Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
USO DO LABORATÓRIO NA DISCIPLINA SOLOS: uma reflexão sobre a
retomada das aulas teórico-práticas na formação da educação profissional
Andrea Mello Cório Di Buriasco1
Marcos Augusto Moraes Arcoverde2
Resumo: O presente artigo aborda o tema “aulas práticas” dentro da disciplina Solos em conformidade com o Projeto de Desenvolvimento Educacional (PDE 2013) da Secretaria de Educação do Estado do Paraná e tem como objetivo descrever sobre a importância das aulas práticas em laboratório como ferramenta de ensino no curso técnico em agropecuária do Centro Estadual de Educação Profissional Manoel Moreira Pena. A disciplina “Solos”, no contexto do curso técnico em agropecuária, tem um importante papel, pois o solo desempenha uma grande variedade de funções vitais, de caráter ambiental. Já no início do curso, observa-se uma dificuldade por parte dos alunos em relacionar os conceitos da disciplina com o seu dia a dia, em decorrência da não abstração de alguns conteúdos em aulas teóricas. Diante de tantas informações novas e que requerem um melhor entendimento de alguns saberes mais aprofundados, propõe-se aulas práticas em laboratório como ferramenta facilitadora do aprendizado. Atualmente, as disciplinas técnicas não contam com material didático de suporte para aulas teóricas e tão pouco para aulas práticas, assim, a confecção de uma coletânea de aulas práticas de solos no laboratório para o 1
o ano do curso técnico
em agropecuária, apresenta-se como uma proposta para incentivar e estimular os alunos a apreenderem mais conceitos nas aulas de solos. Palavras-Chave: Solos. Aulas Práticas. Laboratório. Incentivo.
1 Introdução
O Centro Estadual de Educação Manoel Moreira Pena de Foz do Iguaçu,
mais conhecido como Colégio Agrícola, conta com o curso técnico em agropecuária,
modalidade integrado, e possui em sua grade curricular a disciplina Solos. Essa tem
um importante papel, pois o solo desempenha uma grande variedade de funções
vitais, de caráter ambiental, ecológico, social e econômico, constituindo um
importante elemento paisagístico, patrimonial e físico para o desenvolvimento de
infraestruturas e atividades humanas. A disciplina Solos está presente nos três anos
de duração do curso e não é contemplada, na grade curricular, com aulas práticas.
No primeiro ano do curso, esta disciplina trata de conteúdos básicos para uma
compreensão geral do solo, incluindo, entre outros, os seguintes: Gênese,
Morfologia e Física dos solos; Perfil do solo; Classificação textural do solo; Matéria
Orgânica; Água do solo, Ar do solo; Classificação física, Classificação Biológica e
Capacidade de Campo.
1 Professora PDE. Graduação em Agronomia. Docente em Agricultura. E-mail:
[email protected] 2 Professor Orientador, Mestre. Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Centro de Educação,
Letras e Saúde. E-mail: [email protected] .
Já no início do curso, observa-se uma dificuldade, por parte dos alunos, em
relacionar os conceitos da disciplina Solos com o seu dia a dia, em decorrência da
não abstração de alguns conteúdos em aulas teóricas.
Aulas práticas são de extrema importância para o aprendizado do aluno, pois,
como se sabe, potencializam a fixação do conhecimento. Os alunos não conseguem
se apoderar de um conhecimento eficaz quando nos apropriamos apenas de aulas
ministradas com base na transmissão e memorização de conteúdo. A prática efetiva
a teoria aprendida em sala de aula fazendo com que os alunos construam um
conhecimento significativo.
Para aulas no laboratório, que é o objetivo do projeto, se faz necessário um
planejamento dentro do Plano de Trabalho Docente da disciplina em questão, a
presença um ambiente destinado a estas práticas cuja estrutura ofereça um mínimo
de reagentes, equipamentos e materiais de suporte, que “Aulas Práticas” faça parte
do Plano de Curso da escola como ferramenta pedagógica, ocorrendo assim um
incentivo por parte da equipe pedagógica, que a turma se divida em duas para que o
professor possa desenvolver atividades práticas com menos alunos por aula para
que haja um melhor aprendizado e que haja um laboratorista em tempo integral para
dar suporte ao professor.
