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  • PASCHOALIN FILHO ET AL. (2013)

    HOLOS, Ano 29, Vol. 6 73

    MANEJO DE RESDUOS DE DEMOLIO GERADOS DURANTE OBRAS DA ARENA DE FUTEBOL PALESTRA ITLIA (ALLIANZ PARQUE) LOCALIZADA NA CIDADE DE SO

    PAULO/BRASIL

    Joo Alexandre Paschoalin Filho1, Antonio Jose Guerner Dias, Pedro Luis Cortes e Eric Brum Lima Duarte E-mail: [email protected]

    Artigo submetido em julho/2013 e aceito em dezembro/2013

    RESUMO Com o incremento do crescimento econmico brasileiro e, por consequncia, do nvel de atividade da construo civil, a gerao de resduos provenientes deste setor consiste em um importante problema a ser sanado. Formas de reaproveitamento destes resduos, muitas vezes na composio de novos materiais, e o desenvolvimento de modelos e ferramentas de gesto tm sido a tnica de diversos trabalhos apresentados ao meio tcnico no intuito de se mitigar os efeitos causados pelo impacto da construo civil no meio ambiente, tanto natural, quanto urbano. Contudo, a ausncia de polticas pblicas objetivas que considerem como problema real a gerao, manuseio e deposio destes

    resduos ainda se constituem como importantes empecilhos na adoo de prticas de sustentabilidade. Este trabalho apresenta os aspectos gerais do manejo de resduos gerados por operaes de demolio das obras de reforma da Arena Palestra Itlia (Allianz Parque) localizada na cidade de So Paulo por meio de atividades de reciclagem e reuso destes materiais no canteiro das obras. Atravs dos parmetros obtidos pde-se observar que os resduos produzidos foram predominantemente do tipo Classe A. A gesto dos resduos produzidos na obra proporcionou ganhos econmicos significativos, uma vez em que foram reduzidos custos de transporte e aquisio de matrias primas naturais.

    PALAVRAS-CHAVE: Resduos de construo civil; impactos ambientais; plano de manejo de resduos; reuso; sustentabilidade.

    WASTE MANAGEMENT OF DEMOLITION WORKS CREATED DURING THE PALESTRA ITLIA FOOTBALL ARENA (ALLIANZ PARK) LOCATED IN THE CITY OF SO PAULO/BRAZIL

    ABSTRACT With the increase of Brazilian economic growth and, consequently, the level of construction activity, the generation of residues from this sector is an important problem to be solved. Alternatives to recycle these residues, often in the composition of new materials, and developing models and management tools have been studied in several papers presented to the technical means in order to mitigate the effects caused by the impact of construction on the environment. However, the absence of public policies that consider the generation, handling and disposal of these wastes as a real problem, are still the biggest obstacle in the

    adoption of sustainable practices. This paper presents the general aspects of the management of waste generated by construction operations and demolition works to reform the Palestra Italia Arena (Allianz Parque) in the city of So Paulo by means of activities of recycling and reuse of these materials on the construction site of the works. The management of the demolition wastes produced in the construction work allowed significant economic gains, reducing transportation costs and acquisition of natural raw materials. The great part of the total amount of waste produced could be characterized as Class A.

    KEYWORDS: Civil construction wastes; environmental impacts; reuse; waste management plan; sustainability.

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    MANEJO DE RESDUOS DE DEMOLIO GERADOS DURANTE OBRAS DA ARENA DE FUTEBOL PALESTRA ITLIA (ALLIANZ PARQUE) LOCALIZADA NA CIDADE DE SO PAULO/BRASIL

    1 INTRODUO

    Nos centros urbanos, responsveis por agregar a maior parte da populao, so muitos os sinais de impactos ao meio ambiente provocados pelo homem. O ritmo imposto pelo crescimento econmico aos diversos setores da cadeia produtiva e o consumo, cada vez mais barato e intenso, tm causado a gerao de vultosas quantias de Resduos Slidos Urbanos (RSU). De uma forma geral, dentre os resduos que compem a massa de RSU gerada diariamente, grande parte destes se devem queles provenientes de atividades ligadas construo civil. O crescimento deste setor, que fortemente alavancado pelo panorama econmico e a necessidade de se atender aos dficits habitacionais e de infraestrutura, tambm responsvel por uma considervel pegada ambiental, quer seja pela crescente demanda por matrias primas naturais, ou pela gerao de resduos durante a demolio de edifcios antigos ou execuo novas obras.

    Apesar de a construo civil ser considerada como um dos setores produtivos que mais causa impactos no meio ambiente, tanto urbano, quanto natural; este tambm pode ser caracterizado como um dos elos da cadeia produtiva que mais investe em inovao tecnolgica e desenvolvimento de ferramentas de gesto e manejo de seus resduos.

    Devido aos grandes volumes gerados, os resduos de construo e demolio tm merecido especial ateno de pesquisadores que buscam no apenas reduzir sua gerao, mas tambm viabilizar a sua reutilizao, reciclagem e manejo sustentvel, buscando incrementar nestes materiais valor agregado de mercado.

