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"Nunca pronuncies estas palavras: "isto eu desconheço, portan-
to é falso". Devemos estudar para conhecer; conhecer para com-
preender; compreender para julgar".
-Aforismo de Narada."! muito mais coisas entre o céu e a terra, or!cio, do ue
imagina tua v# $loso$a".
-amlet.
%&'() *(&+&()
A*/0%) &
A/%1N/&DA, A (A&NA DA2 )NDA2
"*or ue n#o3" - perguntei a mim mesmo, parando no meio da neve damontanha, l! t#o alto so4re o mar ue o (ei da /empestade imperava
supremo, em4ora o ver#o reinasse l! em4ai5o. "*or acaso n#o sou um
atlante, um poseidano, e n#o é este nome sin6nimo de li4erdade, honra e
poder3 N#o é esta, minha terra natal, a mais gloriosa so4 o 2ol3 2o4
&ncal3" Novamente me inuiri: "por ue n#o3 *or ue n#o tentar tornar-me
um dentre os maiores de minha orgulhosa p!tria3"
"7irme est! a (ainha do +ar, sim, rainha do mundo, pois todas as
naç8es nos pagam tri4utos de honra e comércio, todas nos emulam.
9overnar *oseid, ent#o, n#o signi$ca governar toda a terra3 *ois tentarei
conuistar esse prmio, e o conseguirei tu, < p!lida e gélida %ua, s
testemunha de minha resoluç#o" -gritei em vo= alta, levantando as m#os
para o céu -"e tam4ém v>s, r?tilos diamantes do $rmamento".
2e é verdade ue o esforço resoluto assegura o 5ito, o fato é ue eu
sempre conseguia o ue me determinasse a alcançar. Ali ent#o, nauela
grande altitude, acima do oceano e do planalto ue se estendia para oeste
por duas mil milhas até aiphul, a idade (eal, $= meus votos. /#o
elevado era o local ue a4ai5o de mim havia picos e cadeias de montanhas
gigantescas, mas ue se apeuenavam diante do !pice onde eu me
encontrava.
@ minha volta estendia-se a neve eterna, mas eu n#o me importava. /#o
cheia de resoluç#o estava minha mente, do desejo de tornar-me poderoso
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na minha terra natal, ue nem sentia o frio. Na verdade, eu mal me dava
conta de ue o ar estava frio, gelado como as vastid8es !rticas do remoto
Norte.
BC+uitos o4st!culos teriam de ser superados no cumprimento do meu
desEgnio, pois uem era eu nauele instante3 Apenas o $lho de um
montanhs, po4re, sem pai, mas graças sejam dadas aos 7ados - n#o sem
m#e *ensar em minha m#e - a muitas milhas de distFncia, l! onde as
Gorestas perenes ondulam, onde raramente cai a neve, so=inha com a noite
e com o pensamento em mim - isso 4astou para me tra=er l!grimas aos
olhos, pois eu n#o passava de um menino ue muitas ve=es $cava tristeuando as di$culdades ue ela suportava vinham H sua lem4rança. ssas
reGe58es eram incentivos ue se acrescentavam H minha am4iç#o de ser e
agir.
De novo meus pensamentos se voltaram para as di$culdades ue eu
teria de enfrentar em minha luta pelo sucesso, pela fama e pelo poder.
AtlFntida, ou *oseid, era um império cujos s?ditos go=avam da
li4erdade concedida por um poder mon!ruico limitado. A lei geral de
sucess#o o$cial oferecia a todos os cidad#os do se5o masculino a
oportunidade de escolha para o cargo. ) pr>prio imperador tinha uma
posiç#o eletiva, assim como os seus ministros, o onselho dos Noventa ou
*rEncipes do (eino, cargos an!logos aos do 9overno da (ep?4lica
Americana, ue é seu legEtimo sucessor. 2e a morte chamasse o ocupante
do trono ou um de seus conselheiros, era acionado o sistema eletivo, mas
n#o em outros casos, a n#o ser demiss#o por m! conduta no cargo,
penalidade de ue nem o pr>prio imperador estava isento, caso incorresse
nessa grave falta.
Duas grandes divis8es sociais, a4rangendo todas as classes de pessoas
de am4os os se5os, estavam investidas no poder eletivo. ) grande
princEpio su4jacente H organi=aç#o polEtica de *oseid poderia ser descrito
como "um sistema de avaliaç#o educacional de cada votante, mas o se5o
do dono do voto n#o era da conta de ninguém".
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)s dois principais ramos sociais eram conhecidos pelos respectivos
nomes de "&ncala" e "Iioua", ou seja, os sacerdotes e os cientistas.
*erguntariam os leitores onde estaria a oportunidade ue cada s?dito
comum teria num sistema ue e5cluEa os artes#os, os comerciantes e osmilitares ue n#o $=essem parte das classes com direitos polEticos3
Jualuer pessoa tinha a opç#o de entrar no olégio das incias, no do
&ncal, ou em am4os. N#o havia consideraç#o de raça, cor ou se5o; o ?nico
pré-reuisito era ue
KL
candidato a admiss#o tivesse de=esseis anos de idade e uma 4oa educaç#o,
o4tida nas escolas comuns ou em cursos de colégios menos importantescomo o Iiouithlon na capital de alguns dos estados *oseidanos, por
e5emplo Numea, /erna, &dosa, orosa e mesmo o colégio menor de
+ar=eus, ue era o principal centro de arte manufatureira da AtlFntida. A
duraç#o do curso no 9rande Iiouithlon era de sete anos, de= meses a
cada ano, divididos em dois perEodos de cinco meses dedicados ao tra4alho
ativo, com um ms de férias ao $nal de cada perEodo. Jualuer estudante
podia competir nos e5ercEcios relativos aos e5ames anuais, reali=ados no
$m do ano ou nas vésperas do euin>cio de inverno. ) nosso
reconhecimento da lei natural da limitaç#o mental $ca >4vio ante o fato de
ue o curso de estudos era puramente opcional, $cando o estudante H
vontade para escolher os t>picos, muitos ou poucos, ue lhe fossem mais
agrad!veis, com a seguinte e necess!ria prescriç#o: somente os ue
possuEssem diplomas de primeira classe poderiam se candidatar a cargos
o$ciais, por mais modestos ue fossem. sses certi$cados comprovavam
um grau de aprendi=ado ue a4rangia uma variedade de conhecimentos
grande demais para ser mencionada, a n#o ser por inferncia, com o
prosseguimento da narrativa. ) diploma de segunda classe n#o
M onferia prestEgio polEtico, a n#o ser pelo fato de ue era acompa-
nhado do privilégio do voto e, em4ora ocorresse de uma pessoa n#o
desejar um cargo p?4lico nem votar, o direito H instruç#o em ualuer
ramo do conhecimento continuava a ser um privilégio gratuito. +as
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aueles, entretanto, ue s> aspiravam a uma educaç#o limitada, com o
prop>sito de e5ercer com mais 5ito determinada pro$ss#o comercial
-como instruç#o em mineralogia por um pretendente a mineiro, em
agricultura por um fa=endeiro, ou em 4otFnica por um jardineiro maisam4icioso - n#o tinham vo= no governo. m4ora o n?mero dos pouco
am4iciosos n#o fosse peueno, o estEmulo da o4tenç#o de prestEgio polEtico
era t#o grande ue um em cada do=e ha4itantes possuEa pelo menos um
diploma de segunda classe, enuanto um terço do total o4tinha diplomas
de primeira classe. Devido a isso, os eleitores n#o sofriam por falta de
pessoal para preencher todos os cargos eletivos do governo.
*ossivelmente ainda resta alguma d?vida na mente do leitor so4re ualseria a diferença entre os eleitores ou sufragistas sacerdo-lais e cientE$cos.
*ois 4em, a ?nica diferença essencial era ue o i urrEculo no &ncalithlon, ou
olégio dos 2acerdotes, além de todas as matérias adiantadas ministradas
no Iiouithlon, incluEa o estudo de um grande n?mero de fen6menos
ocultos e temas an-
K
tropol>gicos e sociol>gicos, para ue os formados nessas cincias tivessem
oportunidade de se prepararem para atender ualuer necessidade ue
homens de menos erudiç#o e menos compreens#o das grandes leis
su4jacentes da vida pudessem vivenciar em ualuer fase ou condiç#o. )
&ncalithlon era, na realidade, a mais elevada e completa instituiç#o de
ensino ue o mundo de ent#o conheceu ou - perdoe o leitor pelo ue
parece mas n#o é presunç#o atlante -ue poder! conhecer nos pr>5imos
séculos. m uma instituiç#o acadmica t#o superior, seus estudantes
deveriam forçosamente estar im4uEdos de e5traordin!rio =elo e
determinada vontade para tentar e conseguir certi$cados de formatura de
sua junta e5aminadora. Na verdade, 4em poucos tiveram um tempo de
vida su$cientemente longo para aduirir esse diploma; possivelmente,
nem um em cada uinhentos dos ue saEram honrosamente do
Iiouithlon, ue, por seu mérito, n#o $cava atr!s da moderna
0niversidade de ornell.
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nuanto eu assim ponderava, parado ali entre as neves da montanha,
decidi n#o visar muito alto, mas me determinei a ser um Iioua, se
houvesse a menor possi4ilidade. m4ora di$cilmente pudesse esperar
alcançar a eminncia conferida pelo tEtulo de &ncala, prometi a mimmesmo ue criaria a oportunidade de competir pelo outro tEtulo, se n#o se
apresentasse outra diferente. )4ter auela elevada distinç#o e5igiria, além
do !rduo estudo, a posse de amplos meios pecuni!rios para co4rir as
despesas de manutenç#o de minhas necessidades usuais e de um
ina4al!vel prop>sito. )nde eu poderia o4ter isso3 Acreditava-se ue os
deuses au5iliavam os necessitados. 2e eu, um rapa=inho ue ainda n#o
completara de=essete ver8es, ue tinha uma m#e ue dependia de mimpara as necessidades da vida, com nada ue pudesse me ajudar a alcançar
minhas aspiraç8es a n#o ser minha pr>pria energia e vontade, n#o pudesse
ser incluEdo nauela categoria, ent#o uem seria necessitado3 *areceu-me
ue n#o podia haver maior prova de dependncia e ue era claramente
apropriado ue os deuses me dispensassem seu favor.
/omado por reGe58es como esta, su4i ainda mais, para o topo do pico
ue apontava para o céu, perto da altura onde até ent#o me encontrara,
pois a aurora n#o estava distante e eu precisava estar na mais alta rocha
para saudar o grande &ncal Oo 2olP uando conuistasse Nava=, para ue
le, senhor de todos os signos manifestos do grande e ?nico verdadeiro
Deus, cujo nome usava, cujo escudo le era, pudesse ouvir minha prece
favoravelmente.
KB
2im, le devia ver ue o jovem suplicante n#o poupava esforços para
prestar-%he homenagem, pois fora auele o ?nico prop>sito para ue eu
ali tinha su4ido so=inho, em meio Huela solitu-de, seguindo para o alto
pela neve sem trilhas, so4 o domo estrelado do Armamento.
*erguntei a mim mesmo: "e5iste outra crença mais gloriosa do ue esta
ue é a do meu povo3 N#o s#o todos os *oseidanos adoradores do 9rande
Deus, a ?nica e verdadeira Divindade, representada pelo 4rilhante 2ol3
N#o pode haver nada mais santo c sagrado". Assim falou o jovem cuja
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mente em amadurecimento havia a4sorvido a religi#o e5otérica e
realmente inspiradora, mas ue n#o conhecia nenhuma outra mais
profunda e su4lime, nem iria conhecer nos dias da AtlFntida.
