional de D.
Maria II (Lisboa, 1846), bem como o aparecimento dos cafés de estilo
parisiense. Passando ao veraneio, a primeira metade do século fica-se pelo
esboçar turístico de algumas estâncias termais que, domesticamente, brilharão
no final do século (Gerês, Vizela, S. Pedro do Sul, Caldas da Rainha,
Lisboa/Estoril), assentando todas elas em antiquíssimas fontes medicinais,
enraizadas na tradição popular.
Ao mesmo tempo, fluindo das cidades e do interior, vai tomando corpo o caudal
de banhistas que, em poucas décadas, passará a animar os humildes vilarejos
piscatórios do litoral. Mas por enquanto são ainda poucas: Póvoa de Varzim,
Foz do Douro, Figueira da Foz, Pedrouços.
Havia outros locais de atracção turística, como o caso de Sintra, com a sua
verdejante serra, onde D. João I, no século XIV, tinha construído o seu palácio
de Verão, era agora anunciada ao mundo como um "éden glorioso" por Lord
Byron, 1812. Em 1839-50, D. Fernando manda construir o Palácio da Pena que
se torna no Ex Libris turístico da instância. Seguindo-se a construção de
24
numerosas residências secundárias, ocupadas no Verão, pela aristocracia e
burguesia lisboetas.
Porém, só algumas décadas depois, com a chegada do caminho de ferro
(1856-1887), é que todos estes embriões turísticos (termas, praias, montanhas)
passam a desfrutar de um genuíno e continuado desenvolvimento que irá dar
origem ao aparecimento de importantes centros regionais, como sejam os
casos de Espinho e Póvoa de Varzim.
Até meados de oitocentos, a difusão do fenómeno turístico, fora contida,
essencialmente, pela inexistência duma malha de transportes barata e
operacional, circunstância que deste modo deixava inacessíveis aos potenciais
turistas os múltiplos atractivos do país. Em pleno século XIX, salvo a capital e
duas ou três cidades, o resto do país vivia, ainda, em plena Idade Média.
Nesta altura, a Madeira gozava fama como instância climática, ficando
consagrada por um ciclo de estadas reais e imperiais, ficando conhecida como
a «Pérola do Atlântico», vindo a assumir um papel de relevo nas estâncias
curativas recomendadas na Europa.
3 – O alvorecer do turismo em Portugal (primeira metade do século XX)
O turismo expandiu-se no terreno, alargou-se à maioria dos estratos sociais,
ampliou ao infinito a gama temática da sua oferta. Contudo o turismo teve que
ter na base uma motivação fortemente recrutadora, nomeadamente as
deslocações motivadas pelo bem-estar físico ou espiritual, seja pela via do
sobrenatural que ergueu a fama de santuários como Fátima, seja pela força
que levantaram as termas ou as praias. Nesta fase o turismo anda associado a
um sentido único: saúde, espiritual ou física.
A tuberculose pulmonar, consequência da miséria a que a Revolução Industrial
deu lugar atingiu o seu auge em finais do século XIX e princípios do século XX.
Começando por atingir as classes mais baixas devido às más condições de
vida, rapidamente se alastrou a todas as classes sociais, com sucessivo
progressos no combate à doença, o pesadelo da peste branca ou tísica, como
25
era chamada, só terminaria em 1945, com a descoberta da estreptomicina pelo
Nobel americano Selman Waksman.
No inicio os preceitos clínicos receitavam o ar marítimo para a cura da
tuberculose pulmonar, mas a partir do último quartel do século XIX, os novos
preceitos receitam os ares enxutos do clima de altitude. É assim que em 1881,
a Sociedade de Geografia de Lisboa, organiza uma expedição cientifica à Serra
da Estrela, com vista à posterior instalação de vários sanatórios (Guarda,
1907).
Só que, na primeira metade do século XX, os avanços decididos da clinica
médica, da farmacopeia e da profilaxia social acabaram por dispensar toda
essa parafernália de bem-aventuranças e de "fontes de juventa" em que a
natureza é pródiga, amputando ao turismo o seu mais antigo e tradicional fim -
o ramo curativo, reduzido a alguns testemunhos de terapias termais ou
sanatoriais, funcionando, não com um carácter curativo, mas preventivo.
Neste período, o litoral do Algarve, excêntrico por falta de acessos com Lisboa,
mas com excelentes condições climáticas para este tipo de clientela de época,
deixara escapar a possibilidade de antecipar a sua entrada nas lides turísticas.
Apontado já em 1898, por Anselmo de Andrade, como a actividade a
desenvolver no sentido da recuperação económica nacional, só em Maio de
1911, durante o Governo Provisório da República, se instituíram as primeiras
estruturas oficiais de turismo.
Com a abertura em Paris, em 1921, da primeira representação do turismo
nacional no estrangeiro, o Bureau de Renseignements, gerido pelo Estado e
pela Companhia Portuguesa dos Caminhos de Ferro, e com a criação das
Comissões de Iniciativa, base das estruturas orgânicas locais, no mesmo ano,
completou-se em Portugal o primeiro aparelho administrativo do turismo que se
irá consolidar até meados da década de 30: desenvolvimento da representação
no estrangeiro, com destaque para a Feira Ibero-Americana de Sevilha (1929),
criação da FNAT e do Centro de Turismo Português, da responsabilidade do
Automóvel Clube de Portugal.
26
No mesmo período avultam algumas acções a nível regional como a criação da
Zona de Turismo do Estoril, onde se inaugura em Portugal a primeira linha
electrificada de caminho de ferro, cujo plano inicial se completa com a
inauguração de um hotel de luxo, em 1930, e do Casino, em 1931; a criação de
duas zonas permanentes de jogo (Estoril e Madeira) e seis temporárias
(Espinho, Figueira da Foz, Praia da Rocha, Curia, Sintra e Viana do Castelo); o
lançamento de estruturas de acolhimento em Fátima.
Simultaneamente, organizam-se equipamentos complementares: estrutura-se o
campismo (1930), constituem-se os Serviços Aéreos Portugueses (1927) e a
Companhia Aero-Portuguesa (1934) e iniciam-se os voos transatlânticos dos
clipers para Lisboa (1931), linha aérea cujo desenvolvimento permitiu apontar
Lisboa no Programa Oficial das Comemorações dos Centenários em 1940,
como «novo cais da Europa, praia do ar do Ocidente».
O I Congresso Nacional de Turismo, realizado em 1936 na Sociedade de
Geografia de Lisboa, tem grande influência na municipalização do turismo
local, implementada através das Comissões Municipais e Juntas de Turismo.
A criação da Junta Autónoma de Estradas implementará a reconstrução das
principais estradas do país, dando origem ao turismo automóvel em Portugal,
modalidade cujo desenvolvimento criou condições à rápida progressão do
excursionismo rodoviário em detrimento do ferroviário.
Em 1939, a tutela do sector é integrada num secretariado dependente da
Presidência do Conselho de Ministros, gerindo-se o turismo, a partir de então,
como um projecto global nacional.
Com o inicio da II Guerra Mundial, começa um período de dificuldades para o
turismo português, que vai até meados da década de 60. Durante esse tempo,
Portugal comemora, longe das hostilidades, os Centenários, promovendo a
Exposição do Mundo Português. Enche-se de refugiados e sofre, também por
isso, um significativo choque que pôs em evidência a precariedade da rede
hoteleira que, à excepção do eixo Lisboa-Estoril, não tinha condições nem
dignidade.
27
A guerra civil de Espanha reduziu as entradas de turistas deste país e a II
Guerra Mundial contrariou as correntes europeias recreativas e culturais, mas
aumentou o número de refugiados a caminho da América ou de África.
Todavia, o Estoril foi beneficiado com este surto de refugiados. No após-guerra
os acréscimos do número de entradas de estrangeiros são discretos.
Antes da Guerra predominava a clientela inglesa (que passava o Inverno no
Estoril e na Madeira), constituída por muitos reformados e a espanhola (em
várias praias e termas). Durante a guerra predominam os nacionais da área em
conflito: Alemanha, Bélgica, Holanda, França, Grécia, Itália; Polónia, Hungria,
Roménia e Jugoslávia. Com o retorno da paz, estes últimos desapareceram por
completo e recomeçaram as viagens motivadas por negócios, desporto,
cultura, reuniões cientificas e políticas, a par de alguns fluxos verdadeiramente
turísticos, com relevo para os das Américas (EUA, Brasil, Argentina, Colômbia,
Venezuela, etc.). Aumentaram também, de forma acentuada, as correntes de
peregrinos para Fátima, que se afirma como o maior centro religioso do país.
Paralelamente renascia o excursionismo por mar, com escala em Lisboa, e
começa a afirmar-se um certo turismo popular internacional.
A posição marginal do país em relação aos principais centros emissores,
tornava as viagens longas, difíceis e caras, até à generalização da aviação
comercial e do automóvel e da modernização do caminho de ferro, que só vai
acontecer no final da década de 50.
O processo de mudança desta estrutura conclui-se em 1950, através da acção
do SNI, e passou pelo enriquecimento do parque hoteleiro do país, com o
relançamento do programa das pousadas que envolvia o restauro, adaptação e
equipamento dos edifícios de algum valor histórico, dimensionados e
decorados integralmente.
Outros esforços, para dotar o turismo nacional de meios capazes de
acrescentar o seu potencial, vão surgir até meados da década de 50 -
reformulação da política de transportes terrestres, com entrega exclusiva dos
circuitos turísticos em autocarro às agências de viagens, regulamentadas na
mesma altura; tentativas de reanimação do transporte ferroviário; relançamento
28
da marinha mercante nacional; reapetrechamento do aeródromo de Sintra e
construção do Aeroporto de Lisboa, com a criação simultânea da TAP,
Transportes Aéreos Portugueses, fechando, assim, um longo processo na
evolução dos transportes aéreos em Portugal.
São ainda postas em prática algumas, de certo modo derradeiras, tentativas de
reaportuguesamento de Portugal, em campos tão diversos como a música e o
bailado: Verde Gaio, ranchos folclóricos de índole realista, a instalação do
Museu de Arte Popular em Belém; concurso da «Aldeia Mais Portuguesa de
Portugal».
Para efectivar o relançamento do turismo é promulgado um pacote legislativo
ainda na década de 50, que estabelece uma nova estrutura para a actividade,
inicia a sua regionalização e cria o Fundo de Turismo. Na década de 60, a
actividade é considerada fundamental nos Planos de Fomento: de 1965-67
(intercalar) como «valioso instrumento nacional»; no III, 1968-73, como «sector
estratégico de crescimento económico».
Os resultados são espectaculares, 250 mil turistas visitam Portugal em 1956,
ano do ressurgimento, 1 milhão em 1964, 2.5 milhões em 1968.
4 – A afirmação de Portugal como país de destino do turismo
internacional (a partir da década de 1960)
Com o aparecimento da aviação comercial, com a reparação das estradas e
das vias férreas, com o embaratecimento e popularização dos automóveis, que
se tornaram acessíveis a pessoas de médios e até de pequenos recursos, as
vias de acesso a Portugal simplificaram-se imenso e o fluxo de turistas
começou. De principio timidamente, depois com mais vigor e a partir de 1964
em pleno desenvolvimento, ressalvada que seja a fase de 1974/76 afectada
pelos sobressaltos políticos e sociais que se seguiram à Revolução de Abril,
agravados pela crise económica mundial decorrente do choque petrolífero de
1973. Mas em 1973 já se encetava a recuperação (Figura 4).
29
Figura 4 – Entradas gerais de visitantes 1936-1999. Fonte: Estatísticas do
Turismo.
O grande acréscimo foi posterior a 1958 e registou-se com um certo atraso
relativamente a outros países mediterrâneos, predominavam os turistas ricos
(americanos e ingleses), por isso as receitas por turista eram bastante
elevadas e estadas médias de 3,7 dormidas. Havia uma procura acentuada em
estabelecimentos hoteleiros de luxo (1ª e 2ª classes), consequência da
péssima qualidade dos hotéis e pensões de 3ª classe. Esboçava-se uma certa
preferência pelas praias do Algarve, embora Lisboa e arredores continuassem
a ser a região de maior atracção turística e também a melhor apetrechada em
estabelecimentos hoteleiros. No entanto, em 1960, registavam-se algumas
formas de turismo barato, nomeadamente parques de campismo e de
caravanismo, albergues de juventude, aldeias de férias, etc.
Mas a política oficial continuava a ser a preferência pelo turismo de luxo em
detrimento do turismo de massas, tendo em conta que aquele deixa mais
divisas por habitante e proporciona maiores lucros.
Da mesma forma se desprezava o turismo interno, pois os potenciais turistas
portugueses frequentavam os parques de campismo, albergues de juventude,
aldeias de férias, etc. então em franco desenvolvimento, mas não originavam
30
grandes lucros. As correntes recreativas mais volumosas eram, todavia,
desviadas para casas de familiares, residências secundárias, apartamentos e
quartos alugados, cuja capacidade se desconhece.
O turismo interno marginalizava ainda largos estratos da população
portuguesa, designadamente a das áreas menos urbanizadas, a menos
instruída, a mais idosa e a de menores recursos económicos. Por outro lado, e
para muita gente, a possibilidade de fazer férias em lugares distintos dos da
residência habitual resulta apenas do facto de dispor de alojamento económico,
em relação com a sua origem rural.
Com a afirmação do turismo balnear litoral, as termas vão perdendo cada vez
mais importância. A partir dos anos 30 o termalismo entra em crise por quase
toda a Europa, perante a afirmação da quimioterapia e de formas diversas de
ocupação dos tempos livres. Portugal não fugiu à regra, até pela insuficiente
diversificação do equipamento recreativo e desportivo da grande maioria das
estâncias termais, que no caso inverso, teria desencadeado movimentos
puramente turísticos, e pela excepcional riqueza e diversidade das praias.
Outros factores reforçam a tendência evolutiva, designadamente o isolamento
de algumas e a sua localização em meios humanos pobres e tradicionais, de
infra-estruturas e equipamentos demasiado insuficientes perante as exigências
de clientelas urbanas de nível económico médio e superior.
Todavia, durante a II Guerra Mundial as termas portuguesas atraíram muitos
estrangeiros, provavelmente refugiados. No fim do conflito, esta clientela que
foi comum a outros estabelecimentos hoteleiros desaparecera. A partir de
1945, só alguns portugueses ou emigrantes retornados do Brasil ou da
Argentina é que as frequentam, sendo as dormidas de estrangeiros quase
insignificantes.
Em 1970, afirmava-se que as estâncias termais deveriam ser objecto de uma
intervenção cuidada, com vista à sua revitalização e aproveitamento para o
turismo interno da correspondente capacidade de alojamento, tanto mais que,
sendo os únicos centros turísticos disseminados pelo interior, parecia poderem
31
vir a desempenhar um papel importante na atenuação dos desequilíbrios
regionais.
Assim a nova moda é a da predominância da atracção litoral. Perante a
tendência latitudinal das principais correntes turísticas europeias, que valorizou
o Sul de França, o Sul de Espanha, a Itália, as ilhas do Mediterrâneo e o litoral
da África do Norte, e a procura de praias novas, desconhecidas, ainda não
saturadas, mas suficientemente cosmopolitas e em voga, a política nacional de
captação daquelas correntes, escolheu o Algarve como área de acolhimento
nacional e, consequentemente, como região de desenvolvimento turístico
prioritário. Nesse sentido todas as iniciativas de construção de infra-estruturas
de acolhimento foram apoiadas. Além da qualidade das praias e da amenidade
do mar, o Algarve possui um clima que possibilita uma larga estação balnear, o
que constitui condição essencial da viabilidade económica dos necessários
investimentos. Esta evolução traduz a decadência das estâncias termais e dos
centros menores da rede urbana do interior e a afirmação dos distritos do
litoral.
Em termos espaciais, o turismo foi considerado como um instrumento capaz de
atenuar os desequilíbrios regionais (económicos, de emprego, equipamento,
serviços, infra-estruturas, etc.). Mas verifica-se que o turismo estrangeiro e
nacional de maior nível económico se concentram na fachada marítima do
país, acentuando o contraste litoral-interior. Isto observa-se também à escala
regional, como acontece no Algarve, onde as incidências directas do turismo
quase não afectam o Barrocal e muito menos a Serra.
Alguns acontecimentos virão dificultar o seu percurso: por um lado, factores
externos, como as perturbações socioculturais de 1968 e a crise energética de
1973; por outro lado, factores internos, dos quais a fundamental foi a
Revolução de 25 de Abril de 1974, a partir da qual as entradas de estrangeiros
caíram, nos dois anos seguintes, para 50% da média de 1973.
Só em 23 de Dezembro de 1975, na vigência do VI Governo Provisório, se
declara o turismo como «actividade privada e prioritária», criando-se, na
32
mesma oportunidade, uma entidade para gerir o parque hoteleiro sob o
domínio do Estado, a ENATUR.
A recuperação só se acentua a partir de 1980, ano em que se renova a política
de incentivos estatais, imprescindível ao crescimento e melhoria da qualidade
das estruturas e dos produtos turísticos.
O Plano Nacional de Turismo, iniciado em 1983, e aprovado em 1986 para um
curto período de vigência (1986-89), pretende relançar a actividade segundo
uma óptica que reforça a importância do turismo local.
O campismo, o turismo em espaço rural, as pousadas, o turismo ecológico,
entre outros, constituem campos de acção razoavelmente bem sucedidos, a
partir da década de 80. Neste quadro, a actividade turística é hoje não só um
sector fundamental na conjuntura económica do país, mas principalmente um
motor de desenvolvimento regional, especialmente prometedor em regiões
adormecidas, devido à sangria de populações e actividades a que se assistiu
nas últimas décadas.
Em 1998, Portugal ocupou o 15.º lugar do ranking mundial dos principais
destinos turísticos com cerca de 11,2 milhões de turistas, o que representa 2%
do total mundial e quase 10% dos visitantes estrangeiros na Europa meridional.
Partes: 1, 2, 3, 4, 5
5 – Situação actual
A actividade turística em Portugal, apesar de constituir um fenómeno relativamente recente
enquanto actividade económica organizada apresenta uma já considerável diversificação e
segmentação, ainda que continue a assentar fortemente no chamado turismo balnear litoral
ou turismo de sol e mar. Este é, de facto, o sector mais massificado, aquele que mais
nacionais faz deslocar dentro do país e que maior número de estrangeiros atrai, sendo,
portanto, o sector de mercado turístico de maior significado económico e de maior
relevância geográfica, quer pela importância de que se reveste na mobilidade da população,
quer pelo papel que desempenha na transformação dos espaços e da paisagem, quer,
ainda, pelos impactes ambientais e sociais que gera (L. CUNHA, 1995).
