Pietro Ubaldi
II PARTE III PARTE I PARTE
CONCLUSO DA OBRA
PRINCPIOS DE UMA NOVA TICA
APRESENTAO ....................................................................................................................................................... 1
I. DEUS - DUAS CONCEPES .............................................................................................................................. 1
II. EVOLUO DA TICA ...................................................................................................................................... 9
III. MTODOS DE VIDA ........................................................................................................................................ 16
IV. A PERSONALIDADE HUMANA .................................................................................................................... 23
V. OS TRS BITIPOS TERRESTRES ............................................................................................................... 32
VI. O DESTINO ........................................................................................................................................................ 40
VII. PSICANLISE .................................................................................................................................................. 47
VIII. A NOVA PSICANLISE ................................................................................................................................ 53
IX. TCNICAS DE TRATAMENTO ..................................................................................................................... 61
X. TICAS DO SEXO .............................................................................................................................................. 68
XI. A TICA SEXFOBA DO CRISTIANISMO ................................................................................................. 73
XII. O SEXO COMO PROBLEMA ATUAL ......................................................................................................... 80
XIII. CONCLUSES. AMOR E CONVIVNCIA SOCIAL .............................................................................. 85
A DESCIDA DOS IDEAIS
P R E F C I O ......................................................................................................................................................... 93
I. A DESCIDA DOS IDEAIS. ESTRUTURA DO FENMENO ......................................................................... 95
II. A HUMANIDADE EM FASE DE TRANSIO EVOLUTIVA ................................................................... 99
III. O CRTICO MOMENTO HISTRICO ATUAL. O INCIO DE UMA NOVA ERA. ............................ 102
V. A EVOLUO DAS RELIGIES................................................................................................................... 132
VI. SINAIS DOS TEMPOS - JEAN PAUL SARTRE ......................................................................................... 134
VII. OS IDEAIS E A REALIDADE DA VIDA .................................................................................................... 139
VIII. DESENVOLVIMENTO DO CRISTIANISMO .......................................................................................... 149
X. A CRISE DO CATOLICISMO......................................................................................................................... 160
XI. PSICANLISE DAS RELIGIES E ............................................................................................................. 166
ASPECTOS DO CRISTIANISMO........................................................................................................................ 166
XII. CINCIA E RELIGIO ................................................................................................................................ 188
XIII. TRABALHO E PROPRIEDADE ................................................................................................................ 194
UM DESTINO SEGUINDO CRISTO
PREMBULO ......................................................................................................................................................... 205
I. O VOTO ............................................................................................................................................................... 208
II. O SIGNIFICADO .............................................................................................................................................. 210
III. POBREZA E EVANGELHO .......................................................................................................................... 215
IV. INCOMPREENSO E CONDENAO ....................................................................................................... 219
V. A VIDA UMA ESCOLA ................................................................................................................................ 224
VI. O PROBLEMA DA JUSTIA E OS EQUILBRIOS DA LEI ................................................................... 228
VII. SINAIS DOS TEMPOS .................................................................................................................................. 231
VIII. INVESTIMENTOS NO BANCO DE DEUS ................................................................................................ 240
IX. A UNIVERSAL BIPOLARIDADE DO SEXO NAS RELIGIES .............................................................. 244
X. O IDEAL E O MUNDO ..................................................................................................................................... 251
XI. A CRISE DA VELHA MORAL ....................................................................................................................... 257
XII. O PROBLEMA RELIGIOSO. A OBRA PERANTE A IGREJA .............................................................. 271
XIII. A OFERTA ..................................................................................................................................................... 285
XIV. GNESE E SIGNIFICADO DA OBRA ....................................................................................................... 289
XV. O CALVRIO DE UM IDEALISTA ............................................................................................................. 293
XVI. O MEU CASO PARAPSICOLGICO ........................................................................................................ 297
XVII. O LTIMO ATO. O HOMEM PERANTE A MORTE ............................................................................ 312
XVIII. LIBERTAO ............................................................................................................................................ 324
CRISTO
PRIMEIRA PARTE A FIGURA DE CRISTO ................................................................................................... 327
PREFCIO .............................................................................................................................................................. 327
I. TUDO-UNO-DEUS .............................................................................................................................................. 328
II. O FENMENO DA QUEDA ............................................................................................................................ 331
III. A VIA CRUCIS DE CRISTO .......................................................................................................................... 332
IV. A NOVA FIGURA DO CRISTO ..................................................................................................................... 334
V. O CHOQUE ENTRE SISTEMA E ANTI-SISTEMA ..................................................................................... 336
VI. NECESSIDADE MITOLGICA .................................................................................................................... 340
VII. O MTODO DA NO VIOLNCIA ............................................................................................................ 343
VIII. O CICLO INVOLUTIVOEVOLUTIVO ................................................................................................... 345
SEGUNDA PARTE EVANGELHO E PROBLEMAS SOCIAIS ..................................................................... 348
IX. JUSTIA SOCIAL ........................................................................................................................................... 348
X. O SERMO DA MONTANHA ......................................................................................................................... 350
XI. POBRES E RICOS ............................................................................................................................................ 353
XII. O IDEAL NA TERRA ..................................................................................................................................... 355
XIII. A ORIGEM DA JUSTIA SOCIAL ............................................................................................................ 358
XIV. A ECONOMIA DO EVANGELHO ............................................................................................................. 360
XV. VALORES TERRENOS ................................................................................................................................. 362
XVI. VALORES ESPIRITUAIS ............................................................................................................................ 366
XVII. FINALIDADES DA VIDA ........................................................................................................................... 369
XVIII. OFENDIDO E OFENSOR - SEUS DESTINOS ....................................................................................... 372
XIX. A NOVA TCNICA DE RELAES SOCIAIS ........................................................................................ 376
XX. PRINCPIO DA RETIDO ............................................................................................................................ 381
CONCLUSO .......................................................................................................................................................... 385
Vida e Obra de Pietro Ubaldi (Sinopse)....................................................................................pgina de fundo
Pietro Ubaldi PRINCPIOS DE UMA NOVA TICA 1
PRINCPIOS DE UMA NOVA TICA
APRESENTAO
Princpios de uma Nova tica o 10o volume da II Obra,
que foi chamada de brasileira, porque escrita no Brasil. Este
livro segue o recm publicado, Queda e Salvao, que o 9o
volume da II Obra. Assim est sendo publicada esta segunda
srie de 12 volumes, paralela primeira, j quase toda editada
no Brasil, tambm de 12 volumes.
