Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS:
UMA PROPOSTA METODOLÓGICA
Márcia Andrea Carraro*1
Bruno Sergio Portela*2
RESUMO
O presente artigo relata a experiência realizada mediante a aplicação do Projeto de IntervençãoPedagógica realizado durante o período dedicado ao Programa de Desenvolvimento Educacional –PDE, proporcionado pela Secretaria de Estado de Educação do Paraná. Este foi aplicado nadisciplina de Educação Física no Curso de Educação de Jovens e Adultos – Ensino Fundamental noColégio Estadual Sebastião Paraná, município de Palmas, Núcleo Regional de Educação de PatoBranco. O presente estudo teve como ponto de partida os questionamentos surgidos durante aatuação educacional nesta modalidade de ensino, que atende uma clientela bastante diversificada,constituindo-se assim em um desafio constante para que o docente busque conciliar os objetivos dadisciplina com os anseios apresentados pelos alunos. Foi ainda aplicado o questionário LEA-RI, coma finalidade de verificar o estado de ânimo dos alunos, em relação às aulas de Educação Física. Aproposta metodológica apresentada buscou ampliar a diversidade de expressão, considerando anecessidade de fortalecimento da autoestima através do contato corporal consigo mesmo e com osoutros, por meio de linguagens que favorecessem a expressão de ideias e sentimentos,oportunizando ao aluno a reflexão sobre a sua história e como esta é desenhada em seu corpo aolongo do tempo através da cultura corporal.Os dados obtidos apresentados nas tabelas permiteminferir que não houveram mudanças significativas no estado de ânimo dos alunos quando daaplicação da metodologia diferenciada, possivelmente devido a grande disparidade presente na faixaetária da clientela escolar, demonstrando assim que há necessidade de repensar a prática realizadana modalidade de Educação de Jovens e Adultos.
Palavras-Chave: Metodologia de ensino,Educação de Jovens e Adultos, cultura corporal.
INTRODUÇÃO
Tendo em vista a trajetória significativa em relação à Educação de Jovens e
Adultos, e as dificuldades presentes no cotidiano escolar, tais como diferentes faixas
etárias, cansaço uma vez que a grande maioria da clientela consiste de
trabalhadores, desmotivação, autoestima baixa, o presente estudo teve como
____________________________________
* Professora PDE 2012, QPM, licenciadas em Educação Física pelas Faculdades Integradas dePalmas- FACIPAL, 2002. Especialista em Especialista em Educação Especial pela FACINTER,2002.
**Professor Orientador, formado em Educação Física pela UNICENTRO – Guarapuava, Mestreem Ergonomia pela UFPR - 2007;
objetivo investigar a forma como vem ocorrendo a prática desta disciplina nesta
modalidade de ensino, tendo em vista possibilitar aos alunos aulas mais atrativas
para os alunos e consequentemente mais gratificantes para os docentes.
A Educação Física Escolar deve ser entendida como uma disciplina que
introduz e integra o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que
vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruirde
jogos, esportes, danças, lutas e das ginásticas em benefício do exercício crítico da
cidadania e da melhoria da qualidade de vida. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E
CULTURA , (2013)
A presente proposta metodológica leva em conta as orientações do
Ministério da Educação e Cultura (2013), que afirma a necessidade de reconhecer
ter chegado o momento de olhar para esse segmento da sociedade brasileira e
buscar novas formas de viabilizar seu acesso a essa área do conhecimento, ou seja,
é necessário que se ajuste a proposta de ensino aos interesses e possibilidades dos
alunos da Educação de Jovens e Adultos, partindo de abordagens que contemplem
a diversidade de objetivos, conteúdos e processos de ensino e aprendizagem, que
compõe a Educação Física Escolar na contemporaneidade. Não se trata de deixar
de lado os conteúdos da Educação Física Escolar, mas sim se buscar uma
metodologia condizente com a faixa etária e com a realidade dos alunos, a fim de
que estes possam compreender o papel da mesma na sua formação.
Tendo em vista que a prática pedagógica na modalidade da Educação de
Jovens e Adultos, deve inicialmente considerar a realidade, entende-se a
necessidade de que a clientela seja caracterizada, pois, é este conhecimento que
permite um currículo vivo e atraente capaz de fazer com que o educando se
transforme e como tal possa então transformar a sua realidade, contribuindo para
uma sociedade mais justa e humana.
