PassagensWalter Benjamin
Fabiane Sgorla Karine Moura Augusto Parada
O autorWalter Benjamin nasceu em Berlim no dia 15 de julho de 1892 e faleceu em Port-Bou no dia 27 de setembro de 1940.
Viveu no seio de uma família judaica de comerciantes.
Graduado em filosofia pela Universidade de Friburgo, doutorou-se com a tese O conceito de crítica de arte no romantismo alemão, em 1919, na Universidade de Berna, Suíça.
Aproximou-se de filósofos como Adorno, Horkheimer e Marcuse, na época jovens professores envoltos na crítica da cultura e da razão capitalistas.
Fonte: Revista Viso – Cadernos de Estetica AplicadaSet. 2007
O autor
Seu pensamento original nem sempre bem aceito no meio universitário alemão.
Fracassados seus planos acadêmicos, lançou-se numa carreira de tradutor, jornalista e radialista.
De 34 a 35, Benjamin refugiou-se na Itália
A sua morte ocorreu durante a tentativa de fugir, atravessando os Pireneus, para a Espanha, pois temia ser entregue à Gestapo.
Por não conseguir atravessar a fronteira, já desesperado, comete suicídio, tomando uma overdose de morfina.
A Obra
Passagens é uma das obras historiográficas mais significativas do
nosso tempo. A partir de Paris, a "capital do século XIX”, é
apresentada a história cotidiana da modernidade - com figuras como o
flâneur, a prostituta, o jogador, o colecionador.
Este texto com mais de 4.500 "passagens" constitui um dispositivo
sem igual para se estudar a metrópole moderna, e por extensão,
as megacidades do mundo atual
Fonte: Museu da Imagem e do Som de Campinas
CARACTERÍSTICAS METODOLÓGICAS
“gênero filosófico-literário do fragmento”
arquitetura labiríntica e constitutivamente multiestratificada
ordem não corresponde necessariamente à cronologia de sua gênese
fichário - como hipertexto
não são compostas por um texto linear, mas espacial
work in progress a ser continuado ou “potenciado” por seus intérpretes
CONSTRUÇÃO
Esse conjunto de mais de 3500 fragmentos
letras maiúsculas como, por exemplo: B – Moda; D – O tédio, eterno retorno; F – Construção em ferro; G – Exposições, Publicidade, Grandville; J – Baudelaire; K – Cidade de sonho e morada de sonho, Sonhos do futuro, Niilismo antropológico, Jung; N – Teoria do conhecimento, teoria do Progresso; X – Marx; Y – A fotografia...;
letras minúsculas, – utilizando 10 destas letras e 11 em branco: a – Movimento social; k – A comuna; l – O Sena, a Paris mais antiga; m – Ócio e ociosidade; r – École Polytechnique...;
crítica de Adorno
Trechos Selecionados
1. Introdução à edição alemã (1982) – Rolf Tiedemann
2. Paris, A Capital do Século XIX – 1935
3. Paris, A Capital do Século XIX – 1939
4. Passagens, Magasins de Nouveauts, Calicots
5. Moda6. Paris Antiga, Catacumbas,
Demolições e Declínio de Paris7. O tédio, Eterno Retorno8. Primeiro Esboço9. Passagens e Paralipômenos10. Passagens Parisienses I 11. Passagens Parisienses II12. O anel de Saturno ou Sobre a
Construção em ferro
Introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann
Arqueologia de Passagens: trabalho inacabado de Walter Benjamin que propõe “uma filosofia material da história no século XIX”. O material é comparado pelo editor como o alicerce de uma grande obra. o grande número de fragmentos e citações revelam um arcabouço teórico e material em construção, em processo que evidenciam alguns objetivos de W.B:
Introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann
questiona a aplicabilidade do materialismo histórico com perspectiva plena para entendimento do desenvolvimento histórico;
uma compreensão da história a partir de questões concretas, como “comentários da realidade” sobre fenômenos urbanos e sociais do séc. XIX como as próprias passagens parisienses, as lojas de departamentos, as exposições universais, os panoramas as ruas, o colecionador, o flâneur;
Introdução à edição alemã (1982) Rolf Tiedemann
do concreto e do particular W.B. procura ver a história por um ângulo ainda não explorado, uma interpretação sobre o período de forma mais plena;
além da concepção do concreto W.B. também apoia a seu instrumental teórico na teoria surrealista do sonho - “tratar o mundo das coisas do séc. XIX como se fosse um mundo de coisas sonhadas”;
ideia de um pensamento dialético como forma de um despertar histórico: pretende compreender o fluir do movimento, o devir dos sujeitos
Segundo o editor os dois exposés (1935 e 1939) Paris, A Capital do Século XIX são uma amostra do que W.B. pretendia com o o projeto de Passagens.
