PEQUENO CONDOMÍNIO DE
AGROENERGIA A PARTIR DO BIOGÁS
PROVENIENTE DO TRATAMENTO DE
DEJETOS SUÍNOS: UM ESTUDO DE
CASO
RODRIGO BARICHELLO (UFSC)
Ronaldo Hoffmann (UFSM)
Nelson Casarotto Filho (UFSC)
Moacir Francisco Deimling (UNOCHAPECO)
A suinocultura é considerada uma atividade de alto potencial poluidor,
devido aos excrementos gerados pelos suínos (dejetos). Como forma de
minimização dos efeitos, a tecnologia de digestão anaeróbica em
biodigestores é uma das possibilidaddes para o combate da poluição
gerada pela suinocultura e que ao mesmo tempo, agrega valor as
propriedades rurais. O presente trabalho apresenta um caso prático da
implantação de biodigestores em duas propriedades de porte médio
criadoras de suínos, e conseqüentemente a criação de um pequeno
condomínio de Agroenergia, na qual um gasoduto interliga as duas
propriedades em questão, com o intuito de geração de Energia Elétrica
isolada utilizando biogás como combustível em um motor a combustão
interna, instalado em uma das propriedades. A planta de geração
consiste em um motor estacionário adaptado para operar com biogás,
acoplado a um gerador elétrico trifásico de 30 kVA nominal. O estudo
revela que a aplicação do projeto para a geração de energia elétrica
isolada é viável e a eficiência global do sistema é satisfatória, podendo
ainda serem exploradas as opções de co-geração e de emissão
certificada de carbono (créditos de carbono).
Palavras-chaves: biodigestor, geração de energia elétrica com biogás,
condomínios de agroenergia.
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1. Introdução
O meio rural brasileiro passou por intensa revolução tecnológica ao longo das últimas
décadas que culminou em considerável aumento da produtividade no campo. Em
contrapartida, as operações agrícolas tem se mostrado como grandes geradoras de resíduos em
todo o mundo (TSAI et al., 2004; MIN et al., 2005; ARVANITOYANNIS; LADAS, 2008;
WAGNER et al., 2009). Particularmente em relação à produção brasileira de suínos, os
dejetos normalmente são lançados sem tratamento em rios e mananciais (ANGONESE et al.,
2006) o que demonstra o enorme potencial poluidor, pois este material contém fezes, urina,
restos de alimentos não ingeridos e os germes e bactérias que os acompanham
(ARVANITOYANNIS; LADAS, 2008).
A atividade da suinocultura vem apresentando significativo crescimento. Com o
aumento da produção, cresce a geração de dejetos. A tecnificação para o tratamento dos
dejetos suínos é o grande desafio para a sustentabilidade dessa atividade.
Neste contexto, a tecnologia da digestão anaeróbica em biodigestores é uma das
possibilidades para o combate da poluição gerada por esta atividade e que ao mesmo tempo,
agrega valor as propriedades rurais. A utilização de biodigestores tem merecido importante
destaque devido aos aspectos de saneamento e energia, além de estimular a reciclagem de
nutrientes. A digestão anaeróbica do resíduo animal através do biodigestor resulta na
produção de biogás (gás inflamável), composto basicamente por metano (CH4 – 60 a 70%) e
dióxido de carbono (CO2 – 30%) (Oliveira, 2004) e biofertilizante.
Com a utilização dos subprodutos do processo de biodigestão (biogás e
biofertilizante), possibilita a agregação de valor dos dejetos suínos nas propriedades,
transformando um passivo ambiental em oportunidades, uma vez que, o item energia é cada
vez mais evidenciado pela interferência no custo final de produção.
Neste contexto, o presente trabalho apresenta um caso prático da implantação de um
pequeno condomínio de Agroenergia, no qual se construiu um gasoduto para interligar o
biogás gerado nas duas propriedades de porte médio em uma pequena central de recebimento,
com o objetivo de geração de Energia Elétrica isolada utilizando o biogás como combustível
em um motor a combustão interna, instalado em uma das propriedades. A planta de geração
consiste de um motor estacionário adaptado para operar com biogás, acoplado a um gerador
elétrico trifásico de 30 kVA nominal, podendo ainda serem exploradas as opções de co-
geração e de emissão certificada de carbono (créditos de carbono).