33
Para além do turismo de sol e praia, outros sectores relativamente importantes parecem ser
o termalismo, outrora de grande importância económica e geográfica e que hoje parece
estar a ressurgir, ainda que com motivações e características diferentes das que assumiu
no passado e o turismo religioso, nomeadamente para Fátima, que parece continuar a
crescer em volume e significado.
Além destas, outras formas de turismo, como o turismo em espaço rural, o turismo cultural
ou o turismo de eventos que, sobretudo a partir dos anos 80, começam timidamente a
despontar, podem vir a ganhar, num futuro próximo, uma relevância económica e
geográfica que ultrapasse o nível local e regional.
A par com a saturação da principal região turística do país – o Algarve – e com as
deficientes condições de acolhimento de grande parte das regiões costeiras do Oeste que
parecem não conseguir aproveitar os ensinamentos da má gestão do turismo algarvio,
geram-se novas formas de procura turística que aproveitam também a tendência para o
aumento do número de períodos de férias ainda que com a diminuição da sua duração (daí
o slogan "faça férias repartidas") e o aumento das operações de curta distância e de tráfego
interno, de forma a cativar os potenciais turistas nacionais ("vá para fora cá dentro"). Entre
esses novos rumos das práticas turísticas estão o turismo cultural, o turismo de eventos ou
de negócios, o turismo de saúde e repouso, o turismo itinerante e o conjunto de acções que
se conhecem sob a designação de Turismo em Espaço Rural e outras formas com elas
directamente relacionadas: turismo natureza, turismo aventura, turismo cinegético, etc.
Para estudar o turismo é necessário fazer uma avaliação dos valores das divisas entradas,
do número de estrangeiros que passaram as fronteiras, do número de dormidas nos hotéis
e pensões e da frequência dos parques de campismo e aldeias de férias e ainda, o
conhecimento do comportamento dos visitantes, segundo as nacionalidades e a classe
socio-económica. Por outro lado, implica também, o conhecimento da capacidade total de
recepção dos hotéis e pensões, parques de campismo e formas complementares de
alojamento. Raras vezes se conhece a duração média das estadas, em relação com as
nacionalidades, as classes sociais e as formas de alojamento.
Será este o objectivo deste capitulo ao analisar a situação actual do turismo em Portugal
segundo os diversos indicadores supracitados.
5.1 – A PROCURA TURÍSTICA
34
A informação fornecida pelas Estatísticas do Turismo permite conhecer algumas das
características apresentadas pela entrada de turistas estrangeiros em Portugal. Assim, é
notável o acréscimo entre 1984 e 1999 (Figura 5). Contudo este crescimento apresentou
ritmos diversos ao longo do período considerado e uma evolução diferente. Notando-se um
acréscimo bastante acentuado até 1987, ao que se segue um período de estagnação até
1990. A partir desta data o número de visitantes entrados nas fronteiras não tem parado de
aumentar. Há a assinalar, contudo, o pequeno decréscimo de turistas registado em 1993,
embora o volume total de visitantes tenha mantido um ritmo crescente.
Figura 5 – Visitantes entrados nas fronteiras em 1984-99. Fonte: Estatísticas do Turismo.
Em 1999 o número de chegadas de turistas representava cerca de 43% do total de
chegadas de visitantes e o conjunto de excursionistas cerca de 57% desse total. Notamos
assim que o maior número de entradas é de excursionistas, o que se deve ao
comportamento do mercado espanhol (Figura 6).
5.1.1 – PerFIL DOS TURISTAS ESTRANGEIROS EM PORTUGAL
As características mais relevantes dos visitantes estrangeiros podem resumir-se da forma
seguinte.
O excursionismo é fundamentalmente produzido pela vizinha Espanha, cujos visitantes não
permanecem em Portugal, no mínimo, uma noite. Este mercado tem representado ao
35
longo dos últimos anos valores entre 97% e 99% do total dos excursionistas que visitam
Portugal.
Figura 6 – Entradas gerais de visitantes em 1998, segundo o país de nacionalidade. Fonte:
Estatísticas do Turismo.
Os principais motivos da deslocação a Portugal centram-se nas compras, sendo os maiores
gastos realizados na alimentação nos restaurantes e similares, seguindo-se as aquisições
de artigos domésticos e de decoração.
O gasto médio dos excursionistas por dia foi de 9.800 escudos (em 1998), contra 12.400
escudos em 1990.
Turistas
As profissões mais representativas dos turistas que chegam a Portugal centram-se na
grande maioria nos especialistas das profissões intelectuais e científicas (34,5%) em 1997 e
33,8% em 1998) seguindo-se os técnicos e profissionais de nível intermédio e só depois os
quadros superiores da Administração Pública, dirigentes e quadros superiores das
empresas.
Faz-se ainda referência à classe dos reformados, cujo peso entre os não activos é
relativamente elevado, no que se refere aos americanos (28,4% em 1998), ingleses (24,6%
36
no mesmo ano) e alemães (21,0% também em 1998). Estes valores são relativamente
mais elevados dos que foram obtidos em 1997.
Em 1998, a maioria dos turistas fez a marcação da sua deslocação a Portugal com uma
antecedência de um a três meses, tendo vindo a diminuir ao longo dos anos a frequência
com que este período é utilizado para a marcação da visita. Pelo contrário, as marcações
feitas com menos de um mês de antecedência, têm vindo a aumentar para a generalidade
dos mercados emissores de turistas para Portugal.
Quanto ao principal motivo de viagem tem sido, entre 1990 e 1998, a passagem de férias
(90,7% em 1990 e 87,1% em 1998), vindo as actividades profissionais e a participação em
congressos, bem como a deslocação em negócios, nas posições imediatas. Refira-se que
a actividade profissional e os congressos têm ao longo dos anos, aumentado a respectiva
quota entre os motivos da viagem.
O avião é o principal meio de transporte dos turistas que visitam o país (28,9% nas carreiras
regulares e 42,6% em voos charter em 1998), seguindo--se a deslocação em automóvel
(21,7% em 1998) e a grande distância, o autocarros (3,2% no mesmo ano).
Constata-se que em 1998 cerca de 67,3% dos turistas estrangeiros que visitaram Portugal
tiveram a intervenção de uma Agência de Viagens, sendo os nacionais do Reino Unido a
requisitarem mais os seus serviços (82,5%), seguindo-se a Alemanha (76,3%) e os EUA
(74,9%). Os que menos utilizaram os serviços das Agências de Viagens para se
deslocarem a Portugal, foram os espanhóis (35,4%) e os franceses (47,2%). Por outro lado,
os serviços mais requisitados no conjunto dos mercados turísticos externos às Agências de
Viagens em 1998, foram os transportes (40,5%), com destaque para a Holanda (57,7%) e o
Reino Unido (43,7%). A viagem com tudo incluído é mais adquirida pelos americanos. O
gasto médio por turistas e por dia, atingiu em 1998 o valor de 15.300 escudos, contra
13.800 escudos em 1997 e 10.100 escudos em 1990.
GASTOS DOS ESTRANGEIROS NÃO RESIDENTES EM PORTUGAL
Em 1998, os gastos dos excursionistas, atingiram cerca de 149 milhões de contos,
atribuídos essencialmente ao mercado espanhol. Resultados idênticos em anos anteriores
foram os seguintes: em 1990 cerca de 126,5 milhões de contos; 1992 perto de 138,5
milhões de contos; 1994 aproximadamente 114 milhões de contos; 1997 um pouco mais de
130 milhões.
37
Relativamente aos turistas, este tipo de visitantes, gastou em Portugal, globalmente e em
1998, mais de 1.230,0 milhões de contos, tendo este gasto vindo a crescer desde 1990:
602 milhões em 1990; 816 milhões em 1992; 859 milhões em 1994; 961 milhões em 1997.
Tendo como referência o ano de 1998, o segundo mercado fornecedor de turistas (Reino
Unido) gastou em Portugal cerca de 295,5 milhões de contos, seguindo-se a Espanha
(primeiro mercado de turistas) com um gasto de cerca de 219 milhões de contos e a
Alemanha, com um montante que atingiu os 157 milhões de contos.
O conjunto dos gastos dos turistas e dos excursionistas, elevaram- -se em 1998 a cerca de
1.379 milhões de contos, quando em anos anteriores, aqueles valores globais tinham sido:
em 1990 mais de 728,4 milhões de contos; 1992 cerca de 954,4 milhões de contos; 1994
mais de 972,6 milhões de contos; 1997 cerca de 1.090, 8 milhões de contos.
Faça-se notar que a Espanha é o primeiro mercado a contribuir para as receitas cambiais, a
título de turismo, com um montante em 1998 que ronda os 367,9 milhões de contos (cerca
de 27% dos gastos totais dos estrangeiros).
O tipo de gastos mais frequente relativamente a turistas centra-se no alojamento (36% dos
gastos totais em 1998) seguindo-se as despesas com a aquisição de bens e serviços
diversos, onde estão incluídas as despesas com a alimentação em restaurantes e similares.
A autonomização deste último serviço, aponta para um gasto total de 288,8 milhões de
contos em 1998, na rubrica geral de bens em serviços diversos, que atinge o montante de
332 milhões de contos.
A distribuição dos gastos do conjunto de turistas e excursionistas, realizados nas diferentes
regiões do país (Áreas Turístico-Promocionais) põe em evidência que é o Algarve a região
que provoca maior volume de gastos dos estrangeiros (é a região de maior oferta turística).
Neste termos, em 1998, recebeu 545,3 milhões de contos (39,5% do total das despesas no
país). As regiões que estão nas posições seguintes, por ordem decrescente de volumes de
gastos turísticos em 1998 são: Costa de Lisboa (321,2 milhões de contos), Costa Verde
(180,1 milhões de contos), Costa de Prata (106,7 milhões de contos), Planícies (84,1
milhões de contos), Região Autónoma da Madeira (64,7 milhões de contos), Montanhas
(46,7 milhões de contos) e Região Autónoma dos Açores (30,2 milhões de contos).
No que se refere às capitações nas diferentes regiões (relação entre gastos totais e
turistas/dia) os valores obtidos para 1998, também por ordem decrescente, foram: Costa de
38
Lisboa (20,2 milhares de escudos); Planícies (17,0 milhares de escudos; R. A. Açores (16,4
milhares de escudos), Costa Verde (16,3 milhares de escudos), Região Autónoma da
Madeira (15,2 milhares de escudos), Costa de Prata (14,8 milhares de escudos),
Montanhas (14,6 milhares de escudos) e Algarve (13,6 milhares de escudos).
Chama-se a atenção para o facto dos valores obtidos pela D.G.T. não deverem ser
confundidos com os valores divulgados pelo Banco de Portugal para as receitas atribuídas
ao turismo, porquanto assentam em metodologias diferentes.
5.1.2 – Perfil dos turistas nacionais em Portugal
Cerca de 5.485 milhares de portugueses, maiores de 15 anos e residentes no Continente,
gozaram férias em 1999, ou seja 71% da população nas condições anteriormente
apontadas (Figura 7). Em 1998, esta percentagem não ia além dos 63%, tendo assim
havido um aumento de 685 milhares de portugueses a gozarem férias.
Também as férias gozadas fora da residência habitual tiveram um aumento significativo ou
seja, passaram de 3.198 milhares de indivíduos em 1998 para 3.762, a que corresponde
um aumento de cerca de 18%. Assim, tendo por base o total da população, 49% gozaram
as suas férias fora da residência habitual em 1999, enquanto que em 1998 aquela
percentagem se situava nos 42%.
39
Figura 7 – Percentagem de portugueses que gozou férias fora da sua residência habitual
(1980-1999). Fonte: Estatísticas do Turismo.
Nas suas preferências pelos locais de férias, o estrangeiro alcançou a melhor posição
alguma vez registada, com um total de 823 milhares de deslocações para férias em 1999
contra 528 milhares em 1998 (mais 295 milhares de indivíduos, ou seja, mais 56%).
Excluindo o Algarve, a região de residência onde não houve aumento de gozo de férias da
sua população, todas as restantes regiões assistiram a aumentos significativos: a Grande
Lisboa passou de 70% dos seus residentes a terem gozado férias em 1998, para 89% em
1999; o Grande Porto passou de 63% para 80%; o Litoral passou de 65% para 69%; o
Interior Norte de 59% para 64%; o Interior Sul de 40% para 50%; e por último o Algarve que
viu baixar a taxa de gozo de férias da sua população de 55% para 40%.
Quanto aos estratos sócio-económicos da população portuguesa, o gozo de férias dá-se
com maior intensidade nas classes mais elevadas regredindo para as mais baixas, embora
em todas elas se tenha observado aumento em 1999 relativamente ao ano anterior: Alta e
Média Alta, de 89% para 96%; Média Superior de 76% para 87%, Média Inferior de 66%
para 75; e Baixa de 32% para 38%.
Os principais motivos que levaram a população portuguesa a ter gozado férias fora da
residência habitual em 1999 foram as seguintes: descanso/recuperação 79%; actividades
de praia 37%; paisagem 25%; divertimento /espectáculos 23%; encontro com pessoas de
outras regiões 22%; visitas a Museus/Monumentos 9%.
Em relação ao total de portugueses que gozaram férias fora da residência habitual, cerca de
22% fizeram-no no estrangeiro, tendo preferido, na Europa, a Espanha (53%), França
(11%) e Inglaterra (5%). Os países de África foram os que maior peso tiveram fora do
continente europeu (8%), seguindo-se o Brasil (7%), os EUA (4%) e o vasto conjunto de
outros da América (6%).
Em Portugal, os principais destinos escolhidos em 1999, para férias passadas fora da
residência habitual, foram o Algarve (28%), Beiras (17%), Minho (11%), Costa Azul (10%),
Porto (10%), Leiria/Fátima (8%) e Alentejo (8%).
Os meses de verão continuam a ser os da preferência dos portugueses para o gozo de
férias. Assim, independentemente das férias terem sido gozadas na residência habitual ou
fora dela, o mês de ponta foi o Agosto, com 61% das férias aqui concentradas, seguindo-se 40
o Julho, com 28% e o Setembro, com 18%. Assinale-se o mês de Dezembro com um
elevado índice de gozo de férias, sendo equivalente ao que se verificou em Junho (7%).
Estes valores não diferem muito dos obtidos para a população que gozou férias fora da
residência habitual.
Cerca de 25% da população teve condicionalismos na escolha dos meses das férias. Para
estes, há uma tendência na preferência para gozarem as férias também concentradas nos
meses de verão: Agosto com 36%; Julho com 39%; Setembro com 21%.
Relativamente aos condicionalismos, os de maior importância foram o escalonamento de
serviço no emprego (35%), os negócios e afazeres profissionais (34%) e as férias escolares
(23%).
Para as férias gozadas fora da residência habitual, a viatura própria foi o meio de transporte
mais utilizado (61%) seguindo-se a viatura de familiares ou amigos (21%), o avião (13%) e o
autocarro (11%). O caminho de ferro é representado somente por 4% das deslocações
para o local de férias.
O alojamento mais utilizado para as férias dos portugueses quando estas são gozadas fora
da residência habitual continua a ser a casa de familiares ou amigos (39%), seguindo-se o
alojamento na hotelaria (26%), a casa alugada fora de empreendimento turístico (16%), o
campismo (12%) e as casas alugadas em empreendimentos turísticos (6%).
Para a preparação das suas férias em 1999, os portugueses recorreram com maior
frequência aos serviços das Agências de Viagens. Assim, cerca de 616 milhares de
portugueses que gozaram as suas férias fora da residência habitual, solicitaram serviços às
Agências de Viagens. Aquele número, em relação ao total dos que as tiveram fora de casa,
representa 16% desse total.
Os serviços mais requeridos às Agências de Viagens em 1999 foram: a preparação total da
viagem (56%); reserva de alojamento (29%), reserva de transporte (25%) e informações
gerais (22%).
As principais vantagens apontadas na utilização dos serviços das agências de viagens
foram a comodidade (68%), a poupança de tempo (39%), o s preços mais favoráveis
(20% ) e a garantia de qualidade (14%).
41
Relativamente ao fraccionamento ou não das férias para portugueses que as gozaram fora
da residência habitual, 68% fizeram-nas de uma só vez, enquanto que 27% repartiram-nas
em dois períodos, 4% gozaram-nas por três vezes e 1% por quatro vezes.
Cerca de 32% (2.442 milhares) da população portuguesa maior de 15 anos e residente no
Continente fizeram fins-de-semana fora da residência habitual, com uma maior frequência a
ter o intervalo de um mês (24%), sendo de 15 dias o intervalo daquele gozo a estar na
posição imediata (20%). Trimestralmente 18% dos portugueses gozam fins-de-semana,
sendo somente de 8% os que os gozam na totalidade, ou seja, todos os fins-de-semana.
Também, no que se refere ao aproveitamento das chamadas "pontes", 24% da população
usufrui deste calendário, tendo este valor sido superior ao observado em 1998 (15%).
Para a generalidade dos portuguesa, o ambiente preferido para o gozo de férias é o de
praia (48%) seguido do ambiente de campo (33%), e os ambientes de montanha e de
cidade (ambos com 7%).
Um pouco mais de 56% da população portuguesa recebeu subsídio de férias em 1999.
Dos que gozaram as suas férias fora da residência habitual, cerca de 64% receberam
aquele subsídio neste último ano.
CONCLUSÕES
Em termos gerais, o aumento do número de portugueses maiores de 15 anos e a residir no
Continente que gozaram férias em 1999 relativamente ao ano anterior é reflectido pelos
seguintes indicadores entre outros:
Todos os estratos sócio-económicos da população portuguesa tiveram aumentos
sensíveis no gozo de férias, em particular nas que foram passadas fora da residência
habitual.
Todas as regiões de residência apresentam maior número de indivíduos que
gozaram férias em 1999, com excepção do Algarve, região esta essencialmente
receptora de turismo, com fluxos muito acentuados, cuja população esteve "mobilizada"
para a prestação de serviços turísticos acrescidos.
Maior procura dos serviços das Agências de Viagens para a preparação das férias
passadas fora da residência habitual. A "comodidade" é o factor mais apontado para a
requisição daqueles serviços.
42
Aumento muito significativo das férias passadas no estrangeiro, que subiram de
1998 para 1999 em cerca de 56%.
Grande aumento no alojamento hoteleiro utilizado pelos portugueses em férias que
passou de 18% em1998 para 26% em 1999.
Também é observado acentuado aumento no gozo de fins-de-semana fora da
residência habitual, que passou de 24% para 32%.
