2. experincias que a "guerra estratgica" contra o diabo funciona. O ponto central desta guerra, segundo ele, a orao, que a causa da vitria contra os espritos territoriais. Diz ele: Os crentes parecem orar em torno de dois enfoques: 1) Deus, a quem atribuem toda honra e louvor; e 2) Satans, a quem repreendem ousada e agressivamente ... De cada vez em que a Igreja (como representante do 2 Ado) ora, ela prov a justificao legal e moral para Deus liberar o Seu poder (p. 154 e 156). No encontro na Bblia a idia de orar para Satans, e muito menos de que a orao libera Deus de algum constrangimento em doar o seu poder. As afirmaes de Silvoso sobre orao representam bem a tendncia do livro de deixar de lado qualquer preocupao bsica de estruturar uma teologia e exegese slidas sobre o assunto. Parece, inclusive, que isto feito de forma intencional, ao mesmo tempo em que os autores como um todo do mais importncia "prtica". Diz Forster no prembulo: Esse material est alicerado sobre as suas experincias pessoais quanto ao assunto, e no sobre qualquer torre de marfim de inquirio terica (p.7) (...) quero sugerir que ainda precisamos de nos assenhorear de um maior entendimento bblico sobre essas questes (p.12). Nas onze pginas do prembulo Roger Forster vai tropeando em erros teolgicos e interpretaes duvidosas, que se repetem por todo o livro. Para ele e para alguns dos demais escritores, "...a verdade de Deus est sendo recuperada ...em um tempo em que a misso da Igreja est sendo completada..." (p.7, veja tambm a p.14); portanto, so "tempos excitantes" (p. 7). Peter Wagner compartilha do seu otimismo; no captulo um ele deixa claro que o movimento de "Batalha Espiritual" a etapa final da preparao que Deus vinha fazendo na Igreja desde a dcada de 50 (p.26), preparando o mundo para o grande Armagedom (p.25). Diante disto, o livro assume um carter de preciosidade, ao pretender apresentar verdades que haviam permanecido ocultas a milhares de crentes em todas as pocas da Igreja, e que agora esto sendo reveladas a uns poucos "privilegiados estudantes da Palavra." Isto pode ser notado quando Wagner concorda e estimula a classificao dos crentes em "crentes mdios" (p.30), e "os guerreiros", chamados e revestidos do "dom" da batalha espiritual. Diz ele: "...somente crentes espiritualmente dotados, chamados com este propsito, podero aventurar-se nesta guerra" (p.52 e 53). No sem motivo que narra dirigir uma classe de Escola Dominical de Terceira Onda (referncia ao termo e contedo do livro do socilogo Alvin Toffler, A Terceira Onda). Chega mesmo a propor um grfico de "espiritualidade" para identificar os que esto aptos a participar dos confrontos com as altas hierarquias demonacas. Encontramos no livro uma srie de "dicas prticas" de como realizar o ministrio de "batalha espiritual" em nvel estratgico. No captulo quinze John Dawson mostra como discernir os espritos que dominam uma cidade. Entre outras coisas, recebemos a orientao de vasculhar a histria da cidade, seu nome, sua geografia ou suas caractersticas sociais, que ajudaro a reconhecer e vencer os espritos dominantes, e da realizar um ministrio vitorioso de pregao. J nos captulos sete e dez, escritos respectivamente por Jack Hayford e Dick Bernal, so ensinados planos estratgicos para tomar as cidades que se encontram debaixo do controle dos espritos territoriais, usando a conquista de Jeric como base. Hayford conclama a Igreja a orar para que as "Raabes" sejam salvas. Bernal faz uma perigosa espiritualizao da conquista de Jeric, retirando 3. fora do relato bblico regras para nossa ao prtica como Igreja. Uma das regras : "Declarar aos espritos pelas ruas e bairros da cidade a vitria de Cristo". Esta possivelmente a filosofia que est por detrs dos inmeros outdoors aparecidos no ano de 1996 nas ruas de So Paulo dizendo "So Paulo do Senhor Jesus: povo de Deus, declare isto". No faltam tambm neste livro conceitos da "confisso positiva". No captulo nove Larry Lea defende que Deus est limitado em sua atividade pela falta de nossas declaraes de vitria. Ele convida os crentes a declarar aos demnios, virando-se para os quatro pontos cardeais, que entreguem o que no lhes pertence. Ento, segundo sua exegese de Lucas 11, o diabo e seus anjos estaro sendo amarrados. O prprio Peter Wagner, com sua noo de "profecia contempornea" (p.42) e de discernimento espiritual, usa de conceitos equivocados baseados nas palavra bblicas "logos" e "rhema". A suposta base bblica para estas estratgias de "batalha