OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
MANIPULAÇÃO DE FOTOGRAFIA SURREALISTA: DO MANUAL AO DIGITAL1
Ana Lúcia Erdmann2
RESUMO
Este artigo apresenta o desenvolvimento e os principais resultados da implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, com a carga horaria de 32 horas/aulas do bimestre, desenvolvido com os alunos do 2o Ano do Ensino Médio no Colégio Estadual Eleodoro Ebano Pereira, no município de Cascavel – PR. Esta pesquisa teve como preocupação fomentar a experimentação da tecnologia como recurso facilitador no processo de ensino-aprendizagem da Arte através da fotomontagem, utilizando-se dos programas gráficos de manipulação de imagens, onde o aluno pôde usar seu prévio conhecimento na construção de sua própria aprendizagem. O objetivo da pesquisa foi proporcionar subsídios teórico-metodológicos para o desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas na disciplina de Arte, especificamente na área de Arte e Tecnologia, a partir do exercício efetivo da práxis, entendida como um processo dialético entre a teoria e a prática.
Palavras-chave: Ensino de Arte, Tecnologia, Fotografia.
1. INTRODUÇÃO
O ponto de partida deste estudo, desenvolvido pelo Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE), foi
o fato de partir de uma problemática da realidade vivida e percebida pelo professor na escola da Educação Básica, e ter a experiência como ponto inicial do movimento da pesquisa; e o fato de ter o compromisso de a ela retornar para intervir, provido de maior fundamentação teórica e novas alternativas para estratégias de ação. (PARANÁ. 2014, p.3)
1 Artigo apresentado como requisito parcial ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE no
Departamento de Políticas e Programas Educacionais da Secretaria do Estado da Educação – SEED, sob a
orientação da Profª Me. Desirée Paschoal de Melo.
2 Professora formada em Educação Artística na Universidade Estadual de Londrina, no ano 1994. Atualmente
leciona na escola Estadual Eleodoro Ébano Pereira na cidade de Cascavel.
Tendo em vista o crescente número de discentes interessados pelas tecnologias
no Ensino Médio e em contrapartida a notória apatia frente aos recursos educativos
tradicionais, o referido estudo teve como propósito usar a tecnologia como recurso
facilitador do processo de ensino-aprendizagem da Arte através da fotomontagem,
utilizando-se dos programas gráficos de manipulação de imagens.
O jovem hoje, com raras exceções, tem acesso à televisão, aos videogames, ao
computador e à internet, exploram com visível facilidade os recursos gráficos e sonoros,
a partir de programas de manipulação da imagem e do som.
O respectivo estudo foi desenvolvido durante a Implementação do Projeto do
PDE/ 2014 e foi destinado aos alunos do 2º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual
Eleodoro Ébano Pereira.
Foi estabelecida uma estreita relação entre Arte/ Fotografia/ Tecnologia, a fim de
acrescentar esses saberes à formação do aluno do Ensino Médio, além de estimulá-lo à
aprendizagem do ensino de arte.
Partindo da ideia de que os alunos possuem acesso à diversidade de imagens
contemporâneas, presentes diariamente nas mídias do seu cotidiano, foram ofertadas
atividades que aproximaram o Surrealismo e o artista André Boto, oportunizando aos
alunos o conhecimento e reconhecimento de influências da arte moderna em algumas
criações artísticas contemporâneas, bem como, ampliando o repertório de linguagens
artísticas dos alunos.
Segundo as DCEs (2008), a mediação do ensino da arte deve ser estruturada a
partir da: contextualização, da leitura de imagem, da diversidade cultural, produção
artística, respeitando e inserindo conceitos pertinentes à área de Arte. Sendo que, todas
elas podem ora estarem separadas, ora intrínsecas ou em pares, mas, que em todo
esse processo estejam presentes.