Em 1999 as férias dos portugueses foram mais fraccionadas, pois enquanto que
em 1998 cerca de 25% tinham optado pela sua repartição, em 1999 aquele valor subiu
para 32%.
O aproveitamento das chamadas "pontes" também foi intensificado, pois a sua
frequência passou de 15% em 1998 para 24% em 1999.
Maior número de portugueses receberam subsídio de férias: em 1998 só metade
da população teve aquele direito, e em 1999 aquele subsídio passou a tingir 56% da
população portuguesa.
5.1.3 – Quotas de mercado
Evolução do turismo internacional
A nível mundial, no ano de 1999 ter-se-á atingido um total de chegadas de turistas na ordem
dos 657 milhões, o que representa um aumento de 3,2% em relação ao ano anterior.
Também as receitas do turismo, a nível mundial, teriam crescido com o mesmo ritmo das
chegadas entre 1998 e 1999, atingindo neste último ano um montante de 455 mil milhões
de dólares dos Estado Unidos.
A Europa, só com valores para 1998, apresenta uma variação relativamente a 1997 na
ordem dos 3,8%. A quota do turismo mundial neste Continente foi, em 1998, de cerca de
55%, quando em 1989 era de cerca de 62%. Nos últimos anos tem aumentado muito as
quotas dos destinos da Ásia Oriental e Pacífico e ainda os destinos do Médio Oriente e de
África. As receitas atribuídas ao turismo na Europa atingiram, em 1998, o valor 228,9 mil
milhões de dólares americanos, ou seja, cerca de 52% das transacções mundiais a título de
turismo.
Portugal, em indicadores estatísticos gerais, está na 15ª posição, a nível mundial, quanto a
chegadas de turistas (11,6 milhões em 1999) quando em 1995 estava na 17ª posição do
ranking mundial, tendo já estado na 14ª posição em 1990. Quanto a receitas geradas pela
43
actividade turística, Portugal contabilizou 5.169 milhões de dólares americanos, estando na
24ª posição mundial, enquanto que em 1995 estava na 22ª posição e em 1990 na 19ª.
Devem-se estas situações ao facto de terem melhorado muito os indicadores relativos a
alguns mercados do leste europeu, que na década de 90 tiveram grande abertura aos
mercados turísticos ocidentais.
Evolução do turismo nacional
O turismo em Portugal, tendo como horizonte os planos mundial, europeu e o conjunto dos
países da Europa do Sul, teve em 1998 e em termos de turistas, as seguintes quotas: 1,8%
do turismo mundial; 3,0% do turismo europeu e 9,9% do turismo da Europa do Sul.
Em 1980, aquelas posições eram: 0,9% do turismo mundial; 1,5% do turismo europeu; 4,5
do turismo do Sul da Europa.
No sul da Europa, Portugal está na quarta posição como país receptor de turistas (11,2
milhões) estando à sua frente, nesta zona, a França (70 milhões) a Espanha (47,7 milhões)
e a Itália (34,8 milhões).
No que concerne a receitas atribuídas ao turismo, Portugal posiciona-se no 4.º lugar entre
os destinos da Europa do Sul, estando à sua frente, para além dos destinos já indicados
para as chegadas de turistas, a Turquia.
Conforme referimos, a estatística das entradas de turistas em Portugal indica um nível de
crescimento variável, mas sustentado. Da análise da Figura 6, verifica-se o predomínio da
Espanha como país emissor, bem longe dos outros países emissores.
Mercados emissores de turismo para Portugal
44
Figura 8 – Entradas gerais de visitantes estrangeiros (jan-jul 2000). Fonte:INE
Relativamente ao modo de transporte utilizado pelos visitantes estrangeiros salienta-se o
terrestre, essencialmente o rodoviário (Figura 8).
Figura 9 – Dormidas 1984-95. Fonte: Estatísticas do Turismo.
Em relação ao número de dormidas o seu valor anda associado ao volume de turistas
entrados e não ao volume de excursionistas, pois estes, por definição não permanecem
45
mais de 24 horas num determinado local e por isso não ocupam qualquer unidade hoteleira,
sendo na sua maioria visitantes oriundos de Espanha que devido à facilidade de
deslocação, visitam um determinado local e tornam ao lugar de origem no mesmo dia.
Assim ao comparar na Figura 5 os turistas entrados com a Figura 9, nota-se um certo
paralelismo.
Figura 10 – Taxas de ocupação por principais regiões (%), de jan. a set. 2000. Fonte DGT.
No que respeita à taxa de ocupação por quarto e por cama, os valores são mais elevados
na cidade de Lisboa e no Algarve (Figura 10).
46
Figura 11 – Dormidas nos estabelecimentos hoteleiros, aldeamentos e apartamentos
turísticos, por países de residência (valores provisórios para o ano 2000). Fonte DGT.
Os principais mercados geradores de turismo para Portugal foram, além da vizinha Espanha, o
Reino Unido, a Alemanha e a França.
Figura 12 – Dormidas nos estabelecimentos hoteleiros,
aldeamentos e apartamentos turísticos (valores provisórios
para o ano 2000). Fonte DGT.
47
O turismo receptivo depende, sobretudo do comportamento dos principais mercados
geradores, que são, para Portugal, a Espanha (em termos de volume de entradas) e o
Reino Unido (em termos de hóspedes nos meios de alojamento) – Figura 11.
A Espanha contribuiu em 1998 com 77% do total de entradas de turistas estrangeiros
(contra 15% do Reino Unido), representando, no entanto, somente 5,4% do total de
dormidas de estrangeiros (Figura 11). Trata-se, pois de um mercado basicamente
constituído por excursionistas e por pequenas estadias.
Sendo evidente a maior contribuição da Espanha e do Reino Unido como principais
mercados geradores, os esforços feitos no sentido de atenuar essa dependência têm
alterado de forma significativa tal situação. Pois outros países têm contribuído fortemente,
como seja a Alemanha, a Holanda, a França, a Itália, a Irlanda ou a Bélgica, chegando
alguns países a duplicar e a triplicar a entrada de estrangeiros na ultima década.
ESPANHA
Portugal é o primeiro destino turístico dos espanhóis (76,5% do movimento geral de
estrangeiros recebidos em 1998). O segundo destino dos espanhóis é a França, vindo a
seguir, mas a grande distância, a Itália e Marrocos.
É também o primeiro mercado, em termos de gastos em Portugal, tendo atingido em 1998
um montante global (turistas e excursionistas) de 367,9 milhões de contos ou seja, cerca de
27% das receitas totais provocadas pelo turismo no país. O gasto médio diário dos turistas
espanhóis foi, neste último ano de 12,4 contos e o dos excursionistas de 9,8 contos.
Os espanhóis, procuram, em Portugal, essencialmente a região de Lisboa e Vale do Tejo,
que absorveu cerca de 58% das suas dormidas na hotelaria do país, estando a seguir o
Norte (12,0%) e o Algarve (11,1%).
A sazonalidade deste mercado é muito acentuada, havendo, no entanto, uma tendência
para uma certa atenuação ao longo dos últimos anos.
REINO UNIDO
Portugal, em 1998, como mercado receptor é, na Europa, um dos principais destinos dos
ingleses, com 1,7 milhões de turistas daquela origem (4,2% da sua quota). Contudo, a
França absorve 28,9% das deslocações turísticas dos nacionais do Reino Unido, estando
nas posições imediatas a Espanha com 26,6%, a Itália com 4,8% e a Grécia com 4,7%.
48
O gasto médio diário dos turistas ingleses, foi em 1998 de 17,4 contos, quando em 1990 só
atingiu os 9,8 contos.
As dormidas na hotelaria de turistas provenientes do Reino Unido são, na sua grande
maioria, registadas no Algarve (72% do total deste mercado em Portugal), vindo a seguir a
Região Autónoma da Madeira (17,2%). Não tem grande expressão as dormidas de
britânicos na hotelaria portuguesa no resto do território.
O tipo de alojamento mais utilizado por este mercado em 1998, foram os apartamentos
turísticos (32,2%), seguindo-se os hotéis de 4 estrelas (18,5) os hotéis-apartamentos
(17,8%) e os hotéis de 5 estrelas (9,9%).
O peso da via aérea nas chegadas de turistas britânicos a Portugal representou, em 1998,
mais de 89% do movimento geral deste mercado. A via aérea tem vindo, ao longo dos
anos, a adquirir maior quota relativamente aos ingleses.
ALEMANHA
Em termos de turistas, o mercado alemão é o que mais tem progredido para Portugal, entre
1985 e 1997 (variação média anual de 7,9 %). Porém, em 1998 verificou-se uma
acentuada queda em relação ao ano anterior (-6,5%), colocando o movimento de turistas
provenientes deste mercado ao nível do movimento de 1995. Em 1998 foram registados
859,4 milhares de turistas alemães, contra 919,5 milhares no ano anterior.
O gasto médio diário dos turistas alemães também sofreu uma quebra acentuada de 1997
para 1998 (respectivamente 16,0 milhares de escudos e 14,1 milhares de escudos).
No cômputo geral, o mercado alemão gastou em Portugal e em 1998 cerca de 157,3
milhões de contos, quando no ano anterior aquele montante já tinha atingido os 188,1
milhões de contos.
As dormidas registadas na hotelaria por este mercado, tendo, em 1998, atingido um volume
geral no país de 3.806,5 milhões, foram maioritariamente efectuadas no Algarve (58,0%)
seguindo-se a Região Autónoma da Madeira (24,1%), a Região de Lisboa e Vale do Tejo
(12,4%).
Os hotéis de 4 estrelas são os mais utilizados pelos alemães na sua permanência em
Portugal, seguindo-se-lhes os hotéis-apartamentos (18,6%) e os apartamentos turísticos
49
(11,6%). Nos últimos anos, este tipo de alojamento tem vindo a assistir a uma progressão
na sua utilização por parte deste mercado.
Excluindo os meses de Janeiro, Fevereiro, Março, Novembro e Dezembro, os restantes
meses têm uma frequência muito regular nas dormidas na hotelaria, não havendo nenhum
mês que provoque um "pico" sazonal evidente.
A via aérea é a que maior frequência dá às entradas de turistas provenientes da Alemanha,
estando representada por cerca de dois terços dos movimentos de turistas para o país.
FRANÇA
Cerca de 22 milhões de franceses chegaram aos restantes países do mundo como turistas,
dos quais Portugal recebeu perto 674 milhares. Os principais destinos dos franceses foram
a Espanha (15,6% do total mundial), Itália (10,2%) e Portugal (3,1%).
O turistas franceses que visitam Portugal são essencialmente especialistas das profissões
intelectuais e científicas, vindo a seguir os técnicos e profissionais de nível intermédio.
O gasto médio diário do turista francês foi, em 1998, de 10.700$00, ascendendo o montante
total dos seus gastos em Portugal a 88,3 milhões de contos.
Os franceses, juntamente com os espanhóis não recorrem com muita frequência aos
serviços das Agências de Viagens para as deslocações a Portugal, sendo o serviço mais
solicitado, o transporte (34,8%) e a viagem com pequeno almoço (34,2%).
A região de Lisboa e Vale do Tejo recebe cerca de 50% das dormidas de franceses na
hotelaria, vindo na posição imediata a Região Autónoma da Madeira (16,9%) e só depois o
Algarve (11,9%) muito perto da Região Norte (11,3%).
Os Hotéis de quatro estrelas são os mais procurados em Portugal, seguindo-se os hotéis-
apartamentos e as pensões.
A sazonalidade dos franceses que dormem na hotelaria portuguesa é muito acentuada,
tendo atingido em Agosto de 1998 os 16,8%, enquanto no mesmo ano o mês de Janeiro só
atingiu 3,1%.
A via aérea regista cerca de 41% do total de chegadas de turistas a Portugal e 1998,
quando em 1990 aquele valor era de 32,2% . É assim evidente que a via terrestre é a que
maior acesso dá aos turistas com origem em França.
50
HOLANDA
Os turistas holandeses têm por principal destino a França (8.845 milhares, ou seja cerca de
37% dos seus movimentos a nível mundial).
A Espanha é o segundo destino dos holandeses (2.480 milhares, ou 10,4% dos
movimentos mundiais).
Portugal só tem uma quota de 1,8% dos movimentos mundiais de turistas holandeses, que
no total ascenderam a cerca de 23,8 milhões.
O gasto médio dos holandeses em Portugal foi de 13.300$00 em 1998, quando em 1990
era somente de 7.800$00. Os gastos globais atingiram naquele último ano o montante de
89,7 milhões de contos, ascendendo as dormidas de holandeses em todos os meios de
alojamento em Portugal a 6.743 milhares.
A região em Portugal mais procurada por este mercado é o Algarve que absorve 72% das
suas dormidas na hotelaria, sendo esta quota das mais baixas nesta região desde 1990,
pois em 1992 chegou a atingir os 78,4% e no ano anterior a este 76,7%. A segunda região
mais procurada é Lisboa e Vale do Tejo (12,9% em 1998) e a seguir a Madeira (9,3%) não
tendo expressão as dormidas nas restantes regiões do país.
Os apartamentos turísticos, em 1998, embora seja visível, não é das mais acentuadas, pois
estende-se desde 3,6% em Dezembro a 12,7 em Agosto.
A entrada de turistas holandeses é essencialmente pela via área, tendo sido cerca de 78%
do total das entradas de turistas desta nacionalidade.
ITÁLIA
Sendo a Itália o sexto mercado emissor de turistas para Portugal, foram aqui recebidos
cerca de 297,8 milhares durante 1998.
O principal destino dos italianos na Europa é a França (5.683 milhares ou 32,2% da quota
mundial) estando a Espanha na posição imediata (12,6%).
Em Portugal, o primeiro destino deste mercado, expresso em dormidas na hotelaria é
Lisboa e Vale do Tejo (62,6% em 1998) seguindo-se o Algarve (12,8%) e o Norte do país
(10,5%), sendo os hotéis de quatro estrelas os mais frequentados (26,3%) bem como os de
cinco estrelas (10,5%).
51
A sazonalidade é muito acentuada, atingindo o mês de Agosto e ao longo dos últimos anos,
valores muito elevados (30,8% em 1991, 27,9% em 1996 e 23,9% em 1998).
O acesso a Portugal pela via aérea representou em 1998 cerca de 65% do movimento
geral deste mercado.
E.U.A.
O número total de turistas americanos em 1998, rondou os 273,5 milhares, quando no ano
anterior era de 251,7milhares.
Os destinos europeus mais procurados por este mercado é a Itália, que regista cerca de
3.074 milhares de turistas provenientes deste mercado emissor, seguindo-se a França com
2.640 milhares e a Espanha com 1.020 milhares.
O gasto médio diário dos americanos em Portugal em 1998 foi o mais elevado (23.800$00),
tendo os gastos totais atingido os 45,5 milhões de contos.
No mesmo ano, as dormidas em todos os meios de alojamento de americanos rondava os
1.910 milhares, enquanto as dormidas na hotelaria não iam além de 646,7 milhares (pouco
mais de um terço daquelas).
Lisboa e Vale do Tejo é a região onde se registam os maiores volumes de dormidas de
americanos na hotelaria (64% em 1998 – valor mais elevado – e 54,9% em 1991 – valor
mais baixo). O Algarve está na posição seguinte (16,1% em 1998).
Os hotéis de quatro e cinco estrelas são os mais procurados, atingindo, no seu conjunto,
58,1% no último ano.
O mês de Agosto não representa o pico na distribuição sazonal das dormidas deste
mercado, pois oscila entre 6,3% em 1994 e 7,9% em 1990, enquanto que em 1998 ficou
nos 7,2%.
O avião é o meio de transporte mais utilizado pelos americanos que atingiram os 77,3% em
1998 e no ano anterior, os 78,1%.
Notando-se assim, que a maior parte das entradas de turistas em Portugal em 1998,
provinham de países da União Europeia.
52
As entradas de turistas continuam a evidenciar um certo índice de sazonalidade, pois a Figura
13 mostra que o seu ponto mais alto tem lugar de Julho a Setembro, período durante o qual,
em 1995, ocorreram 37% do total de entradas.
Figura 13 – Estrangeiros entrados nas
fronteiras por meses do ano (1995). Fonte:
Estatísticas do Turismo.
Figura 14 – Dormidas por tipo de alojamento
(1995). Fonte: Estatísticas do Turismo.
53
No entanto, esta situação tem vindo a revelar uma certa melhoria desde 1989, com 43% de
entradas para o mesmo período. Em relação ao mercado interno, tem-se verificado o
mesmo índice de sazonalidade. É nos meses de Julho a Setembro que se registam os
maiores aumentos nas dormidas nacionais, bem como no mês de Março, provavelmente
devido às férias da Páscoa.
Comparando as dormidas por tipo de alojamento com a nacionalidade dos utentes (Figura
14), verifica-se um padrão de utilização dependente das condições socio-económicas.
Assim, os portugueses utilizam com menor frequência a hotelaria tradicional, onde a maior
fatia é representada pelas dormidas de estrangeiros, utilizando mais, devido aos fracos
recursos económicos, os parques de campismo e as colónias de férias, continuando a ser,
assim, o tipo de turista com um nível económico médio a elevado, a procurar Portugal como
país de destino turístico, embora haja de ter em conta as diferenças cambiais e do nível de
vida que não é uniforme, estando Portugal muito abaixo da média dos países emissores
dos principais fluxos turísticos.
Em 1995, as dormidas de nacionais representaram cerca de 27% do total de dormidas, na
sua maioria na hotelaria tradicional (54%), embora os parques de campismo não fiquem
muito atrás, pois detinham 40% das dormidas (Figura 15). No que respeita às dormidas no
parque hoteleiro, a sua maioria foi efectuada em hotéis e pensões (na sua maioria de 3
estrelas), havendo outras formas, ainda menos implantadas, mas já com certa importância,
como os hotéis-apartamentos e os apartamentos turísticos.
54
Figura 15 – (a): Dormidas dos portugueses por tipo alojamento
(1995); (b): Dormidas dos Portugueses por tipo de estabelecimento,
na hotelaria tradicional (1995). Fonte: Estatísticas do Turismo.
A permanência média geral de turistas estrangeiros tem vindo a baixar progressivamente,
atingindo 7,5 dias em 1991 (Figura 16). Sendo o reflexo da diferença de ritmo de crescimento
verificado entre a entrada de estrangeiros e aquele operado nas dormidas.
Figura 16 – Permanência média dos turistas estrangeiros (1975-91). Fonte:
55
Estatísticas do Turismo.
Para efeitos promocionais e estatísticos, Portugal foi dividido em nove grandes destinos ou
Áreas Turístico-Promocionais, o Algarve tem ocupado e mantido com largo destaque o
primeiro lugar, quer em termos de procura como de oferta turísticas. No que respeita às
outras áreas existe um certo equilíbrio entre o nível da procura e o nível da oferta.