Estamos, desse modo, nos aproximando do encerramento
desta gigantesca Obra, que composta de duas partes, a I e a II
Obra, formando um conjunto com cerca de 10.000 pginas. Por
isso, a fase atual de desenvolvimento do pensamento central da
Obra no mais aquela das teorias gerais orientadoras do co-
nhecimento a respeito do imenso problema do universo, mas a
fase do estudo das consequncias das afirmaes gerais e das
suas aplicaes no terreno prtico, para iluminar quem queira
viver com inteligncia e honestidade, compreendendo o pensa-
mento das leis que dirigem a existncia de todos os seres.
neste ponto que o leitor amadurecido poder ver a im-
portncia destes ltimos livros conclusivos, escritos para nos
dirigir na ao, o que significa agir com inteligncia, evitando
erros que, depois, pelos princpios de equilbrio e justia da
Lei, inevitvel ter de pagar, duramente, cada um s suas cus-
tas, com a prpria dor.
Nestes livros, porm, no queremos impor conduta alguma.
Cada um permanece livre, e ningum pode constranger o ou-
tro. Podemos apenas aconselh-lo, mostrando-lhe qual a con-
sequncia fatal de no se viver de acordo com a Lei, mas con-
tra ela, e indicando-lhe o melhor caminho para evitar a rea-
o da Lei, que a dor, saudvel aviso para no voltar ao er-
ro. O destino de cada um est nas prprias mos, e no nas de
quem, pensando e escrevendo, pode com isso explicar, pelas
leis que dirigem a vida, o que acontece ao indivduo como
consequncia de seu livre comportamento. Para um ser inteli-
gente, que sabe raciocinar, tal demonstrao poderia bastar.
Mais do que isto o escritor no pode fazer. Se o leitor no en-
tender, ter depois de ler um outro livro, escrito por si mesmo,
com a sua dor, no seu destino. No entanto bom oferecer-lhe
uma explicao preliminar, servindo como um aviso, para que
ele, conhecendo o funcionamento das leis que regulam a sua
vida, possa assim evitar o seu prprio prejuzo.
As teorias gerais de que acima falvamos esto contidas
nos livros bsicos da obra: A Grande Sntese, Deus e Univer-
so, O Sistema e Queda e Salvao. Eles oferecem um sistema
cientfico-filosfico-tico-teolgico completo, cujos pormeno-
res os outros livros da Obra explicam, ampliando aspectos
particulares. Nesses livros bsicos, o leitor encontrar as de-
monstraes que nos autorizam a chegar s concluses conti-
das no presente volume. Isto prova que no chegamos a elas
levianamente, fantasiando, mas sim amadurecidos pelo pen-
samento desenvolvido em milhares de pginas, que constituem
a premissa positiva das concluses.
I. DEUS - DUAS CONCEPES
Deus existe Uma prova poderia ser a que nos oferecida pe-
lo materialismo ateu, que O nega. Assim como a sombra implica
a presena da luz, tambm a negao pressupe a existncia do
que se nega. S se pode afirmar a no-existncia daquilo que sa-
bemos que existe. De outra maneira, de que se afirmaria a no-
existncia? Do nada? Mas o nada j no existe por si prprio, e
para que ele no exista, no necessrio afirmar a sua no-
existncia. Nada se pode dizer do que no conhecemos, porque
no existe. Como se pode afirmar que no existe o que no sa-
bemos o que ? Se no sabemos o que o nada, porque ele no
existe. Como se pode afirmar a sua no-existncia, quando nin-
gum sabe da sua existncia? Portanto, se negamos uma coisa,
porque ela existe. A negao de Deus prova a Sua existncia.
No caso do materialismo ateu, porm, essa negao no re-
presenta a negao de Deus no que Ele porque, para o ho-
mem, isto est alm do seu conhecimento e porque, no absoluto,
Deus est acima de toda a nossa negao ou afirmao mas
somente a negao da ideia que o homem, num dado momento
histrico, tem de Deus, isto , da representao que ele, num de-
terminado tempo, faz de Deus, conforme o grau de evoluo
atingido. Assim, por exemplo, um materialista entre os selvagens
seria quem nega a existncia do Deus do feiticeiro, representado
por um boneco com a cara e as qualidades do selvagem.
