pág. 1
pág. 2
NEMATÓIDES EM CANA-DE-AÇÚCAR
Leila Luci Dinardo-Miranda
Centro de Cana-de-açúcar – Instituto Agronômico (IAC)
1. ESPÉCIES IMPORTANTES E SEUS DANOS EM CANA-DE-AÇÚCAR
Muitas espécies de nematóides são encontradas em associação com a cana-de-açúcar,
mas, nas condições brasileiras, três são economicamente importantes, em função dos danos que
causam à cultura: Meloidogyne javanica, M. incognita e Pratylenchus zeae. Em muitos canaviais
pouco desenvolvidos e com baixa produção, são encontradas altas populações de pelo menos
uma delas. Outra espécie, P. brachyurus, é também muito comum em canaviais brasileiros, mas
sua patogenicidade para a cultura ainda não está estabelecida (DINARDO-MIRANDA, 2008).
Os nematóides do gênero Meloidogyne são conhecidos como formadores de galhas, devido
às deformações que provocam no sistema radicular das plantas. As fêmeas têm corpo em forma de
pêra, globoso com a região anterior formando um “pescoço”, de cor branco-leitosa. Cada fêmea
deposita de 400 a 500 ovos em um único local no interior das raízes ou na superfície delas. Os
ovos são envolvidos por uma substância gelatinosa excretada pela fêmea através de suas
glândulas retais, formando uma massa inadequadamente chamada de ooteca (FERRAZ e
MONTEIRO, 1995).
No interior dos ovos, as formas juvenis de primeiro estágio (J1) sofrem a primeira ecdise.
Dos ovos eclodem, portanto, juvenis de segundo estágio (J2), que são vermiformes e móveis e
migram no solo à procura de raízes de plantas hospedeiras. São ditas formas pré-parasitas ou
infestantes.
Atraídos por emanações radiculares das plantas, os J2 penetram nas radicelas de plantas
suscetíveis, geralmente pelas pontas, e atravessam o parênquima cortical para posicionar a região
anterior do corpo na periferia do cilindro central. Ali estabelecem o parasitismo. Através do estilete,
pág. 3
injetam secreções esofagianas em cerca de 3 a 8 células, localizadas ao redor da região anterior
do corpo. Essas células, chamadas nutridoras, tornam-se hipertrofiadas, com citoplasma denso,
granuloso e núcleos e nucléolos muito evidentes (FERRAZ e MONTEIRO, 1995). Em razão dessa
hipertrofia, são conhecidas também como células gigantes e são essenciais à alimentação e ao
desenvolvimento dos nematóides, pois passam a ser seus bolsões alimentadores. Os nematóides
injetam continuamente toxina nestas células e sugam o material exsudado por elas.
Concomitantemente à formação das células gigantes ou nutridoras, a substância injetada
pelos nematóides irradia-se, sai do cilindro central e atinge a região cortical, onde ocorre aumento
no número e no tamanho das células; em conseqüência, o córtex entumece e as raízes
engrossam, formando a galha, o mais conhecido e freqüente sintoma de ataque de nematóides do
gênero Meloidogyne (figura 1).
Figura 1. Raízes de cana-de-açúcar com galhas características do ataque de nematóides do
gênero Meloidogyne (Foto: L.L. DINARDO-MIRANDA).
Com a formação das células nutridoras, os J2 tornam-se gradualmente mais robustos, com
corpo em forma de salsicha, perdem a mobilidade e tornam-se sedentários. Atingindo o máximo do
desenvolvimento, passam rapidamente por mais duas ecdises. Tanto os juvenis de terceiro estágio
(J3) como os de quarto estágio (J4) são desprovidos de estilete e têm o esôfago parcialmente
degenerado, sendo incapazes de se alimentar. Após a quarta ecdise, formam-se os adultos, já com
estilete e esôfago regenerados (FERRAZ e MONTEIRO, 1995). São endoparasitos sedentários, isto é,
alimentam-se no interior das raízes e, após estabelecido o sítio de alimentação, não mais se
locomovem.
pág. 4
Tanto para M. incognita como para M. javanica, a reprodução se dá por partenogênese
mitótica obrigatória, com as populações sendo constituídas praticamente só de fêmeas. Os machos
aparecem em maior número somente quando as condições ambientais são desfavoráveis. Quando
presentes, os machos têm corpo vermiforme, alongado, e resultam de complexa metamorfose do
último estádio juvenil e, de acordo com muitos autores, não são parasitos (FERRAZ e MONTEIRO,
1995).
A duração do ciclo biológico é muito influenciada por fatores como temperatura, umidade e
planta hospedeira, sendo em geral ao redor de 3 a 4 semanas (FERRAZ e MONTEIRO, 1995).
Os nematóides do gênero Pratylenchus são conhecidos como nematóides das lesões
radiculares e são endoparasitos migradores. Nesse gênero, todos os estádios juvenis e adultos
são vermiformes, movimentam-se intensamente e podem iniciar o parasitismo, portanto, todas as
formas são infestantes. As fêmeas depositam seus ovos isoladamente, no solo ou no interior das
raízes parasitadas. Deles eclodem J2, que passam por mais quatro ecdises, formando-se os
adultos (FERRAZ e MONTEIRO, 1995).
Adultos e juvenis preferem penetrar nas radicelas pelas regiões subapicais e, para isso,
injetam toxinas que degradam parcialmente as paredes celulares. Em seguida, por ação mecânica,
rompem totalmente as paredes celulares. Ao entrar nas raízes, os nematóides movimentam-se por
entre as células e também por dentro das células, o que provoca o rompimento de muitas delas,
formando-se túneis e galerias no córtex das raízes.
A infestação, no geral, restringe-se ao parênquima cortical, que fica bastante desorganizado
devido à destruição de numerosas células durante a movimentação dos nematóides. Para se
alimentar, os nematóides posicionam-se paralelamente ao cilindro central, secretam ênzimos no
interior das células e sugam seu conteúdo. As células assim atingidas se degeneram e acabam
morrendo pouco tempo depois da saída do nematóide. Devido aos danos mecânicos decorrentes
do caminhamento dos nematóides e à ação tóxica dos ênzimos por eles excretados, muitas células
morrem e são invadidas por fungos e bactérias do solo, resultando no aparecimento de lesões
necróticas típicas, de coloração escura (FERRAZ e MONTEIRO, 1995; figura 2).
Em P. brachyurus e em P. zeae, os machos são raros e a reprodução se dá por
partenogênese.
A duração do ciclo varia em virtude de fatores ambientais (temperatura e umidade) e do
hospedeiro, indo de 3 a 6 semanas, geralmente (FERRAZ e MONTEIRO, 1995).
pág. 5
Figura 2. Raízes de cana-de-açúcar com necroses provocadas por nematóides do gênero
Pratylenchus. (Foto: L.L. DINARDO-MIRANDA).
O ataque dos nematóides à cana-de-açúcar restringe-se às raízes, de onde extraem
nutrientes para o crescimento e desenvolvimento. Para isso, injetam enzimas no sistema radicular,
resultando em deformações, como as galhas provocadas por Meloidogyne, e extensas áreas
necrosadas, quando os nematóides presentes são Pratylenchus. Em decorrência do ataque de
nematóides, as raízes tornam-se pobres em radicelas e incapazes de absorver água e nutrientes
necessários para o bom desenvolvimento das plantas que, conseqüentemente, ficam menores,
raquíticas, cloróticas, murchas nas horas mais quentes do dia e menos produtivas. Em condições
de campo, são verificadas reboleiras de plantas menores e cloróticas entre outras de porte e
coloração aparentemente normais.
A grandeza dos danos causados por nematóides pode ser quantificada em ensaios nos
quais se faz a aplicação de nematicidas, como a apresentado na Figura 3. Segundo DINARDO-
MIRANDA (2008), M. javanica e P. zeae causam cerca de 20 a 30% de redução de produtividade
no primeiro corte de variedades suscetíveis. M. incognita pode ocasionar perdas maiores, ao redor
de 40 %. Em casos de variedades muito suscetíveis e níveis populacionais muito altos, as perdas
provocadas por nematóides podem chegar a até 50 % da produtividade. Os danos, porém, não se
restringem à cana planta; os nematóides também reduzem as produtividades das soqueiras e,
conseqüentemente, a longevidade do canavial.
pág. 6
Figura 3. Produtividade agrícola (t/ha) de variedades cultivadas em área infestada por P. zeae,
tratadas ou não com nematicida no plantio (Fonte: adaptado de DINARDO-MIRANDA et
al., 1996).
2. MANEJO DE ÁREAS INFESTADAS POR NEMATÓIDES
2.1. Amostragem
Para que medidas de manejo possam ser corretamente recomendadas, a fim de reduzir os
prejuízos causados pelos nematóides, é necessário um diagnóstico seguro da presença desses
parasitos na área, o que é feito por meio de uma boa amostragem.
O primeiro aspecto a ser considerado é a época de amostragem. Os nematóides
importantes para a cana-de-açúcar são parasitos obrigatórios; necessitam, portanto, de raízes
vivas para sobreviver e se multiplicar. A cana-de-açúcar tem raízes abundantes na época chuvosa
do ano, mas, na época seca, ocorre morte de muitas raízes. Em conseqüência da morte de raízes,
a população de nematóides cai drasticamente e somente os ovos desses parasitos permanecem
vivos no solo. Os métodos de extração tradicionais utilizados pelos laboratórios, porém, não
conseguem recuperar os ovos do solo. Assim, amostragens efetuadas na época seca do ano são
inadequadas porque não permitem diagnosticar a real população de nematóides. As amostragens
devem ser feitas, sempre, na época chuvosa do ano.
As amostragens podem ser feitas tanto em cana planta como em soqueiras. Em áreas a serem
reformadas, a coleta de amostras deve ser feita no período chuvoso antes do último corte.
Outro aspecto a ser considerado nas amostragens é que as populações de nematóides
variam muito a pequenas distâncias e isso tem uma importante implicação prática: uma amostragem
bem feita exige a coleta de grande número de amostras. Assim, para talhões de até 10 ha,
104.2
116.4
96.9
117.7
83.3 86.2
76.6
98.2106.9
85.7
0
20
40
60
80
100
120
140
IAC87-3396 RB72454 RB855536 SP80-3280 SP81-3250
Pro
du
tivid
ad
e d
e c
olm
os (
t/h
a)
Tratada Não tratada
pág. 7
recomenda-se a coleta de uma amostra composta por duas sub-amostras por ha, recolhidas em toda
área.
Para facilitar a amostragem, deve-se começar pelo vértice do talhão. Se o espaçamento entre
sulcos for de 1,5 m, o amostrador deve contar inicialmente 33 sulcos e adentrar no talhão neste sulco
(33º sulco). Em seguida, ele deverá dar aproximadamente 30 passos (25 m) e coletar uma sub-
amostra. Coletada a sub-amostra, ele deverá dar mais 60 passos (50 m) e coletar outra sub-amostra,
prosseguindo desta maneira até sair no carreador. No carreador, o amostrador deverá então contar
66 sulcos, adentrando no talhão novamente e prosseguindo como anteriormente citado. Desta forma,
ao terminar o talhão, ele deverá ter coletado, aproximadamente, 2 sub-amostras por hectare.
Para coleta das sub-amostras, o amostrador deverá caminhar com dois baldes e um enxadão.
Em cada ponto de amostragem, parte de uma touceira é arrancada para coleta de raízes. É
importante que o arranquio das plantas seja feito com cuidado, batendo o enxadão longe da touceira,
de maneira a permitir, sempre que possível, a retirada de raízes longas, pois os nematóides tendem a
entrar no sistema radicular pelas pontas das raízes e a permanecer em todo o comprimento delas. A
Figura 4 mostra uma sequência de arranquio de touceira, para coleta de raízes.
Depois que a touceira é arrancada, coleta-se uma parte das raízes (Figura 5) e a armazena em
um dos baldes. No outro balde, coloca-se um punhado de terra. Prossegue-se dessa forma até coletar
todas as sub-amostras da área. Ao final, o solo e as raízes deverão ser homogeneizados, colocando-
se em um saco plástico uma amostra de aproximadamente 500g se solo e 100g de raízes.
pág. 8
Figura 4. Sequência de tarefas para amostragem nematológica: (a) corte da parte aérea do canavial;
(b) e (c) início do arranquio da touceira; (d) touceira arrancada na qual nota-se o grande
comprimento e volume das raízes.
Figura 5. Parte das raízes de uma touceira que deve ser coletada para formar a amostra composta
O saquinho contendo a amostra deverá ser fechado e devidamente identificado. Durante o dia,
enquanto as amostras são coletadas em campo, aquelas já coletadas devem ser mantidas em caixa
pág. 9
de isopor, na sombra, a fim de evitar a incidência direta de raios solares sobre elas, que podem
esquentar a amostra e matar os nematóides presentes.
Depois de coletadas, as amostras podem ser armazenadas em local fresco, onde não recebam
luz solar direta., por no máximo uma semana, até serem enviadas ao laboratório para análise. Não é
conveniente armazenar as amostras em geladeira ou em freezer, pois elas tendem a se deteriorar
muito rapidamente quando retiradas destas condições.
Embora a época ideal para coletar as amostras seja o período chuvoso, deve-se evitar fazê-lo
quando o solo estiver encharcado, pois as raízes coletadas nestas condições apodrecem muito
rapidamente.
Quando as soqueiras já foram destruídas e as áreas se encontram preparadas para o plantio
da cana, pode-se plantar cerca de 10 covas por talhão homogêneo de uma variedade suscetível
qualquer, para posterior análise das raízes dessa variedade. O plantio desta variedade, conhecida
como isca de campo, deve ser feito entre setembro e dezembro. Cerca de 60 a 90 dias depois do
plantio, as raízes e o solo da rizosfera das plantas são coletadas, compondo uma amostra, e enviadas
para análise em laboratório. Desta forma, antes do plantio da cultura definitiva na área, é possível
fazer um diagnóstico seguro da ocorrência de nematóides no local.
O laboratório deve determinar as principais espécies encontradas na área e a população de
cada uma delas. O nematologista interpretará os resultados, definindo se as populações encontradas
são prejudiciais à cultura em questão, se estão em nível populacional baixo, médio ou alto. Para uma
correta interpretação dos dados, é imprescindível que a amostra seja acompanhada das informações:
cultura; variedade; estágio (cana planta ou soca); idade (se for cana, meses após o plantio ou corte);
tipo de solo; data de coleta da amostra; uso de nematicida na área.
Em áreas com populações médias e altas de nematóides, medidas de controle devem ser
adotadas.
2.2. Adoção de medidas de controle
Uso de variedades resistentes
Entre as medidas de controle que poderiam ser adotadas em cana-de-açúcar para reduzir
as populações de nematóides, o uso de variedades resistentes ou tolerantes seria, sem dúvida, o
mais prático e econômico, pois a produção de mudas dessas variedades tem os mesmos custos
que o de mudas de outras variedades. Além disso, o uso de variedades resistentes não interfere
nas outras práticas culturais, não apresenta problemas com resíduos indesejáveis e suprime as
pág. 10
populações de nematóides (LORDELLO, 1981). Entretanto, são raras as variedades atualmente em
cultivo resistentes ou tolerantes a pelo menos uma das espécies de nematóide de importância
econômica. Uma das exceções é a IACSP93-3046, resistente a M. javanica (DINARDO-MIRANDA et
al., 2008). Esta variedade, entretanto, é suscetível a M. incognita e P. zeae.
A resistência a uma só espécie de nematóide restringe a adoção desta ferramenta de
controle, pois, em campo, é comum a ocorrência de duas ou mais espécies de nematóides
conjuntamente.
Devido ao número reduzido de variedades comerciais resistentes, o manejo de áreas
infestadas, atualmente, baseia-se no uso de nematicidas químicos aplicados no plantio e/ou nas
soqueiras, associado ou não ao uso de matéria orgânica e à rotação de culturas.
Uso de matéria orgânica
Diversos autores, entre os quais LORDELLO (1981), citam que a adição de matéria orgânica ao
solo resulta em diminuição na população de certos nematóides, por criar condições favoráveis à
multiplicação de seus inimigos naturais, principalmente de fungos, e por liberar, durante sua
decomposição, substâncias orgânicas com ação nematicida.
Em cana-de-açúcar, a matéria orgânica mais utilizada é a torta de filtro. Estudos em campo,
entretanto, mostram que a torta de filtro, nas doses usualmente utilizadas, não reduz as populações
de nematóides, embora contribua para aumentos de produtividade devido aos seus efeitos
nutricionais (NOVARETTI e NELLI, 1985; DINARDO-MIRANDA et al., 2003). Devido aos efeitos
nutricionais, a torta de filtro é bastante indicada para solos fracos e infestados por nematóides e,
se aplicada junto com nematicidas, os incrementos de produtividade são muito mais significativos,
pois somam-se os efeitos nutricionais da torta de filtro com os efeitos nematicidas do produto.