O domínio do Algarve na procura turística é, em parte, função da duração média da estada
dos visitantes estrangeiros, a qual é de cerca de dez a catorze noites. Em Lisboa, esta
duração média é de três a quatro noites, sendo esta cidade um destino privilegiado de
viagens de negócios.
5.2 – A oferta turística
A capacidade de alojamento tem aumentado gradual e significativamente (Figura 17). Em
1995 é de realçar a capacidade de oferta dos hotéis de 3 e 4 estrelas, em conformidade
com o que se disse atrás, relacionado com a procura turística desta modalidade de
alojamento (Figuras 18 a 20). Todavia, ainda existem muitas camas que são utilizadas
ilegalmente, sobretudo no Algarve.
56
Figura 17 – Capacidade de Alojamento em 1984-95, centenas de estabelecimentos e
milhares de Camas. Fonte: Estatísticas do Turismo.
No que respeita à capacidade de alojamento, ou seja à oferta turística, o seu ritmo de
crescimento tem-se vindo a atenuar (Figura 17), pois devido à distribuição dos fluxos
turísticos, à menor permanência média no país, à diminuição do poder económico e ao
alojamento paralelo, o mercado começa a ficar saturado. Embora haja grandes assimetrias
neste domínio.
Figura 18 – Número de estabelecimentos hoteleiros, aldeamentos e
apartamentos turísticos, por nuts II, em 31/07/1999. Fonte: Estatísticas do
Turismo.
57
Figura 19 – Distribuição da capacidade de alojamento nos estabelecimentos
hoteleiros, aldeamentos e apartamentos turísticos, por nuts ii (em camas),
em 31/07/1999. Fonte: Estatísticas do Turismo.
Figura 20 – Distribuição do pessoal ao serviço nos estabelecimentos
hoteleiros, aldeamentos e apartamentos turísticos, por nuts ii em 31/7/1999.
Fonte: Estatísticas do Turismo.
58
Figura 21 – Oferta Hoteleira (1991). Fonte: Estatísticas do Turismo.
Figura 22 – Procura Hoteleira (1991). Fonte: Estatísticas do Turismo.
59
Apesar das grandes flutuações cambiais e económicas verificadas no período 1988-95, as
receitas turísticas sofreram alterações surpreendentemente pequenas, mantendo o seu ritmo
crescente, com um saldo nitidamente positivo de vários milhões de contos (Figura 23).
Figura 23 - Receitas e despesas cambiais do turismo (1988-95).
Fonte: Estatísticas do Turismo.
No entanto existem grandes assimetrias, que se tendem a agravar, a par de proble-mas de
superlotação de que o Algarve é um exemplo, a par de uma total dependên-cia do volúvel
turismo, actividade económica sem-pre contingente e muito sem-sível às crises econó-
micas ou a mudanças de moda.
Mesmo no Algarve, a Serra de Monchique continua esquecida, pois basta afastar uma
dezena de Km para o interior, para logo desaparecer a presença maciça das construções e
dos empreendimentos turísticos nascentes por todo o lado, como cogumelos.
Para resolver estes problemas tem-se criado outras alternativas como sejam a valorização
do património, o lançamento do turismo de habitação e o relançamento das termas.
O Alentejo continua quase virgem em matéria de turismo, com uma costa ora fragosa, ora
arenosa, ainda pouco conhecida e desvendada. O ambiente é prioridade, embora a
Câmara Municipal de Odemira esteja interessada em atrair os investidores, fá-lo com o
maior cuidado e a maior severidade, para evitar o que aconteceu no Algarve. As 60
preocupações postas na preservação da imagem parecem garantir que mesmo a
promoção turística local será capaz de conservar a quase «virgindade da região». O que, a
suceder, constituiria exemplo impar no nosso país.
Os espaços de atracção turística em Portugal
1. Termalismo
2. Climatismo
3. Pousadas e Hotéis de Turismo
4. Veraneio Balnear
5. Turismo no Interior
1. Turismo Religioso: o caso de Fátima
2. Residências Secundárias
3. Outros recursos turísticos
9. Principais temas tratados no âmbito do Turismo
9.1. Turismo e Qualidade
9.2. Turismo e Desenvolvimento Regional
9.3. Turismo e Ambiente
Aanálise dos espaços turísticos tem sido matéria relativamente pouco
explorada nos estudos sobre turismo. Para ilustrar esse facto basta observar a
escassez de tentativas de sistematização existentes na profusa bibliografia
sobre o assunto. Na realidade, a atenção dos investigadores tem recaído
preferencialmente sobre o acto turístico em si, mais do que sobre o seu
enquadramento espacial (Figura 24).
Pensamos que uma explicação para este fenómeno seja o carácter
dominantemente económico que enquadra a grande maioria dos enfoques
turísticos, mais estranho é, no entanto, que mesmo os estudos feitos a partir do
campo da Geografia (para quem o elemento espacial é vertente de primeira
importância) também não lhe tenham dado o relevo que o domínio cientifico
sugeriria. Assim os principais estudos recaem sobre assuntos relacionados
com a situação da actividade turística em termos económicos e estratégias de
61
desenvolvimento. Havendo, contudo, uma variada e profusa bibliografia no que
concerne ao Turismo em Espaço Rural e às potencialidades e roteiros
turísticos, destinados a cativar potenciais visitantes.
Figura 24 – Produção Cientifica no âmbito do turismo (1873-1996): temas
abordados.
Os outros estudos de caracter espacial são mais raros, mas não perdem a sua
importância. Nota-se que existe um certo paralelismo entre as modas turísticas
e a bibliografia produzida, começando no termalismo e acabando na actual
multifacetada procura de espaços turísticos.
62
Figura 25 – Produção Cientifica no âmbito do turismo (1873-1996): áreas
abrangidas.
1 – Termalismo
O termalismo é uma das formas mais antigas de turismo, tomado este num
sentido lato. O território português não constitui excepção, até pela sua riqueza
em nascentes termo-minerais, cujas águas são tidas desde há muito tempo
como santas, e de grande valor curativo para muitas doenças, desde
reumatismos e doenças da pele, das vias digestivas e respiratórias e várias
outras. Muitas águas termais foram utilizadas no tempo dos romanos. São
exemplo de Chaves, Vidago, Pedras Salgadas, Caldelas, Taipas, Águas de S.
Vicente, Vizela, Caldas da Rainha, Lisboa.
Ao longo dos séculos da história portuguesa recorreu-se à terapia hidrotermal,
mesmo entre personalidades da corte: em 1495 D. João II recorreu às águas
das Caldas de Monchique; a rainha D. Leonor está na origem do
desenvolvimento das Caldas da Rainha; em 1894, D. Amélia frequentou as
termas de S. Pedro do Sul, que durante algum tempo foram conhecidas como
Termas D. Amélia, etc. Foi, porém, nos meados do século XVIII que se viu
despertar um interesse mais geral pelas termas. Este ganhou particular 63
amplitude no decurso do século seguinte, principalmente na segunda metade,
quando começam a ser exploradas com fins terapêuticos quase todas as
nascentes actualmente utilizadas, após a construção de instalações
minimamente suficientes, o que levou o Governo, em 1892, a expropriar as
suas nascentes a favor do Estado, passando-as ao regime de concessão.
Uma simples análise da evolução do fenómeno através dos tempos dá-nos
uma clara indicação sobre uma espécie de fluxo vital que, latente, faz sempre
ressurgir as termas. Com efeito, no reduzido espaço de pouco mais de um
século, as estâncias termais conheceram o período áureo das primeiras
décadas do século, que no período entre-guerras, foram logo esquecidas com
a vivência aligeirada e desportiva das praias e pelos avanços da quimioterapia;
por seu turno, a voga dos areais irá prontamente sofrer um renovado assalto
concorrencial, trazido agora pela reanimação hidrológica de pendor
tradicionalista que a consciencialização ecológica dos nossos dias introduziu,
pregando um retorno à natureza e assim um ressurgimento das termas.
Ramalho Ortigão (Banhos de Caldas e Águas Minerais, 1875), deixou-nos o
testemunho da utilização das termas no início do último quartel do século XIX.
"Dantes o costume em Portugal, nos meses de Verão, era tomar ares. Os
citadinos com casa no campo, chegado o mês de Maio emigrava-se para a
quinta. Depois começou a ir toda a gente para um canto qualquer, alugado.
Primeiro tratou-se só de banhos de mar, mas a pouco e pouco a população
sentiu-se cada vez mais agoniada e começaram a conhecer os benefícios da
água mineral. A vida moderna faz doenças novas, que se encontram alivio no
descanso e na distracção; distrair-se alguém em Lisboa de Abril a Outubro é
difícil: as caldas conciliam tudo: mudanças de ares, exercício ameno, banhos,
copinho, peregrinação, entretenimento, vida nova, passeios, picniques, etc.".
Na difusão da crenoterapia entre a população portuguesa interveio,
certamente, o desenvolvimento dos transportes terrestres (quer pelo
aparecimento das primeiras linhas do caminho de ferro, quer pelos arranjos e
construção de estradas seguidas pelas diligências) e a expansão demográfica
das principais cidades, além dos progressos lentos da quimioterapia. "A
evolução fez com que (...) os portugueses fechem a porta de casa, metam a
64
chave no bolso, e vão por aí fora com a sua família em caminho de ferro e em
diligências, beber água daqui a cem léguas. As pessoas que para ali vão ou
estão doentes, ou fazem como se o estivessem, uns tomam banho, outros de
manhã bebem água e à noite chá, outros tomam banho de água quente. Os
passeios e os picniques são o entretenimento."
As caldas surgem como um remédio para curar e evitar o envelhecimento, pois
"... a velhice é uma enfermidade cutânea, a pele engelha, enruga, deslaça,
perturba e altera em todas as suas funções os órgãos que enfeixa. Das rugas
exteriores resulta o deperecimento interno."
Segundo o mesmo autor existiam na altura as seguintes Caldas e fontes de
águas minerais:
Minho: Vizela, Taipas, Geres, Fontes de Lijó e Galegos, Caldas de
Rendufe, Monção, Entre os Rios.
Beira: S. Pedro do Sul, Aregos, Luso, Felgueiras.
Trás-os-Montes: Moledo, Chaves, Pedras Salgadas, Vidago, Vilarelho
da Raia.
Estremadura: Estoril, Poça, Sto. António do Estoril, Poço do Arsenal da
Marinha, Alcaçarias do Duque, Alcaçarias de D. Clara, Chafariz de El-Rei,
Doutor, Chafariz de Andaluz, Cucos, Torres Vedras, Vimeiro, Caldas da
Rainha, Caldas de Gaieras, Fonte dos Arrábidos, Fonte de Óbidos, Águas
Santas da Vila de Caldas.
Alentejo: Cabeço de Vide, Aljustrel, Arez, Maria Viegas, Ouguela.
Algarve: Monchique, Santo António de Tavira.
Muitas termas continuavam a ser alcançadas por barco, como é o caso de
Entre os Rios e Moledo. As mais acessíveis e as mais próximas dos principais
centros urbanos e das áreas de maior densidade populacional são as que se
desenvolvem mais depressa. No Norte salientam-se então "Vizela (2 hotéis);
Caldas das Taipas (1 hotel moderno); Pedras Salgadas (1 hotel confortável;
Vidago (o Grande Hotel de Vidago e outro mais pequeno), o estabelecimento
termal funcionava de Maio a finais de Outubro e o Luso (2 hotéis médios)". Na
Estremadura, as Caldas da Rainha continuavam a impor-se "havia dois hotéis,
65
duas hospedarias, e durante a estação balnear quase todas as famílias
recebem hospedes. (...) a clientela provinha não só de Lisboa como também de
Espanha (à semelhança de certas termas de fronteira: Monção, Águas de
Ourives, Monfortinho, Castelo de Vide). No Alentejo, Castelo de Vide era então
o principal centro termal, atraindo clientela regional e da Extremadura
espanhola. No Algarve, apenas as Caldas de Monchique dispunham de
estabelecimentos termais decentes e até confortáveis; atraem grande número
de banhistas da província, do Alentejo, da Andaluzia e de outras partes de
Espanha, próximas do Guadiana; este rio e o mar facilitavam o acesso, através
de Portimão, mesmo para os lisboetas"(C. CAVACO, 1979).
A viragem do século é por toda a Europa uma época de expansão do
termalismo. Portugal acompanhou essa evolução, se bem que em termos mais
modestos, em 1911 institucionaliza-se a actividade turística, com a criação da
Repartição de Turismo do Ministério do Fomento, que a partir de 1968, se
passa a designar Direcção Geral de Turismo (DGT), dando novo alento à
promoção termal. As mais acessíveis tiveram novo impulso, enquanto que as
mais afastadas continuaram quase por explorar. Algumas começaram a
exportar água mineral, é o caso do Luso e da Curia e, consequentemente, a
fazer concorrência à actividade que lhe deu origem. Salienta-se nesta época a
grande frequência das termas do Geres e o elevado nível das instalações,
apesar do relativo isolamento, bem como o inicio da expansão da Curia. Alguns
centros termais começam a afirmar-se como lugares de veraneio: Entre os
Rios, Caldas das Taipas, Luso e, sobretudo, Caldas da Rainha. Não são
indiferentes a esta nova motivação os seus parques e matas (a do Bussaco, no
caso do Luso) e a paisagem que os rodeia. Isto não significa retracção do
interesse puramente termal que se manteve pelas décadas seguintes, com
intensidades dependentes das dificuldades económicas e políticas do país, e
mesmo de Espanha no caso de certas estâncias que polarizavam numerosa
clientela deste país.
Na década de 30, o termalismo alcançou o seu período áureo, não se
prolongando por muito mais, "em função dos progressos da quimioterapia e da
afirmação de novas modas e lugares de tempos livres. Não deixaram também
66
de referir a larga distribuição pelo país das águas minero-medicinais, com
desenvolvimento da indústria de engarrafamento e as facilidades do seu
transporte, asseguradas pela expansão da camionagem (termalismo ao
domicilio)" (C. CAVACO, 1979).
Até ao boom eclodido no após II Guerra Mundial, os atractivos mais
encorajadores das digressões turísticas radicaram, sobretudo, em aspectos
ligados à natureza (clima, paisagem) e às tradições histórico-naturais
(costumes, monumentos, museus).
Chegados aos nossos dias como decanas das estâncias turísticas
portuguesas, as velhas termas irão despertar gradualmente duma intermitente
letargia, favorecidas por um conjunto de circunstâncias abonatórias, onde
floresce uma tendência internacionalmente generalizada para o seu
reaproveitamento pela integração paulatina nos esquemas de saúde e
segurança social.
Para Portugal, com o voltar das páginas da belle èpoque e anos 20, este
terceiro fôlego aquista simboliza, de certo modo, o regresso às suas origens e
sentido quatrocentistas, quando o remoto hospital das Caldas da Rainha,
fundado por D. Leonor, se abalançou, pioneiro, na assistência termal.
Com efeito, o stress e a pressão do quotidiano urbano, os excessos
medicamentosos, esse vago e inquieto mal-estar que se apoderou das
sociedades industriais, correndo paralelos ao despertar ecológico dos anos 70,
vão provocar uma renovada apetência pelo caracter terapêutico das termas,
bálsamo natural e integrado para os padecimentos do corpo e do espirito.
Procurando adaptar-se, em equipamento e animação, aos requisitos modernos, as estâncias
termais emergem duma obscura subalternidade a que a corrida às praias dos anos 50 e 60 as
havia sujeitado.
67
1. Melgaço
2. Monção
3. Gerês
4. Caldelas
5. Eirogo
6. Taipas
7. Vizela
8. Caldas da
Saúde
9. Canavezes
10. Aves
11. S. Vicente
12. Chaves
13. Carvalhelhos
14. Vidago
15. Pedras
Salgadas
16. Carlão
17. Moledo
18. Aregos
19. Carvalhal
20. S. Pedro do Sul
21. Alcafache
22. S. Gemil
23. Felgueira
24. Manteigas
25. Unhais da Serra
26. Monfortinho
27.
28.
Caldas de S. Jorge
Vale da Mó
Luso
Curia
Monte Real
Piedade
Caldas da Rainha
Vimeiro
Cucos
Ladeira de
Envendos
Fadagosa de Nisa
Monte da Pedra
Cabeço de Vide
Monchique
Figura 26 – Estâncias Termais. Fonte: http://www.dgturismo.pt/irt/irt.htm
68
Nas figuras seguintes apresenta-se a evolução das dormidas nos
estabelecimentos hoteleiros das termas.
Figura 27 – Dormidas nos Estabelecimentos Hoteleiros das Termas. Fonte:
INE/DGT
Conforme se pode observar na figura anterior, em 1999, os estabelecimentos
hoteleiros das Termas das Caldas da Rainha registaram o maior número de
dormidas, logo seguidos pelos das Termas da Curia.
As Termas do Carvalhal e de S. Gemil apresentaram as maiores variações
positivas no número de dormidas, com taxas que reflectem um crescimento
médio anual, entre 1995 e 1999, de 59,5% e 42,2%, respectivamente.
69
Figura 28 – Dormidas Totais nos Estabelecimentos Hoteleiros das Termas.
Fonte: INE/DGT
Figura 29 – Hóspedes nos Estabelecimentos Hoteleiros das Termas. Fonte:
INE/DGT
No que diz respeito aos hóspedes nos estabelecimentos hoteleiros das Termas
(Figuras 29 e 30), verifica-se que foi nas Termas de Chaves que se registou o
maior número de hóspedes em 1999.
70
Figura 30 – Evolução dos Hóspedes nos Estabelecimentos Hoteleiros das
Termas. Fonte: INE/DGT
Tendo em conta a variação média anual observada, constata-se que foi nas Termas de Caldelas
que houve um maior incremento ao longo dos últimos 5 anos (53,6%).
Figura 31 – Estada Média Anual nos
Estabelecimentos Hoteleiros das Termas.
Fonte: INE/DGT
71
Da análise da figura anterior verifica-se que a estada média nos
estabelecimentos hoteleiros das principais estâncias termais foi de 2,3 dias em
1999 (2,7 dias em 1998).
As estadas médias mais elevadas no estabelecimen-tos hoteleiros das Termas
poderão traduzir uma maior participação de aquistas na sua frequência. No
entanto, refira-se que se registam em estâncias com excelente envolvimento
paisagístico.