Juando o primeiro lampejo de lu= de tr!s de 2eu escudo irrompeuatravés do negro a4ismo da noite, atirei-me de 4ruços na neve do cume,
onde deveria permanecer até ue o Deus de %u= se Oornasse totalmente
vitorioso contra Nava=. A$nal o triunfo nt#o me levantei e, fa=endo
uma profunda reverncia $nal, voltei so4re os meus passos pelo temEvel
declive de gelo, neve e rocha nua, esta ?ltima negra e cruelmente
pontiaguda, com suas salincias so4ressaindo da capa 4ranca e gelada,
mostrando o dorso da montanha ue se elevava a tre=e mil pés acima donEvel do mar, formando um dos mais incompar!veis picos do glo4o.
Durante dois dias eu envidara ingentes esforços para alcançar o frEgido
pico e prostar-me, ual oferenda viva, em seu grandioso altar, para honrar
meu Deus. &ndaguei-me so4re se le teria me ouvido e notado minha
presença. m caso a$rmativo, teria le se importado3 /eria se importado
o su$ciente para ordenar ao 2eu vice-regente, o Deus da montanha, ue
me ajudasse3 2em sa4er por ue, olhei para este ?ltimo, esperando com o
ue pode parecer uma cega fatuidade, ue me revelasse alguma espécie de
tesouro ou. . .
+as o ue é esse 4rilho met!lico na rocha, cujo coraç#o meu 4ord#o de
alpinista com ponta de ferro havia desnudado para ser tocado pelos raios
do 2ol matinal3 )uro < &ncal Q mesmo ouro Amarelo e precioso ouro
"< &ncal" - gritei, repetindo 2eu nome - "louvado sejas por
responderes t#o depressa a /eu humilde peticion!rio"
KK
Ajoelhei-me ali mesmo na neve, desco4rindo a ca4eça em gratid#o ao
Deus de /odos os 2eres, o AltEssimo, cujo escudo, o 2ol derramava seus
gloriosos raios. nt#o novamente olhei para o tesouro. Ah, ue grande
riue=a ali se encontrava
*artindo em pedaços o uart=o com minhas pancadas e5citadas, vi ue
o precioso metal o mantinha coeso, t#o forte era o seu veio. As pontas
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agudas da pedra fr!gil cortaram minhas m#os, fa=endo o sangue escorrer
de v!rios lugares e, uando agarrei o uart=o ue havia me ferido, minhas
m#os ue sangravam congelaram-se so4re ela, formando uma uni#o de
sangue e riue=a N#o importa 2eparei a m#o da pedra com força,indiferente H dor, t#o e5citado me sentia.
"< &ncal" -e5clamei -"és 4ondoso para com /eu $lho, conce-dendo-lhe
com tanta li4eralidade o tesouro ue lhe permitir! reali=ar seu desejo antes
ue seu coraç#o tenha tempo para esmorecer de tanto esperar"
nchi meus grandes 4olsos com tudo ue podia carregar, escolhendo as
peças de uart=o aurEfero mais ricas e valiosas. omo marcar o local para
encontr!-lo em outra oportunidade3 *ara alguém nascido na montanha isson#o era difEcil e logo estava feito. nt#o segui para 4ai5o, para a frente,
para casa, com passo alegre, com o coraç#o leve, em4ora levasse uma
carga pesada. *or essas montanhas, na verdade a menos de duas milhas do
meu "pico do tesouro", serpenteava a estrada do imperador na direç#o do
grande oceano, a centenas de milhas, do outro lado da planEcie de
aiphalia. 0ma ve= alcançada essa estrada, a parte mais fatigante da
viagem teria sido reali=ada, em4ora apenas uma uinta parte da distFncia
total tivesse sido percorrida.
*ara dar uma idéia das di$culdades encontradas na escalada e descida
da gigantesca montanha, devo o4servar ue os ?ltimos cinco mil pés da
ascens#o s>" podiam ser galgados por uma ?nica e tortuosa rota. 0m
estreito des$ladeiro, uma simples $ssura vulcFnica, oferecia um apoio
muito prec!rio para os pés, sendo todas as outras escarpas intransponEveis.
sse apoio mEnimo e5istia nos primeiros mil pés. Acima desse ponto a
$ssura desaparecia. Juase na sua e5tremidade superior e5istia uma
peuena caverna, da altura de um homem e com espaço para talve= vinte
pessoas. No outro e5tremo desse recinto rochoso havia uma a4ertura,
KR
uma fenda mais larga no sentido hori=ontal ue no vertical. Ao insinuar-se
nessa fenda, arrastando-se como uma serpente, o e5plorador aventuroso
veria ue por v!rias centenas de passos teria de descer um declive
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acentuado, se 4em ue a fenda se alargasse aos primeiros do=e passos,
permitindo uma posiç#o mais ou menos vertical. Do $m de seu curso
descendente, ela faSia uma curva e novamente se alargava formando um
t?nel, su4indo em voltas tortuosas, com a parede oferecendo su$cienteapoio para Oornar a su4ida segura, em4ora fa=endo um Fngulo de cerca de
uarenta graus, enuanto em algumas partes um grau ainda maior ile
perpendicularidade marcasse a passagem. Dessa forma, uma su4ida de
cerca de tre=entos pés era reali=ada, com as sinuosida-iles do caminho
aumentando a distFncia ue seria percorrida no sentido vertical. sse,
leitor, era o ?nico meio de alcançar o pico ila mais alta montanha de
*oseid, ou AtlFntida, ue é como chamam o continente-ilha.*or mais !rdua ue fosse sua passagem, havia lugar mais ue su$ciente
na velha e seca chaminé, ou curso de !gua, fosse o ue fosse. om certe=a
tinha sido originalmente uma chaminé de vulc#o, em4ora tivesse sido t#o
desgastada pela !gua a ponto de tornar a idéia de sua formaç#o Egnea mera
conjetura. m determinado ponto, essa longa cavidade se alargava
formando uma vasta caverna. sta se distanciava da chaminé em Fngulo
reto para 4ai5o, cada ve= mais para 4ai5o, até ue nas entranhas da
montanha, a milhares de pés, pareceria na medonha escurid#o, a uem se
aventurasse t#o longe, estar na 4eira de um vasto a4ismo cujo ?nico lado
visEvel seria auele onde se encontrasse; além desse ponto, ualuer
progresso era impossEvel a n#o ser para entes dotados ile asas, como os
morcegos, mas destes n#o havia nenhum nauela terrEvel profunde=a.
Nenhum som jamais ecoou nesse assustador a4ismo, e nenhum 4rilho
de archote j! revelou seu outro lado; nada havia sen#o um mar de eterna
escurid#o. ontudo, ele nunca me trou5e terrores; antes, provocou minha
fascinaç#o. m4ora outros possam ter conhecido esse lugar, nunca
encontrei um companheiro com su$ciente temeridade para enfrentar o
desconhecido e $car ao meu lado em sua h>rrida 4eira, onde me encontrei
n#o uma e sim v!rias ve=es no passado. *or trs ve=es eu estivera ali,
impelido pela curiosidade. Na terceira ve= eu me curvara por so4re a
salincia de pedra, para tentar encontrar um possEvel meio de descer mais,
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uando o enorme 4loco de 4asalto se soltou, caiu, e esca-
KTP
pei por pouco de morrer. A pedra tom4ou e por v!rios minutos os ecos de
sua ueda me alcançaram; minha tocha caEra tam4ém e nas profunde=assuas faEscas 4rilharam como vagalumes toda ve= ue 4ateram em
projeç8es rochosas, até $nalmente desaparecer. 7iuei em completa
escurid#o, trmulo de susto, para fa=er o caminho de volta para cima e para
fora - se pudesse. 2e n#o conseguisse, ent#o era cair e morrer. +as tive
5ito. De ent#o em diante, perdi a curiosidade de e5plorar o desconhecido
inferno. u tinha passado muitas ve=es através da chaminé ue condu=ia
para a e5tremidade superior da a4ismai caverna, entre a parte superior da$ssura e5terna no penhasco e a lateral do pico, uinhentos ou seiscentos
metros a4ai5o do topo da montanha-, muitas ve=es tinha passado pelo
ponto onde a pancada incidental com meu 4ord#o revelou o tesouro, mas
nunca havia encontrado o precioso veio até ter feito auele pedido a &ncal,
impelido pelo peso premente de minhas necessidades. *oderia alguém
achar estranho eu sentir uma fé a4soluta na crença religiosa de meu povo3
u estava no interior da escura chaminé por onde tinha de passar depois
de dei5ar o pico nevado, saindo da lu= do 2ol e do ar fresco para as densas
trevas e a atmosfera ligeiramente sulfurosa-, mas se dei5ei a lu= matutina,
tam4ém dei5ei o terrEvel frio do ar e5terior, pois dentro do t?nel, em4ora
escuro, havia calor.
7inalmente cheguei ao peueno recinto no alto da $ssura, a mil pés, ue
me levaria aos deçlives mais suaves das partes média e inferior da
montanha. A $= uma pausa. Deveria voltar e tra=er mais uma carga da
rocha aurEfera3 )u deveria tomar diretamente o caminho de casa3
7inalmente voltei so4re meus passos. Ao meio-dia estava outra ve= ao lado
do meu tesouro. %ogo desci de novo com minha segunda carga até o
fatigante tra4alho estar uase no $m, pois eu estava de pé na entrada da
grande caverna, a uatrocentos pés do peueno recinto no alto da $ssura
e5terior -eram uatrocentos pés de su4ida 4astante difEcil. Ap>s uma pausa
retomei a curta mas escarpada su4ida, e logo me encontrei na peuena
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caverna, com apenas algumas de=enas de pés, no m!5imo, entre eu e o ar
livre. /omado como um todo, o longo t?nel era sinuoso, mas tinha algumas
passagens t#o retas como se tivessem sido cortadas com prumo e régua. )s
uatrocentos pés, apro5imadamente, ue separavam o recinto onde pareium pouco, na entrada, eram um trecho t#o reto e talve= por isso t#o difEcil
de atravessar uanto ualuer outra parte de todo o t?nel. 2eria
KU
mesmo impossEvel a n#o ser por suas laterais !speras ue ofereciam algum
apoio. 2e o local fosse claro, ao invés de t#o escuro, eu seria capa= de
olhar diretamente para a caverna do local onde estava parado. ) ar
auecido me convidou a sentar, ou melhor, a me deitar, em4ora estivesseescuro. (esolvi descansar, portanto; comi um punhado de tFmaras e 4e4i
um pouco de neve derretida do meu cantil de couro. nt#o me estendi no
solo e adormeci no ar tépido.
