Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA PARA GESTORES ESCOLARES: uma necessidade urgente para as escolas
públicas do Paraná
Rozalia Naomi Iijima (Aluna PDE)1
Adrian Alvarez Estrada (Orientador Unioeste)2
Resumo: O presente artigo tem a proposição de promover a compreensão dos desafios e as
possibilidades de uma boa formação para gestores escolares da rede pública do Paraná. A
função do gestor escolar demanda conhecimentos do trabalho pedagógico e administrativo,
embasado legalmente em uma gestão escolar democrática. Portanto, a necessidade de uma boa
formação inicial e continuada que articule teoria e prática. A fundamentação teórica deste artigo
foi essencial para a compreensão da atual situação educacional inserida em um sistema
capitalista e neoliberal. A implementação na escola deu-se através de um curso de extensão,
utilizando a Unidade Didática de perguntas e respostas, textos e vídeos, importantes meios para
promover reflexões sobre a formação inicial e continuada do gestor escolar e analisar
possibilidades de melhorá-la. Através desta metodologia de trabalho atingiu-se os objetivos
propostos, pois possibilitou a participação de professores, funcionários e membros das
Instâncias Colegiadas do Colégio Estadual Antonio José Reis. Apesar do sucesso da
implementação no referido Colégio, é um trabalho que precisa de continuidade para que ocorra
a disseminação dos conhecimentos, através de cursos ou grupos de estudos, e como a gestão
escolar deve englobar o todo da organização escolar, torna-se de suma importância explorar
temas não trabalhados nesta Unidade Didática.
Palavras-Chave: Formação inicial e continuada para gestores escolares. Gestão Escolar Democrática. Qualidade de Ensino.
1. Introdução
Este artigo tem por finalidade socializar os estudos realizados no PDE
(Programa de Desenvolvimento Educacional), turma 2013/2014, através de
reflexões sobre os desafios e as possibilidades para melhorar a formação dos
gestores escolares no Paraná, as capacitações ofertadas pela mantenedora
ocorrem de forma aligeirada e não contemplam o estudo de teorias e práticas de
1 Especialista em Metodologia do Ensino e Didática, Professora de LEM- Inglês da Rede
Estadual de Ensino. Lotada no Colégio Estadual Antonio José Reis. Toledo-PR 2 Doutor em Educação pela USP, Professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
Campus Cascavel. Orientador PDE.
forma articulada, obrigando os gestores escolares a aprender sua função na
prática cotidiana através de erros e acertos. O artigo também possibilitou a
reflexão sobre os aspectos pedagógicos, administrativos e o contexto histórico
da educação inserida em um sistema capitalista e neoliberal.
Para que se efetive mudanças educacionais, é necessário o
comprometimento de todos os envolvidos na educação, a mantenedora através
de políticas públicas afirmativas de continuidade, investimentos na infraestrutura,
recursos humanos e na logística.
A gestão democrática tão almejada será praticada com maior efetividade
a partir do momento em que todos os envolvidos tiverem clareza da necessidade
de participação, reflexão, argumentação e pressão como fortalecimento do
direito de educação de qualidade.
O artigo realizou-se através de estudos bibliográficos pautados em:
Benevides (2007), Freitas (1995), Gadotti (2000), Kuenzer (1985), Paro (2000 –
2012), na Constituição Federal de 1988, na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional de 1996, em resoluções e documentos expedidos pela
Secretaria de Estado da Educação, entre outros.
A Implementação na Escola ocorreu através de um curso de extensão em
convênio com a Unioeste Campus de Cascavel, realizou-se de forma satisfatória
com o envolvimento de 11 professores de diferentes disciplinas, 04 funcionários,
02 pedagogas e 03 membros das Instâncias Colegiadas, totalizando 20
cursistas.
A socialização da Unidade Didática de perguntas e respostas iniciou-se
com o GTR (Grupo de Trabalho em Rede), através da participação direta de 16
cursistas de diferentes áreas de atuação escolar, como gestores, pedagogos e
professores. No entanto, o GTR possibilitou que outras pessoas tivessem acesso
ao conteúdo da Unidade Didática com o tema: Formação Inicial e Continuada
para Gestores Escolares: Uma necessidade urgente para as escolas públicas do
Paraná, porque professores da Formação Docente, diretores e pedagogos
evidenciaram que utilizaram o material com alunos e professores, em salas de
aulas ou nas capacitações oferecidas pelas escolas. Portanto, espera-se que o
material possa ser amplamente utilizado em cursos para futuros gestores
escolares, cursos de capacitação de professores e estudantes de Formação de
Docentes.