Os números relativos, nomeadamente, às Termas das Caldas da Rainha
apresentam uma irregularidade bastante forte e não têm, como se verá de
seguida, correspondência com o número de inscrições de aquistas, fornecido
pelo Instituto Geológico e Mineiro (IGM) - é mais uma evidência da falta de
correspondência entre a actividade balnear e a frequência dos
estabelecimentos hoteleiros das Termas.
Analisando os elementos anteriormente apresentados pode concluir-se que os
estabelecimentos hoteleiros das termas são frequentados predominantemente
por pessoas que não vão fazer tratamentos, mas apenas passar um breve
tempo num ambiente repousante - pois os tratamentos termais raramente têm
uma duração normal inferior a 2 semanas, sendo a duração de 3 semanas
quase geral.
Importa, no entanto, referir a possibilidade das estâncias termais serem
frequentadas por aquistas residentes em localidades próximas das mesmas,
como é o caso dos nossos vizinhos espanhóis que frequentam Termas
localizadas próximo das fronteiras.
Não sendo possível conhecer o movimento de estrangeiros nos
estabelecimentos hoteleiros das Termas, por principais nacionalidades, optou-
se por analisar a informação disponibilizada pelo IGM. Esta informação refere-
se ao número de inscrições balneares e não ao movimento nos
estabelecimentos hoteleiros.
Assim, tendo por base o "Boletim de Minas" - 1999 - do IGM, em 1998
frequentaram as estâncias termais portuguesas 502 aquistas estrangeiros (-
72
17,8% que na época termal de 1997). Esta frequência corresponde a 0,6% do
total de inscrições nas estâncias termais.
Dos estrangeiros que frequentaram as Termas portuguesas, 66,3% eram
oriundos de países comunitários, nomeadamente de Espanha (44,8%).
Figura 32 – Evolução da frequência termal estrangeira. Fonte: IGM
A análise do gráfico anterior permite concluir que a partir de 1996 o número de
aquistas estrangeiros que frequentam as estâncias termais portuguesas tem
vindo a baixar, tendo-se registado no último ano em análise o menor número
de sempre (502).
Na figura seguinte apresenta-se informação relativa à frequência termal
estrangeira em 1998, sendo de salientar o mercado espanhol devido a factores
de proximidade.
73
Figura 33 – Frequência Termal Estrangeira em 1998. Fonte: IGM
A evolução da capacidade de alojamento instalada nas Termas pode observar-
se no quadro que se segue:
Quadro II – Camas hoteleiras disponíveis nas estâncias termais (épocas
alta e baixa)
Se nos basearmos na capacidade existente em 31 de Julho de 1999, a taxa de
ocupação-cama anual obtida é de cerca de 23,2%. No entanto, como cerca de
57% dos estabelecimentos hoteleiros das Termas apenas funcionam durante 5
ou 6 meses em cada ano, a taxa relativa ao período em funcionamento é
bastante mais alta.
74
Como se pode observar na figura que se segue, a análise comparativa entre o
movimento de hóspedes nos estabelecimentos hoteleiros e as inscrições nos
balneários não permite reconhecer a existência de qualquer correlação. Em
alguns casos, esta situação pode dever-se ao facto de um grande número de
aquistas e seus familiares optar por meios de alojamento não recenseados.
Análise comparativa entre o movimento nos estabelecimentos hoteleiros e as
inscrições nos balneários
Figura 34 – Número de Inscrições em 1998. Fonte: IGM/INE
Podemos, então, concluir que, comparando a relação entre o número de
hóspedes e o número de inscrições:
Os valores apurados para Vizela (0,4) e S Pedro do Sul (0,6), sendo os
mais baixos e correspondendo a termas com um número de inscrições
bastante elevado, podem revelar uma grande utilização, pelos aquistas, de
meios de alojamento não recenseados ou não hoteleiros.
Os valores encontrados para Carvalhelhos (37,6), Luso (23,7), Moledo
(23,7), Vidago (19,6) e Caldas da Rainha (que esteve encerrada em 1998),
revelam uma larga utilização dos estabelecimentos hoteleiros por uma
clientela não aquista.
75
Quanto mais afastado for o rácio de 1, menor é a ligação da frequência
dos estabelecimentos hoteleiros com o termalismo. O certo é que, com raras
excepções, parece haver uma fraca relação entre a utilização dos
estabelecimentos hoteleiros e a actividade balnear.
Na origem das estâncias termais esteve seguramente o aproveitamento das
águas minerais naturais, embora depois o número de estabelecimentos
hoteleiros das Termas tenha crescido independentemente de tal
aproveitamento, passando a sua utilização a ter características meramente
turísticas.
2 – Climatismo
Outrora, as populações urbanas mais abastadas que dispunham de casas
rurais e propriedades deixavam a cidade nos meses de verão ao encontro da
sombra e da frescura que aí poderiam encontrar. A distância era variável, mas
muitas das melhores quintas ficava a pouca distância de Lisboa ou do Porto,
funcionando por isso não só como lugar para férias mas também dos fins de
semana mais ou menos longos, das elites ociosas e endinheiradas. Na região
de Lisboa encontravam-se dispersas em redor da capital. Mas esta dispersão
convinha pouco à vida social, o que deve ter levado à eleição de lugares de
certa concentração de residências secundárias, não muito distantes da grande
cidade e de ambiente climático e vegetal verdadeiramente contrastante, é o
caso de Sintra.
Nos anos 30 eram referidas na Serra da Estrela, as estâncias de cura e
repouso das Penhas da Saúde, o Sanatório Ferroviário, o Sanatório da Guarda
e a dispersão pela serra de habitações ocupadas no Verão por famílias
adoptando o turismo de montanha, o costume de armar tendas de lona para
pernoitar na Nave de Santo António, como forma incipiente de turismo
selvagem, e, desde 1931, a prática de desportos de Inverno.
Manteigas era uma instância climática de altitude e centro de turismo de cura
(com termas); o Caramulo, estância climática e de cura pulmonar, para o que
dispunha do Grande Hotel Sanatório, de quatro outros hotéis, de sete pensões,
do Sanatório da Marinha e de um grupo de chalés destinados a doentes
76
acompanhados de familiares; no distrito do Porto, Lourado da Serra era
considerada como estância de cura e repouso dotada de equipamento
confortável e rodeada de parques e jardins.
O climatismo surge como forma de turismo de Verão em áreas acessíveis e de
paisagens apreciadas; associando a terapêutica climática na montanha média
ou em sítios particularmente soalheiros durante o Inverno (S. Brás de Alportel),
o gosto pelas altitudes elevadas (turismo de montanha) e o dos desportos de
neve. Mas se a terapêutica pulmonar tocou significativamente muitos lugares,
segundo a procura de uma clientela numerosa, o turismo simplesmente
climático e de montanha teve pouca procura e expressão, pelo afastamento
dos grandes centros urbanos, a inacessibilidade de muitos lugares antes da
generalização do transporte automóvel, a origem rural das novas gerações
urbanas que, em termos de férias, dificilmente podiam programar estadias fora
dos lugares de origem, onde contavam com o acolhimento de familiares. O
mercado turístico nacional era ainda reduzido, e os visitantes estrangeiros
limitavam-se aos espanhóis, que até à guerra civil, frequentavam as termas de
fronteira e as praias bem servidas por caminho de ferro.
3 – Os Hotéis de Turismo e as Pousadas como uma preocupação de
desenvolvimento do turismo internacional
Segundo o plano das pousadas oficiais de turismo e das estalagens nas
décadas de 40 e 50, as pousadas são construídas pelo Estado e concedidas
para exploração de acordo com um conjunto de normas previamente
estabelecidas. A sua construção era sempre em pontos estratégicos das
principais estradas do país.
4 – Veraneio balnear
As estâncias termais eram o lugar turístico por excelência, onde o lúdico se
juntava ao repouso e à terapia. As praias, que de alguma maneira as
substituíram, são já um produto massificado e assim diferente das suas
antecessoras. Ao mesmo tempo, o turismo passou de um privilégio de uma
minoria para a massificação. Contudo, a prática de banhos de mar não é de
agora, tendo já uma longa história.
77
A segunda metade do século XIX foi também a do despertar do interesse pelas
estadias estivais à beira-mar, sobretudo em Setembro, que desencadeou
movimentos de pessoas de todas as classes sociais, nacionais e estrangeiras,
aqui residentes, tanto das cidades do litoral como das regiões do interior. O ar
do mar era tido como revigorante, sobretudo para as crianças, e o banho
terapêutico. Pela fachada marítima, ocidental e meridional, de povoamento
intenso e antigo e numerosas praias, o país acompanhou com facilidade a
evolução da moda europeia. Assim, em 1864, as praias passam para o regime
de domínio público marítimo. As grandes cidades elegeram as suas praias,
também descritas por RAMALHO ORTIGÃO (1876). Este autor dá-nos uma
preciosa imagem das praias da região de Lisboa e a norte desta, com um
roteiro turístico, com a descrição dos lugares, das gentes, costumes e
diversões, nos meados da segunda metade do século XIX. A pesca
representava uma das principais riquezas e, poucos anos depois as conservas
de peixe alimentam largamente o valor das exportações. Os sectores mais
prestigiados e de mar mais calmo tinham sido humanizados por grupos de
pescadores que, ao abrigo de um cabo, de um estuário, de uma baía ou de
uma restinga, instalaram as suas aldeias.
O veraneio foi naturalmente eleger os mesmos sítios, mas não todos, apenas
aqueles que se localizavam na proximidade das principais vilas e cidades. Na
região de Lisboa, as praias de veraneio seguiam-se quase continuamente de
Belém a Cascais. Na área do Porto havia a Foz, Leça e Matosinhos. A Póvoa
de Varzim servia todo o Minho. S. Pedro de Moel era a mais «mimosa, a mais
familiar e a mais intima das praias portuguesas». Ramalho Ortigão fala ainda
de outras praias: a Figueira frequentada pelos conimbricenses; Espinho,
Nazaré, Setúbal, Granja, Vila do Conde, Ericeira. As paias "obscuras" eram:
Âncora, Apúlia, Lavadores, Furadouro, Costa nova, S. Martinho do Porto,
Assenta, Santa Cruz, Porto Brandão, Alfeite e Fonte da Pipa, devido à pouca
afluência de pessoas estranhas, sendo na sua maioria frequentadas por
residentes desses lugares e áreas limítrofes. No Sul, embora o autor não tenha
deixado nenhum testemunho, as praias eram frequentadas pelos autóctones,
de reduzida importância.
78
Havia uma complementaridade entre as praias e as termas, pois, normalmente
quando a distância o permitia, ia-se às termas (onde os idosos tomavam
banhos) de seguida ia-se até à praia (onde era vez dos mais novos tomarem
banhos de sol e de água salgada).
Deste panorama da organização antiga da vida balnear em Portugal, que aliás
se manteve até 1960, salienta-se a influência da situação geográfica dos sítios.
Por todo o litoral o turismo balnear parece apoiar-se apenas ou essencialmente
em residências secundárias e no aluguer de casas e quartos à população local.
Só em raros casos foram construídos hotéis, pensões ou restaurantes.
No primeiro decénio do século XX referem-se novas praias, como Sines,
frequentada por alentejanos e espanhóis, vindos por Ayamonte e Badajoz, ou
Vila do Conde, concorrendo com a Póvoa de Varzim, os novos equipamentos
de outras (como a Figueira da Foz: teatro, casino) e o cosmopolitismo das da
Costa do Sol, o Monte Estoril parecendo mais uma estância do Mediterrâneo
do que uma praia portuguesa, para o que contribuiu a acessibilidade (tramways
de ligação de Lisboa a Cascais). "Pela sua excepcional situação, para quem
vem por mar de Londres, Nova Iorque ou Rio de Janeiro, e pela proximidade
que está duma grande cidade, alegre e hospitaleira, o Monte Estoril não tem
rival" (A. ARROYO, 1908).
Vinte e cinco anos depois (década de 30), Estoril e Monte Estoril, são duas das
mais famosas estâncias balneares e de turismo do país, desenvolvidas numa
paisagem de vegetação abundante e exótica, com dispersão de luxuosas
vivendas, vários hotéis confortáveis e pensões modernas e um equipamento
recreativo muito diverso, capaz de atrair clientela estrangeira que chega pelo
porto ou pelo Sud-Express; salienta-se o casino, com salas para festas,
exposições, teatro, cinema e jogos regulamentados, intensa vida mundana e
lugar de encontro da elite portuguesa e cosmopolita; e todo o equipamento
desportivo: golfe (para ingleses e americanos), hipódromo, campos de ténis,
picadeiros para equitação, etc. A costa, prolonga-se por Cascais, ainda
elegante, e a leste pela Parede (com sanatório e solário) e Carcavelos
(sanatório ósseo).
79
Na área de influência do Porto destacava-se a Póvoa, "desde as manhãs na
praia e as noites nos seus espaçosos cafés e luxuoso e monumental casino"
(C. CAVACO, 1979). Mas a Granja, a sul do Porto, também já tinha casino,
golfe, campos de ténis e um grande movimento, e Vila do Conde, o Palace
Hotel e o casino.
Além destas praias salientam-se outras, embora de menor importância, como
as de Espinho, da costa de Aveiro (Mira, Costa Nova, Barra, S. Jacinto,
Torreira, Furadouro), a Figueira, Nazaré, S. Martinho do Porto, Praia de Santa
Cruz, Ericeira, Trafaria, Costa da Caparica. No sul, só no Algarve aparece novo
rosário de centros de vida balnear, destacando-se, a leste, Monte Gordo,
bastante frequentada por famílias da região, do Alentejo e de Espanha e com
casino, e, no Barlavento, a Praia da Rocha, de fama muito recente, em franco
desenvolvimento, com o melhor hotel da região e a única zona de jogo
autorizada no sul.
Esta expansão da vida balnear faz-se a par da maior vitalidade do termalismo e
em parte foi dirigida aos mesmos tipos de clientela, já que em ambos se
consideram valores terapêuticos e as vantagens de um bom equipamento
hoteleiro, recreativo e desportivo. Portugal como quase não conheceu formas
de turismo litoral de Inverno, nem mesmo suburbano, as praias dos fins do
século XIX e dos primeiro decénios do século seguinte, apagam-se perante as
termas. As únicas excepções parecem limitar-se à Costa do Sol, Figueira da
Foz, Espinho e à Póvoa de Varzim.
Pelos anos 30, a posição relativa dos dois tipos clássicos de estâncias
turísticas passa a inverter-se com o crescente favoritismo que a praia recolhe
em detrimento das velhas termas. Enquanto que para a primeira concorriam as
seduções da moda e dum modo de viver mais desportivo e ar-livrista, para as
segundas desfalecia-lhes o primado da quietude bucólica, dos mundanismos
de salão e até das próprias virtudes curativas, gradualmente suplantadas por
uma farmacopeia industriosa que, ao menos em teoria e sem mais
formalidades nem despesas, obtinha resultados idênticos aos produzidos com
o tratamento das águas.
80
Ainda assim, a primeira metade do século assiste a um segundo e derradeiro
fôlego do estilo termalista de outrora, entretanto vitalizado com algumas
piscinas, ringues de patinagem e campos de ténis, que ripostavam à
concorrência desportiva que as praias se moviam.
Não obstante, o ascendente dos areais vai desviando a clientela das águas,
designadamente nos seus estratos mais jovens, onde se instala um
progressivo fenómeno de rejeição que espelha o próprio conflito de gerações.
A sul do território, descontado o filão ainda por explorar dum Algarve bloqueado
pela falta de acessos, ergue-se o Estoril cosmopolita, que deslumbra o
provincianismo do país profundo. Ao centro destaca-se a Figueira da Foz que
detivera até aos anos 30 a honra de ser "a mais preferida por toda a elegância
rica e fina de lés-a-lés do país" (P. PINA, 1988). No norte do país dominavam
as alegres e concorridas praias de Espinho e da Póvoa de Varzim, alimentadas
pelas gentes do interior.
A partir dos anos 60, vai ser esta a forma dominante entre os espaços
turísticos, sendo o litoral do Algarve o mais representativo.
Partes: 1, 2, 3, 4, 5
5 – Turismo no interior
Sempre se optou em Portugal, por desenvolver as áreas do litoral, quer industrialmente,
quer na criação de infra-estruturas mais caras. O mesmo sucede com o turismo, assim, o
turismo no interior, carenciado de toda a espécie de estruturas, tem sobrevivido à custa do
património natural ou por uma ou outra tradição cultural.
O turismo em espaço rural, que basicamente consiste no contacto com o campo, quer
simplesmente passeando e tomando contacto com a natureza, quer ainda, colaborando
com os agricultores nas suas actividades, tem-se vindo a afirmar nos últimos anos.
Desde 1960, ano em que o sector turístico começou a ter, sobretudo na Europa, um
desenvolvimento considerável, que em Portugal se tem olhado para este campo de uma
forma pouco planeada e principalmente de uma maneira pouco dinâmica, transportando
este sector para certas dificuldades, que vão desde a falta de planeamento dos locais de
81
construção das unidades hoteleiras até à má gestão comercial, de que o Algarve é talvez o
melhor exemplo e o mais caótico que se conhece.
Devido à situação geográfica do país, e ao facto de apresentar uma longa costa onde
existem numerosas praias – muitas delas a necessitarem de uma rápida intervenção de
limpeza e despoluição –, que o turismo feito em Portugal, quer pela própria população
portuguesa quer pelos estrangeiros que o visitam, se tem caracterizado por ser feito junto ao
mar ou com ele directamente relacionado.
Por tudo isto, e porque sempre se apostou nas facilidades do litoral - melhores acessos por
terra, mar e ar -, que se tem esquecido repetidamente o aproveitamento do turismo no
interior, arrastando essas áreas para o esquecimento ou mesmo para o desconhecimento
das pessoas. Assim, continua-se a investir, em termos turísticos, em áreas já bastante
desenvolvidas, caso do Algarve ou mesmo na Costa do Estoril, onde pouco mais há a fazer,
continuando-se a esquecer as áreas potencialmente turísticas do interior, colocando-as
assim num estado de profundas carências estruturais que em nada beneficiam o
desenvolvimento harmonioso do turismo em Portugal.
Em Portugal, o turismo rural encarado de uma forma lata, ou seja aquele que se faz no
interior do país, tem uma história muito antiga, que se pode fazer remontar ao período em
que aquele correspondia ao que era praticado aquando das férias das classes mais
abastadas. Posteriormente, com o alargamento da base social daqueles que podiam
aspirar a férias, o espaço rural vai continuar a ser mobilizado como local privilegiado de
vilegiatura, com as suas formas de termalismo e climatismo.
Mais tarde, com o advento da moda dos banhos de mar, parte destes fluxos que se dirigiam
para o campo vão ser desviados para o litoral, especialmente para os seus retalhos mais
aprazíveis e acessíveis às grandes cidades.