N#o sei por uanto tempo $uei dormindo, mas ao desper-Mar -ah, o
terror ue senti %ufadas e5plosivas de ar, uentes a ponto de uase
ueimarem a pele, carregadas de gases sufocantes, seguidas de um rouco
murm?rio, aGuEam velo=mente passagem acima até o pico. (uEdos como
uivos e gemidos su4iam com o 4afo ardente do a4ismo, misturados com o
som de e5plos8es tremendas e ensurdecedoras. +aior ue todas as outras
causas de terror era um 4aço 4rilho vermelho reGetido das paredes da
caverna, para dentro da ual desco4ri ue podia olhar livremente e em
cujas profunde=as e5plodiam raios de lu= verde, vermelha, a=ul e de todas
as outras cores e mati=es; eram Oijases em com4ust#o. *or algum tempo o
pavor me petri$cou; sem poder mover-me continuei a $5ar o terrEvel
inferno dos elementos em fogo. u sa4ia ue a lu= e o calor, am4os
aumen-lando a cada momento, e os vapores sufocantes, o 4arulho e o
tremor da montanha, prenunciavam uma s> coisa: uma erupç#o vulcFnica
ativa $nalmente o encantamento ue havia me paralisado foi ue4rado
uando vi um jato de lava derretida su4ir até a passagem em frente,
projetado até ali por uma e5plos#o dentro da caverna. nt#o me levantei e
fugi, correndo pelo ch#o do peueno recinto, arrastando-me com insana
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energia pela entrada hori=ontal, ue nunca me parecera t#o 4ai5a até
auele instante u esuecera ue tinha ouro nos 4olsos, e s> me lem4rei
disso uando senti o peso das preciosas rochas ue me retardavam a fuga.
+as, com o esforço de fugir, veio-me uma relativa calma, e a mente uevoltava a funcionar me impediu de atirar fora o tesouro. A reGe5#o me
convenceu de ue o perigo, em4ora iminente, provavelmente n#o era
imediato. (esolvi arrastar-me novamente para dentro da peuena caverna
e, pegando um saco ue ali havia dei5ado, colouei dentro dele todas as
rochas aurEferas ue podia carregar. /irei um cord#o de couro da cintura e,
enrolando uma e5tremidade numa ponta de pedra no lado superior da
$ssura, 4ai5ei o saco até a outra e5tremidade da corda e desci atr!s.2acudindo o laço frou5o da rocha acima, repeti a mesma coisa v!rias ve=es
KV
enuanto descia. Dessa forma cheguei ao fundo da $ssura com a maior
parte das duas cargas de minério de ouro. Desse ponto em diante, meu
caminho seguia ao longo da crista de uma salincia de pedra, n#o muito
larga mas su$ciente para formar uma trilha f!cil de seguir.
Nem 4em tinha começado a andar por essa trilha uando olhei para tr!s,
para o caminho ue tinha aca4ado de percorrer. Nauele momento, houve
um tremor de terra ue uase me derru4ou ao ch#o, e da peuena caverna
onde eu tinha dormido jorrou fumaça seguida de um 4rilho avermelhado:
lava. la Guiu para 4ai5o, uma cascata de fogo e uma vis#o gloriosa na es-
curid#o ue se adensava, pois o 2ol ainda n#o tinha se- posto de todo.
/oda a montanha $cara a oeste da salincia onde eu estava e, como se
fa=ia uase noite, eu me encontrava na o4scuri-dade.
orri pela rocha, dei5ando meu saco de ouro e grande parte do ue
tinha nos 4olsos no lugar mais seguro ue pude encontrar, 4em acima do
fundo da ravina pela ual a lava fatalmente escorreria. Juando estava a
uma distFncia segura, parei para descansar e perscrutei a torrente em
e4uliç#o saltando pela ravina, a alguma distFncia H minha direita mas 4em
visEvel. "*elo menos", pensei, "ainda tenho nos 4olsos su$ciente minério
aurEfero -mais metal do ue ouro pelo ue parece -ue tenho condiç#o de
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carregar, agora ue minha força, nascida do medo, desapareceu. +esmo
ue eu n#o possa reaver o ue dei5ei para tr!s, ainda tenho uma grande
riue=a. *ortanto, &ncal, honra a /i" ) uanto as vinte li4ras de uart=o
aurEfero, apro5imadamente, eram inadeuadas para pagar as despesas desete anos de colégio, o colégio na capital da naç#o, onde o custo era mais
elevado ue em ualuer outra parte, minha ine5perincia n#o podia me
di=er. +as ue auele era o maior tesouro ue eu j! tinha possuEdo na
vida, ou mesmo visto, era um fato ineg!vel; portanto, eu estava contente.
A crença numa *rovidncia poderosa é necess!ria para a maioria dos
homens, melhor di=endo, para todos os homens, sendo a ?nica diferença a
de ue as pessoas de mais amplo conhecimento reuerem uma Divindadede poder mais pr>5imo do in$nito do ue as de menor e5perincia; assim,
os ue apreendem a in$nita amplitude da vida reconhecem um Deus cujo
conceito se projeta uase H onipotncia, em comparaç#o com o conceito
ue sa-
KW
&&N&.&X. a mente humana comum. *ouco importa, portanto, ue a divindade
cultuada seja uma pedra ou um Edolo de madeira, uma li Ymia inanimada
ualuer, ou um spErito 2upremo de nature=a andr>gina. )s 2eres ue
ordenam o curso dos acontecimentos,
M 5MM utando a lei c!rmica do terno Deus, en5ergam a fé no
traç#o dos mortais e n#o imp8em ue auela lei siga seu curso
M i YuZ uma severidade destituEda de miseric>rdia. 2e a fé no Edolo,
no "deus" animado, ou no spErito 2upremo de Deus, fosse e5tin-i.i [Yor
causa das destruidoras forças da dor e do desespero, ent#o . 4ondade
humana estremeceria em temor por sua segurança e &\Yr sua continuidade.
0ma cat!strofe dessa espécie n#o se harmoni=aria com Deus, pois, de
acordo com a lei, nunca poderia ser &\-i mitida.
DaE minha crença em &ncal, uma crença compartilhada por iiu-us
compatriotas. &ncal era um conceito puramente espiritual M], afora a ausa
terna, da ual nenhuma mente de ualuer era do mundo poderia em s#
conscincia duvidar, s> e5istia na men-\M de seus devotos. essa era uma
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fé no4re, ue tendia para a mais alta moralidade, nutrindo a fé, a esperança
e a caridade. Jue importFncia teria ent#o ue o &ncal-pessoa, sim4oli=ado
pelo escudo rutilante do 2ol, s> e5istisse na mente dos homens3 Nosso
conceito poseidano representava o spErito da 'ida, o *ai M0- todos, o ue4astava para assegurar a o4servFncia dos princEpios ue supostamentemais
) agradavam.
ertamente os anjos do AltEssimo Deus &ncriado, ministrando i-nt#o
como agora aos $lhos do *ai, viram minha crença, engastada em meu
coraç#o e no coraç#o de meus irm#os e irm#s de naç#o, e disseram
enuanto ministravam-, "ue rece4as de acordo com tua fé". )s anjos,
contemplando minha esperança interior de tornar-me e5celente entre os
homens, haviam me disciplinado pelo medo uando fugia da montanha em
fogo, mas nenhum desastre havia me acontecido.
ontinuei correndo t#o depressa uanto me permitia a nature=a do
terreno. u tinha a vida e ouro^, e por isso louvava &ncal enuanto corria.
o spErito da 'ida foi misericordioso, pois eu n#o sa4eria o uanto o meu
tesouro era insu$ciente para minhas necessidades até a ferroada dodesapontamento ser removida por eu ter encontrado uma provis#o mais
a4undante. +eu caminho se estendia por v!rias milhas ao longo da crista
de pfedra, a$ada como uma faca. m muitos lugares a4ismos terrEveis se
a4riam ao lado da trilha de pedra, t#o pr>5imos ue me via o4rigado a
KC
engatinhar. *or ve=es os penhascos se estendiam nos dois lados da trilha,
fa=endo dela uma passarela estreita. u me sentia grato pelas peuenas4nç#os ue rece4ia e agradecia a &ncal porue o deus da montanha n#o
havia demonstrado sua agitaç#o com um terremoto enuanto eu me
encontrava nauela perigosa situaç#o.
A uma distFncia de trs milhas a contar do seu inEcio, a trilha alcançava
a 4eira de um precipEcio aterrador, e acima dela erguia-se a parede de um
segundo penhasco. 2> a lu= da montanha incandescente agora iluminava
meus passos. 7oi nauele ponto ue, no momento em ue eu descia
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cautelosamente na direç#o da pedra 4as!ltica ue formava a 4eira do
a4ismo, um grande choue me atirou de joelhos no ch#o e eu uase caE no
va=io. 0m instante depois, uma e5plos#o a4afada encheu o ar com uma
insistente intensidade de som, e olhei para tr!s, assustado. 0ma grandepluma de fumaça avermelhada pelo fogo estava se levantando na direç#o
do céu, misturada com pedras t#o grandes ue podiam ser vistas de onde
eu me encontrava. A4ai5o de onde eu estava, ouviam-se terrEveis ruEdos; a
terra tremia convulsivamente e choues repetidos me o4rigaram a me
agarrar nas rochas, com um medo desesperado de ser jogado para 4ai5o.
Na frente, o des$la-deiro ue estava aos meus pés havia ladeado outros
penhascos e contrafortes. Até poucos instantes antes os penhascos econtrafor-tes tinham e5istido - mas n#o e5istiam mais ontemplei auela
cena de confusa e terrEvel desordem, iluminada pelo 4rilho vulcFnico
apenas o su$ciente para ser perceptEvel. As s>lidas rochas e colinas
pareciam mover-se, inst!veis como as vagas marinhas, su4indo e descendo
de um modo assustador, rangendo e rugindo num verdadeiro pandem6nio.
*or so4re tudo isso desciam cin=as vulcFnicas numa chuva densa e
incessante, enuanto vapores e poeira enchiam o ar e pendiam como uma
mortalha por so4re um mundo aparentemente agoni=ante.
7inalmente o louco 4arulho e o nauseante movimento cessaram; s> o
4rilho constante da lava ue continuava a correr e um espasmo ocasional
de tremor de terra continuavam sua narrativa plut6-nica. *ermaneci no
meu lugar, sentihdo-me fraco e a4alado. 9radualmente, a lava parou de
correr e $cou tudo escuro; os choues s> aconteciam a longos intervalos e
uma pa= como a da morte desceu so4re a regi#o, enuanto a cin=a
silenciosa caEa, co4rindo a terra ferida. A escurid#o passou a reinar. Acho
ue $uei inconsciente por algum tempo, pois uando voltei a mim senti
uma dor aguda na ca4eça; passando a m#o por ela senti uma ?mida-
RL
\[O uente escorrendo de um ponto ue doEa ao toue. /ateando t minha
volta, encontrei uma pedra !spera e cheia de pontas ,,,_■ tinha caEdo de
algum lugar e me atingido. 7a=endo outros movimentos, concluE ue o
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ferimento n#o era sério e sentei. A madrugada j! se anunciava e eu, fraco
de dor, fome e frio, voltei ,i me estender na pedra, para aguardar o novo
dia.
Olue paisagem diferente os raios de &ncal encontraram no lugar M4 ueali e5istira na manh# anterior Juando olhei para o ma-Pf sioso pico, a lu=
vermelha do 2ol me mostrou ue metade de-lM havia sido arrancada e
engolira-se numa misteriosa caverna. 2im, é verdade, "as montanhas
elevam para o céu seus penhas-.\Ys nus e enegrecidos e curvam suas
enormes ca4eças para a pla-iiit ie".