2. Gestão Escolar
Os princípios da gestão escolar democrática como teoria administrativa
para instituições escolares é recente. A partir do final da década de 1980, com o
fim da ditadura militar e a volta da democracia no Brasil a denominação gestão
escolar tornou-se conhecida, principalmente após a promulgação da
Constituição Federal de 1988 que no seu artigo 206, inciso VI explicita a gestão
democrática do ensino público e reforçada após a aprovação da lei nº 9.394/96
(Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN), no seu artigo 3º,
inciso VIII, pois, ambas legitimam a gestão democrática da escola pública. O
ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) no seu artigo 53, parágrafo único,
também traz a legalidade da gestão democrática das escolas públicas.
Na LDBEN 9.394/96, também está assegurado no seu Art. 15
“progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e financeira das
escolas públicas”. No entanto, somente a legalidade não garante a gestão
democrática e a autonomia das escolas. Neste aspecto, os gestores escolares
são responsáveis em promover uma administração que envolva a comunidade
e que dê resultados. É relevante destacar que a eleição de gestores garante a
legitimidade do processo democrático, mas não garante a gestão participativa.
A gestão escolar democrática além do embasamento legal, foi instituída
pela necessidade de superar a administração escolar autoritária e também
objetivando minimizar os complexos problemas atuais da educação, no entanto
é perceptível que a educação brasileira contemporânea, exige urgentemente
uma formação eficiente para gestores escolares e professores, com o objetivo
de melhorar o ensino e aprendizado, tornando as escolas espaços para
aquisição do saber científico, de formação de estudantes críticos e participativos
de efetiva vida cidadã.
3. O Sistema Capitalista e o ensino público
A sociedade brasileira está passando por uma transformação rápida no
campo das ciências/tecnologias e também nos campos econômicos, políticos,
sociais e culturais, influenciando diretamente a educação escolar, é necessário
superar o modelo de educação vigente, tornando as escolas espaços
democráticos e autônomos.
A educação escolar capitalista neoliberal brasileira, tem tornado a
educação das escolas públicas nas últimas décadas, uma educação voltada
para atender as demandas do mercado, a preparação para o mercado de
trabalho, de acordo com a necessidades da classe dominante, atualmente
trabalho voltado para o tecnicismo. Segundo PARO:
Infelizmente essa escola é sim reprodutora de certa ideologia
dominante...é sim negadora dos valores dominados e mera
chanceladora da injustiça social, na medida que recoloca as
pessoas nos lugares reservados pelas relações que se dão no
âmbito da estrutura econômica. (PARO, 2000. p. 10)
Nesta sociedade vigora a obtenção de resultados ou seja “lucros”, pouco
investimento e bastante retorno, trabalhadores alienados e porque não
estudantes alienados que atendam as expectativas do atual mercado, no entanto
não podemos esquecer que os objetivos do capital devem ser diferentes dos da
educação, pois a educação lida diretamente com o desenvolvimento do ser
humano. “Escola não é fábrica, mas formação humana. Ela não pode ignorar o
contexto político e econômico, no entanto, não pode estar subordinada ao
modelo econômico e a serviço dele.” (LIBÂNEO, 2012, p. 132)
A qualidade da educação só poderá ser mudada se o gestor escolar,
professores, alunos e a sociedade como um todo se unirem para lutar para que
a mudança ocorra, parece uma luta praticamente vencida, pois o individualismo,
o imediatismo, a competitividade, o absolutismo mercadológico e consumista
imperam nesta sociedade transformada por questões sociais, econômicas e
culturais diretamente atreladas ao capital. Nesta sociedade capitalista neoliberal
a educação é problema das escolas, a escola precária é culpa de quem a
administra.
No contexto dessa sociedade dominante, é comum atribuir-se todo e qualquer problema uma dimensão estritamente administrativa, desvinculando-o do todo social no qual têm lugar
suas causas profundas, e enxergando-o apenas como resultado de fatores como a inadequada utilização dos recursos disponíveis, a incompetência das pessoas e grupos diretamente
envolvidos, a tomada de decisões incompatíveis com seu equacionamento e solução, e outras que podem ser facilmente
superadas a partir de uma ação administrativa mais apropriada.
