CENTRO PRESBITERIANO DE PÓS-GRADUAÇÃO ANDREW JUMPER
INTRODUÇÃO À TEOLOGIA DE CALVINO
ALÁULI DA SILVA OLIVEIRA
PASTORADO FEMININO: O QUE CALVINO TEM A DIZER?
São Paulo 2008
ALÁULI DA SILVA OLIVEIRA
PASTORADO FEMININO: O QUE CALVINO TEM A DIZER?
Trabalho apresentado ao Centro
Presbiteriano Andrew Jumper para
obtenção de nota na disciplina Introdução
à Teologia de Calvino (BAS102),
ministrada pelo prof. Dr. João Alves.
São Paulo 2008
Sumário
Introdução ................................................................................................................ 3
1 Governo eclesiástico: o que Calvino tem a dizer ........................................ 4
1.1 O que Calvino diz nas Institutas ...................................................................... 4
1.2 O que Calvino diz nos comentários ............................................................... 10
2 O que Calvino tem a dizer segundo Douglass .......................................... 18
3 O que o pesquisador tem a dizer................................................................ 22
Conclusão .............................................................................................................. 24
Referências Bibliográficas .................................................................................... 25
3
Introdução
Muitas são as especulações sobre a questão do pastorado feminino, mas
poucos têm tratado o assunto com a seriedade devida. Por isso, o presente trabalho
ocupa-se deste tema com o objetivo de, sobre a ótica de Calvino, chegar ao que
seria a posição do reformador sobre o problema aqui levantado, qual seja: é
permitido às mulheres pastorear igrejas? Como veremos pela leitura das Institutas e
dos comentários de 1ª Coríntios e 1ª Timóteo, Calvino afirma que é proibido que a
mulher exerça o ministério pastoral.
A questão do pastorado feminino tem causado muita inquietação nas últimas
décadas. A importância do tema e a necessidade dos cristãos de terem repostas
quanto ao verdadeiro papel do homem e da mulher em casa, na igreja e na
sociedade tornam essa pesquisa relevante, sobretudo porque expõe o pensamento
do principal teólogo da reforma, João Calvino, sobre o assunto.
Neste trabalho traremos somente da questão do ministério pastoral, portanto
não é objetivo deste arrazoar sobre se outros ministérios públicos como presbiterado
e diaconato são permitidos às mulheres. Limitar-nos-emos a buscar a posição de
Calvino nas Institutas e nos comentários de 1ª Coríntios e 1ª Timóteo. Portanto, o
ponto de vista pelo qual o tema será tratado é o do reformador francês
4
1 Governo eclesiástico: o que Calvino tem a dizer
Para chegarmos a uma conclusão sobre qual seria a posição de Calvino a
respeito da ordenação de mulheres ao ministério pastoral, é necessário, antes, que
vejamos qual é o pensamento do reformador no que se refere ao governo
eclesiástico e suas implicações ministeriais, quais sejam: ensino e o governo
propriamente dito. Para tanto, recorreremos às Institutas e aos comentários do
teólogo de Genebra.
1.1 O que Calvino diz nas Institutas
Calvino trata do governo eclesiástico nas Institutas para contrapor-se aos
abusos do clero usurpador – o clero da Igreja Católica. A esse respeito diz o
reformador: “combatemos [...] o poder que usurpam os que querem ser vistos como
pastores da igreja e, ao contrário, são, verdadeiramente, carrascos cruéis”1. Sendo
assim, não vamos encontrar neste contexto asseverações que se refiram
diretamente à questão da ordenação de mulheres ao ministério pastoral. Não é isto
que Calvino tem em mente, visto que este não era um problema de sua época.
Embora este tópico das Institutas seja uma crítica ao papismo, é também bastante
esclarecedor para o assunto deste trabalho. Pois, podemos, por inferência, através
dos argumentos de Calvino, chegar ao que corresponderia à sua posição a respeito
do pastorado feminino.
Por outro lado, ainda que Calvino queira combater os erros do romanismo,
ele também deseja, como reformador, instruir sobre como deve ser o governo da
igreja conforme prescrito nas Escrituras. Desta maneira, ele não apenas desfaz o
erro presente no clero romano, mas também aponta para o modelo bíblico de
governo eclesiástico, o qual deveria ser adotado pelos que abraçaram a fé
1 CALVINO, João. As Institutas. Tradução Odayr Olivetti. São Paulo: Cultura Cristã, v.4, 2006. p. 105.
5 reformada. Este ponto em particular nos interessa porque nos esclarece como deve
ser exercido tal governo e por quem.
Segundo Calvino o poder eclesiástico só é legitimo se este servir a
edificação da Igreja. Diz ele: “não reconhecemos nenhum poder eclesiástico, a não
ser que, como diz Paulo, seja dado para edificação, não para destruição”2.
Edificação, para o reformador, diz respeito à administração da Palavra de Deus.
Tal poder pode ser bem definido como a administração da Palavra de Deus. Porque foi delimitado por Jesus Cristo, quando ele ordenou a seus apóstolos que ensinassem a todas as nações o que lhes havia ordenado. Lei esta que eu gostaria que os que devem governar a igreja de Deus conhecessem bem, isto é, que conhecessem bem os que lhes é ordenado. Dessa maneira, a dignidade dos verdadeiros pastores seria mantida integralmente, e os que tiranizassem com injustiça o povo de Deus não se gloriariam falsamente do seu poder.