Este movimento, que poderia fazer supor um esvaziar dos campos como local de férias, vai,
no entanto, ser compensado por um fenómeno de consequências contrárias: a
«democratização» do turismo, isto é, a extensão dos seus benefícios a camadas sociais
cada vez mais amplas, mercê dos progressos económicos verificados nas sociedades
modernas.
82
Este facto, aliado a um reforço da acessibilidade produzido pelas melhorias e inovações do
sistema de transportes nacional, vai ter como consequência a produção de novos e
diferentes fluxos em direcção ao espaço rural: é o aumento daqueles que têm
possibilidades de ir fazer férias aos seus locais de origem, é a abertura a camadas mais
modestas de formas de turismo no espaço rural que até aí era apanágio dos mais
endinheirados e que, por um mecanismo de contágio, vão ser agora adoptadas por
aqueles.
Estamos, pois, perante a ideia de que o turismo se desenvolve através de ciclos, os quais
se ligam intimamente às aspirações e características sociológicas das diversas épocas.
As actuais preocupações ambientais, as crescentes necessidades de descanso em locais
calmos e não superlotados, a moda do «verde», o gosto do retorno às origens, e mesmo as
dificuldades crescentes, em termos de qualidade do meio litoral em geral e das águas
marinhas em particular apontam para um novo ciclo turístico centrado no espaço rural, mas
sempre haverá turismo no litoral só que em moldes diferentes.
Entre os novos sectores turísticos mais dinâmicos, salientam-se: o Turismo em Espaço
Rural, o Turismo Cinegético e o Turismo Ecológico ou de Ambiente.
O Turismo em Espaço Rural (TER) é uma das formas de turismo mais recentemente
implementadas em Portugal, aproveitando a disponibilidade de residências rurais
tradicionais, por vezes monumentais e sempre de grande interesse patrimonial,
subaproveitadas ou desafectas das funções anteriores. Esta forma de turismo caracterizada
fundamentalmente pelo acolhimento familiar, permite um contacto mais directo com a
natureza, com as populações, seus usos e costumes. Os turistas dispõem de serviços
especialmente personalizados e podem usufruir de um vasto património natural e cultural.
E, de certa forma, é uma forma de turismo que vem colmatar as deficiências e as crises do
sector agrícola, pois o agricultor nas suas estratégias de sobrevivência através da
pluriactividade proporcionando rendimentos complementares dos agrícolas, sem perda de
autonomia e independência profissional e sem o afastamento quotidiano das explorações
dos diferentes membros da família, começa a encarar as actividades turísticas e recreativas,
de diferentes modalidades em relação com as potencialidades da exploração e os recursos
ambientais.
83
O agricultor, tenderão assim a comercializar, a par de bens agrícolas e alimentos laborados,
parques de campismo e de caravanismo, alojamentos na própria habitação ou em
apartamentos especializados, serviços de restauração, limpeza, guarda de crianças,
actividades desportivas e recreativas (náuticas, pesca, caça, hipismo, passeios de bicicleta
e a pé, e até mesmo os trabalhos agrícolas, como a colheita da fruta e o cuidar dos animais,
a apanha de plantas aromáticas e medicinais), actividades culturais (artesanato, folclore,
festas, feiras, romarias) e o bucólico do seu próprio meio, de espaços verdes, paisagens
rurais humanizadas e cuidadas pelas práticas agrícolas, sossego convidativo do repouso,
respondendo às novas necessidades dos consumidores urbanos.
O turismo nas explorações agrícolas apenas é novo no seu caracter comercial: as quintas
agrícolas e de vilegiatura foram muito frequentadas pelos seus proprietários e convidados
até à explosão turística do termalismo e do veraneio balnear. Como noutros aspectos, a
inovação apresenta algum atraso em relação a outros países europeus e responde mais a
uma procura externa não massificada e de qualidade e poder económico do que à procura
nacional, até pela forte ruralidade da população de residência urbana, mesmo nas grandes
cidades de Lisboa e do Porto, os principais centros emissores.
Em Portugal, o Turismo em Espaço Rural como actividade económica apenas surgiu nos
anos 70, sob a designação de Turismo de Habitação. Em termos oficiais, tratava-se
essencialmente de promover a dispersão territorial da actividade turística, reforçando ao
mesmo tempo os afluxos de divisas pela conquista de novos segmentos dos mercados
emissores europeus, de elevado poder económico, exigências de qualidade e
especificidade, designadamente no tipo de alojamento e alimentação, nas relações
humanas e no tratamento personalizado, em oposição ao tratamento de massa e ao
anonimato dos grandes hotéis das estâncias balneares.
De natureza difusa no espaço, este turismo leve e verde assentou fundamentalmente no
acolhimento de famílias residentes, dispondo de patrimónios construídos consideráveis cuja
conservação e mesmo recuperação se tornavam demasiado onerosas e dificilmente
justificáveis, de que são exemplo os solares e outras habitações senhoriais da nobreza e
burguesia regionais, de localização numa exploração agrícola, rural ou mesmo urbana. Isto
não impede a utilização paralela de pequenas pensões, estalagens, hotéis e de parques de
campismo rurais, quase sempre próximos de superfícies aquáticas (rios e ribeiras, lagos e
barragens), igualmente significativos para as economias agrícolas pelas oportunidades de
84
emprego, embora irregulares e acentuadamente sazonais, e de mercado para as suas
produções, alimentares ou de artesanato, e para a região.
No desenvolvimento do Turismo de Habitação intervieram as facilidades de crédito do
Fundo de Turismo. A resposta partiu essencialmente do Noroeste, em especial do vale do
Lima e mais concretamente do concelho de Ponte de Lima (Figura 35): área de paisagem
variada e muito humanizada, verdejante e fresca durante todo o ano, de povoamento denso
e disperso, de folclore e gastronomia típica e forte concentração de solares. Estendeu-se
depois ao sopé da Serra da Estrela, à Estremadura e Ribatejo e ao Alentejo, à medida que
se cultivava o interesse pelo Portugal desconhecido ("Vá para fora cá dentro"), suas
paisagens, não degradadas, nem poluídas, estilos de arquitectura popular e erudita,
castelos, igrejas, monumentos e museus, e mais recentemente pelas zonas de caça
turística. Ao mesmo tempo que se banalizavam as praias saturadas e apinhadas e
elevavam os custos da sua hotelaria e restauração, muito superiores aos do campo,
montanha e todo o interior do país, para iguais níveis de qualidade e para clientes não
viajando em grupos numerosos.
O Turismo em Espaço Rural engloba unidades de Turismo de Habitação, de Turismo Rural,
de Agroturismo, casas de campo e parques de campismo.
O Turismo de Habitação, consiste num programa de desenvolvimento e criação de infra-
estruturas hoteleiras aproveitando as casas particulares que servem simultaneamente de
residência aos donos e de alojamento turístico com caracter familiar contribuindo para o
aumento do número de camas.
85
Figura 35 – Turismo de Habitação, em 31/07/99. Fonte: DGT.
O Turismo Rural é caracterizado pelo aproveitamento de casas rústicas com características
próprias do meio rural em que se inserem, situando-se em aglomerados populacionais ou
não longe deles. Relativamente à oferta, tal como para o turismo de habitação, o turismo
rural predomina na região Norte (Figura 36).
Figura 36 – Turismo Rural, em 31/07/99. Fonte: DGT.
86
O Agroturismo consiste em casas particulares com o mesmo uso das anteriores, mas
integradas em aglomerados populacionais rurais ou mesmo em explorações agrícolas,
caracterizando-se pela participação dos turistas em trabalhos da própria exploração ou em
formas de animação complementar, tende especial relevância no Norte e no Alentejo
(Figura 37).
Figura 37 – Agroturismo, em 31/07/99. Fonte: DGT.
Muitas unidades de Turismo de Habitação podem também ser consideradas de
Agroturismo, já que se localizam em explorações agrícolas e contam com alojamento
resultante da remodelação dos seus anexos, desactivados com as transformações
tecnológicas e a externalização de certas funções, muito embora a participação nos
trabalhos agrícolas como actividade de animação raramente seja incluída explicitamente no
produto turístico oferecido.
Outras deverão ser classificadas como Turismo Rural por a actividade ser exercida em
casas com características rurais (arquitectura típica regional) e inseridas em aldeias ou perto
delas, enquanto o turismo de habitação tende a limitar-se ao "aproveitamento de casas
antigas, solares, casas apalaçadas ou residências de reconhecido valor arquitectónico, com
dimensões adequadas, mobiliário e decoração de qualidade" (Decreto-Lei n.º 256/86 e
Decreto Regulamentar n.º 5/87).
87
A natureza familiar do acolhimento e o caracter rural da localização são comuns às três
modalidades, logo também o serviço personalizado e o contacto com o campo. Por sua
vez, no caso de serviço de refeições, deve ser sempre seguida a cozinha tradicional
portuguesa e utilizados produtos da região e da própria exploração agrícola, com destaque
para os vinhos e queijos.
No que respeita às Casas de Campo, estas predominam na Região Centro, embora seja
no Alentejo que atinjam maiores dimensões, uma vez que cada casa tem um maior número
de quartos (Figura 38).
Outras formas de turismo integradas na paisagem rural e complementando as anteriores,
são o Turismo Cinegético e o Turismo de Ambiente. Qualquer delas tem em comum a
indiferença à tradicional forte atracção pelo litoral - Sol, Mar e Areia - que fez disparar a
actividade turística em Portugal, a partir dos anos 60.
Figura 38 – Casas de Campo, em 31/07/99. Fonte: DGT.
Entre todas, é o Turismo de Habitação, na modalidade rural, que tem conhecido maior
sucesso devido, por um lado, ao grande número de casas patrimoniais disponíveis para
este tipo de rentabilização e, por outro lado, à maior capacidade de diversificação de
objectivos de exploração turística e até de complementaridade com as outras formas de
turismo como o Cinegético e o Ambiental. Em 1999 existiam 606 unidades classificadas em
TER, com 5776 camas, sendo de destacar a região Norte (Figura 39).88
Figura 39 – Total TER, em 31/07/99. Fonte: DGT.
O Turismo Cinegético, adquiriu grande importância a partir da aprovação da Lei da Caça
(1987). Em 1992 estavam demarcadas 394 zonas de Caça Turística que ocupavam 561
816 ha. A Área Turística onde o Turismo Cinegético tem maior impacto é nas Planícies
(Alentejo), onde a abertura de espaço e o controverso sucesso agrícola, entre outros, tem
encorajado esta actividade.
O Turismo de Ambiente, centrado nas áreas protegidas, tem estado circunscrito a grupos
interessados em questões ambientais, em áreas naturais ou na descoberta dos valores da
montanha, das áreas húmidas ou das florestas. Tem também um papel fundamental na
educação de grupos escolares. De qualquer modo, e embora seja reduzida a capacidade
de alojamento, a oferta em percursos e actividades tem vindo a ser convincente.
89
Figura 40 – Índices de Ocupação-Cama, em 1999 (%). Fonte: DGT.
Figura 41 – parques de campismo, em 31/07/99. Fonte: DGT.
90
Figura 42 – Capacidade dos parques de campismo, em 31/07/99. Fonte: DGT.
Relativamente aos índices de ocupação é notória a sazonalidade, com especial relevância
para os meses de Julho a Setembro, embora se salientem também, em menor grau as
épocas das férias escolares: Dezembro e Abril (Figura 40).
Os parques de campismo, embora mais numerosos na região Centro, é em Lisboa e Vale
do Tejo que têm maior área, maior capacidade e mais pessoal ao serviço, sendo utilizados
maioritariamente por portugueses. Os franceses destacam-se entre os campistas
estrangeiros, ocupando os alemães, espanhóis e holandeses os lugares imediatos (Figuras
41 a 44).
91
Figura 43 – Dormidas em parques de campismo de clientes
estrangeiros, valores provisórios para 2000. Fonte: DGT.
Figura 44 – Dormidas em parques de
campismo, valores provisórios para 2000.
Fonte: DGT.
Paralelamente a estas novas formas de turismo, outras mais tradicionais têm vindo a ser
rentabilizadas, respondendo ao projecto de diversificação turística em Portugal. Está neste
caso o Termalismo, como foi visto atrás, cuja perda de importância e mesmo decadência foi
notória a partir dos anos 60 e até há bem pouco tempo. Actualmente, existem 32 estâncias
termais, 26 das quais a norte do Tejo, com uma capacidade de alojamento de 4426 quartos.92
A renovação do interesse pelas termas, além de ser uma
opção do foro da saúde, está indubitavelmente ligada ao
sucesso do TER. Em 1990 registaram-se mais de 95.000
inscrições nas estâncias termais portuguesas.
Figura 45 – Aldeias Preservadas. Fonte:
http://www.dgturismo.pt/irt/irt.htm
O Turismo Histórico-Cultural é um recurso a não desprezar, pelos inúmeros testemunhos
históricos que ponteiam o país de Norte a Sul, num enquadramento paisagístico também
ele «histórico», no contexto do mundo desenvolvido. Deste ponto de vista, Portugal
beneficia declaradamente de uma situação de charneira entre os territórios profundamente
transformados do Norte da Europa e os quase desconhecidos do Sul, facto que tem
permitido conservar testemu-nhos de arquitectura erudita ou popular, usos e costumes, bem
93
como ordenamento de espaços car-regados de significado. Pode-se afirmar que ele
explica, com o Turismo de Habitação, o sucesso turístico da Região Norte, do Interior e do
Alentejo, nos últimos anos.
Existem em Portugal alguns pequenos núcleos urbanísticos onde a riqueza do património
arquitectónico, a unidade do tecido habitacional, a beleza paisagística e a presença do
passado os faz emergir com testemunhos de uma identidade e de uma cultura.
Os traços indeléveis da nossa riqueza histórica e cultural presentes nestes locais tornaram
imperiosa a necessidade de os preservar (Figura 44). Com este objectivo foram escolhidas
dez localidades no interior das Beiras que são objecto de destaque.
6 – Turismo religioso: o caso de Fátima
Fátima é o caso típico do turismo religioso em Portugal, a onde pessoas chegam todos os
dias em peregrinação quer por mera curiosidade e lazer. Ao longo de aproximadamente 70
anos de existência do santuário, o aspecto geral em redor modificara-se radicalmente, o
plano de urbanização de 40 não comportava mais o surto desenvolvimentista da povoação,
que os 3 milhões de visitantes anuais, entre nacionais e estrangeiros, foram gerando no
comércio e na hotelaria. Sendo o local de peregrinação de maior atracção do nosso tempo,
deve atingir em poucos anos o limiar urbano.
7 – Residências secundárias
Em Portugal, no século XIX, verificava-se a existência de quintas de recreio, tal como nos
testemunhou RAMALHO ORTIGÃO em 1875: "Dantes o costume em Portugal, nos meses
de Verão, era tomar ares. Os citadinos com casa no campo, chegado o mês de Maio
emigravam para a quinta". Nestas quintas, onde os seus proprietários, gente endinheirada,
residentes habituais em Lisboa ou no Porto, passavam alguns meses do ano. Sintra na
periferia de Lisboa e a Foz na periferia do Porto são talvez os melhores exemplos de áreas
de lazer da aristocracia e burguesia da época. A residência secundária apareceu como
meio de climatismo, ou seja, como meio de fuga ao calor intenso da grande cidade para a
sombra e frescura de áreas arborizadas a curta distância, pois os meios de transporte não
permitiam fazer grandes distâncias. Porém, a divulgação que nesta época se começa a
fazer a propósito dos banhos de mar e das termas, começam a aparecer outros hábitos e
outros locais de veraneio, à medida que o interesse pelas praias se acentua, o litoral passa
94
a ser procurado com mais intensidade. O desenvolvimento do caminho de ferro e a
melhoria da rede de caminhos e estradas, facilitando o acesso a novos espaços, leva a
população urbana a locais cada vez mais afastados e desconhecidos.
Paralelamente, em outras áreas do país o número de residentes com propensão para o
ócio vai aumentando progressivamente, embora de uma forma lenta e sempre ligada às
classes abastadas. O desenvolvimento dos transportes, as condições climáticas favoráveis
e a proximidade de Lisboa são alguns dos factores que concorrem para que a Costa do
Estoril comece a assumir algum significado na construção de residências de veraneio.
Em Portugal, o fenómeno da aparição e desenvolvimento das residências secundárias,
apresenta-se retardado em relação à Europa, circunscrito durante largas dezenas de anos
a algumas áreas e grupos sociais, só muito recentemente, a partir da década de 80, o seu
crescimento e difusão se aceleraram. Tal circunstância poderá explicar a quase ausência de
estudos neste domínio, pois só F.D. CRAVIDÃO (1989-a), é que se debruçou sobre este
assunto.
Com a explosão do turismo de sol e praia, vai ser no litoral, junto das estâncias balneares
que vão aparecer as primeiras residências secundárias, em quantidade digna de interesse,
contudo, actualmente está-se a assistir a uma dispersão espacial, havendo habitações em
aldeias históricas raianas e em aldeias quase abandonadas da Serra da Lousã ou da Serra
Algarvia que estão a ser restauradas afim de serem utilizadas como residências
secundárias.
As causas do desenvolvimento da residência secundária estão mais ou menos
directamente relacionadas com o próprio fenómeno turístico - maior mobilidade, diminuição
do tempo de trabalho donde decorre uma maior disponibilidade para o lazer,
institucionalização das férias pagas, urbanização progressiva da população, escassez dos
espaços verdes urbanos e exiguidade dos alojamentos, aumento do nível de vida,
importância crescente dos mass-media e o poder de intervenção que a publicidade vem
adquirindo tenderão a "controlar" de uma forma progressiva o espaço e o lazer dos
cidadãos. A publicidade introduz não só conceitos de lazer, como diversifica as
possibilidades de utilização do espaço turístico.
8 – Outros recursos turísticos
95
8.1 – Colónias de férias e pousadas de juventude
Outros recursos turístico relevantes, pelo menos no que se refere à capacidade de
alojamento de segmentos específicos da clientela turística, são as colónias de férias e as
pousadas da juventude.
A partir da análise das figuras seguintes podemos concluir o seguinte:
É em Lisboa e Vale do Tejo que se localiza a maioria dos estabelecimentos, e é
nesta área que mais pessoal está empregado neste segmento;
A clientela é na sua maioria de origem portuguesa;
Os espanhóis são os clientes estrangeiros de maior significado.
Figura 46 – Capacidade de alojamento nas colónias de férias e pousadas de juventude, em
31/07/99. Fonte: INE.