Paris, A Capital do Século XIX – 1935
Fourier ou as passagens
Daguerre ou os panoramas
Grandville ou as exposições universais
Luis Felipe ou intérieur
Baudelaire ou as ruas de Paris
Haussmann ou as barricadas
Paris, A Capital do Século XIX – 1939
Introdução
A. Fourier ou as passagens
B. Grandville ou as exposições universais
C. Luis Felipe ou intérieur
D. Baudelaire ou as ruas de Paris
E. Haussmann ou as barricadas
Conclusão
NOTAS E MATERIAIS
Proposta:
“Paris, capital do século XIX” – “capital do Capital” – “cidade de sonho” –“livro do mundo”;
“comentários da realidade” sobre fenômenos urbanos e sociais do século XIX
é o banco de dados e a "caixa de construção" todo o projeto das “Passagens”
A grandeza e a inovação dessa obra estão exatamente em sua forma.
PASSAGENS, MAGASINS DE NOUVEAUTÉS,CALICOTS
"Estas passagens, uma recente invenção do luxo industrial, são galerias cobertas de vidro e com paredes revestidas de mármore, que atravessam quarteirões inteiros, cujos proprietários se uniram para esse tipo de especulação. Em ambos os lados dessas galerias, que recebem sua luz do alto, alinham-se as lojas mais elegantes, de modo que uma tal passagem é uma cidade, um mundo em miniatura Flâneur , onde o comprador encontrará tudo que precisar.." (p.77-78)
(Passage de Panoramas, Passage Véro-Dodat, Passage du Désir, Passage Colbert, Passage de la Réunion, Passage de l'Opéra, etc)
Passagens: famosas galerias comerciais de Paris da época ou os primórdios das lojas de departamentos;
PASSAGENS, MAGASINS DE NOUVEAUTÉS,CALICOTS
"Nessa virada da história, o comerciante parisiense faz duas inovações que transformam o mundo da moda: a vitrine e empregado masculino (o calicot). A vitrine, que lhe faz enfeitar seu estabelecimento, do térreo as mansardas, e sacrificar trezentas varas de tecido para aguirlandar sua fachada como um navio almirante; o empregado masculino, que substitui a sedução do homem pela mulher, como havia imaginado os legistas do antigo regime, pela sedução da mulher pelo homem, muito mais psicológica. Apresentamos o preço fixo, marcado ao lado da mercadoria.” H. Clouzout (p.92)
MODA Evidencia uma legibilidade do mundo ao estudar o fenômeno da moda.
"Para o filósofo o aspecto mais interessante da moda é sua extraordinária capacidade de antecipação. É consenso que a arte, muitas vezes, geralmente por meio de imagens, antecipa em anos a realidade perceptível. Ruas ou salas puderam ser vistas em suas variadas cores brilhantes bem antes que a técnica,
através de anúncios luminosos ou outros dispositivos, as colocasse sob a luz desse tipo. Da mesma forma, a sensibilidade individual de um artista em relação ao futuro ultrapassa em muito aquela da dama da sociedade. E, entretanto, a moda está em contato muito mais constante, muito mais preciso, com as coisas vindouras graças ao faro incomparável que o coletivo feminino possui para o que nos reserva o futuro.[...]” (p.102)
O TÉDIO, ETERNO RETORNO
Revela uma Paris fria e chuvosa onde o tédio se espalhava.
