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7/23/2019 Para Desarticular Os Estratos Dominantes Do Organismo, Da

http://slidepdf.com/reader/full/para-desarticular-os-estratos-dominantes-do-organismo-da 1/9Psicol. Argum. 2011 jul./set., 29(66), 285-293

ISSN 0103-7013Psicol. Argum., Curitiba, v. 29, n. 66, p. 285-293, jul./set. 2011

Licenciado sob uma Licença Creative Commons

[T]

Para desarticular os estratos dominantes do organismo, dasignificância e da subjetivação

[I]

Dislocating the dominant stratums of the organism, signicance

and subjectication 

[A] Juliana Martins Rodrigues[a], Carlos Augusto Peixoto Júnior[b]

[a] Mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, RJ - Brasil,e-mail: [email protected]

[b] Psicanalista, Doutor em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (IMS/UERJ), professor do programa dePós-Graduação em Psicologia Clínica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Pesquisador do CNPq,Rio de janeiro, RJ - Brasil

 [R]Resumo

O presente artigo tem como objetivo abordar os três principais estratos a que estamos mais diretamentesubmetidos em nossa cultura, a saber: o organismo, a signicância e a subjetivação, tais como denidospor Deleuze e Guattari em Mil Platôs . Os autores indicam que é preciso deslocar a ênfase desse conjuntode estratos molares para um novo foco: ao invés do sujeito xado a representações transcendentes, quedeve ser intérprete e é interpretado com seus “signicados secretos”, e que vê seu corpo submetido a seapresentar como um organismo organizado de acordo com modelos normatizados, devemos nos voltarpara a vida e seu processo de atualização, que não pode car restrito a limites tão estreitos e estanques.Pretende-se apontar a forma como a psicanálise mais tradicional participa mais de uma política de limi-

tação do que de libertação de tais estratos, ao vincular o inconsciente à necessidade da interpretaçãoe ao acorrentar a tradução do desejo às estruturas do Édipo e da castração, desconsiderando, assim, asingularidade das experiências existenciais e a multiplicidade de sentidos que elas podem ter. Por meioda análise da desarticulação dos estratos proposta pelos autores, poderão ser percebidas novas possibili-dades, mapas e percursos desidenticados, encontrados, por exemplo, no discurso das crianças, em quese pode notar que o transcendente é substituído pelo transcendental. [#][P]Palavras-chave: Estratos. Desarticulação. Corpo sem órgãos. Devir. Hecceidade.[#]

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[B] Abstract 

The present article aims to discuss the three main stratums to which we are mostly submitted in our culture, namelythe body, the signicance and the subjectication as dened by Deleuze and Guattari in A Thousand Plateaus. The

authors suggest that we must shift the emphasis from this molar stratums to a new focus: instead of the subject set totranscendental representations, that needs to be an interpreter and is also interpreted with their "secret meanings",with their body having to present itself as an organized body according to standardized models, we should directour attention to life and its updating process, which cannot be restricted to limits so narrow and tight. We intendto point out the way in which classical psychoanalysis takes part in a policy of limitations more than of liberation ofthese stratums, by linking the unconscious to the need of interpretation and by submitting the translation of desireto the structures of Oedipus and castration, without considering the singularity of the existential experiences andthe multiplicity of meanings that they can have. Through the analysis of the dislocation of the stratums proposedby the authors, it will be possible to realize new opportunities, maps and unidentied routes that can be found, forexample, in the speech of children, where we can see that the transcendent is replaced by the transcendental.[#][K] Keywords: Stratum. Dislocation. Body without organs. Becoming. Haecceity.[#]

Para Deleuze e Guattari ([1980] 1996), ostrês grandes estratos que nos amarram mais direta-mente à cultura estabelecida são os do organismo,da signicância e da subjetivação. A dimensão doorganismo pretende que sejamos organizados etenhamos um corpo articulado. Caso contrário,seremos apenas marginais depravados ou cópiasimperfeitas de modelos normatizados. No estratoda signicância, deveremos ser signicantes e signi-

cados, intérpretes e interpretados, senão, mais uma vez, seremos desviantes. No ponto da subjetivaçãoou sujeição, seremos sujeitos e, enquanto tais, xadosàs representações transcendentes que organizam omodo dominante de produção de subjetividades.

Os autores ressaltam que é preciso deslocara ênfase desse conjunto de estratos molares (o sujeito,seus “signicados secretos” e seu organismo) para a vida e seu processo de atualização, o qual não poderiacar restrito a limites tão estreitos e estanques. Elesconsideram, portanto, que é preciso desarticulartais estratos, realizando experimentações sobre um

plano de consistência, dado que a subjetividade seriaprioritariamente nômade, e não exclusivamente xa. Trata-se aqui de um confronto entre a produção ea representação, que ressalta a importância do pré--individual, do parcial, e de um processo livre dopensamento da representação que insiste em imporformas universais e cristalizadas a tudo o que implicadiferença e singularidade.