O CEEP Manoel Moreira Pena conta com laboratório para aulas práticas
munido de equipamentos, reagentes, materiais de consumo, vidrarias e instrumentos
que são pouco utilizados pelos alunos do curso técnico em agropecuária. Este
ambiente pode ser bem mais explorado por professores e alunos.
Diante deste contexto, em que o educando se depara com tantas informações
novas, e que requerem um melhor entendimento de alguns saberes mais
aprofundados, foi elaborado o projeto PDE/2013 com o tema “A importância de aulas
práticas para melhor compreensão e abstração de conceitos na disciplina de solos”,
propondo uma coletânea de aulas práticas de solos em laboratório a serem
trabalhadas como ferramenta facilitadora do aprendizado, assim, despertando no
aluno um desejo de crescimento contínuo do conhecimento, além de incentivar
professores de outras disciplinas a utilizarem mais o laboratório em suas aulas como
um auxiliar em suas dinâmicas.
Para Marques et al (2008):
a aula prática é uma sugestão de estratégia de ensino que pode contribuir
para melhoria na aprendizagem, pois além dos experimentos facilitarem a compreensão do conteúdo, tornam as aulas mais dinâmicas, tendo assim uma aprendizagem mais significativa.
O projeto foi implementado no laboratório da escola durante as aulas de solos
do primeiro semestre do primeiro ano do curso técnico em agropecuária e abordou
os temas citados acima que fazem parte da programação curricular.
O presente artigo teve como objetivo descrever sobre a importância das aulas
práticas em laboratório na disciplina Solos como ferramenta de ensino no curso
técnico em agropecuária do Centro Estadual de Educação Profissional Manoel
Moreira Pena.
2 Fundamentação Teórica
Nas últimas décadas observamos grandes transformações econômicas,
sociais e culturais em nossa sociedade. A globalização teve e tem uma forte
influência nestas mudanças. Os estudantes de agora vivem num mundo de fácil
acesso às informações e com muita interatividade. Nesta globalização do
conhecimento, observa-se que a educação mudou, mas que a escola, timidamente,
vem tentando se adaptar a uma vida moderna trazendo inovações que buscam
melhorar a qualidade no ensino. Uma nova visão de escola e do papel da educação
reivindica uma atuação num conjunto de saberes em que se obtenha o crescimento
intelectual e social do aluno como cidadão, inserido na sociedade de forma atuante e
reflexivo.
Cabe salientar que escola e sociedade trocam certa sinergia, entendendo que
a escola sofre influência da sociedade da mesma forma que influencia. Assim,
também é possível compreender que:
a educação escolar possui um papel insubstituível como provedora de conhecimentos básicos e habilidades cognitivas e operativas necessárias para a participação na vida social e no que significa o acesso à cultura, ao trabalho, ao progresso e à cidadania (LIBÂNEO apud VASCONCELOS et. al. 2002, p. 4).
O plano de curso do curso Técnico em Agropecuária forma integrada, do
CEEP Manoel Moreira Pena, propõe “uma formação na qual a teoria e a prática
possibilitem aos alunos compreenderem a realidade para além de sua aparência,
onde os conteúdos não têm fins em si mesmos porque se constituem em sínteses da
apropriação histórica da realidade material e social pelo homem” (CEEP MANOEL
MOREIRA PENA, 2011, p. 01).
A disciplina Solos, em concordância ao plano de curso, vem contribuir com
essa formação por trata-se de uma ciência importante para o desenvolvimento social
e econômico de um país e região. O estudo do solo é indispensável para o
planejamento de uso da terra nos mais diversos setores como agronomia, geologia,
geografia, geomorfologia e biologia.
Neste contexto de formação, verifica-se a importância do aluno se apoderar
dos conhecimentos sobre o solo propondo-se assim incentivar a utilização de mais
aulas práticas nesta disciplina como ferramenta de aprendizado.
Para Demo:
o aluno que apenas ouve, copia, repete, reproduz, faz prova e cola, não abandona a condição de objeto de domesticação. Precisa ser instigado, provocado, desafiado a contribuir, a desenvolver capacidade de raciocínio, de posicionamento (1993, p. 104).
Muitos professores ainda trazem consigo a concepção de que cabe ao aluno
apenas memorizar o conteúdo transmitido por ele de uma forma sistematizada e
organizada.