96
Figura 47 – Dormidas nas colonias de férias e pousadas de juventude por países de
residência – de jan a jul 2000. Fonte: INE/DGT/DRIE
8.2 – Marinas
A imensidão do mar, sinónimo de aventura e de regresso
simbólico à matriz inicial, marcou decisivamente Portugal e
a sua história.
97
Figura 48 – Localização das marinas.
Fonte:
http://www.dgturismo.pt/irt/irt.htm
Hoje, em que o lazer se centra no usufruir da natureza em toda a sua plenitude, Portugal,
país de navegadores, dispõe de um conjunto de excelentes marinas que permitem acolher
o crescente número de pessoas para quem navegação é evasão e é também incessante
descoberta de si e do mundo.
8.3 – Património Mundial
98
Figura 49 – Localização do património
mundial. Fonte:
http://www.dgturismo.pt/irt/irt.htm
Adoptada pela Conferência Geral da UNESCO em 1972, a Conven-ção Respeitando a
Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural é um importante instrumen-to de
cooperação internacional que permite classificar bens culturais e naturais de "valor universal
excepci-onal". Em Portugal continental exis-tem nove Bens considerados patri-mónio da
humanidade em que é possível, como diz Carlos Antero Ferreira, uma "viagem de
eternidades redescobertas, de percursos inesgotáveis, de auroras e ocasos nas margens
dos rios da civilizações, de sol a pino mordendo as pedras erguidas desde sempre, ou há
muito caídas...", em que é possível "contemplar e reviver o passado, na consciência do
mistério essencial do homem e do universo...".
8.4 – Parque Arqueológico do Côa
99
Figura 50 – Gravura rupestre. Fonte:
http://www.dgturismo.pt/irt/irt.htm
O Vale do Côa constitui um local único no mundo por apresentar manifestações artísticas
de ar livre inseríveis em diversos momentos da Pré-História e da História, nomeadamente o
maior conjunto de figurações paleolíticas de ar livre até hoje conhecidas.
Aí se encontram registos de episódios de gravação que se
estima terem começado há talvez 24 ou 25 mil anos. E se a
arte rupestre ao ar livre é norma na Pré-História, ela é
extremamente rara no Paleolítico, o que confere a estes
conjuntos que se estendem pelo vale do Rio Côa e de
alguns dos seus afluentes, numa extensão de mais de 17
Km, um valor incalculável.
100
Figura 51 – Gravura rupestre. Fonte:
http://www.dgturismo.pt/irt/irt.htm
A maioria das inscrições foi feita em vertentes viradas ao
rio ou aos seus afluentes, sendo possível admitir ter havido
um comportamento delibera-da e conscientemente
focalizado nos cursos de água. Os temas das gravuras são
os habituais no Paleolítico ainda que na arte de Foz Côa
haja a assinalar uma importan-te particularidade do ponto
de vista estético e estilístico – a tentativa de transmitir a
ideia de movimento pela associação de duas ou três cabeças
ao corpo de um mesmo animal.
101
Figura 52 – Gravura rupestre. Fonte:
http://www.dgturismo.pt/irt/irt.htm
Embora seja provável que o prosseguimento da investigação venha a revelar outros ainda
desconhecidos, os conjuntos de gravuras e pinturas rupestres mais importantes até agora
identificados no Vale do Côa são os de Canada do Inferno, Ribeira de Piscos, Penascosa,
Quinta da Barca e Faia.
Em consequência do reconheci-mento do interesse patrimonial e cultural de todo este
conjunto de achados, foi decidido, em Novembro de 1995, criar na Região O Parque
Arqueológico do Vale do Côa, entretanto classificado como Património Mundial pela
UNESCO.
8.5 – Casinos
Falar de jogo é aflorar um mundo misterioso, que nos
remete para uma face oculta e desconhecida do homem.
102
Figura 53 – Localização dos Casinos.
Fonte: http://www.dgturismo.pt/irt/irt.htm
O poder de atracção da prática do jogo tem feito desta actividade, ao longo do tempo, um
forte potenciador do desenvolvimento turístico.
Desde 1927, data que marca em Portugal a regulamentação e a adjudicação das primeiras
concessões do jogo, que os casinos não se têm limitado a ser meras salas de jogo,
assumindo-se antes como verdadeiros complexos turísticos e pólos de importantes acções
de animação cultural e artística.
9 – Principais temas abordados no âmbito do Turismo
9.1 – Turismo e qualidade
Os problemas do turismo estival, fortemente concentrado nas praias e agregados
populacionais do litoral. Os valores ambientais, o património artístico e cultural bem como o
próprio equilíbrio das paisagens, sofreram uma forte agressão. Tudo isto levou à
diversificação da procura turística.
103
Assim, as preferências dos consumidores de turismo têm vindo a virar-se para umas «férias
activas» com interesses sociológicos e culturais. Daí que o repouso e o retemperar de
forças necessário após um ano de trabalho surjam, agora, não como a inactividade repetida
dia após dia de longas horas de «preguiça» num qualquer lugar areal à beira mar, mas
antes como uma moderada actividade de curiosidade por ver o que há de belo na natureza
e de conhecer e reflectir sobre a forma de viver de outros grupos da população, com todas
as genuínas facetas que integram a sua vida, desde a culinária ao artesanato, desde as
feiras aos grupos de acção cultural, das romarias aos trabalhos agrícolas, etc.
Mas esta moderna apetência pelo que se poderá chamar de regresso às origens e ao
contacto com a natureza necessita da existência de estruturas de acolhimento e apoio.
Para isso se tem defendido uma política de concretização de um turismo de qualidade, com
uma actuação determinada sobre o enquadramento da oferta, desde o rigor no
ordenamento e na preservação do ambiente e cultura, até à qualidade das praias e das
infra-estruturas, a modernização e diversificação da oferta de alojamento e de restauração,
bem como dos produtos turísticos, sobre o aumento e melhoria de empreendimentos de
animação e sobre a melhoria da gestão das unidades turísticas. Implicando ainda, a
correcção e requalificação das áreas e empreendimentos turísticos descaracterizados e em
declínio, bem como a recuperação do património histórico, público e privado, com fins de
alojamento e animação turística.
9.2 – Turismo e desenvolvimento regional
A crise económica dos primeiros anos da década de 70 colocou técnicos, políticos e a
opinião pública em geral perante a realidade da escassez dos recursos, das desigualdades
sociais, dos desequilíbrios territoriais na distribuição da riqueza e do perigo da dependência
externa face aos factores de produção e centros de decisão. Este novo quadro contribuiu
naturalmente para a formação de uma nova cultura política, marcada pela apologia do
descentralismo e participação das bases, pelo reforço da consciência ecológica e regional e
da preocupação social.
Surgindo assim, um modelo de desenvolvimento endógeno, estimulado pela necessidade
de resolver os problemas das regiões em crise face à falência dos esquemas de produção
e do regime de acumulação do período de crescimento do pós-guerra e ao descrédito nas
teses difusionistas do desenvolvimento.
104
Neste novo conceito, as relações entre o turismo e o desenvolvimento passariam a ser
encaradas de forma consideravelmente distinta. O sector deixaria de ser entendido e
utilizado apenas como instrumento de crescimento da economia nacional para passar a ser
visto como factor de desenvolvimento regional.
No plano teórico, o turismo parecia encerrar qualidades susceptíveis de gerar dinâmicas de
desenvolvimento endógeno, designadamente nas regiões de acolhimento. O turismo fazia
uso de recursos locais, em muitos casos sub-aproveitados, com fracas potencialidades de
utilização económica, ou renováveis, pelo que permitia uma exploração mais eficaz das
potencialidades da região. Paralelamente, constituía um factor de diversificação da estrutura
económica da região, multiplicando as oportunidades de emprego e aumentando,
consequentemente, o produto e o nível de vida das populações locais. O turismo poderia
ainda produzir importantes efeitos multiplicadores na economia regional, promovendo a
dinamização e modernização do tecido económico em que se inseria, com reflexos no
domínio cultural e garantindo os limiares mínimos necessários à criação de infra-estruturas
e equipamentos.
Mas o turismo de massa, sustentado largamente pela procura externa e gerido por
operadores turísticos internacionais, escapava ao controlo das autoridades locais,
diminuindo a capacidade dos agentes autóctones orientarem o seu próprio processo de
desenvolvimento e fomentando relações de dependência externa.
Além disso, a política do «desenvolver primeiro e cuidar do ambiente depois», conjugado
com o turismo de massa produziu fortes pressões em pontos sensíveis do território, com
graves prejuízos ambientais que comprometiam inclusivamente a própria continuidade da
actividade turística.
Ao turismo reconheciam-se ainda efeitos negativos no domínio da vida social e da cultura.
Nalguns casos, o turismo reforçava as diferenças étnico-sociais pela exclusão das infra-
estruturas e dos equipamentos de apoio à actividade turística.
Com vista a tornar o turismo um instrumento de efectivo desenvolvimento regional, segundo
P. A. FEIO et all (1991), no inicio dos anos 80 começou a desenhar-se um modelo turístico
«alternativo», «integrado» ou «sustentado». Propunha-se então, o desenvolvimento turístico
baseado na mobilização efectiva dos diferentes recursos locais (mão-de-obra, capital,
gestão, ambiente, etc.), sustentado por fortes articulações com os diversos domínios da vida
105
regional (da agricultura à construção civil, dos sectores dos transportes à formação, da
arquitectura ao artesanato, etc.) e em harmonia com os valores culturais e o ambiente das
regiões de acolhimento.
Actualmente, começam a despontar novas preocupações e orientações estratégicas no
campo do desenvolvimento regional, no que concerne ao turismo, falando-se já em
«turismo e biodiversidade» (animal, vegetal, etc.).
A produção cientifica produzida no âmbito do desenvolvimento regional, designadamente os
Programas Operacionais de base regional, no que concerne ao turismo, funcionam como
programas de apoio ao financiamento e à criação de infra-estruturas, fornecendo ainda
elementos relevantes para a compreensão do entendimento que vem sendo feito das
relações entre o turismo e desenvolvimento regional em Portugal, bem como no modo
como aquela actividade vem participando nas políticas regionais, em diferentes contextos
territoriais.
Nas décadas de 70 e 80, no denominado período da «galinha dos ovos de ouro» do
turismo português, com o enriquecimento fácil, causando sérias implicações no
ordenamento. Passando a ser necessário que sejam os municípios a indicar aos
investidores onde podem e devem construir e não os municípios correr atrás dos
investidores infra-estruturando «a posteriori» as áreas já construídas.
O interesse do investidor é rentabilizar ao máximo o seu investimento, enquanto que o
interesse da autarquia é uma preocupação de ordenamento, da não agressão da
paisagem. A iniciativa municipal é imprescindível, pois é o único organismo que tem
iniciativa e poder de coordenação e planeamento. O investimento turístico, em busca de
lucro fácil, e muitas vezes determinado por modas passageiras, não pode comprometer
irremediavelmente a própria qualidade turística (paisagística, patrimonial, climática) da área.
O Algarve passou a ser um «quebra-cabeças»: falta de locais de recreio alternativos à praia
e ao hotel, problemas de saneamento, água, congestionamento do trânsito, esgotos que
desaguam das praias, deterioração dos pavimentos rodoviários. O vazio de planeamento,
as pressões especulativas e os crimes em nome do turismo, tudo isto agrava a situação
precária do Algarve: "Salazar queria que o Algarve fosse algo de luxo, um local onde só
haveria hotéis e estâncias, e por isso no seu tempo chegou-se a dar indemnizações aos
106
industriais para encerrarem as suas empresas. Foram crimes praticados em nome do
turismo".(MARTINS GRACIAS, citado em J. M. FERNANDES, 1982).
9.3 – Turismo e ambiente
Se, por um lado a prática do turismo se prende com um ambiente de qualidade, por outro, a
actividade turística e, sobretudo, a falta de ordenamento e de uma gestão racional dos
espaços, leva frequentemente à degradação das condições ambientais, que pode atingir
níveis que inclusivamente venham a pôr em causa a permanência desta actividade. Há, no
entanto, a ter em atenção que por vezes são as próprias necessidades do turismo, em
termos ambientais, que levam a políticas de conservação da natureza e da qualidade do
ambiente, que mais não visam que a manutenção ou mesmo a criação das condições
propicias à prática de uma actividade de grande rendibilidade económica.
Existe uma bipolarização do fluxo turístico estrangeiro, sendo os mercados espanhol e
inglês os principais fornecedores de turistas, já que representam mais de 50% dos que
visitam o país; em parte devido às suas condições climáticas a procura em Portugal,
caracteriza-se por uma grande sazonalidade e por uma forte assimetria espacial. Estas
circunstâncias provocam, quer grandes oscilações nas taxas de ocupação, quer
relativamente ao investimento que procura áreas onde os fluxos têm maior pressão.
Quanto aos fluxos nacionais, a primeira questão a reter passa pelo facto de em 1990,
apenas 28% da população portuguesa ter gozado férias fora da sua residência habitual.
Além disso, o litoral, ligado ao turismo balnear, é a região com maior capacidade atractiva o
que pode aumentar as repercussões negativas em relação ao impacto ambiental do
fenómeno turístico.
Em termos de difusão espacial, o padrão que caracteriza a distribuição da actividade
turística no país obriga a que se desenvolvam as políticas de planeamento e ordenamento
do território, quer porque a distribuição deste fenómeno é particularmente assimétrica, quer
porque pode vir a acentuar as disparidades que tradicionalmente tem caracterizado o
desenvolvimento do país.
Podem ser várias as razões da atractividade duma região para o turismo, mas todas elas
estão ligadas ao ambiente. A paisagem natural ou humanizada, os monumentos históricos,
a cultura, o clima ameno, a ausência de poluição, a gastronomia, a caça, são alguns dos
107
motivos que atraem os visitantes. Actualmente continua a ser a praia a atrair o turismo de
massa.
O impacto do turismo repercute-se:
na poluição do ar devido ao aumento do tráfego automóvel e ao consumo de
energia;
na poluição da água dos mares, rios, lagos, etc. através da descarga de esgotos
não tratados;
na difusão do lixo nas praias, matas, centros urbanos;
na poluição sonora provocada por motorizadas e automóveis, publicidade,
divertimentos ruidosos, etc.;
na destruição da paisagem natural;
na destruição da flora e da fauna;
na degradação da paisagem de sítios históricos, monumentos e zonas de valor
cientifico;
no efeito de congestão das praias, albufeiras, zonas de montanha e pela congestão
das vias e dos locais de estacionamento.
Mas há outros impactos do turismo, que não dizendo respeito directamente ao meio natural,
não devem ser esquecidos:
o conflito com a população residente não só pelo efeito de congestão, mas pelas
consequências que acarreta no abastecimento público e nas falhas dos serviços
urbanos incapazes de responderem às pressões na época alta, nos aumentos dos
preços dos bens e serviços;
a competição com outras actividades económicas incapazes de competirem com o
turismo, nomeadamente ao nível do preço do solo, dos fluxos de capital e de emprego;
a dificuldade de gestão pelas autarquias dos serviços urbanos e das infra-estruturas
em geral que têm de ser dimensionadas para uma época alta em que a população
presente mais que triplica e, ainda por cima tem hábitos de consumo muito superiores
aos da população residente.
108
O turismo de massas tem um impacto ambiental extremamente nefasto tendendo a destruir
a sua própria motivação, isto é, a qualidade do ambiente que o elegeu como lugar
privilegiado de atracção turística.
Para isso procurou-se salvar o próprio turismo nessas áreas, sendo necessário repensar, a
gestão do território, o controlo dos investimentos a privilegiar no sector, destrinçando dos
investimentos turísticos aqueles que se enquadram nesta actividade económica, daqueles
que apenas pretendem usufruir duma renda fundiária especulativa com efeitos
extremamente nefastos em toda a actividade económica da região.
Um caso particular: o turismo no Algarve
O Turismo no Algarve, desde a sua origem, esteve sempre ligado à vida
balnear (caso particular das Caldas de Monchique). Com efeito, desde o fim do
século XIX, o hábito de passar o verão generaliza-se em todo o litoral
português, tocando não somente as elites urbanas mas também as classes
rurais. Ao mesmo tempo, a pesca e a indústria da conserva de peixe
desenvolvem-se e novos lugares de pescadores criam-se perto das barracas
onde era guardado o material da pesca do atum e da sardinha. As classes mais
modestas alojavam-se a bom preço partilhando temporariamente a casa dos
pescadores. Estes sítios abrigados foram assim escolhidos pelas pessoas mais
ricas que criaram pequenos bairros nas vilas ocupados em Agosto e Setembro.
Vários aglomerados com funções mistas (pesca e recreio) começou
precocemente a polvilhar o litoral meridional português.
No entanto, no Algarve este processo foi de certa forma tardio, pois a sua
pobreza em nascentes termais e o seu afastamento das áreas mais
densamente povoadas e urbanizadas do país. Só as Caldas de Monchique
dispunham de infra-estruturas mínimas, balneares e de alojamento, mas a sua
atracção manteve-se sempre modesta e regional (Algarve, Baixo Alentejo e
alguns espanhóis). O climatismo limitou-se aos arredores de S. Brás de
Alportel, que ganhou prestigio na cura da tuberculose, durante o Inverno, e
como lugar de repouso durante o Verão, sendo instalado um sanatório, uma
pousada, algumas pensões e residências secundárias. Havendo duas
excepções: a Praia da Rocha e Monte Gordo que gozavam de um prestigio
109
particular com uma clientela de nível superior, em parte internacional, que se
instalavam em residências luxuosas. Mas até 1960, a situação marginal do
Algarve, na extremidade de uma Finisterra europeia, separado da região de
Lisboa por vastas regiões pouco povoadas do Alentejo e pela Serra Algarvia e
vizinho duma das províncias espanholas menos desenvolvidas, afastou as
avalanches de turistas estrangeiros e mesmo nacionais que saturavam já
outras praias tradicionais, em particular as da Costa do Sol, perto de Lisboa. O
V Centenário da morte do Infante D. Henrique, na ocasião em que um grande
hotel foi construído em Monte Gordo, constitui o primeiro passo para a
integração do litoral do Algarve na rede de turismo internacional.