`crto dali, onde tinham e5istido outros contrafortes e onde tinha
ocorrido o terrEvel retorcimento dos penhascos, 4em a meus l\-s, n#o haviamais pontas de pedra, nem pico, nem penhasco &m lugar de tudo isso
havia um grande lago de !gua fervente, R \ijas margens estavam veladas
pelas cin=as ue ainda pousavam M R Ym suavidade e pelas nuvens de
vapor condensadas em $na ga-.R .a pelo ar frio, l!grimas do glo4o a4atido
por sua recente agonia `lodo ruEdo havia se dispersado e o férvido Gu5o da
lava tam4ém unha cessado.
A parte da salincia onde eu tinha caEdo tinha escapado da des-m liç#o
geral, em sua maior parte, em4ora tam4ém tivesse sido .ingida, tanto ue
a trilha em frente, ue eu me acostumara a usar em minhas e5curs8es ao
pico, tinha sumido; um enorme 4lo-R RY de pedra, ue provavelmente
pesaria milhares de toneladas, unha escorregado para o a4ismo em4ai5o,
destruindo o caminho R iii sua passagem. *rocurei uma saEda e, escalando
as pedras na lu= mortiça, cheguei a uma parte da salincia ue se dirigia
para R Y caminho oposto ao do 2ol e ue n#o passava de duas estreitas [5-
dras salientes so4re o lago de !gua fervente, intransponEvel na parte de
cima, uando de repente um p!lido raio de lu= 4rilhou cm diagonal no meu
caminho *rocurando sua fonte, vi ue a lu= jRYrrava por uma larga fenda
no penhasco, acima de mim. A parte inferior da fenda $cava pouco a4ai5o
de onde eu estava e, ao invés de se estreitar, alargava-se formando um
soalho t#o amplo R[uanto ualuer parte da $ssura, como se acima dauele
ponto Oivesse sido empurrada para um lado -sem d?vida a ?nica e5plica-
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ç#o. ai5ei o corpo até esse soalho e, veri$cando ue a $ssura era
su$cientemente larga, pisei nela, sem ligar para a possi4ilida-
R
de de ue a ualuer momento novas convuls8es do vulc#o pudessemfechar a a4ertura e esmagar-me. *ensei nessa possi4ilidade, mas H maneira
poseidana, dei5ei o medo de parte reGetindo ue devia con$ar em &ncal,
ue faria o ue fosse melhor para mim.
) penhasco ruEdo mostrava, aui e ali, veios de uart=o com fai5as de
p>r$ro, formando salincias ue corriam ao longo de massas de granito.
*erto do topo, a estreita fenda se estendia e, em4ora tivesse realmente dois
ou trs pés de largura, sua altura a fa=ia parecer muito estreita. Juando medetive, deleitado com a idéia de ue nos dois lados meus olhos
contemplavam rocha virgem ue jamais estivera e5posta ao olhar de
ualuer homem desde o nascimento da /erra, notei algo ue fe= meu
pulso se acelerar de louca alegria. em perto de mim, mas um pouco H
frente, estava um veio de rocha amarela, de aparncia ocre, na ual vi
muitas manchas de rocha 4ranca e mais dura, cuja aparncia se devia a
n?cleos de uart=o partidos pelo mesmo choue ue havia formado a
fenda. ssas manchas estavam fartamente ponti-lhadas de pepitas de ouro
nativo e de minério de prata. A ductili-dade dos preciosos metais se e5i4ia
em curiosos efeitos, com o ouro e a prata saindo da superfEcie fraturada em
cord8es ue em alguns casos mediam v!rias polegadas. Novamente a
fraue=a da fome me a4andonou e a dor do ferimento na ca4eça foi
momentaneamente esuecida, enuanto eu cantava um hino de gratid#o ao
meu Deus. ) majestoso pico havia sido o4literado; destruEdo fora o ?nico
acesso ao elevado topo; mas ali, ap>s terminada a 4atalha dos fogos
su4terrFneos, estava um tesouro ainda maior, mais pr>5imo de casa, mais
f!cil de ser e5plorado. A e5citaç#o do j?4ilo foi e5cessiva para os meus
nervos j! t#o enfrauecidos e desmaiei ntretanto, a juventude é el!stica e
a sa?de dos ue n#o tm vEcios, maravilhosa. %ogo reco4rei a conscincia
e tive a sa4edoria de tomar o caminho de casa sem parar mais e desgastar
mais minha força, sa4endo ue meu instinto de alpinista seria um guia
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infalEvel num retorno su4sebente.
Aconselhado por minha m#e, senti ue sua crença de ue eu n#o
poderia e5plorar a mina so=inho era 4aseada na realidade. +as em uem
poderia con$ar para me ajudar e rece4er uma justa parte da riue=a assimo4tida como recompensa3
N#o 4astaria ue eu encontrasse a ajuda de ue precisava3 ertos
amigos professos entraram numa sociedade comigo e, pelo privilégio de
$carem com o restante dos lucros, deram-me um terço do apurado,
concordando em fa=-lo sem ue eu tivesse de tra-
RB
4alhar na mineraç#o e, com certa indecis#o, concordando tam4ém cm uenenhuma parte do veio pertenceria a uem uer ue fosse além de mim.
7i= com ue assinassem um documento contendo essas regras, lacrando-o
com o mais inviol!vel sinal e5istente em *oseid, a sa4er, a assinatura deles
com o pr>prio sangue. N>s trs assim $=emos. &nsisti em todas essas
formalidades porue n#o consegui reprimir a suspeita de ue eles
pudessem alegar ue eram os desco4ridores do tesouro e de ue, por
consebncia, eu n#o tivesse ent#o nenhum direito ao mesmo. oje sei ue
foi 4em esse o caso. 2ei ue a cl!usula do contrato declarando ue toda a
mina ue eles, meus s>cios, e5ploraram nauele ano era propriedade
inalien!vel de ailm Numinos, foi o ue impediu o rou4o ue eles
tencionavam levar a ca4o. ssa estipulaç#o n#o fa=ia referncia ao
desco4ridor da mina, mas declarava em termos ineg!veis ue o tEtulo de
propriedade pertencia ao possuidor dauele nome. No caso de uma disputa
entre n>s eu n#o teria necessidade de provar como me tornara dono da
mina-, nenhuma a$rmaç#o de ue outra pessoa além de mim fosse o
desco4ridor serviria aos defraudadores em potencial, pois fosse uem fosse
o primeiro a encontrar o veio, permaneceria o fato de ser eu o propriet!rio,
caso em ue todas as vantagens da lei estariam do meu lado. *elo menos,
assim acreditei em minha ignorFncia. +eus associados n#o eram t#o
ignorantes uanto eu. 2a4iam ue o contraio n#o tinha valor por ter sido
e5ecutado em violaç#o H lei. 0m dia vim a sa4er de tudo. 2ou4e
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posteriormente ue as leis de *oseid tornam cada mina pagadora de dE=imo
ao império e ue ualuer mina e5plorada sem o reconhecimento desse
laço legal estava sujeita a con$sco. /am4ém era aparente ue, se meus s>-
cios n#o se tivessem dei5ado levar pela avare=a, mantendo em segredo onosso acordo ue os tornava partEcipes numa infraç#o da lei, teriam se
tornado propriet!rios legais simplesmente pelo fornecimento de
informaç8es so4re meus atos ao agente do governo mais pr>5imo. +as eu
n#o sa4ia dessas coisas na época e os outros dois julgaram melhor guardar
silncio, pela ?nica ra=#o de ue nada sa4iam a n#o ser ue estavam
violando ordens aparentemente sem importFncia. assim o segredo foi
guardado para uma revelaç#o posterior. /endo conseguido os meios necess!rios, o passo seguinte foi minha
mudança do campo para a cidade de (ai. Nosso adeus ao antigo lar nas
montanhas e nossa instalaç#o na nova residncia em aiphul $car! em
4ranco nestas reminiscncias.
A A A
RK
A*&/0%) n
A&*0%
) povo atlante vivia so4 um governo ue tinha o car!ter de uma
monaruia limitada. 2eu sistema o$cial reconhecia um imperador Ocuja
funç#o era eletiva e de modo algum heredit!riaP e seus ministros,
conhecidos por um nome ue signi$cava "*rEncipes do (eino". /odos
esses ministros eram vitalEcios, a n#o ser em casos de m! conduta, um
termo rigorosamente de$nido com prescriç8es impostas com severidade-,
e a operaç#o da lei a isso relativa era tal ue nenhum cargo, por mais
e5altado ue fosse, era su$ciente para isentar os ofensores. Nenhum cargo
governamental era eletivo, com e5ceç#o de uma funç#o eclesi!stica, ao
passo ue cargos menores do serviço p?4lico eram o4jeto de nomeaç#o em
todos os casos e os nomeados tinham de prestar contas estritas ao poder
ue os indicava para a funç#o, fosse esse poder o imperador ou um
prEncipe, ue, para usufruir do poder, era respons!vel perante o povo pela
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conduta dos ue havia nomeado. ntretanto, n#o é a $nalidade deste
capEtulo discutir o sistema polEtico de *oseid, mas descrever os pal!cios
ministeriais e mon!ruicos fornecidos pela naç#o a cada funcion!rio eleito,
sendo um para cada prEncipe e trs para o imperador. No geral, a descriç#ode uma dessas edi$caç8es, interior e e5teriormente, tipi$ca todas as
outras, assim como nos stados 0nidos da América e outros paEses
modernos um edifEcio governamental é facilmente reconhecido como tal
por suas caracterEsticas gerais de aruitetura. A descriç#o de um pal!cio,
por conseguinte, servir! a um duplo prop>sito: o de dar uma idéia da mais
not!vel residncia do grande império atlante, visto ue tenciono descrever
o principal pal!cio do imperador; o segundo prop>sito é o de ilustrar oestilo ue prevalecia na aruitetura do perEodo em ue residi em *oseid.
&magine, se assim lhe aprouver, uma elevaç#o de apro5imadamente uin=e
pés, de= ve=es essa medida em largura, e cinbenta ve=es em
comprimento. 5ternamente Hs dimens8es planas, em cada um dos uatro
lados da plataforma feita de p>r$ro talhado, v!rios degraus em aclive
suave elevavam-se do gramado até o topo da elevaç#o. Nos lados, esses
degraus eram divididos em uin=e seç8es, ao passo ue nas e5tremidades
as divis8es eram apenas trs, cada uma dividida em e5tens8es de uin=e
pés. n-
RT
tre as duas seç8es mais pr>5imas dos cantos, cada divis#o consistia em um
profundo recesso uadrangular, com a escadaria descendo e passando em
volta dele em ininterrupta continuidade. A seç#o seguinte, a terceira, era
separada das outras duas, de cada lado por uma serpente esculpida, de
enorme tamanho, feita de arenito e t#o $el H realidade uanto a arte o
permitisse. As ca4eças dessas serpentes im>veis descansavam no gramado
verde em frente H escada, enuanto o corpo $cava em relevo so4re a esca-
daria, indo até o topo da plataforma, enrolado em torno das imensas
colunas ue suportavam os front8es das varandas do superes-truturado
pal!cio erigido so4re a plataforma j! descrita; as colunas formavam um
mui imponente peristilo entre as amplas varandas e os degraus. A divis#o
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seguinte era um uadrFngulo inserido nos degraus e, a outra, mais uma
serpente, e assim sucessivamente, em torno de todo o edifEcio. spero ue
esta descriç#o seja su$cientemente detalhada para dar uma idéia dauele
tremendo paralelograma, rodeado de escadarias, guardado por formasornamentais, e tam4ém ?teis, de serpentes monstruosas, em4lemas
religiosos signi$cando n#o s> a sa4edoria mas tam4ém o aparecimento de
uma serpente de fogo nos céus da antiga /erra, iniciando o evento da
separaç#o do omem de Deus. Alternados com essas formas $cavam os
recessos, suavi=ando formas ue de outro modo seriam severamente retas
e mon>tonas. oroando tudo isso havia o primeiro andar do pal!cio
propriamente dito, com seu peristilo envolto em serpentes elevando ogrande teto das varandas so4re as uais descansavam enormes vasos
cheios de terra a nutrir todos os tipos de plantas tropicais, ar4ustos e
muitas variedades de peuenas !rvores, e um lu5uriante jardim ue per-
fumava o ar j! refrescado por numerosas fontes ali colocadas. Acima do
primeiro andar, com seus p>rticos cheios de Gores, erguia-se mais um
nEvel com aposentos, cercado de galerias a4ertas, cujo piso era formado
pelo teto ue co4ria o andar inferior. ) terceiro e mais elevado nEvel de
aposentos n#o tinha varandas, em4ora tivesse passarelas em todos os
lados, formadas pelo teto do p>rtico inferior. A mesma variada
e5u4erFncia de Gores e folhagens tornava todos os andares igualmente
atraentes. m todos eles, aves canoras e de plumagem eram h>spedes
4em-vindos, sem gaiolas mas mansas por nunca terem sido maltratadas.