H, ento, dois pontos bem diferentes na questo: 1) Deus
em Si mesmo, no absoluto, acima da compreenso humana; 2)
Deus como ideia concebida pelo homem no seu relativo, consti-
tuindo a imagem que ele faz de Deus conforme os seus poderes
de representao. O primeiro caso nos foge completamente,
porque est alm do nosso conhecimento. O segundo caso re-
presenta tudo o que conseguimos saber de Deus, isto , uma re-
presentao a ns relativa, mas progressiva em funo do grau
de evoluo por ns atingido.
Que negou, ento, o materialismo da cincia? Negou somen-
te a nica coisa que ele podia negar, isto , o que o homem co-
nhecia: o conceito relativo de Deus, sustentado pelas religies
no perodo histrico em que o materialismo apareceu. No entan-
to, pelo prprio fato de que aquele conceito, sendo relativo, est
em evoluo e de que hoje a humanidade entrou numa fase mais
adiantada de amadurecimento mental, o qual leva tudo a ser
concebido, e tambm Deus, com outra forma psicolgica e dife-
rentes pontos de referncia, eis que o velho materialismo ateu
acabou por se encontrar perante uma nova ideia de Deus, e no
mais aquela que ele estava negando. Com a evoluo, que tudo
arrasta no seu caminho, esta ideia havia-se transformado, devido
a um amadurecimento evolutivo geral, do qual a prpria cincia
materialista, com a sua negao do velho conceito de Deus, faz
parte. Disto se segue que o clssico materialismo ateu no repre-
senta, hoje, seno uma negao da velha concepo de Deus
sustentada pelas religies, enquanto a prpria cincia acabou de-
sembocando numa concepo mais adiantada de Deus, a qual
ela no pode mais negar, tendo, pelo contrrio, de aceit-la, por-
que esta ideia explica e funde em unidade os resultados parciais
da cincia, dando a eles um sentido orgnico e telefinalista, sem
o qual tudo fica abandonado na desordem do acaso e no mistrio
dos incontveis problemas ainda no resolvidos.
Assim, na economia da vida, o materialismo ateu no foi
um meio para chegar negao de Deus, mas apenas para des-
truir a velha ideia que Dele era feita pelo homem nas religies
e, com isso, atingir uma nova concepo, mais evoluda, com-
pleta e convincente. Tal processo ainda est realizando-se. De
fato, a nova cincia destruiu a concepo materialista da mat-
ria, a qual ela desintegrou, desmaterializando-a em energia.
Hoje, como estamos vendo acontecer, a cincia est sendo
constrangida pelos fatos, os quais ela no pode negar, a abstra-
ir-se cada vez mais da materialidade sensria para chegar a en-
2 PRINCPIOS DE UMA NOVA TICA Pietro Ubaldi
tender a matria como uma realidade imaterial, explicando a
substncia das coisas com um conceito que cada vez mais se
aproxima e tende a coincidir com aquele impondervel inteli-
gente, chamado de esprito no passado.
O que nos interessa agora observar quais so essas duas
concepes de Deus, com tudo o que delas decorre, sobretudo
a respeito da conduta humana, o que nos conduz ao terreno da
tica, nosso atual assunto desenvolvido neste volume. Como
sempre acontece entre o que est morrendo e o que est nas-
cendo no seu lugar, as duas concepes esto em luta. A pri-
meira est fixada nas religies e na respectiva forma mental,
filha do passado menos evoludo. A segunda representada
pelos espritos mais amadurecidos, que se rebelam contra o
passado, antecipando a nova maneira de conceber Deus e as
relaes do homem com Ele.
O conceito de Deus e a respectiva tica que nos oferecem as
religies atuais, corresponde ao grau de amadurecimento evolu-
tivo atingido pela humanidade atual. Esse o nico conceito
que as religies nos podem oferecer, porque o nico que a
maioria pode entender, aquele com o qual ela concorda, porque
ele, no importa se atrasado, corresponde aos seus instintos na-
turais. Um conceito mais adiantado a massa no poderia aceitar,
porque est fora da sua forma mental, que estabelece quais so
as ideias vigentes em nosso mundo. Como j explicamos em
outros livros nossos, o bitipo dominante na Terra o involudo
e, sendo ele a maioria, tem todos os direitos, afirma e pratica a
verdade que quer, no importa qual seja a sua f teoricamente
professada nas verdades eternas, as quais, por longa experin-
cia, ele sabe torcer, para adapt-las s suas comodidades.
Qual ento esse conceito que acabamos de mencionar?
Uma vez que aqui falaremos de tica, iremos examinar tal con-
ceito sobretudo no que se refere nossa conduta humana, tendo
como ponto de referncia Deus e a nossa concepo Dele, da
qual depende a tica. A ideia que o homem possui de Deus,
herdada do passado, est ligada sobretudo a um ser todo-
poderoso, que, por isso, pode fazer o que bem entender, violan-
do arbitrariamente e vontade as leis que Ele prprio estabele-
ceu para o funcionamento da fenomenologia universal. Assim o
homem, com a sua forma mental, tinha construdo um Deus
com as suas prprias e bem humanas qualidades, de dominador
rebelde, cujo poder se realiza e se manifesta pela imposio da
sua vontade a todos, seja ela qual for, cioso dos rivais e egoisti-
camente preocupado apenas em dominar seus sditos, para ser
obedecido por eles. O poder deste Deus, ento, no estava na
ordem, e sim na violao da ordem. Mas isso justamente o
poder da revolta, que gera desordem e destruio, representan-
do o poder negativo do anti-Deus, e no o positivo de Deus. Es-
tamos nos antpodas. Instintivamente, o homem criou para si
uma ideia de Deus feita sua imagem e semelhana, ideia deri-
vada da posio do prprio homem, invertida pela queda no
Anti-Sistema. (Que o universo est cindido nos dois termos
opostos do dualismo, Sistema e Anti-Sistema, j foi explicado
em nosso volume O Sistema. Tambm no presente livro, quan-
do falarmos de Sistema, abreviaremos com S; e quanto falar-
mos de Anti-Sistema, abreviaremos com AS).