Outro material orgânico que pode ser utilizado é a torta de mamona que, em estudo em
campo, promoveu certa redução populacional de nematóides e contribuiu para aumentar a
produtividade do canavial, quando utilizada em doses de 600 a 1800 kg ha-1, levando os autores da
pesquisa, DINARDO-MIRANDA e FRACASSO (2010), a considerar que a torta de mamona poderia ser útil
em um programa de manejo integrado de nematóides.
pág. 11
Rotação de culturas
Em áreas cultivadas tradicionalmente com cana-de-açúcar, há produtores que fazem
rotação com leguminosas, visando principalmente aos benefícios da adubação verde, como a
adição de nutrientes ao solo. Crotalaria juncea L. é a espécie mais empregada, por ser muito
produtiva. Estudos mostram que as crotalárias não reduzem as populações de Pratylenchus (em
alguns casos elas até aumentam) e somente reduzem as populações de Meloidogyne se o cultivo
for feito consecutivamente na área por mais de 2 anos (MOURA, 1991; ROSA et al., 2003; DINARDO-
MIRANDA e GIL, 2005), o que não é comum em áreas de cana-de-açúcar.
Apesar de pouco afetar as populações de nematóides, em muitas situações, o cultivo de
crotalária contribui para aumentos na produtividade do canavial subseqüente, fato atribuído aos
benefícios da adubação verde. Assim, a rotação de culturas pode trazer benefícios às áreas
infestadas por nematóides, especialmente pela adição de nutrientes ao solo. Pelo fato de não
reduzirem as populações de nematóides e, em alguns casos, até multiplicarem certas espécies,
essa ferramenta torna-se mais interessante do ponto de vista econômico quando utilizada em
conjunto com nematicida.
Uso de nematicidas no plantio
A aplicação de nematicidas no plantio em áreas infestadas resulta em significativos
incrementos de produtividade, como pode ser visto no experimento cujos resultados estão
resumidos na figura 3.
A figura 6 ilustra uma área infestada, tratada ou não com nematicida no plantio.
pág. 12
Figura 6. Aspecto de uma cana planta com seis meses, conduzida em área infestada por
nematóides, não tratada (à esquerda) e tratada com nematicida no plantio.
Uma das razões para as excelentes respostas da cana planta ao uso de nematicidas no
plantio está relacionada à eficiência das raízes. Raízes jovens de plantas também jovens são muito
eficientes na absorção (ANGHINONI e MEURER, 1999). As raízes da cana planta são
fisiologicamente muito ativas, absorvendo eficientemente não só a água e os nutrientes, mas
também os nematicidas aplicados no solo. Em decorrência da boa absorção de nematicidas, há
grande redução populacional de nematóides e, consequentemente, bom desenvolvimento das
raízes. Raízes bem desenvolvidas exploram melhor o solo, extraindo dele maior quantidade dos
nutrientes colocados à disposição da planta, o que contribui para maior produtividade da parte
aérea. É, portanto, um ciclo virtuoso que se dá no solo.
A aplicação de nematicidas no plantio aumenta a produtividade no primeiro corte do
canavial em 10 a 30%. Em solos mais argilosos e populações médias, estes incrementos são da
ordem de 10 a 12%; Em solos arenosos ou de textura média, com populações altas de nematóides,
os incrementos são de 30 a 35 %, podendo chegar a mais de 50 %, se a variedade cultivada for
muito suscetível.
Como o controle de nematóides no plantio contribui para melhor desenvolvimento da parte
aérea e do sistema radicular das plantas, o canavial, como um todo, tende a apresentar menor
número de falhas. Em conseqüência, a soqueira resultante de uma cana planta tratada também se
apresenta melhor desenvolvida e com falhas mais reduzidas. Assim, muitas vezes, devido ao
tratamento feito no plantio, observa-se incremento de produtividade também na segunda colheita,
variando de 5 a 12 t ha-1 (Figuras 7 e 8).
pág. 13
Figura 7. Produtividade agrícola (t ha-1) da variedade RB867515, cultivada em área infestada por
M. javanica e P. zeae, tratada ou não com nematicida no plantio e incremento de
produtividade em função do tratamento nematicida (t ha-1).
Figura 8. Aspecto de uma soqueira, três meses depois do primeiro corte, conduzida em área
infestada por nematóides, não tratada (à esquerda) e tratada com nematicida no plantio (à
direita).
O uso de nematicidas na implantação do canavial resulta em melhor desenvolvimento da
parte aérea e do sistema radicular das plantas e a cultura, como um todo, tende a apresentar
menor número de falhas. Em conseqüência, a soqueira resultante de uma cana planta tratada com
144.3
124.1114.9 114.7
29.4
9.4
0
20
40
60
80
100
120
140
160
1° corte 2° corte
Pro
du
tivid
ad
e d
e c
olm
os (
t/h
a)
Tratada Não tratada Incremento
pág. 14
nematicidas também se apresenta melhor desenvolvida e com falhas mais reduzidas. Portanto, o
bom estabelecimento da cultura em seu primeiro ciclo (cana planta) tem papel importante na
longevidade do canavial.
Os nematóides, porém, atacam a cana-de-açúcar em todos os ciclos, e não somente na
cana planta. Assim, para uma maior longevidade do canavial, a adoção de medidas de controle
tem se mostrado fundamental.
Estimulados pelos bons resultados em cana planta, muitos produtores passaram a aplicar
nematicidas também em soqueiras, com o objetivo de aumentar a vida útil do canavial e postergar
os altos investimentos da reforma da lavoura.
Uso de nematicidas em soqueiras
Uma das questões frequentemente levantadas, quando se discute a aplicação de
nematicidas em soqueiras, se refere aos incrementos de produtividade. Vale a pena aplicar
nematicida em soqueiras? A Figura 9 mostra uma soqueira infestada por nematóides, tratada ou
não com nematicida após o corte, na qual se vê claramente o melhor desenvolvimento da faixa
tratada, ilustrando os benefícios do tratamento da soca.
Figura 9. Soqueira de cana-de-açúcar tratada (à esquerda) e não tratada (à direita) com nematicida
após o corte.
pág. 15
Assim como ocorre em cana planta, o controle de nematóides em soqueira pode ser viável
economicamente, embora os incrementos de produtividade decorrentes do uso de nematicidas nas
socas sejam geralmente mais modestos do que os observados em cana planta.
As razões para uma menor resposta das soqueiras ao controle químico de nematóides não
estão perfeitamente esclarecidas, mas dois fatores merecem destaque. O primeiro deles está
relacionado à eficiência das raízes, já apresentado no item anterior. De acordo com ANGHINONI e
MEURER (1999), as taxas de absorção de nutrientes e água pelas raízes decrescem rapidamente
com a idade da planta; plantas jovens são mais eficientes na absorção do que plantas velhas. Os
autores afirmam também que raízes jovens de uma planta velha não absorvem os nutrientes na
mesma taxa que as raízes jovens de uma planta jovem. Considerando a cana-de-açúcar, pode-se
afirmar, portanto, que as raízes da cana planta são fisiologicamente mais ativas, absorvendo mais
eficientemente não só a água e os nutrientes, mas também os nematicidas aplicados no solo. Em
decorrência da melhor absorção, a eficiência do nematicida na redução populacional de
nematóides é maior, justificando os maiores incrementos de produtividade observados em cana
planta, em comparação com as soqueiras.
Outro fator que merece destaque pela influência que exerce sobre o controle de
nematóides e, conseqüentemente, sobre os incrementos de produtividade devido ao uso de
nematicidas em soqueiras é, sem dúvida, o período decorrente entre a colheita do canavial e a
aplicação do nematicida. A falta de resposta ao tratamento químico em soqueiras, em muitos
casos, deve ser atribuída à aplicação de nematicidas em época inadequada.
Para entender a razão da influência da época de aplicação do nematicida em soqueira
sobre a produtividade do canavial, é necessário considerar a dinâmica de crescimento das raízes
em cana-de-açúcar. Sobre este assunto, há a brilhante tese de doutoramento de Antonio Carlos M.
Vasconcelos, que foi resumida em VASCONCELOS e DINARDO-MIRANDA (2006) e que serviu de base
para o texto apresentado a seguir.
O sistema radicular da cana-de-açúcar cresce paulatinamente de um ciclo para o outro
(cana planta, primeira soca, segunda soca, etc.), o que é comum em plantas perenes Segundo
KLEPPER (1991), em perenes, o crescimento de raízes ocorre por fluxos de atividade, com
padrões de distribuição dos fotoassimilados variando com a estação do ano. Os trabalhos de
Vasconcelos, apresentados em VASCONCELOS e DINARDO-MIRANDA (2006), revelam que, embora o
volume de raízes da cana-de-açúcar aumente de um ciclo para o outro da cultura, ocorre morte
parcial de raízes em função da disponibilidade de água no solo. Sob condições de déficit hídrico,
grande quantidade das raízes morre, ocorrendo renovação sob condições de acúmulo de água.
Portanto, nos meses de seca a cana-de-açúcar perde parte de seu sistema radicular, que volta a
se desenvolver nos períodos chuvoso. Assim, a morte ou a renovação do sistema radicular da
pág. 16
cana-de-açúcar não estão relacionados ao corte da parte aérea, mas à condição hídrica a que a
cultura está submetida em determinado período de desenvolvimento (Figura 10).
Figura 10. Massa seca de raízes da variedade RB72454, em 4 profundidades e sua
correspondência com o balanço hídrico do período (VASCONCELOS e DINARDO-MIRANDA,
2006).
As raízes superficiais são as primeiras a morrer durante o período de estiagem e também
são as primeiras a se renovar durante o período das chuvas (VASCONCELOS, 2002). Esse fato é
bastante relevante, já que nutrientes e nematicidas, especialmente nas soqueiras, são aplicados
nas camadas superficiais do solo (5 a 10cm de profundidade).
0
20
40
60
80
100
120
140
jan97 ago97 jan99 mai99 set99 jan00 mai00 set00 jan01
0-20 cm
20-40 cm
40-60 cm
60-80 cm
g/78 dm3
-100-50
050
100150200
se
t-98
no
v-9
8
jan
-99
ma
r-99
ma
i-99
jul-9
9
se
t-99
no
v-9
9
jan
-00
ma
r-00
ma
i-00
jul-0
0
se
t-00
no
v-0
0
jan
-01
mm
Deficiência Armazenamento Evapotr. Real
pág. 17
Aplicação de nematicidas em soqueiras colhidas em início de safra
Quando o corte é feito em abril e maio (início de safra), a cana apresenta grande
quantidade de raízes vivas e ativas, por ocasião da colheita, pois ainda há água disponível no solo.
Nestas condições, as populações de nematóides também são elevadas, pois as raízes são
abundantes e a temperatura e a umidade, adequadas para o desenvolvimento desses parasitos.
Por causa disso, a aplicação de nematicidas logo após o corte (5 a 10 dias) tem certo efeito inicial
sobre as populações de nematóides e consequentemente sobre o desenvolvimento da cultura,
como visto em alguns ensaios, entre eles aquele cujos resultados estão apresentados na Figura
11. Entretanto, na maioria das situações, não há efeito algum.
Figura 11. Produtividade (t/ha) em cada tratamento (em azul, incremento em relação à testemunha;
F 13ddc, F 50ddc, F 85ddc e F 127ddc representam nematicida aplicado aos 13, 50, 85 e
127 dias depois do corte, respectivamente) (DINARDO-MIRANDA et al., 2010).
Estes canaviais de começo de safra, embora tenham muitas raízes vivas por ocasião da
colheita, com o passar do tempo e escassez das chuvas, sofrem redução gradativa das raízes, a
começar pelas mais superficiais e passando para as mais profundas. Pode ocorrer emissão lenta
de raízes novas após chuvas ocasionais, mas, com a continuação do período seco, as raízes
recém emitidas e também as mais velhas morrem paulatinamente. Consequentemente, a cana-de-
açúcar, no final do período seco, apresenta pequena quantidade de raízes vivas e ativas e se
sustenta, basicamente, com as reservas do rizoma a por meio das raízes de cordão, que atingem
profundidades maiores. Com início do período chuvoso, entretanto, há rápida emissão e
crescimento de novas raízes. Em conseqüência deste crescimento de raízes e das condições de
temperatura e umidade adequadas para os nematóides, é também no período chuvoso que as
populações desses parasitos aumentam.
0 02,5
11,3
140
144
148
152
156
160
Testemunha F 13ddc F 50ddc F 85ddc F127ddc
Área colhida em 10/05
Pro
du
tivid
ad
e (
t/h
a)
pág. 18
Se o nematicida for aplicado em pleno período seco, ele gradativamente se decompõe no
solo, e uma quantidade menor do que a aplicada fica disponível para as plantas, no período
chuvoso, quando então o produto é necessário, devido à emissão de novas raízes e aumento das
populações de nematóides. Esta é a razão para as aplicações feitas no período seco (junho a
setembro) não resultarem em incrementos de produtividade em muitos dos ensaios conduzidos em
áreas colhidas no início de safra. Por outro lado, uma aplicação tardia de nematicidas, feita no
início do período chuvoso (outubro, novembro) poderia ser bastante adequada para reduzir as
crescentes populações de nematóides no período. Sabe-se, porém, que a severidade dos danos
causados por nematóides está relacionada à fenologia da planta: plantas mais velhas são afetadas
de maneira menos severa do que plantas mais jovens (DUNCAN e NOLING, 1998). Como os
canaviais colhidos em início de safra dispõe de condições hídricas e temperatura adequadas para
brotação, eles inicialmente ganham massa verde e, com e entrada do período seco mantém um
lento crescimento das plantas, às custas das reservas do tolete (CASAGRANDE e VASCONCELOS,
2008). Desta forma, canaviais colhidos em início de safra, embora lentamente, crescem a partir da
colheita, e, quando da entrada do período chuvoso, quando o ataque de nematóides se intensifica,
eles estão mais desenvolvidos e sofrem menores danos devido ao ataque dos parasitos. Esta
talvez seja a razão para não se observar aumentos consistentes de produtividade nos ensaios nos
quais as aplicações de nematicidas foram feitas entre setembro e novembro, de 120 a 180 dias
depois do corte. Um dos poucos experimentos em que se observou aumento de produtividade
devido à aplicação tardia de nematicida em canavial de começo de safra está apresentado na
Figura 12.
Figura 12. Produtividade (t/ha) em cada tratamento (em azul, incremento em relação à testemunha;
F 120ddc, F 150ddc e F 180ddc representam nematicida aplicado aos 120, 150 e 180 dias
depois do corte, respectivamente) (DINARDO-MIRANDA et al., 2010).
6.43.93.1
60
65
70
75
80
Testemunha F 120ddc F 150ddc F 180ddc
Área colhida em 11/05
Pro
du
tivid
ad
e (
t/h
a)
pág. 19
Além da resposta menos consistente da aplicação de nematicidas nos canaviais de
começo de safra, a aplicação tardia também é tarefa difícil de ser executada em campo, pois o
crescimento das plantas dificulta ou, até mesmo impede, a entrada de maquinários no canavial.
O manejo de áreas infestadas por nematóides, quando submetidas à colheita em início de
safra, deve, portanto, ser considerado com cuidado. Em locais de populações altas, pode haver
resposta ao tratamento de soqueira, se ele for feito logo após o corte (5 a 10 dias), mas em muitas
situações a resposta ao nematicida não será significativa. Nestas condições, talvez o mais
interessante seja mudar a época de colheita. Em tais áreas, deveriam ser cultivadas variedades
médias ou tardias que, cortadas em meio ou final de safra (julho a novembro) possibilitariam a
aplicação de nematicidas com obtenção de aumentos significativos de produtividade.
Aplicação de nematicidas em soqueiras colhidas em meio de safra
Vários experimentos foram conduzidos pelo IAC, em áreas colhidas entre julho e setembro,
em pleno período seco, aplicando o nematicida, em média, dos 5 aos 120 dias depois do corte,
mantendo-se parcelas testemunhas, sem nematicida, para comparação. Nestes ensaios, os
maiores incrementos de produtividade foram registrados quando se aplicou o nematicida 60 dias
depois do corte, ou seja, entre setembro e novembro, coincidindo, portanto, com o início do período
chuvoso, como apresentado na Figura 13.
Figura 13. Produtividade agrícola (t/ha) em cada tratamento (em azul, incremento em relação à
testemunha; F 13ddc, F 50ddc, F 85ddc e F 127ddc representam nematicida aplicado aos
13, 50, 85 e 127 dias depois do corte, respectivamente) (DINARDO-MIRANDA et al., 2008).