3
Observamos também que Calvino chama de pastores aqueles que exercem
o poder eclesiástico. Em suma, para Calvino, a autoridade ou poder eclesiástico é
dos que se ocupam do ministério da Palavra de Deus a quem ele chama de
pastores. Não somente isto, mas a autoridade destes procede unicamente da
Palavra de Deus. Ele explica:
Eis aí o poder eclesiástico claramente exposto, poder outorgado aos pastores da igreja, qualquer que seja o nome pelo qual são chamados. O que se requer deles é que, pela Palavra de Deus, pela qual eles são constituídos administradores, corajosamente ousem enfrentar todas as coisas e constranjam toda glória, altivez e poder deste mundo a obedecer e a sucumbir à majestade divina; que pela mesma Palavra eles tenham o comando sobre todo o mundo, edifiquem a casa de Cristo e destruam o reino de Satanás; que apascentem as ovelhas e matem os lobos; que conduzam os dóceis mediante ensinamentos e exortações; que se imponham aos rebeldes e obstinados e os corrijam; que liguem e desliguem, tosquiem e fulminem; mas tudo baseados na Palavra de Deus.
4
É interessante notar que a autoridade do pastor vai além dos limites da
igreja atingindo e subjugando até mesmo os poderes do mundo. Contudo, tal
autoridade não é inerente ao indivíduo, nem procede da própria igreja, mas da
2 CALVINO, 2006, p. 106.
3 Ibid., p. 107.
4 Ibid., p. 111.
6 Palavra de Deus. Ela, e somente ela, é que autoriza o homem a exercer o poder
eclesiástico que tem sua origem e permanência na própria Escritura Sagrada.
Da Palavra de Deus não somente procede a autoridade para o governo, mas
também para o ensino da igreja. Uma vez que toda autoridade eclesiástica deve
estar baseada na Bíblia, é necessário que os que pretendem exercer o ministério
público do ensino, correção e exortação tenham a permissão das Escrituras para
fazê-lo. Do contrário, isto seria uma usurpação.
Chegamos, então, a uma conclusão preliminar sobre a questão do pastorado
feminino através do princípio exposto aqui, qual seja: que a autoridade do pastor
procede da Palavra de Deus. Isto implica que não só o estabelecimento, mas
também o exercício do poder eclesiástico devem ser autorizados pelas Escrituras
Sagradas. Desta maneiras, ordenar mulheres ao pastorado contraria o que está
prescrito na Bíblia. Em nenhuma parte desta encontra-se algo que autorize as
mulheres a exercerem autoridade, mas ao contrário, delas é dito que devem estar
em sujeição. De onde viria, então, a autoridade das mulheres para exercerem o
ministério pastoral? Certamente, que não vem da Palavra de Deus. Se esta pergunta
fosse feita a Calvino, ele responderia que uma vez que a autoridade do poder
eclesiástico procede da Palavra de Deus, às mulheres é vetado exercê-lo.
O que, então, as Institutas têm a dizer sobre os pastores da igreja? De
maneira bem simples, Calvino refere-se ao pastor como um discípulo chamado
dentre outros para ensinar a doutrina da vida eterna. Os pastores são um presente –
dom – de Deus a Igreja, cuja função é governá-la. Ou seja, Deus governa a igreja
por sua Palavra e o instrumento para isso é o ministério dos homens. Este é tido
como de crucial importância para a edificação do corpo de Cristo. Tendo em mente
Ef 4.4-16, diz o reformador: “Por essas palavras ele [Paulo] mostra que o ministério
7 de homens, que Deus emprega no governo da Igreja, é um laço fundamental pelo
qual os crentes são mantidos juntos em um só corpo”5.
Sobre as funções do pastor, Calvino diz que a duas principais são: pregar o
evangelho e administrar os sacramentos6. Para ele estas duas partes do ministério
pastoral têm a ver com o ensino público da Palavra, seja ela pregada nos sermões
ou encenada na administração dos sacramentos. Entretanto, pensar desta forma
seria um reducionismo, pois alijaríamos o ministério do seu caráter privado cujo
método é a admoestação individual e cujo objetivo é a disciplina. Levando isto em
consideração, Calvino, atribui mais honra ainda às funções do pastor. Posto que
este é responsável também pala correto exercício da disciplina. Assim, os pastores
não podem ser indolentes, mas é dever deles “treinar o povo para verdadeira
piedade pela doutrina de Cristo, administrar o mistério sagrado, preservar e exercer
correta disciplina”7.
Portanto, o ministério pastoral deve ser revestido de autoridade, haja vista
que, para exercer suas funções, o pastor deve ser reconhecido como alguém
autorizado para exercê-las e a quem os outros devem sujeição. É conveniente
lembrarmos que a autoridade pastoral, como já vimos, procede da Palavra de Deus.
Do que foi visto até aqui, podemos argumentar que o ofício pastoral é e deve
ser revestido de autoridade, porque ao pastor é dado o governo da igreja. Este é
exercido através do ministério da Palavra de Deus e é exercido por meio da fiel
pregação do evangelho, administração dos sacramentos e o exercício correto da
disciplina. Afirmamos, então, que o pastor exerce autoridade pelo ensino.
