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OLIVAL TRADICIONAL

RECONHECER A PRESENÇA DOS INSETOS NOCIVOS

CÉLIA MATEUS

Instituto Nacional de Recursos Biológicos, Av. República, Qta. Marquês, 2784-505 Oeiras

IntroduçãoNo olival convivem diferentes tipos de insetos: alguns atingem o estatuto depraga por causarem prejuízos relevantes, já que atingem níveis populacionaiselevados e atacam órgãos importantes da oliveira, em alturas sensíveis deprodução; outros, comprometem a saúde global da árvore, causando reduçõesde produção, ou até a sua morte, em situações extremas.

Apesar de algumas pragas serem denominadas “pragas chave”, e outras“pragas secundárias”, a gravidade dos prejuízos varia muito de ano para ano ede região para região. As alterações climáticas deverão vir a causar alterações/variações ainda maiores.

Contudo, muitos insetos presentes no olival não constituem qualquer ameaça ealguns até são “auxiliares”, por nos ajudarem a combater as pragas. Há quenão esquecer, ainda, o papel benéfico dos polinizadores.

Os insetosNo seu ciclo de vida, os insetos passam por diferentes fases (estádios dedesenvolvimento), cada um com a sua morfologia (aparência) própria. Assim,aquando da vigilância do olival, detetam-se ovos, ninfas/larvas (ou lagartas),pupas (inexistentes nalguns tipos de insetos) ou adultos.

Quando há sobreposição de gerações, podem-se encontrar todos estes estádiosao mesmo tempo, no olival.

A rapidez do ciclo de vida varia, principalmente, com a temperatura ambiente:quando muito baixa, o ciclo é lento; à medida que a temperatura aumenta, ociclo de vida torna-se mais rápido; quando a temperatura atinge valores muitoelevados, o ciclo de vida torna abrandar. A temperaturas extremas (quandonão letais), os insetos protegem-se em abrigos e podem entrar em hibernação(inverno) ou estivação (verão). A humidade, fotoperíodo, o tipo de hospedeiro(espécie, variedade), embora menos, também influenciam a velocidade a que ociclo de vida se desenrola.

Dependendo das espécies de insetos e das condições climáticas, num ano podeocorrer um só ciclo (uma só geração) ou podem acontecer vários (váriasgerações).

Vigilância do olivalEm qualquer cultura que se pretenda sustentável, é essencial uma vigilânciaatenta da mesma, de modo a se detetarem precocemente os problemas e a seatuar atempadamente. Para tal, recorre-se à observação visual dos váriosórgãos de algumas árvores (amostra), com auxílio de uma lupa de campo,periodicamente e abrangendo toda a parcela. A colocação de armadilhasconstitui uma preciosa ajuda: as cores e odores específicos atraem os adultos.

Algumas pragas só se encontram na oliveira, mas outras podem desenvolver-seem outros hospedeiros, os quais, se estiverem nas proximidades do olival,também devem ser vigiados.

É essencial saber reconhecer quais os insetos nocivos, quer pela sua aparênciaquer pelos sintomas que provocam.

Ciclo de vida de um inseto.

(a fase de pupa pode não existir,dependendo do tipo de inseto)

Mosca da azeitona

Nome científico. Bactrocera (= Dacus) oleae GmelinTaxonomia. Insecta: Diptera: TephritidaeBioecologia. No inverno, ocorre principalmente na forma de pupa, no solo. Naprimavera, os adultos (A) iniciam a atividade: disseminação através do voo,alimentam-se de néctar e melada e fazem a postura dos ovos nos frutos aindapequenos. As larvas (B) escavam galerias no interior da azeitona, na polpa,destruindo-a.O seu hospedeiro é a oliveira.Ocorrem várias gerações por ano (duas, três ou mais), por vezes sobrepostas.Estragos. Consumo da polpa, queda prematura dos frutos, desvalorizaçãocomercial (efeito estético), redução da qualidade do azeite.VigilânciaObservação visual da “picada” da mosca (C) na azeitona, causada pelo ovipositorda fêmea, aquando da postura, rodeada de pequena mancha castanha necrosada;fruto em desenvolvimento com depressões e zonas mais claras; orifício de saída dosadultos.Captura de adultos em armadilhas alimentares do tipo McPhail ou em armadilhascromotrópicas com feromona sexual.

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Cochonilha negra

Nome científico. Saissetia oleae (Olivier)Taxonomia. Insecta: Homoptera: CoccidaeBioecologia. Ninfas (A) em hibernação no inverno; fêmeas adultas (B) ematividade na primavera- verão, com realização de posturas. No caso de haver umasegunda geração, a respetiva postura ocorre no início do outono.Em geral, uma geração anual, por vezes duas gerações (em que a última énormalmente incompleta).Para além da oliveira, tem outros hospedeiros: citrinos, figueira, damasqueiro,loendro, hera, Pittosporum sp.Estragos. Na sua alimentação, suga a seiva da oliveira, o que enfraquece aárvore, e excreta melada, que é colonizada por fungos (fumagina). Os órgãosatacados ficam cobertos deste material, o que dificulta a fotossíntese, atranspiração e a própria colheita da azeitona. Normalmente, os estragos não têmimpacto económico relevante, a não ser que a intensidade de ataque seja muitoelevada.Vigilância. Observação visual de ramos e folhas (principalmente a páginainferior), para deteção da presença de adultos, de melada (brilho) e de fumagina(aspeto de fuligem). As fêmeas adultas são escuras e têm um “H” marcado, emrelevo, no dorso (tipo “carapaça”) (C).

