OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO.
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
FÁBULAS: ESTRATÉGIA METODOLÓGICA PARA O
DESENVOLVIMENTO DA LEITURA
SANDRA MARIA HERMANN SCHIAVINI
Trabalho final apresentado para apreciação e aprovação da professora-orientadora, Stela de Castro Bichuette Doutora em Letras, da Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO, campus de Guarapuava, como requisito parcial para conclusão do PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional.
GUARAPUAVA– PR
2015
FÁBULAS: ESTRATÉGIA METODOLÓGICA PARA O
DESENVOLVIMENTO DA LEITURA
Sandra Maria Hermann Schiavini1
Stela de Castro Bichuette 2
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo descrever e analisar o projeto de intervenção
pedagógica: “Fábulas: Estratégia Metodológica para o Desenvolvimento da Leitura”, aplicado com alunos do 6º ano do Colégio Estadual Arnaldo Busato – Ensino Fundamental, Médio, Normal e Profissional, na cidade de Coronel Vivida – Pr., no ano de 2015. O objetivo do projeto foi despertar o prazer pela leitura, possibilitando ao aluno tornar-se leitor, através do gênero literário fábulas. A preocupação com o alto índice de alunos desinteressados pela leitura, causado por inúmeros fatores, como pouco incentivo por parte da família e muitas vezes da própria escola, é que motivou a realização deste projeto com o tema fábulas, a ser trabalhado com alunos do ensino fundamental; acreditando que nesta faixa etária ainda seja possível aproximá-los da leitura, e mais que isso, fazendo com que desenvolvam o hábito e o gosto por ela; contribuindo assim para o domínio mais complexo da linguagem. É preciso aproveitar esta fase em que as crianças estão começando a inteirar-se do mundo real, mas ainda se envolvem com a leitura ingênua e encantadora. Com as fábulas é possível levar o educando a leituras e discussões mais críticas, podendo inclusive apoderar-se das características desse gênero e produzir suas próprias fábulas, com criatividade e criticidade. Trabalhando com esta tipologia textual prazerosa e de fácil interpretação, é possível envolver os alunos no que pode ser encontrado nas entrelinhas de cada leitura, questionar valores incutidos nelas, as mensagens e lições que cada fábula nos proporciona. Portanto é possível tornar nossos alunos grandes leitores, críticos e transformadores do mundo ao qual fazem parte. Entre as atividades desenvolvidas, o que chamou a atenção dos alunos foi a variedade de versões escritas de uma mesma fábula. Além disso, trabalhar com fábulas proporciona aos alunos uma reflexão sobre valores humanos, como respeito, solidariedade, ética, entre outros. Os resultados foram muito bons; possibilitaram aos educandos uma visão reflexiva, do mundo e de si mesmos.
Palavras-chave: fábulas; escola; leitura.
1 Professora PDE 2014, pós-graduada em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e
Literaturas, pelo Instituto IBEPX. Graduada em Português/Inglês, atuando como professora em Coronel Vivida. E-mail para contato: [email protected]. 2 Professora Orientadora, formada em Letras Português/Inglês pela Universidade Federal de
Uberlândia, Mestre e Doutora em Letras/Estudos Literários pela Universidade Estadual de Londrina, Pós doutoranda em Teoria e História da Literatura pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.
1. INTRODUÇÃO
Este artigo tem por finalidade participar os resultados da proposta de
intervenção pedagógica realizada no Colégio Estadual Arnaldo Busato –
Ensino Fundamental, Médio, Normal e Profissional, com alunos do 6º ano do
Ensino Fundamental.
O projeto de intervenção pedagógica fez uso de fábulas para o processo
de ensino–aprendizagem, como metodologia para o desenvolvimento da
leitura, tornando as aulas mais atrativas, despertando no aluno o gosto pela
leitura. A fábula, por ser um gênero literário voltada ao popular, e que se
destina à leitores infanto-juvenis, pela sua linguagem clara, de fácil
entendimento, com narrativa curta, e composta no seu desfecho por uma
moralidade, faz com que o sujeito-leitor interaja com o texto, proporcionando-
lhe prazer por descobertas.
O gênero escolhido propiciará o contato com textos agradáveis,
contribuindo para o envolvimento e a interação, sabendo que a leitura e escrita
só têm sentido se possibilitam o diálogo e a troca de experiências. Como uma
mesma fábula pode ser contada e recontada, escrita e reescrita de diversas
maneiras, influenciará a escrita, por parte dos alunos de outras versões
referentes aos textos trabalhados.