Nesse contexto, e de acordo com Vasconcellos:
na metodologia expositiva o aluno recebe tudo pronto, não problematiza, não é solicitado a fazer relação com aquilo que já conhece ou a questionar a lógica interna do que está recebendo, e acaba se acomodando. A prática tradicional é caracterizada pelo “blá-blá-blante”, salivante, sem sentido para o educando, meramente transmissora, passiva, a-crítica, desvinculada da realidade, descontextualizada (1995, p. 20).
Portanto, o ato de apenas transmitir um conhecimento de forma restrita ás
paredes da sala de aula dificulta o aprendizado dos alunos levando-o a um fracasso
escolar (LIBÂNEO, 1994, p. 79).
Para Freire:
ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Devemos utilizar recursos que levam o aluno a participar, a interagir com os colegas, a pesquisar, a debater, a propor situações problemas e refletir (1996, p. 22).
Assim, o professor deve assumir o papel de mediador, incentivando e
ajudando o aluno a participar do processo ensino aprendizagem. E nesse contexto,
as aulas práticas podem ajudar no desenvolvimento de conceitos científicos, além de
permitir que os estudantes aprendam como abordar objetivamente o seu mundo e
como desenvolver soluções para problemas complexos (LEITE; SILVA; VAZ, 2005).
Aulas práticas utilizadas como uma variação de recurso didático cria um
ambiente mais motivador tanto para alunos como para professores, além de
proporcionar diferentes meios de aprender, pois nem todos aprendem de uma
mesma maneira.
Quando colocamos o aluno em situações na qual ele pode observar o objeto
de estudo de uma maneira a abstrair o conhecimento por si próprio, levantando
questionamentos, instigando sua criatividade e experimentando, a abstração do
conhecimento flui, o aprendizado acontece.
Aulas teóricas devem sempre estar associadas a aulas práticas, digo para
qualquer disciplina, uma complementa a outra. Para Bordenave (1984, p. 120), “as
aulas práticas devem incentivar perguntas que as aulas teóricas responderão, por
isso não deve existir uma separação entre esses dois tipos de aulas.”
O professor deve sincronizar suas aulas teóricas às práticas estimulando e
induzindo o aluno encaixar o quebra cabeça dos aprendizados que muitas vezes
ficam dispersos no seu entendimento.
Conforme fala Vasquez (1968, p. 117), “é atividade teórica e prática que
transforma a natureza e a sociedade; prática na medida em que a teoria, como guia
da ação, orienta a atividade humana; teórica, na medida em que esta ação é
consciente”.
Segundo Borges:
a ciência, em sua forma final, se apresenta como um sistema de natureza teórica. Contudo, é necessário que procuremos criar oportunidades para que o ensino experimental e o ensino teórico se efetuem em concordância, permitindo ao estudante integrar conhecimento prático e conhecimento teórico (2002, p. 298).
Não há dúvidas de que quando nos apoderamos de uma metodologia de
ensino em que utilizamos aulas teóricas sincronizadas às aulas práticas, corremos o
risco, desejado, de alcançarmos um aumento no rendimento escolar de nossos
alunos e consequentemente uma satisfação de tarefa cumprida.
Paulo Freire (1982, p. 135) em sua sabedoria e riqueza de conhecimento
afirma que: "separada da prática, a teoria é puro verbalismo inoperante:
desvinculada da teoria, a prática é atavismo cego. Por isso mesmo é que não há
práxis autêntica fora de uma unidade dialética ação-reflexão, prática-teoria”.
3 Metodologia
O início das atividades de implementação do Projeto de Intervenção Didático-
Pedagógica ocorreu com o planejamento da disciplina Solos com definição dos
conteúdos a serem trabalhados no 1o semestre, bem como delimitação das aulas
práticas correspondentes. Na sequência, o projeto foi apresentado a todos os
professores, funcionários e equipe pedagógica da escola durante a Semana
Pedagógica no início do ano letivo de 2014. Esta apresentação teve como objetivo
principal explanar sobre a importância de tal projeto como ferramenta facilitadora ao
entendimento de conceitos de solos contribuindo assim no processo ensino-
aprendizagem dos alunos. Com o início das aulas, o projeto foi exposto aos alunos
juntamente um cronograma de ações a serem realizadas durante o primeiro
semestre de 2014. Este projeto de implementação constituiu na aplicação de seis
modelos de aulas práticas de solos que foram realizadas em laboratório. Uma cópia
do procedimento de cada aula prática foi disponibilizada a todos os professores para
que pudessem utilizar em suas disciplinas.