O movimento artístico Surrealismo foi selecionado, por ser um movimento da arte
moderna que proporciona discussões sobre as relações entre arte e vida, permitiu a
idealização de uma proposta de intervenção que valorizou a experiência pessoal,
através da leitura e criação de trabalhos artísticos, fazendo com que o aluno
compreendesse a existência do impossível, do surreal, tanto no mundo do imaginário,
dos sonhos, do subconsciente, quanto nas criações artísticas. Entre as linguagens
artísticas, a pintura deu início ao estudo, partindo para a fotomontagem e chegando à
fotografia digital, com o uso do programa de manipulação de imagem gratuito e
disponível na internet, o Gimp.
Ao pensar a arte contemporânea, foi escolhido o artista André Boto, pois suas
obras são conhecidas pela realização de fotomontagens, através da manipulação de
imagens, com utilização de softwares como o Photoshop. André Boto criou uma série
de trabalhos intitulada Surrealismo, de onde tirou inspiração de artistas surrealistas
como Salvador Dali e René Magritte, além de M.C. Escher que possibilita diálogos com
essa proposta.
E para contemplar a metodologia deste trabalho foi escolhido o pesquisador
Fernando Hernandez que defende que a organização do currículo deve ser feita por
projetos de trabalho, onde as diferentes fases e atividades que compõem um projeto
ajudam estudantes a desenvolver a consciência sobre o próprio processo de
aprendizagem. Sendo assim, buscou-se proporcionar ao educando uma maior
motivação com o uso da tecnologia, algo imprescindível na atualidade e que muito
contribuiu na qualidade das aulas de Arte.
A linha de estudo escolhida para esta pesquisa foi Tecnologia e suas linguagens
no ensino de Arte promovendo reflexões sobre o papel da tecnologia no contexto
escolar e para a disciplina e a utilização de recursos tecnológicos como o programa
GIMP disponível nos computadores do Laboratório de Informática como recursos
facilitadores no processo criativo em Arte.
Este artigo apresenta o desenvolvimento e os principais resultados da
implementação do Projeto de Intervenção Pedagogica na Escola, com a carga horaria
de 32 horas/aulas do bimestre, desenvolvido com os alunos do 2o Ano do Ensino Medio
no Colegio Estadual Eleodoro Ebano Pereira, no municipio de Cascavel – PR.
Em função de um espaço curto de tempo, o Tópico 7 previsto na Unidade
Didática, que é a montagem do portfólio, não aconteceu. O tempo gasto com o Tópico
6: Gimp extrapolou o previsto, por alguns alunos terem encontrado dificuldades no
manuseio do programa e pela lentidão de alguns computadores do Laboratório de
Informática.
Embora alguns imprevistos nos impediram de concluir todas as ações previstas,
sentimos que o trabalho foi muito válido e teve uma ótima receptividade por parte dos
colegas professores, funcionários, equipe pedagógica e diretiva do Colégio Estadual
Eleodoro Ébano Pereira.
Na intenção de tornar o texto mais claro para o leitor, a estrutura desse artigo
está organizada em três partes. A primeira parte apresenta uma revisão de textos,
artigos e livros sobre os conteúdos abordados nas atividades. A segunda parte
descreve de modo objetivo e sintético a descrição e a análise da implementação do
Projeto de Intervenção. A terceira parte apresenta as considerações finais sobre a
pesquisa-ação.
2. REVISÃO TEÓRICA
2.1 A Fotografia
A fotografia surgiu no século XIX e provocou uma grande comoção no meio
artístico, pois deixava em segundo plano qualquer tipo de pintura e libertou a arte da
necessidade de ser uma cópia fiel do real, dando um novo rumo à criatividade. Ao longo
dos anos, a fotografia foi utilizada para finalidade documental e artística.
De acordo com Ronaldo Entler (2007, p.5) a fotografia, quando surgiu no século
XIX, conquistou rapidamente as atenções do público, mas teve de enfrentar críticas de
artistas que não reconheciam sua importância estética.
Segundo Elena O’Neill, nos anos de 1920, os surrealistas se apropriaram da
ideia da fotografia como documento, como um fragmento da realidade. “Para Breton, as
imagens fabricadas eram a representação do mais que o sonho mesmo”. (2007, p.183)
2.2 A Fotomontagem
A fotomontagem fazia parte da reação de um grupo de artistas dadaístas, contra
a pintura a óleo, no final da Primeira Guerra Mundial. Foi um elemento de contestação
contra o caos do período entre as duas grandes guerras. Tadeu Chirelli afirma que
[...] a fotomontagem foi um método de criação e uma nova modalidade de expressão que, ao mesmo tempo, incorporava decididamente os elementos da nova realidade tecnológica que tomava conta do cotidiano – e a fotografia era o ícone máximo dessa realidade nova. (2003, p. 71).