2. Fundamentação Teórica
2.1 Contexto do Ensino de Língua Portuguesa no Paraná
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná (DCE, 2008),
enfatizam a importância de que o educando compreenda os mecanismos de
funcionamento de textos impressos, por estes serem diferentes da fala, da
oralidade e da escrita. Descreve ainda o fato de que a aquisição da língua
materna deva ser aprimorada pela história e pelo contexto em que está inserido
o sujeito. As Diretrizes estabelecem que a escola deva oportunizar ao aluno,
através do desenvolvimento de sua competência linguística, sua inserção, de
forma ativa e crítica na sociedade. Conforme as DCEs (2008, p.48):
É tarefa da escola possibilitar que seus alunos participem de diferentes práticas sociais que utilizem a leitura, a escrita e a oralidade, com a finalidade de inseri-los nas diversas esferas de interação. Se a escola desconsiderar esse papel, o sujeito ficará à margem dos novos letramentos, não conseguindo se constituir no âmbito de uma sociedade letrada.
O mesmo documento dá ênfase às práticas de linguagem como
prioridade no trabalho pedagógico. DCE (2008, p.48).
Essas considerações, nas DCE, numa proposta que dá ênfase à língua viva, dialógica, com constante movimentação, permanentemente reflexiva e produtiva. Tal ênfase traduz-se na adoção das práticas de linguagem como ponto central do trabalho pedagógico.
Tendo ainda como apoio as Diretrizes, destacamos que a competência
linguística se dará se for proporcionado ao aluno conhecer, através das
práticas de leitura, oralidade e escrita, a gama de gêneros discursivos, que
ampliará sua visão de mundo e contribuirá para sua inserção social de forma
crítica e transformadora.
Nas Diretrizes, a leitura é um ato dialógico, interlocutivo, que envolve
esferas sociais, políticas, pedagógicas e até ideológicas em momentos da
realidade vivida. No momento da leitura busca-se os conhecimentos, a
bagagem que cada indivíduo traz em relação ao texto. DCE (2008, p.57):
“Praticar a leitura em diferentes contextos requer que se compreendam as
esferas discursivas em que os textos são produzidos e circulam, bem como se
reconheçam as intenções e os interlocutores do discurso”. E mais (p.59)
O texto literário permite múltiplas interpretações, uma vez que é na recepção que ele significa. No entanto não está aberto a qualquer interpretação. Texto é carregado de pistas/estruturas de apelo, as quais direcionam o leitor, orientando-o para uma leitura coerente. Além disso, o texto traz lacunas, vazios, que são preenchidos conforme o conhecimento de mundo, as experiências de vida, as ideologias, as crenças, os valores, etc., que o leitor carrega consigo.
E sabendo que, para se atingir tais expectativas, segundo as DCE
é ”importante pensar sobre a metodologia”, e acreditando que isso é possível
com atividades que conduzam os alunos a experiências reais com leitura,
oralidade e escrita, utilizaremos o gênero textual fábulas contribuindo para o
desenvolvimento e formação de sujeitos ativos e críticos, tornando desta forma
a aprendizagem significativa.
2.2 Importância da Leitura Literária
Estimular no aluno o gosto pela leitura é a maior contribuição que nós,
profissionais da educação podemos dar aos educandos e à sociedade. Para
formar verdadeiros leitores, a escola deve planejar aulas de leitura com
qualidade e com sentido para os envolvidos. Antunes (2009), discorrendo sobre
o papel da escola no processo de leitura considera que não deveria parecer
estranho que a escola destinasse tempo para a leitura, pois a escola é um
lugar de leitura. E que, ainda segundo a autora, não deveria parecer estranho o
fato de que a escola priorize a leitura e que assuma a promoção do gosto pelos
livros, pela informação escrita, pela produção literária, ou seja, a escola deve
ser um mundo em que os alunos possam mergulhar nas linguagens.