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Caruncho

Nome científico. Phloeotribus scarabaeoides (Bernard)Taxonomia. Insecta: Coleoptera: ScolitidaeBioecologia. Larvas e adultos alimentam-se de madeira (são xilófagos). Noinverno, os adultos, encontram-se em cavidades na madeira das árvores (A), ou nabase (axila) dos ramos e gomos vegetativos. No fim do inverno e na primavera, osadultos (B) saem dos refúgios e procuram os ramos de madeira de poda, ramosferidos ou quebrados, ou oliveiras decrépitas, onde penetram e escavam galerias, aque se segue a postura. As larvas escavam também galerias (C), e aí pupam Osadultos abandonam as árvores onde emergiram, dispersam-se e alimentam-se,atacando a axila de pequenos ramos (D), de inflorescências ou de frutos (consoantea geração). Ocorrência de uma a três gerações por ano.Para além da oliveira, tem outros hospedeiros: Freixo (Fraxinus sp), ligustro(Ligustrum sp.), lilás (Syringa sp.) e Phyllirea sp.Estragos. Os pequenos ramos atacados podem secar por paragem da circulaçãoda seiva, devido às incisões na sua base; danificação de gomos axilares; as galeriasenfraquecem os ramos que podem cair pelo seu peso, ou por ação do vento ou dasatividades de colheita, além de facilitarem a instalação de doenças e outras pragas.No caso das árvores já debilitadas, poderá ocorrer morte das mesmas.Vigilância. Observação visual: existência de montículos de serrim e fezes àsuperfície dos ramos, rejeitados a partir das galerias; o interior dos ramos apresentagalerias. Especial atenção para incisões nos pontos de inserção de ramos, folhas,lançamentos, inflorescências e frutos. Zona terminal de ramos jovens e inflorescênciassecos.

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Adulto Ninfa ou Larva (ou Lagarta)

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Algodão da oliveira

Nome científico. Euphyllura olivina CostaTaxonomia. Insecta: Homoptera: PsyllidaeBioecologia. Os adultos (A) hibernam no inverno em cavidades na madeira da árvore, nabase de pequenos ramos, folhas e botões axilares. O primeiro período de postura ocorre noprincípio da primavera, principalmente no botão terminal e nas folhas apicais de rebentosjovens. As ninfas segregam filamentos cerosos e melada, constituindo massas tipo algodão (B),que chegam a cobrir quase completamente os ramos atacados. A segunda geraçãodesenvolve-se principalmente em botões florais e nas inflorescências e os seus adultos entramem repouso estival durante o verão, quando as temperaturas são muito elevadas, retomandoa atividade quando as temperaturas atingem valores mais amenos. Ocorre uma terceirageração, cujas posturas, em climas amenos, se podem prolongar até dezembro.Ocorrem, frequentemente, três gerações por ano.O seu hospedeiro é a oliveira.Estragos. Definhamento e queda dos botões florais. Excretam melada, que é colonizada porfungos (fumagina),e os órgãos atacados ficam cobertos por esse material, o que dificulta afotossíntese e a transpiração. Os estragos não assumem gravidade, salvo em situaçõesexcecionais de ataque intenso na primavera.Vigilância. Observação visual: presença de secreções cerosas de cor branca, tipo algodão,que cobrem as ninfas e os órgãos atacados da árvore. No caso de fortes ataques, estes podemapresentar-se murchos e de cor acastanhada. Dar especial atenção às inflorescências.

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Euzofera

Nome científico. Euzophera pinguis HaworthTaxonomia. Insecta: Lepidoptera: PyralidaeBioecologia. No inverno, encontra-se na fase de lagarta (A), dentro de galerias; a pupaçãoocorre na primavera e os adultos (B) começam a emergir no final desta estação, e fazem apostura em fissuras na madeira da árvore (por exemplo, nos pontos de união de ramos, emexcrescências causadas pela tuberculose, ou na madeira de poda). As lagartas alimentam-sede madeira e escavam galerias no interior do tronco e dos ramos. Durante o período maisquente do verão, o número de adultos é reduzido, volta a aumentar no final desta estação(2ª geração), para baixar novamente no outono.Frequentemente, as duas gerações sobrepõem-se. Pode ocorrer uma terceira geração.Para além da oliveira, também se desenvolve no freixo.Estragos. As galerias escavadas pelas lagartas danificam os vasos condutores da árvore e,caso bloqueiem a circulação da seiva, causam a morte de ramos ou da totalidade da árvore.Vigilância. Observação visual de montículos de serradura e excrementos (C), unidos porfilamentos sedosos, à entrada das galerias, as quais são observadas quando se retira a cascada árvore nessa zona de entrada; zona intumescida nos ramos atacados, devido à retençãode seiva; zonas terminais de ramos e folhagem secas.Observação visual dos adultos e sua captura em armadilhas tipo funil com feromona sexual.