As fotomontagens surrealistas, por meio de justaposições de imagens, desafiam
o lógico e instituem o irracional ao retirarem os objetos de seus cotidianos e mudando-
os para situações sem coerência. A manipulação da realidade é própria da
fotomontagem surrealista, uma vez que a justaposição de imagens une-se em um
mesmo espaço e criam uma realidade além daquela que estamos acostumados a ver.
O termo collage foi criado em 1918 por Max Ernst. Segundo Aline Fonseca
(2009), a collage é um processo que não acontece pelo simples fato de colar, mas pela
relação com a imagem e o distanciamento que se faz de seu cenário normal, dando
outro significado na composição recriando a realidade com justaposição (2009, p.54).
2.3 Surrealismo
Vários artistas do início do século XX pesquisaram e experimentaram
manifestações do inconsciente como forma de estimular a criatividade. O auge dessas
experiências de fenômenos psíquicos foi durante o movimento artístico e literário
chamado Surrealismo, criado por André Breton, em Paris, em 1924.
O Surrealismo surgiu durante a primeira metade do século XX, foi um movimento
que teve suas origens ideológicas especificamente nos métodos de Sigmund Freud,
revelando um mundo de ideias fantásticas do subconsciente. Os surrealistas, alguns
deles influenciados pela psicologia, participavam de experiências e métodos para
estimular a mente subconsciente para liberar imagens da sua imaginação e oníricas, e
assim as imagens do subconsciente podiam chegar à superfície.
Os surrealistas propunham a realização da criação estética sem a intervenção da
lógica convencional, apoiando-se, sobretudo, em três técnicas: automatismo psíquico,
sonhos e experiências de hipnose. Esses artistas acreditavam na libertação da
consciência dos recalques ou sublimações do inconsciente, porém com propósitos
diferentes aos métodos de Freud, que fazia seus estudos com a intenção de curar.
Queriam a libertação da mente, pela qual até o ser mais inculto, quando abandonado ao
turbilhão do inconsciente, pode ser gênio, apresentando uma reserva inesgotável de
obras autênticas, que não são motivadas pela preocupação de agradar ou pelo
interesse material, nem pela ambição artística, mas pela necessidade de deixar brotar
uma mensagem vindas das profundezas do ser. (FONSECA. 2009, p.58).
A autenticidade dos trabalhos surrealistas pode ser alcançada através de
recursos técnicos acessíveis por todas as pessoas, incluindo nossos alunos, que é a
proposta de nosso trabalho. Nessa acepção, segundo Renata Peixoto Rodrigues:
Atualmente existem equipamentos profissionais e semiprofissionais sofisticados, com muitos recursos facilmente utilizáveis a preços acessíveis; tornando popular a técnica da fotografia, do vídeo, da arte feita por computador, e faz com que esses recursos sejam amplamente utilizados por profissionais, por amadores e crianças (2012, p.26).
2.4 O Aluno e a tecnologia
O jovem hoje, com raras exceções, tem acesso à televisão, aos videogames, ao
computador e à internet, exploram com visível facilidade os recursos gráficos e sonoros,
a partir de programas de manipulação da imagem e do som. Faz-se então, necessária a
criação de projetos e trabalhos onde ele possa usar esse prévio conhecimento na
construção de sua própria aprendizagem.
Dentro da linguagem digital, a arte assume um papel expressivo onde trabalhos
artísticos podem ser desenvolvidos com o uso de softwares de edição de imagens em
que as ferramentas e os procedimentos são fáceis, acessíveis e muitas vezes intuitivos.
A arte digital possibilita a criação de trabalhos que muitas vezes não tem relação
com o mundo real, originando-se assim universos subjetivos, imaginários e fantásticos.