    Alm de reduzir a demanda por recursos naturais, a utilizao de resduos de construo e demolio em novas obras ajuda a resolver o problema da destinao desses materiais. Ressalta-se que uma considervel parte dos resduos gerados por pequenas obras so muitas vezes depositados em reas irregulares e, mesmo as grandes obras, que promovem a destinao de seus resduos de forma correta, tambm encontram dificuldades e encontrar reas devidamente preparadas e legalizadas para deposit-los.

    Dessa forma, pretende-se com esta pesquisa apresentar um estudo a respeito do manejo e gesto dos resduos de gerados durante as operaes de demolio da Arena de Futebol Palestra Itlia, atualmente denominada Allianz Parque, localizada na cidade de So Paulo/Brasil. objeto de estudo deste artigo apresentar a caracterizao e os volumes de resduos gerados, a destinao destes e a economia conseguida pela aplicao de ferramentas simples de gesto e reuso dos resduos na prpria obra.

    2 REFERENCIAL TERICO

    2.1 A indstria da construo civil e a gerao de resduos

    A indstria da construo civil tambm responsvel por um consumo considervel de recursos naturais no renovveis, uma vez que muitos dos insumos utilizados na produo dos materiais de construo so obtidos pela extrao em jazidas naturais para atender demanda de mercado. De acordo com Segantini & Wada (2011) a construo civil uma atividade geradora

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    de grandes volumes de resduos, tendo como consequncia enormes desperdcios de materiais nobres, como areia, pedra, madeira e cimento, entre outros. De acordo com Ulsen et al. (2010), cerca de 90% da massa total de resduos de construo e demolio (RCD) gerada no Brasil e na Europa composta por concretos, argamassas, solo e gesso.

    Silva & Fernandes (2012), apontam que o setor da indstria da construo civil consome cerca de 50% de todos os recursos naturais alm de gerar volume elevado de resduos; cerca de 60% do lixo que produzido diariamente nas cidades tem origem do setor da construo civil. Alm dos impactos causados pelo extrativismo, a construo civil tambm arca com o nus de impor ao meio ambiente, outras formas de agresso, tais como: poluio do ar, poluio sonora, contaminao de solo, gerao de resduos etc. John & Agopyan (2000), comentam que a quantidade de resduos de construo e demolio gerada por habitante no Brasil varia entre 230 e 660 kg/hab/ano. De acordo com dados da Associao Brasileira das Empresas de Limpeza Pblica e Resduos Especiais (ABRELPE, 2012) a quantidade per capta de resduos de construo e demolio coletada, comparando-se os anos de 2010 e 2011 cresceu aproximadamente 7%, ou seja, de 0,618 kg/hab/dia para 0,656 kg/hab/dia. Este incremento correspondeu a uma massa adicional de 7.195 toneladas/dia recolhida. Ainda segundo a ABRELPE (2012), a regio Centro-Oeste destacou-se como aquela que apresenta o maior ndice de coleta de resduos de construo e demolio per capta, aproximadamente 0,966 kg/hab/dia. Dentre as regies prospectadas, a regio Norte apresentou o menor ndice de coleta, ou seja, apenas 0,330 kg/hab/dia. No municpio de So Paulo, o mais populoso do Brasil, a Prefeitura Municipal contabilizou em 2000 a partir dos dados obtidos por John& Agopyan (2000) aproximadamente 280 kg/hab/ano. Schneider (2003) contabilizou cerca de 490 e 499 kg/hab. Em 2008 foram gerados cerca de 6 milhes de toneladas de RCD em So Paulo, o que equivale a uma taxa per capta de 520 kg/hab naquele ano. Para o Brasil, as estimativas de John & Agopyan (2000) conduziram a valores entre 230 kg/hab/ano e 760 kg/hab/ano com valor mdio equivalente a 510 kg/hab/ano.

    2.2 Classificao dos Resduos de Construo e Demolio

    De acordo com a resoluo CONAMA no307 (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e 5 de julho de 2002, os resduos de construo e demolio recebem a seguinte denominao: Resduos da construo civil: so os provenientes de construes, reformas, reparo de demolies de obras de construo civil, e os resultantes da preparao e da escavao de terrenos, tais como: tijolos, blocos cermicos, concreto em geral, solos, rochas, metais,resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfltico, vidros, plsticos, tubulaes, fiao eltrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, calia ou metralha.

    Ainda, segundo a resoluo CONAMA no 307/2002, os resduos de construo e demolio podem ser classificados em quatro grupos. Em 2004, em complementao resoluo CONAMA no307/2002, foi elaborada a resoluo CONAMA no 348/2004, na qual foi includo o amianto como pertencente classe de resduos perigosos. O Quadro 1 apresenta a classificao dos resduos de construo de acordo com a resoluo CONAMA no431/2011, que alterou a classificao apresentada na resoluo CONAMA no307/2002, alterando a classificao do Gesso de Classe C para Classe B.

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    Quadro 1 Classificao dos resduos de construo de acordo a resoluo CONAMA no431/2011.

    Classe Origem Tipo de resduo

    Classe A So os resduos reutilizveis ou

    reciclveis como agregados.

    De pavimentao e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de operaes de terraplenagem.

    Da construo, demolio reformas e reparos de edificaes (componentes cermicos, tijolos, blocos, telhas e placas de

    revestimento, concreto e argamassa).

    Classe B Resduos reciclveis com outras

    destinaes. Plsticos, gesso, papel, papelo, metais, vidros, madeiras e

    outros.