4,3
9,5 10
16,4
80
85
90
95
100
Testemunha F 5ddc F 20ddc F 40ddc F 60ddc
Área colhida em 08/09
Pro
du
tivid
ad
e (
t/h
a)
pág. 20
Para canaviais colhidos em meio de safra, em pleno período seco, a aplicação de
nematicidas logo após o corte é inadequada devido à falta de raízes para absorver o produto. Sem
raízes para absorvê-lo, o nematicida permanece no solo, sujeito à decomposição biótica e abiótica,
como discutido anteriormente. Assim, na época chuvosa, quando ocorrem emissão de novas raízes
e crescimento das populações de nematóides, a quantidade de nematicida disponível é menor do
que a aplicada, já que parte do produto se decompôs. Por outro lado, ao fazer as aplicações de
nematicida mais tardiamente, aos 120, 90 ou 60 dias depois do corte, elas estão mais próximas ou
até mesmo coincidem com o início do período chuvoso, quando ocorre emissão de novas raízes,
principalmente as superficiais, responsáveis pela absorção. Dessa forma, o produto fica um tempo
menor no solo sujeito à decomposição, sendo aproveitado pela planta em sua quase totalidade.
Isso explica porque nos ensaios conduzidos em áreas colhidas entre a segunda quinzena de junho
e primeira quinzena de setembro, os maiores incrementos de produtividade foram obtidos quando
se aplicou nematicida aos 90 ou aos 60 dias depois do corte.
Aplicação de nematicidas em soqueiras colhidas em final de safra
Em canaviais colhidos a partir de final de outubro, no final do período seco ou em plena
época úmida, os maiores incrementos de produtividade geralmente são observados quando o
nematicida é aplicado logo depois do corte, como pode ser visto na Figura 14, que traz resultados
de um experimento conduzido nestas condições. As aplicações feitas mais tardiamente, aos 40 ou
60 dias depois da colheita do canavial, resultam em menores incrementos de produtividade.
Esta resposta pode ser explicada pelo fato das raízes estarem, por ocasião da colheita, em
pleno desenvolvimento assim como, as populações de nematóides. Aplicações de nematicidas logo
após o corte do canavial reduziriam as populações de nematóides e proporcionariam bom
desenvolvimento das plantas. Por outro lado, aplicações de nematicidas feitas mais tardiamente
resultam em incrementos menores provavelmente porque os nematóides, favorecidos por
condições edafoclimáticas adequadas e raízes abundantes, crescem e causam danos às plantas
por longo período, até que o tratamento seja efetuado. Em canaviais colhidos em época chuvosa,
portanto, aplicações efetuadas logo após a colheita são mais efetivas.
pág. 21
Figura 14. Produtividade agrícola (t/ha) em cada tratamento (em azul, incremento em relação à
testemunha; F 10ddc e F 40ddc representam nematicida aplicado aos 10 e 40 dias depois
do corte, respectivamente) (SILVA et al., 2006).
Os resultados aqui apresentados sobre os efeitos da época de aplicação de nematicidas
em soqueiras são semelhantes aos de trabalhos mais antigos, relacionados à adubação em
soqueiras. Os trabalhos de IDE et al. (1984) e IDE et al. (1986) mostraram que, em canaviais
colhidos na época seca do ano (julho e agosto), as maiores produtividades foram obtidas quando o
adubo foi aplicado em setembro ou outubro, próximo ao início do período chuvoso, à semelhança
do observado nos ensaios com aplicação de nematicida. Para as áreas colhidas em setembro, a
aplicação do adubo em novembro, já em pleno período chuvoso, resultou em menor produtividade,
também em consonância com o observado nos ensaios com nematicida. Neste caso, o atraso na
aplicação do adubo prejudicou o desenvolvimento inicial da soqueira, pois, com o início das
chuvas, as plantas necessitavam dos nutrientes, que ainda não tinham sido fornecidos, para seu
pleno crescimento.
Os dados relativos à adubação ilustram que a preocupação em determinar o melhor
período para realização das operações em soqueira está presente nas várias áreas de manejo. É
importante ressaltar que o período de espera entre o corte do canavial e a aplicação de
nematicidas em soqueiras, a fim de obter o máximo de produtividade, pode e deve ser alterado em
função do regime de chuvas de determinada região ou ano. Em anos ou regiões nos quais as
chuvas são abundantes em setembro, por exemplo, a cana-de-açúcar começa a emitir novas
raízes nessa época e, em conseqüência, a aplicação de nematicida em soqueira de meio de safra
deve ser antecipada, de modo que o nematicida seja aplicado no início do período chuvoso e não
muito tempo depois dele. Da mesma forma, áreas freqüentemente irrigadas, onde a dinâmica do
22,2
9,9
80
90
100
110
120
130
140
Testemunha F 10ddc F 40ddc
Área colhida em 25/10
Pro
du
tivid
ad
e (
t/h
a)
pág. 22
desenvolvimento do sistema radicular é diferente, também devem ser tratadas quando há raízes
vivas, o que pode acontecer imediatamente depois do corte.
Em canaviais colhidos em meio de safra, o desenvolvimento da parte aérea é, desde o
início, bastante lento, em função das baixas umidades no solo e temperaturas mais amenas, porém
também nessas condições, aos 60 ou 90 dias depois do corte (outubro/novembro), plantas de
algumas variedades podem atingir um porte alto o suficiente para dificultar a entrada de
equipamentos para aplicação de nematicida. Neste caso, a aplicação deve ser feita um pouco
antes da época considerada ideal, quando o porte das plantas ainda não limita a entrada de
máquinas e implementos. Assim, as aplicações devem ser feitas o mais tardiamente possível,
desde que não ocorram limitações em decorrência do desenvolvimento da parte aérea.
Vale salientar que, neste conceito, a época considerada ideal para aplicação de
nematicidas é aquela em que a operação resulta no maior incremento de produtividade. Assim,
quando a aplicação for feita fora da época ideal, incrementos de produtividade podem,
eventualmente, ser obtidos, mas, com certeza, serão menores do que aqueles que seriam
observados, caso o nematicida tivesse sido aplicado na época ideal.
Finalmente, para aplicação de nematicidas em soqueiras infestadas por nematóides devem
ser consideradas as condições gerais da área a ser tratada. Áreas com muitas falhas e previsão de
baixa produtividade na colheita seguinte não devem receber nematicidas, pois, o incremento de
produtividade a ser obtido pode não justificar economicamente o investimento realizado.
pág. 23
Referências
ANGHINONI, I.; MEURER, E. J. Eficiência de absorção de nutrientes pelas raízes. In: WORKSHOP
SOBRE SISTEMA RADICULAR: METODOLOGIAS E ESTUDO DE CASOS, 1., 1999,
Aracaju, Anais… p. 57-87.
CASAGRANDE, A.A.; VASCONCELOS, A.C.M. Fisiologia da parte aérea. In: DINARDO-
MIRANDA, L.L.; A.C.M. VASCONCELOS; M.G.A. LANDELL. Cana-de-açúcar. Campinas:
IAC, 2008. p. 57-78.
DINARDO-MIRANDA, L. L.; FRACASSO, J.V.; XAVIER, M.A. Reação de variedades de cana-de-
açúcar a Meloidogyne javanica. In: CONGRESSO NACIONAL DA STAB, 9., 2008, Maceió,
Anais… p. 133-136.
DINARDO-MIRANDA, L. L.; GIL, M. A. Efeito da rotação com Crotalaria juncea na produtividade
da cana-de-açúcar, tratada ou não com nematicidas no plantio. Nematologia Brasileira, v.
29, n. 1, p. 63-66, 2005.
DINARDO-MIRANDA, L. L.; GIL, M. A.; COELHO, A. L.; GARCIA, V.; MENEGATTI, C. C. Efeito da
torta de filtro e de nematicidas sobre as infestações de nematóides e a produtividade da
cana-de-açúcar. Nematologia Brasileira, v. 27, n. 1, p. 61-67, 2003.
DINARDO-MIRANDA, L.L. Nematóides. In: DINARDO-MIRANDA, L.L.; A.C.M. VASCONCELOS;
M.G.A. LANDELL. Cana-de-açúcar. Campinas: IAC, 2008. p. 405-422.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; FRACASSO, J.V. Efeito da torta de momona sobre as populações de
nematóides fitoparasitos e a produtividade da cana-de-açúcar. Nematologia Brasilera, v.34,
n. 1 p. 68-71, 2010.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; FRACASSO, J.V.; COSTA, V.P. Influência da época de aplicação de
nematicidas em soqueiras colhidas em início de safra sobre as populações de nematóides e a
produtividade da cana-de-açúcar. Nematologia Brasilera, 2010 (no prelo).
DINARDO-MIRANDA, L.L.; MORELLI, J.L.; LANDELL, M.G.A.; SILVA, M.A. Comportamento de
genótipos de cana-de-açúcar em relação a Pratylenchus zeae. Nematologia Brasileira, v.20,
n. 2, p. 52-58, 1996.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; PIVETTA, J.P.; FRACASSO, J.V.. Influência da época de nematicidas
em soqueiras sobre as populações de nematóides e a produtividade da cana-de-açúcar.
Bragantia, v.67, n.1, p.179-190, 2008.
pág. 24
DUNCAN, L.W.; NOLING, J.W. Agricultural sustainability and nematode integratyed pest
management. In: BARKER, K.R., PEDERSON, G.A.; WINDHAM, G.L.. Plant and Nematode
Interactions. American Society of Agronomy, Madison, EUA, 1998. p. 251-287.
IDE, B. Y.; OLIVEIRA, M.A.; LOPES, J.R. Cultivo de soqueira em cana-de-açúcar. Boletim
Técnico Copersucar, São Paulo, n. 26, p. 15-21,1984.
IDE, B.Y.; PENATTI, C.P.; SIRIO, K.J.; LESUR, J.G.; ARRUDA, F.C.O.; MANOEL, L.A. Cultivo de
soqueira da cana-de-açúcar: época, idade e sistema. In: SEMINÁRIO DE TECNOLOGIA
AGRONÔMICA, 3, Piracicaba, novembro 1986. Piracicaba: Copersucar, 1986. p. 411-422.
KLEPPER, B. Root-shoot relationships. In: WAISEL, Y; ESHEL, A.; KADAFKI, V. (Eds.) Plant
roots: the hidden half. New York: Marcel Decker, 1991. p. 265-286.
LORDELLO, L.G.E. Nematóides das plantas cultivadas. São Paulo, Nobel. 1981, 314p.
MOURA, R.M.; RÉGIS, E.M.O.; MOURA, A.M. Espécies e raças de Meloidogyne assinaladas em
cana-de-açúcar no Estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Nematologia Brasileira, v. 14, n.
1. p. 33-38, 1990.
NOVARETTI, W. R. T.; NELLI, E. J. Use of nematicide and filtercake for control of nematodes
attacking sugarcane in São Paulo State. Nematologia Brasileira, v. 9, n. 2, p. 175-184, 1985.
ROSA, R. C. T.; MOURA, R. M.; PEDROSA, E. M. R. Efeitos do uso de Crotalaria juncea e
carbofuran observados na colheita de cana planta. Nematologia Brasileira, v. 27, n. 2, p.
167-171, 2003.
SILVA, M.A.; PINCELLI, R.P.; DINARDO-MIRANDA, L.L. Efeito da Aplicação de Nematicidas em
Soqueira de Cana-de-açúcar, em Diferentes Épocas, Sobre a População de Pratylenchus
zeae e Atributos Biométricos e Tecnológicos da Cultura. Nematologia Brasileira, Brasília, v.
30, n.1, p.29-34, 2006.
VASCONCELOS, A.C. Desenvolvimento do sistema radicular e da parte aérea de socas de
cana-de-açúcar sob dois sistemas de colheita: crua mecanizada e queimada manual.
2002. 141p. Tese de doutoramento. FCAV/UNESP, Jaboticabal.
VASCONCELOS, A.C.M.; DINARDO-MIRANDA, L.L. Dinâmica do desenvolvimento radicular da
cana-de-açúcar e implicações no controle de nematóides. Americana, Adônis. 2006, 54p.
pág. 25
PRAGAS EM CANA-DE-AÇÚCAR
Leila Luci Dinardo-Miranda
Centro de Cana-de-açúcar – Instituto Agronômico (IAC)
1. BROCA DA CANA-DE-AÇÚCAR, Diatraea sacharalis
A broca da cana D. saccharalis é uma das pragas da cana-de-açúcar mais conhecida,
tanto pelos danos que causa quanto pela sua dispersão: é encontrada em praticamente todos os
canaviais da América.
É um inseto de desenvolvimento homometabólico, ou seja, passa pelas fases de ovo, larva,
pupa e adulto. O adulto é uma mariposa com as asas anteriores de coloração amarelo-palha com
manchas mais escuras, lembrando dois “Vs” invertidos quando fechadas. As asas posteriores são
esbranquiçadas. A envergadura das asas mede cerca de 25mm. As fêmeas são ligeiramente
maiores, de abdome volumoso e asas menos pigmentadas do que o macho (Figura 1). Após
acasalamento, a fêmea faz postura nas folhas ainda verdes da cana, na face superior, ou de
preferência, na inferior e, algumas vezes, nas bainhas. O número de ovos em cada postura é
variável de 5 a 50, em média 12., sendo a postura imbricada, assemelhando-se a um segmento de
couro de cobra ou escama de peixe (Figura 1). Cada fêmea pode colocar de 200 a 500 ovos. A
eclosão da-se de 4 a 9 dias, em média, variando com a temperatura, principalmente. As larvas
recém-nascidas alimentam-se, inicialmente, do parênquima das folhas ou da casca do entrenó em
formação, e migram para a região do cartucho à procura de abrigo, permanecendo ali por 1 a 2
semanas. Nesse período, o inseto passa por 1 ou 2 ecdises e inicia a perfuração da casca do
colmo. Geralmente, essa perfuração ocorre próxima à base do entrenó, região mais mole, e o
inseto prossegue fazendo galeria no sentido ascendente na região do palmito da planta. Em alguns
casos, a lagarta se alimenta, abrindo galeria de forma circular, enfraquecendo o entrenó, que pode
se quebrar facilmente por ação do vento. Quando o ataque se dá próximo à região de crescimento,
ocorre morte da gema apical e amarelecimento das folhas mais novas, conhecido como “coração
morto”. Dentro do colmo, o inseto passa por número variável de ecdises: geralmente mais quatro.
A lagarta é de coloração branco-leitosa, com pequenas manchas de coloração castanha em todo
corpo, cápsula cefálica marrom escura, três pares de pernas torácicas, quatro pares de falsas
pernas abdominais e um par de pernas anis. Quando completamente desenvolvida, mede cerca de
25mm (Figura 1). A fase larval dura cerca de 70 dias, podendo ser maior ou menor em função das
pág. 26
condições ambientais. Próximo à pupação, a lagarta abre um orifício na casca e o fecha
parcialmente com fios de seda e restos de sua alimentação. Assim protegida, passa para a fase de
pupa, conhecida como crisálida (Figura 1). A pupa é livre, inicialmente marrom clara, escurecendo
a medida que se aproxima do estágio adulto. A fase pupal dura cerca de 10 dias (Terán, 1983;
Botelho e Macedo, 2002; Gallo et al, 2002).
Fatores ambientais bióticos e abióticos exercem grande influência sobre as populações da
broca. Entre os fatores bióticos destacam-se os inimigos naturais nativos, que atuam sobre todos
os estágios biológicos da broca e pertencem a diversos grupos taxonômicos. Há um consenso
entre os pesquisadores de que a participação mais efetiva se dá sobre a fase de ovos, na qual
predadores, parasitóides e patógenos, de acordo com Téran (1980) chegam a reduzir em 80% a
população da praga.
A lagarta também está sujeita à ação de inimigos naturais, que agem principalmente até a
penetração dela no colmo. Nessa fase, em condições não perturbadas dos canaviais paulistas, o
controle está entre 15 a 20%, sendo causado principalmente pelas moscas Paratheresia claripalpis,
Lydella minense e pela vespa Cotesia flavipes (Téran, et al., 1983).
Figura 1. Adultos (fêmea, abaixo; macho acima), postura, larva e pupas de D. saccharalis. (Fotos
cedidas pela Biocontrol).
pág. 27
Outro fator ambiental que influi nas populações da broca em cana, especialmente por afetar
sua capacidade reprodutiva, é o cultivo de outros hospedeiros em áreas vizinhas aos canaviais.
Embora muitas plantas, especialmente gramíneas (Poaceae), sejam registradas como hospedeiras
de D. saccharalis, a praga estabelece-se e multiplica-se muito bem em arroz, trigo, sorgo e milho.
O milho é um ótimo hospedeiro da broca talvez por ter sido seu principal hospedeiro nativo antes
da chegada da cana às Américas. Segundo Téran (1980), o sucesso do milho em aumentar as
populações da broca poderia ser atribuído a sua maior atratividade para os adultos da praga e a
menor eficiência do controle biológico natural nessa cultura. Assim, o plantio de milho em áreas
vizinhas aos canaviais geralmente promove incrementos populacionais da broca na cana.