Saber ler e escrever é condição primordial para o sucesso dos alunos na
carreira escolar, desenvolvimento pessoal e profissional. Mas ainda estamos
longe de atingir tais objetivos, visto que nossas escolas não apresentam
resultados positivos, na grande maioria das vezes o resultado é desolador,
nossos alunos saem do Ensino Médio com grande dificuldade na leitura e
interpretação textual. Segundo Zilberman (2009, p.30):
Com a incumbência de ensinar a ler, a escola tem interpretado essa tarefa de um modo mecânico. Quando atua de modo eficiente, dota as crianças do instrumental necessário e automatiza seu uso, por meio de exercícios que ocupam o primeiro, mas dificilmente o segundo ano do ensino fundamental. Ler coincide então com a aquisição de um hábito e tem como consequência o acesso a um patamar do qual dificilmente se regride a não ser quando falta competência à introdução do aluno à escrita. Porém, a ação implícita no verbo em causa não toma nítido seu objetivo direto: ler, mas ler o quê? Dessa maneira o sentido da leitura nem sempre se esclarece para o aluno que é beneficiário dela. Por conseguinte, mesmo aprendendo a ler e conservando essa habilidade, a criança não se converte necessariamente em um leitor, já que este se define, em princípio, pela assiduidade a uma entidade determinada – a literatura.
Antunes (2009), nos alerta que a cada ano, avaliações mostram que, no
Brasil, a escola está falhando na função de formar leitores, segundo a autora,
“em algumas escolas, nem mesmo essa condição básica de ensinar a decifrar
os sinais de escrita tem tido o êxito esperado” (ANTUNES, 2009. p.185).
E Mello (2007, p.01) confirma que:
De fato, as crianças passam pelas nossas escolas e, em certos casos, saem pior do que entraram, pois, quando chegam às primeiras
séries, demonstram um fascínio pela leitura, que diminui na proporção inversa da escolarização da literatura; quando deixam o Ensino Fundamental, já não soa estranho ouvir dizerem que não gostam de ler. No Ensino Médio, então, o quadro é pior, uma vez que o fantasma do vestibular paira como uma justificativa para a leitura por obrigação, o que impediria os jovens a dedicar-se ao salutar deleite literário.
Além disso, conforme Silva (2005) nos deparamos com mais um
agravante, o de que se os profissionais da educação não se posicionarem
como leitores críticos, competentes, o objetivo a ser alcançado também
perderá seu efeito.
Por isso nossa busca por uma forma de atrair nossos alunos para o
mundo mágico da leitura se faz urgente. E esta é a intenção deste trabalho,
visto que a sala de aula se torna o lugar mais propício para formar esses
leitores, precisamos resgatá-los, mostrar o quanto a leitura faz diferença para
as pessoas. E Zilberman (2003, p.16), nos diz que:
a sala de aula é um espaço privilegiado para o desenvolvimento do gosto pela leitura, assim como um campo importante para o intercâmbio da cultura literária, não podendo ser ignorada, muito menos desmentida sua utilidade. Revela-se imprescindível e vital um redimensionamento de tais relações, de modo que eventualmente transforme a literatura infantil no ponto de partida para um novo e saudável diálogo entre o livro e seu destinatário mirim.
E pensando como Antunes (2009) é possível sim, sonhar com uma
escola em que a leitura seja o centro da proposta pedagógica, onde a leitura
pelo simples prazer de ler fosse um cuidado constante, o desafio de cada
momento fosse a alegria em aprender, e que esta escola tivesse como
compromisso deixar as pessoas mais aptas para acabarem com a miséria, a
fome, a violência, as discriminações em todas os seus segmentos. É preciso
fazer deste sonho uma realidade, tarefa difícil, mas de grande importância e
urgência. E ainda seguindo o pensamento de Antunes (2009), se for dada ao
aluno desde o início, a oportunidade de leitura plena (do livro e do mundo) –
possibilitando uma leitura crítica do mundo e de si mesmo, novos cidadãos
poderão vir a surgir, trazendo consigo uma nova configuração de sociedade. E
Cortella (2000,p.125) completa:
Em outras palavras, nós, educadores, precisamos ter o universo vivencial discente como princípio (ponto de partida), de maneira a atingir a meta (ponto de chegada) do processo pedagógico; afinal de contas, a prática educacional tem como objetivo central fazer avançar a capacidade de compreender e intervir na realidade para além do
estágio presente, gerando autonomia e humanização.
Assim sendo, nós educadores não podemos nos esquecer de nossa
função maior, que é a de levar o aluno a desenvolver habilidades que o façam
ir além da compreensão, alcançando autonomia, para que possam intervir na
transformação do meio em que estão inseridos.