5 CALVIN, Jonh. The Institutes of the Christian Religion. Tradução Henry Beveridge. Grand Rapids: Christian Classics Ethereal Library, 2002. p. 749. Disponível em: <http://www.ccel.org/ccel/calvin/institutes.html>. Acessado em: 20 maio 2008.
6 Ibid., p.751.
7 Ibid., p.752.
8
Mais a frente veremos, quando estudarmos os comentários, que para
Calvino o ofício público de ensino pressupõe autoridade, por isso, não é conveniente
às mulheres, uma vez que elas devem estar em sujeição.
Outro ponto importante a ser considerado é o chamado para o ofício
pastoral. Calvino vê como imprescindível que o pastor tenha uma vocação de Deus
para exercer tal ministério, visto que desta depende também sua autoridade. “Assim,
para que alguém seja considerado pastor da igreja, ele deve, primeiro, ser
devidamente chamado; e, segundo, ele deve responder a seu chamado; isto é,
aceitar e executar o ofício que lhe foi ordenado”8 – assevera o pastor de Genebra.
Ele, tomando como exemplo o apóstolo Paulo, observa:
Se tão grande ministro de Cristo não tomou para si mesmo a autoridade de ser ouvido na Igreja, senão como tendo sido designado para isso por ordem de seu Senhor, e fielmente fazendo o que lhe foi confiado, quão grande é a petulância de alguns homens, desprovidos [do chamado, ou da fidelidade em respondê-lo, ou de ambos], para exigirem para si mesmos tal honra.
9
Portanto, está claro que, para Calvino, a autoridade do pastor para edificar a
igreja através do ministério da Palavra de Deus está diretamente ligada ao chamado
divino e à resposta fiel a esse chamado. Tal ministério não deve ser tomado por
usurpação e nem com arrogância. Não é o contexto eclesiástico e, menos ainda, o
secular que determinará quem deve presidir a igreja, mas o chamado divino.
A ordenação de pastores, nas Institutas, é também uma questão de ordem e
decoro. No mesmo lugar onde trata do chamado para o ministério (IV, iii, 10),
Calvino inicia sua exposição afirmando: “Agora visto que na sagrada assembléia
todas as coisas devem ser feitas decentemente e em ordem (1Co 14.40), não há
algo em que isto deva ser mais cuidadosamente observado do que no
8 CALVIN, 2002, p. 753-754.
9 Ibid., p. 754.
9 estabelecimento do governo”10. Não só aqui, mas em todo capítulo três do quarto
livro das Institutas há evidente preocupação com a questão da ordem e decoro.
No caso especifico do chamado, entregar o governo da igreja para quem
não o possui ou não o executa com fidelidade, é algo indecoroso e perturba a ordem
na igreja.
Assim, com o propósito de não permitir que homens inquietos e turbulentos, presunçosamente colocassem-se a frente para ensinar ou governar (algo que de fato aconteceu), foi expressamente providenciado que ninguém assumisse um ofício público na Igreja sem um chamado (Hb 5:4; Jr 17.16).
11
Assim, mesmo que alguém possua habilidades necessárias a um pastor –
conhecimento, eloqüência e outras – não deve ser recebido como tal a menos que
tenha sido chamado por Deus. É a vocação divina, não as capacidades naturais,
que distingue o ministro. O que torna evidente a vocação é a fidelidade à Palavra de
Deus de onde, também, procede a autoridade dos pastores da igreja. Diz-nos
Calvino:
[...] devemos ter como coisa resolvida que todo ofício deles se limita a administração da Palavra de Deus, toda sabedoria consiste no conhecimento dessa Palavra, e toda a sua eloqüência ou oratória se restringe à pregação da mesma. Se se afastarem dessa norma, serão tolos em seus sentidos, gagos em seu falar, traiçoeiros e infiéis em seu ofício sejam eles profetas, ou bispos, ou mestres ou pessoas estabelecidas em dignidade mais alta.
12
Em última análise, quem autoriza o ministério de homens para governar a
igreja é o próprio Deus. Ele o faz, primeiramente, estabelecendo os limites da
autoridade pastoral que são determinados palas Escrituras Sagradas. Desta
maneira, a autoridade do pastor tem origem na Palavra de Deus e limita-se ao
ensino fiel da mesma. Em segundo lugar, Deus chama especificamente alguns
homens para exercerem o ofício de pastor e para administrarem sua Palavra, ou
10
CALVIN, 2002, p. 753. 11
Ibid., loc. cit. 12
CALVINO, João. As Institutas. Tradução Odayr Olivetti. São Paulo: Cultura Cristã, v.4, 2006. p. 125.
10 seja, para governarem a igreja de Cristo. Os que receberam tal vocação devem
responder fielmente a ela, ensinado a doutrina de Cristo através da pregação, da
administração dos sacramentos e do exercício da disciplina.
Se nas institutas encontramos as bases do pensamento de Calvino sobre o
ministério pastoral, nos comentários, sobretudo 1ª Coríntios e o de 1ª Timóteo,
veremos mais diretamente qual a posição do reformador sobre a mulher e sobre ele
exercer ministérios públicos na igreja, em especial o ensino.
1.2 O que Calvino diz nos comentários
Se nas institutas encontramos as bases do pensamento de Calvino sobre o
ministério pastoral, nos comentários, sobretudo 1ª Coríntios e o de 1ª Timóteo,
veremos mais explicitamente qual a posição do reformador sobre a mulher e sobre
ela exercer ministérios públicos na igreja, em especial o ensino.