Como não poderia deixar de ser, também o problema escolar é
vista como sendo de natureza eminentemente administrativa. (PARO, 2012, p. 165).
O objetivo principal da educação para uma sociedade alienada e
excludente, que reforça a desigualdade e a injustiça está sendo cumprido, mas
e a educação como aprendizagem, fonte do saber, do aperfeiçoamento do ser
humano para uma vida cidadã, precisa ser conquistada, e esta é a função da
escola, dos professores, gestores e da comunidade em torno da escola, portanto
a necessidade de aperfeiçoamento constante, de pesquisas, de
instrumentalização tecnológica, do saber científico, político e econômico.
4. Formação para Gestores Escolares
Pesquisas demonstram que a maioria dos estados brasileiros oferecem
formação aos seus gestores escolares, porém de forma rápida e somente
teórica, desarticulada entre teoria e prática, portanto formação deficiente. De
acordo com Serpa da Revista Escola, pesquisa da Fundação Victor Civita:
O Brasil gasta anualmente cerca de 1.810 reais por gestor em
cursos, oficinas, seminários, palestras e iniciativas semelhantes
para que eles aprimorem seus conhecimentos e trabalhem com
mais segurança. O problema, no entanto, não é a ausência de
oferta, mas o tipo de formação colocada aos gestores. (SERPA,
2011).
A pesquisa também vem reforçar que as mantenedoras educacionais não
estão preocupadas em melhorar o quadro educacional, e sim mostrar que está
cumprindo seu papel enquanto poder público, não há uma preocupação
pedagógica qualitativa dos cursos oferecidos, que dê subsídios para que o
gestor possa cumprir seu papel.
É portanto, através de uma boa formação do gestor escolar que se fará
a tentativa de mudar os rumos da educação, gestores com visão apurada e
consciência crítica da atual situação educacional, gestor que incentive o seu
grupo de trabalho e a comunidade local para uma gestão democrática de efetiva
participação para definir a educação que se quer. Benevides afirma a
necessidade da verdadeira participação na vida pública, para que haja a
cidadania ativa:
significa organização e participação pela base, como cidadãos que partilham dos processos decisórios em várias instâncias,
rompendo a verticalidade absolutas dos poderes autoritários. Significa, ainda, o reconhecimento (e a constante reivindicação)
de que os cidadãos ativos são mais do que titulares de direitos,
são criadores de novos direitos e novos espaços para expressão de tais direitos, fortalecendo-se a convicção sobre a
possibilidade, sempre em aberto, da criação e consolidação de novos sujeitos políticos, cientes de direitos e deveres na
sociedade (BENEVIDES, 1988, p.170 apud Paro, 2007, p. 25).
A boa formação do gestor escolar deve abranger também o preparo para
que a prática pedagógica ocorra de forma intencional através de projetos, um
bom PPP (Projeto Político Pedagógico) deve aliar o real com o necessário, a
prática com a teoria, dentro do contexto social que a escola está inserida, não
com o sentido da dualidade educacional, mas para reforçar o senso crítico e
participativo dos alunos.
Sendo o pedagógico a sustentação, a articulação, a objetivação entre
os diversos tipos de conhecimento e ciências, o gestor escolar deve ter um
amplo conhecimento pedagógico, principalmente porque a escola tem que ter
como base uma linha pedagógica, o PPP tem que ser claro na tendência que a
escola está inserida para evidenciar a educação que se almeja, é preciso
salientar que a análise crítica do sistema capitalista neoliberal é fundamental
para que através dos discursos dos dominadores o PPP não se torne documento
propagador desta ideologia, e outro fator importante é o agir, começar as
mudanças, mesmo que haja má vontade por parte de muitos.
A implantação de um novo projeto político-pedagógico da escola enfrentará sempre a descrença generalizada dos que pensam que de nada adianta projetar uma boa escola enquanto não houver vontade política dos “de cima”. Contudo, o pensamento e a prática dos “de cima” não se modificarão enquanto não houver pressão dos “de baixo”. Um projeto político-pedagógico da escola deve constituir-se num verdadeiro processo de conscientização e de formação cívica; deve ser um processo de recuperação da importância e da necessidade do planejamento na educação. (GADOTTI, p. 38, 2000, grifos do
autor).
