PEDRO E JUDAS JOÃO CALVINO
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Traduzido do Inglês
Fourth Sermon on the Passion of Our Lord Jesus Christ
By John Calvin
Via: Monergism.com
Tradução por Camila Almeida
Revisão e Capa por William Teixeira
1ª Edição: Março de 2015
Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida
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Pedro E Judas Por João Calvino
“Então cuspiram-lhe no rosto e lhe davam punhadas, e outros o esbofeteavam,
Dizendo: Profetiza-nos, Cristo, quem é o que te bateu? Ora, Pedro estava assentado
fora, no pátio; e, aproximando-se dele uma criada, disse: Tu também estavas com
Jesus, o galileu. Mas ele negou diante de todos, dizendo: Não sei o que dizes. E,
saindo para o vestíbulo, outra criada o viu, e disse aos que ali estavam: Este
também estava com Jesus, o Nazareno. E ele negou outra vez com juramento: Não
conheço tal homem. E, daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a
Pedro: Verdadeiramente também tu és deles, pois a tua fala te denuncia. Então
começou ele a praguejar e a jurar, dizendo: Não conheço esse homem. E
imediatamente o galo cantou. E lembrou-se Pedro das palavras de Jesus, que lhe
dissera: Antes que o galo cante, três vezes me negarás. E, saindo dali, chorou
amargamente. E, chegando a manhã, todos os príncipes dos sacerdotes, e os
anciãos do povo, formavam juntamente conselho contra Jesus, para o matarem; E
maniatando-o, o levaram e entregaram ao presidente Pôncio Pilatos. Então Judas, o
que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta moedas de
prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, Dizendo: Pequei, traindo o
sangue inocente. Eles, porém, disseram: Que nos importa? Isso é contigo. E ele,
atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar. E os
príncipes dos sacerdotes, tomando as moedas de prata, disseram: Não é lícito
colocá-las no cofre das ofertas, porque são preço de sangue. E, tendo deliberado
em conselho, compraram com elas o campo de um oleiro, para sepultura dos
estrangeiros. Por isso foi chamado aquele campo, até ao dia de hoje, Campo de
Sangue. Então se realizou o que vaticinara o profeta Jeremias: Tomaram as trinta
moedas de prata, preço do que foi avaliado, que certos filhos de Israel avaliaram, E
deram-nas pelo campo do oleiro, segundo o que o Senhor me determinou.”
(Mateus 26:67-75, 27:1-10)
Como São Paulo diz que a pregação do Evangelho é cheiro de vida para aqueles a quem
Deus chama à salvação e cheiro de morte para todos os réprobos que perecem, também
temos dois exemplos notáveis que estão aqui propostos para nos mostrar que a morte e
paixão do Filho de Deus promoveu a salvação de um e lançou o outro em condenação.
Pois, na queda de Pedro é visto a necessidade que ele tinha de ser retirado da cova em
que ele fora preso. Por enquanto ele estava lá, ele fora banido do reino dos céus, ele se ali-
enou de toda a esperança de salvação e apartou-se da Igreja, como um membro podre. No
entanto, a morte de nosso Senhor Jesus não deixou de beneficiá-lo, embora ele não fosse
digno dela. Quanto a Judas, é dito que, vendo que Jesus Cristo é condenado, ele é tomado
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pelo desespero. Agora, nesta condenação de nosso Senhor Jesus (como já dissemos) é
preciso ter coragem para esperar em Deus. Pois, nós somos absolvidos em virtude do fato
de que o nosso Senhor Jesus foi condenado. Mas, foi necessário que nós tivéssemos aqui
estes dois espelhos, a fim de que sejamos tanto melhor capazes de saber que sem que
sejamos chamados pela graça especial para compartilharmos do fruto da paixão e morte
do Filho de Deus, isso será inútil para nós. Não basta, portanto, que o nosso Senhor Jesus
Cristo tenha sofrido, mas que o bem que Ele adquiriu para nós seja comunicado, e nós se-
jamos colocados em posse disso. Isso é feito quando somos atraídos a Ele pela fé.
Mas, para entender melhor tudo isso, sigamos o fio da história que é aqui narrada para nós.
Diz-se que o nosso Senhor Jesus foi tratado com toda a desonra na casa de Caifás, que
eles cuspiram em Seu rosto, que Ele foi insultado e zombado, chamaram-nO de “Profeta”,
de fato, em desgraça. Agora isso, a fim de que possamos saber que o que Ele sofreu em
Sua pessoa era para libertar-nos diante de Deus e diante dos Seus anjos. Pois, ninguém
precisa cuspir em nossa face para que suportemos muitas máculas e manchas diante de
Deus. Todos nós não somos apenas desfigurados por nossos pecados, mas cheios de in-
fecção e abominação. Além disso, aqui está o Filho de Deus, que é a Sua imagem viva, on-
de a Sua glória e majestade brilham, que sofreu tais vergonhas, a fim de que em Seu nome
agora possamos comparecer diante de Deus para obter graça e para que Ele nos conheça
e nos tenha como Seus filhos, e que todas as nossas manchas e máculas sejam apagadas.
Isso, eu digo, é o que temos que considerar em primeiro lugar.