    Classe C

    Resduos para os quais ainda no foram desenvolvidas

    tecnologias ou aplicaes que permitam a sua reciclagem ou

    recuperao.

    No especificado pela resoluo

    Classe D

    Resduos perigosos oriundos de processo de construo.

    Tintas, solventes, leos, amianto.

    Aqueles contaminado, oriundos de demolies, reforma e

    reparo, enquadrados como classe I na NBR10004.

    Clnicas radiolgicas, instalaes industriais e outros.

    Fonte: Resoluo CONAMA no431/2011

    Anteriormente a promulgao da Resoluo CONAMA n 307/2002, o Brasil dispunha da Norma Brasileira denominada de NBR 10.004 -Resduos Slidos Classificao, publicada pela Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT) no ano de 1987, que servia referncia quanto classificao dos resduos slidos. Aps a entrada em vigor da Resoluo CONAMA no307/2002 a NBR 10.004 de 1987 sofreu uma reviso e foi publicada novamente no ano de 2004 com alteraes, complementaes e atualizaes que vinham de encontro com as questes ambientais e o desenvolvimento sustentvel em discusso desde a sua primeira publicao. De acordo com a NBR 10.004/2004, os resduos de construo civil so classificados como inertes, ou seja, Classe II-B, uma vez que estes no apresentam constituintes que quando solubilizados afetem os padres de potabilidade da gua.

    2.3 Destinao Final dos Resduos de Construo e Demolio

    De acordo com o artigo 10 da resoluo CONAMA no 307/2002, os resduos de construo civil devero ser destinados de acordo com o descrito no Quadro 2

    Quadro 2 Destinao do RCD de acordo com a resoluo CONAMA no 307/2002

    Classe Destinao

    Classe A Devero ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados, ou encaminhados a

    reas de aterro de resduos da construo civil, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilizao ou reciclagem futura.

    Classe B Devero ser reutilizados, reciclados ou encaminhados a reas de armazenamento

    temporrio, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilizao ou reciclagem futura.

    Classe C Devero ser armazenados, transportados e destinados em conformidade com as

    normas tcnicas especficas.

    Classe D Devero ser armazenados, transportados, reutilizados e destinados em conformidade

    com as normas tcnicas especficas.

    Fonte: Resoluo CONAMA no 307/2002

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    De acordo com o artigo 5 da resoluo CONAMA no 307/2002 funo de Municpios e do Distrito Federal a elaborao de um Plano Integrado de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil. Neste plano devero ser incorporados os seguintes itens: a) Programa Municipal de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil e b) Projetos de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil.

    O artigo 6 da resoluo CONAMA no 307/2002 informa que o Plano Integrado de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil dever ser composto por:

    I. As diretrizes tcnicas e procedimentos para o Programa Municipal de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil e para os Projetos de Gerenciamento de Resduos da Construo Civil a serem elaborados pelos grandes geradores, possibilitando o exerccio das responsabilidades de todos os geradores.

    II. O cadastramento de reas, pblicas ou privadas, aptas para recebimento, triagem e armazenamento temporrio de pequenos volumes, em conformidade com o porte da rea urbana municipal, possibilitando a destinao posterior dos resduos oriundos de pequenos geradores s reas de beneficiamento;

    III. O estabelecimento de processos de licenciamento para as reas de beneficiamento e de disposio final de resduos;

    IV. A proibio da disposio dos resduos de construo em reas no licenciadas; V. O incentivo reinsero dos resduos reutilizveis ou reciclados no ciclo produtivo;

    VI. A definio de critrios para o cadastramento de transportadores; VII. As aes de orientao, de fiscalizao e de controle dos agentes envolvidos;

    VIII. As aes educativas visando reduzir a gerao de resduos e possibilitar a sua segregao.

    De acordo com os itens II IV citados anteriormente, de responsabilidade do municpio a disponibilizao de reas adequadas para destinao dos resduos de construo e demolio, alm de aes de fiscalizao quanto deposio inadequada destes resduos. Entretanto, o que ocorre muitas vezes que grandes volumes de entulho so depositados diariamente em locais no adequados em diversos municpios brasileiros, configurando-se esta situao em cena comum na rotina dos cidados. Ressalta-se que a prtica de deposio destes resduos em tais reas, alm de imprpria ilegal.

    Segundo Paschoalin Filho & Graudenz (2012) Os resduos de construo dispostos irregularmente poluem o solo, degradam paisagens e constituem em grave ameaa sade coletiva. O acmulo destes resduos torna-se nicho ecolgico de diversas espcies de agentes patognicos, tais como roedores, baratas, moscas, vermes, pernilongos, fungos, vrus, animais entre outros. Estes vetores biolgicos podem ser responsveis pela transmisso de doenas respiratrias, epidrmicas, viroses, intestinais etc.

    Os resduos provenientes das atividades de demolio e construo, em funo de sua constituio fsica e volume, apresentam dificuldades para a destinao final. Esses no so aceitos em aterros sanitrios e geralmente so acondicionados no meio ambiente urbano sob a forma de caambas. Embora a responsabilidade pela destinao correta dos resduos seja do gerador (pblico ou privado) de acordo com a resoluo CONAMA no 307/2002, alguns geradores no respeitam essa determinao, causando situaes de deposio desse material em vias pblicas, terrenos baldios ou a beira de crregos. Essa degradao da paisagem urbana estimula a criao de pequenos lixes a cu aberto que contribuem para a proliferao de vetores de doenas e o entupimento dos sistemas de drenagem. (PASCHOALIN FILHO & GRAUDENZ, 2012).