Segundo Calvino, Paulo estabelece o princípio que deve ser observado pela
igreja. Diz o teólogo: “Cristo esta sujeito a Deus como sua cabeça, o homem está
sujeito a Cristo e a mulher ao homem”13. Vê-se que para o pastor de Genebra é
necessário que haja uma hierarquia na igreja cujo topo é ocupado por Deus e na
base está mulher. Há também uma escala de sujeição. Cristo se sujeita a Deus, o
homem a Cristo e a mulher ao homem. Está ordem foi biblicamente estabelecida e
por isso deve ser observada na igreja.
Contudo, convêm que se faça uma explicação a respeito da diferença entre
os gêneros aqui estabelecida. É necessário que tenhamos em mente que as
afirmações de Paulo são feitas do contexto do governo eclesiástico – ordem e
decoro. É neste sentido que o apóstolo estabelece a diferença entre homens e
13
CALVIN, Jonh. Commentary on Corinthians. Grand Rapids: Christian Classics Ethereal Library, v.1, 1999. p. 249. Disponível em: http://www.ccel.org/ccel/calvin/calcom39.html. Acessado em: 13 maio 2008.
11 mulheres. Estas devem estar sujeitas àqueles, assim como o homem a Cristo e ele a
Deus. Entretanto, no que se refere ao reino espiritual de Cristo, ele é a cabeça tanto
do homem como da mulher não havendo diferença entre macho e fêmea. Calvino,
comparando 1Co 11.3 com Gl 3.28, explica isso nos seguintes termos:
Quando ele [Paulo] diz que não há diferença entre o homem a mulher, ele está tratando do reino espiritual de Cristo, no qual distinções individuais não são consideradas, ou não se faz conta delas; isto nada tem a ver com o corpo e nada tem a ver com as relações humanas, mas tem a ver somente com a mente – levando isso em conta ele declara que não há diferença, até entre escravo e livre. Contudo, ao mesmo tempo, ele não perturba a ordem civil ou distinções honoráveis, que não podem ser prescindidas na vida ordinária. Aqui, por outro lado, ele argumenta em relação à ordem externa e ao decoro – que são parte do governo eclesiástico. Assim, quanto à conexão espiritual na visão de Deus e intimamente na consciência, Cristo é a cabeça do homem e da mulher sem nenhuma distinção, porque, quanto a isso, nenhuma consideração é devida a macho ou fêmea; mas quanto à ordem externa e decoro político, o homem segue Cristo e a mulher o homem, tanto que eles não estão na mesma posição, mas, ao contrário, esta desigualdade existe.
14
Portanto, fica claro que não há aqui preconceitos que tornam a mulher
inferior ao homem ou mesmo um machismo por parte de Paulo ou do próprio
Calvino. Em relação a Deus, no que se refere aos aspectos internos e espirituais,
todos os seres humanos são iguais e, de fato, o Senhor não faz acepção de
pessoas. Contudo, não se pode negar que há uma ordem natural que deve ser
respeitada: as mulheres devem sujeição aos homens assim como estes devem a
Cristo. Esta ordem se estende ao governo eclesiástico. Neste ponto especificamente
Calvino vê como conveniente a distinção entre homens e mulheres. Tal distinção
deve ser observada para manutenção da ordem e do decoro.
Calvino faz a seguinte tradução de 1Co 11.4: “Todo homem orando ou
profetizando, tendo sua cabeça coberta, desonra sua cabeça”15. É importante saber
disso para entendermos as afirmações do reformador sobre este texto.
14
CALVIN, 1999, p. 250. 15
Ibid., p. 246.
12
Primeiro, o homem que ora ou profetiza com a cabeça coberta ofende a
Cristo que é a sua cabeça. Cobrir a cabeça significa rebaixar-se da posição de
autoridade para a de sujeição. Desta forma, o homem e também Cristo são
desonrados, uma vez que aquele representa a autoridade deste. Segundo Calvino a
razão pela qual o homem não pode usar o véu é:
Porque ele está sujeito a Cristo, entendendo com isso, que ele esta posto em primeiro lugar no governo da casa. Por isso, a glória de Deus brilha através dele, em conseqüência da autoridade da qual está investido. Se ele cobre sua cabeça, ele rebaixa-se da preeminência que Deus tinha-lhe atribuído, para estar em sujeição. Assim, a glória de Cristo seria infringida.
16
Sendo o homem representante de Cristo não lhe é conveniente cobrir a
cabeça. Posto que sua própria desonra seria também a de quem o constituiu como
representante. Isto seria o mesmo que ofuscar a glória de Deus que resplandece
nele por conta da autoridade da qual está investido. Por conseguinte, não é
facultado ao homem o direito de abrir mão de sua autoridade ou delegá-la à mulher,
uma vez que as implicações disso atingem a honra do próprio Senhor Jesus.
Quando o homem abre mão de sua autoridade ou a menospreza, não somente se
rebaixa, mas também desonra a Cristo que é sua cabeça.
Para Calvino o véu “é um emblema de autoridade intermediária e
interposta”17. Portanto, é próprio para mulher usá-lo, já que, neste caso, ela não está
diretamente ligada a Cristo, senão pela intermediação do homem. O teólogo ainda
faz-nos lembrar que é assim, pois é o que determina a “bem regulada ordem do
casamento”18. A perversão desta ordem é o mesmo que insurgir-se contra Cristo e
obscurecer sua glória que brilha por meio do governo masculino na família.