Agora chegamos à queda de Pedro. Está escrito: “aproximando-se dele uma criada, disse:
Tu também estavas com Jesus, o galileu. Mas ele negou diante de todos”. Outra criada o
viu, e ele negou outra vez. Então, o pressionam mais e fazem disso um completo dilema.
Então ele começa a jurar, e até mesmo a xingar e a usar a forma de execração. Como se
ele dissesse: “Talvez eu seja condenado, posso perecer, a terra pode devorar-me se eu co-
nhecê-lO”. Aqui, então, está a queda de São Pedro, e não uma, mas três, que são tão pesa-
das e tão enormes que certamente devemos temer ao ler esta história. Agora, nós sabemos
o zelo que estava nele. Além disso, ele havia sido elogiado por nosso Senhor Jesus Cristo,
e o nome de Pedro fora dado a ele para assinalar a firmeza e constância de sua fé; ele ha-
via sido ensinado em uma tão boa escola. Ele tinha ouvido esta doutrina: “Mas qualquer
que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos
céus” [Mateus 10:33]. No entanto, vemos como ele cambaleia. Cada um, então, aqui deve
certamente tremer. Pois, sem que sejamos sustentados do alto, a fraqueza de Pedro não
era maior do que a nossa. Então, em primeiro lugar, vemos como os homens são frágeis,
tão logo Deus solte a Sua mão. Pois isso não é dito de algum escarnecedor, de algum ho-
mem profano, de alguém que nunca ouvira falar minimamente do Evangelho, que não temia
a Deus, e que não prestava nenhuma reverência ao nosso Senhor Jesus Cristo. É total-
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mente o contrário. Pois, já havia alguns excelentes dons em Pedro. Havia sido dito a ele,
desde a boca do Filho de Deus, “porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai,
que está nos céus” [Mateus 16:17]. Isso é, o Espírito de Deus que habitava em Pedro. No
entanto, quão pouco ele resiste a renunciar ao nosso Senhor Jesus diante de uma criada!
Se um homem o houvesse repreendido, ou se fosse alguma pessoa honrada que o tivesse
atacado, haveria alguma desculpa. Mas vemos que foi necessário apenas uma criada para
fazê-lo desistir da esperança de vida e da salvação.
Contemplemos, então, na pessoa de Pedro, que é muito necessário que Deus nos fortaleça
a cada minuto. Porque, do contrário, é impossível perseverar. Embora possamos ser tenta-
dos a nos aproximar de Deus, e embora possamos ter praticado muitos atos virtuosos, mes-
mo tudo, ao mínimo movimento, nós seremos totalmente desvirtuados, a menos que Deus
continue a nos conceder constância invencível. Aprendamos, então, a praticar a admoes-
tação de São Paulo: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia” [1 Coríntios 10:12].
É verdade que não podemos preservar-nos. Mas vamos recorrer Àquele que tem os meios.
De qualquer maneira, caminhemos com toda a humildade. São Paulo diz em outra passa-
gem: “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua
boa vontade” “De sorte que (diz ele), operai a vossa salvação com temor e tremor” (Filipen-
ses 2:13, 12b).
Como se ele dissesse que toda presunção certamente deve ser abatida, e de fato toda indi-
ferença. Quando nós vemos que temos necessidade de ser ajudados por Deus, e de tantas
maneiras, não é correto que estejamos vigilantes e que não presumamos nada de nossa
própria força, mas que sejamos solícitos para clamar a Deus noite e dia, e esperarmos que
Ele nos guarde e guie?
Isso, então, é o que temos que observar, em primeiro lugar. É ainda muito necessário que
nós assumamos que as tentações, embora possam não ser grandes, terão rapidamente
nos oprimido, a menos que Deus pela Sua graça opere nisso e o remedei. E aqueles que
imaginam ser os mais resistentes, quando eles estão longe de golpes, encontram-se, por
assim dizer, perdidos se houver apenas um pouco de vento que sopra. É verdade que, se
Deus nos ajuda, perseveraremos, embora surjam grandes tempestades. Porque conhece-
mos a figura de linguagem que o nosso Senhor Jesus Cristo evocou: que uma casa bem
alicerçada e construída de material bom, embora venha sobre ela uma grande torrente, ela
sempre permanece; mas a que é edificada sobre a areia em breve desmorona e vem a
arruinar-se. Então, quando nós formos edificados sobre o nosso Deus e Ele estender a Sua
forte mão, certamente seremos capazes de suportar grandes e mui árduos alarmes. Mas,
apesar de não haver qualquer inimigo que nos combata, ainda assim, seremos imediata-
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mente vencidos quando Deus Se retira de nós ou solta a nossa mão, como vemos em
Pedro.
Mas, ainda pior é que ele não somente nega o Senhor Jesus uma vez. Mas ele repete quan-
tas vezes ele é questionado. Vemos que não importava nada para ele que estivesse indo
de mal a pior, mesmo até acrescenta execração, por assim dizer, pedindo que Deus o amal-
diçoe e o consumisse. Quando vemos isso, saibamos que aquele que caiu, em vez de que-
rer ser logo restaurado, mergulhará cada vez mais profundamente em ruínas, até que ele
completamente pereça nela, a menos que Deus o impeça. Esta é a condição dos homens.