espiritual" so invariavelmente os mesmos textos, citados por quase todos os autores. De maneira especial, eles aparecem nos captulos cinco e seis (Arthur Mathews e Thomas B. Wite). Textos como Deutermio 32.4, Judas 6, Gnesis 6, Salmo 82 e Daniel 10 so interpretados de forma a criar uma angelologia estranha, onde trs classes de anjos cados so descobertas: 1) Os que caram com Lcifer; 2) Os que cometeram imoralidades com as mulheres da terra (Gnesis 6) e que esto presos agora (Judas 6); 3) Os que receberam autoridade de Deus para governar os povos (Salmo 82 e Deuteronmio 32). Isto implica em que estes ltimos anjos mencionados tm poder sobre as naes, as cidades, etc., e que podem, "tentados por Satans", juntar foras contra Deus. Segundo Forster, os anjos continuam caindo nos truques do diabo, e suas "rebeldias" podem ser "voluntrias ou involuntrias" (p. 10). Forster faz ainda a tentativa de identificar diferentes ordens malignas supostamente mencionadas por Paulo em Efsios 6.12, chegando at mesmo a determinar-lhes funes (demnio da rebeldia, da luxria, etc.). O texto bblico sobre Jesus amarrar o valente vrias vezes mencionado, e recebe diversas interpretaes no decorrer do livro, abrindo espao para diversos tipos de prticas pastorais questionveis. O livro no possui uma linha doutrinria definida afinal, uma coleo de artigos de diferentes autores. O leitor vai encontrar material que contradiz o ponto central da obra, alguns de maneira discreta, outros de maneira mais veemente. Por exemplo: encontramos afirmaes bastante lcidas de Michael Green (captulo dezoito), que diz: ...apesar da variedade na nomenclatura, o quadro geral em nada se altera por toda Bblia, uma variedade de foras malignas sob uma nica chefia. Seria uma tolice e um grande equvoco tentar separar os principados e as potestades das epstolas paulinas dos demnios referidos nos evangelhos ... o prprio nmero e a variedade dos nomes desses seres mostram-nos que os escritores do Novo Testamento, distinguindo-se de seus predecessores judeus e pagos, no estavam interessados em escrever demonologias; esses seres malignos foram enumerados ao acaso, somente a fim de mostrar que essas foras inimigas foram todas, uma, desarmadas pelo Senhor Jesus Cristo (p. 230). Anne Gimenez (captulo oito) tambm faz afirmaes sobre Daniel 10 que so contrrias interpretao dominante desta passagem no livro: 4. E o anjo continuou, a fim de explicar que o "prncipe do reino da Prsia" tinha resistido a ele por vinte e um dias, at que um dos principais prncipes, Miguel, veio em sua ajuda. E os anjos prevaleceram e irromperam os empecilhos, e deram a Daniel a mensagem. Imagine o leitor toda essa batalha ocorreu por trs semanas nos lugares celestiais, e, no entanto, Daniel nada sabia a respeito ... Isto posto, a batalha contra as foras malignas, nesse caso o prncipe da Prsia, obviamente no era uma batalha do prprio Daniel ... Enquanto meditava sobre essa realidade, ocorreu-me um novo discernimento, e indaguei: "Deus, minha vitria no depende de eu derrotar o diabo? E o Senhor respondeu: "No, a sua parte consiste em jejuar e orar. Que suas peties tornem-se conhecidas; pois ento enviarei as minhas hostes celestes em seu socorro. Enviarei algum que um adversrio altura para aqueles espritos malignos. Voc no adversrio altura para o diabo. Cr e ora." ... O diabo vem enganando a todos ns. Ele nos tem feito pensar que precisamos derrot-lo, amarr-lo, derrub-lo por terra e nos sentarmos sobre ele, antes de podermos obter a vitria. Cumpre-nos resistir ao diabo; mas a batalha e a vitria no so nossas. A batalha do Senhor, e ele j obteve a vitria (pp.115-117). Um livro cuja leitura pretenda ser relevante deve ter um quadro referencial ntido e argumentos solidificados na Palavra de Deus. Espritos Territoriais no possui nenhuma destas duas caractersticas. Pelo contrrio, aborda um assunto controvertido e importante para o cristo, que a batalha espiritual, introduzindo conceitos perigosos, argumentao frgil e uma completa incoerncia entre diversas partes da obra. Alguns escritores so radicais, cometendo erros bsicos com relao ao ensino da Palavra de Deus (angelologia, escatologia, Reino de Deus, etc.). O livro acaba comprometendo a prtica pastoral das igrejas evanglicas, aumentando o descrdito que muitas vezes existe por parte de telogos sistemticos e exegetas com relao Teologia Pastoral. mais uma obra que dificulta a implantao no Brasil de uma Igreja sria e comprometida com o Rei e seu precioso Reino. Magnus G. F. Fialho