2. Fundamentação Teórica
2.1 Geração de Biogás e Biofertilizante na Suinocultura: o Biodigestor
O biodigestor é um equipamento onde a fermentação da matéria orgânica ocorre de
modo controlado, proporcionando a redução do impacto ambiental e a geração de combustível
de baixo custo. A fermentação dos resíduos ocorre através da ação de organismos
microscópicos chamados bactérias. O processo de decomposição da matéria orgânica resulta
na produção de biogás e restos digeridos sem cheiro (biofertilizante). (Instituto Sadia de
Sustentabilidade, 2006).
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2.2 Biogás
O biogás proveniente da atividade dos microorganismos é composto por uma mistura
de diversos gases, entre eles o metano, o dióxido de carbono, o hidrogênio e o dióxido de
enxofre. O biogás é inflamável devido ao metano, gás mais leve que o ar, sem cor e odor. O
que causa o odor no biogás é o dióxido de enxofre, que mesmo em quantidades pequenas é
perceptível pelo olfato e bastante corrosivo (Instituto Sadia de Sustentabilidade, 2006).
Os microrganismos que atuam na ausência de oxigênio atacam a estrutura de materiais
orgânicos complexos, produzindo compostos simples como o metano (CH4) e o dióxido de
carbono (CO2). A composição típica do biogás é cerca de 60% de metano, 35% de dióxido de
carbono e 5% de uma mistura de hidrogênio, nitrogênio, amônia, ácido sulfídrico, monóxido
de carbono, aminas voláteis e oxigênio (WEREKO-BROBBY;HAGEN, 2000).
Para que ocorra a fermentação da matéria orgânica, as bactérias precisam de um
ambiente favorável para seu crescimento e desenvolvimento, como por exemplo: Ausência de
compostos químicos tóxicos (sabão, detergente); Temperatura adequada (entre 30 e 45° C);
Presença de matéria orgânica (dejetos); Ausência de ar. Assim, se houver alguma
interferência nesses fatores poderá ocasionar uma redução na produção de biogás. (SEIXAS;
MARCHETTI, 1981)
Pipatmanomai et al. (2009) expressam que o biogás pode ser gerado de resíduos
domésticos, esgoto, aterros sanitários e no caso da criação de porcos, dos resíduos animais e
das águas residuais.
2.3 Cooperativismo com Biogás (Condomínios de Agroenergia)
Bley Júnior (2009) descreve que o biogás, como produto e como fonte renovável de
energias, pode ser explorado em sistemas cooperativos. Para isso os biodigestores podem ser
interligados por gasodutos rurais formando conjuntos de redes interligadas com gestão
associativa, configuradas e planejamentos que permitam o ordenamento territorial. São muito
interessantes, porque oferecem escala para a Economia do Biogás.
É possível aos condomínios se associarem interligando seus gasodutos a uma só
central geradora de energia, proporcionando uma economia em escala altamente viável para
os participantes e resultados importantes ambientais, energéticos e principalmente
econômicos. Este arranjo tem como perspectiva um modelo de cooperativismo com biogás,
independente da vinculação do produtor a outras cooperativas, ou integrações. Cita ainda,
que as cooperativas de eletrificação rural, que encontram dificuldades para ingressar em
geração pelas limitações legais, podem encontrar nos condomínios associados uma
interessante solução econômica.
Dentro desse contexto, um papel fundamental vem sendo exercido pela Itaipu
Binacional/Coordenadoria de Energias Renováveis. A instituição tem se dedicado no estudo e
a demonstração da viabilidade técnica e econômica da geração de energia elétrica através do
biogás e saneamento ambiental em várias escalas de produção, implantando através de sua
Coordenadoria de Energias Renováveis um laboratório a céu aberto na região Oeste do
Paraná/PR. Unidades protótipos foram projetadas e estão sendo construídas na região,
permitindo desenvolver vários estudos relativos ao biogás gerado pelos resíduos e efluentes
orgânicos, como estudo de viabilidade econômica, de geração distribuída ou descentralizada
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de energia elétrica, térmica e veicular e ainda estudos sobre MDL para obtenção de créditos
de carbono.
O presente trabalho vem a contribuir com o que já vem sendo implantando, estudado
no assunto, demonstrando que o cooperativismo em biogás é possível em pequenos grupos de
produtores (no caso de estudo com apenas dois), uma vez que as distâncias entre as
propriedades não se torna viável a interligação de vários biodigestores.