As tecnologias digitais no ensino de arte ampliam o conhecimento no campo de
pesquisa em arte, aumentam a produção de imagens, a fruição e a interação com
manifestações artísticas contemporâneas e tecnológicas. A associação das tecnologias
digitais com a arte transforma-se em um instrumento de mediação no processo de
ensino/aprendizagem e possibilita o contato com a produção em vários momentos da
história. Andréa Bertoletti (2010) destaca o avanço tecnológico no desenvolvimento de
softwares de criação e produção de imagens estáticas ou em movimento. Os softwares
livres são uma interessante ferramenta para utilização na prática educacional em arte,
como por exemplo, o Photoscape e o Gimp, que possuem recursos para serem
utilizados na criação ou manipulação de imagens e fotografias. (BERTOLETTI. 2010,
p.11)
Nesse entendimento, o aluno passa de mero reprodutor de cópias feitas a inserir
suas próprias ideias e vivências na criação poética e estética do trabalho solicitado.
Reforçando essa assertiva Rosemary Cândido (2011) assinala
A fotografia modela a percepção e age sobra a imaginação impondo uma lógica do real, como forma de comunicação. A fotografia faz com que tenhamos um olhar mágico. É um modo de facilitar na investigação e síntese de fatos. Declarada como linguagem de
criatividade visual em vários jeitos de expressão artísticas, a fotografia e seus processamentos de imagens, ainda se definem como uma maneira de ver, descobrir e questionar o passado e o presente. (CÂNDIDO. 2011, p. 14).
2.5 André Boto
A organização de trabalhos com fotomontagem é comum na obra do fotógrafo
André Boto3. Almeida (2014) salienta que a obra de André Boto é conhecida pela
extensa manipulação de imagens na pós-produção das fotografias, com a realização de
fotomontagens e a utilização de técnicas de desenho digital, o que acaba
transformando suas obras em um produto híbrido entre a fotografia, o desenho e a
pintura em computador.
Atualmente reconhecido como fotógrafo, André Pina Moreira Boto, desenvolve
trabalhos de fotografia autoral e artística. A maior parte de suas obras é trabalhada com
softwares de manipulação de imagens, como o Photoshop. André Boto auto intitula-se
“construtor de imagens”, em vez de fotografo. Termo usado porque alem de tirar suas
próprias fotografias, produz imagens com o uso do computador.
Após a conclusão de sua formação acadêmica em Artes Decorativas no Instituto
Politécnico de Beja (Portugal), fez cursos de Fotografia Avançada e Fotografia
Conceitual na mesma época em que começou a criar a série de obras intitulada
Surrealismo.
O artista obteve fama ao ser nomeado o Fotógrafo Europeu do Ano, pela
Federation of European Photographers, em 2010.
Almeida fala que Boto ao ser perguntado sobre suas influências, não cita
nenhum fotógrafo em especial, somente artistas. Suas principais influências são o
3
� André Boto, um fotógrafo português contemporâneo, pouco conhecido no Brasil, mas que vem
chamando a atenção da mídia e do público na Europa, principalmente após receber o prêmio de fotógrafo
europeu do ano de 2010.
holandês M. C. Escher (1898-1972), o belga René Magritte (1898-1967) e o espanhol
Salvador Dalí (1904-1989), artistas que, cada um à sua maneira, trabalharam a questão
do fantástico e do surreal em suas obras.
De acordo com Almeida (2014)
as fotografias de André Boto, apesar de serem oriundas de imagens
técnicas, são também uma forma de expressão artística. Suas
imagens da série Surrealismo são construídas do início ao fim, desde
a tirada das diversas fotografias que formarão a fotomontagem final,
até a construção da fotomontagem propriamente dita. Ao tirar as
fotos, ele exerce sua inventividade nas escolhas de composição e
ajustes da câmera, às vezes mesmo sem perceber. E, ao manipular e
juntar as imagens em computador, montando cuidadosamente cada
elemento da imagem, ele cria uma espécie de pintura digital, que
corresponde a suas intenções plásticas e conceituais (ALMEIDA,
2014, p.8).