Desde o início eles imaginam que eles são maravilhosos em seu próprio poder. No entanto,
nosso Senhor mostra por experiência que isso não é nada, e que basta apenas um pequeni-
no vento sopre, e eles são abatidos. Ainda assim, eles estão convencidos de que podem
levantarem-se novamente. Mas, pelo contrário, apenas aumentam o seu mal, acrescentan-
do culpa sobre culpa, transbordando ainda mais com ações absurdas. Se São Pedro fosse
tentado cem vezes em um dia, ele teria renunciado a Jesus Cristo uma centena de vezes,
talvez mil ou mais e isso é o que ele teria desejado a menos que Deus tivesse piedade dele.
E Deus o poupou, e não queria prová-lo ainda mais. No entanto, as três quedas aqui menci-
onadas são o suficiente para mostrar um exemplo terrível, e que deveria fazer-nos estre-
mecer, por fim quando vemos que, pela terceira vez Pedro, então, esqueceu de si mesmo
e que ele estava tão sem sentido quanto um bruto ao renunciar a sua salvação. Além disso,
devemos sempre observar que, se ainda outras tentações viessem sobre ele, ele não lhes
teria resistido melhor e ele teria sido colocado em profundezas mais intensas a menos que
Deus o poupasse disto.
Isso, então, é como nós devemos aproveitar desta doutrina. Agora nós não ouvimos essas
coisas, a fim de julgar Pedro e condenar sua covardia. Pois, tenham certeza, não podemos
fazê-lo com justiça, mas se for necessário em primeiro lugar receber instrução, que possa-
mos conhecer a nossa fraqueza, que possamos até mesmo saber que não podemos fazer
absolutamente nada, de forma que não sejamos inchados com orgulho, atribuindo a nós
mesmos alguma virtude, por meio de tola opinião. Entretanto, que também saibamos, desde
que o diabo tem tantos meios para promover nossa ruína, que ele logo colocaria um fim em
nós, já que São Pedro caiu sem que ele fizesse qualquer aparição. Então, finalmente, saiba-
mos que o nosso Senhor Jesus tem piedade de nós, quando Ele não permite que sejamos
tentados além do limite. Pois é certo que sempre muitíssimo mal seria descoberto, e isso
não teria fim, a menos que fôssemos preservados por Sua bondade. Estas são todas as
coisas que temos para observar aqui.
No entanto, é dito: “cantou o galo (como São Lucas relata). E, virando-se o Senhor, olhou
para Pedro, e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe havia dito: Antes que o
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galo cante hoje, me negarás três vezes. E, saindo Pedro para fora, chorou amargamente”
[Lucas 22:60-62]. Por esta conclusão é-nos mostrado (como já mencionei) que a morte e a
paixão de Nosso Senhor Jesus já produziram o seu efeito e o seu poder naquele Pedro que
foi levantado a partir de uma queda tão horrível. Pois, não é um milagre que Deus teve
piedade dele e que ele ainda alcançou misericórdia depois de ter cometido um erro tão
detestável? Nós declaramos que não ele não poderia ter a desculpa da ignorância, como
se a culpa por ter renunciado a Jesus Cristo fosse pequena. Pois havia sido dito e pronun-
ciado para ele que se ele não fizesse a confissão de sua fé e desse testemunho diante dos
homens, ele mereceria ser totalmente negado diante dos anjos de Deus e que seu nome
seria riscado do livro da vida. No entanto, não importa a ele trocar esta vida miserável e frá-
gil por tão vil e tão estranha renúncia. Na verdade, ele nem ainda sequer é levado perante
os juízes. Ele não é questionado ao limite. Há apenas uma criada que lhe fala. Embora eles
houvessem sido rudes com ele suficientemente, ainda assim ele teria lutado apenas como
uma pobre criatura malfadada. No entanto, ele não se esqueceu todo o temor de Deus.
Quando, então, nós observamos isso, pensemos quanto mais necessário foi para nós que
Deus tenha demonstrado os tesouros infinitos de Sua bondade, quando Ele ainda fez Pedro
participante do fruto da paixão e morte de Seu Filho.
Isso é, então, um milagre que deve nos encantar, que Pedro obteve remissão por uma tão
grande ofensa, de fato, como parece, por seu arrependimento. Pois é certo que, se um
homem é tocado rapidamente, depois de ter falhado, e ele geme e clama diante de Deus
para obter o perdão, é um sinal de que Deus já o recebeu, e que Ele o reconciliou conSigo
mesmo. Pois também o arrependimento é um dom peculiar do Espírito Santo, que nos mos-
tra que Deus tem piedade de nós e que Ele não quer que pereçamos. Mas, Ele nos atrai a
Si mesmo. Agora nós vemos isso em Pedro. Segue-se, então, que a morte e a paixão de
Nosso Senhor Jesus Cristo já fora proveitosa para ele, de fato, de uma forma maravilhosa,
como eu já disse. Mas, em primeiro lugar, devemos observar que São Pedro sempre perma-
neceu sonolento e estúpido até que ele recebeu o sinal de que o nosso Senhor Jesus Cristo
o alertara, isto é, que o galo não cantaria até que ele O renunciasse por três vezes, ou me-
lhor, que o galo não cantaria pela segunda vez, sem que Pedro fizesse suas renúncias. Já
que é assim, então, que se ele não fosse advertido por nosso Senhor Jesus Cristo, ele teria
permanecido ali no seu pecado e ele estaria eternamente mergulhado em perdição, saiba-
mos que precisamos ser solícitos depois de termos cometido alguma falha. Porque, se
formos privados da graça de Deus e Ele não nos exortar a voltar para Ele, é certo que esta-
ríamos enredados por Satanás e todos os nossos sentidos estariam brutalizados de modo
que não teríamos nem qualquer escrúpulo nem bom movimento para voltar ao caminho da
salvação.