3. Metodologia do Estudo
Segundo Lakatos (2001), a realização de uma pesquisa é uma atividade básica e
essencial para o desenvolvimento do conhecimento, pois através dele buscam-se novas
informações, novas propostas e novas ações para o desenvolvimento socioeconômico-
ambiental. A natureza deste trabalho, de acordo com o tema e os objetivos estabelecidos,
caracteriza-se como uma pesquisa tipo exploratória e utiliza o método quantitativo e
qualitativo de abordagem para a coleta e a análise dos dados junto às propriedades rurais.
A técnica trabalhada nessa pesquisa é o estudo de caso, pois se investigou um
fenômeno dentro do seu contexto real, no qual as condições contextuais referem-se ao objeto
que está sendo estudado. Yng (2005) comenta que a escolha da metodologia de estudo de caso
deve-se ao fato de ser uma técnica de investigação de comportamentos que não podem ser
manipulados isoladamente e devem ser analisados em conjunto.
Foi realizado um acompanhamento nas propriedades rurais dos processos envolvidos
em um período anterior a implantação do sistema de biodigestão, durante e após sua
implantação, até sua total inclusão nas atividades diárias da propriedade. Portanto, pesquisou-
se um fenômeno dentro do seu contexto real, aumentando a credibilidade das conclusões
obtidas.
4. Desenvolvimento e Análise dos Resultados
4.1 Propriedades do Estudo
As propriedades protagonistas deste estudo, estão localizadas na linha Campininha
Tucunduva no município de Tucunduva, Região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.
A propriedade “A” se configura como uma Unidade Produtora de Leitões – UPL 8kg,
com um plantel de 400 matrizes e um volume diário de dejetos estimado em 18 metros
cúbicos. Já a propriedade “B” se configura como uma Unidade Produtora de Leitões – UPL
23kg, com um plantel de 550 matrizes e um volume diário de dejetos estimado em 25 metros
cúbicos.
4.2 Contexto
Ambas as propriedades, tiveram início das atividades na suinocultura em meados da
década de 90. No ano de 2002, firmaram acordo com a agroindústria SADIA S/A, em um
sistema de parceria. Bonett e Monticelli (1998) descrevem que o Sistema de Parceria é
formalizado através de contratos que apresentam exigências quanto à origem da genética e da
ração, especificações, técnicas de manejo e retirada de medicamentos e o provimento de
assistência técnica e transporte. Os contratos apresentam garantias formais de compra e venda
às agroindústrias vinculadas e especificações de volume e prazos, exigência de exclusividade,
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definição de um preço de referência e de critérios de remuneração em função do desempenho
e uniformidade.
No ano de 2004, a empresa criou o chamado Programa de Suinocultura Sustentável
Sadia, ou Programa 3S. A meta era levar os pequenos e médios criadores em sistema de
parceria ao sofisticado mercado de créditos de carbono e garantir uma importante fonte de
receita para os suinocultores.
A concepção do projeto, começou com a possibilidade de gerar créditos de carbono
com as florestas de eucalipto da empresa, plantada para abastecer de biomassa o processo
industrial de geração de vapor. Isto levou a Sadia a iniciar, em 2003, estudos de Mecanismos
de Desenvolvimento Limpo (MDL).
Segundo a Sadia (2006), a conclusão foi de que o projeto mais promissor era na
suinocultura. Desta forma, o projeto de MDL previu a instalação de biodigestores, e teve
como objetivo estender a iniciativa a todos os suinocultores integrados da Sadia; assim,
produtores com propriedades de pequeno e médio porte, teriam a oportunidade de acesso ao
mercado de crédito de carbono.
O programa estabeleceu que o suinocultor receberia os aparelhos em regime de
comodato e abateria o investimento com a geração de seus créditos de carbono, que seriam
negociados pelo Instituto
Ao longo de 2005, a Sadia promoveu uma ampla divulgação aos suinocultores em que
tinham contrato em sistema de parceira, onde a adesão ao projeto era voluntária. O
investimento dos produtores foi mínimo e de acordo com a viabilidade econômica de cada
um. Da parte da Sadia, obteve-se R$ 60 milhões de um financiamento aprovado pelo BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Deste contexto, as propriedades (“A” e “B”) fizeram a adesão ao Projeto e instalaram
biodigestores em seus sistemas produtivos.