A variedade cultivada também interfere nas populações da broca, já que existem diferenças
marcantes entre elas quanto à suscetibilidade à praga.
Embora, de uma maneira geral, a cana-de-açúcar seja atacada durante todo o seu
desenvolvimento, o ataque é menor quando as plantas ainda são pequenas, sem entrenós
formados, e, normalmente, cana planta é mais atacada do que as socas em conseqüência,
provavelmente, de seu maior vigor vegetativo e pelo maior tempo de sua exposição à praga.
Os fatores climáticos, especialmente temperatura e chuva, também são causa direta e
indireta das flutuações populacionais da broca, interferindo na duração do ciclo biológico e na sua
capacidade reprodutiva e exercendo pressões sobre os inimigos naturais e sobre a própria cultura
hospedeira, a cana-de-açúcar.
Nas condições do estado de São Paulo, em cana de ano e meio (plantada entre janeiro e
abril), a ocorrência de lagartas da broca é mais freqüente no início da primavera
(setembro/outubro), atingindo o pico populacional nos meses seguintes, em pleno verão. Em cana
de ano, plantada em setembro/outubro, os problemas se acentuam no início do ano seguinte. Em
variedades muito suscetíveis, regiões ou anos de condições muito propícias à broca, o ataque é
quase constante ao longo do ano, com ligeira queda no inverno e aumento populacional nos
períodos quentes e úmidos. Em soqueiras, geralmente, o ataque pode se concentrar nos meses
quentes e úmidos (Botelho e Macedo, 2002)
Os danos são causados pelas larvas ou lagartas, que se alimentam no interior dos colmos
e provocam redução do peso dos colmos, morte da gema apical da planta, encurtamento de
entrenó, quebra de colmos, enraizamento aéreo e brotação de gemas laterais, nos casos mais
graves.
Em decorrência dos orifícios abertos, há invasão de microorganismos nos colmos,
causando a podridão vermelha, que pode abranger toda a região entre as diversas galerias. Os
pág. 28
agentes mais comuns da poderidão vermelha são os fungos Colletotricum falcatum e Fusarium
moniliforme, que provocam perdas de sacarose pelo consumo desta e pela sua inversão.
Os orifícios abertos pela broca também são porta de entrada de pragas secundárias,
especialmente Metamasius hemipterus.
Há prejuízos, ainda, nos processos industriais, tanto pela dificuldade em cristalizar o
açúcar, em conseqüência do desdobramento da sacarose, quanto pela redução da eficiência na
fermentação alcoólica, devido à contaminação do caldo pelos microorganismos.
Estudos desenvolvidos por Almeida et al. (1997) revelaram que a cada 1% de intensidade
de infestação da broca corresponde a reduções de 0,25% de açúcar, 0,20% de álcool e 0,77% de
produção de colmos. Estudos mais recentes mostraram, entretanto, que as perdas podem ser
muito mais significativas, chegando a 0,49% de açúcar, 0,28% de álcool e 1,50% de produção dos
colmos, a cada 1% de intensidade de infestação (Arrigoni, 2002).
Como os dados na literatura eram já bastante antigos, DINARDO-MIRANDA et al (2012)
desenvolveram um trabalho semelhante no IAC, para quantificar a interferência do ataque da broca
nos parâmetros tecnológicos de colmos de novas cultivares. O ensaio foi conduzido no Centro de
Cana IAC em Ribeirão Preto.-SP, utilizando as cultivares IACSP95-5000 (cana planta e cana soca,
com respectivamente 14 e 10 meses de idade), IACSP93-3046 (cana planta com 14 meses de
idade) e IAC91-1099 (cana planta com 15 meses de idade) e os dados completos podem ser vistos
em DINARDO-MIRANDA et al (2012). Neste trabalho, para cada cultivar, foram feitas análises
tecnológicas de acordo com a metodologia para Pagamento de Cana pelo Teor de Sacarose,
PCTS, descrita por FERNANDES (2001), em feixes com 10 colmos, agrupados de maneira a resultar
em intensidades de infestação de 0, 3, 6, 9, 12 e 15 % de entrenós brocados, que se constituíram
nos tratamentos. Confirmando o observado em trabalhos anteriores, também neste maiores
ataques de broca resultaram em aumento nos teores de fibra e de açúcares redutores, e redução
nos teores de pol na cana e na pureza. Na média, a curva que representa a relação entre pol na
cana (y) e intensidade de infestação (x, % de entrenós brocados) é dada por y = 16,591 – 0,0672x,
cujo coeficiente de determinação (r2) foi 0,92, (Figura 2).
pág. 29
Figura 3. Relação entre PCC (y, pol%cana) e a intensidade de infestação (x, % de entrenós
brocados) (Fonte: DINARDO-MIRANDA et al., 2012).
Manejo integrado da broca
A filosofia dos programas de manejo integrado é reduzir os prejuízos econômicos
ocasionados pela praga, causando impactos ambientais mínimos ou, preferencialmente, nulos.
Dessa forma, tais programas, em geral, preconizam a adoção de vários recursos ou métodos de
controle, uma vez que, para cada situação ambiental um será o mais adequado. Para o caso da
broca da cana, o manejo está baseado no uso de inimigos naturais, especialmente da vespinha
Cotesia flavipes, e é um dos exemplos mundiais de eficiência de controle biológico, em larga
escala. Porém, nos últimos anos, dada a crescente expansão da cultura, exigindo grandes
quantidades do parasitóide, nem sempre disponível, e devido a outros fatores, as populações
estão se elevando e, muitas unidades, estão utilizando controle químico.
Outras medidas, tais como o uso de variedades resistentes, têm aplicabilidade restrita.
Embora existam diferenças marcantes entre as variedades quanto à suscetibilidade à broca e
embora a maioria dos programas de melhoramento genético da cana no Brasil (IAC, CTC e
Ridesa) procure informar o comportamento de variedades liberadas para plantio em relação à
praga, não se faz, em áreas comerciais, locação de variedades baseada exclusivamente no
comportamento delas em relação à broca; outros fatores, como ambiente de produção, época de
colheita, mostram-se mais importantes para a locação de variedades. É certo, entretanto, que
variedades muito suscetíveis podem ter a expansão de seu cultivo comprometido em decorrência
de seu comportamento em relação à broca. De uma maneira geral, o conhecimento da
suscetibilidade da variedade em relação à broca é importante para outras etapas do programa de
manejo, tais como direcionamento de levantamentos populacionais.
y = 16.591 - 0.0672x
R2 = 0.9196
15.4
15.6
15.8
16
16.2
16.4
16.6
16.8
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Intensidade de infestação (% de entrenós brocados)
PC
C (
po
l%can
a)
Média das três variedades
pág. 30
Levantamentos populacionais
Devido à grande extensão das áreas cultivadas com cana-de-açúcar, são observadas em
campo muitas variações a respeito de variedades, condições edafoclimáticas, tratos culturais e
outros fatores que interferem significativamente no nível populacional da broca. Por causa disso,
tanto para emprego do controle biológico como de controle químico, são necessários
levantamentos populacionais, para indicar os locais, épocas e medidas de controle mais
adequadas para reduzir as populações da praga.
O método usado no levantamento populacional depende da medida de controle que se
deseja empregar. Independentemente do método de amostragem a ser adotado, a amostragem em
si deve ser feita de forma cuidadosa, pois as populações de broca, assim como da imensa maioria
de insetos, não tem distribuição homogênea na lavoura; elas ocorrem geralmente de forma
contagiosa (em reboleiras), como pode ser visto na Figura 4, que ilustra a distribuição de forma
contagiosa (reboleiras) de lagartas de D. saccharalis em canaviais (DINARDO-MIRANDA et al. 2012).
Quando se pretende utilizar o controle biológico, liberando C. flavipes, a amostragem deve
visar as populações de broca que já penetraram nos colmos e que tem mais de 1,5 cm de
comprimento, pois são estas lagartas o alvo da vespinha.
Como o sucesso do controle biológico depende da estimativa das populações ocorrentes da
praga, os levantamentos populacionais são imprescindíveis. Assim, esses levantamentos visam
essencialmente assinalar o local e a época apropriados para melhor utilização dos parasitóides a
serem liberados, ou seja, identificar os talhões com maiores infestações da broca, onde as
vespinhas liberadas poderão se multiplicar vantajosamente, beneficiando inclusive os talhões
vizinhos. Além disso, os levantamentos estimam as populações ocorrentes da praga, informação
necessária para estabelecer a quantidade de parasitóides a ser liberada nos talhões.
O IAC recomenda que as amostragens sejam feitas em 6 pontos por ha, sendo cada ponto
representado por 2 m, nos quais todos os colmos são despalhados e aqueles que tiverem entrenós
furados, são rachados para coleta de todas as formas biológicas da broca (brocas pequenas,
médias, grandes e crisálidas) e do parasitóide. Tais dados, registrados em tabelas apropriadas,
são utilizados para estimar a população da praga por ha (Dinardo-Miranda et al., 2011).
Para fazer 6 pontos de amostragem por ha, em um talhão com espaçamento de 1,5 m, o
caminhamento é aquele apresentado na Figura 5, onde a estrelinha representa o ponto de
amostragem.
pág. 31
Figura 4. Mapas da distribuição espacial de lagartas em quatro canaviais (Fonte: DINARDO-
MIRANDA et al., 2012).
pág. 32
16ª
linha
20 passos
15 m
Soca de cana cruaSoca de cana crua
40 passos
30 m
40 passos
30 m
33 linhas
33 linhas
Espaçamento = 1,5m
6 pontos/ha
40 passos
30 m
Figura 5. Esquema recomendado pelo IAC para caminhamento em canavial de 1,50m de
espaçamento entre sulcos, para amostragem de lagartas de broca e de cigarrinha.
Geralmente, as amostragens devem ser iniciadas pelas áreas de cana planta, de
variedades mais suscetíveis, irrigadas ou fertirrigadas e viveiro de mudas, em regiões com histórico
de altas infestações. Como a área com potencial para ser amostrada em uma usina é muito
grande, é importante que ela tenha um banco de dados bem estabelecido e um software de
gerenciamento para facilitar a seleção das áreas a serem amostradas a cada dia.
Quando é preciso lançar mão de inseticidas, o método de amostragem é diferente pois os
alvos dos inseticidas são as lagartinhas que ainda não entraram nos colmos. Assim, devem ser
vistoriados 125 colmos por talhão. Estes colmos devem ser coletados em diferentes pontos do
talhão, de maneira a representar todo o talhão. Dos colmos, deve-se desprezar as folhas secas e
retirar cuidadosamente as folhas verdes, olhando com atenção para localizar lagartas pequenas,
nas folhas, nas bainhas e nos colmos (palmito). Colmos infestados, ou seja, com lagartas
pequenas em seu exterior, devem ser marcados em ficha apropriada.
Liberações de parasitóides
Atualmente, na região Centro-Sul do país, o parasitóide utilizado no controle biológico da
broca é a vespinha C. flavipes, um endoparasitóide larval gregário, originário da Ásia e Austrália e
introduzido no Brasil em 1971 pela antiga Copersucar e pela Esalq. Algumas usinas e destilarias
pág. 33
possuem insetários para produção do parasitóide, mas há também laboratórios particulares que o
produzem e comercializam.
De uma maneira geral, recomenda-se a liberação de C. flavipes em número proporcional à
população da praga. Essa recomendação varia ligeiramente entre os pesquisadores, assessores,
laboratórios fornecedores e entre usuários (usinas e destilarias), mas em geral, estão ao redor dos
valores apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. População estimada de broca (1,5cm ou mais) e número de indivíduos de C. flavipes a
serem liberados (Almeida et al., 1997).
População estimada de broca
(número/ha)
Indivíduos de C. flavipes a serem
liberados
Até 3.000 6.000 vespas/ha
3.000 a 10.000 2 vespas/broca
10.000 a 15000 3 vespas/broca
Mais de 15.000 4 vespas/broca
Os parasitóides geralmente são acondicionados em grupos de 1.500, em copos plásticos
ou de papel. Por se tratar de material vivo, certos cuidados são imprescindíveis para o sucesso do
programa, entre eles, proceder à liberação nas horas mais frescas do dia, ou seja, pela manhã ou
no final da tarde, evitando a exposição dos copos aos raios solares e ambientes de temperatura
elevada. O material estará pronto para liberação quando os casulos estiverem 70% emergidos
dentro dos copos.
Como trabalhos conduzidos pelo IAC revelaram que o alcance médio de voo da C. flavipes
está ao redor de 15 m, para aumentar as taxas de parasitismo o IAC recomenda que as liberações
sejam feitas em pontos distantes entre si de não mais que 30 m, uma vez que a dispersão pode
ocorrer em raio de somente 15 m. Desta forma, os parasitóides seriam liberados em pelo menos 9
pontos por hectare.
A liberação deve ser feita de modo a cobrir toda a área problema, passando em seguida
para as demais áreas.
Canaviais em maturação não devem receber liberações, pois nessa fase já não há mais
tempo para evitar os danos.
pág. 34
Avaliação do parasitismo de C. flavipes
Para avaliar o desempenho do parasitóide, devem ser novos levantamentos populacionais
cerca de 10 a 15 dias depois das liberações. Com os dados tabulados, calcula-se a porcentagem
de parasitismo na área, dada pela fórmula:
%parasitismo = [total de parasitóides/(total de parasitóides + total da praga)] x 100
Recomendam-se novas liberações quando o parasitismo for inferior a 20%.
Convém ressaltar que, para cálculo do parasitismo, as formas biológicas coletadas em
campo devem ser levadas ao laboratório para o completo desenvolvimento, visto que, em algumas
lagartas da praga, recém parasitadas em campo, as “massinhas” do parasitóide serão recuperadas
no laboratório somente após alguns dias de desenvolvimento.
A eficiência do controle biológico da broca
As liberações massais de inimigos naturais ao longo dos anos permitiram a redução
significativa das populações da broca e, consequentemente de seus danos, expressos em
intensidade de infestação. Um dos exemplos é frequentemente citado pela Copersucar, e ilustra
claramente a queda nos índices de infestação final (II%) em função do crescimento e da
continuidade de liberação de parasitóides (Figura 6, Arrigoni, 2002).
Figura 6. Parasitóides liberados pelas usinas cooperadas da Copersucar e índices de infestação final (II%) obtidos, de 1980 a 2001 (extraído de Arrigoni, 2002)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00. 01.
0
2
4
6
8
10
12
Liberações
(milhões de insetos ou de massas)
Ano
( I.I.%)
pág. 35
Controle químico
Embora o controle biológico da broca seja muito eficiente, nos últimos anos tem aumentado
as áreas com altas populações da praga. Este aumento da população é resultante de vários fatores
como uso de variedades mais suscetíveis, colheita de cana crua, etc. Em função disso, algumas
unidades precisam aplicar inseticidas em áreas muito infestadas, como uma medida auxiliar no
manejo da broca.
A maioria dos inseticidas controla as lagartas que ainda não entraram no colmo. Por isso,
as amostragens devem focar este estágio da praga. Como mencionado em item anterior, são
vistoriados 125 colmos por talhão, e, se mais de 3 a 5 % deles estiverem com broquinhas no
palmito + folhas, os inseticidas podem ser aplicados.
Deve-se dar preferência para os produtos fisiológicos, pois tem menor impacto ambiental
A recomendação do IAC é que o manejo de broca seja feito de forma integrada
(biológico+químico) nas áreas de infestação muito alta, com histórico de altas populações, que nos
anos anteriores tenham apresentado altos índices de infestação final (ver amostragem para
infestação final adiante). Nestas áreas, no início do período mais adequado para crescimento
populacional da broca, ou seja, no início do período chuvoso, devem ser feitos os primeiros
levantamento para verificar as populações de broca. É interessante fazer os dois tipos de
levantamentos: tanto para detectar a ocorrência de colmos infestados por broquinhas nas folhas e
palmito (alvos dos inseticidas), quanto para estimar as populações de broca no interior dos colmos
(alvos da C. flavipes). Ocorrendo mais de 3 a 5 % de colmos infestados externamente, deve-se
fazer a aplicação de inseticida. Dependendo do inseticida utilizado, deve-se esperar alguns dias e
fazer liberações de C. flavipes.
pág. 36
Avaliação da infestação final da broca (levantamentos de infestação)
Os levantamentos de infestação final permitem estimar os danos e as perdas causados
pela broca e, por revelarem a infestação da praga em cada área, fornecem subsídios para a
escolha dos locais prioritários para controle, ou seja, daqueles por onde as amostragens
populacionais e liberações devem ser iniciadas.
Os primeiros levantamentos também equivalem a um diagnóstico inicial dos canaviais,
permitindo futuras comparações com os dados dos anos seguintes para avaliar os resultados do
programa de manejo.