Isso, então, é o que devemos contemplar ainda mais na pessoa de Pedro. Mas quando São
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Lucas diz que Jesus Cristo olhou para ele, através disso somos muito melhor ensinados
que não é suficiente que sejamos aferroados e que alguém puxe nossas orelhas para nos
fazer voltar para Deus, mas Jesus Cristo deve lançar Seu olhar sobre nós. Agora, é verdade
que aqui se fala apenas quanto aos olhos. No entanto, nosso Senhor Jesus não conversa
conosco de forma visível. No entanto, é certo que até que Ele lance Seu olhar sobre nós,
seremos sempre insensatos e teimosos em nossas falhas e nunca pensaremos em gemer
e lamentar, embora possamos ter provocado a ira de Deus. Embora Ele tenha retesado o
Seu arco e Sua espada seja desembainhada, permaneceremos sempre em nossa indife-
rença até que nosso Senhor Jesus nos faça sentir que Ele não se esqueceu de nós e que
Ele não quer que nós pereçamos, mas deseja chamar-nos de volta para Si mesmo. E isso
pode ser assim, nós ouvimos sermões diários, pelo qual somos exortados ao arrependi-
mento. E como somos tocados por eles? Existem tantas advertências quantas poderiam
haver. Toda a criação não nos estimula a vir a Deus? Se os nossos sentidos estão bem go-
vernados, de modo a ter alguma partícula de prudência, quando o sol nasce de manhã, isso
não nos chama para adorar o nosso Deus? Depois disso, se observarmos como a terra e
todos os elementos realizam seus ofícios, os animais e as árvores, que nos mostram que
devemos nos preparar para o nosso Deus, a fim de que Ele seja glorificado em nós, e que
nós não pensemos em fazer o contrário. O galo, então, cantou bem, e não somente o galo,
mas Deus faz com que todas as Suas criaturas acima e abaixo cantem para nos exortar a
vir a Ele. Além disso, Ele certamente Se digna a abrir Sua boca sagrada por meio da Lei,
através de Seus profetas, e através do Evangelho, para dizer: “Voltem para Mim”. No
entanto, é visto, por assim dizer, que nós somos tolos. Tal tolice é vista em nós que somos,
por assim dizer, monstros. É muito necessário, então, que o nosso Senhor Jesus nos consi-
dere em compaixão, como fez a Pedro, a fim de extrair de nós verdadeiros lamentos a dar
testemunho de nossa penitência. Pois, quando se diz que Pedro chorou amargamente, é
notada a tristeza de que São Paulo fala em 2 Coríntios, quando ele diz que ela opera para
a salvação (2 Coríntios 7:9-10), e não devemos fugir deste tipo de tristeza, mas antes deve-
mos até mesmo procurá-la. Embora, naturalmente, desejemos nos divertir e não sentir qual-
quer incômodo, ainda temos que ter alguma melancolia. Como quando Deus nos toca com
a angústia, temos que ser atormentados em nossos corações, depois de termos Lhe ofen-
dido. Pois, tal agitação deve conduzir-nos ao real descanso e tal tristeza deve fazer-nos
alegrar diante de Deus e diante dos anjos.
Logo bem veremos que Judas se arrependeu, mas este arrependimento é de outro tipo
bem diferente. Mas Pedro chorou para mostrar que ele estava muito insatisfeito em seu pe-
cado e ele completamente voltara para Jesus Cristo. Notemos também que “saindo dali,
chorou amargamente”. É verdade que isso ainda procedeu de sua fraqueza, de forma que
temia mostrar seu arrependimento diante da multidão. Mas, embora isso possa ser, quando
ele chora sozinho, ele também mostra que ele está tocado por sua culpa e ofensa. Porque
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não procura homens para que testemunhem o seu arrependimento, mas está sozinho, ele
chora diante de Deus. Essa é também a forma como devemos fazê-lo. Porque, se nós
choramos somente diante dos homens, por meio disso mostraremos a nossa hipocrisia.
Mas quando cada um tem recolhido os seus pensamentos, e ele examina suas faltas e
pecados, se ele é, então, afetado com a angústia, é um sinal de que não existe falsidade
nele, e que ele conhecia o seu Juiz, e que ele está ali para pedir perdão, e ele sabia muito
bem que é o ofício de Deus chamar de volta das profundezas aqueles que já estão, por as-
sim dizer, condenados e perdidos. Isso, então, em resumo, é o que temos que lembrar a
partir do relato aqui dado sobre a queda de Pedro, e sobre estas três renúncias, que ele
merecia ser cortado do Reino de Deus, a não ser que Jesus Cristo já houvesse mostrado
o poder de Sua morte e paixão, a fim de atraí-lo ao arrependimento, como vemos que a-
conteceu.