O pensamento da representação, ao qualDeleuze e Guattari se opõem, não suporta a diferença

e busca um princípio de recognição, de “devir seme-lhante” para todas as coisas. Tudo o que aí não seencaixa cai num plano indiferenciado, uma espéciede “buraco negro” que passa a ser ignorado oumarginalizado em virtude de sua singular potênciade fuga diante dos padrões estabelecidos. A desarti-culação desses estratos dominantes de nossa culturaé positivada e incentivada por Deleuze e Guattari, quepropõem a dissolução do sujeito, do ser sujeitado a

categorias universais ditadas a priori .Deleuze e Guattari criam um sistema abertoàs multiplicidades e às estratégias de resistência amodos de produção de subjetividade reativa. Comisso, buscam introduzir um movimento no pensa-mento que, ao retirá-lo de sua imobilidade, rompecom os pressupostos da representação e enfatizaa diferença. Para desarticular o corpo, os autoreselaboram o conceito de corpo sem órgãos; contraa interpretação, propõem a experimentação; contraa sujeição, optam pelo que desfaz a organizaçãoimposta aos corpos, descobrindo outras populações

e outras zonas que os habitam. Analisaremos, primeiramente, a proposta dedesarticulação do organismo que os autores empreen-dem com a ideia de corpo sem órgãos. Esse conceitopossibilita uma crítica à noção de organização, aocorpo como organismo organizado, à estraticaçãoe à rigidez representacional do corpo, e propõepensar uma dimensão de caos relativo que se opõeà ordem. Portanto, é importante ressaltar que nãose trata de caos total, e sim de um corpo entendido

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como espaço intensivo, mais fexível, amplo e aberto,possibilitando a passagem de uxos e intensidades.Enm, o corpo como espaço real, sem o aprisiona-mento da representação. Os órgãos não desaparecem,apenas ganham um papel mais maleável, voltam a

um estado do corpo anterior à organização orgânica,ao organismo que lhes aprisionou a vida. SegundoEugene Holland (1999), Deleuze e Guattari recorrema esse termo de Artaud ([1948] 2004) para levantar aquestão de como o corpo é organizado e como elepode ser ativamente desorganizado para permitir aprodução de outras formas de organizações não xa-das, como por exemplo, na esquizofrenia. O corposem órgãos é o corpo se apresentando como umcampo de afetos.

Os autores dizem que, de qualquer forma,tem-se um ou vários CsO (corpo sem órgãos), quenão se pode desejar sem construí-lo, que se tratade uma experimentação inevitável, e que estamossobre ele: esse é o lugar onde dormimos, desejamos,lutamos, fracassamos. Não se chega ao corpo semórgãos porque já estamos sobre ele, o que não étranquilizador visto que podemos falhar e construiragenciamentos que nos levem à morte.

“No dia 28 de novembro de 1947, Artauddeclara guerra aos órgãos” (Deleuze & Guattari,[1980] 1996, p. 10). Para os autores de Mil Platôs , oCso está a caminho desde que o corpo se cansou

dos órgãos e os quer perder – desde o corpo hipo-condríaco, que sente ter órgãos destruídos, emboranada esteja errado com a sua saúde, até o corpoesquizo, que desenvolve uma luta ativa contra osórgãos chegando mesmo à catatonia.

Mas por que esse desle lúgubre de corposcosturados, vitricados, catatonizados, aspi-rados, posto que o CsO é também pleno deenergia, de êxtase, de dança? Então, por queesses exemplos? Por que é necessário passar poreles? Corpos esvaziados em lugar de plenos. Que

conteceu? Você agiu com a prudência necessá-ria? Não digo sabedoria, mas prudência comodose, como regra imanente à experimentação:injeções de prudência. Muitos são derrotadosnessa batalha. Será tão triste e perigoso nãomais suportar os olhos para ver, os pulmõespara respirar, a boca para engolir, a língua parafalar, o cérebro para pensar, o ânus e a laringe, acabeça e as pernas? Por que não caminhar coma cabeça, cantar com o sinus , ver com a pele,

respirar com o ventre, coisas simples, entidade,corpo pleno, viagem imóvel, anorexia, visãocutânea, Yoga, Krishna, love , experimentação.Onde a psicanálise diz: pare, reencontre o seueu, seria preciso dizer: vamos mais longe, não

encontramos ainda nosso CsO, não deszemosainda sucientemente nosso eu. Substituir aanamnese pelo esquecimento, a interpretaçãopela experimentação. Encontre seu corpo semórgãos, saiba fazê-lo, é uma questão de vida oude morte, de juventude e de velhice, de tristezae de alegria. É aí que tudo se decide (Deleuze& Guattari, [1980] 1996, p. 11).