16
CALVIN, 1999, p. 250. 17
Ibid., p. 251. 18
Ibid., p. 250.
13
Se para o homem é uma desonra cobrir sua cabeça, para mulher, por outro
lado, é uma honra. Ao usar o véu a mulher honra a si mesma e também ao seu
marido – sua cabeça. Calvino faz a seguinte afirmação: “o homem honra sua cabeça
[Cristo] por mostrar sua liberdade, mas a mulher por mostrar sua sujeição”19. Por
isso ela deve usar o véu, pois este simboliza sua sujeição. Não é apenas
inconveniente, mas é também desonroso para mulher que ela se coloque em lugar
de autoridade deixando de sujeitar-se ao homem. Onde está, pois, a honra da
mulher? Segundo Calvino, no fato de ela sujeitar-se ao homem.
Uma questão que se levanta nos versículos cinco e seis é se era permitido
às mulheres ensinar na igreja uma vez que tivessem com a cabeça coberta. Calvino
é categórico em afirmar que não, dando a seguinte explicação:
[...] quando ele [Paulo] as reprova por profetizar com suas cabeças descobertas, ele ao mesmo tempo não lhes dá permissão de profetizar de qualquer outra maneira [...] isso não seria permitido a elas mesmo com uma coberta sobre a cabeça.
20
Essa afirmação, Calvino faz com base em 1Co 14.34, onde Paulo é enfático
em dizer que as mulheres devem estar caladas na igreja. A solução do teólogo de
Genebra para o problema aqui levantado é que apóstolo deixa para tratar deste vício
– a mulher ensinar em público – em outra passagem, ou seja, 1Co 14. E que a
preocupação do escritor aos coríntios, neste texto, é apenas que as mulheres sejam
modestas, mesmos em reuniões particulares.
[...] o Apóstolo requer que as mulheres mostrem sua modéstia – não somente no lugar em que toda a Igreja esta reunida, mas também em reunião mais dignas, de mulheres respeitáveis ou de homens, como são às vezes convocadas em casas particulares.
21
19
CALVIN, 1999, p. 251. 20
Ibid., loc. cit. 21
Ibid., loc. cit.
14
Vê-se, então, que a única possibilidade para a mulher ensinar na visão de
Calvino é em privado. Mesmo assim, a ênfase dada pelo comentarista não está no
ensino, mas na modéstia com que as mulheres deveriam se portar. O véu, então,
simbolizava a sujeição e também a modéstia, ambas convenientes às mulheres.
Outro ponto que merece consideração é a questão da imagem de Deus.
Paulo afirma: “Porque, na verdade, o homem não deve cobrir a cabeça, por ser ele
imagem e glória de Deus” (1Co 11.7). Para Calvino está claro que ambos os
gêneros foram criados à imagem de Deus. Ele vai mais fundo na questão e afirma
que o apóstolo exorta as mulheres, não menos que os homens, a se refazerem
segundo àquela imagem. Entretanto, Paulo, nesta passagem, está falando da
imagem de Deus com relação à ordem do casamento22. Calvino explica:
[...] ele [Paulo] não trata aqui de inocência e santidade, que vêm a ser iguais em homens e mulheres, mas da distinção, que Deus tem conferido sobre o homem, tal como ter superioridade sobre a mulher. Nesta ordem superior de dignidade a glória de Deus é vista
23.
Neste mesmo texto Paulo afirma que a mulher é glória do homem. Sobre isto
Calvino assevera: “não há dúvidas que a mulher é um distinto ornamento do
homem”24 e cita Pv 12.4 para confirmar que a mulher é a coroa do homem. No
pensamento do reformador é uma grande honra para ambos os gêneros que Deus
tenha nomeado a mulher para ser uma parceira na vida do homem e uma ajudara
para ele. Assim, Paulo acha louvável o propósito para o qual a mulher foi ordenada
por Deus, qual seja: ela “deve ser um distinto adorno do homem”25. Isto ela faz
sendo-lhe sujeita, assim como o corpo o é à cabeça.
22
CALVIN, 1999, p. 252. 23
Ibid., loc. cit. 24
Ibid., loc. cit. 25
Ibid., loc. cit.
15
Calvino vê no versículo oito de 1ª Coríntios dois argumentos que justificam a
preeminência do homem e a sujeição da mulher: primeiro, a mulher tem sua origem
derivada do homem; segundo, a mulher foi criada por causa do homem. O primeiro
argumento a coloca em posição inferior e o segundo em sujeição. Daí, o
comentarista afirmar: “Que o homem é o início da mulher e o fim para qual ela foi
feita, é evidente na lei (Gn 2.18)”.26
Entretanto, ao comentar o versículo doze, Calvino deixa claro que tanto o
homem como a mulher procedem de Deus e, por isso, lhe devem honra. Cabe ao
homem glorificar a Deus com sua autoridade e a mulher fazê-lo com sua sujeição. O
pastor de Genebra expõe assim seu pensamento:
Deus é a fonte de ambos os sexos, por isso ambos devem com humildade aceitar e manter a condição que o Senhor tem lhes ordenado. Exercite o homem sua autoridade com moderação, e não insulte a mulher que tem lhe sido dada como sua parceira. A mulher esteja satisfeita com seu estado de sujeição.