Em seguida, é dito: “todos os príncipes dos sacerdotes, e os anciãos do povo, formavam
juntamente conselho contra Jesus, para o matarem”. Mas porque isso não estava em seu
poder, O levaram amarrado e preso ao governador que tinha jurisdição sobre o país, isto é,
Pôncio Pilatos. Depois o Evangelho diz que Judas arrependeu-se, vendo que Jesus Cristo
fora condenado, e jogou o dinheiro que ele havia recebido como preço e pagamento por
sua traição e completamente confessou sua culpa. No entanto, os sacerdotes não estavam
dispostos a receberem o dinheiro, antes com este compraram o campo do oleiro, onde
deveria ter havido alguma olaria de forma que o campo era inútil e não poderia ser cultivado
nem semeado. Eles compram, então, este campo para sepultar estrangeiros. Na verdade,
eles fizeram isso sob a aparência de alguma devoção. Pois, eles disseram que não era
lícito que esse dinheiro fosse colocado com as ofertas do Templo. Diante disso, o escritor
do Evangelho diz que o que foi dito pelo profeta, foi cumprido, que os trinta denários, pelos
quais Deus fora avaliado pelo povo de Israel, seria arrojado ao campo do oleiro. Temos que
considerar aqui o que já foi iniciado, ou seja, que a morte e a paixão de nosso Senhor Jesus
não concede fruto a todos os homens, porque é uma graça especial que Deus dá aos Seus
eleitos quando Ele os toca pelo Seu Espírito Santo. Embora tenham caído, Ele os levanta.
Embora eles tenham se desviado, como ovelhas errantes, Ele os corrige e estende a eles
a Sua mão a fim de trazê-los de volta para o Seu aprisco. Porque há um Judas que está
totalmente fora do número de filhos de Deus. É necessário que a sua condenação apareça
diante dos homens e que seja totalmente óbvia.
Por isso, aprendamos (seguindo o que já mencionei) a conhecer em tudo e por meio de
tudo, a bondade inestimável do nosso Deus. Porque, assim como Ele declarou Seu amor
para com a humanidade quando Ele não poupou Seu Filho Único, mas o entregou à morte
pelos pecadores, Ele declara também um amor que Ele tem para conosco, especialmente
quando pelo Seu Espírito Santo Ele nos toca pelo conhecimento de nossos pecados e Ele
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nos faz clamar e nos atrai a Si com arrependimento. A entrada, então, que nós temos que
vir para o nosso Senhor Jesus Cristo não procede de nós, mas é na medida em que Deus
nos governa e que agradou a Ele mostrar a Sua eleição. E essas circunstâncias são dignas
de nota. Contemplem Judas, que tinha sido um discípulo de nosso Senhor Jesus Cristo.
Ele fez milagres em Seu Nome. No entanto, qual é a questão disso? Que possamos, então,
aprender a temer e andar em solicitude para com Deus, lançando-nos inteiramente sobre
o nosso Deus; e que possamos orar para que Ele não nos permita cair em tal confusão,
como este miserável. E mesmo quando caímos, que Ele nos levante de novo pelo Seu po-
der, e para que voltemos a Ele; não com tal arrependimento como o de Judas, mas com
uma verdadeira e justa confissão. Pois, os ímpios zombam de Deus tanto quanto puderem.
Eles estão satisfeitos em seus pecados. Eles até mesmo gloriam-se neles, e, no fim, eles
se tornam tão sem vergonha como prostitutas, como é dito pelos profetas Jeremias e Eze-
quiel. Além disso, no fim, Deus faz-lhes sentir os seus pecados, e eles ficam em tal temor
que se preocupam e clamam “ai de mim!” Mas, isso não é a fim de conceber alguma espe-
rança e apresentarem-se a Deus. Pelo contrário, é uma fúria que os impulsiona. Eles fogem,
tanto quanto possível e eles gostariam de derrubar Deus de Seu trono. É apenas uma
questão de choro e ranger os dentes em rebelião completa contra Ele.
Agora, nós viemos a outro tipo de arrependimento; isto é, não aquele em que temos medo,
visto que não podemos escapar do julgamento e da mão de Deus; mas aquele em que nós
confessamos nossos pecados, e os odiamos; e que não nos impedirá de nos aproximarmos
de Deus, de fato, sendo convocados perante Ele sem sermos atraídos a Ele pela força; mas
de nossa própria boa vontade, vamos a Ele para prestar-Lhe homenagem, e confessar que
nós merecemos perecer; no entanto, a certeza de que embora nós mereçamos cem mil
mortes, Ele não deixará, contudo, se apiedará de nós. Esse foi o arrependimento de Pedro.
Mas esse de Judas deve nos mostrar que não é suficiente ter algum sentimento de nossas
faltas e alguns escrúpulos, mas temos que ser totalmente convertidos a Deus. Isso é muito
notável, porque nós vemos como muitos, e quase todos, se gabam. Quando eles fizeram
confissão em uma palavra de suas falhas, embora sejam graves, parece-lhes que eles es-
tão livres e puros, como se tudo o que tivessem a fazer fosse limpar a boca. E mesmo que
alguma instância seja mencionada a eles, eles imaginam que eles repararam um grande
erro. “Por quê?”, dizem, “Eu já não reconheci minha culpa? Eu não fiz penitência?”. Isso é
todo o pagamento que eles fazem, como se Deus fosse uma criancinha que foi apaziguada
por algumas risadas, ou até mesmo um riso falso, que é cheio de hipocrisia e mentira. [...].