Pensando na escola como espaço para a aquisição do saber
cientificamente elaborado, a socialização do conhecimento e o desenvolvimento
humano para uma vida cidadã, a escola tem que repensar seu papel, qual seu
objetivo, se as práticas pedagógicas e as práticas avaliativas estão de acordo
com a sociedade democrática que se pretende, se estão devidamente
evidenciadas a educação que se quer no Projeto Político Pedagógico das
escolas, analisar a gestão escolar como propulsora de uma possível mudança
no ambiente escolar, estas são questões que precisam ser pesquisadas e
analisadas de forma aprofundada.
Para instituir um novo projeto é preciso partir do instituído - legislação, normas, currículos, programas, história da escola... - mas não ficar nele. Isso exige mudança de mentalidade em direção à maior autonomia e participação de todos os seguimentos que trabalham na escola, portanto, em direção a gestão democrática. (GADOTTI; ROMÃO, 2000, p.18)
Portanto, o gestor escolar deve estar ciente do que lhe é exigido, do seu
compromisso profissional no atual contexto, mas também ter claro que o cargo
não sirva somente para reproduzir o sistema capitalista neoliberal. Escolas
precisam de gestores escolares críticos, democráticos, que não fiquem somente
ao nível de discurso, mas que efetivem um trabalho coletivo de efetiva ação em
busca de uma melhor qualidade para a educação.
Reforça-se assim a necessidade de formação inicial e continuada para
gestores escolares da rede pública paranaense, como sendo mais um dos
problemas da educação a ser superada para que a escola cumpra seu papel de
propulsora na transformação social.
5. Evidências do Estado Mínimo na Educação Pública no Paraná
Até os anos de 1970, a administração escolar estava pautada na
administração de empresas, principalmente no Fordismo e no Taylorismo que
objetivavam produção em massa, de forma fragmentada, com repetição de
tarefas, visando a redução de custos, o aumento da produtividade e
consequentemente o aumento do acumulo do capital.
A educação exigida para este mercado era o trabalhador alienado,
disciplinado, que executava trabalho repetitivo e memorizado. Papel que a
educação escolar paranaense cumpriu e vem cumprindo até os dias de hoje.
Para atender a atual lógica do capital é solicitado que a educação reforce
o Ensino Técnico, forme operários de qualidade, participativo, integrado ao
processo, que seja flexível, polivalente e multifuncional, que trabalhe em grupo,
seja competitivo e produtivo.
Novamente, a educação pública escolar parece estar articulada com o
capital, pois a mantenedora no Estado do Paraná em seus discursos e
programas educacionais utiliza-se de discursos persuasivos para a população,
como: qualidade da escola pública, escola para todos, gestão democrática,
autonomia e qualidade de ensino, não deixando transparecer sua omissão na
melhoria da qualidade de ensino. Kuenzer alerta que:
a pedagogia toyotista se apropria, sempre do ponto de vista do
capital, de concepções que têm sido elaboradas no âmbito da
pedagogia socialista, estabelecendo-se uma tal ambiguidade
nos discursos e nas práticas que tem levado muitos a imaginar
que, a partir das nova demandas do capital no regime de
acumulação flexível, as políticas e propostas pedagógicas de
fato passaram a contemplar os interesses dos que vivem do
trabalho, do ponto de vista da democratização. (KUENZER,
1985).
É missão dos gestores educacionais e professores mostrar a população
qual a intencionalidade de discursos tão persuasivos para a educação,
novamente a alienação social reforça o fracasso das escolas pela má
administração. Se a escola é autônoma, de gestão democrática que pressupõe
a participação da comunidade e que deve ser de qualidade e de acesso a todos,
por que não dá certo?
Assinalamos mais um fato relevante para responder a questão anterior,
o fato da educação estar inserida em um sistema capitalista e neoliberal que
defende a não participação do estado na economia, “tornar o Estado mínimo”,
Freitas defende que:
Quando, hoje, o governo brasileiro propõe “tornar o Estado mínimo”, “enxugar o Estado”, o que se quer é cortar do Estado as conquistas sociais que ali foram introduzidas pela luta dos trabalhadores. Rompem-se “compromissos” que o capitalismo
assumiu, no passado, para arrefecer a luta dos trabalhadores e equacionar a sua própria expansão. (FREITAS, 1995, p. 122)
Nesta perspectiva educacional, somente a luta pelos interessados
(estudantes, pais, professores, gestores escolares e a comunidade) na
educação de qualidade poderá mudar os rumos da educação pública, de acordo
com Paro (2000, p. 10), “...dos grupos dominantes não se pode esperar nenhuma
iniciativa de transformação em favor das camadas dominadas (e, no nosso caso,
no que se refere a escola) sem pressão por parte dos interessados.”