Antes de iniciarmos as aulas no laboratório os alunos receberam orientações
com relação às normas de segurança estabelecidas para seu uso, bem como o uso
correto de seus materiais e equipamentos.
O início do desenvolvimento das aulas práticas ocorreu na sequência dos
conteúdos trabalhados em aulas teóricas explanadas, utilizando, frequentemente,
recursos de multimídia para exploração de figuras e imagens ilustrativas. Esses
conteúdos englobaram os temas Formação do Solo, Atividade Microbiana do Solo,
Infiltração e Retenção de Água no Solo, Consistência do solo, Análise
Granulométrica do solo e Determinação do Carbono Orgânico e da Matéria Orgânica
do Solo.
Algumas dificuldades foram encontradas no decorrer das aulas práticas. As
turmas são compostas em média por 38 alunos, um número elevado para atividades
práticas que requerem do professor um atendimento mais personalizado ao aluno,
com isso, enquanto se explicava determinadas ações a serem realizadas para um
grupo, os outros tinham que ter paciência e esperar, os últimos grupos foram um
pouco prejudicados por terem menos tempo para realizarem suas atividades. Outro
ponto dificultoso foi a falta de um laboratorista que me auxiliasse no pré preparo das
aulas ou até mesmo durante as aulas, principalmente nas aulas de determinação da
matéria orgânica do solo e de análise física do solo.
Embora as dificuldades enfrentadas, houve uma riqueza na apropriação de
conhecimentos que extrapolou os conteúdos de solo explorando no mínimo
conteúdos de geografia, química, biologia, português, administração rural,
matemática e produção vegetal. Sempre que possível, foi chamada a atenção dos
alunos para que associasse a prática em questão aos conteúdos de outras
disciplinas, proporcionando assim, a interdisciplinaridade, importante no processo de
ensino aprendizagem.
Na sequência, estão descritas as seis atividades realizadas durante as aulas
práticas, além de descrever como os alunos executaram os procedimentos práticos.
3.1 Aula Prática – Formação do Solo
Essa atividade teve como objetivo explicar o processo de pedogênese e
intemperismo o solo demonstrando como ocorre sua formação gradativa pela
transformação constante das rochas pelos fenômenos químicos, físicos e biológicos. O
procedimento utilizado para essa prática foi disponibilizado pela ESALQ/USP3
Cada grupo de 4 alunos recebeu um recipiente de plástico transparente e
foram orientados a montar os horizontes do solo representando o perfil de um dos
tipos de solos presentes no Estado do Paraná, Latossolo, Cambissolo, Nitossolo,
Argissolo, Gleissolo, Espodossolo, Organossolo e Neossolo. Os alunos buscaram na
área da própria escola materiais que pudessem representar o tipo de solo que iriam
representar. Houve bastante entusiasmo, dedicação e dúvidas que foram sanadas à
medida que iam surgindo. Após a confecção dos perfis do solo o grupo respondeu
um questionário abordando as seguintes questões: Quais são os fatores de
formação de solo (fatores pedogenéticos)?; Como o clima afeta a formação do
3 Programa de Extensão Universitária Solo na Escola/Esalq. Coordenado pelo Prof. Dr. Antonio Azevedo
do Departamento de Ciência do Solo. Experimento #5.
solo?; Quais os processos de formação de solo (processos pedogenéticos)?; Como
os organismos afetam a formação do solo?; Como o relevo afeta a formação do
solo? Como o material de origem afeta a formação do solo?
As respostas dos grupos foram discutidas em conjunto e na sequência, cada
grupo apresentou o seu perfil do solo presente no estado do Paraná, resaltando
suas principais características e sua localização no Mapa Simplificado de Solos do
Estado do Paraná. Na apresentação, eles utilizaram a TV para projetarem várias
imagens em Power Point para ilustra melhor o perfil. Os alunos interagiram e se
mostraram curiosos em conhecer os solos no geral e principalmente do local de suas
residências, pois a maioria mora em outros municípios. Nesta prática, além do
estudo do perfil e classificação do solo, os alunos praticaram a fala em público, fato
corriqueiro na profissão do técnico em agropecuária.