As estimativas da intensidade de infestação final são realizadas durante a safra, antes,
durante ou depois do corte do canavial. Em áreas de colheita mecanizada, as amostragens são
feitas na frente de corte, pouco antes da colheita dos colmos pela máquina. Para que a
amostragem seja representativa, com amostras coletadas em vários locais do canavial, os
amostradores geralmente acompanham a máquina, coletando colmos ainda não cortados, em
vários pontos do talhão, a medida que a colheita avança. Em áreas de colheita manual, a
amostragem é feita geralmente após o corte, coletando-se colmos nos montes. Outra opção é
amostrar os colmos inteiros ou pedaços de colmos nos caminhões, quando estes chegam à
balança (plataforma).
Os métodos de levantamentos empregados pelas empresas variam ligeiramente entre si,
mas, basicamente constam da coleta ao acaso de 20 colmos ha-1 (ALMEIDA, 2005) ou 125 colmos
por talhão homogêneo (mesma variedade, idade, corte, tipo de solo) com até 20 ha. Nesse caso,
os colmos são coletados em 5 pontos do talhão (25 colmos/ponto), e em cada ponto, coletam-se 5
subamostras de 5 colmos cada, estando separadas entre si por 5 m (BOTELHO e MACEDO, 2002).
Quando a amostragem é feita no pátio (plataforma), colmos inteiors ou toltes devem ser
retirados ao caso do caminhão, amostrando o correspondente a 20 colmos ha-1 ou 125 colmos por
talhão.
Em qualquer situação, os colmos amostrados devem ser abertos ao meio,
longitudinalmente, e examinados. Em cada um, devem ser contados os entrenós totais e aqueles
com sintoma de ataque do complexo broca-podridão. Os dados assim observados são anotados
em fichas apropriadas e utilizados no cálculo do índice de infestação final (II% = (número de
entrenós brocados/número total de entrenós) x 100), para cada talhão.
Os resultados obtidos em determinada safra permitem a confecção de mapas de II.
pág. 37
Referências
ALMEIDA, L.C.; ARRIGONI, E.B.; RODRIGUES FILHO, J.P. Modelo de análise econômica para
avaliação do controle biológico da broca da cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis. In:
Seminário Copersucar de Tecnologia Agronômica, 7., 1997. Piracicaba. Anais...
Piracicaba: Copersucar, 1997. p.95-104.
ARRIGONI, E.B. Broca da cana: importância econômica e situação atual. In: ARRIGONI, E.B;
DINARDO-MIRANDA, L.L.; ROSSETTO, R. Pragas da cana-de-açúcar: importância
econômica e enfoques atuais. Piracicaba, 2002 (CD).
BOTELHO, P.S.M.; MACEDO, N. Cotesia flavipes para o controle de Diatraea saccharalis. In:
PARRA, J.R.; BOTELHO, P.S.M.; CORREA-FERREIRA, B.S.; BENTO, J.M. (EDS.). Controle
biológico no Brasil: parasitóides e predadores. São Paulo, Manole, 2002. p.409-425.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; FRACASSO, J.V.; PERECIN, D. Variabilidade espacial de populações
de Diatraea saccharalis em canaviais e sugestão de método de amostragem. Bragantia, v.
70, n.3, p.577-585, 2011.
GALLO, D. NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R.P.L.; BATISTA, G.C.; BERTI
FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCHI, R.A.; ALVES, S.B.; VENDRAMIN, J.D. Manual de
Entomologia Agrícola. São Paulo, Ceres, 1988. 649p.
MACEDO, N.; BOTELHO, P.S.M. Controle integrado da broca da cana-de-açúcar Diatraea
saccharalis (Fabr., 1794) (Lepidóptera, Pyralidae). Brasil açucareiro, v.106, p.2-14. 1988.
TERAN, F.O. Fatores que afetam o manejo integrado de Diatraea saccharalis (Fabr., 1794)
(Lepdoptera: Pyralidae) em cana-de-açúcar. 1983. f. Dissertação (Mestrado em
entomologia) – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo,
Piracicaba, 1983.
TERAN, F.O. Natural controlo of Diatraea saccharalis (F., 1794) eggs in sugarcane fields of São
Paulo. In: Congress of ISSCT, 2. 1980. Filipinas. Proceedings… Filipinas: ISSCT, 1980.
p.1704-1714.
TERAN, F.O. Densidade larval de Diatraea saccharalis (Fabr., 1794) e seu controle natural em
milho. In: Congresso Brasileiro de Entomologia, 6. 1980. Campinas.
Resumos...Campinas:SEB, 1980. p. 323-324.
TERAN, F.O. Estudos sobre amostragens populacionais de formas imaturas de Diatraea
saccharalis. Boletim Técnico Copersucar, v.41, p.31-36, 1988.
pág. 38
pág. 39
Lagartas aptas/ha = [b / (número de pontos x 2)] x 6666 = ___________
Parasitismo = [c / (a+b+c+d)] x 100 = _____________________________
Total ! (a)! (b)! (c) ! (d)
pág. 40
pág. 41
2. CIGARRINHA-DAS-RAÍZES, Mahanarva spp
Desde que as áreas de colheita de cana sem queima prévia (cana crua) foram expandidas,
no Estado de São Paulo, uma praga até então de pouca importância econômica vem causando
sérios danos, tornando-se um problema de relevância para a cultura: a cigarrinha das raízes,
Mahanarva spp. Esta praga está disseminada também em lavouras de cana de Minas Gerais, Rio
de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina, Paraná, Amazonas, Rio Grande do Norte, Maranhão,
Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Mato Grosso do Sul e Goiás (Guagliumi, 1973;
Mendonça et al., 1996). Pelo mesno três espécies atacam a cana-de-açúcar: uma espécie ainda
não identificada (Mahanarva sp.), que é mais comum d etodas, encontrada em quase 75 % dos
canaviais, M. spectabilis e Mahanarva fimbriolata, que é bastante rara.
Os adultos apresentam aproximadamente 13mm de comprimento por 6,5mm de largura.
Os machos são avermelhados, com asas orladas de castanho escuro e com uma faixa longitudinal
da mesma cor. As fêmeas normalmente são mais escuras, marrons avermelhadas, com faixas das
asas quase pretas (Figura 1). Têm hábitos crepusculares. São voadores de pouco alcance, mas
muito ativos. Após acasalamento, as fêmeas ovipositam na palhada e, principalmente, na
subsuperfície do solo, em reentrâncias próximas à base das touceiras. Os adultos vivem cerca de
15 a 20 dias e uma fêmea põe entre 50 e 60 ovos. Os ovos, no período seco, ficam em diapausa,
com emergência das ninfas somente no início do período úmido, que para região Centro-Sul do
país corresponde à primavera/verão. Em condições de temperatura e umidade elevadas, as ninfas
emergem dos ovos cerca de 15 a 20 dias após a postura, dirigem-se às raízes, de onde sugam
grande volume de seiva. Passam por cinco ecdises, num período de 30 a 45 dias, e estão sempre
envolvidas por uma espuma densa, bastante característica, cuja função principal é proteger as
ninfas da dissecação (Figura 2). Em condições de umidade e temperatura elevadas, o ciclo
evolutivo completo é de 45 a 60 dias (Guagliumi, 1973). O nome vulgar, cigarrinha das raízes, está,
portanto, relacionado ao local de alimentação e desenvolvimento das ninfas, as raízes.
Os fatores climáticos têm grande influência na dinâmica populacional destes insetos.
Ambientes quentes e úmidos favorecem significativamente o desenvolvimento da cigarrinha, razão
pela qual o incremento das áreas de colheita mecanizada de cana crua, no Estado de São Paulo,
contribuiu para aumentos significativos das populações desta praga. As condições proporcionadas
pela abundante cobertura vegetal deixada no solo são bastante favoráveis às cigarrinha. Além
disso, a despalha de cana a fogo, antes da colheita, contribuía para uma destruição significativa de
todas as formas biológicas da praga, especialmente, dos ovos em diapausa (Dinardo-Miranda,
1999).
Visto que as ninfas começam a emergir dos ovos diapáusicos logo após as primeiras
chuvas da primavera, na região Centro-Sul o ciclo vital de M. fimbriolata inicia-se em
pág. 42
setembro/outubro, com as populações atingindo o ápice em dezembro/janeiro e reduzindo-se
significativamente em períodos de estresse hídrico, comuns na região em janeiro/fevereiro e em
abril, com o final das chuvas e início do inverno.
Figura 1. Adultos de Mahanarva spp.
Figura 2. Espuma característica do ataque de ninfas de cigarrinha-das-raízes
Os danos à cana-de-açúcar são causados tanto pelas formas jovens da cigarrinha das
raízes, que extraem grande quantidade de água e nutrientes das raízes quanto pelos adultos, que
se alimentam nas folhas. As ninfas, ao sugarem as radicelas, atingem os vasos do xilema, onde
injetam secreção salivar e de onde retiram seiva bruta, contendo sais inorgânicos de nutrientes
pág. 43
extraídos do solo, vários aminoácidos e açúcares. Os adultos, ao sugarem a seiva das folhas,
injetam saliva nos estomas, local onde são armazenadas a água e as substâncias que se
transformarão em nutrientes para a planta, durante a fotossíntese. A saliva liberada, tanto pelas
ninfas como pelos adultos, é rica em enzimas e aminoácidos e auxiliam o inseto no processo de
ingestão do alimento. No entanto, são tóxicas para a planta, causando necrose nos tecidos foliares
e radiculares (Fewkes, 1969).
Em conseqüência do ataque dos adultos e das ninfas, o processo de fotossíntese é
reduzido e, como não ocorre a formação de açúcares nas folhas, não há acúmulo nos colmos e
eles se tornam menores, mais finos e com entrenós mais curtos. Sob infestações severas, os
colmos apresentam-se desnutridos e desidratados, secando do topo para a base, as folhas se
tornam de início amareladas e posteriormente secas, e toda a planta pode a atingir a morte. O
canavial fica completamente seco, com aspecto queimado. Estes sintomas podem ser notados
mesmo na época das chuvas, embora sejam mais evidentes no período seco subseqüente (Figura
3).
Figura 3. Aspecto de um canavial atacado por cigarrinha-das-raízes
As quebras de produtividade podem chegar a 40-50%, em culturas colhidas em final de
safra. Em culturas colhidas em começo de safra, as quebras são menores, embora muitas vezes,
as populações encontradas nessas áreas sejam mais elevadas que nas demais. Isso revela que a
cultura colhida no início de safra suporta melhor o ataque da praga, provavelmente porque as
plantas estão mais desenvolvidas, com vários entrenós. Além disso, esta cultura passa por um
curto período de estresse hídrico, entre o final da época de ocorrência da cigarrinha e a colheita.
Os campos colhidos no final da safra sofrem o ataque quando suas plantas estão ainda pouco
desenvolvidas e, após ele, o longo período de estresse hídrico até a colheita não favorece a
pág. 44
recuperação das plantas, fazendo com que os danos provocados pelas cigarrinha sejam
acentuados nestas condições (Dinardo-Miranda et al., 2001a).
Visto que o ataque da cigarrinha resulta em colmos menores, mais finos e secos, chegando
muitas vezes à morte, ocorrem também alterações na qualidade da cana-de-açúcar, geralmente
com redução nos valores de pol e aumento nos de fibra, como visto em Dinardo-Miranda et al.
(2000a). Além disso, há prejuízos nos processos industriais. Embora difícil de mensurar, a
grandeza desse tipo de dano é sentida na indústria, sempre que material proveniente de canavial
severamente atacado entra para moagem e extração de açúcar Os colmos mortos e secos, em
decorrência do ataque da praga, diminuem a capacidade de moagem e, como muitas vezes, estão
rachados e deteriorados, os contaminantes dificultam a recuperação de açúcar e inibem a
fermentação, reduzindo portanto os rendimentos industriais e dificultando a obtenção de açúcar de
qualidade.
Manejo integrado da cigarrinha
Devido à grande extensão das áreas cultivadas com cana-de-açúcar, são observadas em
campo muitas variações a respeito de condições edafoclimáticas, tratos culturais, variedades, nível
populacional da praga, etc., fatores que interferem na eficiência de medidas de controle. Desta
forma, o manejo de áreas com problemas de cigarrinha, para ser bem sucedido, deverá englobar
todas as ferramentas disponíveis, pois, para cada situação, uma delas se mostrará mais adequada.
Dificilmente, uma única ferramenta de manejo será eficiente em todas as condições de cultivo da
cana-de-açúcar. Assim, é apresentado a seguir um programa de manejo de cigarrinha das raízes
em cana-de-açúcar, extraído de Dinardo-Miranda (2003).
Uso de variedades resistentes
Do ponto de vista econômico e ambiental, o método mais adequado para reduzir os danos
causados pela cigarrinha, assim como por qualquer outra praga ou patógeno, é o uso de
variedades resistentes. No entanto, dados experimentais e de áreas comerciais mostram que
quase a totalidade das variedades cultivadas comercialmente é atacada pela praga, sofrendo
significativas reduções na produtividade e na qualidade tecnológica. o que torna o uso de
variedades resistentes uma ferramenta de difícil utilização, atualmente, num programa de manejo
da cigarrinha, simplesmente pela falta de material comercial com essa característica.
I IAC tem um programa de avaliação da resistência de seus novos genótipos à cigarrinha.
Há material promissor, com certo grau de resistência tipo antibiose e tolerância. No futuro estes
genótipos poderão ser ferramentas valiosas no manejo integrado da praga.
pág. 45
Levantamentos populacionais
Como todo canavial é um alvo potencial da praga, por se constituir de material suscetível a
ela, resta aos produtores identificar onde, quando e como fazer o manejo da cigarrinha, a fim de
minimizar os prejuízos. Para isso são necessários levantamentos populacionais da praga, a base
para qualquer programa de manejo bem sucedido. Como as ninfas começam a eclodir dos ovos
em diapausa, cerca de 15 a 20 dias após as primeiras chuvas da primavera, os levantamentos
populacionais devem ser iniciados nessa ocasião, quando as primeiras ninfas são observadas em
campo. Embora quase todas as variedades sejam atacadas pela cigarrinha, deve-se começar os
levantamentos por áreas cultivadas com aquelas citadas anteriormente, reconhecidamente
algumas das mais suscetíveis. Devem ser amostrados 6 pontos por ha, sendo cada ponto
constituído por 2m de sulco. Em cada ponto, deve-se contar os adultos nas folhas e cartuchos das
plantas e em seguida, afastar com cuidado a palha entre os colmos, dispondo-a na entrelinha, a fim
de que os pontos de espuma possam ser visualizados. Depois disso, conta-se as ninfas e adultos
nas raízes. Para visualizar os insetos nas raízes, estes podem ser retirados da região radicular, na
subsuperfície do solo, com auxílio de um palito de madeira ou ferro, com cerca de 20 cm de
comprimento e 0,5 cm de diâmetro. A ocorrência de inimigos naturais, especialmente da mosca
Salpingogaster nigra (Diptera, Syrphidae) e de ninfas e adultos de cigarrinha mortos pela ação de
fungos, tais como Metarhizium anisopliae e Batkoa, poderá ser anotada. O registro dos dados
observados deve ser feito em ficha apropriada.
É importante que sejam amostrados muitos pontos por hectare (6) pois a praga ocorre em
reboleiras, ou seja, a variabilidade espacial de suas populações é muito alta. Por causa disso, uma
boa estimativa de suas populações exige uma amostragem feita em muitos pontos no talhão. O
esquema de caminhamento sugerido é o mesmo apresentado para a broca (Figura 5 - item broca)
A figura 4 ilustra a variabilidade espacial de populações de cigarrinha-das-raízes.
pág. 46
Figura 4. Distribuição espacial de cigarinha-das-raízes em um canavial (Fonte: Dinardo-Miranda et al., 2007)
Nível de controle e nível de dano econômico
Muito se discute sobre a densidade populacional de cigarrinha-das-raízes (Mahanarva
fimbriolata) acima da qual se deve entrar com medidas de controle, sejam elas químicas ou
biológicas. Esse valor, chamado em entomologia de nível de controle (NC), é sempre inferior ao
nível de dano econômico (NDE), que, por definição, é a densidade populacional da praga na qual
ela causa prejuízo à cultura semelhante ao custo de adoção de uma medida de controle.
Por considerar custos (dos insumos, das aplicações, da cana, do açúcar, do álcool etc), o
NDE não é um valor fixo, constante. Ele é variável de um ano agrícola para outro, visto que os
preços dos insumos e produtos flutuam, assim como a época de colheita, a renovação de
variedades e outros fatores. Quanto mais suscetível a variedade, mais baixo é o NDE, pois sob
mesma infestação da praga, ela sofre maior dano que uma variedade menos suscetível. Por outro
lado, vários estudos mostram que determinada variedade sofre maiores danos quanto mais tarde
se dá sua colheita. Portanto, o NDE é menor para colheitas de final de safra do que de início. Para
as situações em que se pode adotar medidas e/ou produtos mais baratos, o NDE é mais baixo do
que para aquelas nas quais se adotam medidas e/ou produtos mais caros.