4.3 Geração de Energia Elétrica: Descrição do Processo
Para um melhor entendimento, será detalhado passo a passo o processo de tratamento
dos dejetos suínos até a fase de geração de energia elétrica isolada.
O terreno onde a propriedade “A” está localizada possibilitou a instalação do
biodigestor e a implantação de unidades coletoras de dejetos de modo mais racional,
facilitando as condições de manejo. O terreno está em certo grau de declive, possibilitando
que os dejetos gerados na unidade produtiva, sejam conduzidos em tubos de 150 mm (PVC),
sem a necessidade de bombeamento, para uma caixa de homogeneização de vazão (veja
Figura 1). Todo o dejeto produzido na propriedade é destinado para dentro do biodigestor,
onde o mesmo passa por um tempo de residência hidráulica estimado em 30 dias.
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Figura 1: Tubulação coletora de dejeto
O biodigestor construído na propriedade é do modelo canadense (veja Figura 2), de
operação contínua e sua produção estimada de biogás corresponde a 150 m3 por dia,
considerando-se uma vazão média de esgoto de 17 m3
de dejetos por dia.
Figura 2: Biodigestor modelo Canadense
Além do próprio biodigestor, a propriedade instalou um sistema de armazenamento de
biogás. Após o processo de biodigestão, o biogás é enviado para um balão de armazenamento,
através de tubulação rígida de PVC com 50 mm de diâmetro (veja Figura 3 e 4), para
posteriormente ser usado como combustível no conjunto motor-gerador.
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Figura 3: Balão de armazenamento
Figura 4: Biodigestor e balão de armazenamento
Após o balão de armazenamento, o biogás é enviado através de tubulação até o
Conjunto Motor-Gerador instalado na propriedade, que consiste em um motor de combustão
interna (diesel) adaptado para o uso do biogás como combustível, acoplado a um gerador de
eletricidade, gerando energia dentro da propriedade com um sistema de distribuição interno e
isolado, onde existe uma caixa de comando. Nesta caixa de comando, encontram-se a energia
gerada pelo grupo gerador a biogás e a provinda da concessionária local, através do
acionamento de uma chave central o proprietário criador escolhe qual energia utilizar.
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O biogás armazenado é transportado por meio de tubulação rígida de PVC com 50 mm
de diâmetro. Nessa tubulação existem um ou mais pontos de purga d’água. Também, na rede
de distribuição do biogás para o conjunto gerador foi instalado um sistema de filtro, com
limalha de ferro no seu interior, visando à remoção de H2S.
O conjunto motor-gerador de eletricidade trifásico instalado (conforme Figura 5)
possui as seguintes especificações: Modelo GGB 30 kVA BIOGÀS com Potência 30 kVA
Stand BY / 25 kVA Contínuo, Controle de Rotação Eletrônico por sensor eletromagnético,
Chassi com perfil U dobrado, Dimensões Altura /Largura/Comprimento 1200mm X 1000mm
X 2000mm, Peso 1.000 kg. GERADOR Marca WEG com Acoplamento Tipo rígido com
flange, Grau de proteção IP-21, Numero de pólos 4, Rotação 1800 RPM, Freqüência 60 Hz,
tensão 380 V. MOTOR Marca Ford 4.9.
Figura 5: Conjunto motor-gerador
O conjunto motor-gerador instalado requer alguns cuidados, conforme recomendações
para manutenção do sistema: Troca de óleo e filtro a cada 250 horas. No total são 6 litros de
óleo no momento da troca do filtro, pois é necessária sempre a troca deste. Troca das velas a
cada 500 horas sendo que a cada 250 horas elas devem ser limpas. A tensão da correia do
alternador é necessária ser verificada semanalmente. A água do sistema de arrefecimento e o
nível de óleo devem ser verificados diariamente.
O conjunto motor-gerador foi instalado, na referida granja, no mês de Abril de 2010, e
funcionava por um período de 10 a 12 horas/dia. O consumo de biogás observado varia entre
10 e 15 metros cúbicos/hora no conjunto motor-gerador, dependendo da potência elétrica
gerada.
A geração de energia elétrica pelo Conjunto Motor Gerador, num sistema isolado, irá
depender do consumo de energia da propriedade, ou seja, o motor funciona numa velocidade
conforme a necessidade de geração de energia, uma vez que não há excedente de produção.