Temamos, pois, quando Deus nos admoesta e Ele nos faz sentir nossas falhas, não venha-
mos a ficar estagnados de modo nenhum, por que isso não é devidamente arrependimento.
Mas aqui está o teste pelo qual podemos saber se estamos verdadeiramente arrependidos
ou não. É quando de nossa própria livre vontade nós buscamos completo acordo com Deus
e não fugimos, quando julgados por Ele, de fato, desde que Ele nos receba em misericórdia.
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Isto é o que Ele fará depois que nos declaramos culpados. Pois, quem julgar a si mesmo,
a fim de declarar-se culpado diante de Deus, diante de anjos, e diante dos homens, será
justificado e absolvido, desde que ele somente clame a Deus para que Ele lhe seja favo-
rável. Isso então, em resumo, é o que temos que observar.
Agora, esta confissão de Judas teve que ser feita para tornar os sacerdotes totalmente mui
indesculpáveis. Também o escritor do Evangelho faz este relato para que possamos con-
templar tanto melhor a cegueira que Satanás havia colocado em todos esses réprobos, e
que cada um possa refletir sobre si mesmo. Quando Deus nos propõe exemplos de Sua ira
e de Sua vingança e Ele mostra que os homens são, por assim dizer, loucos, que eles são
depravados de senso e de razão, que eles são (fugazmente) brutais ao arremessarem-se
em uma fúria infernal; é para que cada um de nós abaixe a cabeça e que cada um de nós
saiba que muitas vezes poderia chegar a esse ponto, a não ser que seja preservado pela
bondade e graça de nosso Deus. No entanto, sejamos aconselhados a não lutar contra nos-
sas próprias consciências como os sacerdotes fizeram. Pois, todos aqueles que assim se
endurecem contra Deus, no final, cairão em tal condição reprovável que eles não terão mais
qualquer razão em si mesmo. Mesmo depois de serem assim arruinados diante de Deus,
eles também deixarão de estarem de todo envergonhados diante dos homens. Pois é uma
coisa boa que a baixeza deles seja mostrada para todos e que eles sejam colocados em
tal desgraça que todos fiquem horrorizados com a sua vilania.
Esse é, então, o motivo pelo qual o escritor do Evangelho aqui nos relatou que quando Ju-
das chegou a devolver o dinheiro, os sacerdotes de modo algum foram comovidos por isso.
É verdade que eles disseram que não é lícito colocá-lo na arca do tesouro, pois este é preço
de sangue. É assim que os hipócritas sempre cultivam as aparências, para produzirem uma
sombra e uma cobertura para as suas iniquidades. Mas isso é apenas para zombar de
Deus. Pois, eles nunca vêm em integridade e transparência a Ele. Pois o que é dito aqui?
“Oh, não é lícito colocá-las no cofre das ofertas, porque são preço de sangue”. Então, esse
dinheiro, havia sido roubado? Sabe-se que os sacerdotes viviam das ofertas do Templo.
Como hoje no Papado, aqueles que são chamados prelados e pessoas da Igreja devoram
as oblações e não se importam com que finalidade eles as aplicam. Embora os sacerdotes
tivessem retirado das ofertas do Templo o dinheiro que haviam dado a Judas, isso não im-
portou a eles; eles não têm nenhum respeito. Agora eles questionam-se se devem colocar
esse dinheiro de volta no cofre das ofertas; e por estes meios eles repelem Judas, por assim
dizer, por zombaria, como se dissessem: “Talvez este homem mau traiu seu mestre. Temos
apenas que determinar se fez bem ou mal. No entanto, a fim de que não sejamos partici-
pantes da sua ofensa, e para que mantenhamos nossas mãos limpas (uma vez que eles
haviam usado esse dinheiro para tal finalidade) compremos com ele um campo para o se-
pultamento dos estrangeiros”. Na verdade, para dizer que eles haviam certamente agrada-
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do a Deus e que Ele pode não saberia como requerer mais, embora houvesse alguma falha
no que eles fizeram.
É assim que os hipócritas sempre terão as suas satisfações, pensando em comprar o seu
escape, mas isso é apenas meninice. No entanto, deixe-nos saber que isso é recitado para
nós, a fim de que possamos aprender, quando caímos, a reconhecermos as nossas falhas,
em verdade, e não para que façamos voltas de um lado ou de outro, mas em tudo e por tu-
do francamente suportemos a condenação. Isso é, então, o que é mostrado para nós. En-
quanto isso, oremos a Deus para que Ele remova de nós a venda que Satanás está tentan-
do colocar, a fim de que não murmuremos em nossas lisonjas, querendo desculpar-nos do
mal, mas que cada vez mais possamos nos dar ao trabalho de examinar bem todos os nos-
sos vícios, a fim de condená-los e fazermos uma correta confissão deles. Além disso, tam-
bém vemos como Deus abate a opinião de hipócritas, que, por final, eles permanecem
frustrados com o que tinham fingido. Porquanto os sacerdotes certamente quiseram apagar
sua culpa e que ninguém jamais mencionasse isso, e por isso eles fingiram comprar um
campo para o enterro de estrangeiros, mas Deus torna isso inteiramente ao contrário da
intenção deles. Pois, este campo veio a ser chamado de “campo de sangue” ou “campo de
assassinato”. Esse memorial deve ser perpétuo e permanece para sempre na boca dos
homens, mulheres e crianças, de modo que este crime detestável que fora assim cometido
pelos sacerdotes é diariamente conhecido e manifesto, e eles dizem: “Contemplem, o cam-
po de sangue, ou seja, o campo que foi comprado com o preço da traição. E quem fez isso?