3.2 Aula Prática – Atividade microbiana do solo
Essa prática teve como objetivo demonstrar de forma qualitativa a atividade
microbiana do solo incluindo as reações metabólicas celulares, suas interações e seus
processos bioquímicos mediados ou conduzidos pelos organismos do solo, fixando
seus conceitos e ressaltando a importância da atividade biológica e respiração do solo
associado um manejo adequado do mesmo. A atividade executada no laboratório foi
disponibilizada pela UFPR4 e constituiu em conectar ao bico de saída do kitassato a
mangueira de silicone e atarraxá-la com a braçadeira; transferir 400 g de solo úmido
para os Kitassatos; dividir o solo em duas partes iguais e numa delas adicionar uma
colher de sopa de açúcar; misturar bem, com auxílio da colher, até ficar imperceptível a
presença do açúcar no solo; vedar hermeticamente os kitassatos com a rolha de
borracha; colocar a extremidade da mangueira do kitassato dentro do frasco de
maionese contendo água (aproximadamente 300 mL). Após três dias da montagem do
experimento foi verificada a formação de bolhas de ar dentro da água, confirmando
assim a presença de microrganismos no solo. Com base nos conhecimentos adquiridos
em aulas teóricas e principalmente pela aula no laboratório, foi pedido aos alunos que
fizessem um trabalho conceituando a atividade microbiana do solo, a respiração do
4 Experimentoteca de Solos – Projeto Solo na Escola – Departamento de Solos e Engenharia Agrícola
da UFPR - Jair Alves Dionísio - Professor Doutor (DSEA/UFPR).
solo e explicando a influência da adição de glicose na respiração do solo. Os trabalhos
foram recolhidos, corrigidos e pode-se observar um desempenho muito satisfatório,
com respostas bem embasadas, confirmando assim a aula prática como uma
ferramenta indispensável para o bom aproveitamento das aulas de solos.
3.3 Aula Prática – Infiltração e Retenção de Água no Solo.
Essa prática teve os seguintes objetivos: demonstrar aos alunos aspectos
básicos sobre os componentes do solo, que são os minerais e matéria orgânica (fase
sólida), o ar do solo (fase gasosa) e a solução do solo (fase líquida), estes dois últimos
ocupando seu espaço poroso; Mostrar a capacidade de infiltração e retenção da água
em diferentes tipos de solo; e também exaltar a importância da matéria orgânica na
retenção da água. O material utilizado para esta prática foi disponibilizado pela UFPR5.
Antes de se iniciar o experimento foi lançado aos alunos alguns
questionamentos para que pudessem formular hipóteses do que iria acontecer, para
depois, confrontar com os resultados obtidos após o experimento. Os
questionamentos foram: Quando se jogar a água sobre as amostras, ela se infiltrará
(entrará nestes solos) ou ficará ali parada?; Em qual das amostras a água vai
começar a pingar antes?; Em qual das amostras a água irá pingar por mais tempo?;
Qual amostra pingará mais água?; Qual das amostras demorará mais tempo para
começar a pingar a água?; A água que sair das amostras será cristalina ou terá uma
outra coloração?; Qual das três amostras armazenará mais água?; Qual dessas
amostras pode ser melhor para as plantas absorverem água para seu
desenvolvimento e sobrevivência?; Qual solo poderá inundar com maior facilidade
com uma chuva forte?
As hipóteses levantadas pelos alunos foram bem coerentes com o que iria
ocorrer com o experimento, mostrando já possuírem uma boa noção dos conteúdos
que foram abordados em aulas teóricas anteriores.
Após o diálogo em cima dos questionamentos, teve início o experimento no qual
foi preparadas garrafas plásticas cortando-as ao meio. A parte da boca da garrafa foi
utilizada como um funil, e o fundo desta como o suporte (Figura 01 - Esquema de
5Experimentoteca de Solos – Projeto Solo na Escola – Departamento de Solos e Engenharia Agrícola
da UFPR - YOSHIOKA, M.H., LIMA, M.R. de. Experimentoteca de solos: infiltração e retenção da água no solo. Arquivos da APADEC, Maringá, v. 8, n. 1, p. 63-66, 2004.
montagem do experimento). Prendeu-se bem forte com barbante um tecido na
extremidade de cada garrafa funil (Figura 01); Colocou-se cada garrafa funil sobre seu
suporte que é a outra parte da garrafa cortada (o fundo); Numerou-se as garrafas funil
(01, 02, 03); Cada garrafa funil foi preenchida com dois copos de um tipo de amostra
de solo já seca e destorroada, sendo uma amostra de um solo bem argiloso, uma de
solo bem arenoso e uma de solo com bastante matéria orgânica; Cada garrafa funil foi
enchida com a mesma quantidade de água ou dois copos em cada uma das garrafas.