Tal Deus faz milagres, contrapondo-se arbitrariamente
Sua prpria ordem, o que leva a uma contradio absurda, pos-
svel na criatura que se revolta contra Deus, mas inadmissvel
em Deus, que, neste caso, estaria revoltando-se contra Si mes-
mo. Mas o homem no podia sair da sua forma mental e, nada
mais possuindo, teve de construir para si a sua ideia de Deus
somente com os conceitos que lhe forneciam as suas experin-
cias terrenas, ficando fechado dentro do seu inexorvel antro-
pomorfismo. Esse Deus favorece, com a Sua graa, apenas
quem Ele quer, infringindo o Seu princpio de justia. Ele cria
do nada as almas e as envia, pelos Seus imperscrutveis desg-
nios, para viver na Terra, cada uma em condies bem diferen-
tes da outra, muitas vezes submetidas a sofrimentos diversos,
sem que elas saibam o porqu dessa diferena e de tal conde-
nao. Esse Deus pode fazer qualquer coisa, pelo direito do
mais forte, na mais desordenada e injustificvel arbitrariedade,
e a criatura tem de obedecer cegamente, sem ter o direito de
saber, obedecendo no porque entendeu e aceitou convencida,
mas porque constrangida, pelo clculo egosta, a fugir do ter-
ror do inferno e, pela cobia, a buscar os deleites do paraso.
Entender no possvel, sendo at mesmo proibido, porque
considera-se ousadia querer desvendar os mistrios. No resta,
assim, seno a f cega, o terror e a ignorncia.
De tudo isto no se pode culpar ningum, porque nada dis-
so foi feito com propsito de maldade. Este o nvel evolutivo
tanto dos chefes como de seus rebanhos, e, neste nvel, o ho-
mem no sabe conceber e funcionar com outra forma mental.
Mas lgico que, se desta psicologia sai um tal conceito de
Deus, dela saia tambm uma proporcionada concepo de ti-
ca, dada por uma moral egosta e de arbtrio, com base nos
mesmos princpios, tanto o da fora, que autoriza Deus a man-
dar, como o da astcia, que permite o homem se evadir daque-
le comando. Essa uma posio falsa e emborcada da tica.
Estamos num terreno escorregadio, que, em lugar de levar em
subida para o S, leva o ser em descida para o AS. Isso repre-
senta o triunfo do involudo, que tudo criou no seu mundo para
si, sua imagem e semelhana. No seu plano evolutivo, tudo
regido pela lei da luta, pela seleo do mais forte e pelos ins-
tintos que ela constrangeu o homem a desenvolver, nos quais
se baseia a sua tica atual. Nesta fase primitiva no possvel
apoiar-se na inteligncia e exigir que ela funcione, quando ain-
da no est suficientemente desenvolvida.
Se o conceito de Deus esse, bem terreno, de um patro que
manda, punindo quem no lhe obedece, s pelo direito que lhe
vem da sua fora de todo-poderoso, a lgica posio do fiel ,
por equilbrio e defesa da vida, a do servo que procura evadir-
se, seja amansando a ira do patro, que ele provocou com a sua
desobedincia (fazendo de tudo para arrancar seu perdo, com
preces, arrependimentos, promessas, ofertas, honras etc., mes-
mo que mentirosas), seja procurando subtrair-se dura lei do
patro, com enganos e todas as escapatrias possveis. Essa ati-
tude fatal consequncia dessa posio em que o homem se co-
loca perante Deus, de antagonismo, e no de fuso de interes-
ses, posio devida ao estado de revolta, na qual, pela queda, a
criatura se colocou perante o Criador. Essa posio invertida
vai-se endireitando cada vez mais com a evoluo. E assim se
explica como a condio do atual ser primitivo seja de inimiza-
de com Deus, isto , a situao do mais fraco que foge do mais
forte, e no de amizade com Deus, isto , a situao de um
amigo que colabora para uma finalidade comum.