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    2.4 Pesquisas sobre reciclagem e reuso dos resduos de construo e demolio

    O setor da construo civil, apesar de ser um setor que necessita de muita matria prima, consiste em dos setores produtivos que mais aproveita os seus resduos, transformando-os assim em subprodutos. Dentro da construo civil, a confeco de concretos o setor que mais consome agregados, entretanto este segmento pouco utiliza os agregados reciclados. Segundo Souza et al. (2008) a reciclagem e o reaproveitamento dos RCD tem se destacado como alternativas ligadas aos conceitos de sustentabilidade, embutindo valor econmico nos materiais descartados nas obras de engenharia. Desta forma atribuda a estes resduos a condio de material nobre, ao invs de simplesmente lan-los ao meio ambiente.

    Em 2012 o SINDUSCON/SP (Sindicato da Construo Civil do Estado de So Paulo) publicou os resultados de um estudo realizado em suas filiais por todo Estado de So Paulo, totalizando 348 municpios. Tal estudo teve por objetivo verificar a situao dos municpios e das obras civis em relao ao manejo e gerenciamento dos resduos de construo gerados. As Figuras 2 e 3 apresentam a porcentagem de empresas que declararam reciclar e que reutilizar os resduos de construo em suas obras.

    Figura 2. Porcentagem de empresas consultadas que reciclam os resduos em suas obras. Fonte: Sinduscon (2012)

    Figura 3. Porcentagem de empresas consultadas que reutilizam resduos em suas obras. Fonte: Sinduscon (2012)

    Observando-se a Figura 2 nota-se que maior parte das empresas consultadas (20%) reciclam em suas obras resduos de Classe B (Plsticos, papel, papelo, metais, etc). Ressalta-se que mesmo sendo classificados como resduos Classe B e A respectivamente, a madeira e o concreto foram analisados a parte dada a grande representatividade destes nos resultados

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    obtidos. O SINDUSCON/SP (2012) tambm levantou quais os resduos de construo as empresas prospectadas sofriam as maiores dificuldades de manejo e reuso. Dentre vrios relatados destacaram-se como os mais citados pelas empresas: o Gesso (40%), os resduos Classe D (10%), as latas de tinta (8%) e os resduos qumicos (5%).

    Embora alguns municpios tenham problemas com a gesto dos RCD, eles constituem uma boa oportunidade de negcio (MELO et al., 2011). A anlise dos RCD em municpios do interior do estado de So Paulo efetuada por ngulo et al. (2011) mostrou a predominncia de resduos reutilizveis ou reciclveis como agregados, correspondendo a 91% em massa. Plsticos, papis, metais, vidros e madeiras representam 9%, no tendo sido verificados resduos perigosos nesse estudo.

    Os RCD so vistos ainda hoje pela sociedade como lixo que gera despesas, aumentando o custo final das obras. Porm, este lixo tem ganhado valor no mercado e o que antes era estorvo, est se tornando moeda de negociao em meio ao setor construtivo (SILVA & FERNANDES, 2008).O Quadro 4 sintetiza os usos mais frequentes para os resduos de construo e demolio, destacando as aplicaes encontradas na literatura.

    Quadro 4 Usos mais frequentes para os RCC no Brasil

    Tipo de Uso Brasil

    Agregados para concreto (Vieira & Molin, 2004)

    Produo de argamassa (Assuno et al, 2007)

    Em obras de pavimentao de estradas (como base ou sub-base) ou caladas

    (Ricci, 2007)

    Obras de drenagem. (Nunes et al, 2009)

    Estabilizao de encostas (Nunes et al, 2009)

    Em algumas etapas nas obras de construo de edifcios.

    (Nunes et al, 2009)

    Tijolos (incluindo aqueles produzidos com solo-cimento), telhas e blocos de concreto.

    (Ferraz & Segantini, 2004)

    Como material de preenchimento, recuperao topogrfica do terreno ou em terraplenagem.

    (Santos, 2007)

    Por meio do Quadro 4 pode-se observar que no Brasil o resduo de construo e demolio pode ser reciclado para a utilizao deste como agregado para concreto, na produo de argamassa e na manufatura de tijolos; ou tambm estes resduos podem ser reutilizados de maneira direta como material de base em obras de terraplenagem, em obras de drenagem, estabilizao de encostas ou como material de recuperao topogrfica.

    3 METODOLOGIA UTILIZADA

    Esta pesquisa possui como principal objetivo apresentar um estudo acerca do manejo de resduos produzidos durante as obras de demolio do Complexo Esportivo Arena Palestra Itlia, atualmente conhecida como Allianz Parque. Com isto pretende-se ressaltar a importncia da adoo de ferramentas de gesto sustentveis no reaproveitamento destes resduos por meio de sua reciclagem.

    Para a realizao deste trabalho e obteno dos parmetros necessrios foi conduzida uma pesquisa de campo na qual teve por objeto de ao o estudo, acompanhamento e o levantamento de dados gerados durante a execuo das obras de demolio da Arena Palestra Itlia, localizada na cidade de So Paulo.