A análise econômica (margem de contribuição agroindustrial e agrícola) dos resultados
observados em áreas comerciais e experimentais, nas quais se adotou medidas de controle da
praga, em várias regiões e envolvendo diversas variedades, épocas de corte, populações da
cigarrinha-das-raízes etc, sugere que o NDE, hoje, está provavelmente entre 3 e 10 insetos/m,
ficando mais próximo do limite inferior - 3 insetos/m - em canaviais colhidos no final de safra e, no
limite superior -10 insetos/m -, em canaviais de início de safra. Como as medidas de controle
pág. 47
devem ser adotadas antes das populações atingirem o NDE, os valores de NC são menores que os
citados. Visto que os inseticidas, químicos ou biológicos, possuem características distintas, o NC
varia com o produto escolhido para controle, bem como com sua dose. Assim, quanto maior o
efeito de choque do inseticida, mais próximo do NDE se encontra o NC, ou seja, a medida de
controle pode ser adotada (NC) em uma densidade populacional bem próxima, mas ligeiramente
menor, do que aquela definida como NDE.
Controle biológico
A ocorrência natural do fungo M. anisopliae, atacando cigarrinha das raízes em canaviais
de todo o país, é bastante comum e incentiva o uso desse agente de controle biológico em áreas
infestadas pela praga. Somando-se a esse, o fato de que um programa envolvendo controle
biológico é extremamente interessante, por razões ambientais e também econômicas, muitos
esforços tem sido despendidos em estudos envolvendo essa ferramenta.
Atualmente, o fungo encontrado no comércio é multiplicado em grãos de arroz e pode ser
adquirido no arroz ou em esporos, já isolados do arroz.
Embora sua utilização tenha crescido nos últimos anos, são freqüentes os relatos de
ineficiência do fungo em campo, mesmo quando as aplicações são feitas em condições ideais
(ausência de sol e alta umidade relativa do ar) .
Dados o custo relativamente baixo do fungo, multiplicado em grãos de arroz, e sua ação
inicial relativamente lenta, quando comparado com certos inseticidas químicos, preconiza-se que
seu uso seja feito, preferencialmente, em áreas nas quais as infestações estejam entre 0,5 e 2
insetos/m, pulverizando a base das plantas, com fungo na dose de aproximadamente 2 a 4.1011
esporos viáveis/ha, o que corresponde a cerca de 1 a 2kg/ha de arroz (2.108 esporos/g de arroz).
Estas aplicações devem ser feitas de preferência no final da tarde, à noite ou em dias nublados, de
modo a evitar a incidência de raios ultravioletas, que afetam a viabilidade dos esporos. Para
aplicações aéreas, a distribuição direta dos grão de arroz infestado parece mais apropriada que a
de esporos em calda, já que o grão de arroz atinge o solo com mais facilidade. As gotas de água
contendo os esporos podem, em grande parte, ficar retidas nas folhas, sujeitas à ação dos raios
solares. Essas inferências, porém, carecem de uma comprovação científica. Em ambos os casos,
após a aplicação do fungo, as áreas devem ser continuamente monitoradas e uma segunda
aplicação pode ser feita se as infestações subirem para 3 a 4 insetos/m.
Embora o controle biológico deva ser priorizado, aplicações de M. anisopliae as vezes
mostraram resultados pouco satisfatórios, especialmente sob altas infestações iniciais da praga.
Nesses casos, o controle químico é mais eficaz.
pág. 48
Controle químico
O controle químico é uma ferramenta bastante valiosa no programa de manejo da
cigarrinha, especialmente em canaviais colhidos a partir de agosto (meio para final de safra), que
sofrem maiores danos devido ao ataque da praga, e naqueles severamente infestados. Embora os
inseticidas químicos geralmente sejam caros e mais agressivos ao ambiente do que os biológicos,
o seu uso criterioso resulta em uma relação custo/benefício bastante interessante e em baixos
riscos ambientais.
Os inseticidas registrados para controle de cigarrinha são thiamethoxam e etiprole.
A aplicação de inseticidas químicos é recomendada nas áreas cujas populações, entre
final de outubro e dezembro, estejam ao redor de 3 a 4 insetos/m. Como canaviais colhidos em
início de safra (até julho) suportam populações maiores da praga, inseticidas químicos podem ser
aplicados quando as infestações são superiores a 10 insetos/m. Por outro lado, em canaviais
colhidos a partir do meio de safra (agosto), mais sensíveis ao ataque da cigarrinha, a aplicação de
inseticidas quando a praga atinge níveis populacionais ao redor de 3 a 4 insetos/m parece mais
adequada.
Dados experimentais e de campo revelam que, em áreas nas quais as infestações atingem
níveis próximos ou superiores aos de dano, as respostas ao controle químico são mais
significativas, quanto antes ele for adotado. Assim, em experimento para avaliar a eficiência de
inseticidas no controle da cigarrinha e seus reflexos na produtividade agrícola e de açúcar, foram
feitas aplicações de inseticidas em novembro, dezembro ou janeiro. Embora a eficiência dos
produtos não tenha se alterado significativamente em função da época de aplicação, os
incrementos de produtividade foram maiores quando os inseticidas foram aplicados em novembro.
Em aplicações feitas em janeiro, não se observaram incrementos de produtividade, em relação à
testemunha, sugerindo que a cultura havia sofrido danos tão severos que não conseguiu se
recuperar. Desta forma, em áreas comerciais, a adoção de medidas de controle deve ser feita
preferencialmente até dezembro, já que aplicação tardia de inseticidas, químicos ou biológicos,
pode não resultar, na maioria das vezes, em incrementos de produtividade.
Além de ser feita o quanto antes, a aplicação de inseticidas mostra-se mais adequada
quando efetuada de uma só vez, ao invés de parcelada ao longo do período de ocorrência da
praga. Estudo conduzido por Dinardo-Miranda et al (2002) para avaliar a eficiência de inseticidas
quando aplicados em uma (outubro) ou em duas ocasiões (outubro e janeiro) ao longo do período
de ataque da cigarrinha, revelou que inseticidas aplicados uma única vez no início do período de
infestação (outubro) contribuíram para maiores reduções populacionais da praga e,
consequentemente, maiores incrementos nas produtividades de colmos e de açúcar, quando
comparados com a testemunha ou com a aplicação parcelada dos produtos. Além da aplicação de
alguns inseticidas em doses parceladas não ter contribuído para incrementos de produtividade, em
pág. 49
relação à aplicação única no início do período de ocorrência da praga, essa prática não se mostrou
adequada também por aumentar os custos da aplicação e por exigir monitoramento constante da
área.
Retirada ou afastamento da palha
O acúmulo de palha no canavial, deixando-o mais úmido, foi um fator importante para os
incrementos populacionais de cigarrinha. Assim, a retirada ou afastamento da palha de cima da
linha de cana contribui para reduzir as populações da praga, por manter as linhas de cana mais
secas, devido à maior incidência dos raios solares sobre ela. Experimentos conduzidos no estado
de São Paulo mostraram que a operação de enleirar a palha nas entrelinhas de cana, deixando as
linhas sem palha, pode ser uma prática eficiente para manter baixas as populações da cigarrinha,
durante todo o período de sua ocorrência, desde que suas infestações não sejam elevadas demais
(Dinardo-Miranda, 2002). Assim, em talhões com histórico de altas populações, outras medidas de
controle devam ser adotadas, isoladamente ou em conjunto com o afastamento da palha, a fim de
evitar prováveis quebras de produtividade. Visto que em locais de populações mais elevadas, as
infestações da praga podem atingir picos de 15 a 20 insetos/m e, algumas vezes, até um pouco
maiores, o afastamento de palha parece mais indicado para canaviais colhidos em início de safra,
pois podem tolerar infestações maiores que aqueles colhidos a partir de julho.
Para adotar o enleiramento da palha, deve-se considerar algumas dificuldades
operacionais: (1) se feito logo após o corte, a camada de palha ainda é muito volumosa, voltando
para cima da linha de cana, com facilidade; além disso, quando ainda não se iniciou a brotação da
cana, é difícil visualizar a linha para passagem do implemento; (2) quando o canavial está grande
demais, a operação quebra muitos brotos, além de se quebrarem muitos “dedos” do enleirador.
Outro fator a considerar é que, se por um lado a retirada da palha da linha de cana reduz as
populações da cigarrinha, por outro, a brotação e o desenvolvimento inicial de algumas variedades,
especialmente se colhidas na época mais seca do ano (julho/agosto), são severamente
prejudicados, justamente devido à diminuição da umidade do solo na região da linha, de onde se
afastou a palha. Esse prejuízo ao desenvolvimento inicial da cultura, muitas vezes, se reflete sobre
a produtividade agrícola e é bastante marcante em anos mais secos ou em solos ácricos.
Fogo
A queima pré-colheita do canavial é uma medida que reduz as infestações de cigarrinha,
no ciclo seguinte, por eliminar a palha e por matar parte dos ovos em diapausa. No entanto, em
áreas severamente infestadas, somente o fogo não é suficiente para reduzir as infestações de
cigarrinha a níveis não problemáticos, pois muitos ovos permanecem viáveis, já que o fogo na pré-
colheita aquece somente a camada superficial do solo, não atingindo aqueles colocados em maior
pág. 50
profundidade. Em situações de infestações elevadas, é comum a ocorrência de cigarrinha em
áreas de colheita de cana queimada, como em Goiás, por exemplo.
Apesar de eficiente no controle da cigarrinha, em algumas situações, o fogo na pré-colheita
é de uso bastante restrito, por força da legislação ambiental.
Antecipação de colheita em áreas severamente atacadas
Nos locais onde ocorreu severo ataque das cigarrinhas, colmos secos e deteriorados
podem ser observados já no início do outono (abril/maio). Nesses casos, quanto maior o tempo em
que este canavial permanece em pé, mais acentuados se tornam os sintomas de ataque da
cigarrinha e maiores são as quebras de produtividade observadas. Assim, a antecipação da
colheita reduz as perdas de provocadas pela praga, embora não seja uma medida de controle da
cigarrinha.
pág. 51
pág. 52
Referências
DINARDO-MIRANDA, L.L. O papel da retirada de palha no manejo da cigarrinha das raízes. Stab
– Açúcar, Álcool e Subprodutos, Piracicaba, v. 20, n. 5, p.23, 2002.
DINARDO-MIRANDA, L.L. Cigarrinhas em cana crua. In: In: DINARDO-MIRANDA, L.L.;
ROSSETTO, R.; STUPIELLO, J.P. (eds.). Semana da Cana-de-açúcar de Piracicaba, 4.,
1999. Piracicaba. Anais... Piracicaba: Comissão Organizadora, 1999. p. 36-37.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; FERREIRA, J.M.G. Eficiência de inseticidas no controle da cigarrinha
das raízes, Mahanarva fimbriolata (Stal) (Hemiptera: Cercopidae), em cana-de-açúcar. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA, 19, 2002, MANAUS. RESUMOS... Manaus:
Sociedade Entomológica do Brasil, 2002. p.134. ref. CTQ150.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; FERREIRA, J.M.G.; CARVALHO, P.A.M. Influência das cigarrinhas
das raízes, Mahanarva fimbriolata, sobre a qualidade tecnológica da cana-de-açúcar. STAB –
Açúcar, Álcool e Subprodutos, Piracicaba, v. 19, n. 2, p.34-35, 2000a.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; FERREIRA, J.M.G.; CARVALHO, P.A.M. Influência da época de
colheita e do genótipo de cana-de-açúcar sobre a infestação de Mahanarva fimbriolata (Stal)
(Hemiptera: Cercopidae). Neotropical Entomology, Londrina, v. 30, n. 1, p. 145-149, 2001a.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; FERREIRA, J.M.G.; DURIGAN, A.M.P.R.; BARBOSA, V. Eficiência de
inseticidas e medidas culturais no controle de Mahanarva fimbriolata em cana-de-açúcar. Stab
- Açúcar, Álcool e Subprodutos, Piracicaba, v. 18, n. 3, p. 34-36, 2000b.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; FIGUEIREDO, P.; LANDELL, M.G.A.; FERREIRA, J.M.G.; CARVALHO,
P.A.M. Danos causados pelas cigarrinhas das raízes (Mahanarva fimbriolata) a diversos
genótipos de cana-de-açúcar. Stab - Açúcar, Álcool e Subprodutos, Piracicaba, v. 17, n. 5 ,
p. 48-52, 1999.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; GARCIA, V.; COELHO, A.L. Eficiência de inseticidas no controle da
cigarrinha das raízes, Mahanarva fimbriolata, em cana-de-açúcar. Stab - Açúcar, Álcool e
Subprodutos, Piracicaba, v. 20, n. 1, p. 30-33. 2001b.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; GARCIA, V.; PARAZZI, V. Efeito de inseticidas no controle de
Mahanarva fimbriolata (Stal) (Hemiptera: Cercopidae) e de nematóides fitoparasitos, na
qualidade tecnológica e na produtividade da cana-de-açúcar. Neotropical Entomology,
Londrina, v. 31, n. 4, p.609-614, 2002.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; MOSSIM, G.C.; DURIGAN, A.M.P.R.; BARBOSA, V. Controle químico
de cigarrinha das raízes em cana-de-açúcar. Stab - Açúcar, Álcool e Subprodutos,
Piracicaba, v. 19, n. 4, p. 20-23, 2001c.
pág. 53
DINARDO-MIRANDA, L.L., VASCONCELOS, A.C.M., VIEIRA, S.R., FRACASSO, J.V. AND
GREGO, C.R. Uso da geoestatística na avaliação da distribuição espacial de Mahanarva
fimbriolata em cana-de-açúcar. Bragantia, 66: 449–455, 2007.
FEWKES, D.W. The biology of sugarcane froghoppers. In: WILLIAMS, J.R.; METCALFE, J.R.;
MUNGOMERY, R.W.; MATHES, R. (eds.). Pests of sugarcane. Amsterdam: Elsevier, 1969.
p.283-307.
GUAGLIUMI, P. Pragas da Cana-de-açúcar (Nordeste do Brasil). Rio de Janeiro: IAA, 1973. 622
p. (Coleção Canavieira, 10).
MENDONÇA, A.F.; BARBOSA, G.V.S.; MARQUES, E.J. As cigarrinhas da cana-de-açúcar no
Brasil. In: MENDONÇA, A.F. (ed.). Pragas da cana-de-açúcar. Maceió: Edição do autor,
1996. p.171-192.
pág. 54
Levantamento populacional de cigarrinha-das-raízes
Fazenda________________ Talhão_____ Variedade________________
Corte:______ Data do corte__/__/__ Data do levantamento__/__/__
Ponto Insetos Ponto Insetos Ponto Insetos
01 11 21
02 12 22
03 13 23
04 14 24
05 15 25
06 16 26
07 17 27
08 18 28
09 19 29
10 20 30
Insetos/m = ______
pág. 55
3. PRAGAS DE SOLO
3.1. Sphenophorus levis
Nos últimos anos têm sido freqüentes, em várias regiões do Estado de São Paulo, os
relatos de canaviais severamente danificados e, até mesmo, dizimados, pelo besouro
Sphenophorus levis (Coleoptera; Curculionidae), conhecido como gorgulho da cana-de-açúcar. De
acordo com Precetti & Teran (1983), os adultos desta praga medem de 12 a 15mm de
comprimento, são marrons escuros com manchas pretas sobre o dorso e com a face ventral
preta (Figura 1). Após o acasalamento, as fêmeas perfuram os tecidos sadios do rizoma, com as
mandíbulas presentes no ápice do rostro ou bico e aí, na base das brotações, abaixo do nível do
solo, inserem os ovos. De sete a doze dias depois da postura, nascem as larvas, branco leitosas,
com a cabeça castanho-avermelhada e ápodas (Figura 1), que escavam galerias no interior do
rizoma, ao se alimentarem. Estas galerias permanecem cheias de serragem fina, característica do
ataque da praga. O período larval médio é de 50 dias, findos os quais passa-se à fase pupal, ainda
encerrada no interior dos colmos. A pupa é inicialmente branco leitosa, tornando-se castanho-clara
e com manchas dorsais à medida em que se desenvolve. Esta fase dura cerca de 10 dias. Ao
emergirem da câmara pupal, os adultos permanecem no solo, sob torrões e restos vegetais ou
entre os perfilhos, na base das touceiras. São bastante longevos, vivendo por mais de 200 dias.