Explica-se desse modo a estrutura das religies atuais, feitas
sobretudo de prticas exteriores, que so fceis de realizar com
pouco sacrifcio e, o mais importante, no incomodam a liberda-
de de conduta do indivduo, deixando a cada um a possibilidade
de satisfazer os seus instintos e realizar os seus negcios. re-
conhecido, desta maneira, e respeitado o direito de pecar, isto ,
de violar a Lei, constituindo esta prtica sempre a grande atrao
dos primitivos, que formam a maioria. Tal violao , assim,
prevista de antemo por uma organizao encarregada de eter-
namente remendar tais pecados, para os quais fica, ento, amplo
lugar no seio das religies, sem que eles produzam graves con-
sequncias para quem os praticou. Em vez de ter, inexoravel-
mente, de pagar aquelas consequncias at o ltimo ceitil em ou-
tras encarnaes, sem escapatria possvel, lgico que convm
mais rezar uma leve penitncia e, com um provisrio e fortuito
arrependimento de relativa durao, considerar-se quite, pronto
a repetir o erro, continuando assim a satisfazer-se. Adaptado
comum psicologia atual, este mtodo aceito porque o paga-
mento barato, convindo como bom negcio. Permanece assim,
Pietro Ubaldi PRINCPIOS DE UMA NOVA TICA 3
com tal mtodo, o defeito de ser ele um engano que o homem
desejaria praticar custa da justia de Deus, tentativa intil, pois
tudo acaba recaindo sobre o culpado, que nem por isso pode es-
capar quela justia, tendo da mesma forma de pagar nas reen-
carnaes futuras a sua dvida, e isto sem entender nada. E Deus
no aparece na Terra para esclarecer e impor fora a Sua lei,
mas deixa que o ser a descubra s prprias custas, experimen-
tando. Assim, no obstante o homem acredite que lhe escapa
com a sua astcia, a Lei continua funcionando do mesmo modo,
porque, para isso, ela no precisa do nosso conhecimento. E o
homem, enquanto no tiver conscincia da Lei, ter de pagar
com o seu sofrimento o preo da sua ignorncia.
Eis, ento, o que se encontra na realidade dos fatos. Temos,
de um lado, a casta sacerdotal, que justifica, enquanto represen-
tante de Deus, a sua existncia e posio de domnio, apoiada
em poderes espirituais dos quais depende a nossa vida futura.
Do outro lado, temos o termo oposto, representado pela massa
dos fiis, que procuram os meios para assegurarem as melhores
condies de vida na sua continuao depois da morte. Uns e
outros so impulsionados pelo mesmo instinto vital, que exige
viver e sobreviver, e lutam por isso. Mas todos, uns e outros,
vivem num mundo e pertencem a um nvel de evoluo onde
no h ser que no seja rival de outro. Para satisfazer a necessi-
dade fundamental de todos, que viver, torna-se indispensvel
concordar numa convivncia, qual no possvel chegar sem
se estabelecer um equilbrio entre as exigncias opostas, o que
pode ser atingido com o mtodo da troca, pelo qual, para que
seja possvel coexistir, cada um dos dois d alguma coisa, para
receber outra. Cada um, ento, d o que tem. Assim, a casta sa-
cerdotal oferece ao mundo a soluo do problema da vida de
alm-tmulo com a salvao eterna, recebendo em troca os re-
cursos materiais e o domnio que precisa para viver. Do outro
lado, a massa dos fiis recebe da autoridade espiritual, para isso
encarregada por Deus, a garantia de uma vida futura feliz, exe-
cutando apenas algumas praticas exteriores e afirmando que
acredita em coisas que no entende nem lhe interessa entender.
Com isto, a classe sacerdotal, pelo princpio da troca, tem direi-
to que a sociedade lhe retribua essa ddiva, reconhecendo o seu
poder terreno com todas as suas decorrncias.
Realiza-se, assim, a troca que permite a convivncia, consti-
tuindo o meio necessrio para, nesse nvel evolutivo e confor-
me suas respectivas leis, chegar simbiose. Assim, cada um
pago com a moeda que o outro lhe oferece. Simbiose entre o
espiritual e o material, na qual cada um d o que tem e recebe o
que lhe falta. O espiritual concede o paraso e obtm a sua posi-
o material. O material d vantagens concretas, mas exige por
isso ser pago, tomando as vantagens espirituais. Mas cada um
faz as suas contas, e o mundo, sabendo muito bem o valor do
que ele concede e do que ele calcula receber, procura dar o me-
nos possvel, sobretudo em relao a qualquer incmodo esfor-
o individual. Como em tudo na Terra, h luta tambm entre os
dois termos da simbiose, cada um procurando para si a maior
vantagem possvel custa do outro. Ento, para receber a sua
posio na sociedade e nela se manter, era necessrio que o po-
der religioso no pedisse sacrifcios demasiados ao mundo,
permitindo-lhe a possibilidade de atingir o seu objetivo de sal-
vao final, praticando uma moral que consentisse muitas esca-
patrias, com as quais, mantendo o mais profundo respeito pe-
las prticas exteriores, fosse possvel dar suficiente satisfao
aos instintos involudos, a principal exigncia da maioria.