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    De acordo com o procedimento de coleta de informaes, esse trabalho pode ser caracterizado como estudo de caso, uma vez que um objeto de pesquisa restrito foi selecionado. Esta pesquisa tambm pode ser classificada como descritiva, j que os fatos acompanhados durante a execuo das operaes de demolio foram registrados e interpretados sem que os pesquisadores interferissem em seu andamento.

    Os dados foram coletados a partir da consulta a documentos elaborados para fins de controle de sada dos resduos produzidos pelas operaes de demolio. Para tal foram utilizadas planilhas de controle de transporte de resduos (CTR) geradas a cada sada de resduo da obra. Por meio destas planilhas puderam-se quantificar os volumes descartados e os que remanesceram no empreendimento, bem como estimar os ganhos obtidos pelas operaes de reciclagem e reuso dos materiais, alm de possibilitar a verificao da economia em relao ao transporte e destinao dos resduos para reas adequadas e com a reduo de necessidade de importao de matria prima natural.

    A emisso do CTR obrigatria pela Legislao Federal e serve como controle para a destinao dos resduos gerados. Ressalta-se que os resduos gerados somente podero ser recebidos nos locais de destino mediante a apresentao do CTR, pois por meio deste documento possvel apurar o local de gerao, a empresa transportadora, a quantificao e o tipo do resduo encaminhado.

    4 RESULTADOS E DISCUSSES

    4.1 Caracterizao do Local em Estudo

    A obra, objeto de estudo desta pesquisa, consiste nas operaes de demolio ocorridas entre Janeiro e Dezembro de 2011 necessrias construo da Arena Palestra Itlia, atualmente denominada Allianz Parque, localizada no bairro da gua Branca, Municpio de So Paulo/SP e inserida nos limites da Subprefeitura da Lapa. A Figura 4 apresenta a localizao da rea em estudo.

    Figura 4. Localizao do Complexo Esportivo Arena Palestra Itlia antes da demolio. Fonte: Google Earth (2013)

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    O projeto prev a transformao do espao em um plo de atividades esportivas, alm de contar com um centro de convenes, museu, estacionamento entre outras dependncias.O estdio de futebol possuir capacidade para 40.000 expectadores sentados em arquibancadas cobertas e descobertas atendendo as Normas Tcnicas Oficiais NTO e tambm as normas estabelecidas pela Fdration Internacionale de Football Association FIFA. Este possuir dois subsolos, um pavimento trreo e seis com rea aproximada de 80 mil m. A Figura 5 apresenta uma fotografia da maquete da obra aps sua concluso.

    Figura 5. Maquete da obra finalizada. Fonte: Os Autores

    4.2 Caracterizao e manejo dos Resduos de Demolio gerados na obra

    Os resduos de demolio produzidos no local em estudo foram identificados como sendo tpicos daqueles encontrados em obras que envolvem, em sua primeira fase, demolio das construes existentes para a construo das novas edificaes. Estes so geralmente compostos, em sua maioria, de resduos cimentcios, cermicos, madeira, papel e metlicos, oriundos de estruturas de concreto, torres de iluminao e coberturas. Foram tambm verificados in loco, em menores quantidades, resduos orgnicos provenientes de podas e remoo de arvores. Os resduos gerados puderam ser classificados como Classe A, o que, segundo a resoluo CONAMA no307/2002, consiste nos seguintes materiais: concreto, argamassa, alvenaria, solo, tijolo, telhas; e Classe B, ou seja, plsticos, papel, papelo, metais, vidros, madeiras e outros. Ressalta-se que grande parte dos resduos gerados foi resultado da demolio da antiga estrutura do estdio, necessria para as obras de ampliao e modernizao do local. A Figura 6 apresenta o aspecto de uma das arquibancadas aps as operaes de desmonte.

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    Figura 6. Aspecto da arquibancada aps operao de desmonte. Fonte: Os Autores

    Aps a demolio das arquibancadas os resduos provenientes desta operao foram transportados para uma usina mvel de britagem com capacidade de reciclagem de 400m3/hora, que foi instalada junto ao canteiro de obras, a fim de facilitar a logstica de transporte dos materiais. A adoo de uma usina mvel in loco teve por finalidade facilitar e agilizar o processo de triturao dos resduos deixando-os na granulometria desejada para posteriormente serem reutilizados na prpria obra. A usina mvel era composta por um alimentador e uma unidade de britagem, que pode ser instalada em uma plataforma e ser deslocada at o canteiro da obra. As Figuras 7 e 8 apresentam a usina mvel em operao.

    Figura 7. Usina mvel em operao. Fonte: Os Autores

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    Figura 8. Usina Mvel utilizada. Fonte: Os Autores

    Os resduos reciclados in loco por meio da utilizao da usina mvel foram reaproveitados na obra nas seguintes funes: a) utilizao como base de pavimento, b) agregado para produo de argamassa e concreto no estrutural, c) aterro, e d) obras de drenagem superficial e profunda. Ressalta-se que o reuso dos resduos, gerados na prpria obra, diminuiu significativamente a necessidade de aquisio de matrias primas, alm de reduzir os custos de transporte e deposio destes resduos em reas apropriadas. A Figura 9 apresenta o aspecto das pilhas de materiais reciclados pelas usinas mveis.