27
Seguindo para 1Co 14.34 e 35, encontraremos, mais claramente ainda, a
posição do reformador quanto ao ministério público feminino. Calvino diz que o fato
de a mulher exercer o ofício público do ensino era um vício28 da igreja de Corinto,
que Paulo trataria neste capítulo. Portanto, para o comentarista, mulheres
exercerem o ofício público do ensino na igreja é no mínimo um mau hábito.
É importante saber que, para Calvino, o contexto em que Paulo proíbe as
mulheres de ensinar é o do culto (serviço) ordinário ou a de uma igreja constituída
em estado regular. Ele até mesmo sustenta que há ocasiões que, por força das
circunstâncias, faz-se necessário que as mulheres falem em público. A proibição de
26
CALVIN, 1999, p. 252. 27
Ibid., p. 255. 28
Ibid., p. 251.
16 Paulo é conveniente às assembléias devidamente organizadas.29 Calvino ainda
esclarece: “Paulo não está falando das mulheres em seu dever de instruir sua
família; está apenas excluindo-as do ofício do sacro ministério [a munere docendi], o
qual Deus confiou exclusivamente aos homens”30.
Uma vez conhecido o contexto em que Paulo faz essa proibição, vejamos o
que Calvino tem a dizer sobre mulheres ensinarem na igreja. Por entender que “a
função de ensinar subentende autoridade e status superior”31, Calvino sustenta que
o mesmo é incompatível com a sujeição32. Convêm lembrar que a sujeição é o
estado próprio da mulher, logo ela está impedida de ensinar publicamente. Calvino
diz:
[...] quão indecorosa uma coisa pode ser, que aquele que está sob sujeição de um dos membros, presidisse sobre o corpo todo! [...] Se uma mulher está sob sujeição, ela está conseqüentemente, proibida da autoridade de ensinar em público. [...] O raciocínio de Paulo, entretanto, é simples – que a autoridade de ensinar não é conveniente à posição que mulher ocupa, por que, se ela ensina, ela preside sobre todos os homens, enquanto convêm-lhe estar sob sujeição”
33.
Toda mulher deve sujeição a seu marido, logo é uma perturbação da ordem
e do decoro que ela, estando sob sujeição de um dos membros, venha o presidir
toda a igreja. Vê-se que, assim como nas Institutas, Calvino não dissocia o ensino
do ministério pastoral e do governo eclesiástico. Fica, portanto, óbvio que o
reformador francês renega o ministério pastoral feminino. Contudo, poder-se-ia
argumentar que entre os homens também existem relações de autoridade e
sujeição. A isto Calvino responde:
[...] não há absurdo algum no fato de um homem mandar e ser mandado ao mesmo tempo em relações distintas. Mas isso não se aplica no caso das
mulheres que, por natureza (isto é, pela lei ordinária de Deus), nascem para
29
CALVIN, 1999, p. 333. 30
CALVINO, João. As pastorais. Tradução Valter Graciano Martins. São Paulo: Parakletos, 1998. p. 73-75. 31
Ibid., p. 74. 32
CALVIN, op. cit., loc. cit. 33
Ibid., p. 333-334.
17
obediência, porquanto todos os homens sábios sempre rejeitaram [...] o governo feminino como sendo uma desnatural monstruosidade
34.
Por outro lado, pode-se argumentar que para solteiras e viúvas – que, por
não terem marido, não devem sujeição a ninguém – seria lícito ensinar
publicamente. Calvino se antecipa a tal argumento e esclarece que a sujeição da
mulher não está fundamentada na ordem do casamento, mas na ordem natural.
Com base nesta e no senso comum ele afirma: “O governo feminino é impróprio e
inconveniente”35. Nesta asseveração Calvino tem em mente não apenas o governo
eclesiástico, mas também o civil. Diz mais o reformador: “E assim, para uma mulher,
usurpar o direito de ensinar seria o mesmo que confundir a terra e o céu”36.
Portanto, está óbvio que, para Calvino, Paulo exclui totalmente as mulheres
do ministério pastoral. O reformador não deixa dúvidas sobre a posição do apóstolo
e menos ainda sobre a sua própria. Se as Institutas não parecem claras o suficiente
quanto ao assunto – do que discordamos – os comentários são de tal forma
explícitos que qualquer dúvida quanto à posição de Calvino sobre o pastorado
feminino é inadmissível.
34
CALVINO, 1998, p. 74. 35
CALVIN, 1999, p. 334. 36
CALVINO, op. cit., loc. cit.
18
2 O que Calvino tem a dizer segundo Douglass
Jane Dempsey Douglass escreveu um importante trabalho que aborda o
tema aqui proposto. Em seu livro “Mulheres, liberdade e Calvino”, Douglass faz uma
leitura particular do pensamento do reformador quanto ao ministério público
feminino. Embora, na apresentação da obra seja dito que: “ela [Douglass] o fez de
modo magistral, [...] sem posicionamentos tendenciosos, expondo fatos
imparcialmente”1, o que se observa é justamente o oposto, pois Douglass mostra,
por meio de seus argumentos, ser influenciada pelo pensamento feminista.