No entanto não devemos confundir gestão democrática e autonomia,
como participação da comunidade para resolver problemas da escola através do
trabalho voluntário, Lück defende a gestão democrática através da participação
dos pais na escola, para que esta se integre a comunidade, no entanto a autora
afirma também que a comunidade deva “colaborar com ações de parcerias e
trabalho voluntário na escola” Heloísa Lück (2010, p.67). Quando se aceita este
trabalho voluntário, aceita-se também o “Estado Mínimo”, que tem como
pressuposto melhorar a qualidade da educação através da desoneração do
Estado, jogando as responsabilidades para a escola e comunidade escolar.
A autora está em contraposição a Freitas e Paro que defendem que a
participação da comunidade é imprescindível para a transformação da escola,
através da consciência crítica e não através de parcerias e trabalho voluntário.
Na educação paranaense constata-se exemplos claros de “estado
mínimo” quando a Secretaria de Estado da Educação propõe programas
educacionais diferenciados em contra turno, no entanto não investe, as escolas
têm que proporcionar meios para implantar e manter estes programas. Outro
ponto fundamental, as escolas têm que dar resultados, as avaliações externas
demonstram os índices e a necessidade de melhorá-las, mas não se menciona
investimentos ou melhorias educacionais, esta avaliação externa se torna mais
um mecanismo para o ranqueamento das escolas com perspectivas de
meritocracia, sem levar em conta o contexto que a escola está inserida. Também
não há capacitação eficientes para gestores e professores. Há outros fatores que
evidenciam que o Estado colabora com o “Estado mínimo”, e este é o ponto
crucial de intervenção de um bom gestor escolar que visa à qualidade de ensino
e a democratização da escola pública, interferir e repensar coletivamente a
educação que queremos, instâncias coletivas somente para cumprir a legalidade
exigida ou para desonerar o Estado não colabora para a mudança da situação
educacional.
A análise fundamental para a questão da não participação da comunidade
na escola, perpassa por momentos históricos de como se concebeu a educação
até os dias de hoje, a estrutura da escola até a década de 80 e início da década
de 90, sempre foi da clássica hierarquização, de formato piramidal, o diretor
estava no topo e era o centralizador de ideias e decisões, não era questionado
e também não questionava, principalmente porque o diretor era indicado
politicamente para o cargo, abaixo os supervisores e orientadores educacionais
que ajudavam a manter a ordem, em seguida os professores e abaixo os alunos,
após os setores administrativos, os servidores de apoio (serviços gerais). Os pais
só eram chamados na escola para entrega de boletins ou quando o filho causava
problemas. Este é um fato histórico que distanciou os pais da escola e outro fator
também histórico é a crença por parte da sociedade que os responsáveis pela
educação são respectivamente a escola e o governo ou vice-versa.
A partir da Constituição Federal de 1988, onde prevê a Gestão
Democrática da escola, percebe-se que as escolas têm tentado promover a
participação da comunidade na escola, no entanto a resistência ainda impera,
principalmente porque se tenta implantar uma gestão democrática sem antes
mudar a forma que a escola está estruturada, “não adianta gerir
democraticamente estruturas antidemocráticas, estruturas excludentes”, Arroyo
(1996, p. 17, apud Paro, 2007, p.31). Não há como incorporar a Gestão
Democrática em escolas com gestores autoritários, estritamente burocráticos ou
sem tempo para o trabalho planejado e estruturado de práticas pedagógicas
indispensáveis para promover mudanças na educação. As APMF's geralmente
desconhecem seu poder enquanto agentes na luta pela transformação social
através da educação, contribuem com a escola geralmente para atender as
necessidades legais, para fortalecer o “Estado mínimo” ou por interesses
próprios. O Conselho Escolar no Paraná tem como seu Presidente o Gestor
Escolar, o que coloca esta instância no mesmo patamar das APMF's. Quando
se coloca a situação dos Grêmios Estudantis a situação é ainda mais caótica,
não se percebe na maioria das escolas Grêmios atuantes.