Para cada tipo de CsO deve-se perguntarde que tipo se trata, como é fabricado, quais são seusmodos, o que acontece, com que variantes – deve-sefazer uma análise innita sobre aquilo que é produ-zido sobre ele. Os autores consideram que o CsOé, e deve ser, uma experimentação muito delicada,porque não pode haver estagnação dos modos nemconstruções que constantemente tangenciem perigose o esvaziem em vez de preenchê-lo. Pode-se criar umCsO escolhido como um bom lugar e, no entanto,alguma coisa pode impedir a circulação das intensi-dades, pode existir um ponto de bloqueio pelo qualnada passa. Bloquear – e ser bloqueado – é aindauma intensidade, mas o importante em cada caso é

denir o que faz passar e o que impede a passagemde intensidades.Para os autores, o organismo não seria um

corpo, mas um estrato sobre o CsO, um fenômeno decoagulação, de sedimentação que lhe impõe formas,funções e organizações dominantes e hierarquizadas,transcendências organizadas para extrair um trabalhoútil. Não paramos de ser estraticados, e o CsO é arealidade sobre a qual vão se formar coagulações quecompõem um organismo, acompanhado tambémde uma signicação e de um sujeito.

O Cso grita: fizeram-me um organismo!Dobraram-me indevidamente! Roubarammeu corpo! O juízo de Deus arranca-o de suaimanência, e lhe constrói um organismo, umasignicação, um sujeito. É ele o estraticado. Assim, ele oscila entre dois pólos: de um lado,as superfícies de estraticação sobre as quaisele é rebaixado e submetido ao juízo, e, poroutro lado, o plano de consistência no qual elese desenrola e se abre à experimentação. E se

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uxos, puras intensidades, pequena máquina privadapronta para ramicar-se em outras máquinas coletivas.

Há desejo toda vez que há constituiçãode um CsO, e existem desejos de todos os tipos –desejo fascista, desejo de dinheiro, etc. É a partir

disso que Deleuze e Guattari propõem que umaanálise deve se preocupar em saber se possuímosos meios de realizar a seleção que separa o CsOde corpos vazios, cancerosos, totalitários. O queimporta não é denunciar falsos desejos, até porqueestes não existem. Importante é saber distinguir oque remete à proliferação de estratos ou à desestra-ticação violenta, e o que remete à construção doplano de consistência.

Para os autores, a psicanálise mais tradicio-nal perdeu o contato com o real porque se distanciouexcessivamente do CsO ao traduzir tudo em fantas-mas, signicâncias e subjetivações. O Cso é o real, oque resta quando tudo foi retirado.

Deleuze e Guattari acreditam nos deviresmoleculares que minam as grandes potências molares,como o corpo organizado, a família, a prossão e aconjugalidade. Eles preferem pensar a partir de umacorrente alternativa, de uma circulação de afetosimpessoais que tumultua os projetos signicantese os sentimentos subjetivos, constituindo uma irre-sistível desterritorialização que anula de antemão astentativas de reterritorialização edipiana, conjugal

ou prossional. Os autores pensam em termos dedevires: devir-intenso, devir-imperceptível, devir--animal, devir-mulher.

Passemos então para as proposições dosautores acerca do devir. Para eles, assim como umdevir não é uma correspondência de relações, eletambém não é uma semelhança, uma imitação ouuma identicação. O devir não produz outra coisasenão ele próprio. A alternativa que nos faz dizerque ou imitamos ou somos alguma coisa é falsa.“O que é real é o próprio devir, o bloco de devir,e não os termos supostamente xos pelos quais

passaria aquele que se torna” (Deleuze & Guattari,[1980] 1997, p. 18). O devir é da ordem da aliançae não da liação. O devir é feito de rizoma, não deárvores genealógicas.

Segundo os autores, a psicanálise ortodoxaencontrou frequentemente a questão dos devires--animais do homem na criança e, sobretudo, nomasoquismo. No entanto, a psicanálise mais tradi-cional massacrou o devir-animal no homem e na

o CsO é um limite, se não se termina nunca dechegar a ele, é porque há sempre um estratoatrás de um outro estrato, um estrato engas-tado em outro estrato. Porque são necessáriosmuitos estratos e não somente o organismo

para fazer o juízo de Deus. Combate perpé-tuo e violento entre o plano de consistência,que libera o CsO, atravessa e desfaz todos osestratos, e as superfícies de estraticação que obloqueiam ou rebaixam (Deleuze & Guattari,[1980] 1996, p. 21-22).