O défice habitual da balança comercial fez com que o governo procurasse, na
promoção turística do país, a importante entrada de divisas capaz de a
reequilibrar. O Algarve, que gozava já de uma certa reputação turística e de
uma densa rede urbana litoral, foi declarada zona de desenvolvimento turístico
prioritário. A beleza das paisagens e das costas, as praias de aspecto variado,
banhadas pelas águas atlânticas com influências de um clima mediterrânico ao
longo do verão seco sem ser tórrido, garantiam a rentabilidade dos
indispensáveis investimentos de infra-estruturas. A partir de 1960 uma
propaganda expontânea e as vantagens do câmbio e do custo de vida,
desviaram para Portugal e em particular para o Algarve, os fluxos crescentes
de turistas estrangeiros, nomeadamente vindos do Reino Unido, da França, da
Alemanha e dos Estados. Dos resultados salientam-se: a expansão da
capacidade receptiva, oferecida por pensões mas sobretudo por pousadas,
estalagens e hotéis de grande nível; a disseminação, pelo litoral ainda não
urbanizado, de algumas destas unidades; a dispersão, por vezes densa, de
numerosas residências secundárias; a criação, em bloco de aldeamentos
turísticos, etc.
Um descolamento tão brusco arrasta importantes consequências geográficas,
com numerosos problemas. Pois nos anos 1970/80, o Algarve, foi o terreno
ideal para fazer grandes e rápidas fortunas, aliadas a uma enorme especulação
do preço do solo, gerando-se um vazio no planeamento, que deveria ser
encetado pelas Autarquias, mas como o crescimento foi enorme chegou-se ao
110
ponto de o ordenamento não existir, e então face a este caos, a acção das
Câmaras Municipais vai ser fulcral para tratar de problemas ambientais e de
ordenamento do território.
Prioridades estratégicas regionais na área do turismo
Assim, a estrutura sócio-económica do Algarve é claramente dominada pelas
actividades turísticas, tanto em termos dos reflexos directos no mercado de
trabalho e nas actividades produtivas como no que respeita às prioridades e
orientações que induzem de forma indirecta sobre outras actividades
económicas e sociais.
Esta relevância central do turismo encontra também correspondência na
actuação das instituições algarvias – que naturalmente se mobilizam e
dinamizam para lhe assegurar apoio e para o promover. O desenvolvimento do
sector turístico na região decorreu quer de excepcionais condições naturais,
quer da crescente valorização social das actividades de lazer associadas ao
produto "sol e mar".
Estas duas principais condicionantes, adequadamente articuladas com
facilidades acrescidas na acessibilidade da região e com fluxos importantes de
pes-soas (com origem nacional e internacional) que escolhem esse destino,
contribuí-ram decisivamente para uma especialização do Algarve no sector do
turismo.
Embora esta especialização comporte riscos – sobretudo associados a
flutuações conjunturais dos mercados de destino concorrentes e a
diversificações potenciais nas tipologias da procura turística –, a especialização
socio-económica prevalecente no Algarve apresenta ainda um potencial de
desenvolvimento muito relevante.
Importará, nestas circunstâncias, mais do que procurar explorar orientações
estratégicas alternativas para o desenvolvimento da região, aprofundar as
perspectivas e explicitar as prioridades dirigidas à consolidação do modelo
actual, em condições que propiciem a superação dos riscos e das ameaças
existentes.
111
Verifica-se que, na situação actual, o mercado turístico algarvio se caracteri-za
por uma grande – certamente excessiva – concentração temática (no sentido
de se encontrar quase exclusivamente vocacionado para a exploração do
produto "sole mar", a que recentemente se veio associar o "golfe") e
concentração espacial (correspondente a um segmento de uma estreita faixa
do território da região).
Constata-se, por outro lado, que a tipologia dos mercados de origem para os
produtos turísticos oferecidos é muito reduzida, sendo aliás concretizada por
negociações e decisões de grandes operadores internacionais que controlam a
geografia turística e induzem os gostos do mercado, especializados em fluxos
de massas, com variações sazonais de grande amplitude.
Observa-se, finalmente, que a produtividade deste sector é baixa, que a
duração média das estadias é reduzida e que os gastos médios dos visitantes
na região são muito limitados.
Este diagnóstico sintético propicia a identificação dos principais objectivos a
prosseguir pelo Algarve no sector turístico: diversificação temática e de
mercados de origem, integração territorial e aumento da produtividade.
Os resultados a atingir em termos de diversificação temática do turismo
associam-se directamente com a promoção de produtos e serviços alternativos
e complementares aos actualmente prevalecentes, seja por iniciativa pública,
viabilizada por empreendedores privados ou concretizada em parceria.
Considera-se que a prossecução deste objectivo deve sobretudo contemplar as
seguintes orientações estratégicas:
Assegurar que o aproveitamento turístico do "mar" se não restrinja ao
desenvolvimento do litoral e da "praia" para, valorizando o cluster turismo-
lazer, lhe associarem novas valências e produtos de vocação marítima
(tanto oceânica como ribeirinha), de natureza recreativa e desportiva e,
globalmente, nos domínios ambientais;
Promover a exploração de segmentos e produtos turísticos emergentes,
de que são exemplos mais significativos os relacionados com a natureza
112
(evidenciados pelo potencial do Parque Natural da Ria Formosa e do Sapal
de Castro Marim) e a paisagem (onde merecem destaque o Parque Natural
da Costa Vicentina e a Serra de Monchique);
Aprofundar valências turísticas especializadas, como os "negócios e
congressos" e a "cultura e património";
Explorar oportunidades directamente associadas às condições naturais
e climatéricas do Algarve, cujas ocorrências mais significativas respeitam
ao desporto profissional e à saúde (tanto associada à água – talassoterapia
e termas – como explorando fluxos já muito relevantes – que se podem
concretizar em especializações geriátricas).
A disponibilização de um leque diversificado de produtos e serviços turísticos
contribuirá seguramente para criar condições adequadas a diversificar também
os mercados de origem e, até, as tipologias prevalecentes dos turistas; dever-
se-á ter em conta, no entanto, que a concretização deste potencial não
ocorrerá naturalmente, implicando por um lado a prossecução de estratégias,
iniciativas e acções de promoção adequadas e salvaguardando, por outro lado,
a necessária rentabilidade das explorações turísticas e a análise das tipologias
de ofertas mais adequadas às dinâmicas da procura.
As orientações expostas contribuirão, por outro lado, para apoiar a
diversificação territorial do turismo, seja no sentido de alargar a ocupação do
litoral, seja deste em relação ao interior.
O correspondente objectivo de promover a integração territorial do Algarve –
que naturalmente se traduz no aumento da equidade das oportunidades que
viabiliza – deverá ser, no entanto, activamente prosseguido.
Os instrumentos melhor posicionados para concretizar a referida integração
territorial respeitam:
Por um lado, às iniciativas que promovam de forma integrada a
exploração de recursos e de produtos que articulem o litoral com o interior,
designadamente aproveitando os cursos de água com maiores
potencialidades – como acontece com o aproveitamento dos Rios Arade e
Guadiana – ou desenvolvendo acções específicas em zonas de particular 113
valia – como é o caso da integração económica da Costa Vicentina e das
aldeias tradicionais da serra;
Por outro, a construção ou a reabilitação das vias de comunicação quer
de sentido vertical (superando a barreira física que a Via do Infante ou,
mesmo, a ER 125 representam), quer de sentido horizontal (onde se
destaca uma paralela interior às mencionadas, que poderá ser explorada
com a "via cénica" do Algarve);
Finalmente, os investimentos e as acções no âmbito da reabilitação e
reconversão urbana e do urbanismo comercial – designadamente
associados aos centros históricos mais significativos.
Deverá ainda assinalar-se, neste contexto, o potencial que a articulação com a
Andaluzia constitui, designadamente em termos de fluxos nos dois sentidos,
cuja concretização implicará o desenvolvimento de equipamentos e serviços de
lazer, desporto, transporte e comunicação no Guadiana – especialmente
importantes para os municípios do interior algarvio.
O aumento dos gastos médios dos visitantes da região – objectivo que se
repercute directamente na produtividade das explorações, do sector turístico e
da economia do Algarve – encontra-se por um lado directamente articulado
com as orientações apresentadas sobre diversificação temática e integração
territorial.
Deveremos no entanto salientar que a respectiva prossecução se encontra
também dependente de dinâmicas e iniciativas específicas, onde se destacam:
O aumento de capacidade negocial dos empresários turísticos, tanto em
termos de influenciar a origem e a tipologia dos fluxos com destino ao
Algarve, como no que respeita ao aumento da sua capacidade para
concretizar melhores condições comerciais;
A valorização e aumento da atractividade dos equipamentos e serviços
de natureza comercial oferecidos na região, nos quais se incluem
designadamente quer os associados à exploração dos recursos marítimos
com actividades de recreio, lazer ou desporto, quer parques temáticos ou
similares (que, embora de iniciativa e gestão privadas, poderão ser
114
apoiados por instituições públicas, tanto em acções de promoção como por
outras vias);
A melhoria da qualidade dos serviços turísticos oferecidos de natureza
eminentemente privada – como a restauração –, na qual as instituições
públicas podem concretizar apoios significativos, seja de forma directa (em
especial através da formação e qualificação profissional), seja
indirectamente (aumentando o profissionalismo do exercício das
respectivas competências reguladoras);
A realização de manifestações temáticas especializadas com ocorrência
regular, sobretudo articuladas com o consumo e a venda de produtos
regionais – tanto ligados ao mar (o peixe e os mariscos) como às produções
agrícolas (os citrinos e os frutos secos ou os enchidos), melhorando,
profissionalizando e diversificando as que já têm lugar;
A exploração de recursos ambientais, naturais ou patrimoniais através
da adopção de formas de gestão empresarial – nos quais relevam os
associados à natureza e à paisagem, aqueles que correspondem ao
património cultural, histórico ou arquitectónico e, ainda, os que utilizam
valores simbólicos ou que valorizam o imaginário colectivo (onde deverão
ser destacados os articulados com a exploração do mar, seja concretizando
equipamentos físicos, seja utilizando as tecnologias adequadas para
assegurar eventos virtuais).
A prossecução deste objectivo será também apoiada pelas acções de
requalificação urbana e de urbanismo comercial. Este objectivo específico de
desenvolvimento visa assumir com determinação a especialização no
complexo de actividades do turismo/lazer como o pólo dinamizador e
catalisador do crescimento económico da região. Esta opção implica um
aprofundamento das relações, a montante e a jusante, das actividades
turísticas e de lazer, com todas as outras actividades económicas, em
particular: o agro-alimentar, as indústrias de construção e equipamento
doméstico, as actividades comerciais, os serviços de logística e manutenção, o
artesanato, as actividades culturais e de animação e ocupação de tempos
livres, e os equipamentos e serviços na esfera da saúde.
115
Deve-se, então assumir uma especialização nas actividades de turismo/lazer.
O complexo de actividades do turismo e do lazer pretende aproveitar os
potenciais de capacidade da procura formada pelo volume de turistas do Norte
da Europa, pelo crescente fluxo de visitantes portugueses e espanhóis (em
mercado interno alargado) e, ainda, pelo mercado residente, num quadro de
diversificação sectorialmente especializada.
Para tal, deve-se reforçar o complexo de actividades de turismo/lazer,
nomeadamente no que respeita à:
Qualidade do serviço;
Reclassificação do alojamento hoteleiro;
Concertação dos operadores do sector;
Desenvolvimento do produto e promoção.
A par da qualificação do principal produto regional, turismo balnear associado
ao binómio sol e mar, tem-se deve-se reforçar a atracção de segmentos da
procura turística, como o desportivo, o urbano-cultural, os pequenos períodos
de férias (‘short-breaks’), a terceira idade, os congressos e incentivos e a
natureza e espaço rural.
A diversificação e adensamento das relações intersectoriais no seio do
complexo de actividades do turismo e do lazer, como dimensão crucial para
aumentar a base de criação de emprego e de valor acrescentado, deve suscitar
dinâmicas de actividade directas, indirectas ou induzidas num leque alargado
de produções com expressão no Algarve.
O conjunto de produções alimentares com origem na pesca e na agricultura
permite estabelecer uma relação de mercado mais profunda com a procura
originada pela restauração.
O desenvolvimento da oferta imobiliária para lazer e, sobretudo, o lançamento
de projectos de recuperação de edifícios, de reabilitação urbana, de
manutenção e reparação de alojamento hoteleiro, criam oportunidades
económicas para a (re)organização da fileira de actividades da construção.
116
A área da cultura, em articulação com a reabilitação, conservação e divulgação
do património histórico, pode constituir um factor de desenvolvimento da
actividade turística. A construção deste objectivo pressupõe o apoio ao valor
patrimonial e à importância histórico-cultural de lugares e centros urbanos,
designa-damente das zonas históricas das cidades e a preservação das
aldeias rurais.
A renovação das economias urbanas deve ter nas actividades comerciais um
vector importante aproveitando, nomeadamente, as dinâmicas de diferentes
segmentos da procura interna e externa com capacidade aquisitiva e os
investimentos de modernização, na sequência das intervenções de urbanismo
comercial em curso em várias cidades do Algarve.
Conclusão
O turismo é hoje um dos sectores de actividade de maior crescimento e tornou-
se uma componente importante da estrutura económica da maioria dos países
da OCDE, da qual Portugal é país membro. O facto das receitas do turismo se
terem transformado numa das maiores fontes de divisas, levou o Governo a
encarara-lo segundo uma nova perspectiva, lançando campanhas de promoção
e múltiplas medidas de incentivos ao investimento por forma a aumentar a
capacidade de acolhimento.
Longe vai o tempo das termas e estâncias balneares onde famílias mais ou
menos abastadas se deslocavam, de armas e bagagens, durante os meses de
verão. A partir dos anos 50 esta situação alterou-se radicalmente. O
desenvolvimento económico acelerado dos países do Norte da Europa, o
direito a férias pagas, para todos os trabalhadores, o abaixamento do custo das
viagens, a generalização da ideia das vantagens da diversificação do recreio
para a saúde do indivíduo, aumentou de forma explosiva a procura turística.
Não sair, não fazer férias, enfim, não fazer turismo é hoje sinónimo de
arcaísmo e desajuste perante os padrões de comportamento típico das
sociedades modernas.
117
Assim, concluiu-se que o caminho da afirmação do turismo como uma das
actividades económicas mais lucrativas foi longo e cheio de percalços, sendo
somente, nos últimos 30 anos, que deu o grande salto, relacionado com esse
fenómeno está a profusa produção cientifica no âmbito do turismo, que
acompanha de perto, quantitativamente e qualitativamente aquele crescimento.
Pois as obras editadas estão directamente relacionadas com os indicadores do
fenómeno turístico, e sofrem as suas influencias acompanhando as suas
modas, problemas e preocupações.
No quadro da economia portuguesa, o turismo reveste-se de grande
importância haja em vista, nomeadamente, os seguintes indicadores: produto
gerado (8% do PIB); volume de emprego do sector (trabalho-intensivo),
estimado entre 5 e 6% da população activa, considerando somente os ramos
directos; receitas cambiais provenientes das actividades turísticas e impacte da
balança de turismo na balança de serviços.
Por outro lado, o turismo é actualmente a principal actividade económica a
nível mundial, referindo a Organização Mundial de Turismo que as receitas do
turismo mundial poderão atingir os 2 biliões (1012) de dólares do EUA no ano
2020.
A conjunção destes factos explica o acompanhamento que o sector vem
merecendo no plano governamental.
Em Portugal, o alojamento, a restauração e a actividade das agências de
viagens são os responsáveis de cerca de 2/3 do VAB da actividade turística.
No conjunto daqueles ramos, predominam as pequenas empresas (número de
trabalhadores inferior a 20), que representavam 98% das empresas em
actividade e constituídas até 1995 e, nesse ano, absorveram 61,4% da
facturação total. Todavia, considerando somente a hotelaria, as pequenas
empresas facturaram nesse ano 21.8% do total.
A actividade turística em Portugal, apesar de constituir um fenómeno
relativamente recente enquanto actividade económica organizada apresenta
uma já considerável diversificação e segmentação, ainda que continue a
assentar fortemente no chamado turismo balnear litoral ou turismo de sol e
118
mar. Este é, de facto, o sector mais massificado, aquele que mais nacionais faz
deslocar dentro do país e que maior número de estrangeiros atrai, sendo,
portanto, o sector de mercado turístico de maior significado económico e de
maior relevância geográfica, quer pela importância de que se reveste na
mobilidade da população, quer pelo papel que desempenha na transformação
dos espaços e da paisagem, quer, ainda, pelos impactes ambientais e sociais
que gera.
Para além do turismo de sol e praia, outros sectores relativamente importantes
parecem ser o termalismo, outrora de grande importância económica e
geográfica e que hoje parece estar a ressurgir, ainda que com motivações e
características diferentes das que assumiu no passado e o turismo religioso,
nomeadamente para Fátima, que parece continuar a crescer em volume e
significado.
Além destas, outras formas de turismo, como o turismo em espaço rural, o
turismo cultural ou o turismo de eventos que, sobretudo a partir dos anos 80,
começam timidamente a despontar, podem vir a ganhar, num futuro próximo,
uma relevância económica e geográfica que ultrapasse o nível local e regional.
A par com a saturação da principal região turística do país – o Algarve – e com
as deficientes condições de acolhimento de grande parte das regiões costeiras
do Oeste que parecem não conseguir aproveitar os ensinamentos da má
gestão do turismo algarvio, geram-se novas formas de procura turística que
aproveitam também a tendência para o aumento do número de períodos de
férias ainda que com a diminuição da sua duração (daí o slogan "faça férias
repartidas") e o aumento das operações de curta distância e de tráfego interno,
de forma a cativar os potenciais turistas nacionais ("vá para fora cá dentro").
Entre esses novos rumos das práticas turísticas estão o turismo cultural, o
turismo de eventos ou de negócios, o turismo de saúde e repouso, o turismo
itinerante e o conjunto de acções que se conhecem sob a designação de
Turismo em Espaço Rural e outras formas com elas directamente relacionadas:
turismo natureza, turismo aventura, turismo cinegético, etc.
119
Em termos espaciais, o turismo foi considerado como um instrumento capaz de
atenuar os desequilíbrios regionais (económicos, de emprego, equipamento,
serviços, infra-estruturas, etc.). Mas verifica-se que o turismo estrangeiro e
nacional de maior nível económico se concentram na fachada marítima do
país, acentuando o contraste litoral-interior. Isto observa-se também à escala
regional, como acontece no Algarve, onde as incidências directas do turismo
quase não afectam o Barrocal e muito menos a Serra.
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Dados do Autor:
José Alberto Afonso Alexandre
jaaalexandre[arroba]gmail.com
jaaalexandre[arroba]hotmail.com
Idade : 32
Mestre em Inovação e Políticas de Desenvolvimento (Universidade de
Aveiro)
Licenciado em Geografia (Universidade de Coimbra)
Publicação em «monografias.com» de "O planeamento estratégico em
cidades de média dimensão portuguesas"
(http://br.monografias.com/trabalhos/planeamento-cidades/planeamento-
cidades.shtml)
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