2.6 Metodologia
Para realizar esse trabalho como atividade em sala de aula foi escolhida as
propostas de projetos de trabalho de Fernando Hernandez e Bruno Munari, como
metodologias que irão auxiliar o aluno em sua aprendizagem projetual, conceitual,
atitudinal e procedimental, centrada na criatividade e nas atividades discentes,
enfatizando a construção de conhecimentos pelos alunos. A relação de
ensino/aprendizagem se dá na construção do conhecimento de forma dinâmica,
contextualizada, envolvendo aluno e professor num processo de troca de experiências.
Dentro da proposta de trabalho de projetos de Hernandez, a avaliação passa a fazer
parte de todo o processo, possibilitando ao aluno tomar consciência de seu processo de
aprendizagem, ou seja, descobrir o que aprendeu e o que ainda não domina. O
acompanhamento desse processo de ensino/aprendizagem é feito a partir de registros
que auxiliam na organização do trabalho, descobrindo dúvidas, inquietações e
esclarecendo o processo vivido.
O instrumento mais indicado para esse tipo de avaliação é o Portfólio, pois
demonstra a construção do processo de aprendizagem do aluno.
Hernandez afirma que
O que caracteriza o portfólio como modalidade de avaliação não é
tanto seu formato físico (pasta, caixa, CD-ROM, etc.) como a
concepção do ensino e aprendizagem que veicula. O que
particulariza o portfólio é o processo constante de reflexão, de
contraste entre as finalidades educativas e as atividades realizadas
para sua consecução, para explicar o próprio processo de
aprendizagem e os momentos- chaves nos quais o estudante
superou ou localizou um problema. (HERNANDEZ. 1998, p. 100).
O trabalho de projetos é uma forma de educação escolar mais flexível e aberta
que possibilita uma formação integral do indivíduo, mais democrática com respeito às
diferenças culturais e cognitivas do aluno tirando-o de uma condição de submissão,
com a mediação necessária, para uma condição de opinar, questionar, participar,
construir, o seu processo de aprendizagem.
Portanto esse projeto intensifica a proposta do uso da linguagem tecnológica em
Arte que se perpetua ao longo da história da humanidade e não se esgota, apenas
aprimora-se, recria-se e permite várias releituras e formas a serem apresentadas aos
alunos podendo descobrir novos talentos sempre acompanhados da criatividade
maravilhosa do ser humano. Por isso a escolha desse recurso em Arte que virá ao
encontro da exploração das habilidades artísticas para assim, acrescentar no currículo
escolar trazendo tanto aulas prazerosas com também de qualidade.
3. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DA IMPLEMENTAÇÃO
Frente ao desafio de tornar as aulas de Arte mais atrativas e interessantes com o
uso da tecnologia, a implementação aconteceu no colégio Eleodoro Ébano Pereira com
os alunos do 2º ano F do Ensino Médio. As atividades foram desenvolvidas no período
de julho à outubro de 2015, tendo como objetivo experimentar da tecnologia como
recurso facilitador do processo de ensino-aprendizagem da Arte.
Participaram da implementação uma turma de 35 alunos, sendo três deles
surdos, acompanhados de uma intérprete.
O Colegio Eleodoro “caracteriza-se como uma escola inclusiva, pois há anos tem
matriculado alunos com as mais diversas necessidades educacionais” e recebe ao
longo do Ensino Médio alunos surdos provenientes da ACAS, e busca atender essas
particularidades e necessidades.
Sabe-se que na inclusão de alunos surdos a maior preocupação é a questão da
comunicação, sendo assim o uso da imagem é de suma importância para a
comunicação e educação do surdo.
Ler imagens é importante durante toda a vida de uma pessoa. O contato com a
imagem sensibiliza e desenvolve o olhar. A linguagem das artes visuais, a imagem,
ajuda o aluno a interagir com o mundo, a comunicar e expressar ideias e sentimentos,
conhecer o mundo e conhecer-se a si mesmo. Desenvolve a sensibilidade, a
imaginação e outras maneiras de pensar, sentir, aprender e agir.