Deste modo, todos ficam satisfeitos, porque cada um acre-
dita ter sido o mais astuto, recebendo mais do que d. O espiri-
tual, dando promessas de salvao, mas recebendo a vantagem
bem positiva da sua posio social; o material, ganhando a sal-
vao com o mnimo de incmodo e esforo possvel. O nico
que no ficou satisfeito foi Deus, cuja justia reclama e exigir
pagamento de ambas as partes. Pela grande sabedoria das ast-
cias humanas, parece que o nico, neste jogo, a ficar enganado
Deus com a Sua lei. Isto o que pode pensar o homem com a
sua forma mental de involudo e de rebelde ordem, julgando,
com tal psicologia de primitivo, que possa haver vantagem em
intrujar a Deus. Mas o homem no sabe que o nico a no ser
enganado exatamente Deus e que o engano cair em cima
dos enganadores, os quais no podero deixar de pagar os ter-
rveis efeitos da sua astcia. Somente a ignorncia do primitivo
pode acreditar que seja possvel intrujar a Deus. Assim, o invo-
ludo espontaneamente levado a tal absurdo pelo seu instinti-
vo impulso de revolta, ao qual ele, inconscientemente, obedece
sem ter conhecimento da Lei nem suspeitar das suas reaes,
pelas quais querer enganar a Deus significa apenas enganar-se
a si prprio. No entanto, as religies ainda desconhecem o con-
tedo da Lei e os princpios que regem a vida, de modo que
no os podem ensinar. Enquanto no entender tudo isto, o
mundo continuar vivendo satisfeito com esse acordo, que,
embora lhe oferea a vantagem de satisfazer o seu instinto de
aproveitar-se de tudo com a sua astcia, condena-o depois a
pagar inexoravelmente o seu erro e saldar a dvida com a justi-
a divina. O jogo bem combinado. As castas sacerdotais po-
dem ficar nas suas posies, e a massa dos fiis pode, pagando
apenas com prticas exteriores e seguindo nas suas comodida-
des, satisfazer-se durante a vida, assegurando, ao mesmo tem-
po, sua salvao para depois da morte. Desse modo, todos es-
to contentes, porque puderam continuar vivendo, atingindo o
maior resultado com o menor esforo, o que representa para
todos um grande ideal. A maioria fica satisfeita apenas com o
presente, interessando-se somente com a vantagem imediata.
Para ela, porquanto desconhece a Lei e o seu contedo, o futu-
ro que constitui o nosso presente de amanh algo incon-
cebvel, desaparecendo nas neblinas do mistrio.
Esse jogo corre bem, enquanto o homem permanece nas su-
as atuais condies de involuo e de ignorncia, as quais no
lhe permitem aperceber-se quo prejudicial para ele tal mto-
do de enganos, que, no fim, no deixar de lev-lo a pagar esse
erro, sua custa e com o seu sofrimento. Se, hoje, ele sabe ape-
nas entender o que se verifica no presente imediato, sem se
aperceber, devido sua miopia, das consequncias do seu m-
todo atual, fatal que elas acabem chegando e que, assim, ele
acabe pagando. Desse modo, a dor cumpre a tarefa de lhe ensi-
nar a conhecer a Lei, para que ele no erre mais, ou seja, no v
mais contra ela. assim que, pela dor, a mente humana ir
aprendendo cada vez mais e, com isso, comear a entender
quo louco e perigoso o seu mtodo atual.
Mas, por enquanto, estamos bem longe de chegar a. O
homem ainda funciona impulsionado irresistivelmente pelos
seus instintos, fruto do seu passado. Ainda no soube libertar-
se deles, evoluindo, e continua satisfeito em obedecer-lhes ce-
gamente. O fato que a lei desse plano de vida a luta pela
conquista de uma posio superior dos outros, e quem se en-
contra situado nesse nvel de evoluo aceita e vive essa lei.
por isso que tal mtodo tende a prevalecer em todas as raas,
religies e partidos, ou seja, onde quer que exista o homem.
Esta a razo pela qual quem tem o poder e manda , muitas
vezes, levado a se aproveitar dessa posio no para cumprir
uma tarefa diretiva, mas para dominar e levar vantagem sobre
os seus dependentes, que, por sua vez, procuram pagar aos
chefes na mesma moeda, defendendo-se o mais que podem e
tentando todas as escapatrias para se evadir das leis. assim
que o povo busca enganar os ministros das religies, mostran-
do-se fiel nas prticas, mas fazendo ao mesmo tempo os seus
negcios e aproveitando as oportunidades, enquanto os chefes
ficam com o poder, prometendo em troca a salvao eterna.
Esta a lei deste nvel, que a forma mental humana deseja. Es-
ta a posio na qual tantos ficam satisfeitos, porque a ela cor-
4 PRINCPIOS DE UMA NOVA TICA Pietro Ubaldi
responde a natureza do homem, que, desse modo, fica ao sabor
dos seus instintos. E todos se julgam, assim, inteligentes e s-
bios. neste esforo de superao recproca que est o seu
maior trabalho, a satisfao do seu orgulho, a demonstrao da
sua inteligncia e a prova do seu valor.
H, porm, outro fato. A lei do progresso trabalha continu-
amente para tirar o homem dessa sua triste condio, impulsio-
nando-o a evoluir. Atravs de incessantes e duras experincias
neste baixo nvel de vida, o homem acabar forosamente atin-
gindo o amadurecimento necessrio para compreender a estupi-
dez de tal mtodo, pelo qual cada um sabe agir somente em
obedincia cega aos instintos do inconsciente. O homem ter
assim de aprender a pensar, para depois, ento, comportar-se
com inteligncia e conscincia. A lei da evoluo, que o est
incansavelmente impulsionando de baixo para cima nesse sen-
tido, no pode tolerar que to involudo jogo dure para sempre
e que o homem continue sendo apenas um menino, dirigido pe-
lo seu subconsciente animal, como um menor que no sabe o
que faz, incapaz de receber de Deus as suas liberdades, por no
sabe assumir as suas responsabilidades. A vida somente pode
permitir tudo isto a seres primitivos, no atual baixo nvel biol-
gico. Pela fatal lei do progresso, a mente humana ter de se
abrir, a fim de poder chegar a dirigir a vida com mtodos mais
inteligentes, honestos e vantajosos.