O objetivo geral deste estudo consistiu em elaborar uma proposta de
Educação Física escolar que atendesse a diversidade que compõe a Educação de
Jovens e Adultos, desenvolvendo os conteúdos a partir de princípios que
considerem a realidade desta clientela.
Em relação aos objetivos específicos buscou-se a ampliação da
diversidade de expressão, considerando a possibilidade de fortalecimento da
autoestima dos educandos, bem como o favorecimento de possibilidades de contato
corporal consigo mesmo e com o outro, por meio de linguagens que favorecessem a
expressão das ideias, sentimentos e crenças pelo movimento, oportunizando uma
reflexão sobre a sua história pessoal.
Buscou-se ainda possibilitar atividades que valorizassem e respeitassem a
história pessoal do aluno, possibilitando a reconstrução dos significados do
movimento e da cultura corporal.
METODOLOGIA
O presente trabalho se caracteriza como um estudo transversal e
aconteceu no Colégio Estadual Sebastião Paraná _ Ensino Fundamental e Médio,
na cidade de Palmas – Paraná.
Após o contato realizado junto a direção e a equipe pedagógica, para a
exposição dos objetivos, a prática foi desenvolvida em uma turma matriculada na
disciplina de Educação Física do Ensino Fundamental na modalidade de Educação
de Jovens e Adultos durante o primeiro semestre de 2014.
A partir da aplicação de questionário (pré-teste), tendo em vista detectar o
estado de animo do alunos com relação as aulas de Educação Física, onde foi
aplicado o questionário LEA-RI (pré-teste). Aplicação da proposta pedagógica
curricular no grupo experimental, contando para tal com um professor colaborador
mediante o acompanhamento da professora PDE, a fim de que a parte prática deste
estudo pudesse ser efetuada, sendo inicialmente observadas doze horas aula com a
programação determinada pelo currículo normal do Curso de Educação de Jovens e
Adultos, onde o professor aplicou suas aulas sempre com enfoque do método
tradicional.
Na sequencia foi aplicado o questionário LEA-RI (pós-teste). Em seguida
teve um espaço de duas semanas sem atividades práticas. Foi aplicado novamente
o questionário (pré-teste). Depois foram aplicadas doze horas-aula com as
atividades selecionadas pela pesquisadora onde se desenvolveu aulas direcionadas
ao fortalecimento da autoestima, da autoimagem, bem como o favorecimento de
possibilidades de contato corporal consigo mesmo e com o outro, por meio de
linguagens que favorecessem a expressão das ideias, sentimentos e crenças pelo
movimento, oportunizando uma reflexão sobre o tema aplicado nas aulas. Depois
dessas aulas foi novamente aplicado questionário (pós-teste), na tentativa de
verificar o alcance das atividades propostas durante o período de realização da
implementação do projeto.
Para a avaliação dos estados de ânimo foi utilizada a Lista de Estado de
Ânimo Reduzido e Ilustrado (LEA-RI), desenvolvida por Volp (2000). Este é
composto por uma lista de 14 adjetivos ilustrados, dos quais sete positivos (feliz,
ativo, calmo, leve, agradável, tímido, cheio de energia) e sete negativos (triste,
espiritual, agitado, pesado, desagradável, com medo e inútil), desenvolvido desta
forma para que diferentes populações pudessem respondê-la.
Para cada adjetivo positivo ou negativo foi estipulado uma intensidade ou
seja, muito forte = 4, forte = 3, pouco= 2, e muito pouco = 1.
RESULTADOS
Os resultados obtidos na aplicação do questionário LEA-RI, realizado junto
aos alunos do Curso de Educação de Jovens e Adultos, são apresentados na tabela
a seguir, seguidos dos respectivos gráficos e suas análises.
Tabela1. Apresenta valores médios entre metodologia proposta e metodologia EJA.dos adjetivos positivos e negativos.