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Neste período em que o biogás era proveniente de apenas uma propriedade gerava-se em
média 1700 KW/h por mês.
Na entrada do biogás no Conjunto Motor Gerador existe um equipamento, para melhor
identificação, que está na cor Azul (veja Figura 6) onde ocorre a medição do biogás utilizado
(consumido), para que posteriormente seja também contabilizado como Crédito de Carbono.
Figura 6 – Sistema de Medição metros cúbicos de Biogás (crédito de carbono).
Salienta-se que a empresa que forneceu o Grupo Motor/gerador teve que atender a
critérios básicos de fornecimento de sistemas de aproveitamento energético de biogás para a
geração de energia elétrica, estabelecidos através de um memorial do Centro de Inovação e
Excelência – Sadia. A adequação do Grupo motor/gerador deve estar dentro dos requisitos da
metodologia ONU (Organização das Nações Unidas) para a redução de emissões, além de
outras especificações obrigatórias fornecida pela Sadia, a fim de que o sistema de geração de
energia seja aprovado e integrado ao sistema biodigestor/queimador do programa 3S.
No memorial, constam as características da aplicação do sistema, características
técnicas do conjunto motor/gerador, as características das instalações e os passos para a
homologação Sadia, sempre em conformidade com os requisitos da metodologia ONU para
redução de emissões.
4.4 Criação do Condomínio de Agroenergia
A propriedade “B”, como já relatado, também havia instalado o biodigestor apenas
para fins de comercialização do crédito de carbono, onde um flaire (queimador) fazia a
queima do Biogás. Como o gás estava sendo apenas queimado e não utilizado para outro fim,
em comum acordo entre os proprietários iniciou-se conversas com a empresa Sadia, no ano de
2010, para conseguir viabilizar a possibilidade (autorização) de construção de um gasoduto
interligando as duas propriedades, dessa forma, o gás da propriedade “B” seria transportado
até a Propriedade “A” onde estava instalado o Conjunto Motor-Gerador (conforme figura 7) e
da mesma forma, seria contabilizado os metros cúbicos de biogás da propriedade “B” quando
passaria pelo equipamento de medição (Figura 6).
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Cabe salientar, que toda a produção de energia elétrica que será gerada no projeto do
condomínio de Agroenergia será utilizada somente na propriedade que possui o conjunto
motor gerador, sendo que está sendo realizadas negociações de como será eventual pagamento
do biogás da propriedade “B”, entre outras decisões.
Figura 7 – Visualização Projeto Gasoduto de Biogás. Fonte: Google Earth (2011)
Desta forma, no mês de Agosto do ano de 2011, foi autorizada a construção. Sendo
que, em Setembro/2011 foi construído o Gasoduto (veja figura 8) interligando as propriedades
“A” e “B”. A concepção do gasoduto foi realizada conforme modelos construídos em países
Europeus (Alemanha).
O gasoduto possui 470 metros de distância entre as duas propriedades e o biogás é
transportado por meio de tubulação rígida de PVC com 100 mm de diâmetro.
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Figura 8 – A esquerda: Gasoduto sendo Construído / A Direta: Gasoduto finalizado)
O gasoduto está interligado diretamente no biodigestor da propriedade “B”, sendo que,
após percorrer o gasoduto, o biogás é armazenado na propriedade “A” no balão de
armazenamento.
4.5 Alguns Números dos Projetos Executados
Com a implantação dos Projetos, chamaremos “Primeiro Projeto” quando a geração de
energia elétrica contemplava apenas umas das propriedades como visto anteriormente e de
“Segundo Projeto” quando da construção do gasoduto, do condomínio de Agroenergia.
Com o projeto finalizado (Primeiro Projeto) e o Segundo Projeto em andamento por
aproximadamente 2 meses, é possível verificar números reais na produção de Biogás, geração
de energia elétrica. Vejamos alguns dados e resultados:
- Valor (em R$) do Conjunto Motor Gerador: R$ 30.000,00 (Trinta mil reais).
- Valor (em R$) de Construção do Gasoduto de Biogás: R$ 2100,00 (Dois mil e cem reais).
Valor este, incluso tubulação, mão-de-obra, maquinário. Salienta-se que houve subsídio da
Prefeitura na questão de maquinário para escavação do gasoduto.