6. Atividades realizadas na Implementação na Escola
A Implementação na Escola utilizando a Unidade Didática ocorreu de
forma dinâmica e proveitosa através do curso de extensão em convênio com a
Unioeste Campus de Cascavel.
O grupo de cursistas formou-se através de 11 professores de diferentes
disciplinas, 03 membros das Instâncias Colegiadas, 02 pedagogas e 04
funcionários, mesmo sendo um grupo homogêneo a participação foi efetiva em
todas as atividades propostas, sempre com argumentações, apresentando
ideias ou fazendo questionamentos totalmente pertinentes ao assunto do curso.
A cada novo assunto o grupo se mostrava empolgado, interessado e
comprometido em realizar os estudos.
O curso realizou-se através de 08 encontros, com duração de 04 horas
cada, totalizando 32 horas. Atividades propostas e executadas:
17/02/2014 (4 horas)
- Abertura do curso com o vídeo “Valor de Ser Educador”;
- Cronograma do curso de extensão;
- Apresentação de forma detalhada do Projeto de Intervenção Pedagógica e
estudo da Fundamentação Teórica.
24/02/2014 (4 horas)
Seminário utilizando como material base o vídeo Painel (Globo News) – Parte 1
– faz uma avaliação da Educação no Brasil, concomitante ao vídeo foram
apresentados trechos de textos relevantes para análise da discussão, pauta:
- Gasto por aluno com a Educação Básica no Paraná;
- Discursos sobre qualidade de ensino proferida pela mantenedora (Kunzer,
1985);
- Gestão Democrática x Trabalho Burocrático (Gadotti e Romão, 2000 – Paro,
2000 e Rosar, 2012);
- Capacitação dos professores e gestores escolares (Ferreira, 2006);
- A importância do Trabalho Pedagógico (Freitas, 1995 – Alonso, 2003).
03/03/2014 (4 horas)
Estudo do texto: A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento
de Edgar Morin, 2003. Questões debatidas:
- Quais as consequências da fragmentação de conteúdos/saberes?;
- Por que a maior parte da sociedade está satisfeita com a educação pública que
temos? É por isso que a educação não melhora de forma adequada as
necessidades sociais/humanas da atualidade?;
- Influências ou mandos do sistema capitalista/neoliberal na educação?;
- Por que repensar o pensamento?;
- Desafios para mudanças, quais?;
- O Estado Mínimo da Educação (Freitas, 1995);
- Metas, como atingi-las?
- Pressão social/participação/mudança cultural (Paro, 2000, 2007 e Freitas,
1995);
- Avaliação em larga escala (Oliveira, 2013).
10/03/2014 (4 horas)
Segunda parte do Painel Globo News. Questões estudadas:
- A formação inicial e continuada para professores e gestores escolares;
- Valorização dos professores;
- A importância do planejamento e/ou plano de ação;
- Como o gestor chega ao cargo;
- Êxito na educação e alfabetização até os 08 anos, e o aprendizado como fica,
quais as consequências?;
- O que é analfabetismo e analfabetismo funcional (Dados do Anuário da
Educação, 2013);
- Escolhas governamentais, onde fica a educação?;
- Estudo do texto de Luiz Carlos de Freitas sobre a Força de Trabalho (Blog do
Freitas).
17/03/2014 (4 horas)
Filme: Coach Carter – Treinamento para vida. Análise proposta sobre o filme:
- Indisciplina (Educação, respeito mútuo, não cumprimento de regras, violência,
racismo, gravidez na adolescência, drogas);
- Questionamento: Quem pode ser Professor ou Treinador? (Questões como:
Paixão, o acreditar, o profissionalismo, a dedicação, buscar atingir objetivos...);
- Contrato – a importância do Regimento Escolar;
- Gestão Escolar x Burocracia;
- Como agir contra a ironia, a intimidação;
- Falta de conhecimento dos pais sobre o tema: Educação de Qualidade;
- Comprometimento Pedagógico;
- Quais os desafios dos Gestores Escolares/ Professores de acordo com a
realidade do cotidiano escolar?;
- A população é moldada pelo sistema?;
O Filme é muito bom para provocar boas discussões sobre educação e gestão
escolar.