Metodologia proposta Metodologia EJAMédia DP Média DP Média DP Média DP
POSITIVO 19,6 4,4 19,9 3,8 19,7 3,3 20,9 3,6
NEGATIVO 13,1 2,9 12,3 2,3 11,2 2,4 11,1 2,0
Analisando a tabela 1 verifica-se que em relação aos adjetivos positivos a
média do pré-teste da metodologia proposta foi de 19,6 apresentando um desvio
padrão de 4,4 ; no pós-teste observou-se uma média de 19,9 com desvio padrão de
3,8 e a metodologia da Educação de Jovens e Adultos observada no pré-teste foi de
19,7 e desvio padrão de 3,3, e no pós-teste a média foi de 20,9 com desvio padrão
de 3,6.
No que se refere aos adjetivos negativos, observa-se que em relação a
metodologia proposta uma média de 13,1 e desvio padrão de 2,9 no pré-teste e
12,3 com desvio padrão de 2,9 no pré-teste, e na metodologia da Educação de
Educação de Jovens e Adultos no pré-teste verificou-se uma média de 11,2 com
desvio padrão de 2,4 e no pós-teste média 11,1 com desvio padrão de 2,0.
Figura 1– Apresenta a comparação dos adjetivos negativos pré e pós metodologia
proposta e metodologia EJA.
Os dados apresentandos apontam que não houve diferença sigificativa nos
resultados, acredita-se pelo fato de que há uma grande disparidade na clientela, em
relação a idade, apesar da tentativa constante do professor em motivar os alunos, o
estado de ânimo dos mesmos em relação as atividades propostas foi constante.
Figura 2– Apresenta a comparação dos adjetivos positivos pré e pós metodologia
proposta e metodologia EJA.Pode-se verificar que no que se refere aos adjetivos positivos que
independentemente da metodologia aplicada pelo professor estes se mantiveram
praticamente constantes.
DISCUSSÃO
Analisando os resultados da aplicação do questionário LEA-Ri, na classe de
Educação de Jovens e Adultos, observa-se que não houve resultados significativos
da alteração dos estados de ânimo nas aulas mediante uma metodologia
diferenciada, quando comparado com a metodologia tradicional. Como se tratou de
uma proposta de implementação isolada e não há muitos estudos semelhantes, fica
difícil fazer mais uma analise mais profunda.
Conforme Raymundi (2014), em estudo realizado com atletas, no qual
procurou investigar o estado de ânimo de duas equipes de handebol feminino que
disputavam uma semifinal de campeonato, observou-se que o estado de ânimo
éinfluenciado pela motivação que o treinador exerce em suas equipes, a equipe B
possuía mais adjetivos positivos que a A, a equipe B seu treinador gritava
incentivando-as na lateral da quadra aumentando assim o nível de auto estima do
time com palavras de entusiasmo e as atletas estavam psicologicamente preparadas
por acompanhamento profissional da área. Devido estar com seu ânimo
positivamente elevado no pré-teste, a equipe saindo vitoriosa e os adjetivos positivos
subiram de forma espetacular, pois o prazer que sentiram com a vitória proporcionou
maior elevação no pós-teste.
É importante ressaltar que a equipe tendo sido motivada pelo técnico foi
determinante no resultado final e acredita-se que ocorra de forma semelhante nas
aulas de Educação Física em relação ao professor, de acordo com Dias (2005) é
importante que o professor aborde de forma motivacional suas aulas tendo em vista
a melhoria dos adjetivos positivos e diminuição dos adjetivos negativos.
Entende-se assim, que é essencial que o professor entenda a necessidade de
dar um novo significado às aulas, constituindo-se em um exercício que requer uma
amplitude das possibilidades de intervenção, tendo em vista a superação da
motricidade tendo em vista uma dimensão histórica, cultural, social, rompendo com a
ideia de que o corpo é restrito somente ao biológico, ao que pode ser mensurado.
O trabalho desenvolvido no Colégio Estadual Sebastião Paraná – Ensino
Fundamental e Médio com alunos do Ensino Fundamental da modalidade de
Educação de Jovens e Adultos, não priorizou uma prática específica, considerando
que existe múltiplas possibilidades conforme recomendam as Diretrizes Curriculares
para a Educação de Jovens e Adultos, considerando que o objetivo consistiu em
verificar se uma metodologia diferenciada poderia alterar o estado de ânimo destes
alunos.