É relevante frisar que a leitura de imagem é um dos momentos da prática
pedagógica, ou seja, sentir e o perceber. Para que o trabalho fique completo faz-se
necessário desenvolver o fazer artístico, fundamentando-o com o conhecimento teórico
em Arte.
As Artes Visuais na educação do aluno surdo, juntamente com Libras, e as várias
possibilidades de construção e leitura visual, levam o aluno surdo a se expressar e se
comunicar com as demais pessoas. Vale destacar que a primeira língua de uma criança
surda não é o português como a das crianças ouvintes, e sim a língua brasileira de
sinais, Libras. A língua de sinais é expressa através da modalidade espacial-visual.
É importante o uso de representações visuais como estratégia de ensino numa
proposta pedagógica inclusiva, objetivando desenvolver o raciocínio estabelecendo
relações e comparações. Sendo a língua do surdo uma língua de sinais, ou seja, uma
língua visual, a sua educação deveria ser essencialmente visual.
Na primeira ação foi a apresentação do projeto oportunizando ao aluno colocar-
se como sujeito ativo e transformador do seu próprio processo de
ensino/aprendizagem, tornando-se ciente do que será abordado e do que se espera
dele ao final da aplicação do projeto sendo o registro uma prática fundamental e
necessária durante todo esse processo.
Em seguida, o objetivo foi estudar o Movimento Surrealista e seus principais
artistas. Fazer a leitura de imagem de várias obras surrealistas. Após a apresentação
do Surrealismo e os principais artistas utilizando apresentações do Prezi, os alunos
teceram comentários e observações acerca do movimento e suas obras. Torna-se
importante em uma sala com alunos surdos escrever no quadro o nome dos artistas
trabalhados e apresentar a fotografia destas mesmas pessoas para que a
aprendizagem seja mais concreta e significativa.
Segundo a auto avaliação do projeto, os alunos chegaram à conclusão de que o
Surrealismo “tem ideias inimaginaveis, faz a mente abrir...” (aluno 2º F).
Na terceira ação foi utilizada a linguagem fotográfica sensibilizando os alunos e
aprimorando seu olhar, levando-os a um olhar mais crítico e sensível no mundo em que
vivem. A proposta era de que os alunos fizessem primeiramente uma pesquisa sobre
grandes nomes da fotografia com poéticas diferentes como Sebastião Salgado, Annie
Leibovitz, Cristiano Mascaro.
Foi proposto aos alunos sair pelo colégio e fotografá-lo em ângulos inusitados.
As fotografias são importantes por que fornecem informações e ensinam um código
visual, transformando o olhar do aluno e direcionando o que vale a pena ser olhado, ou
não.
Outra atividade proposta foi que os alunos deveriam fotografar o caminho de
casa até o colégio. Neste percurso eles deveriam escolher o que fotografar, baseados
na pesquisa feita dos grandes nomes da fotografia. Foi feito o seguinte questionamento:
escolher fotografar todas as árvores neste caminho? Todos os cachorros? Ou todos os
prédios? Ter um olhar mais romântico e registrar todos os casais de namorados, as
flores, ou um olhar mais crítico, e denunciar a pobreza e a desigualdade social? Sob
qual olhar será feito este registro? A Partir desta reflexão os alunos deveriam trazer uma
sequência de fotos mostrando o caminho da sua casa até a escola e o que ele escolheu
valorizar através da lente da sua máquina fotográfica ou celular. Foi tão prazeroso e
instigante para os aluno que eles solicitaram apresentar suas fotos no multimídia da
escola.
A Ação número quatro foi a fotomontagem manual. Primeiramente foi
apresentada aos alunos uma sequência de imagens com fotomontagens manuais, para
que eles entendessem fotomontagem no processo manual e tivessem um repertório
visual para dar início e planejar o trabalho. Ao total foram gastas cincos aulas para este
tópico.
A quinta ação foi conhecer o artista André Boto e sua obra. No laboratório de
informática os alunos acessaram o site, assistiram aos vídeos e apreciaram suas obras.