Carvalho a enquadra dentro da ala reformista do feminismo evangelical. Ele
diz que: “a ala radical das reformistas começa seu discurso de modo muito
semelhante ao de Jane Dempsay”2. Conseqüentemente, Douglass faz uso de
“hermenêutica de suspeição”3, até mesmo em relação aos escritores sagrados. Ela
faz o mesmo com Calvino. Em sua obra, não poucas vezes, ela leva o leitor a
questionar se o que o teólogo francês escreveu é aquilo que realmente pensava ou
se simplesmente ele se acovardou diante da pressão do contexto que vivenciava.
Embora seja profunda conhecedora de Calvino e cuidadosa historiadora,
Douglass parece não respeitar a opinião dele e a reinterpreta a ser bel prazer,
deixando subentendido que Calvino era favorável ou, no mínimo, indiferente à
questão do ministério público feminino. Uma exemplo disso encontramos nesta
afirmação:
1 LUZ, Waldir Carvalho. Perspectiva Masculina. In: DOUGLASS, Jane Dempsey. Mulheres, liberdade e Calvino. Tradução Américo Ribeiro. Manhumirim: Didaquê, 1995. p. 7.
2 CARVALHO, Tarcízio José de Freitas. Mulheres, liberdade e Calvino. v.1, 1996. p. 2. Disponível em: http://www4.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/revista/VOLUME_I__1996__2/Jane_Dempsey_Douglas.pdf. Acessado em: 20 abr. 2008.
3 Ibid., loc. cit.
19
Finalmente, tem-se dado razões para se assumir que Calvino sabia que, pelo menos, alguns dos defensores renascentistas da causa das mulheres estavam sugerindo que as mulheres deviam ter o direito de pregar; na prática, Calvino não concorda, mas em princípio, não exclui esta possibilidade.
4
A principal argumentação de Douglass baseia-se na explanação que Calvino
faz sobre a liberdade cristã (Institutas, III, 19). Não poderia ser diferente, pois é o
que sugere o próprio título da obra. A autora dedica maior atenção à terceira parte
da Liberdade Cristã que diz respeito às coisas indiferentes (adiáphora). Isto porque,
na opinião de Douglass, “Calvino é o único teólogo do século dezesseis que vê o
silencio das mulheres na Igreja como coisa „indiferente‟, isto é, como matéria
determinada pela lei humana e não pela divina”5. Ela chega a essa conclusão por
pressupor que o uso do véu e o silencio das mulheres são a mesma coisa. Na
adiáphora inclui-se o uso do véu, mas não silêncio feminino propriamente dito.
Na opinião de Douglass, a intenção de Calvino, ao colocar o uso do véu
entre as coisas indiferentes, foi mostrar que também isto deve adaptar-se ao
contexto e às épocas. Isto reflete a posição igualitarista da autora que crê que a
igreja deve guiar-se pelos contextos e não pela Palavra de Deus. Vejamos o que diz
a escritora: “Mas na Igreja Deus aparentemente não está mais sujeito às leis divinas
como normalmente escolhe estar na ordem da natureza, mas está realizando uma
nova ordem”6.
O problema é entender o uso do véu como igual à proibição paulina a
respeito do ministério público feminino. Pois, o véu enquanto vestuário pode de fato
estar ligado a costume das épocas, mas como vimos, muito claramente no capítulo
4 DOUGLASS, 1995, p. 90.
5 Ibid., p. 26.
6 Ibid., p. 31.
20 anterior, Calvino afirma que a sujeição da mulher, logo seu silêncio na igreja, é algo
estabelecido por Deus na ordem imutável da criação.
É verdade que Calvino trata como indiferentes as coisas que não dizem
respeito à salvação. Indiferentes são as coisas que dizem respeito à disciplina e às
cerimônias, pois são dependentes da época e necessidades da Igreja. Contudo,
mesmo estas devem ser observadas através de “regras gerais” dadas por Deus.
Interessante notar que Douglass mesmo pensa dessa forma. Diz ela:
Mas, como não quis prescrever em particular o que devemos seguir na disciplina e nas cerimônias, (por ele sabia que isto depende das condições dos tempos, e que uma só forma não convém para todos os tempos), precisamos socorrer-nos aqui de regras gerais que ele deu para que naquilo que a necessidade da Igreja exige ensino no tocante à ordem e ao decoro, deva testá-lo de acordo com essas regras.
7
A autora também acredita que à medida que Calvino desenvolve sua
teologia as questões sobre a sujeição da mulher vão sendo desprezadas.
O nosso exame das Institutas de 1559 sugere que depois de muitos anos de pregação, ensino e administração da igreja, depois de publicar todos os comentários do Novo Testamento e cerca da metade dos comentários do Velho, a seleção de Calvino sobre o que é importante apreender teologicamente a fim de entender propriamente as Escrituras exclui, virtualmente, o ensino da subordinação das mulheres
8.
Douglass parece esquecer que, de fato, para o momento vivenciado por
Calvino havia assuntos mais urgentes a serem tratados. Até por que não se sabe de
nenhuma disputa sobre este assunto no contexto de Genebra e da Reforma.