De acordo com Assis (2001), as atividades podem contemplar os princípios da
competição, mas devem ser pensadas principalmente em função da coletividade,
buscando atingir as necessidades de toda a turma, sejam elas de divertimento, de
prazer, de recriação, na busca de superação das ideologias tidas como verdadeiras
e as normas e regras sociais estabelecidas, o estado de ânimo se altera
positivamente quando o professor preza a coletividade e utiliza estratégias
diferenciadas como estímulo em suas aulas de Educação Física.
Os resultados obtidos, bem como o estudo realizado sobre a temática nos
permite inferir que há a necessidade de refletir sobre as aulas, para que se possa
determinar a preferência por uma ou outra atividade, se estas podem ou não alterar
o estado de ânimo dos alunos.
É importante que ao planejar suas aulas, o professor busque ampliar suas
estratégias, de maneira que os alunos tenham contato com formas diferenciadas de
exercícios e práticas de uma maneira prazerosa, reconhecendo a importância desta
disciplina para o desenvolvimento não apenas do aspecto físico, mas também em
relação aos aspectos social, cognitivo, afetivo e psico-motor.
Conforme Soares (1999), para a elaboração de um currículo para a
Educação de Jovens e Adultos, inicialmente há que se considerar a necessidade de
estabelecer o perfil desta clientela, a tomada da realidade tal como se apresenta,
como ponto de partida das ações pedagógicas, refletindo acerca das metodologias e
materiais didáticos adequados às suas necessidades.
A aplicação do projeto de implementação pedagógica demonstra a
importância do docente entender as singularidades da Educação de Jovens e
Adultos, pois esta se mostra composta de uma clientela que apresenta diferentes
expectativas em relação à escola, assim torna-se imperativo construir estratégias
curriculares que atendam às suas especificidades. Portanto, o currículo deve ser
compreendido que não se trata de qualquer experiência de escolarização,
considerando que de acordo com Moreira e Silva (1995, p.8), “o currículo não é um
elemento inocente e neutro, de transmissão desinteressada do conhecimento social.
Entende-se que a Educação de Jovens e Adultos, precisa em sua prática
pedagógica incorporar tanto as perspectivas da educação popular quanto as
perspectivas da educação escolar, alargando o conceito e o entendimento do que
significa a educação destinada à população jovem e adulta, dando uma ideia da
dimensão e das responsabilidades que sobre essa modalidade se coloca.
No que se refere à Educação Física, o currículo ao longo de sua história
possuiu características para a prática docente, cristalizando uma forma homogênea
de trabalho voltada para a disciplinarização e condicionamento do corpo. Somente a
partir dos anos 80, apesar de terem ocorrido inúmeras discussões ainda se verifica a
condução a uma prática docente para o rumo da homogeneização de suas práticas
pedagógicas, desrespeitando a pluralidade de culturas e de seus sujeitos, alunos e
professores.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº
9.394/96), no Artigo 26, § 3º “A Educação Física, integrada à proposta pedagógica
da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas
etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos”.
Considerando o exposto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, pode-se dizer que é essencial que se respeite a faixa etária da Educação
de Jovens e Adultos, bem como a necessidade de respeitar as condições da
clientela desta modalidade de ensino, ou seja, é preciso ter claro que se torna
necessário um currículo apropriado, a fim de que se possa trabalhar de forma a
atender os anseios e as necessidades destes alunos.
Conforme estudo realizado por Aliot (2008) as dificuldades do professor de
Educação Física em conciliar os conteúdos incluídos na proposta com os objetivos
buscados pelos alunos que, apresentam características imediatistas, sem deixar de
considerar a visão deste professor no primeiro contato ao perceber que estes alunos
necessitam muito mais que uma simples transmissão dos conteúdos presentes na
proposta. Necessitam também de conhecimentos que elevem a sua baixa
autoestima que acompanham uma grande maioria dos alunos da Educação de
Jovens e Adultos.
Entende-se que o grande desafio da Educação de Jovens e Adultos
consiste na busca de articulação do processo educativo específico de cada
disciplina com a diversidade sócio-cultural que estes apresentam buscando a
garantia de um ensino de qualidade tendo em vista a sua autonomia intelectual,
moral e social.