2.3 GÊNERO TEXTUAL FÁBULA
Nas Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa do Estado do Paraná
(2008, p.53), encontramos subsídios que nos mostram a importância de se
trabalhar os gêneros do discurso:
O trabalho com os gêneros, portanto, deverá levar em conta que a língua é instrumento de poder e que o acesso ao poder, ou sua crítica, é legítimo e é direito para todos os cidadãos. Para que isso se concretiza, o estudante precisa conhecer e ampliar o uso dos registros socialmente valorizados da língua, como a norma culta.
Baseado na concepção interacionista, confirmamos o estudo de que a
língua é uma forma de interação entre os sujeitos, o que imprime sentido às
coisas e ao mundo, como nos afirma Antunes (2009, p.22) “a linguagem é o
suporte, a mediação pela qual tudo passa de um indivíduo a outro, de um
grupo a outro, de uma geração à outra.” E para que ocorra essa interação entre
o texto e o leitor é que optou-se por trabalhar o gênero fábulas. Buscando
resgatar o prazer por textos curtos, que despertam o imaginário infantil. Nos
textos que comumente são trabalhados em sala de aula não costuma existir
relação entre o texto e o leitor, e não é apenas a qualidade do texto que o torna
agradável.
A fábula, por ser um gênero literário voltada ao popular, e que se destina
a leitores infanto-juvenis, pela sua linguagem clara, de fácil entendimento, com
narrativa curta, e composta no seu desfecho por uma moralidade, faz com que
o sujeito/leitor interaja com o texto, proporcionando prazer por descobertas.
Segundo Bettelhein, ( 2002, p.44):
Nosso prazer é o que nos induz a reagir segundo o tempo que estamos vivendo aos significados ocultos, na medida em que podem- se relacionar à nossa experiência de vida e atual estado de desenvolvimento pessoal.
Trabalhar com o gênero literário fábulas, levando em consideração o
conhecimento do leitor e a interação deste conhecimento com os demais
atores, desenvolve habilidades que os tornam capazes de entender e transmitir
o ensinamento do texto, voltando esse aprendizado para a realidade em que
vivem hoje, proporcionando mudanças significativas.
Acreditando ser a leitura a porta de acesso para o sucesso dos
estudantes em sala de aula e na vida, é que pretendemos, com uso do gênero
fábulas, despertar o gosto pelo ler, buscando incentivá-los a ler nas entrelinhas
o que o texto não mostra na primeira leitura, mas que a partir da leitura mais
profunda e prazerosa, cheguem a elementos que antes passavam
despercebidos. Segundo Antunes (2009, p.195):
Daí que a leitura é uma espécie de porta de entrada; isto é, é uma via de acesso à palavra que se torna pública e, assim, representa a oportunidade de sair do domínio do privado e de ultrapassar o mundo da interação face a face. É uma experiência de partilhamento, uma experiência do encontro com a alteridade, onde, paradoxalmente, se dá a legítima afirmação do eu.
A fábula é um dos gêneros textuais mais antigos, elas têm mais de dois
mil anos. No início eram contadas por quem gostava de dar conselhos e para
explicar as coisas da natureza e situações do ser humano. Com o passar dos
tempos passou-se a escrever fábulas com o intuito de denunciar e criticar
injustiças.
O gênero escolhido para alunos dos 6ºs anos propiciará o contato com
textos agradáveis, contribuindo para o envolvimento e a interação, sabendo
que a leitura e escrita só têm sentido se possibilitam o diálogo e a troca de
experiências. Podendo também a mesma fábula ser contada e recontada,
escrita e reescrita de diversas maneiras, influenciará a escrita, por parte dos
alunos de outras versões referentes aos textos trabalhados. Antunes (2009,
p.209), diz que “com efeito, escrever é, simultaneamente, inserir-se num
contexto qualquer de atuação social e pontuar nesse contexto uma forma
particular de interação verbal”. E ainda conforme Antunes (2009, p. 201):
Não se nasce com o gosto pela leitura, do mesmo modo que não se nasce com o gosto por coisa nenhuma. O ato de ler não é, pois, uma habilidade inata. [...] o gosto por literatura é aprendido por um estado de sedução, de fascínio, de encantamento. Um estado que precisa ser estimulado, exercitado e vivido.