2ervidores armados de =agaias ue projetavam Gechas silenciosas,
destruEam discretamente todas as espécies predat>rias e tam4ém auelas
ue, sendo desprovidas do poder de cantar, de plumagem de vividas cores
ou de h!4itos insetEvoros para recomend!-las, eram por isso indesej!veis.
9raciosas torres redondas ou a$ladas erguiam-se acima do telhado
principal do pal!cio, enuanto ue os muitos
RU
;i[5Ysentos com projeç8es, Fngulos e arcos a4o4adados, contrafor-Oes
elegantes, cornijas e outros efeitos aruitet6nicos, impediam ue o
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conjunto parecesse pesado ou s>lido demais. m torno da maior das torres
su4ia uma escada em espiral, condu=indo ao espaço protegido por um
corrim#o, no alto, cem pés acima das chapas de alumEnio ue formavam o
telhado do pal!cio. ) pal!cio de Agacoe era ?nico por causa de sua torre,ue o tornava diferen-le dos outros edifEcios ministeriais. Deve ser
e5plicado ue a torre tinha sido erigida em mem>ria de uma 4ela princesa
ue partira dos amorosos cuidados de seu imperial esposo para Nava==a-
min, a som4ria terra das almas dos mortos havia muitos séculos. Assim era
o pal!cio de Agacoe. 2eu andar superior era um grande museu
governamental; o do meio a4rigava os ga4inetes dos principais
funcion!rios do governo, enuanto ue o primeiro estavamagni$centemente decorado para servir como residncia particular do
imperador. *or n#o ser um lato desprovido de interesse, anotamos ue as
4ocas escancaradas das serpentes de pedra recentemente descritasserviam
como portais de entrada Odo tamanho usualP para certos aposentos do
su4solo, fato ue serve para dar uma idéia clara do enorme tamanho
daueles s!urios lEti-cos. )s monstros haviam sido feitos levando em contaa proporç#o artEstica; seus corpos eram de arenito cin=ento, vermelho ou
amarelo, os olhos de cornalina, jaspe, s!rdio ou outra pedra de silEcio
colorido, enuanto as presas em suas 4ocas enormes eram de uart=o
4ranco 4rilhante, uma em cada lado do portal.
/antas pedras cortadas e alisadas forçam a mente moderna a indagar se
os atlantes o4tinham o produto aca4ado por meio do incans!vel la4or de
escravos -e nesse caso terEamos sido um povo 4!r4aro, cuja autonomiapolEtica estaria sempre ameaçada pelas forças do vulc#o social ue a
escravatura sempre cria - ou se possuEamos m!uinas para o corte de
pedras, de peculiar e$cincia. sta ?ltima é a resposta correta, pois nossas
m!uinas especiais para isso, assim como uma uase in$nita variedade de
outros implementos para todos os tipos de tra4alho, eram um motivo de
orgulho para a nossa naç#o e nos distinguiam das demais. *ermite-me
fa=er uma a$rmaç#o, n#o como argumentaç#o mas para ue ela possa ser
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compreendida H lu= dos capEtulos su4sebentes: se n>s, atlantes, n#o
tivéssemos possuEdo esse grande n?mero de invenç8es mecFnicas nem o
talento inventivo ue nos condu=iu a esses triunfos, ent#o v>s, ha4itantes
modernos da /erra, tam4ém n#o terEeis essa capacidade criativa nem osresultados dela. Q possEvel ue tu, leitor, n#o compreendas a ligaç#o ue
e5iste entre as duas eras e raças ao ler esta a$rmaç#o, mas ao chega-
RV
res mais perto do $nal desta hist>ria tua mente para ela se voltar! com
plena compreens#o.
Na esperança de ue meu esforço em descrever com palavras a
aparncia dos edifEcios governamentais da AtlFntida tenha tido 5ito,tentemos agora aduirir uma idéia do promont>rio no ual estava
entroni=ada aiphul, a idade (eal, a maior daueles antigos tempos, na
ual vivia uma populaç#o de dois milh8es de almas, e ue n#o tinha
muralhas forti$cadas. Na verdade, nenhuma cidade ou capital dauele
tempo era cercada por muros, e neste respeito diferiam das cidades
conhecidas em épocas hist>ricas posteriores. hamar meus registros de
*oseid de hist>ria n#o é e5agero, pois o ue relato nestas p!ginas é a
hist>ria derivada dos registros da lu= astral. N#o o4stante, ela precede as
narrativas hist>ricas transmitidas por manuscritos, papiros e inscriç8es em
pedras por tantos séculos, visto ue *oseid j! n#o era mais conhecida na
/erra uando as primeiras p!ginas da hist>ria foram registradas em
papiros pelos primeiros historiadores, e nem mesmo antes, uando os
escultores dos o4eliscos egEpcios e os artistas encarregados de gravar as
pedras dos templos imprimiram hist>rias pict>ricas no duro granito.
*oseid estava esuecida, pois hoje fa= uase nove mil anos ue as !guas
do oceano engolfaram nossa 4ela terra sem dei5ar sinal, como o ue
so4rou das duas cidades ocultas so4 lava e cin=as e ue durante de=esseis
séculos da era crist# permaneceram completamente desconhecidas. sca-
vadores trou5eram H lu= os restos de *ompéia, mas homem algum pode
afastar o AtlFntico e revelar o ue j! n#o mais e5iste, pois ainda ue cada
dia fosse um século, teriam passado uase trs meses desses longos dias
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desde o terrEvel $at de D02:
"Jue a terra seja co4erta, para ue o 2ol ue tudo v n#o a distinga
mais em seu curso."
assim se fe=.m p!ginas anteriores, o promont>rio de aiphul foi descrito como se
estendendo pelo oceano a partir da planEcie caiphaliana, sendo visEvel de
grande distFncia H noite por causa da lu= irradiada pela capital. A
penEnsula se projetava por tre=entas milhas, na direç#o oeste a partir de
Numéia, medindo cinbenta milhas de largura uase até o e5tremo, e
erguendo-se como os penhascos de talco da &nglaterra a uase cem pés,
até alcançar uma planEcie sem elevaç8es, uase t#o plana uanto o soalhode uma casa. Na e5tremidade dessa grande penEnsula $cava aiphul ou
"AtlFn-
RW
tida, (ainha do +ar". %inda, pacE$ca, com seus amplos jardins en-
cantadoramente tropicais:
")nde as folhas jamais esmaecem nos Goridos e mansos galhos,
" as a4elhas se fartam com as Gores o ano inteiro."
2uas largas avenidas som4readas por enormes !rvores, suas colinas
arti$ciais, cortadas por avenidas ue se irradiavam do centro da cidade
como os raios de uma roda. inbenta delas corriam numa direç#o,
enuanto ue, formando Fngulos retos com elas, atravessando a largura da
penEnsula, com uarenta milhas de comprimento, situavam-se as avenidas
menores. Assim era a mais poderosa cidade de mundo antigo, como se
fosse um esplndido sonho.
m nenhum ponto aiphul se encontrava a menos de cinco milhas do
oceano. m4ora n#o tivesse muralhas, em torno de toda a cidade estendia-
se um imenso canal, com trs uartos de milha de largura por
apro5imadamente sessenta pés de profundidade, alimentado pelas !guas
do AtlFntico. No lado norte, um canal maior adentrava esse fosso circular -
um canal no ual as !guas profusas de um grande rio, o Nomis, criavam
uma corrente=a de consider!vel força. onsebentemente, formava-se uma
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corrente em todo o cErculo do fosso, e a !gua do mar entrava pelo lado sul.
Dessa maneira, eGuEa para o mar todo o sistema de drenagem da ilha
circular arti$cial onde $cava a cidade. &mensas 4om4as a motor forçavam
a !gua fresca do oceano a passar por toda a cidade por meio de grandescanos e condutos de pedra, fa=endo a limpe=a dos drenos e fornecendo
força motri= para todas as $nalidades, iluminaç#o elétrica e serviços de
eletricidade muito variados. . . mas, um momento 2erviços de
eletricidade3 2im, na verdade tEnhamos um grande conhecimento so4re a
força motri= do universo: n>s a utili=!vamos em incont!veis formas ue
ainda est#o por ser desco4ertas neste mundo moderno, além de formas ue
a cada dia est#o voltando em grande n?mero H mem>ria de homens emulheres do passado, reencarnados nesta época.
N#o é estranha a tua incredulidade, meu amigo, uando falo dessas
invenç8es ue consideras uma propriedade tEpica de hoje3 ) fato é ue
falo com o conhecimento nascido da e5perincia, posto ue vivi nauele
tempo, e tam4ém neste de agora. 'ivi n#o s> na *oseid de do=e mil anos
atr!s, mas tam4ém nos stados 0nidos da América antes, durante e depois
da 9uerra de 2ecess#o.
RC
/ir!vamos nossa energia elétrica das ondas do mar ue se a4atiam
so4re as praias; das torrentes das montanhas e de produtos uEmicos, mas
principalmente do ue poderia ser adeuadamente chamado de "%ado
Noturno da Nature=a". 5plosivos de alto poder eram conhecidos por n>s,
mas o emprego ue deles fa=Eamos era muito mais amplo ue o de hoje.