Desarticular o organismo, desfazê-lo, sig-nica abrir o corpo a novas experimentações, agen-ciamentos, múltiplas articulações, conjunções, semque isso leve à morte ou ao suicídio. Não podemosconfundir movimentos de autodestruição, implíci-tos na visão freudiana da pulsão de morte, com a visão deleuziana da pulsão de morte, que fala de ummovimento de libertação de conteúdos prévios como objetivo de criar novos agenciamentos, habitarnovas terras.

Segundo os autores, desfazer o organismonão é mais fácil do que desfazer os outros estratosdominantes de nossa cultura, o da signicância ou oda subjetivação. A noção de signicância, impregnadaem nossa forma de pensar, impede que o incons-ciente se liberte da interpretação e possa se tornar

uma verdadeira produção. Já o conceito de sujeitoteima em nos xar a uma realidade dominante e nosimpede de fazer da consciência um meio de explo-ração. Porém, para realizar essa desarticulação dosestratos dominantes, a prudência se faz necessárianos três casos.

Um movimento muito violento de libera-ção dos estratos, sem a prudência necessária, traza catástrofe, entradas sem saídas, em vez de traçarum plano. “O pior não é permanecer estraticado –organizado, signicado, sujeitado – mas precipitaros estratos numa queda suicida ou demente, que os

faz recair sobre nós, mais pesados do que nunca”(Deleuze & Guattari, [1980] 1996, p. 23-24).Para construir um plano de composição, é

necessário instalar-se sobre um estrato, experimentaro que ele tem a oferecer, buscar dentro dele espaçosfavoráveis, linhas de fuga possíveis, movimentos dedesterritorialização, enm, ter sempre em vista umpedaço de uma nova terra. É dessa forma que o CsOse revela pelo que é: conexão de desejos, conjunção de

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exemplo da menina, indicando-a como objeto deseu desejo, um organismo oposto. Exatamente porser a menina a primeira vítima, que, inversamente,a reconstrução do corpo como corpo sem órgãos éinseparável do devir-mulher.

Os autores armam que, apesar de tantosdevires do homem, não há um devir-homem. Issoacontece pelo fato de que o homem é majoritáriopor excelência, enquanto os devires são minoritários.Por maioria, entende-se aqui a determinação de umestado ou de um padrão em relação ao qual tantoas quantidades maiores quanto as menores serãoditas minoritárias. O padrão molar-majoritário aquiconsiderado é o do homem branco, adulto, macho,razoável, etc. É nesse sentido que as mulheres, ascrianças, os animais, os vegetais, as moléculas sãominoritários. Enm, não há devir-homem, porque ohomem é a entidade molar por excelência, enquantoos devires são moleculares.

Seguindo-se ao devir-mulher, passa-se pelosdevires-animais, e por todos os outros devires quese precipitam em direção a um devir-imperceptível.

O devir-imperceptível quer dizer muitascoisas: primeiramente, quer dizer ser como todomundo, não se fazer notar, ser desconhecido. Segundoos autores, isso não é nada fácil, já que não é todomundo que se torna todo mundo, ou seja, não é todomundo que se caracteriza como um devir.

Pois todo mundo é o conjunto molar, mas devirtodo mundo é outro caso, que põe em jogo ocosmo com seus componentes moleculares.Devir todo mundo é fazer mundo, fazer ummundo. À força de eliminar, não somos mais doque uma linha abstrata, ou uma peça de quebra--cabeça em si mesma abstrata. É conjugando,continuando com outras linhas, outras peçasque se faz um mundo, que poderia recobrir oprimeiro, como em transparência. A elegânciaanimal, o peixe camuador, o clandestino: ele

é percorrido por linhas abstratas que não separecem com nada, e que não seguem nemmesmo suas divisões orgânicas; mas, assimdesorganizado, desarticulado, ele faz mundocom as linhas de um rochedo, da areia e dasplantas, para devir imperceptível (Deleuze &Guattari, [1980] 1997, p. 73).