De acordo com as Diretrizes Curriculares (2005), na Educação de Jovens e
Adultos é preciso repensar as especificidades dessa modalidade de ensino,
considerando que a reconstrução do conhecimento deve se constituir em uma troca
entre esses sujeitos partindo da realidade na qual estão inseridos.
A inclusão da Educação Física na educação de jovens e adultos representa
a possibilidade de acesso, a cultura corporal de movimento. O acesso a esse
universo de informações, vivências e valores é compreendido aqui como um direito
do cidadão, na perspectiva da construção e usufruto de instrumentos para promover
a saúde, utilizar criativamente o tempo de lazer e de expressão de afetos e
sentimentos, em diversos contextos de convivência. Em síntese, a apropriação da
cultura corporal de movimento, por meio da Educação Física na escola, pode e deve
se constituir, num instrumento de inserção social, de exercício da cidadania e de
melhoria da qualidade de vida.
Portanto, entende-se a Educação Física escolar como uma disciplina que
introduz e integra o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que
vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir de
jogos, esportes, danças, lutas e das ginásticas em benefício do exercício crítico da
cidadania e da melhoria da qualidade de vida.
É necessário um esforço significativo de todos os profissionais envolvidos
com EJA, a fim de que sejam criadas as condições de valorização desse universo de
conhecimento, de modo que se tenha mais um núcleo de difusão dessa área cultural
que, para além de ser regida pela obrigatoriedade legal, tem seu valor na construção
da cidadania.
Necessidade de reconhecer ter chegado o momento de olhar para esse
segmento da sociedade brasileira e buscar novas formas de viabilizar seu acesso a
essa área de conhecimento. Trata-se de ajustar a proposta de ensino aos interesses
e possibilidades dos alunos de Educação de Jovens e Adultos, a partir de
abordagens que contemplem a diversidade de objetivos, conteúdos e processos de
ensino e aprendizagem, que compõe a Educação Física escolar na atualidade.
Desafio de perceber e considerar suas especificidades de caráter
metodológico, pois embora já exista um percurso em relação à Educação Física de
jovens e adultos, muitos caminhos ainda estão por ser percorridos. Ampliar a
diversidade de expressão, numa sociedade que valoriza intensamente (por vezes
exclusivamente) a linguagem escrita e a matemática, para um aluno que não domina
muito bem esses códigos, e que, portanto, pode ter uma imagem negativa de si,
pode levar ao caminho do fortalecimento da autoestima.
As discussões no âmbito da Educação Física para Educação de Jovens e
Adultos, com práticas expressas na cultura corporal, devem considerar que os
alunos já possuem uma representação da escola, da atividade física e da educação
física escolar, formada a partir das vivências que compõem a história pessoal de
cada um, por isso, é importante incluir na perspectiva do ensino, como um dos eixos
norteadores das ações educativas para jovens e adultos, possibilidades que
resgatem as memórias que foram ancoradas a partir das vivências das diferentes
práticas da cultura corporal. Isto representa valorizar e respeitar a história pessoal
do aluno e, sobre esta, reconstruir e continuar construindo os significados do
movimento e da cultura corporal.
O que os alunos trazem nas suas lembranças, deve constar como ponto de
partida do planejamento. Essas representações podem ser positivas ou negativas.
Positivas quando trazem referências de uma educação física integradora e diversa,
que não seja pautada apenas pelo esporte e sua organização seletiva. E negativas,
se o aluno apresentar dificuldades em romper com certas lembranças principalmente
com aquelas que se referem a exclusão, isto é, são premiados os ganhadores, os
“mais habilidosos”, pelo maior tempo de jogo, quando em situação de vitória
permanecem na quadra aguardando o próximo adversário, em detrimento daqueles
considerados “menos habilidosos”, que, ao perder, saem da disputa jogando durante
menos tempo, e um numero menor de vezes. Ou, ainda, numa situação individual,
quando o acerto é garantia de continuidade no grupo, e o erro é o caminho para a
exclusão.
Por tudo isso, ressalta-se a necessidade de construir este conhecimento
com participação do aluno, viabilizando a prática da inclusão.
No sentido da construção de identidade, será tão importante considerar os
valores construídos pelo aluno, ao longo de sua história pessoal, sobre a cultura
corporal de movimento, como também os valores difundidos pela mídia em torno
desse universo cultural.