Na verdade, fora o conteúdo histórico riquíssimo, o livro não traz grandes
contribuições ao assunto. Naquilo que discorda de Calvino, Douglass se fundamenta
em argumentos fracos e especulações que levam o reformador a pensar o que
nunca pensou. A tentativa de Douglass é provar que Calvino acovardou-se diante do
seu contexto e, por isso, não foi contra o status quo estabelecido pelas Escrituras e
7 DOUGLASS, 1995, p. 36.
8 Ibid., p. 56.
21 pela sociedade genebrina. Se de fato Calvino fosse de se acovardar diante de
contextos, jamais teria sido um reformador.
22
3 O que o pesquisador tem a dizer
O Dr. Augustos Nicodemus expões sua preocupação sobre a ordenação de
mulheres ao pastorado nos seguintes termos:
O que nos preocupa é que a pergunta “podem as mulheres ser ordenadas para servir como pastoras, presbíteras e diaconisas” nem sempre tem sido respondida em termos de exegese bíblica do Novo Testamento que estão diretamente relacionadas ao assunto.
1
É o que de fato acontece. Mesmo exegetas importantes, principalmente
neste assunto, têm preferido uma livre interpretação das Escrituras adaptando-as
aos contextos e situações que se apresentam na história. Isto tem sido de grande
prejuízo para Igreja de Cristo.
A Palavra de Deus é clara em proibir a ordenação de mulheres ao ministério
sagrado. Desde a gênese do homem e da mulher, o Senhor definiu os papéis de
cada um: Adão seria o cabeça e Eva sua auxiliadora. A ordem estabelecida no Éden
não se desfez com a Queda, pelo menos Deus não a desfez. Esta é ordem natural,
a mesma lei que mantém o céu e terra em seus respectivos lugares. Calvino acerta
ao afirmar que perverter essa ordem é uma “desnatural monstruosidade”2. Além do
mais, todo governo feminino relatado no Bíblia serve para mostrar a frouxidão dos
homens.
Há pelo menos duas causas para o feminismo tanto secular e como
evangelical: primeira, os homens tornaram-se frouxos. Quando os homens são
negligentes em seu papel, inevitavelmente as mulheres ocupam a espaço deixado
por eles. Por isso há tantas mulheres dirigindo suas casas e as igrejas. Um exemplo
1 LOPES, Augustus Nicodemus. Ordenação feminina: o que o Novo Testamento tem a dizer? , v.2, 1997. p. 1. Disponível em: http://www4.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/revista/VOLUME_II__1997__1/ordenacao....pdf. Acessado em: 20 abr. 2008.
2 CALVINO, 1998, p. 74.
23 bíblico disso é o caso de Débora, a juíza. Ela liderou o povo na guerra porque
Baraque se acovardou. Débora mesmo o adverte dizendo: "Certamente, irei contigo,
porém não será tua a honra da investida que empreendes; pois às mãos de uma
mulher o SENHOR entregará a Sísera" (Jz 4.9). Interessante é que Débora é a
bandeira erguida por aqueles que defendem a ordenação de pastoras.
A segunda é que rebelar-se faz parte da natureza da mulher depois da
queda. Isto esta claro quando Deus diz a Eva: "[...] teu desejo será para o teu
marido, e ele te governará" (Gn 3.17). A queda colocou na mulher um desejo de
rebelar-se contra aquele que foi constituído autoridade sobre ela, o homem. Então, o
que estamos testemunhando é a junção do ímpeto feminino para liderar (causado
pela queda) com a negligência masculina.
24
Conclusão
Calvino, a despeito da época em que viveu, é extremamente atual. Isto não
se deve apenas à sua capacidade intelectual e vanguarda, mas principalmente à sua
fidelidade às Escrituras Sagradas e ao desejo de reconduzir a igreja a esta mesma
fidelidade.
Enfim, segundo Paulo, através da Palavra de Deus, e Calvino por meio dos
seus escritos, conclui-se que independente de contextos e épocas que às mulheres
é vetado o ministério pastoral.
25
Referências Bibliográficas
CALVIN, Jonh. Commentary on Corinthians. Grand Rapids: Christian Classics Ethereal Library, v.1, 1999. 377 p. Disponível em: http://www.ccel.org/ccel/calvin/calcom39.html. Acessado em: 13 maio 2008.
______. The Institutes of the Christian Religion. Tradução Henry Beveridge. Grand Rapids: Christian Classics Ethereal Library, 2002. 1087 p. Disponível em: <http://www.ccel.org/ccel/calvin/institutes.html>. Acessado em: 20 maio 2008.
CALVINO, João. As pastorais. Tradução Valter Graciano Martins. São Paulo: Parakletos, 1998. 379 p.
______. As Institutas. Tradução Odayr Olivetti. São Paulo: Cultura Cristã, v.4, 2006. 272 p.
CARVALHO, Tarcízio José de Freitas. Mulheres, liberdade e Calvino. Fides Reformata. v. 1: 4 p. 1996. Disponível em: http://www4.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/revista/VOLUME_I__1996__2/Jane_Dempsey_Douglas.pdf. Acessado em: 20 abr. 2008.
DOUGLASS, Jane Dempsey. Mulheres, liberdade e Calvino. Tradução Américo Ribeiro. Manhumirim: Didaquê, 1995. 156 p.
LOPES, Augustus Nicodemus. Ordenação feminina: o que o Novo Testamento tem a dizer? Fides Reformata. v. 2: 23 p. 1997. Disponível em: http://www4.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/revista/VOLUME_II__1997__1/ordenacao....pdf. Acessado em: 20 abr. 2008.
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