    Figura 9. Pilha de materiais reciclados pela usina mvel. Fonte: Os Autores

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    Desde o incio das obras de demolio, de acordo com as aferies efetuadas in loco, constatou-se que a maior parte do volume de resduos gerados era proveniente de obras de terraplenagem, escavao e movimentao de solo em geral. Este volume atingiu o seu pico mximo entre os meses de maro e abril de 2011, chegando a um valor de 11.586 m3, enquanto que a magnitude do volume composto pelos demais resduos (Classe A, Classe B) atingiu, em seu mximo nvel, 1.419 m3 no ms de maio, ou seja, inferior a 12% em relao ao volume gerado pela movimentao de terra. A Figura 10 apresenta a evoluo dos volumes gerados de solo e dos demais resduos produzidos na obra no perodo compreendido entre janeiro e dezembro de 2011. Deve ser salientado que mesmo pertencendo a Classe A de resduos, o solo proveniente das operaes de escavao e terraplenagem foi considerado a parte em funo dos grandes volumes observados em campo.

    Figura 10. Volume de Resduos gerados durante Janeiro e Dezembro de 2011. Fonte: Os Autores

    Por meio da Figura 10 apresentada pode-se observar que no perodo compreendido, a magnitude do volume de solo removido foi sempre superior ao volume dos demais tipos de resduos produzidos uma vez foram realizadas in loco predominantemente atividades de escavao e terraplenagem. Entretanto, ressalta-se que no ms de agosto, houve uma reduo significativa do volume de solo removido. Tal fato pode ser explicado em funo do cronograma da obra, uma vez que foram reduzidas as operaes de terraplenagem e escavao neste ms, causando a quase equivalncia deste com os volumes de resduos Classe A e B. A Figura 11 apresenta a distribuio dos resduos Classe B observados nas obras de demolio e seus volumes mensurados.

    0

    2000

    4000

    6000

    8000

    10000

    12000

    14000

    jan/11 fev/11 mar/11 abr/11 mai/11 jun/11 jul/11 ago/11 set/11 out/11 nov/11 dez/11

    Perodo

    Vo

    lum

    e g

    era

    do

    (m

    3)

    DEMOLIO Classe A e B SOLOS

  • PASCHOALIN FILHO ET AL. (2013)

    HOLOS, Ano 29, Vol. 6 85

    Figura 11- Distribuio do volume de resduos Classe B. Fonte: Os Autores

    Observando-se o grfico apresentado na Figura 11 pode-se notar que os resduos Classe B encontrados foram predominantemente: madeira, papel e metal. O mximo volume de madeira removido ocorreu em dezembro de 2011, atingindo um valor aproximado de 130m3. O volume de metal atingiu seu pico mximo em maio de 2011, ou seja, apresentando um valor prximo a 130m3 (mesmo valor observado para a madeira). O papel, durante todo o perodo mensurado, sempre apresentou a menor ocorrncia volumtrica quando comparado aos demais resduos (madeira e metal). O volume de papel mximo atingiu em junho de 2011 aproximadamente 30 m3, ou seja, 23% do mximo valor observado para os demais resduos. A Figura 12 apresenta uma comparao entre os volumes de resduos Classe A e Classe B produzidos entre janeiro e dezembro de 2011.

    Figura 12 Comparao entre volumes de resduos Classe A e Classe B. Fonte: Os Autores

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    140

    160

    jan/1

    1

    fev/

    11

    mar

    /11

    abr/

    11

    mai

    /11

    jun/

    11

    jul/1

    1

    ago/

    11

    set/1

    1

    out/1

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    11

    dez/

    11

    Perodo

    Vo

    lum

    e g

    era

    do

    (m

    3)

    Madeira m

    Papel m

    Metal m

    0

    2000

    4000

    6000

    8000

    10000

    12000

    14000

    jan/

    11

    fev/

    11

    mar

    /11

    abr/

    11

    mai

    /11

    jun/

    11

    jul/1

    1

    ago/

    11

    set/

    11

    out/

    11

    nov/

    11

    dez/

    11

    Perodo

    Vo

    lum

    e g

    era

    do

    (m

    3)

    Classe A

    Classe B

  • PASCHOALIN FILHO ET AL. (2013)

    HOLOS, Ano 29, Vol. 6 86

    O grfico apresentado na Figura 12 demonstra que volume de resduos Classe A sempre foi superior ao volume de resduos Classe B. Tal fato pode ser explicado em funo dos elevados volumes de gerados pelas obras de escavao e terraplenagem, uma vez que o solo constitui-se em um resduo Classe A. De uma forma geral, foi produzido um volume total aproximado de resduos, entre janeiro e dezembro de 2011 de 75.200m3, somando-se os pertencentes s Classes A e B. Desse volume, salienta-se que a grande parte consistiu em solo removido por meio das operaes de terraplenagem. A Tabela 2 a seguir apresenta o percentual de ocorrncia de cada tipo de resduo observado na obra.

    Tabela 2. Volumes totais de resduos produzidos em obra

    Tipo de Resduo Volume total (m3) Porcentagem de ocorrncia

    Papel 210 0,28%

    Madeira 130 0,17%

    Metal 478 0,64%

    Solo 70.880 94,25%

    Cimentcios (argamassa e concreto)

    3.495 4,66%

    Fonte: Os Autores

    4.3 Destinao dos resduos gerados

    De um total de 75.200 m3 de resduo gerado foram descartados aproximadamente 20.860 m3, o que equivale a 28% do total produzido. Dessa maneira, entende-se que 72%, o que equivale a 54.340m3, foram desviados de aterro. A Tabela 3 demonstra os volumes reutilizados e descartados na obra em estudo.