Figura 01 - Esquema de montagem do experimento (YOSHIOKA & LIMA, 2004)
As garrafas foram deixadas sobre a bancada e os alunos tinham que observar e
anotar quanto tempo a água demorou a começar a pingar em cada garrafa funil; quanto
tempo a água ficou pingando e o quanto foi liberado de cada amostra de solo,
marcando com uma caneta de retroprojetor em seu suporte (parte da garrafa que
recebe a água que pinga do solo) e também observar a cor da água que estava
pingando.
Na sequência, os alunos receberam o seguinte questionário para responder: a)
Por que a água se infiltrou nas três amostras de solo e não ficou ali parada? b) Em qual
das amostras a água começou a pingar antes? Por quê? c) Em qual das amostras a
água pingou por mais tempo? Por quê? d) Em qual das amostras a água pingou mais
(quanto foi liberado)? Tente explicar o que houve; e) Em qual das amostras a água
demorou mais para começar a pingar? Por quê? f) O que aconteceu na amostra de
solo com matéria orgânica? g) Qual a aparência da água que está saindo de cada uma
das amostras? h) Qual das três amostras armazena mais água? Tente explicar o que
houve; i) A partir dos resultados obtidos, diga qual é a melhor amostra para o
armazenamento de água para as plantas? j) A partir da interpretação dos resultados
obtidos com o experimento, imagine que na horta ou jardim da sua escola tem apenas
dois tipos de solo. De um lado um solo arenoso e do outro lado um solo argiloso e de
repente começou a chover muito. Em qual dos solos poderá ocorrer mais facilmente a
inundação do terreno?
Os questionários foram corrigidos e os resultados obtidos foram comparados e
discutidos em sala de aula. Os alunos conseguiram abstrair um bom entendimento
diante da aula prática oportunizada no laboratório. Mostraram-se entusiasmados e
atentos ao que ocorria. Percebe-se que eles associaram o processo de infiltração e
retenção de umidade dos diferentes tipos de solos com as técnicas diversificadas de
cultivo indicada para cada solo, reconheceram a maior ou menor facilidade de um solo
sofrer um processo erosivo e verificaram a importância de se trabalhar diferentemente
cada solo conforme suas características físicas.
3.4 Aula Prática – Consistência do solo
A proposta dessa atividade foi mostrar ao aluno que consistência do solo
(dureza, friabilidade, pegajosidade, plasticidade) é a influência que as forças de coesão
e de adesão exercem sobre os constituintes do solo, de acordo com seus variáveis
estados de umidade. Além de mostrar que força de coesão refere-se à atração de
partículas sólidas por partículas sólidas e que força de adesão refere-se à atração das
moléculas de água pela superfície das partículas sólidas e também demonstrar que
diferentes solos apresentam diferentes consistências. O procedimento utilizado nessa
prática foi disponibilizado pela UFPR6.
Antes de iniciarmos nossa prática, os alunos foram questionados se o solo seco
sempre é duro, se o solo molhado é sempre pegajoso e se é possível moldar o solo
para produzir diferentes objetos. Essa atividade serviu para estimular os alunos a
formular hipóteses do que iria acontecer, para depois, confrontar com os resultados
obtidos após o experimento.
Para trabalhar a consistência do solo, foram utilizados solos com diferentes
consistências, uma amostra de um solo muito duro quando seco e muito pegajoso
quando molhado (argiloso), um solo muito solto quando seco e não pegajoso quando
molhado (arenoso).
As amostras de solo foram previamente secas em bancadas sobre uma folha de
jornal.
6 Experimentoteca de Solos – Projeto Solo na Escola – Departamento de Solos e Engenharia Agrícola
da UFPR - Marcelo Ricardo de Lima - Professor Doutor (DSEA/UFPR)
Foram pegos “torrões” de solos bem secos dos dois tipos de solo e analisado
suas durezas. Cada aluno apertou-os entre o polegar e o indicador e tentou quebrar,
comparando o grau de dificuldade entre dois. Observaram que o solo macio (arenoso)
quebrou facilmente se pulverizando e que o solo muito duro não pode ser quebrado.