"Como as forças cósmicas têm apenas um efeito narcotizante sobre o homem vazio e frágil, é o que revela a relação dele com uma das manifestações superiores e mais suaves dessas forças: o tempo atmosférico. É muito significativo que justamente esta influência, a mais íntima e mais misteriosa exercida pelo tempo sobre os homens, veio a se tornar o tema de suas conversas mais vazias. Nada entedia mais o homem comum do que o cosmos. Daí resulta a íntima ligação, para ele, entre tempo e tédio. Um belo exemplo de superação irônica desta atitude é a história do inglês spleenático, que certa manha desperta e dá um tiro na cabeça porque lá fora a chove”. (p.142)
O TÉDIO, ETERNO RETORNO
Michelet “faz uma descrição muito inteligente e piedosa a da condição dos primeiros operários especializados por volta de 1840. Eis o "inferno do tédio" nas tecelagens: "O sempre, sempre, sempre é a palavra invariável que retumba em nosso ouvido com a rotação automática que faz tremer o assoalho. Ninguém jamais se habitua isso." Georges Friedmann, La Crise Du Progrès, Paris 16 p.244 [A citação é extraída de Michelet Le Peuple, 1846 p. 84] (p.150) .
Primeiro Esboço
São os textos iniciais enviados por WB a Adorno em 1935
Composto por quatro textos, um com “paralipômenos” escritos entre 1927 e 1929.
Paralipômenos Suplemento a qualquer obra literária.
Primeiro Esboço
Passagens
Passagens Parisienses I
Passagens Parisienses II
O anel de Saturno ou Sobre a Construção em ferro
Paralipômenos
Passagens
Data do verão ou outono de 1927 – são os primeiros manuscritos
Faz parte das anotações de um artigo que WB escreveria com Franz Hessel
Um apanhado histórico e observados da arquitetura parisiense, hábitos e costumes
Passagens Parisienses I
Texto fundador do trabalho Passagens
Banco de Dados inicial do pensamento de WB
Mais detalhado, mostra inclusive que o gênero filosófico literário do fragmento, que marca o projeto ate o fim, não é uma forma ocasional ou contingente, mas constitutiva da escrita benjaminiana
Passagens Parisienses II
Relacionado com o orojeto do ensaio intitulado “Passagens Parisienses: uma Feeria Dialetica
Rolf Tiedemann escolheu 24 fragmentos que tem forma de redação acabada
O anel de Saturno ou Sobre a Construção em ferro
Ha indícios de que pode ter sido escrito para uma transmissão radiofônica ou para jornal, porem era inédito
Fala sobre as tentativas da construção com ferro, o que viria a revolucionar a industria e por conseqüência, a imagem européia
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Características da construção do texto
um trabalho acabado ou inacabado, uma obra aberta ou fechada
Construção que sugere continuidade
Um método em que a pesquisa esta sempre em processo que não apresenta um fim
Estratégia de “aplicabilidade do materialismo histórico”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entendimentos a partir do texto
O esboço de Paris no século XIX, a ‘cidade mundo’, sugere uma nova maneira de ler e interpretar uma CIDADE - uma CIVILIZAÇÃO
Critica à modernidade, à vida rápida, agitada e multiforme.
Proposta de ‘olhar’ através de vozes silenciadas - em detrimento das vozes da
oficialidade que compõe a história.
Pensar o atual, a vida nas cidades na contemporaneidade, provocando
um mergulho no cotidiano de nossas cidades pode apontar para uma
reflexão acerca das fendas e rupturas da sociedade contemporânea.
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