Para os autores, o movimento, os deviresestão numa relação essencial com o imperceptível –

criança. Limitou-se a ver no animal um representantedas pulsões ou uma representação dos pais. Para osautores, esta psicanálise não conhece os agenciamen-tos que uma criança pode montar para resolver umproblema cujas saídas lhe estão sendo barradas; as

crianças constroem um plano, e não um fantasma.O plano de imanência fracassa quando um

outro plano volta à força e, mais uma vez, só reco-nhece semelhanças entre elementos e analogias entrerelações. O plano de consistência, em vez de reduzira dois o número de dimensões das multiplicidades,recorta-as todas para fazer coexistirem outras tantasmultiplicidades planas com dimensões quaisquer.O plano de imanência é a máquina abstrata na qualcada agenciamento é uma multiplicidade, um devir.Uma intensidade é um indivíduo, uma hecceidade , umaindividuação sem sujeito. Tudo se torna imperceptí- vel, tudo é devir-imperceptível no plano de consis-tência, mas é justamente nele que o imperceptível é visto ou ouvido.

O devir é um processo do desejo, princípiode aproximação que indica o mais rigorosamentepossível uma zona de vizinhança ou de copresençade uma partícula. Dessa forma, todos os devires sãomoleculares – coletividades moleculares, hecceidades ,e não sujeitos molares que conhecemos fora de nós.Há um devir-mulher, um devir-criança, que nãose parecem com a mulher ou com a criança como

entidades molares distintas. Por entidade molar,podemos entender aqui, por exemplo, a mulherpercebida a partir de uma dualidade que a opõe aohomem como determinada por sua forma, marcadacomo sujeito. O devir-mulher não é, denitivamente,imitar essa entidade, transformar-se nela, mas simemitir partículas que entrem na zona de vizinhançade uma micro-feminilidade, produzir em nós mesmosuma mulher molecular. Os autores consideram quetambém não basta fazer como a psicanálise clássicae falar de uma bissexualidade, na qual cada sexocontém o outro e deve desenvolver em si mesmo

o seu polo oposto; isso seria interiorizar a máquinabinária, e não sair da lógica dual.Para Deleuze e Guattari, todos os devires

começam e passam pelo devir-mulher, que é a chavede todos os outros devires. Isso porque é da menina,primeiro, que se rouba o corpo, com advertênciasdo tipo: “pare de se comportar assim” ou “vocênão é um moleque”. É dela que se rouba seu devirpara impor-lhe uma história, ou uma pré-história.O menino vem logo depois. É-lhe mostrado o

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nisso e dessa forma não reconheça outras tantaspossibilidades de “verdades” mutantes, as diversasoutras linhas que surgem das multiplicidades que asrelações compõem e que não remetem a um pontode origem, posto que podem nascer de um meio não-

-localizável. Deleuze e Guattari consideram que umsistema pontual será mais interessante à medida queum músico, um escritor, um lósofo, ou até mesmoum psicanalista se oponha a ele, fabricando-o comoum trampolim para saltar e alcançar uma multiplici-dade de pontos de vista.

Nesse sentido, o território é visto comoum lugar de passagem, e caberia ressaltar os meiosque o atravessam. Todo agenciamento é territorial e,em muitos casos, constata-se uma formação de novosagenciamentos no agenciamento territorial, uma aber-tura inovadora, uma função agenciada, territorializada,que adquire independência suciente para formarela própria um novo agenciamento em vias de des-territorializacão. Logo, o território não para de serpercorrido por movimentos de desterritorializaçãorelativa. Diante disso, podemos dizer que a psicanálisenão pode mais esperar que as pessoas simplesmentese submetam a uma relação analítica reproduzindohistórias e comportamentos universais dados a priori ,e deixando de lado todo um aspecto criativo relacio-nado a novos agenciamentos que fazem com que elasse movam por caminhos singulares.

 A vida é um sistema de estraticaçãocomplexo e, ao mesmo tempo, um conjunto deconsistência, coexistências, que perturba as ordense as formas. Para Deleuze e Guattari, a vida não secontenta com a função de resolver meios, mas simagenciar territórios. A psicanálise precisa estar abertaa esses movimentos vitais, ao invés de se fechar e sedefender com uma teoria imutável.

 A questão agora gira em torno da con-sistência ou da consolidação. Como tornar ummaterial consistente a ponto de ele poder captarforças não-sonoras, não-visíveis, não-pensáveis?

Deleuze e Guattari declaram que saímos da épocados agenciamentos para entrar na idade da máquina,de uma imensa mecanosfera, plano das forças aserem captadas.

 A máquina, assim como o devir, seapresenta de forma diferente em cada agencia-mento. Ela passa de um para outro, abre um parao outro, independentemente de uma ordem xa.Nesses termos, quando procura domesticar o

são por natureza imperceptíveis, por serem purasrelações de velocidade e lentidão, puros afetos queestão abaixo ou acima do limiar de percepção. Osdevires são imperceptíveis, pelo menos num planoque dá formas a serem percebidas, como no plano

de transcendência. O imperceptível só pode serpercebido no plano de imanência, onde o próprioprincípio de composição deve ser percebido. É adiferença dos dois planos que faz com que aquiloque não pode ser percebido num deles só possa serpercebido no outro. No plano de imanência, a per-cepção não está mais na relação entre um sujeito eum objeto, mas no movimento que está associado aessa relação: a percepção está entre as coisas, apenasos movimentos são olhados. Nesse plano, o próprioimperceptível torna-se necessariamente percebido,ao mesmo tempo em que a percepção torna-senecessariamente molecular.