    Tabela 3. Volumes totais de resduos produzidos em obra

    Tipo de Resduo Volume total

    (m3)

    Volume reutilizado em

    obra

    Porcentagem de volume reutilizado

    Volume descartado(m3)

    Porcentagem de volume descartado

    Papel 210 0,0 0,0% 210 100%

    Madeira 130 0,0 0,0% 130 100%

    Metal 478 0,0 0,0% 478 100%

    Solo 70.880 51.415,4 72,6% 19.464,6 27,4%

    Cimentcios (argamassa e

    concreto) 3.495 2.920,8 83,6% 574,2 16,4%

    Fonte: Os Autores

    Do volume total de solo removido, aproximadamente 72,6% foi reaproveitado em obra, o restante (27,4%) foi destinado para obras localizadas nas proximidades, no intuito deste material ser tambm nestas reutilizado. Tal situao tambm ocorreu com os resduos cimentcios, sendo o volume reutilizado na ordem de 83,6% do total gerado, o que equivale a 2.920,8m3. Este material foi reutilizado na obra em estudo principalmente como base ou como reforo do pavimento local. O excedente, aproximadamente 16,4%, foi destinado para reuso em outras obras. Os resduos correspondentes aos metais, papel e madeira no foram reutilizados na obra, sendo o volume total destes, 818m3, encaminhado para unidades de reciclagem.

    4.4 Economia gerada pelo manejo dos resduos produzidos

    Conforme comentado anteriormente, a maior parte dos resduos gerados pelas operaes de demolio consistiu em resduos de Classe A, sendo que o solo se apresentou em maiores

  • PASCHOALIN FILHO ET AL. (2013)

    HOLOS, Ano 29, Vol. 6 87

    volumes. Na Tabela 4 so apresentadas estimativas de reduo no custo final de deposio do solo em reas apropriadas e a economia gerada por meio do reuso deste em obra.

    Tabela 4. Economia gerada pelo reaproveitamento de solo em obra

    Tipo de Resduo

    Massa total gerada (ton)

    Massa de resduo

    reutilizado (ton)

    Massa de resduo

    descartado (ton)

    Reduo de custo com

    destinao e deposio final

    Economia devido ao

    reuso (R$/ton)

    Solo 85.056,0 61.698,5 23.357,5 27% 55,0

    Fonte: Os Autores

    De acordo com o apresentado pode-se verificar que o reuso de grande parte do solo removido em obra gerou uma reduo no custo de destinao final de 27% comparando-se a situao em que fosse necessria a destinao de todo volume de solo gerado. O reuso deste material, alm de possibilitar menor custo no descarte, tambm proporcionou uma economia em relao a necessidade de importao de material de jazida natural para execuo da regularizao topogrfica necessria a obra. De acordo com a Tabela 4 nota-se que a economia gerada situou-se em R$55,00/tonelada de material utilizado em obra.

    Em relao aos materiais cimentcios, uma parte do volume gerado foi reutilizada na prpria obra, sendo que a outra foi destinada a reas apropriadas de descarte ou para obras prximas. A destinao destes materiais ocorreu por meio da utilizao de caambas metlicas cadastradas com capacidade de 5m3 cada uma. Entretanto, antes da deposio destes materiais nas caambas foi realizada a segregao destes de forma a separar os resduos cimentcios de demais heterogeneidades tais como: matria orgnica e resduos de outras classes. A Tabela 5 apresenta a quantidade de caambas utilizadas para o descarte destes resduos e a economia que se obteve com a segregao preliminar destes antes de serem armazenados nas caambas e posteriormente destinados aos aterros.

    Tabela 5. Reduo de custo de caamba gerado pela segregao de material cimentcios

    Tipo de Resduo Volume total de

    material descartado (m3)

    Quantidade de caambas de material

    descartado

    Economia com segregao de material

    em caamba (R$/m3)

    Cimentcios 574,2 115 44,00

    Fonte: Os Autores

    Observando-se as informaes apresentadas na Tabela 5 nota-se que foram utilizadas 115 caambas para o descarte dos resduos de materiais cimentcios gerados pelas obras de demolio. Percebe-se tambm que a economia com a segregao dos materiais preliminarmente ao seu descarte possibilitou uma economia de R$44,00/m3. Tal fato pode ser explicado uma vez que a empresa transportadora da caamba cobra um adicional de 42% em cada caamba que contenha material heterogneo. Dessa forma, a simples operao de segregao dos resduos antes de sua deposio final conduziu a uma economia significativa.

    A poro de resduos cimentcios que no foi destinada aterros foi reutilizada em obra na execuo de camadas de base de pavimento e na confeco de argamassa e concreto no estrutural. Conforme anteriormente apresentado, para possibilitar este reuso, os resduos foram britados em uma usina mvel instalada no canteiro de obras. A Tabela 6 apresenta a economia gerada pela reciclagem e reuso destes resduos na obra em estudo.