2e pudesses fei=er essas su4stFncias entregarem gradualmente sua enorme
força aprisionada sem temer uma e5plos#o, imaginas ue tuas m!uinas
seriam movidas por motores elétricos ou a vapor, t#o desajeitados por
causa de seu peso3 2e um grande navio a vapor pudesse dispensar suas
caldeiras e fornalhas e em seu lugar usar dinamite num recipiente
perfeitamente seguro, possEvel de ser carregado numa 4olsa, transmitindo
poder su$ciente para levar o navio da &nglaterra até a América, ou impelir
um trem por seis mil milhas, por uanto tempo ainda usarias teus motores
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a vapor3 ontudo, essa energia foi conhecida por n>s - por ti talve=, por
mim com certe=a - na vida atlante. ertamente ressurgir!, pois Nossa (aça
est! novamente voltando da vida ap>s a morte para a terra.
sse n#o era o ?nico recurso energético ue tEnhamos. As forças do%ado Noturno da Nature=a eram para n>s o ue o vapor é para teus
motores. o ue s#o elas3 Neste ponto s> responderei fa=endo uma
contra-pergunta: a força da Nature=a, da gravidade, do 2ol, da lu=, de onde
vem3 2e me responde-res "vem de Deus", ent#o e5plicarei ue, da mesma
forma, o omem é erdeiro do *ai, e tudo ue é Dele tam4ém pertence ao
7ilho. 2e &ncal é impelido por Deus, o 7ilho desco4rir! como o *ai o fa= e
chegar! a fa=-lo tam4ém, como o omem fe= em *oseid, no passado.+as podemos fa=er coisas ainda maiores: és hoje, foste ontem. Qs *oseid
ue retorna, num plano mais elevado
) prop>sito original para o ual havia sido construEdo o grande fosso
ou canal ue envolvia a capital tinha sido cumprido havia muitos séculos.
sse prop>sito fora puramente marEtimo, ligado aos dias em ue navios
eram usados como transporte, antes do uso posterior de aeronaves, e havia
cumprido sua $nalidade t#o 4em ue dera a aiphul o tEtulo de "2o4erana
dos +ares", um tEtulo ue continuou a e5istir mesmo depois ue os usos
originais do fosso j! tinham se tornado coisa do passado. Juando
melhores meios de transporte suplantaram os antigos, os navios ue por
de= séculos tinham visitado todos os mares e rios naveg!veis do glo4o
foram a4andonados ou convertidos para outros
TL
usos. 2> algumas em4arcaç8es singravam as !guas e eram 4arcos de
recreio pertencentes a pessoas amantes de novidades e ue dessa forma
satisfa=iam seu gosto pelo esporte.
ssa mudança radical, entretanto, n#o fe= com ue as docas de alvenaria
do fosso, medindo cento e uarenta milhas apro5imadamente, fossem
a4andonadas H destruiç#o. &sto teria causado a perda de valiosas
propriedades pela invas#o das !guas, assim como a deterioraç#o do
sistema
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sanit!rio da cidade, além de ue tal desgraça teria destruEdo a 4ele=a do
canal e suas pro5imidades. *or conseguinte, nos sete séculos decorridos
desde ue dei5amos de usar o transporte marEtimo, n#o foi permitido ue o
menor sinal de fraue=a ameaçasse auela grande e5tens#o de alvenaria.0ma caracterEstica marcante de aiphul era a grande variedade e rara
4ele=a de suas !rvores e ar4ustos tropicais, ladeando as avenidas, co4rindo
as muitas colinas coroadas por pal!cios, muitos dos uais tinham sido
construEdos de forma a se elevarem a du=entos e até tre=entos pés acimado
nEvel da planEcie. Arvores, folhagens, ar4ustos, trepadeiras e Gores, anuais
e perenes, enchiam os des$ladeiros, gargantas e terraços arti$ciais ue os
poseida-nos, amantes da arte, haviam criado. As plantas co4riam os decli-
ves, envolviam os penhascos em miniatura, as paredes dos prédios e até,
em grande parte, os degraus ue levavam das margens até a 4eira do
grande canal, como se vestissem tudo com uma gloriosa roupagem verde.
/alve= o leitor esteja se perguntando onde vivia a populaç#o. A
pergunta vem 4em a tempo e a resposta, segundo creio, ser! interessante.
No tra4alho de alteraç#o da con$guraç#o da superfEcie do grandepromont>rio, fa=endo da planEcie uma 4ela variaç#o de colinas e vales, o
plano seguido tinha sido o de la=er uso de grandes suportes de rochas, de
enorme resistncia, na forma de terraços, dei5ando passagens em arco
onde as avenidas fa=iam interseç8es com essas elevaç8es, e preenchendo
os va=ios remanescentes com concreto feito com argila, pedrisco e
cimento, cuidadosamente misturados e socados. ) e5terior era ent#o
co4erto com terra fértil para ali se plantar vida vegetal de todas asespécies. ssas elevaç8es co4riam muitas milhas uadradas do espaço
antes e5istente, dei5ando poucas !reas planas a n#o ser as avenidas; mas
nem todas, pois muitas ruas ascendiam as colinas ou seguiam o declive
ascendente de algumas gargantas até alcançarem o topo. nt#o
T
atingiam a divisa e passavam para o outro lado por um viaduto em arco, do
ual tu4os de cristal a v!cuo transmitiam uma lu= contEnua fornecida pelas
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forças do "%ado Noturno". As faces verticais e as inclinaç8es dos terraços,
assim como os lados das gargantas, serviam para a construç#o de
aposentos de variado e amplo tamanho. As portas e janelas dessas
construç8es eram disfarçadas por salincias arti$ciais de rocha, co4ertasde hera e outras plantas ue crescem em pedras, dessa forma escondendo
das vistas a deselegFncia das armaç8es met!licas e5istentes por 4ai5o.
sses apartamentos formavam conjuntos artEsticos para acomodar as fa-
mElias. A forraç#o de metal evitava a umidade no interior, enuanto ue
sua locali=aç#o no interior assegurava uma temperança constante em todas
as estaç8es do ano. omo essas residncias eram projetadas e construEdas
pelo governo, e eram de propriedade do mesmo, os moradores asalugavam no +inistério de )4ras *?4licas. ) aluguel era m>dico,
su$ciente apenas para manter a propriedade em 4oas condiç8es, pagar as
despesas de iluminaç#o e auecimento, o fornecimento de !gua e os
sal!rios dos funcion!rios ue se ocupavam em cumprir esses deveres.
/udo isso custava n#o mais ue de= ou uin=e por cento do sal!rio de um
mecFnico especiali=ado. A menç#o de tantos detalhes dever! ser perdoada,
pois se eu os omitisse, s> uma concepç#o vaga e insatisfat>ria seria o4tida
pelo leitor.
) grande atrativo dessas residncias era sua locali=aç#o retirada,
evitando a triste aparncia de grandes n?meros de casas angulares, um
efeito e5tremamente desagrad!vel muito visto em nossos dias de hoje mas
raramente, ou nunca, nas cidades atlantes. ) resultado desse planejamento
era ue, para uem olhasse de ualuer elevaç#o, a cidade pareceria muito
agrad!vel em comparaç#o com nossas modernas a4erraç8es feitas de
pedra, tijolos ou madeira, especialmente pela falta de arranha-céus
separados por t?neis estreitos e sem !rvores, em muitos casos imundos, in-
devidamente chamados de ruas. ) visitante veria uma colina e depois outra
e mais outra, até incluir todas em sua vis#o -eram cento e de=enove no
total; aui um lago, ou um penhasco ao lado de um lago, ou um parue
co4erto de !rvores; minigargantas com ar grandioso, peuenas Gorestas,
t#o regularmente irregulares. . . ascatas e torrentes, alimentadas pelo
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inesgot!vel suprimento de !gua fresca da cidade, as margens e prainhas
co4ertas com !rvores, ar4ustos e folhagens ue amam a contigbidade da
!gua. stas, caro amigo, teriam sido as cenas apresentadas aos teus olhos,
se pudesses ter contemplado aiphul comigo. /alve= o $=este, uem sa4e3+as aiphul possuEa tam4ém casas cons-
TB
i ruEdas H maneira moderna, pois a autori=aç#o da cidade para a construç#o
de algumas casas 4elas, em locais e estilos calculados para aumentar a
4ele=a do cen!rio, era um privilégio ue pessoas a4astadas podiam o4ter
o$cialmente. +uitas a haviam o4tido. +useus de arte, teatros e outras estr
uturas n#o destinadas a moradia tam4ém e5istiam em ra=o!vel njmero.*asseando pela cidade, desco4ri cue as avenidas, em certos casos,
pareciam interromper-se 4ruscamente diante de uma gruta, cujo interior
geralmente estava enfeitado por estalactites pendentes do teto. *or ve=es
um ligeiro desvio do curso acontecia, impedindo a vis#o do interior da
gruta. Nesses locais, lFmpadas cilEndricas de alta tens#o, a v!cuo e sem
ue4ra-lu=, enviavam um 4rilho suave ao interior, criando um efeito de luar
muito agrad!vel para uem entrasse, vindo do e5terior 4rilhantemente
iluminado pelo 2ol.
m4ora os ha4itantes fossem e5celentes cavaleiros, em sua maioria,
esse tipo de transporte n#o era usado a n#o ser como meio de cultura e
graça fEsicas, uma ve= ue havia o transporte elétrico fornecido pelo
governo. ertamente os reformadores deste século de=enove da era crist#
se sentiriam na terra ideal se fossem caifalianos, isto porue o governo
e5ercia o princEpio paternalista, t#o sistematicamente uanto o faria se
fosse o dono da terra, de todos os meios de transporte e comunicaç8es
p?4licas, f!4ricas, en$m, todas as propriedades. ) sistema era de nature=a
muito 4ene$cente, e nenhum poseidano desejava ue fosse interrompido
ou suplementado por algum outro. 2e um cidad#o desejava um vail5
OaeronaveP para ualuer $nalidade, dirigia-se aos funcion!rios pr>prios
ue sempre estavam de plant#o nos dep>sitos de vail5 em todo o reino. 2e
uisesse cultivar a terra, contatava o Departamento de 2olos e Agricultura.
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/alve= desejasse fa4ricar um produto; as m!uinas estavam H disposiç#o
por um aluguel m>dico necess!rio para co4rir as despesas de operaç#o e os
sal!rios das pessoas encarregadas dauela parte da propriedade p?4lica.
reio ue estes e5emplos s#o o su$ciente. a4e di=er ue n#o e5isteharmonia polEtica como a ue provinha do paternalismo de nossos o$ciais
eleitos. ) paternalismo governamental é encarado com descon$ança e um
certo alarma pelas rep?4licas modernas. Q ue hoje sua ualidade difere da
ue e5istia ent#o. ) nosso era um paternalismo o4servado de perto e de-
vidamente contido pelos eleitores da naç#o, e sua e5istncia era
essencialmente um e5poente de princEpios verdadeiramente socialistas.
TKAté aui n#o entrei em detalhes precisos a respeito dos muitos acordos
peculiares mantidos entre os pais polEticos OgovernoP e seus $lhos, ou
entre tra4alho e capital. N#o creio ue deva fa=-lo nestas p!ginas com
propriedade, pois n#o é o caso de uma petiç#o de readoç#o, nesta época do
mundo, dos métodos seguidos nauele remoto perEodo. reio ue ser!
su$ciente di=er, o ue n#o dever! ser inadeuado nesta conjuntura, ue
*oseid n#o era incomodada no meu tempo pelo pro4lema moderno e ao
mesmo tempo muito antigo das greves, ue 4loueiam o capital e a
empresa, fa=em morrer de fome o artes#o e causam mais sofrimento aos
po4res do ue aos ricos. ) segredo dessa imunidade Hs greves n#o precisa
ser 4uscado muito longe numa naç#o cujo governo era a vo= de um povo
com su$ciente educaç#o para conceder o poder sem consideraç#o de se5o,
porue estava indelevelmen-te marcado em nossa vida nacional o seguinte
princEpio: "uma 4ase de educaç#o a cada eleitor; o se5o do eleitor n#o tem
importFncia". Numa naç#o assim, seria muito estranho ue desarmonias
industriais pudessem pertur4ar a polEtica social por muito tempo. ) amplo
princEpio da igualdade entre empregador e empregado reinava em *oseid;
n#o importava o ue uma pessoa $=esse para a outra, toda a euaç#o se
$rmava nesta pergunta: algum serviço foi prestado por uma pessoa a
outra3 m caso a$rmativo, o fato desse serviço ter sido prestado ou n#o
através de um esforço fEsico n#o contava. 0m serviço devia ser
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compensado, fosse fEsico ou intelectual, e tam4ém n#o era importante
sa4er se o empregador representava um ou mais indivEduos, ou o emprega-
do uma ou mais pessoas.