Para Deleuze e Guattari ([1980] 1997),o inconsciente – que na psicanálise poderia darconta do imperceptível e dos fenômenos afetivos –permanece como um plano de transcendênciaque deve justicar a existência do psicanalista e anecessidade de suas interpretações. Uma vez que odesejo deve ser traduzido para esse plano, ele acabaacorrentado a molaridades, como a estrutura doÉdipo e a castração.

De acordo com os autores, a psicanálise

clássica deu ao inconsciente a pesada incumbênciade ser, ele próprio, a forma innita do segredo quetorna necessário todo um trabalho para medir seusconteúdos a partir de uma forma pura. Quando o“segredo” se revela em termos de Édipo, falo e cas-tração, isso se traduz em absolutamente nada, tudoisso se torna risível.

Os autores armam que não se rompe como esquema de arborescência, não se atinge o devir,nem o molecular, enquanto uma linha for remetida aum ponto. O devir é um movimento pelo qual a linhase libera do ponto, e torna os pontos indiscerníveis,

rizoma que se livra da arborescência. Um sistema épontual enquanto as linhas forem consideradas nelecomo coordenadas, ou como ligações localizáveis.O que se opõe ao sistema pontual são sistemas linearesou, antes, multilineares. No caso da psicanálise maistradicional, pode-se aceitar as suas linhas e diretrizesprincipais, como as territorialidades edipianas, aprimazia do falo e toda a problemática da castração. A questão é não permitir que a teoria se feche apenas

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que podemos começar um plano de mil maneiras,assim como recompor e remanejar o conjunto dosagenciamentos innitas vezes.

 Todo agenciamento em seu conjuntoindividuado é uma hecceidade , uma individuação sem

sujeito; tem-se a individuação de um dia, de umaestação, de um enxame. Trata-se de um plano intei-ramente distinto daquele das formas. Sem dúvida,seria um desao para a psicanálise clássica se inserirnesse movimento innito, nesse jogo nômade deindividuações que lançaria as mais pesadas dúvidassobre uma teoria que muitas vezes pensa o ser deforma estática.

 A temporalidade no plano de imanên-cia também é outra. Aion  é o tempo indenido doacontecimento, linha utuante que só conhece veloci- dades, ao contrário de Cronos , o tempo da medida,que xa as coisas e as pessoas, desenvolve uma formae determina um sujeito.

O uso da linguagem também é diferente,pois o plano de consistência só tem por conteúdohecceidades , uma vez que ele se liberou das signicânciasformais e das subjetivações pessoais. Portanto, suasemiótica é composta sobretudo de nomes próprios,de verbos no innitivo e de artigos ou de pronomesindenidos. O verbo no innitivo não é indetermi-nado – ele exprime o tempo utuante próprio do Aion , tempo do devir, que enuncia apenas velocida-

des e lentidões relativas. O nome próprio não indicaum sujeito – indica sim um devir, um acontecimento,uma hecceidade . O pronome indenido, também, deforma alguma é indeterminado: nada lhe falta quandointroduz hecceidades , acontecimentos cuja individua-ção não passa por uma forma, um sujeito.

Deleuze e Guattari levantam a hipótesede que talvez existam dois planos, ou seja, duasmaneiras de conceber o plano. O plano pode ser umprincípio oculto que dá a ver aquilo que se vê, masele próprio não é dado – é por natureza oculto. Aípoderíamos incluir o plano em que se desenvolve

a teoria psicanalítica mais tradicional. Esse planoconcerne ao desenvolvimento das formas queocultam uma estrutura necessária – a formação dossujeitos com seus signicantes secretos – e possuiuma dimensão suplementar àquilo que ele dá. Esteé o plano de transcendência, que estabelece a lógicadas analogias e das estruturas.

Existe também uma outra concepção doplano: outro plano, onde não há mais desenvol- vimento de formas, nem sujeitos ou estrutura de

inconsciente maquínico, a teoria psicanalítica setorna estéril.

Para os autores, mais importante que fazerum novo sistema é desterritorializar os já existentes,soltá-los no cosmo, abrir o agenciamento a uma

força cósmica, com a prudência necessária para quea força cósmica não se torne má. “Só que nuncaestamos seguros de ser sucientemente fortes, poisnão temos o sistema, temos apenas linhas e movi-mentos” (Deleuze e Guattari, [1980] 1997, p. 170).