Na sequência os alunos se aprofundaram no programa Gimp. O pontapé inicial
neste assunto foi dado no início do projeto, onde logo após ser trabalhado o
Surrealismo, o programa foi apresentado aos alunos para que eles pudessem acessar
os tutorias sobre o uso das ferramentas do programa e fossem se familiarizando e
aprendendo. Nesta pesquisa a aprendizagem é centrada na criatividade e nas
atividades discentes, enfatizando a construção de conhecimentos pelos alunos.
A partir disso, durante toda a implementação do projeto, os alunos trouxeram
dúvidas, edições e manipulações conforme foram aprofundando seu conhecimento com
esta ferramenta. E também foram ofertadas 10 aulas no laboratório de informática para
que fosse feita a manipulação digital. As fotos trabalhadas foram as que eles mesmos
tiraram. Alguns alunos preferiram levar seu próprio notebook para esta tarefa, já que
alguns computadores apresentaram defeitos no cursor do mouse. Os que não puderam
levar seu notebook lidaram com alguns imprevistos e falhas em alguns computadores, o
que resultou em atraso na conclusão de seus trabalhos.
Foram testadas várias ferramentas e trabalhados inúmeros efeitos disponíveis
no programa.
A satisfação foi aparente. Porém alguns alunos apresentaram mais facilidades do
que outros. Alguns por já terem feito curso de photoshop, outros por terem aprendido
sozinhos e outros necessitaram de um pouco mais de atenção, de ajuda dos próprios
colegas e de um tempo maior para concluírem sua fotomontagem.
Em função do tempo gasto com esta etapa ter sido maior do que o esperado, a
atividade do portfólio não aconteceu. Foi substituída por uma auto avaliação por escrito,
onde foi opcional identificar-se. Nesta avaliação os alunos puderam colocar pontos
positivos, negativos e sugestões sobre todo o desenvolvimento do projeto.
Todas as etapas do estudo foram importantes e instigantes. Percebeu-se nesta
que os alunos se apropriaram dos conteúdos trabalhados e conseguiram compreender
a importância de usar a tecnologia com ferramenta criativa em Arte.
Todos os trabalhos foram impressos em papel A4, identificados emoldurados e
expostos no saguão de entrada do colégio.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os objetivos propostos para o desenvolvimento deste estudo e a
partir das ações realizadas percebemos que é possível trabalhar arte e tecnologia no
cotidiano escolar através dos recursos disponíveis.
Ficou claro que trabalhar arte e tecnologia em sala de aula contribui para vencer
os desafios encontrados no processo de ensino e aprendizagem em Arte. O uso da
tecnologia contribui na construção do conhecimento em Arte e no desenvolvimento do
aluno como um todo. A tecnologia motiva e dinamiza o conteúdo, tornando o ensino
mais prazeroso. Leva o aluno a refletir, analisar, debater, e tomar decisões. Incentiva a
leitura, oralidade, interpretação, raciocínio, escrita, pesquisa, imaginação, criatividade,
entre outros. Desenvolve o conhecimento artístico ao analisar os movimentos culturais,
artistas e obras de arte.
A presença das tecnologias trouxe nova dinâmica à maneira de se comunicar, se
informar e, sobretudo, aprender.
O ensino da arte aliado ao uso da tecnologia possibilita transformar o ensino em
experiências concretas de aprendizagem na formação de um sujeito transformador da
sua realidade e na construção da sua identidade cultural. Através da inter-relação de
arte e tecnologia é possível desenvolver nos alunos um olhar mais amplo, mais
profundo e mais crítico, desenvolver também a capacidade de colocar plena atenção
em novas formas de ver o mundo, de maneira mais consciente, crítica e,
principalmente, mais humana.
É possível pensar o ensino de arte na escola e o uso de diferentes materiais, na
construção do conhecimento e no desenvolvimento do aluno como um todo, e é nesse
momento que devemos aproveitar o interesse pelos recursos tecnológicos e inseri-lo
em nossas aulas. O professor deixa de ser um transmissor de conhecimentos para se
posicionar como um mediador de diversas linguagens e oportunidades educativas.
Assim sendo, lembro que este estudo pode contribuir para com o trabalho de
outros professores, e por ser um tema bastante amplo, pode ser aprofundado com
leituras que podem enriquecer esta experiência.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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