Essa exatamente a mudana que hoje se comea a realizar.
A mente humana est saindo das nvoas de sua menoridade.
Ela, agora, faz perguntas e pede respostas, no mais aceitando,
somente por f cega, verdades apoiadas no mistrio. Comea a
raciocinar, olhando as coisas com esprito crtico, e, antes de
obedecer, quer ver claramente com a lgica e a razo, exigindo
de quem manda que justifique a sua posio. Insatisfeita com as
tradicionais palavras e afirmaes tericas, quer ver o que est
atrs dos bastidores das verdades proclamadas e da autoridade
que, nelas, pretendem se apoiar.
Chegou a hora de explicar tudo com sinceridade e justia, se
quisermos que os indivduos obedeam s leis. At ontem, foi
necessrio o mtodo da f cega, porque no se pode dar expli-
caes a meninos incapazes de entend-las, j que isso geraria
naqueles crebros primitivos complicaes e mal-entendidos
perigosos. Mas hoje, que o homem comea a amadurecer, ca-
da vez mais necessria uma verdade demonstrada, que explique
tudo e responda aos porqus, resolvendo os problemas, isto se
no quisermos que ele vire as costas a qualquer princpio supe-
rior, entregando-se ao ceticismo. Mas, infelizmente, o que es-
t acontecendo. De fato, o homem atual encontra-se perante sis-
temas velhos, adaptados a outras formas mentais, que ele no
aceita mais. O que ele pede hoje um po verdadeiro, um nu-
trimento vivo, aderente realidade biolgica e proporcionado
ao seu estmago mais exigente, que est pronto para digerir no-
vos pratos, no qual sejam completadas e explicadas nos seus
mistrios as mesmas verdades eternas, porm demonstradas pa-
ra convencer, atualizadas a par do grande progresso da cincia,
atrs da qual hoje as religies, outrora na vanguarda do pensa-
mento mundial, ficaram atrasadas, quase que abandonadas co-
mo coisa velha, destinadas a um sto ou a um museu. Ao in-
vs de satisfazer essa legtima nova fome espiritual, as religies
continuam a repetir as mesmas coisas antigas, com as velhas
palavras de sempre, nas quais os sculos passados adormece-
ram, deixando, assim, de levar em conta e acompanhar essa re-
novao que se est verificando na forma mental humana.
Os jovens pedem esse nutrimento novo e fresco, apresenta-
do numa forma mais vigorosa, como os tempos apocalpticos o
exigem, e vo procur-lo alhures, sobretudo na cincia, porque,
nas religies, encontram apenas um nutrimento ranoso, que
hoje ningum mais digere, apresentado naquela forma estereo-
tipada pela longa repetio e consumida pelo uso dos sculos,
prpria para os adormecidos, feita de palavras aprendidas de
cor, cansadas pelo peso do tempo, com o sentido j perdido pa-
ra o ouvido moderno. No que na alma, sobretudo na dos jo-
vens, falte a sede de verdades eternas. Mas as velhas teologias
no so adequadas aos problemas dos tempos modernos. Quan-
tos no gostariam de ser esclarecidos, para poderem resolver os
problemas mximos do conhecimento e, assim, tornarem-se ca-
pazes de se dirigir inteligentemente com a sua conduta! Toda-
via, existem ideias velhas, feitas para nos embalar no sono da
indiferena, com conceitos que, no decorrer do tempo, esgota-
ram o seu impulso vital e que o progresso abandonou ao lado
do caminho da evoluo. Os jovens de hoje cansaram-se e no
prestam mais ouvidos. Eis de onde nasce a hodierna indiferen-
a, o desinteresse de quem, por falta de convico, no toma
mais a srio tais coisas, assumindo o absentesmo espiritual.
Mantm-se assim uma indiferena cheia de respeito, como exi-
gem as religies, o mesmo respeito que se deve ter para com os
monumentos do passado e os tmulos dos mortos. Indiferena
que desemboca no materialismo ateu, no epicurismo, na filoso-
fia animal do primitivo, triste substituto de tudo que em vo se
procura, mas no se encontrou; fruto do desespero da alma in-
satisfeita que, precisando de uma filosofia qualquer para se di-
rigir, no achou coisa melhor.
Os jovens esto famintos de sinceridade, honestidade e jus-
tia; esto desiludidos do passado, que muitas vezes lhes soa a
engano, pelo mau uso que foi feito de tantas verdades. E, se
eles esto revoltados, no por maldade sua, mas porque en-
contram falta de bondade. Eles, que agora aparecem no palco
da vida, vo observando o que h de verdade por detrs das
aparncias, e ficam tristes, desnorteados pela falta de uma ori-
entao sadia, coerente e convincente, que os ajude a navegar
no oceano desconhecido da vida, dando a esta um significado e
uma finalidade a atingir, que justifique e valorize tantos esfor-
os, lutas e sofrimentos. Esse o po substancial que urgente
dar ao mundo, um po de honestidade e de verdade. Disto o
mundo precisa muito mais do que de atingir a Lua ou ir a ou-
tros planetas (quem sabe para levar at l as suas guerras!), ou
ento de fazer novos inventos para destruir a humanidade e a
sua civilizao. O indispensvel, hoje, uma moral que corte
at s razes toda a possibilidade de violncia e de mentira
como lamentvamos acima mostrando que h leis na vida
que ningum pode enganar.