Os alunos separaram duas amostras dos dois tipos de solo molharam (sem
encharcar) e amassaram bem, formando uma massa de modelar. Apertaram esta
massa entre o polegar e o indicador para verificar a pegajosidade, sempre comparando
um solo com outro. Ao ser molhado e amassado, o solo não pegajoso (arenoso) não
grudou nos dedos, o solo pegajoso (argiloso) grudou em ambos os dedos.
Com as mesmas amostras molhadas e amassadas tentaram formar um fio com
3 a 4 mm de diâmetro, para verificar a plasticidade. O solo não plástico (arenoso) não
permite formar um fio de 3 a 4 mm de diâmetro e o solo plástico permite fazer e dobrar
o fio sem quebrar.
Após o experimento os alunos responderam o seguinte questionário: a) Quais as
durezas que foram encontradas nas amostras de solos? b) Quais as plasticidades
encontradas nas amostras de solos? b) Quais as pegajosidades encontradas nas
amostras de solos? c) Qual a importância da dureza? d) Qual a importância da
pegajosidade e da plasticidade?
Com essa atividade os alunos puderam estudar aspectos práticos da
consistência do solo de uma forma simples de observação. Conseguiram associar
também a consistência do solo ao seu adequado manejo levando em consideração as
práticas conservacionistas.
3.5 Aula Prática – Análise Granulométrica (Dispersão Total) – Método da Pipeta
O objetivo dessa aula foi mostrar ao aluno a análise granulométrica do solo que
é de grande importância para o fornecimento de subsídios para a orientação de um
manejo agrícola adequado da propriedade rural e consequentemente o crescimento e
desenvolvimento vegetal. A prática consistiu em determinar as frações granulométricas
de um determinado solo e identificar de sua classe textural.
O material utilizado para esta prática foi disponibilizado pela EMBRAPA7 e essa
técnica utilizada baseia-se na velocidade de queda das partículas que compõem o solo.
7 EMBRAPA - Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Manual de Métodos de Análise de Solo, 2
a edição
revista e atualizada, Rio de Janeiro1997.
Fixa-se o tempo para o deslocamento vertical na suspensão do solo com água, após a
adição de um dispersante químico (soda ou calgon). Pipeta-se um volume da
suspensão, para determinação da argila que seca em estufa e é pesada. As frações
grosseiras (areia fina e grossa) são separadas por tamisação, secas em estufa e
pesadas para obtenção dos respectivos percentuais. O silte corresponde ao
complemento dos percentuais para 100%.
Com base nos resultados da análise do solo, realizada pelos alunos,
consultaram o triângulo de grupamento textural para determinação da classe textural
do solo. Os alunos participaram desta prática mais como observadores, apenas dois
alunos me auxiliaram, pois trata-se de uma técnica demorada e mais aprimorada, que
exige mais experiência na manipulação de reagentes, vidrarias e equipamentos. Houve
bastante interesse nesta prática por ser oficialmente utilizada na análise física do solo
por laboratórios comerciais. Acharam a aula um pouco mais complicada que as
anteriores, mas demonstraram interesse em se aprofundarem no assunto. Ficaram
atentos aos cuidados nas manipulações, questionaram sobre nome de vidrarias,
reagentes e funcionamento de equipamentos. Durante toda a aula, os alunos foram
anotando tudo o que se passava durante o procedimento da análise e no final
realizaram um relatório que foi entregue para ser corrigido. Para a confecção dos
relatórios, por se tratar de uma atividade não usual, foi necessário uma orientação mais
detalhada de como escrevê-lo. A correção dos relatórios foi bem interessante, eles
conseguiram transcrever a aula prática na forma de relatório e na conclusão mostraram
seu interesse nesta ferramenta de ensino. Escreveram que a aula prática foi muito
interessante por se tratar de um assunto importante para o curso técnico em
agropecuária, que não tinham noção de como “medir” a quantidade de areia, silte e
argila de um solo e que aulas praticas no laboratório deveriam ser mais frequentes.
3.6 Aula Prática – Determinação do carbono orgânico e da matéria orgânica do
solo.