É necessário termos em mente o relevante papel da escola e do
professor nesse processo de desenvolvimento do gosto pela leitura nos alunos,
visto que, quando o professor gosta do que faz e consegue transmitir esse
amor, o trabalho tende a fluir com tranquilidade. Se o mediador não passar
essa relação de cumplicidade com o texto e com seus atores, esse trabalho
dificilmente alcançará o objetivo proposto. Como nos informa Silva (2005, p.19):
Se refletirmos bem, veremos que o professor é o intelectual que delimita todos os quadrantes do terreno da leitura escolar. Sem a sua presença atuante, sem o seu trabalho competente, o terreno dificilmente chegará a produzir o benefício que a sociedade espera e deseja, ou seja leitura e leitores assíduos e maduros.
É imprescindível, portanto, que o professor saiba como conduzir seus
educandos, com competência na leitura impulsionará o gosto e o prazer pelo
ler, caso contrário, se não demonstrar o amor e a importância que esta prática
tem em sua vida não atrairá a atenção nem tampouco o aluno se aproximará
dos livros.
3. A IMPLEMENTAÇÃO
Desenvolvimento Metodológico
O projeto de pesquisa teve como objeto de estudo as fábulas, recurso
metodológico no processo ensino-aprendizagem. As atividades da unidade
didática foram todas relacionadas à fábula “A Cigarra e a Formiga”,
apresentada em várias versões. A implementação pedagógica foi realizada no
período diurno, com os alunos do 6º ano “B” do Ensino Fundamental do
Colégio Estadual Arnaldo Busato – Ensino Fundamental, Médio, Normal e
Profissional, em Coronel Vivida – Pr., num total de 32 horas, no período de
julho a setembro de 2015.
A unidade didática foi apresentada para a Equipe Pedagógica e
professores de língua portuguesa do estabelecimento e, posteriormente aos
alunos escolhidos para a implementação, com o objetivo de mostrar a
importância do tema no processo educacional.
A primeira etapa da unidade foi questionar os alunos, de forma informal
a respeito de seus conhecimentos sobre o assunto a ser abordado. Todos
fizeram relatos no caderno e aqueles que se sentiram seguros puderam expor
seus escritos. A grande maioria não sabia diferenciar as histórias infantis das
fábulas.
Durante a etapa seguinte tiveram a oportunidade de assistir a alguns
vídeos, como o da cigarra soltando sua casca, as formigas trabalhando no
formigueiro ao som de cigarras e uma das versões da fábula “A Cigarra e a
Formiga”. O interesse foi surpreendente, pois foram tantos os questionamentos
que foi preciso incluir mais dois itens na pesquisa que fariam posteriormente
sobre fábulas e fabulistas; houve a necessidade de pesquisarem também a
vida das formigas e das cigarras.
Após assistirem aos vídeos e os comentarem, receberam uma cópia da
fábula de Esopo e uma de Monteiro Lobato, ambas “A cigarra e a formiga”,
para leitura e discussão sobre a mensagem de cada uma das fábulas, e a
moral, que numa apresenta-se implícita e na outra explícita. Um dos
questionamentos bastante discutidos em relação as fábulas foi quem poderia,
nos dias atuais ser a cigarra e quem seria a formiga. Depois de terem
completado esta atividade, foram feitas, junto aos alunos, comparações entre
as atitudes e comportamentos que as personagens transmitem, com seus
próprios valores e atitudes. Cada criança contou como é seu dia-a-dia,
relataram suas atividades na escola e em casa e a grande maioria identificou-
se com a formiga, para finalizar esta etapa, confeccionaram um crachá com
seu nome e ilustraram com o inseto escolhido.
Na sequência todos foram encaminhados para o laboratório de
informática, e em pequenos grupos realizaram uma pesquisa sobre La
Fontaine e suas obras, Monteiro Lobato e suas obras, Esopo e suas obras,
características das fábulas e acrescentou-se à pesquisa a vida das cigarras e a
vida das formigas.
Figura 1: Pesquisa no Laboratório de Informática
Fonte: SCHIAVINI, 2015
Os alunos os quais pesquisaram sobre o mesmo assunto reuniram-se
em sala de aula e produziram um só texto com todas as informações obtidas,
confeccionaram materiais e apresentaram para os demais colegas. Todos
estavam muito atentos e tiveram a oportunidade de tirar dúvidas e matar a
curiosidade a respeito de cada apresentação.