Deleuze e Guattari consideram que as for-mas essenciais ou substanciais foram criticadas demaneiras muito diversas. No entanto, foi Espinosaquem procedeu radicalmente, chegando a elementosque não têm mais nem forma nem função, que sedistinguem apenas pelo grau de movimento e derepouso, de lentidão e de velo- cidade. Dependendodo agenciamento em que entram, esses elementospertencem a este ou àquele indivíduo, que pode elemesmo ser parte de outro indivíduo numa outraindivíduo é uma multiplicidade innita, e a naturezainteira, uma multiplicidade de multiplicidades per-feitamente individuada. O plano de consistência danatureza é como uma imensa máquina abstrata, cujaspeças são os agenciamentos ou os indivíduos diversosque agrupam, cada um, uma innidade de partículas. Trata-se de um plano de extensão, de imanência ouunivocidade que se impõe à analogia dos pensamentos

estruturais ou de tendência representacional. A questão deixa de ser a da organização, ados órgãos e das funções, enm, de um plano trans-cendente que impõe a lógica das relações analógicase de tipos de desenvolvimento divergentes, e passa ase tratar das composições. Parece-nos que a psicanáliseteria muito a ganhar se focalizasse mais a questãodas composições e das experimentações, em vez derebater tudo sobre representações familiares e sobrea questão dos limites.

 A pergunta espinosista sobre o que podeum corpo também seria bastante útil à prática psi-

canalítica, já que devolveria a liberdade que as teoriasestruturais retiraram do corpo. Ela possibilitaria umpensamento ético que procura saber quais são os afetosde um corpo, e como em cada caso eles podem ounão se compor com os afetos de outro corpo, sejapara destruí-lo ou ser destruído por ele, para trocarcom esse outro corpo ações e paixões ou para comporcom ele um corpo mais potente, saber sobre seuslimites, tamanhos internos, ao invés de se submetera categorias universais. Empreendimento innito, já

7/23/2019 Para Desarticular Os Estratos Dominantes Do Organismo, Da

http://slidepdf.com/reader/full/para-desarticular-os-estratos-dominantes-do-organismo-da 8/9Psicol. Argum. 2011 jul./set., 29(66), 285-293

Rodrigues, J. M., & Peixoto Jr., C. A.292

impessoal, sem eu, campo que transcende todas ascategorias que impõem limitações ao ser.

O campo transcendental é bastante dife-rente do transcendente. A consciência, quandoproduz um sujeito, aparece como “transcendente”.

 A psicanálise, ao produzir o sujeito edípico neuróticoou o psicótico marginalizado, participa desse campotranscendente. Já o campo transcendental escapa àtranscendência do sujeito e do objeto, e dene-secomo puro plano de imanência – imanência que nãose relaciona com qualquer coisa capaz de contê-la.

Diremos da pura imanência que ela é UMA VIDA, e nada mais. Ela não é imanente à vida,mas a imanência que não está em nada mais éela mesma uma vida. Uma vida é a imanência daimanência, a imanência absoluta: ela é completopoder, completa beatitude” (Deleuze, 2006,p. 385-386).

 A imanência é uma  vida, e o artigo indenidoé de importância fundamental. Serve como índicedo transcendental, em que a vida do indivíduo deulugar a uma vida impessoal e, no entanto, singular.É uma hecceidade que já não é individuação, massingularização. Vida de pura imanência, neutra,para além do bem e do mal. A vida imanente deum homem que já não tem nome, mas que não se

confunde com qualquer outro.Deleuze nos diz que uma   vida singulardispensa toda individualidade, ou qualquer outracoisa que a individualize, que a categorize. O autordá o exemplo das crianças pequenas, que se parecemtodas e não têm individualidade, mas singularidades,um sorriso, um gesto. Elas são atravessadas por uma vida imanente que é pura potência.

 A psicanálise clássica parece transformartodos os acontecimentos e os seres em formastranscendentes que espera aplicar a tudo e a todos.Desse modo, para Deleuze, a psicanálise tradicional

se funda num plano de transcendência e participade uma política de repressão mais do que de umapolítica de liberação do ser e do pensamento. Noentanto, Deleuze é um pensador critico mas tambémarmativo. Daí podermos inferir que ele acreditana possibilidade, na capacidade criativa de umareformulação e de uma positivação da psicanálise,supondo que ela própria disporia de elementos paratal empreitada.

gênese. O plano de imanência, que se opõe ao planode transcendência, é um plano de univocidade – elejamais apresenta uma dimensão suplementar àquiloque se passa por ele. As dimensões do plano deimanência não param de crescer com aquilo que se

passa nele. Portanto, os autores armam que é umplano de proliferação, de povoamento, de contágio,plano onde a forma não para de ser dissolvida paraliberar tempos e velocidades. Plano de experimen-tação contra toda interpretação, e lugar onde umanova modalidade de psicanálise poderia ser criada.Os autores nos lembram que, necessariamente, emum plano onde não há organização, desenvolvimentoou formação, e sim transmutações, o fracasso vaiestar sempre presente, pois faz parte integrante doplano de imanência.