  • PASCHOALIN FILHO ET AL. (2013)

    HOLOS, Ano 29, Vol. 6 88

    Tabela 6. Reduo de custo com reciclagem e reutilizao em obra

    Tipo de Resduo Volume total de

    material reutilizado (m3)

    Quantidade de caambas de material

    reutilizado

    Economia com reciclagem e

    reutilizao em obra (R$/m3)

    Cimentcios 2920,8 584 55,00

    Fonte: Os Autores

    Por meio da Tabela 6 nota-se que ao total foi reutilizado um volume de 2920,8 m3 de resduos cimentcios, o que equivaleria a necessidade de 584 caambas caso este volume fosse descartado. Verifica-se tambm que a economia com a reciclagem e o reuso deste resduo em obra conduziu a um valor equivalente a R$55,0/m3. Ressalta-se que para este clculo foi considerada a no necessidade de transporte para aterro, a mobilizao da usina mvel na obra e a reduo da necessidade de aquisio de matria prima virgem que foi substituda pelo agregado reciclado.

    Apesar de a maior parte dos resduos gerados pelas operaes de demolio consistir em resduos Classe A, tambm foi verificado um volume expressivo de resduos Classe B composto basicamente por madeira, metal e papel. Em relao a madeira, toda esta foi descartada em aterros adequados. Contudo os demais resduos, ou seja, papel e metais, foram vendidos para empresas recicladoras. A Tabela 7 apresenta o ganho econmico gerado por esta prtica.

    Tabela 7. Reduo de custo com segregao e reciclagem de metais

    Tipo de Resduo Volume total de descartado (m3) Ganho total

    R$/kg (segregao + reciclagem)

    Metais 478 2,5

    Papel 210 0,20

    Fonte: Os Autores

    Os resduos de metal e papelo tambm foram acondicionados em obra e posteriormente transportados para as empresas de reciclagem por meio de caambas metlicas registradas. Da mesma maneira que o ocorrido com os resduos cimentcios, o custo da caamba variou com o grau de heterogeneidade do material nela armazenado, dessa forma, foi novamente tomado o procedimento da segregao dos resduos antes de acondicion-los nas caambas. O volume total descartado foi equivalente a 138 caambas com capacidade de 5m3. Dessa maneira, o ganho total com cada resduo foi de R$2,50/kg de metal e R$0,20/kg de papel. Foram considerados nestes clculos a economia gerada pela segregao dos materiais e o preo de compra praticado pelas empresas de reciclagem que adquiriram os resduos, alm do custo de transporte a reas adequadas de descarte.

    5 CONCLUSO

    Com base na argumentao exposta neste artigo podem ser tomadas as seguintes concluses:

    a) O setor da construo civil destaca-se atualmente como um grande gerador de resduos slidos dentre os demais setores econmicos. Os resduos de construo e demolio gerados por este setor compem grandes percentuais na massa de resduos slidos urbanos (RSU) gerados em diversos municpios brasileiros. Este fato pode ser atribudo expanso que deste ramo da economia, necessidade constante de matria prima, ao grande desperdcio durante as

  • PASCHOALIN FILHO ET AL. (2013)

    HOLOS, Ano 29, Vol. 6 89

    obras e falta de polticas pblicas e objetivas que considerem esta situao como um problema a ser resolvido. Dessa maneira, este trabalho ressalta a importncia da adoo, por parte do setor de construo civil, de prticas de sustentabilidade que reduzam a necessidade de consumo de matria-prima e que otimize os processos produtivos no intuito de se reduzir o volume de desperdcios e, por conseqncia, a gerao de resduos.

    b) A reutilizao de resduos gerados pela construo civil consiste em uma importante ao de sustentabilidade, pois reduz por meio da reciclagem e reuso destes, os volumes gerados por este setor. A gerao de subprodutos, originados por esta logstica, permite tambm a utilizao racional dos insumos de construo, permitindo maior eficincia de utilizao (uma vez que mitiga desperdcios em obra) e reduz a necessidade de matria prima causando um menor impacto no meio ambiente.

    c) Os resduos gerados na obra em estudo foram predominantemente do tipo Classe A, sendo sua destinao final de acordo com o preconizado pela resoluo no307 do CONAMA (2002, 2004). Grande parte dos resduos gerados foi reutilizada em obra, o que possibilitou a reduo da necessidade de matria prima e volume de transporte. Dessa forma, pode-se afirmar que a prtica de reciclagem utilizada na obra em estudo consistiu em um exemplo de prtica de sustentabilidade na construo civil.

    d) A utilizao de ferramentas de gesto e manejo dos resduos de demolio gerados pela obra em estudo conduziu a ganhos econmicos significativos uma vez que foram reduzidos os custos envolvidos no transporte e descarte destes resduos bem como na reduo da necessidade de aquisio de matria prima virgem para a realizao de algumas fases da obra

    6 AGRADECIMENTOS

    Os autores agradecem o apoio recebido das seguintes instituies: Programa de Mestrado em Gesto Ambiental e Sustentabilidade (GeAs/Uninove), Universidade Nove Julho, W. Torre Engenharia e Construes S.A e ao Gerente de Qualidade e Meio Ambiente Joo Cabrera Neto.

    7 REFERNCIAS

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  • PASCHOALIN FILHO ET AL. (2013)

    HOLOS, Ano 29, Vol. 6 90

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