Os danos são causados pelas larvas que, broqueiam os rizomas (Figura 2). Em
conseqüência das galerias abertas na base dos colmos, ocorre amarelecimento de folhas, seguido
pelo secamento e morte de perfilhos, que podem ser facilmente destacados da touceira. Sob
infestações severas, as touceiras morrem e são observadas muitas falhas na rebrota,
favorecendo altas populações de plantas daninhas (Figura 3). Estes sintomas são mais facilmente
visualizados na época seca do ano (junho a agosto), quando são encontradas as maiores
populações de larvas.
Figura 1. Adulto e larva de Sphenophorus Levis
pág. 56
Figura 2. Danos causados pelas larvas de S. levis.
Figura 3. Aspecto de um canavial infestado por S. levis
Os primeiros registros da praga, no final da década de 1970 e início da década de 1980,
foram feitos na região de Piracicaba, SP, quando o inseto foi detectado em 14 municípios, mas
atualmente S. levis já foi observado nas regiões Central (Araraquara, São Carlos, Jaú, etc.), Sul
(Assis, Ourinhos), Nordeste (Pradópolis) e Leste (Leme, Pirassununga, Araras, São João da Boa
Vista, Santa Cruz das Palmeiras, etc.) do Estado de São Paulo, estando, portanto, em quase todas
as regiões de cultivo de cana.
pág. 57
A dispersão da praga em longas distâncias se deu provavelmente com mudas retiradas de
local infestado, já que a capacidade de vôo do inseto é muito restrita. As mudas podem transportar
tanto insetos no interior dos colmos, já que em alguns casos as galerias podem atingir os primeiros
internós basais, como insetos, especialmente adultos, entre os colmos depositados no solo, após o
corte. Assim, a sanidade de viveiros, mais uma vez, se mostra fator importante para reduzir os
problemas fitossanitários da cultura. Pelo solo, os adultos deslocam-se muito lentamente, o que
explica sua dispersão somente de um talhão para talhões vizinhos.
Nos últimos anos, além de registros de novas áreas infestadas, ocorreram incrementos nas
populações da praga, em decorrência das dificuldades de controle, já que a eficiência de
inseticidas químicos ou biológicos ainda não é bem clara, mesmo quando utilizados no sulco de
plantio e a destruição mecânica das soqueiras afetadas, embora contribua para reduzir as
populações, especialmente quando aplicado nas épocas mais secas do ano, é insuficiente, em
muitos casos, para um controle efetivo da praga. O uso de armadilhas tóxicas, feitas com toletes
de cana, rachados longitudinalmente e embebidos em uma solução de inseticida, como descrito em
Precetti & Arrigoni, (1990), muito comum no final dos anos 80 e início dos anos 90, tornou-se
proibitivo pelo seu alto custo, em função da grande demanda de mão-de-obra, e praticamente foi
abandonado. Hoje, esta medida só pode ser indicada para controlar a praga em pequenas áreas,
como por exemplo, em uma reboleira recém detectada, numa fazenda ainda não totalmente
infestada por ela. Nesse caso, valeria a pena investir para impedir que a praga se espalhe por uma
área maior.
A colheita de cana crua também contribuiu para aumentar as populações da praga.
Estudos conduzidos pelo IAC comparando populações e danos em áreas de colheita de cana crua
e de colheita de cana queimada revelaram que em áreas de colheita de cana crua as populações
da praga e seus danos aumentaram muito mais rapidamente do que na área de colheita de cana
queimada (Dinardo-Miranda, 2009). Isso porque o fogo (cana queimada) mata muitos adultos da
praga, já que eles ficam perambulando pelo solo e, por outro lado a palhada, resultante da colheita
de cana crua, serve de abrigo a esses adultos.
3.2. CUPINS
Muitas espécies de cupins foram registradas em canaviais de todo o país. ARRIGONI et al.
(1989), fazendo levantamentos no estado de São Paulo, constaram a ocorrência de sete gêneros
de cupins, com nove espécies identificadas, nas áreas amostradas, sendo as mais comuns
Heterotermes tenuis (Hagen, 1858), Cornitermes cumulans (Kollar), Neocapritermes opacus e
Procornitermes triacifer. Na região Nordeste, as espécies mais comuns pertencem aos gêneros
Amitermes, Cylindrotermes e Nasutitermes, embora espécies de Heterotermes e Neocapritermes
também causem danos em algumas áreas (NOVARETTI e FONTES, 1998).
pág. 58
Segundo MACEDO (1995), as espécies presentes em canaviais podem ser divididas em dois
grupos pelos hábitos de construir suas colônias: cupins de montículos e cupins subterrâneos. Os
mais importantes são os cupins subterrâneos, cujas colônias se distribuem em galerias no solo,
sob rochas, no interior das raízes, etc. Neste grupo estão as espécies de Heterotermes,
Procornitermes, Nasutitermes, Neocapritermes, Syntermes e outros. As espécies de Heterotermes
são consideradas as mais importantes do ponto de vista econômico, pois se alimentam de material
lenhoso em várias fases de decomposição e das partes vivas das plantas, tais como raízes, toletes
e entrenós basais da cana-de-açúcar. No grupo que contempla os cupins de montículos, a espécie
mais comum em canaviais é a C. cumulans. Estes insetos constroem ninhos acima do solo e são
considerados de menor importância, porque se alimentam basicamente de material vegetal morto e
raramente são encontrados atacando tecidos vivos.
Os cupins ocorrem em todos os tipos de solo, independentemente da textura, como
verificado por ARRIGONI et al. (1989), mas os danos são mais facilmente visualizados em culturas
conduzidas em solos arenosos, provavelmente porque, em comparação com solos argilosos, os
arenosos geralmente são menos férteis e retêm menor quantidade de água, proporcionando às
plantas neles conduzidas menores condições de suportar ataque de pragas.
Embora possam ser encontrados na lavoura durante todo ao ano, as populações na região
das raízes são maiores no período seco, o que pode ser atribuído ao fato de que os indivíduos
estão se utilizando das raízes não somente como fonte de alimento, mas também como fonte de
água.
As populações geralmente são mais elevadas em canaviais mais velhos, já que as
operações de preparo de solo para plantio reduzem as populações, por desestruturarem as
colônias. Com o passar do tempo, no entanto, as colônias se reorganizam e as populações se
elevam. Esse fato poder ser visualizado na figura 31, que mostra notas populacionais observadas
em levantamentos feitos em épocas secas, em canavial da variedade RB835486, implantado em
27/03/03, em solo arenoso na região de Araçatuba, SP.
Quando atacam a cana-de-açúcar no plantio, os cupins destroem os toletes e também as
gemas (Figura 4) e, conseqüentemente, ocorrem falhas na brotação. Sob infestações severas, os
cupins podem destruir o interior dos entrenós basais, provocando morte de perfilhos (“coração
morto”), quando esses ainda são jovens ou quebra de colmos adultos. Em decorrência do ataque
de cupins, há severas reduções de produtividade. Em cana soca, os danos se acentuam (Figura 5),
com falhas na brotação da soqueira, baixa produtividade e redução na longevidade do canavial.
Segundo Novaretti et al (1985), os cupins causam em média redução de produtividade da ordem
de 10t/ha a cada colheita. Estudos mais recentes, no entanto, mostram que essas reduções podem
ser maiores.
pág. 59
Figura 4. Danos causados por cupins nos toletes utilizados no plantio.
Figura 5. Danos causados por cupins nos rizomas da cana-de-açúcar.
3.3. Migdolus fryanus
Há dez espécies no gênero Migdolus (Coleoptera: Cerambycidae); todas são consideradas
raras, com exceção de M. fryanus Westwood, que ocorre em canaviais dos estados de Goiás, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rondônia, Santa Catarina e São Paulo.
Os adultos de Migdolus são besouros com marcante dimorfismo sexual, medindo de 12 a
37 mm. Os machos são pretos, castanho-escuros ou de cor castanha-avermelhada, têm as asas
membranosas desenvolvidas e funcionais, com antenas atingindo aproximadamente o meio do
corpo. Os olhos são de tamanho variável. As fêmeas são geralmente mais claras (marrom
ferrugínea), com asas não funcionais e antenas bem mais curtas que a dos machos. Os olhos
também são bem menores que nos machos e em geral um pouco salientes.
pág. 60
O inseto é de metamorfose completa, passando pelos estádios de ovo, larva, pupa e
adulto (Figura 6), mas a duração completa de seu ciclo ainda não é perfeitamente conhecida,
estimando-se que esteja entre 1 a 2 anos (TERÁN et al., 1983), porém uma parcela da população
pode completar o ciclo em três anos (ARRIGONI, 1995).
Nos meses quentes e úmidos, entre novembro e março, ocorrem as revoadas, geralmente
precedidas por chuvas (TERÁN et al., 1984; ARRIGONI et al., 1986). Os machos que saem para a
superfície do solo se mostram agitados e voam buscando as fêmeas, atraídos pelo potente
feromônio sexual que elas liberam. As fêmeas vagueiam pelo solo e podem ser copuladas por
vários machos. Fêmeas e machos não se alimentam e vivem às custas de suas reservas
energéticas. Depois da cópula, que em geral ocorre no primeiro dia em que surgem na superfície
do solo, as fêmeas de 7 a 38 dias, retornando imediatamente para o solo. Cada fêmea oviposita de
14 a 45 ovos, a diferentes profundidades, podendo chegar até a 4 m. Os machos vivem de 4 a 7
dias. Os ovos são brancos, de formato ovóide e medem de 6 a 7 mm. A eclosão das larvas ocorre
de 20 a 22 dias depois da postura, e elas são de cor branco-leitosa, de formato cerambiciforme,
ápodas e com a parte anterior do corpo mais alargada do que as demais. Quando recém-
eclodidas, provavelmente se alimentam de matéria orgânica. Passam, possivelmente, por sete
ínstares larvais, atingindo, quando completamente desenvolvidas, cerca de 60 mm de
comprimento. A pupa é livre, branco-amarelada e fica protegida na câmara pupal, geralmente
abaixo de 1,5 m de profundidade. Os adultos aparentemente emergem de 3 a 4 meses antes da
revoada e no início são pouco móveis, permanecendo na câmara pupal até o começo da época de
acasalamento (revoada), quando então sobem à superfície (TERÁN et al., 1983; ARRIGONI, 1988a,
1988b). Enquanto permanecem na câmara pupal, os adultos apresentam a região abdominal
expandida e são muito sensíveis à umidade, o que, de acordo com ARRIGONI, (1988b), seja o fator
mais importante para predispô-los às revoadas após o início das chuvas.
As larvas possuem grande mobilidade no solo e, durante sua movimentação, formam-se
numerosos canais ou galerias, posteriormente usados pelos adultos para atingir a superfície do
solo.
As populações de larvas são mais elevadas na camada superficial do solo na época fria e
seca do ano.
Embora possam ocorrer em qualquer tipo de solo, os sintomas de ataque são mais severos
em solos arenosos, onde as plantas têm menos condições de suportar danos devido às restrições
nutricionais e principalmente de água.
Além da cana-de-açúcar, Migdolus spp ataca várias outras plantas cultivadas, como café,
feijão, mandioca, algodão, além de eucalipto, várias gramíneas utilizadas em pastagens e cipós
nativos (BENTO et al., 2004).
pág. 61
Figura 6. Macho, fêmea, adultos em acasalamento e larvas de M. fryanus (Fotos: G.C. PIUBELLI e
L.L. DINARDO-MIRANDA).
Os danos são causados pelas larvas que atacam o sistema radicular, danificando tanto as
raízes superficiais como as mais profundas. Também atacam os rizomas (internódios basais
localizados abaixo da superfície do solo), abrindo galerias. Em conseqüência da destruição das
raízes e rizomas, as plantas não se desenvolvem, amarelecem, secam e morrem, reduzindo
drasticamente o estande e a produtividade do canavial. Em reboleiras severamente infestadas,
pode ocorre destruição total do canavial (Figura 7). Geralmente, há redução na longevidade da
lavoura.
pág. 62
Figura 7. Reboleira de plantas atacadas por Migdolus: canavial adulto em vista aérea (à esquerda)
e canavial recém-cortado (à direita) (Fotos: M.A. P. LIMA; L.L. DINARDO-MIRANDA).
Manejo de áreas infestadas
Amostragens de rotina em áreas de reforma
Em áreas cultivadas com cana-de-açúcar, as amostragens para estimar as populações de
pragas de solo devem ser feitas, rotineiramente, logo após o último corte do canavial e antes da
destruição da soqueira, o que coincide, normalmente, com o período mais seco do ano, quando as
populações são mais elevadas. O método de levantamento mais utilizado é o proposto por
ARRIGONI et al. (1988), que consta de 2 pontos de amostragem por ha, e em cada ponto abre-se, na
linha de cana, uma cova de 0,50 m de largura por 0,50 m de comprimento e 0,30 m de
profundidade. O IAC, entretanto, recomenda que sejam feitos pelo menos 6 pontos por ha, pois
estudos preliminares indicam que, quando a praga ainda está em população não muito alta, ela
pode causar perdas severas à cultura, mas geralmente não é detectada em amostragens feitas em
somente 2 pontos/ha. Especialmente para S. levis, o aumento no número de pontos amostrados
por hectare, durante levantamento, é extremamente importante. O solo e material vegetal contidos
na cova são vistoriados, anotando-se em ficha apropriada (figura 8) a ocorrência de danos nas
touceiras, a presença de cupins e de outras pragas de solo (Migdolus, S. levis e outros). Para
cupins, deve-se atribuir nota em função do número de indivíduos presentes (0 = sem cupins; 1 = 1
a 10 indivíduos; 2 = 11 a 100 indivíduos; 3 = mais de 100 indivíduos). Os soldados devem ser
coletados, colocados em vidros com álcool 70% ou formol para identificação da(s) espécie(s)
presente(s). É importante identificar as espécies de cupins ocorrentes, pois, como anteriormente
citado, há espécies mais daninhas à cana-de-açúcar que outras.
Os dados da amostragem de rotina são utilizados para tomar decisão de controle por
ocasião do novo plantio.
pág. 63
Figura 8. Ficha utilizada em levantamento de pragas de solo.
Além do levantamento populacional em áreas de reforma, anteriormente citado, áreas
infestadas por M. fryanus podem ser monitoradas por armadilhas com feromônio distribuídas no
canavial. As armadilhas podem ser de vários tipos, mas constam basicamente de um recipiente
com água e detergente no fundo e um dispositivo (arame) no qual a pastilha de feromônio é presa.
O feromônio utilizado é sexual e, na natureza, é liberado pelas fêmeas para atração dos machos.
Nas armadilhas, utiliza-se um feromônio sexual sintético, com alta capacidade de atração.
Por se tratar de um inseto de solo, as armadilhas devem ser colocadas rentes ou
ligeiramente abaixo da superfície do solo, uma vez que os machos atraídos voam em direção à
fonte do feromônio e descem ao solo, caminhando até a armadilha, onde ficaram retidos na
solução de água e detergente (5%).
Visando ao monitoramento das populações de M. fryanus, as armadilhas devem ser
distribuídas ao longo dos carredores, em número variável de 1 a 10 a cada 10ha. Como as
revoadas ocorrem, geralmente, entre novembro e março, as armadilhas devem ser colocadas na
área a ser monitorada nesse período, fazendo-se vistorias periódicas para certificar-se da presença
de adultos nas armadilhas. É aconselhável a substituição das pastilhas a cada 15 ou 20 dias
(BENTO et al., 1995).
A coleta de adultos na área indicará a ocorrência da praga. O uso de armadilhas com
feromônio é indicado para áreas com suspeita da presença da praga, nas quais não se detectaram
larvas durante os levantamentos tradicionais. Também é indicado para áreas de expansão, sem
informações sobre a presença da praga.
Muitas vezes, ao se fazer o levantamento tradicional em áreas para reforma ou mesmo
utilizando-se armadilhas com feromônio, não se detectam formas biológicas de M. fryanus ou de
outras pragas de solo, como S. levis. Entretanto, com a cultura implantada, notam-se em campo
pág. 64
reboleiras de plantas depauperadas, secas, com sistema radicular e rizomas danificados. Nesses
casos, é aconselhável proceder-se a um levantamento para confirmar a presença de pragas e, se
possível, delimitar a reboleira, usando-se GPS. A reboleira assim demarcada deve ser plotada em
mapa, a fim de que futuras medidas de controle possam ser adotadas.
Amostragens em canaviais em condução e em viveiros
Quando a cultura já estiver implantada, pode ser necessário adotar medidas de controle.
Isso é especialmente importante para canaviais infestados por S. levis. Esses canaviais, mesmo
que já tratados no plantio, podem exigir novos tratamentos nas soqueiras. Para esses casos, é
importante amostrar o canavial a fim de decidir se será ou não necessário adotar medidas de
controle nas soqueiras.