Os sacerdotes e os principais de todo o povo”. Então, nós vemos, quando hipócritas tentam
esconder-se em seus crimes e dissimulam, que Deus revela a vilania deles ainda mais e
faz com que a sua vergonha seja conhecida por todos os homens e que todos os mante-
nham em repulsa. É por isso que eu disse ser totalmente necessário que sejamos aconse-
lhados a ir a Deus e ali, confessar todos os nossos pecados, a fim de que possamos agradá-
lO, para sepultá-los diante dEle, diante dos Seus anjos, e diante de todo o mundo, após tê-
los reconhecido.
Por fim, o escritor do Evangelho cita uma passagem do profeta para mostrar que isso não
é relatado apenas por causa do pecado de Judas, ou por causa da obstinação diabólica
dos sacerdotes, mas por causa da condenação de todas as pessoas em geral. Ele diz,
então, “se realizou o que vaticinara o profeta: Tomaram as trinta moedas de prata, preço
do que foi avaliado, que certos filhos de Israel avaliaram, E deram-nas pelo campo do oleiro,
segundo o que o Senhor me determinou”. Agora Zacarias, de quem esta passagem é extraí-
da, compara nosso Senhor Jesus Cristo a um Pastor, e diz que desejando governar o povo
judeu, Ele tinha tomado a Sua vara, ou Seu cajado de pastor, que foi chamado de “Graça”,
para dizer que Ele tinha uma condição tão bem ordenada que era possível dentre aquele
povo, de fato, que Ele fosse permitido conduzir pela mão de Deus. Pois, há alguma coisa
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mais desejável? E que isso seja assim, onde está a nossa soberana alegria e bem-aventu-
rança, a menos que Deus se preocupe com a nossa salvação e Ele execute o ofício de
Pastor em nosso meio? Isso, então, era um governo de Deus naquele povo, quando se fala
desta vara, não de um cajado que existe para atacar e quebrar tudo, mas para liderar e go-
vernar pacificamente as ovelhas que se tornam dóceis. Agora, diz-se que mais uma vez Ele
tomou uma segunda vara. Como de fato, quando as pessoas foram trazidas do cativeiro da
Babilônia, Deus, em seguida, voltou para Sua posição como Pastor. Depois de uma dissi-
pação tão horrível quanto a que existiu anteriormente, Ele reúne o povo para governá-los
pacificamente sob a Sua mão. Mas por final, havia tal vil ingratidão que Deus desfez-se de
tudo [Zacarias 11:11]. Então, Ele diz: “Oh, vejo o que é isso; eu não preciso perder Meu
tempo ou Minha preocupação com vocês”. Ele fala aqui da maneira comum dos homens.
“Dai-me o meu salário e, se não, deixai-o”. Diante disso, eles trouxeram-Lhe trinta moedas
de prata. “O quê?”, Ele diz, “Esta é a recompensa ou salário que recebo de vocês?” Pois,
quando Ele fala de trinta moedas de prata, Ele considera as oblações que eles fizeram no
Templo. Elas eram (desde que eles as usaram em hipocrisia, sem fé e sem arrependimento)
apenas cerimônias vãs, que, no entanto, os sacerdotes e os judeus valorizavam altamente.
Como hoje os Papistas, quando eles têm feito muitas “santas” e todas as suas belas devo-
ções, lhes parecem que Deus está quase em débito para com eles. Agora Deus diz que
tudo isso é apenas lixo. “Como”, diz Ele, “lucrei por vocês terem passado por isso? Talvez
este seja o pagamento de um pastor, estou-lhes muito grato. Oh, não, não! Não tenho nada
a ver com isso. Vão, arrojem isto ao campo do oleiro, e que vocês decorem as bocas e ca-
bos de suas vasilhas com isso! Vão! Eu estou deixando vocês. Usem isso na sua olaria”.
Como se Ele dissesse: “Se chove em vosso Templo, corrijam isso vocês mesmos. Quanto
a Mim, Eu já não tenho qualquer parte ou porção com vocês. Eu queria que vocês fossem
embora. E não pensem em Me apaziguaram aqui, trazendo-Me, por assim dizer, o
pagamento de um miserável. Eu não aprovo nada disso”. Isso, então, é o que o profeta, em
resumo, intencionou.
Agora, conhecemos que o que foi previsto sobre o nosso Deus, assim foi cumprido na Pes-
soa de nosso Senhor Jesus Cristo, que é o nosso verdadeiro Deus manifestado em carne.