Essa atividade prática teve como objetivo a determinação da matéria orgânica
do solo propondo tratar sobre sua importância no solo por melhorar suas propriedades
físicas, químicas e biológicas, e ter um papel preponderante em manter a temperatura
adequada do solo, suprir nutrientes para as plantas, estabilizar a estrutura do solo e
aumentar sua permeabilidade.
O procedimento para a determinação da matéria orgânica do solo foi
disponibilizado pelo IAC8.
Como na prática anterior, a maioria dos alunos participou da atividade como
observadores, apenas dois alunos me auxiliaram. Nesta prática os alunos estavam
mais confiantes e se mostraram mais acostumados com o procedimento realizado,
compreenderam melhor a técnica mostrando estarem mais por dentro do assunto. O
laboratório em si, com todos os seus reagentes, equipamentos, vidrarias e materiais, já
não era mais um total desconhecido. Diante do resultado da quantidade de matéria
orgânica presente no solo, foi discutido se os valores estavam adequados para um bom
cultivo das safras agrícolas e também sobre sua importância no solo como um todo.
Durante toda a prática, os alunos fizeram anotações para poderem realizar o relatório
da aula que foi entregue ao final. Nesta aula, os alunos tiveram mais facilidade na
escrita do relatório por já terem feito na aula prática anterior. Na conclusão novamente
enfatizaram a importância destas práticas para sua vida profissional.
4 Considerações finais
Sempre ao início das aulas de solos, com alunos do primeiro ano, falo da
importância da minha disciplina dentro do curso de agropecuária. Falo que é a mais
importante de todas, sem ela pecuária e agricultura não acontecem. O objetivo com
isso é de imediato chamar a atenção para que eles se entusiasmem em estudar os
conteúdos que serão apresentados. Essa ação é muito importante, precisamos
entusiasmar nosso aluno, fazer com que ele tenha vontade de estudar.
Todo o ensino, seja ele profissional ou não, precisa de práticas inovadoras com
métodos e técnicas que busquem um ambiente de aprendizado motivador, reflexivo e
científico que capacite o educando em exercer sua cidadania na sociedade e no mundo
do trabalho.
Para que consigamos alunos focados em nossas aulas precisamos proporcionar
um ambiente que estimule a busca do conhecimento científico, mesclarmos nossas
aulas com diferentes ferramentas pedagógicas, aumentar a quantidade de aulas
práticas, estimular seus questionamentos e curiosidades.
8 Otávio Antonio De Camargo, Antonio Carlos Moniz, José Antonio Jorge e José Maria Aires Da Silva
Valadares. Métodos de Análise Química, Mineralógica e Física de Solos do Instituto Agronômico de Campinas.
O PDE tem justamente este objetivo, proporcionar subsídios teórico-práticos
para que possamos aprimorar nossas ações em sala de aula e consequentemente
melhorar a qualidade do ensino em nossa escola.
O tema do projeto realizado veio de encontro com a proposta do PDE. Aulas
práticas de solos sempre fizeram parte do meu planejamento, mas raramente ocorriam.
São vários os pontos negativos que batem de frente com essa prática: falta de
laboratorista, turmas muito grande, muito conteúdo para poucas aulas semanais. E isso
nos deixa com um grau de insegurança, que nos leva, no decorrer do ano, a optarmos
sempre por caminhos mais fáceis, ou seja, aulas expositivas. A oportunidade de
desenvolver este projeto com certo respaldo, com a escola apoiando e ajudando no
desenrolar das atividades, foram importantes para seu êxito. Quando a escola não
consegue fazer uma leitura integradora entre professores com suas práticas inovadoras
e equipe pedagógica, o risco das mudanças não acontecerem é grande, tendenciado a
um ao ensino ultrapassado, que não acompanha a evolução da sociedade.
As aulas práticas no laboratório da escola, diante de diferentes situações-
problemas e questionamentos, serviram para auxiliar os alunos a buscarem os
significados das teorias e conceitos dos conteúdos de solos e promover um
apoderamento facilitador do conhecimento. Desta forma, as práticas agrícolas foram
mais bem compreendidas ampliando e aprimorando os conhecimentos dos alunos
técnicos.
Finalmente, conclui-se que uma política educacional de incentivo e investimento
no trabalho do professor que prioriza o enriquecimento e a dinamização dos conteúdos
por aulas práticas irá fortalecer essa ferramenta fundamental para o melhoramento do
processo ensino aprendizagem de nossas escolas.
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