Nestes casos, o interessante é fazer a amostragem logo após o corte, pois o
caminhamento na área é facilitado. O procedimento a ser adotado é o mesmo adotado na
amostragem de rotina (6 pontos/ha), mas, neste caso, como o objetivo é somente S. levis, cujas
larvas e pupas se concentram no interior do rizoma, não é necessário demarcar as covas de 0,50
m de largura por 0,50 m de comprimento e 0,30 m de profundidade; Basta marcar 50 cm no local a
ser amostrado (na linha de cana) e, neste local, retirar todo o material vegetal para ser
cuidadosamente vistoriado. Formas biológicas das pragas eventualmente encontradas são então
registradas em ficha apropriada. Para facilitar, pode-se utilizar a mesma ficha apresentada na
Figura 8.
Outra situação em que a amostragem de um canavial em condução se faz necessário é
quando este canavial é um viveiro. Neste caso, é imprescindível proceder às amostragens
continuamente na área para se certificar de que ela está, de fato, livre de S. levis. Estas
amostragens podem ser feitas durante todo o desenvolvimento da cultura, a partir dos 6 meses de
idade. Assim, seria interessante proceder às amostragens aos 6, 9 e 12 meses de idade do viveiro.
Em áreas de viveiros é também importante monitorar a presença de adultos de S. levis.
Adultos de S. levis podem ser monitorados por iscas tóxicas, constituídas de dois pedaços
de colmos com cerca de 30 cm, rachados longitudinalmente e embebidos em solução inseticida
com melaço. As iscas devem ser colocadas na base das touceiras, em número de 10 por ha,
cobertas com capim, palha ou folhas de cana (PRECETTI e ARRIGONI, 1990). Tais iscas atraem os
adultos e podem ser utilizadas para detectar a presença da praga em áreas de baixas infestações,
nas quais as larvas e pupas não foram detectadas pelo método de levantamento tradicional.
pág. 65
Nível de dano econômico
Não há estudos recentes desenvolvidos com o objetivo de definir o nível de dano econômico
de pragas de solo para a cana-de-açúcar. Considerando-se porém, que os preços atuais de cana,
açúcar e álcool são bastante vantajosos, a análise de áreas comerciais e experimentais sugere que
medidas de controle devem ser adotadas quando os levantamentos revelarem, em solos arenosos,
25% de touceiras atacadas por H. tenuis ou 40% de touceiras atacadas por outras espécies de
cupins, que não H. tenuis. Em solos argilosos, que geralmente propiciam às plantas melhores
condições de desenvolvimento, medidas de controle podem ser adotadas quando forem
registradas cerca de 40% de touceiras atacadas por H. tenuis ou 60% de touceiras atacadas por
outras espécies de cupins, que não H. tenuis.
Por outro lado, áreas infestadas por M. fryanus e/ou S. levis sempre recebem medidas de
controle, devido aos grandes danos provocados por essas pragas e à baixa eficência das medidas
de controle. A medida a ser adotada varia com a infestação.
Medidas de controle
Destruição mecânica de soqueiras infestadas
Independentemente das espécies de pragas de solo encontradas na área, o manejo envolve
a destruição mecânica de soqueiras atacadas.
A destruição mecânica da soqueira é ferramenta importante para reduzir as populações de
pragas de solo, pois desestrutura (e algumas vezes, destrói) as colônias de cupins e mata, por
danos mecânicos e/ou exposição ao sol e aos predadores, larvas e pupas de M. fryanus e S. levis.
Por essa razão, deve ser feita na época seca do ano, entre julho e setembro, quando as
populações de larvas de M. fryanus e S. levis são mais elevadas nas camadas superficiais do solo.
Esse método de controle é bastante eficiente para reduzir as populações de larvas que se
encontram até 20 ou 30 cm de profundidade. Como os equipamentos utilizados para destruir
soqueiras (grade aradora, grade destorroadora, eliminador de soqueira) não atingem profundidades
maiores, os insetos localizados nas camadas mais profundas do solo não são afetados diretamente
por essa prática. Além disso, quando a infestação na área é muito alta, somente a destruição
mecânica da soqueira velha não é suficiente para reduzir as populações da praga a níveis tão
baixos que dispense outras medidas de controle. Por isso, além da destruição mecânica da
soqueira velha é preciso aplicar inseticidas no plantio.
Controle químico
Áreas infestadas por S. levis devem receber inseticidas no plantio e nas soqueiras.
O IAC desenvolve uma série de experimentos nesse sentido e os resultados obtidos até
agora revelam que os inseticidas mais eficientes no controle de S. levis são fipronil, imidacloprid e
pág. 66
thiamethoxan (Dinardo-Miranda et al., 2010; Fracasso et al., 2011). Mesmo sendo os mais
eficientes, tais produtos tem eficiência mediana no controle da praga e tal desempenho pode ser
atribuído ao hábito dos adultos de se movimentarem pouco e ao fato de as larvas e pupas ficarem
no interior dos rizomas, em locais pouco acessíveis aos produtos. Embora muitos dos inseticidas
testados sejam sistêmicos, há a tendência de eles se deslocarem para as demais regiões da
planta, o que reduz a concentração nos toletes e rizomas, onde as larvas se alimentam. Apesar da
eficiência mediana desses inseticidas, quando eles são aplicados no plantio, contribuem para
grandes incrementos de produtividade, justificando o uso em programa de manejo da praga.
Em muitos casos é preciso também aplicar inseticidas na soqueira. Estudos conduzidos pelo
IAC mostram que os produtos mais eficientes, em aplicações na soqueira, também são fipronil,
imidacloprid e thiamethoxan e devem ser aplicados, de preferência, por meio de um equipamento
que corta a soqueira no meio para injetar o produto (Dinardo-Miranda et al., 2006)..
Quando a área se mostra infestada somente por cupins, os produtos recomendados são
fipronil, imidacloprid e thiamethoxan em mistura.
Estes mesmos produtos são também recomendados para controle de Migdolus fryanus.
Em áreas infestadas por Migdolus, o inseticida deve ser aplicado em profundidade, por bicos
colocados atrás das bacias do arado de aiveca. Este método, que implica num consumo de 300 a
700 L/ha de calda, visa depositar o inseticida a cerca de 40 cm de profundidade, formando uma
barreira protetora. Essas áreas ainda recebem, por ocasião do plantio, inseticida aplicado no sulco,
imediatamente antes da cobertura dos toletes.
Algumas unidades, por falta de equipamento adequado, somente aplicam inseticida sobre os
toletes, antes do fechamento dos sulcos. Nesse caso, o produto geralmente é aplicado em dose
dupla. Trabalhos do IAC (Dinardo-Miranda et al., 2010) e de outros pesquisadores mostram que a
aplicação de inseticidas no arado de aiveca é mais eficiente para reduzir as populações da praga
do que a aplicação no sulco de plantio.
Como o controle de M. fryanus exige a aplicação de inseticidas em doses elevadas, é
conveniente mapear corretamente as áreas infestadas por essa praga, a fim de reduzir ao máximo
o tratamento químico e, em conseqüencia, o custo do tratamento e os impactos ambientais
decorrentes do uso de inseticidas.
Muitas vezes, a ocorrência de M. fryanus se dá em reboleiras isoladas no interior do talhão.
Nesses casos, deve-se proceder ao tratamento somente na área infestada e em uma larga
bordadura ao seu redor.
Algumas empresas também fazem aplicações de inseticidas na soqueira, visando reduzir as
populações de M. fryanus. Nem sempre, porém, essa prática é economicamente viável, pois a
eficiência de inseticidas aplicados na soqueira é bastante inferior à observada quando a aplicação
se dá no sulco de plantio.
pág. 67
Medidas auxiliares
Uso de matéria orgânica no plantio
Não há estudos comprovando que o emprego de matéria orgânica, tal como torta de filtro ou
torta de mamona, tenha algum efeito sobre as populações de pragas de solo. Entretanto, o uso
desse material no plantio é uma ferramenta interessante no manejo de áreas infestadas, por
propiciar melhores condições de desenvolvimento para as plantas, capacitando-as a suportar
melhor os danos causados pelas pragas.
Rotação de culturas
Em áreas de reforma infestadas por M. fryanus, o plantio de crotalárias também é bastante
recomendável, por propiciar melhores condições de desenvolvimento do canavial, em decorrência
dos benefícios promovidos pela adubação verde.
Por outro lado, em se tratando de áreas infestadas por S. levis, a melhor alternativa seria
manter a área no limpo, no período entre a destruição da soqueira e a implantação de nova cultura.
No entanto, como o solo exposto fica muito sujeito à erosão, o plantio de adubos verdes muitas
vezes se faz necessário. Nessas condições, o feijão-guandu é a cultura mais indicada por propiciar
menor sobrevivência de adultos em comparação com as crotalárias (ARRIGONI e PRECETTI, 1997).
Uso de vinhaça
Se a aplicação de vinhaça parece não interferir nas populações de M. fryanus, observações
em campo revelam que as populações de S. levis se elevam significativamente em talhões
fertirrigados, talvez por favorecer a sobrevivência de adultos. Por isso, áreas infestadas com S.
levis devem receber vinhaça com parcimônia.
Manutenção da cultura no limpo
A observação de áreas comerciais revela maiores populações de S. levis naquelas onde as
infestações de plantas daninhas também são elevadas, sugerindo que estas servem de abrigo aos
adultos, favorecendo sua sobrevivência e longevidade. Portanto, a manutenção da cultura no
limpo é ferramenta importante para reduzir os danos provocados pela praga.
pág. 68
Uso de mudas sadias
Na implantação de nova lavoura, cuidado especial deve ser dado ao material utilizado como
muda. Visto que larvas, pupas e adultos de S. levis podem ser transportados no interior e entre os
colmos retirados de local infestado, o uso de mudas sadias é ferramenta valiosa para impedir a
introdução de S. levis em novas áreas. Até mesmo o cultivo em locais infestados deve ser feito
com mudas isentas dessa praga, a fim de que não ocorra aumento populacional na área. Assim,
viveiros de mudas não devem ser conduzidos em áreas infestadas por S. levis.
Uso de iscas tóxicas
Em áreas infestadas por S. levis, iscas tóxicas, constituídas de dois pedaços de colmos de
aproximadamente 30 cm, rachados em sentido longitudinal e embebidos em solução inseticida
(inseticida + melaço + água) podem ser utilizadas para reduzir as populações de adultos. As iscas
devem ser colocadas na base das touceiras, em número de 500 a 1.000 por ha, cobertas com
capim, palha ou folhas de cana (PRECETTI e ARRIGONI, 1990). Devido à grande necessidade de
mão-de-obra, essa medida é de uso restrito às pequenas reboleiras.
pág. 69
Referências
ARRIGONI, E. B. Biologia de Migdolus fryanus Westwood, 1963, em condições controladas: dados
preliminares. Boletim Técnico Copersucar, v. 40, p. 24-28, 1988a.
ARRIGONI, E. B. Duração do ciclo biológico de Migdolus fryanus. In: REUNIÃO SUL-BRASILEIRA
DE INSETOS DE SOLO, 5., 1995, Dourados. Resumos....Dourados: Embrapa-CPAO, 1995. p.
72.
ARRIGONI, E. B. Estudos sobre resistência da cana à broca em telado - V. Boletim Técnico
Copersucar, v. 48, p. 25-31, 1989.
ARRIGONI, E. B. Flutuação populacional de Migdolus fryanus Westwood, 1963 (Coleoptera:
Cerambycidae). Boletim Técnico Copersucar, v.44, p.22-26, 1988b.
ARRIGONI, E. B.; PRECETTI, A. A. C. M. Sobrevivência e danos de Sphenophorus levis Vaurie,
1978 (Coleóptera; Curculionidae) em leguminosas e em cana-de-açúcar. In: SEMINÁRIO DE
TECNOLOGIA AGRONÔMICA, 7., 1997.Piracicaba. Anais... São Paulo: Copersucar, 1997. p.
115-122.
ARRIGONI, E. B.; PRECETTI, A. A. C. M.; ALMEIDA, L. C.; KASTEN JR., P. Metodologia de
levantamento de pragas de solo em cana-de-açúcar. In: SEMINÁRIO DE TECNOLOGIA
AGRONÔMICA, 4., 1988. Piracicaba. Anais. São Paulo: Copersucar, 1988. p. 647-656.
ARRIGONI, E. B.; TÉRAN, F. O.; KASTEN JR., P.; NOVARETTI, W. R. T. Migdolus spp., broca dos
rizomas da cana-de-açúcar. In: SEMINÁRIO DE TECNOLOGIA AGRONÔMICA, 3., 1986.
Piracicaba. Anais... São Paulo: Copersucar, 1986. p. 129-142.
BENTO, J. M. S.; DELLA LUCIA, T. M. C.; VILELA, E. F.; ARRIGONI, E. B.; LEAL, W. S. Migdolus.
In: SALVADORI, J. R.; ÁVILA, C. J.; SILVA, M. T. B. Pragas de solo no Brasil. Passo Fundo:
Embrapa Trigo, 2004. p. 233-257.
DINARDO-MIRANDA, L.L. Cana crua e Sphenophorus levis.STAB – Açúcar, Álccol e
Subprodutos, v.27, n.4, p. 23-24, 2009.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; FRACASSO, J.V. Effect of insecticides applied at sugarcane planting on
Sphenophorus levis Vaurie (Coleoptera; Curculionidae) control and on the yield of first two
harvests. In: CONGRESS OF ISSCT, 27, 2010, Vera Cruz – México. Proceedings… Vera
Cruz: ISSCT, 2010 (CD-rom). 5p.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; FRACASSO, J.V.; CABRAL, S.B.; VALÉRIO, W.; GONÇALVES, R.D.;
BELTRAME, J.A. Eficiência de inseticidas aplicados em soqueiras de cana-de-açúcar no
pág. 70
controle de Sphenophorus levis. STAB – Açúcar, Álccol e Subprodutos, v.24, n.4, p. 6-8,
2006.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; FRACASSO, J.V.; GIROTO, F. Effect of insecticides on mMgdolus
fryanus wWestwood (Coleoptera: Cerambycidae) infestations and sugarcane yields In:
CONGRESS OF ISSCT, 27, 2010, Vera Cruz – México. Proceedings… Vera Cruz: ISSCT,
2010 (CD-rom). 5p.
FRACASSO, J.V.; DINARDO-MIRANDA, L.L.; COSTA, V.P. DA; LOPES, D.O.P. Efeito de
inseticidas aplicados no plantio da cana-de-açúcar sobre o controle de Shenophorus levis
Vaurie (Coleoptera: Curculionidae) e a produtividade das três primeiras colheitas. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE FITOSSANIDADE, 1, 2011, Jaboticabal. Resumos....
Jaboticabal: COBRAFI, 2011. p.596-599.
MACEDO, N. Atualização no controle de cupins subterrâneos em cana-de-açúcar. In: BERTI Filho,
E.; FONTES L. R. Alguns aspectos atuais da biologia e controle de cupins. Piracicaba:
FEALQ, 1995. p. 121-126
NOVARETTI, W. R. T. Controle de cupins em cana-de-açúcar através do emprego de inseticidas
de solo. Boletim Técnico Copersucar, n. 38, p. 40-44, 1985.
NOVARETTI, W. R. T.; FONTES, L. R. Cupins: uma grave ameaça à cana-de-açúcar no nordeste
do Brasil. In: FONTES, L. R.; BERTI FILHO, E. Cupins: o desafio do conhecimento. São
Paulo, 1998. p. 163-172.
PRECETTI, A.A.C.M. & ARRIGONI, E.B. Aspectos bioecológicos e controle do besouro
Sphenophorus levis Vaurie, 1978 (Coleoptera, Curculionidae) em cana-de-açúcar. Boletim
Técnico Copersucar – Edição Especial, 1990. 15p.
PRECETTI, A.A.C.M. & TERAN, F.O. Gorgulhos da cana-de-açúcar, Sphenophorus levis Vaurie,
1978, e Metamasius hemipterus (l., 1765) (Col., Curculionidae). In: COPERSUCAR: Reunião
Tëcnica Agronômica: Pragas da Cana-de-açúcar. São Paulo, 1983. p.32-37.
TÉRAN, F. O.; NOVARETTI, W. R. T.; KASTEN JR., P. Migdolus spp. e insetos associados. In: In:
REUNIÃO TÉCNICA AGRONÔMICA: PRAGAS DA CANA-DE-ÇUCAR, 1., 1983, Piracicaba,
Anais...Piracicaba: Copersucar, 1983a. p. 25-31.
TERÁN, F. O.; NOVARETTI, W. R. T.; KASTEN JR., P; ARRIGONI, E. B.; MATOS, C. A. O.
Migdolus spp. e insetos associados. In: SEMINÁRIO DE TECNOLOGIA AGRONÔMICA, 2.,
1984. Piracicaba. Anais... São Paulo: Copersucar, 1984. p. 313-326.
Top Related