Nossas leis locais relativas H uest#o da igualdade industrial eramcompletas e 4astante volumosas. m4ora n#o pretenda dar uma vers#o
completa do ue se poderia chamar de leis tra4alhistas, algumas partes
merecem atenç#o. 2er! melhor prefaci!-las com uma 4reve hist>ria dessas
regras para mostrar como, nauele tempo remoto, pro4lemas tra4alhistas
muito semelhantes, e t#o ameaçadores para a pa= e a ordem uanto
ualuer revolta industrial moderna, foram $nal e euanimemente
resolvidos.Na "*edra +a5in", a cujo c>digo legal ser! feita referncia no devido
tempo, encontramos esta semente vital de resoluç#o de uma terrEvel
ameaça envolvendo tra4alho e capital, a sa4er:
"Juando aueles ue tra4alham por um sal!rio estiverem oprimidos e
se levantarem em f?ria para destruir seu opressor, ue sejam impedidos e
ue +e o4edeçam. A eles eu digo: n#o causes
TR
O&a no H pessoa ou H propriedade de ualuer homem, mesmo ue ]\-jas
oprimido por ele. *ois n#o sois todos irm#os e irm#s3 N#o sois todos $lhos
de um s> *ai, o inominado riador3 +as isto eu ordeno: ue eles destruam
a opress#o. *ois poder#o coisas ue sio menos ue o homem dominar e
oprimir seus senhores3 us-ca com diligncia o signi$cado de minhas
palavras."
) estudante de ética interpretava esse comando com o signi$cado de
ue as classes tra4alhadoras oprimidas n#o deveriam prejudicar o
capitalista opressor nem sua propriedade. As classes privilegiadas talve=
fossem t#o vEtimas das circunstFncias uanto as mais po4res; o remédio
estava, n#o na anaruia cega, mas na erradicaç#o das condiç8es err6neas.
&sso seria f!cil, desde ue adeuadamente tratado. )s oprimidos eram na
proporç#o de milhares para um, em relaç#o ao opressor. A maioria deles
tinha o poder do voto e foi determinado ue, sendo o governo servidor do
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povo, o método correto era lidar com a uest#o por meio de eleiç8es e n#o
pelo uso da violncia contra os ricos. *ortanto, fe=-se a convocaç#o para
ue o povo em peso votasse pela adoç#o de um c>digo de regulamentos
tra4alhistas e o su4metesse respeitosamente ao (ai. Dos muitos artigos eseç8es citarei apenas aueles ue s#o pertinentes aos tempos e pro4lemas
modernos, de modo ue, se minha seleç#o n#o contém artigos e seç8es de
maneira sebencial, a ra=#o é >4via.
I(/)2 DA2 %&2 /(AA%&2/A2 D *)2&D
"Nenhum empregador e5igir! de ualuer empregado a prestaç#o de
serviços além dos hor!rios legais de tra4alho sem remuneraç#o e5tra."
"2eç#o R. ssas horas n#o ser#o menos nem mais ue nove horas dela4or fEsico em cada perEodo de vinte e uatro horas; n#o ser#o mais nem
menos ue oito horas de tra4alho sedent!rio reuerendo principalmente o
esforço intelectual."
ste estatuto permitiu ue as duas partes de um contrato de tra4alho
decidissem uando o hor!rio de tra4alho começaria ou terminaria, com
relaç#o H primeira hora do dia, isto é, a hora moderna do meio-dia. Juanto
ao caso dos sal!rios, a lei era muito clara, e5plicando ue, como o homem
é egoEsta por nature=a -uer di=er, em sua nature=a inferior - aplicaria com
4ase no au-to-engrandecimento a moderna doutrina do autogoverno.
Assim, se ele n#o fosse movido pelo senso do dever para com seu seme-
TT
lhante a trat!-lo com justiça, n#o sendo a justiça ditada pela força, ent#o
ca4eria H lei compeli-lo a ser justo. Q neste ponto ue o moderno mundo
anglo-sa5#o, ue é o mundo de *oseid Oe 2uernP ressurgindo, mostra um
sinal do lento mas seguro progresso gerado pelo tempo-, prova ue
em4ora o homem, como tudo o mais, dotado ou n#o de inteligncia, se
movimente em um cErculo, esse cErculo é como a rosca de um parafuso,
sempre progredindo para o alto, a cada volta para um plano mais elevado.
*oseid deve ser compelida por suas mentes avançadas a fa=er o ue é justo
pelos fracos. A América e a uropa est#o se tornando mais propensas a
agir corretamente e com justiça, porue isso é parte do dever. 'emos
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ent#o empregadores modernos oferecendo de livre vontade o ue os
antigos poseidanos fa=iam por força da lei: partilhar lucros com os
empregados.
/endo a lei sido entregue aos juristas, os eleitores decretaram ue ogoverno deveria esta4elecer um Departamento de &ntendn-cia, cuja
incum4ncia seria a de coletar todos os dados estatEsticos referentes a
produtos alimentEcios comerci!veis, todos os t5teis necess!rios ao
vestu!rio e, em suma, todos os artigos necess!rios para a manutenç#o
social adeuada dos cidad#os. om 4ase nesses relat>rios estatEsticos,
seria feita uma estimativa do custo desses 4ens, entre os uais estavam os
livros, reconhecidos como alimento mental. 7oi calculado o custo anualdesses itens e, os sal!rios, com 4ase no resultado da divis#o do custo anual
pelo n?mero de dias. ssa ta4ela era atuali=ada a cada noventa dias, por
causa da veri$caç#o de ue certos itens principais Gutuavam, n#o sendo o
c!lculo totalmente est!vel, e os sal!rios de um trimestre poderiam diferir
dos sal!rios do trimestre anterior.
*ermite-me fa=er uma citaç#o:
"2eç#o '&&, Art. '. )s empregadores dividir#o os lucros 4rutos das
operaç8es comerciais da seguinte forma: ) sal!rio, ganhos ou
emolumentos de cada empregado ser#o pagos com 4ase na soma
trimestral estimada do custo de vida determinado pelo Departamento de
&ntendncia. Do restante, seis partes de cada cem do capital investido
ser#o reservadas. ste incremento ser! e representar! os lucros lEuidos do
empregador. Da receita restante ser#o dedu=idas as despesas normais e, de
ualuer soma remanescente, metade ser! investida para prover anuidades
aos doentes ou incapacitados, ou como seguro aos dependentes de
empregados falecidos. A metade restante ser! periodicamente distri4uEda
entre os empregados com 4ase em suas diferentes compensaç8es."
TU
"2eç#o '&0, Art. '. 0m conjunto de empregados é apenas euivalente
ao seu 2uperintendente. ste ebivale a todos os seus su4ordinados.
*ortanto, os empregadores, se n#o forem eles mesmos os administradores
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do seu neg>cio, pagar#o aos gerentes um sal!rio igual H soma dos sal!rios
dos su4ordinados."
ssas e outras leis tra4alhistas realmente tm um sa4or de modernidade.
+as a civili=aç#o de todas as eras, em todas as naç8es, unde a e5pressar-sede maneiras tais ue, se usarmos a linguagem moderna para e5primi-las,
parecer#o uase idnticas. /anto é assim ue na antiga AtlFntida e na
moderna América o termo "greve" pode ser apropriadamente empregado
para designar uma revolta de tra4alhadores; o mesmo princEpio caracteri=a
todas as outras fases-, de uma era para outra, o mundo progride com lenti-
d#o, e hoje ainda n#o est! t#o avançado nem t#o civili=ado, em seu atual
su4ciclo, uanto estava no tempo de *oseid. stas podem ser palavrasduras, mas logo ser#o compreendidas.
ssas eram as principais caracterEsticas do mundo industrial de *oseid.
As antigas greves e tumultos ue deram nascimento a essas leis
desapareceram e a pa= tomou o seu lugar. A mudança foi 4ené$ca, mas os
fortes sempre procuravam desco4rir um meio de 4urlar a lei e, em4ora n#o
tivessem tido 5ito su$ciente para causar grandes danos, seu desejo foi
adicionado H soma do arma. Assim, uando o mundo moderno da época
crist# chegou aos séculos de=oito e de=enove, especialmente este ?ltimo,
começou a reencarnaç#o dauele perEodo de *oseid e, por algum tempo, a
opress#o novamente predominou. ontra essa tendncia, hoje surge
timidamente o desejo de agir com justiça pela justiça em si, o ue,
aplicado a assuntos industriais, manifestou-se em anos muito, muito
recentes -um sinal do 4rilho derradeiro no crep?sculo do dia uase
chegado H hora $nal, lem4rando uma era aca4ada. (e$ro-me
particularmente ao desejo mais presente do homem de tratar corretamente
os outros sem ser forçado a isso por decretos legais. Q verdade ue isso é
feito ainda porue o homem desco4riu ue é conveniente; mas essa
desco4erta nunca teria sido feita se o desejo reencarna-do do 4em n#o
tivesse indu=ido e5perimentos de participaç#o nos lucros, na esperança de
e5terminar-se a inibidade das greves e com a idéia de harmoni=ar a
sociedade e lev!-la a agir como gostaria ue agissem com ela. 7inalmente,
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por mais estranho e parado5al ue pareça, essa melhoria é resultado direto
de antigos direitos conseguidos H força em *oseid, hoje $lhos reen-
carnados da opress#o reencarnada, assim como na AtlFntida a opres-
TVs#o surgiu como reencarnaç#o de eras ainda mais antigas, anteriores ao
espantoso memorial de 9i=é. +as ir além de uma simples menç#o disso
seria invadir a seara entregue a outrem pelo +essias; portanto, s> um
indEcio poderei dar agora e transmitirei outros mais tarde. asta di=er,
ent#o, ue aueles foram tempos em ue os homens lutavam contra nossa
ancestralidade caEda com uni movimento ascendente ue era praticamente
imperceptEvel, O9l>ria seja dada ao *ai, pois 2eus $lhos, segura em4oralentamente, est#o por meios tortuosos ascendendo a 2uas alturas; muitas
s#o suas uedas, mas eles se levantar#o de novo, n#o permitindo ue o
inimigo triunfe.