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Tripe da Oliveira

Nome científico. Liothrips oleae (Costa)Taxonomia. Insecta: Thysanoptera: PhlaeothripidaeBioecologia. O adulto (A) passa o inverno em abrigos (por exemplo, galerias escavadas poroutros insetos, tumores causados pela tuberculose, fissuras na madeira da árvore e folhasenroladas). No fim do inverno/ início da primavera, os adultos iniciam a sua atividade:alimentam-se e acasalam. As larvas alimentam-se nos rebentos e folhas tenras, botões floraise frutos jovens. Tanto as larvas como os adultos abrigam-se sempre que a temperatura éexcessivamente alta ou baixa. A densidade populacional é particularmente elevada no finalda primavera/ princípio do verão.Há geralmente três gerações anuais, por vezes sobrepostas.O seu hospedeiro é a oliveira.Estragos. Larvas e adultos ao alimentarem-se provocam: necroses e deformações nas folhas(B) e frutos; abortamento das flores jovens; frutos deformados; queda de folhas e frutos;desenvolvimento de ramos sinuosos, com entrenós curtos e de crescimento lento. Ataquesintensos debilitam as árvores, tornando-as mais suscetíveis a outras pragas e a doenças.Vigilância. Observação visual de ramos, com especial atenção para os estragos e para osabrigos, onde se encontram adultos e larvas.

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Armadilha tipo Delta ww

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Armadilha de McPhail ou garrafa mosqueira

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Armadilha cromotrópica

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Bibliografia consultada

- Bento A. et al. 2008. A mosca da azeitona, Bactrocera oleae (Gmelin), no Planalto Mirandês: ciclobiológico e importância económica. Actas I Congresso Nacional de Produção Integrada. Ponte de Lima,20-21 nov. 2008, pp:191-195.

- DGADR. 2010. Produção Integrada do Olival. 2ª edição, DGADR-DSPFSV, Lisboa

- Gonçalves, F. & Torres, L. 2005. Protecção contra pragas em olivicultura biológica. In:http://www.home.utad.pt/agro236

- INRA in: http://www.inra.fr/hyppz/RAVAGEUR

- Patanita, M.I. & Reis, J. 2008. Contribuição para o conhecimento da traça verde da oliveira, Palpitavitrealis (Rossi), no Alentejo. Actas I Congresso Nacional de Produção Integrada. Ponte de Lima, 20-21nov. 2008, pp:175-180.

Traça da oliveira

Nome científico. Prays oleae BernardTaxonomia. Insecta: Lepidoptera: YponomeutidaeBioecologia. Existem três gerações anuais: Geração filófaga, cujas lagartas (A e B)se alimentam das folhas, formando minas (C), onde passam o inverno; geraçãoantófaga, cujas lagartas se alimentam ao nível dos botões florais, formando“ninhos” com teias, excrementos e pétalas secas (D); geração carpófaga que faz apostura nos frutos ainda pequenos e cujas lagartas se alimentam no interior docaroço (E).Para além da oliveira, esta praga tem outros hospedeiros da mesma famíliabotânica: Phillyrea sp., ligustro (Ligustrum sp.) e jasmim (Jasminum sp.).Estragos. Destruição de flores / abortamento de botões florais e queda prematurade frutos.Vigilância. Observação visual de folhas, cachos florais e frutos (seu interior).Colocação de armadilhas sexuais do tipo Delta para captura de adultos (F).

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Traça verde

Nome científico. Palpita (=Margaronia) unionalis (Hübner)Taxonomia. Insecta: Lepidoptera: PyralidaeBioecologia. Passa o inverno na forma de lagarta e, eventualmente, também como pupa.Os primeiros adultos surgem na primavera. Durante o dia, os adultos permanecem emrepouso, na página inferior das folhas, com as asas abertas (forma triangular) (A); a suaatividade ocorre ao crepúsculo e durante a noite. A lagarta (B) alimenta-se principalmentedas folhas e rebentos novos (C), embora também possa atacar os frutos. A pupação dá-senum casulo protegido por folhas, que são enroladas e presas por fios tecidos.Ocorrem duas ou três gerações por ano.Outras plantas hospedeiras, além da oliveira: Jasmim, Ligustro (Ligustrum sp.), freixo,medronheiro.Estragos. Os estragos (roeduras) são provocados pela alimentação das lagartas, nas folhasda parte terminal dos lançamentos e, ocasionalmente, nos frutos. Caso o ataque seja intensoa nível dos frutos, pode ocorrer perda elevada na produção. Contudo, normalmente, só causaproblemas a nível de árvores jovens, dificultando o seu normal desenvolvimento.Vigilância. Observação visual dos estragos nas folhas jovens e nos frutos. Observação dalagarta coberta por uma ténue malha de fios sedosos e do adulto (com forma triangular emrepouso).Podem ser utilizadas armadilhas do tipo funil ou do tipo delta com feromona sexual paracaptura de adultos.

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