Entende-se, que a Educação Física na Educação de Jovens e Adultos, deve
buscar uma prática inclusiva e como tal necessita apoiar, estimular, incentivar,
valorizar, promover e acolher o estudante, desta forma o processo de ensino e
aprendizagem deve ser baseado em compreensão, esclarecimentos e entendimento
das diferenças.
Cabe ao professor de Educação Física a construção de formas operacionais
e contextos pedagógicos para que valores relacionados ao princípio da dignidade
humana e construção de autonomia moral sejam exercidos, cultivados e discutidos
no decorrer das práticas escolares. Assim, as atividades realizadas precisam estar
pautadas em princípios como: respeitar e ser respeitado, realização de ações
conjuntas, diálogo efetivo com colegas e professores, prestar e receber
solidariedade, ter acesso a conhecimento que alimentem a compreensão e a
cooperação, análise crítica de situações concretas dentro e fora da escola.
A proposta curricular desta modalidade de ensino, enfatiza a importância em
diversificar as estratégias de abordagem de conteúdos, possibilitando que aluno e
professor participem de uma integração cooperativa de construção e descoberta, em
que o aluno contribui com seu estilo pessoal de executar e refletir e, portanto, de
aprender, trazendo em alguns momentos a síntese da atualidade para o instante da
aprendizagem, e o professor promove uma visão organizada do processo como uma
possibilidade real.
Tal organização torna os alunos corresponsáveis pelo processo de ensino e
aprendizagem, possibilitando desta maneira que o aluno sinta-se responsável pela
sua formação, bem como sentindo que a escola valoriza os seus saberes e
experiências.
Tendo em vista as considerações apontadas, buscar-se-á desenvolver uma
metodologia pautada em dinâmicas de autoestima, jogos cooperativos, atividades
rítmicas e recreativas.
O trabalho que será proposto pretende desenvolver dinâmicas de
autoestima, por entender que sociedade na qual a escola está inserida tornou o
aluno adulto fazendo com que se sinta incapaz, desvalorizado, sem respeito por si
mesmo sinalizando problemas de baixa valorização pessoal. A escola precisa
resgatar no aluno a confiança em si própria, na escola, e na própria sociedade.
Precisa o professor compreender o seu mundo, seus interesses, seus medos, sua
concepção de si mesmo e estabelecer laços emocionais que alicerce a construção
de uma escolarização ampla que prepare cidadãos que contribuam com seus
saberes no mercado de trabalho e na sociedade em geral.
De acordo com Bonet (1995), assim como preconiza o ditado grego, somos
o que pensamos a compreensão que temos do mundo a nossa volta é resultado das
nossas experiências e da representação mental que fazemos delas. Em suma, nos
tornamos o que acreditamos ser e nossas atitudes, objetivos e realizações estão
condicionados a concepção do que somos e podemos fazer. Os problemas
enfrentados pelos alunos podem estar relacionados ao fato de se menosprezarem e
até se considerarem seres sem valor e indignos de serem amados.
CONCLUSÃO
Ao finalizar o presente estudo, confirma-se a complexidade do trabalho na
disciplina de Educação Física na modalidade da Educação de Jovens e Adultos,
visto que inúmeras são as dificuldades, desafiando o docente na seleção de
conteúdos e de estratégias a fim de que consiga manter os alunos motivados para
participar plenamente das aulas.
Os resultados obtidos mediante a aplicação do questionário LEA-RI, não
atingiram grande significância, no entanto, acredita-se que seja importante que se
torne uma prática nesta modalidade de ensino, possibilitando ao professor a
percepção de quais atividades podem elevar os adjetivos positivos.
Pode-se afirmar após a aplicação do questionário LEA-RI, aplicado com o
objetivo de verificar o estado de ânimo dos alunos da modalidade de Educação de
Jovens e Adultos obtidos apontam um perfil estável de estados de ânimos
A implementação do projeto permite inferir que realmente há a necessidade
de oportunizar aos alunos uma prática diferenciada, que considere uma
multiplicidade de fatores tais como faixa etária, características da clientela, o estado
de ânimo dos alunos em participar das aulas, os valores, as crenças que estes
demonstram.
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