Foi uma atividade bastante interessante, visto que cada grupo tinha um
coordenador que orientou todo o trabalho. A maioria dos grupos confeccionou
cartazes, e dividiram o texto em partes para que todos pudessem participar da
explanação. O grupo da cigarra trouxe inclusive cascas de cigarra para mostrar
aos colegas.
Figura 2: Produções em Grupo
Fonte: SCHIAVINI, 2015
Imagem 3: Cigarra
Fonte: SCHIAVINI, 2015
Cessadas as apresentações, retornaram ao caderno para rever o que
haviam escrito a respeito de fábulas no primeiro dia da implementação e logo
perceberam que deveriam acrescentar informações, pois a partir da leitura das
fábulas, da pesquisa e da apresentação dos grupos, o conhecimento já havia
sido ampliado.
Quando as novas observações foram encerradas, deu-se início a
primeira produção textual. Foram levados jornais impressos e vídeos de
telejornais, com previsões do tempo, e após lidos e analisados, deu-se
sequência à produção de uma previsão para o inverno rigoroso que estava se
aproximando. Foram muitas e criativas as ideias. Cada um teve a oportunidade
de ler para os colegas.
Na etapa seguinte, após estudarem as características do bilhete,
escreveram como se fossem a formiga, um bilhete para a cigarra, contando
sobre a notícia do inverno que se aproximava, pois a cigarra nunca parava de
cantar, nem para ler jornal. A produção do bilhete também surpreendeu pela
criatividade.
Na sequência foram distribuídas novas versões da fábula “A Cigarra e a
Formiga” desta vez de Millôr Fernandes e de Pierre Schürmann; nas quais
foram trabalhados valores éticos, “costumes” e o comportamento humano.
Também foi pedido aos alunos que levassem material de arte e ilustraram a
fábula de Pierre Schürmann.
A atividade a qual seria solicitada posteriormente necessitou do estudo
das características da carta e após apropriarem-se deste conhecimento, os
alunos se colocaram no lugar da cigarra, que novamente distraída, não leu com
atenção ao bilhete que a formiga lhe enviou, e nos primeiros frios do inverno se
deu conta do problema que enfrentaria por não ter armazenado mantimentos,
nem providenciado um abrigo seguro. Resolveu escrever uma carta para a
formiga pedindo a ela que a abrigasse, para que pudesse sobreviver ao frio e a
fome, durante o inverno.
Esta atividade foi muito interessante, houve muitos pedidos criativos e
bastante convincentes. Durante a leitura de cada carta a atenção foi total e
houve muitas risadas com as apelações da cigarra.
Num novo momento, os alunos receberam as fábulas “A Cigarra e a
Formiga”, de La Fontaine e o rap de Jô Soares, as quais fizeram a leitura e a
análise dos textos. Os alunos amaram o rap e após leitura e interpretação,
alguns foram apresentá-lo, cantando para os colegas.
Produziram um novo texto, agora colocando-se no lugar da formiga que
após ter recebido a carta, resolveu responder ao pedido da cigarra. Nesta
atividade também foi surpreendente a criatividade e a gama de ideias dos
alunos, muitos pensando no sofrimento da cigarra e outros nada preocupados
com ela.
Para a atividade seguinte, os alunos precisavam conhecer o significado
do prefixo “anti”, pois seria essencial para entenderem o significado do texto:
“A cigarra e a Formiga – Antifábula” de José Chagas, para isso fomos até a
biblioteca escolar em busca desta significação. Apesar de terem entendido o
significado da palavra, este texto causou polêmica, houve a necessidade de
muito debate até que todos conseguissem entendê-lo em sua totalidade. Os
alunos se mostraram nesta fase muito maduros e acabaram dando uma lição
em relação ao comportamento humano.
Na sequência, com a utilização de material previamente solicitado (
adesivos e figuras de cigarras e formigas e materiais diversos), produziram
uma tirinha, muitas delas ficaram excelentes, coloridas e atrativas.
Depois de feitas as leituras das várias versões da fábula “A cigarra e a
formiga”, chegou a vez dos alunos usarem novamente a criatividade,
escrevendo uma nova versão desta fábula estudada.