Segundo os autores dos  Mil Platôs , nãoparamos de passar de um plano ao outro, por grausinsensíveis e sem sabê-lo. O plano de imanênciaimplica uma desestraticação de toda a natureza: ele éo CsO, movimentos desterritorializados. No entanto,esse plano não pré-existe aos movimentos de dester-ritorialização que o desenvolvem, aos devires que ocompõem. Assim como o plano de transcendêncianão para de trabalhar sobre o plano de consistência,tentando sempre impedir as linhas de fuga e interrom-per os movimentos de desterritorializacão, o plano deconsistência também não para de se extrair do plano

de organização, de levar partículas a fugirem para forados estratos, de embaralhar as formas.Os autores enfatizam novamente quanta

prudência é necessária para que o plano de con-sistência não se torne um puro plano de abolição,de morte, ou de retorno ao indiferenciado, e seperguntam: até que ponto não será preciso guardarum mínimo de estratos, um mínimo de formas, ummínimo de sujeito para dele extrair materiais, afetose agenciamentos?

Uma parte considerável da obra de Deleuzetrata do problema da prática, de como podemos pôr

em movimento as forças criativas e nos afastar dasforças reativas que diminuem nossa potência de agirao operar com um sistema limitativo.

No artigo “Imanência: uma vida” (2006),Deleuze faz uma distinção entre o transcendentee o campo transcendental. Ele dene o campotranscendental como oposto a tudo o que constituio mundo do sujeito e do objeto. Nesses termos,pode ser considerado como consciência a-subjetiva,

7/23/2019 Para Desarticular Os Estratos Dominantes Do Organismo, Da

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Para desarticular os estratos dominantes do organismo, da signicância e da subjetivação 293

Holland, E. (1999).Deleuze e Guattari’s Anti-Oedipus.Londres: Routledge.

Recebido: 25/05/2009Received : 05/25/2009

 Aprovado: 15/03/2010 Approved : 03/15/2010

Deleuze, no texto O que as crianças dizem  ([1993] 1997), arma sua posição de acreditar numaconcepção cartográca da vida e do inconsciente,que já não lida mais com as categorias de pessoas eobjetos, mas com trajetos e devires. “A criança não

para de dizer o que faz ou tenta fazer: explorar osmeios, por trajetos dinâmicos, e traçar o mapa cor-respondente” (Deleuze, 1997, p. 73). Dessa forma,o indenido se torna a determinação do devir, e oimpessoal revela as singularidades.

Para nalizar, consideramos possível vin-cular esse processo de desidenticação de estratosdominantes com a ideia deleuziana sobre o que dizemas crianças, e indicar que esse parece ser o caminhopara ir atrás do super-homem nietzschiano – aqueleque fala da superação do homem, e que leva a umgesto armativo de dizer sim ao mundo tal comoele é, escapando da dialética, da representação, doressentimento, e colocando-se diante da imediati-cidade do devir, atingindo uma espécie de grandesaúde que somente algo da ordem do sobre-humanopoderia alcançar. O além do homem traz uma novamaneira de sentir, uma nova maneira de pensar – traza radicalidade do pensamento de Nietzsche, comum sentido de superação e reinvenção do homem,e não sua adaptação.

Referências

 Artaud, A. (2004). Pour en fnir avec le jugement de

dieu. Oeuvres quatro. Paris: Gallimard. (Publicadooriginalmente em 1948). 

Deleuze, G. (1988).Diferença e repetição. Rio de Janeiro:Graal. (Publicado originalmente em 1968).

Deleuze, G. (1997). Crítica e clínica. São Paulo: Ed. 34.

Deleuze, G. (2006) The interpretation of utterances.In: Deleuze, G. Two regimes of madness. Texts

and interviews 1975-1995 (pp. 385-386). New York:Semiotext(e).

Deleuze, G., & Guattari, F. (1996) Mil Platôs:  Vol. 3. Capitalismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro: Ed.34. (Publicado originalmente em 1980).

Deleuze, G., & Guattari, F. (1997) Mil Platôs: Vol. 4.

Capitalismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro: Ed.34. (Publicado originalmente em 1980).