Por isso, foi necessário que de forma visível essa passagem fosse verificada, e que Jesus
Cristo fosse avaliado em apenas trinta moedas de prata, isto é, que o povo mostrasse tal
vil ingratidão para com Ele, que era o Eterno Pastor, a Quem Deus estabelecera sobre o
Seu povo. O certo é que desde que o povo deixara de ser governado por Deus, também
nosso Senhor Jesus sempre realizou o cargo de Mediador, de fato, embora Ele ainda não
houvesse aparecido em carne humana. Devemos lembrar bem disso bem, a fim de que
possamos aprender de nossa parte que se Deus tem exercido a graça de receber-nos, por
assim dizer, sob a Sua mão, e nós somos o Seu rebanho, e Ele nos dá o nosso Senhor
Jesus Cristo, por um Pastor, não O firam, de forma que Seu Espírito seja entristecido e can-
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sado por nossos atos de rebeldia e ingratidão. Também, não joguemos nEle quaisquer bu-
quês de flores (como se diz no provérbio comum), mas, desde que Ele se oferece a nós,
que possamos nos apegar a Ele como nosso Deus e Rei, que possamos dedicar toda a
nossa vida a Ele, e que não possamos trazer-Lhe um pagamento que Ele rejeita; mas nos
apresentar a Ele, tanto as nossas almas e os nossos corpos. Pois, também é mui certo que
Ele deve ter preeminência sobre todos nós e que Ele nos possua totalmente, quando
consideramos que Ele busca apenas a nossa salvação.
Agora, para finalizar e chegar à conclusão, é dito: “E foi Jesus apresentado ao presidente,
e o presidente o interrogou, dizendo: És tu o Rei dos Judeus? E disse-lhe Jesus: Tu o dizes.
E, sendo acusado pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu. Disse-
lhe então Pilatos: Não ouves quanto testificam contra ti? E nem uma palavra lhe respondeu,
de sorte que o presidente estava muito maravilhado” [Mateus 27: 11-14]. Em primeiro lugar
temos que manter em memória, quando o nosso Senhor Jesus Cristo é julgado diante de
um juiz terreno, que isso ocorreu a fim de que possamos ser isentos e absolvidos da conde-
nação que nós merecemos perante o Juiz celestial. Sabemos que não podemos fugir do
que está escrito pelo profeta Isaías, que todo joelho deve se dobrar diante de Deus (Isaías
45:23). Desde que Deus é o Juiz do mundo, como podemos subsistir diante de Sua face e
diante de Sua Majestade? Não há um de nós que não seja obrigado a condenar-se cem mil
vezes. Quando vivemos apenas um ano no mundo, já existem centenas de milhares de pe-
cados, pelos quais merecemos ser condenados. Não há ninguém que não tenha este teste-
munho gravado em seu coração, e que não esteja convencido disso. Ora, Deus vê muito
mais claramente do que nós, como é que Ele não nos condena, quando cada um é obrigado
a condenar-se, em verdade, de muitas maneiras? Mas aqui o nosso Senhor Jesus é subme-
tido a esse extremo de ser acusado perante um juiz terreno, mesmo diante de um homem
profano, diante de um homem que era impulsionado apenas por sua ganância e sua ambi-
ção. Quando, pois, o Filho de Deus é humilhado a esse ponto, saibamos que isso é para
que sejamos capazes de chegar de cabeças erguidas diante de Deus, e para que Ele possa
nos receber, e que o medo já não possa nos fazer recuar a partir de Seu tribunal, mas que
nós ousemos nos aproximar com coragem, sabendo que seremos recebidos ali em miseri-
córdia. Sabemos mesmo que Jesus Cristo adquiriu autoridade, poder e domínio soberano
de ser Juiz do mundo. E quando Ele é, portanto, condenado por Pilatos, é no sentido de
que hoje podemos chegar com confiança a Ele, na verdade, sabendo que o poder é dado
a Ele para nos julgar. Uma vez que Ele esteve ali, podemos saber que Ele quis carregar a
nossa condenação e que Ele não intencionou um julgamento para justificar-Se, também
sabendo que Ele tinha que ser condenado, de fato, em nossa pessoa. Pois, embora Ele
fosse sem mancha ou defeito, Ele levou todos os nossos pecados sobre Si. Não precisamos
estar surpreendidos, então, que Ele permaneceu ali como se Ele fosse condenado. Pois,
de outro modo, Ele não poderia ter realizado o cargo de Mediador, exceto aceitando a
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sentença e confessando que em nossas pessoas Ele merecia ser condenado. Isso, então,
é o que o silêncio de nosso Senhor Jesus Cristo implica, de forma que hoje possamos
clamar a Deus com plena voz, e que possamos pedir-Lhe o perdão para todos os vícios e
crimes.
Agora, curvemo-nos em humilde reverência diante da majestade do nosso Deus.
ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO use este sermão para trazer muitos
Ao conhecimento salvador de JESUS CRISTO.
Sola Scriptura!
Sola Gratia!
Sola Fide!
Solus Christus!
Soli Deo Gloria!
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Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A —
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dos Pecadores, A — A. W. Pink
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O Tema Da Pregação De João
2 Coríntios 4
1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;
2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem
falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,
na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está
encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os
entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória
de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo
Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,
que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,
para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,
este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.
9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;
10 Trazendo sempre
por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus
se manifeste também nos nossos corpos; 11
E assim nós, que vivemos, estamos sempre
entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na
nossa carne mortal. 12
De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13
E temos
portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,
por isso também falamos. 14
Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará
também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15
Porque tudo isto é por amor de vós, para
que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de
Deus. 16
Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o
interior, contudo, se renova de dia em dia. 17
Porque a nossa leve e momentânea tribulação
produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18
Não atentando nós nas coisas
que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se
não veem são eternas.
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