*ode parecer uma intrus#o inoportuna, mas devo introdu=ir neste
ponto uma 4reve descriç#o do sistema de transporte eletro->dico de
aiphul e das outras cidaes, grandes e peuenas, espalhadas pelo império
e suas col6nias. 7arei somete a descriç#o dos veEculos de transporte local.
m cada lado das amplas avenidas havia uma larga calçada de mosaico
para os pedestres. 0ma linha de enormes e pesados vasos de pedra, sem
fundo e onde cresciam ar4ustos ornamentais e folhagens, estavam no
meio-$o, e de cada lado deles havia um trilho de metal, a uma altura de
uns nove pés, apoiados em suportes semelhantes aos ue serviam para
amarrar navios. A distFncias regulares, outros trilhos cru=avam as vias
principais, podendo ser levantados ou a4ai5ados para formar um desviocomo os dos trens de hoje, com uma simples alavanca efetuando esse
processo. ) espaço a4ai5o dos trilhos servia como cru=amento de ruas,
havendo raramente uma rua pavimentada por 4ai5o, a n#o ser nas
avenidas maiores. Nos mapas do Departamento +unicipal de /rFnsito,
esses trilhos principais e secund!rios formavam uma espécie de teia de
aranha. *ara cada distrito havia grande n?mero de veEculos com mecanis-
mo aut>dico, ue permitia o transporte de seus passageiros a tremendas
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velocidades. N#o ocorriam colis8es, porue o sistema era formado por
trilhos duplos.
A A A
TCA*/0%) &&
A 7Q /A+Q+ Q )N&+N/)
(+)' +)N/ANA2
5iste um ditado cuja origem se perde na o4scuridade do tempo e ue
di= "onhecimento é poder". Dentro de limites 4em de$nidos, isto é uma
verdade. 2e por tr!s do conhecimento est! a energia necess!ria para
efetivar seus 4enefEcios, ent#o e s> ent#o esse ditado é uma verdade.*ara o e5ercEcio do controle da nature=a e suas forças, o operador em
potencial deve ter perfeita compreens#o das leis naturais pertinentes. Q o
grau de consecuç#o inserido nesse conhecimento ue marca a maior ou
menor capacidade desse operador, e aueles ue aduiriram a
compreens#o mais profunda da %ei O%e5 +agnumP s#o mestres cujos
poderes parecem maravilhosos a ponto de parecerem m!gicos. As mentes
n#o-iniciadas $cam a4solutamente alarmadas por suas incompreensEveis
manifestaç8es. m todos os pontos para onde eu olhasse uando me vi em
minha morada citadina ao chegar de meu lar nas montanhas, via ine5plic!-
veis maravilhas, mas a dignidade natural evitou ue eu parecesse um
ignorante. *ouco a pouco eu iria me familiari=ar com meu am4iente e com
isso aduirir o conhecimento das coisas a ue me referi uando mencionei
pela primeira ve= a troca da vida no interior pela cidade. +as essas
consecuç8es relativas a uma confortadora autoridade so4re a nature=a
e5igiam um curso especial. sse curso de estudo ainda n#o tinha sido
determinado por mim antes de minha entrada na cidade, pois parecia-me
ue seria uma atitude inteligente concentrar minhas energias em
especiali=aç8es, sem dispersar forças com generalidades. om 4ase nessa
idéia, resolvi passar um perEodo mais ou menos e5tenso sem solicitar ad-
miss#o ao Iiouithlon, perEodo esse ue seria aplicado H o4servaç#o. u
tinha sido um !vido leitor de livros o4tidos na 4i4lioteca p?4lica do
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distrito onde $cava minha casa nas montanhas. om essas leituras havia
aduirido uma compreens#o nada despre=Evel da organi=aç#o do governo.
) fato de haver apenas noventa e um cargos eletivos para o povo,
enuanto havia uase tre=entos milh8es de *oseidanos na AtlFntida e suascol6nias e, segundo um censo recente ue eu tinha visto, uase trinta e oito
milh8es de eleitores detentores de diplomas de *rimeira lasse, indu-
U
=iu-me a achar e5tremamente improv!vel ue t#o elevado privilégio me
fosse concedido. )ra, como eu di$cilmente poderia esperar ter um cargo
ministerial, ent#o seria possEvel, caso eu me candidatasse a um diploma
2uperior, o4ter um elevado nEvel polEtico e um cargo nomeado, entre osuais v!rios eram uase t#o honrosos uanto os de conselheiro. m uais
matérias especiais deveria eu me concentrar3 A pesuisa geol>gica me
agradava muito e seus in?meros ramos ofereciam amplos e atraentes
campos de oportunidades. +as a $lologia era dotada de uma atraç#o uase
igual e minha capacidade de aprender idiomas estrangeiros n#o era
peuena, como eu tinha constatado estudando um peueno volume
descritivo de uma terra conhecida pelo nome de 2uernis, um paEs estranho
de cuja lEngua muitos e5emplos ali apareciam. sses e5emplos aprendi
sem esforço e perfeitamente com uma s> leitura.
'!rios meses de residncia na cidade $nalmente me encontraram
decidido a aduirir todo o conhecimento geol>gico ue pudesse, pois eu
acreditava ue esse era um estudo ue &ncal me havia indicado, junto com
o conhecimento de minas e mineralo-gia. omo matérias concomitantes
resolvi me educar seriamente em literatura sintética e analEtica, n#o s>
com relaç#o a *oseid mas tam4ém Hs lEnguas dos 2uerni e NecropFnicos.
is ue aca4o de dar os nomes das trs maiores naç8es dos tempos pré-
Noachios Opré-NepthianosP. 0ma dessas naç8es foi varrida da face da
/erra mas as outras duas conseguiram so4reviver apesar de terrEveis
vicissitudes. Destas falarei mais adiante.
)s motivos ue me levaram a escolher o currEculo ue mencionei
foram os de ue, como ge>logo e cientista, eu esperava fa=er novas
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desco4ertas de valor e coloc!-las diante do mundo em forma de livro, ou
pelo menos diante do povo de *oseid ue se considerava o melhor do
mundo. sse desejo di$cilmente poderia ser reali=ado sem esses estudos
de ue falei. A inGuncia ue eu esperava conuistar através de minhaspu4licaç8es poderia me condu=ir ao cargo de 2uperintendente 9eral de
+inas, um cargo polEtico n#o inferior a ualuer outro cargo nomeado.
ertamente outros estudos seriam necess!rios, caso eu entrasse na disputa
por um diploma superior, mas os ue citei eram os mais agrad!veis e
constituiriam minha aspiraç#o principal. De passagem eu poderia o4servar
ue os estudos ue escolhi nauela oportunidade, e ue depois dominei
perfeitamente, $=eram minha nature=a assumir uma tendncia ue melevou, n#o fa= muitos anos, a tornar-me dono de minas no stado da
alif>rnia; 4em-sucedido, devo
UB
di=er. /am4ém $5ou muito mais $rmemente minhas inclinaç8es
lingbEsticas, tanto ue, enuanto era cidad#o dos stados 0nidos da
América, dominei n#o s> minha lEngua nativa mas igualmente ue=e outras
lEnguas modernas como francs, alem#o, espanhol,
M hins, v!rios dialetos do hindustani, e sFnscrito, como uma espé-
M ir de rela5aç#o mental. N#o tomes estas palavras como auto-en-
giandecimento, pois n#o é este o caso. 2> as formulei para te mostrar,
amigo, ue teus pr>prios poderes n#o s#o apenas uma uest#o de herança
genética, mas de mem>rias de uma ou uem sa4e de todas as tuas vidas
passadas; tam4ém tive a intenç#o de fa=er uma alus#o proveitosa, ual seja
a de ue os estudos empreendidos hoje, n#o importa u#o pr>5imo estejas
do ocaso de nus dias, certamente dar#o frutos, n#o s> nesta tua vidaterrena
mas em encarnaç8es su4sebentes. 'emos com a vis#o de tudo ue vimos
antes, agimos com 4ase em tudo ue j! $=emos antes, pensamos atravésde
tudo ue j! pensamos no passado. 'er4um sul 2apienti.
No pr>5imo capEtulo pretendo dedicar algumas p!ginas a consideraç8esso4re a cincia fEsica, tal como era entendida pelos pose -idanos. (eferir-
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me-ei mais especialmente aos princEpios superiores em ue essa cincia se
4aseava, visto ue negligenciar essas e5plicaç8es reuereria muitas
declaraç8es e5 cathedra posteriores ue de outra forma poderiam ser clara
e imediatamente compreendidas.A A A
UK
A*&/0%) &'
"AI/ &NA%, AI/0 +0N"
onsiderando as leis naturais, os $l>sofos de *oseid tinham chegado H
hip>tese $nal e H teoria pr!tica de ue o universo material n#o era uma
entidade comple5a mas, ao contr!rio, primordialmente muito simples. Agloriosa verdade O"&ncal mali5etho"P era elara para eles, ou seja, ue "&ncal
ODeusP é imanente na Nature=a". A isso apuseram ue "A5te &ncal, a5tuce
mun" -"conhecer Deus é conhecer todos os mundos". Ap>s séculos de
e5perimentaç#o, registros de fen6menos, deduç8es, an!lise e sEntese,
aueles estudiosos haviam chegado H proposiç#o $nal de ue o universo
em todos os seus variados fen6menos -sem contar seu e5traordin!rio
conhecimento de astronomia -tinha sido criado e mantido em operaç#o por
duas forças -princEpios primais. 7alando resumidamente, esses fatores
4!sicos eram ue a matéria e a energia dinFmica Oue eram &ncal
manifestoP, poderiam facilmente e5plicar todas as outras coisas. ssa
concepç#o partia do princEpio de ue s> e5istia 0ma 2u4stFncia e 0ma
nergia, sendo uma &ncal e5ternali=ado e a outra 2ua 'ida em aç#o em
2eu orpo. ssa 2u4stFncia nica assumia muitas formas pela aç#o de
graus vari!veis de força dinFmica. ) fato de ue esse era o princEpio 4!si-
co de todos os fen6menos naturais e psEuicos, mas n#o espirituais,
permite-me transmitir aui um postulado ue muitos de meus amigos
reconhecer#o ao menos parcialmente, ou uem sa4e; na Entegra.
omeçando com a energia dinFmica tal como primeiro se manifesta de
forma sensEvel no e5emplo dado pela vi4raç#o simples, a posiç#o
poseidana pode ser es4oçada da seguinte forma: uma frebncia muito
4ai5a de vi4raç#o pode ser sentida; um aumento de frebncia pode ser
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ouvido. *or e5emplo, sentimos primeiro o pulsar da corda da harpa e
depois, se a freun-
Nota - omo, em seu impulso de emanaç#o, o riado sempre se afasta
do riador, ele olha para sua origem e nota seus marcos de progresso, ouseja, as multiplicadas percepç8es de sua crescente separaç#o da 7onte.
Juanto maior essa separaç#o, maior é o campo O+atériaP em ue esses
pontos aparecem, porue o elemento do riado ue se distancia notou mais
pontos ou, em outras palavras, mais coisas, mais o4jetos materiais entre elee
sua 7onte. 2> uando olhamos para tr!s, para essas coisas ue sentimos,para
essas formas-mentais de Deus, perce4emos a matéria, pois, uandoolhamos
para a frente, para a reuni#o com le, a matéria desaparece e d! lugar ao
spirito.
UT
cia da vi4raç#o aumenta, ouvimos seu som. +as su4stFncias de outras
espécies, capa=es de suportar impulsos vi4rat>rios maiores, manifestam-se
por uma aç#o mais intensa, seguindo-se ao som o calor, e depois a lu=.*ois 4em, a lu= varia de cor. A primeira cor produ=ida é o vermelho e, a
partir daE, aumentando-se constantemente a energia vi4r!til, o alaranjado,
o amarelo, o verde, o a=ul, o Endigo, o violeta, cada fai5a do espe
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