Nesta fase os alunos estavam empolgados para escreverem sua própria
versão da fábula “A Cigarra e a Formiga”, e escreveram textos maravilhosos.
Todos queriam ler suas fábulas e ouvir a dos colegas. Ficaram felizes e
surpresos com cada texto, com cada nova versão.
Durante a leitura ficou claro o interesse de cada um pelo tema estudado,
pois trabalharam de forma empolgante e impressionante. Com os textos
produzidos confeccionaram um livro de fábulas, que será levado para casa por
cada aluno para apreciação dos pais e posteriormente ficará na biblioteca
escolar.
Imagem 4: Capa das Produções
Fonte: SCHIAVINI, 2015
Figura 5: Produção de Aluno
Fonte: SCHIAVINI, 2015
Como atividade final, fizeram cinco grupos, dos quais três utilizaram os
textos produzidos por eles para dramatizarem e os outros dois utilizaram
fábulas estudadas durante a aplicação da unidade.
O empenho foi grande, muito ensaio, confecção de roupas e cenários.
No dia da apresentação foram convidados alunos, professores, equipe
pedagógica e direção para assistirem.
Imagem 6: Apresentação Teatral
Fonte: SCHIAVINI, 2015
Imagem 7: Cenário
Fonte: SCHIAVINI, 2015
Imagem 8: Apresentação Teatral
Fonte: SCHIAVINI, 2015
Todos ficaram impressionados com o desempenho dos alunos que
foram convidados a repetirem a apresentação na Semana de Integração
Escola/Comunidade, no mês de dezembro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A implementação do projeto buscou atender as necessidades de
professores no que diz respeito ao desinteresse dos alunos pela leitura. A
Unidade Didática objetiva a formação de um leitor competente, que ultrapasse
a decodificação dos textos.
O desenvolvimento das atividades superou as expectativas esperadas
durante a elaboração do projeto. O interesse dos alunos pelo tema proposto e
a participação nas atividades surpreendeu, pois como a fábula se repetia,
apesar das várias versões, havia o receio de que se tornasse maçante; mas
fizeram reflexões sobre os textos e trabalharam em conjunto de uma maneira
crítica, com curiosidade em saber qual seria a próxima versão. Dessa forma,
percebeu-se, que ao propor aos alunos aulas diversificadas e variadas,
sentem-se mais motivados a aprender e mostrar seu potencial.
Em relação aos alunos, ficou claro que o projeto proporcionou melhoras
nos bons hábitos de convivência, no respeito mútuo na escola e fora dela,
principalmente no aceitar o outro em atividades compartilhadas e houve
diminuição na agressividade entre os alunos. Conclui-se, portanto, que os
alunos se envolveram e se empenharam para a realização do projeto que
atingiu grandes resultados.
E confirmando Antunes (2009) é possível sim, sonhar com uma escola
em que a leitura seja o centro da proposta pedagógica, onde a leitura pelo
simples prazer de ler um cuidado constante, o desafio de cada momento a
alegria em aprender, com o compromisso de diminuir as discriminações em
todos os seus segmentos. E ainda seguindo o pensamento de Antunes (2009),
se for dada ao aluno desde o início, a oportunidade de leitura plena (do livro e
do mundo) – possibilitando uma leitura crítica do mundo e de si mesmo, novos
cidadãos poderão vir a surgir, trazendo consigo uma nova configuração de
sociedade.
REFERÊNCIAS
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Alegre: Mercado Aberto, 1993.
ANTUNES, I. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo:
Parábola Editorial, 2009.
BETTELHEIM, B. A Psicanálise dos contos de fadas. Tradução de Arlene
Caetano 16ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
FERNANDES, M. T. O. S. Fábula. Trabalhando com os gêneros do
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MELLO, C. J. de A.; OLIVEIRA, S. Metodologia de ensino, teoria da literatura e a formação do leitor competente. Disponível em: http://alb.com.br/arquivo-
morto/edicoes_anteriores/anais16/sem08pdf/sm08ss08_08.pdf. Acesso em 22.04.2014.
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação do. Diretrizes Curriculares de
Ensino de Língua Portuguesa, Curitiba, 2008.
SILVA, E.T. A produção da leitura na escola – pesquisas x propostas – 2ª
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ZILBERMAN, R; RÕZING,T. M. K. Escola e leitura: Velha crise, novas
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