24/03/2014 e 07/04/2014 (8 horas)
Estudo mais detalhado sobre a Unidade Didática de Perguntas e Respostas e
Vídeos do Youtube com curta duração, Alexandre Garcia e a Escola Pública e
Alexandre Garcia sobre a Educação Brasileira: O Professor não pode fazer tudo
sozinho.
14/04/2014 (4 horas)
Seminário de finalização do curso, com debate e apontamentos de ações
possíveis para melhorar a gestão escolar e consequentemente a educação
escolar, conclusões e avaliação.
7. Considerações Finais
Todo trabalho realizado no PDE – 2013/2014 foi de grande relevância, o
tema sobre Gestão Escolar vem de encontro com a realidade vivenciada nas
escolas, portanto o título: Formação inicial e continuada para gestores escolares:
uma necessidade urgente para as escolas públicas do Paraná, teve como
objetivo principal refletir a questão da má formação dos gestores escolares, que
ocorre de forma aligeirada e não contextualizada entre teoria e prática, também
não há uma formação inicial para o gestor escolar assumir a função, as
graduações voltadas para as licenciaturas não ofertam disciplinas específicas
para a área de gestão escolar, somente o curso de Pedagogia oferta a disciplina
de Organização do Trabalho Pedagógico e Gestão Escolar, mas somente de
forma teórica.
Portanto, a Unidade Didática de perguntas e respostas sobre Gestão
Escolar, que será disponibilizada no Portal Dia a Dia Educação é um material
que poderá ser utilizado por todos que queiram adquirir conhecimentos iniciais
ou esclarecer dúvidas pontuais sobre o assunto.
Para a realização da Implementação na Escola, o tempo destinado ao
curso de extensão não foi suficiente para abordar todas as questões contidas na
Unidade Didática. Assim como não foi possível a inclusão de muitas questões
pedagógicas e administrativas relevantes para a organização do trabalho
escolar, pela própria delimitação necessária a todo trabalho científico. Portanto,
ressalta-se a necessidade de uma sequência deste trabalho, abordando temas
como: indisciplina, avaliação escolar cotidiana, o que é qualidade de educação
e como conquistá-la, violência escolar, entre outros.
O trabalho realizado através do GTR teve uma ótima aceitação,
participação efetiva e muita dedicação dos cursistas que contribuíram com
reflexões, indicação de bibliografias e troca de experiências, 100% dos cursistas
que iniciaram o GTR concluíram com louvor.
Tanto cursistas do curso de extensão quanto os do GTR, entraram em
consenso que é essencial uma boa formação inicial e continuada para gestores
escolares, aos profissionais da educação e membros das Instâncias Colegiadas,
para que possam compreender a relação existente entre sistema de ensino,
escolas e gestão escolar democrática, inserida em um sistema capitalista
neoliberal. No entanto, foram além na avaliação do curso, fazendo alguns
apontamentos necessários para a melhoria da gestão escolar e
consequentemente da qualidade de ensino, que incluem a necessidade de:
- Comprometimento de todos os profissionais da educação para uma
educação de qualidade, com iniciativas da mantenedora através de políticas
públicas afirmativas de continuidade;
- Fortalecimento das Instâncias Colegiadas, dando continuidade e
melhorando as práticas da gestão democrática das escolas públicas no Paraná;
-Valorização dos profissionais da educação;
- Investimentos na parte física, humana e logística das escolas;
- Avaliação escolar e avaliação em larga escala para diagnosticar
problemas e buscar soluções, portanto não somente para ranqueamento como
ocorre atualmente;
- Cumprimento das leis e do Plano Nacional da Educação (2014-2024);
- A longo prazo mudança na cultura da sociedade, para que percebam e
cobrem do governo a efetivação de uma educação de qualidade;
Os apontamentos acima são relevantes, mas também é necessária a
compreensão de algumas amarras impostas pelo sistema, portanto é
fundamental promover ações para que a gestão democrática da escola pública
se efetive e a persistência seja uma constante na busca de formação inicial e
continuada para gestores escolares.
8. Referências
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BENEVIDES, Maria Vitória. Educação para a cidadania e em direitos humanos.
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ensino. São Paulo:Ática, 2007.
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BRASIL, Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional: Lei 9394/96; de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e
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