- Produção de Biogás: Verificou-se através das medições realizadas nos decorrer dos meses
através dos equipamentos apropriados, que no Primeiro Projeto havia disponível a cada mês
em média 150 m3
de Biogás, passando com a interligação das duas propriedades para um
volume de 350 m3.
- Tempo do Gerador em Operação: No primeiro projeto, o conjunto motor gerador ficava em
operação por dia entre 10 e 12 horas, com a implantação do segundo projeto o conjunto motor
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gerador fica em funcionamento aproximadamente em média 23 horas/dia. Levou-se em
consideração o tempo que o motor fica desligado para a verificação (manutenção preventiva).
- Geração de Energia Elétrica: No primeiro projeto os resultados mostraram uma média de
geração de energia elétrica mensal de 1700 KW/h, totalizando uma economia aproximada de
R$ 714,00 (Setecentos e quatorze reais) considerando o valor do KW/h em 0,42 (Quarenta e
dois centavos), com base no valor praticado pela cooperativa de eletrificação rural, ou seja, a
propriedade está deixando de efetuar o pagamento à concessionária, enquanto que, no
segundo projeto obteve-se uma economia de R$ 2100,00 (Dois mil e cem reais).
Primeiro Projeto Segundo Projeto
Produção de Biogás (mês) 150 m3
350 m3
Geração de Energia Elétrica (mês) 1700 KW/h 5000 KW/h
Tempo do Gerador em Operação 10 – 12 horas/dia Aprox. 23 horas/dia
Economia em R$ Energia (mês) R$ 714,00 R$ 2100,00
Quadro 1: Dados comparativos - Fonte: Dados coletados da pesquisa.
Um relatório comparativo de viabilidade econômica financeira está sendo elaborado e
será apresentado posteriormente em outro artigo/estudo. Os estudos de viabilidade
econômico-financeira apresentam resultados animadores na utilização desta tecnologia, uma
vez que se trata de uma Unidade de Produção de Leitões, que demanda grande consumo de
energia para o aquecimento dos animais recém-nascidos, além, da possibilidade de uso do
biofertilizante que reduz a quantidade necessária de adubo químico nas lavouras e também
não foram abordados ainda, possíveis futuros ganhos com os créditos de carbono.
5 Conclusão
No presente trabalho, demonstrou-se a possibilidade de utilização do biogás para a
geração de energia elétrica em um pequeno condomínio de Agroenergia. O presente trabalho
evidencia através do estudo de caso, como a implantação de biodigestores, para o tratamento
dos dejetos, e a concomitante produção de biogás para a geração de energia e biofertilizante,
em propriedades suinocultoras, podem melhorar/contribuir para a qualidade e a produtividade
de propriedades criadoras de suínos, contribuindo na solução de problemas relacionados
principalmente à questão ambiental e de disponibilidade de energia, além de incentivar a
permanência do trabalhador no meio rural, através de uma produção sustentável.
O estudo de viabilidade econômico-financeira apresentou resultados animadores na
utilização desta tecnologia, uma vez que se trata de uma Unidade de Produção de Leitões, que
demanda grande consumo de energia para o aquecimento dos animais recém-nascidos. Como
a utilização deste conjunto motor-gerador está em fase inicial, um estudo mais detalhado está
em fase de estudo.
A possibilidade do uso do biogás nas propriedades com criação de suínos, agrega valor
ao processo de tratamento dos dejetos das propriedades rurais, diminui os custos de produção
e, inclusive, possibilita uma visão sistêmica do agronegócio, sob o ponto de vista da gestão
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ambiental. Salienta-se, entretanto, que esta tecnologia deva ser transferida aos produtores
rurais com os devidos cuidados, sempre aprimorando a assistência técnica, para que erros,
muitas vezes primários, venham a inviabilizar todo o processo.
Verifica-se que os condomínios de agroenergia podem proporcionar uma economia em
escala altamente viável para os participantes e resultados importantes ambientais, energéticos
e principalmente econômicos.
Outro fator importante, vinculado a localização das propriedades, é a ocorrência de
grandes números de eventos ambientais (chuvas com ventos fortes), o que acarreta em muitas
interrupções da transmissão de energia por parte da concessionária local, sendo que, o
conjunto motor-gerador é estratégico para poder minimizar os efeitos desta falta de energia,
tornando-se também um gerador de emergência.
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dos resíduos em biodigestor, v. 10, n. 3, p. 745-750, 2006.
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