No nvel animal-humano, a vida se desenvolve num regime
de luta, porque esta a lei desse plano evolutivo. Disto decorre
que, em tal ambiente, a regra que os bons, por no serem for-
tes nem astutos, so explorados e eliminados. Para o nosso
mundo, a bondade uma forma de fraqueza que todos tm o di-
reito de explorar, utilizando-a para sua prpria vantagem. Na
prtica, at se assiste ao absurdo de se tentar aproveitar da bon-
dade de Deus, pois tal mundo sabe que Ele infinitamente
bom. necessrio ento desvendar esta to perigosa iluso, fi-
lha da ignorncia e dos instintos primitivos. Se o mundo, por-
que lhe convm, gosta de imaginar Deus dessa maneira, ne-
cessrio entender que Ele no bom somente para que seja
possvel explorar Sua bondade com o engano, mas que Ele ,
sobretudo, inteligente, de modo que ningum, com a sua ast-
cia, pode logr-Lo e se evadir da Sua lei, como o homem, de
acordo com a sua forma mental, almejaria. preciso compre-
ender que o fato de Deus ser bom no significa que, por isso,
Ele seja um simplrio, a quem se pode enganar. Este tipo de
psicologia terrena e somente serve para atingir as finalidades
da lei da seleo do mais forte. Na sua concepo de Deus, o
homem no sabe sair desta sua forma mental, produto do seu
grau de evoluo, adaptada para promover, neste ambiente, o
trabalho de seu progresso biolgico.
Perante Deus e a Sua lei, loucura querer ser astuto, por-
que no h escapatrias. Quem faz o mal tem de pag-lo sua
custa, no importando se crente ou no. A nossa opinio, f
Pietro Ubaldi PRINCPIOS DE UMA NOVA TICA 5
religiosa ou filosofia no podem fazer mudar as leis da vida.
Ningum pode embrulhar Deus e a Sua lei. Mas o homem no
gosta de semelhante conceito, preferindo antes, e por isso ima-
ginou, um Deus bom, que se pode enganar. Mas isso no cor-
responde verdade, sendo apenas um produto do subconscien-
te instintivo, uma reduo do conceito de Deus dentro dos li-
mites da psicologia terrena de luta, uma criao da mente hu-
mana para satisfazer um desejo seu. Deus o que , em forma
positiva para todos, incluindo os ateus, e no o resultado do
que cada um, conforme a sua natureza, gosta mais de crer. O
homem aceita o conceito de um Deus ludibrivel porque lhe
agrada pensar que pode aproveitar-se desse Deus, satisfazendo
assim o seu instinto de prevalecer acima de todos. Ora, ne-
cessrio no cair nesse engano, pelo qual quem quer enganar
acaba sendo enganado. O que de fato ocorre o contrrio do
que o homem pensa. Deus abandona ao poder da reao da Lei
quem quer fugir obedincia, enquanto defende os sinceros e
honestos, que, seguindo o mtodo da justia, no querem se
aproveitar de ningum, protegendo-os contra um mundo que,
seguindo o mtodo da luta, explora-os e esmaga-os, pois, na-
quele nvel, eles so considerados simplrios e tolos, isto , o
bitipo do fraco a ser eliminado pela lei da seleo.
Na sua ignorncia, o homem acredita que a sua pequena
biologia terrestre representa toda a biologia do universo, em
todos os seus nveis, e no entende que, em nveis superiores
de existncia, situados ao longo do caminho da evoluo, pos-
sam vigorar leis to diferentes na proteo da vida, que, peran-
te elas, os nossos atuais mtodos se tornam absurdos e prejudi-
ciais, a ponto de parecerem emborcados, tamanha a distino e
a oposio entre eles. De fato, trata-se de um progressivo pro-
cesso de endireitamento das qualidades do AS nas do S. Acon-
tece ento que, num mais adiantado plano de existncia, os
primeiros de hoje sero os ltimos de amanh e os ltimos de
hoje sero os primeiros de amanh. Verifica-se o fato de que o
ser, ao progredir do AS para o S, em virtude da evoluo, vai-
se gradualmente harmonizando no seio da Lei, encontrando-se,
por isso, cada vez menos no estado de separatismo qualidade
dos involudos que os deixa sozinhos e abandonados, entre-
gues apenas aos seus recursos individuais e cada vez mais no
estado de unificao, qualidade dos evoludos, que os funde no
organismo universal, permitindo-lhes desse modo utilizar os
seus recursos e os meios de defesa. O homem no entende que
a Lei viva e representa um pensamento querendo manifestar-
se, estando sempre pronta a entrar em ao, to logo o ser, com
os seus movimentos, ative o seu funcionamento. A Lei atua em
relao a tais movimentos, sendo estes dependentes da nature-
za do indivduo, que , por sua vez, consequncia da posio
ocupada por ele na escala da evoluo. lgico ento que a lei
feroz da seleo do mais forte no plano fsico funcione s no
plano animal-humano, no seio da biologia desse nvel, ao pas-
so que outra lei, aquela de harmonia e de justia, funcione num
plano superior, no seio da biologia desse outro nvel. Assim,
verifica-se que, no plano inferior, quem julgado o melhor (o
mais forte, vencedor) torna-se o pior no plano superior (o re-
belde ordem, delinquente), enquanto no plano inferior, quem
julgado o pior (o homem bom e honesto, julgado fraco) tor-
na-se no plano superior o melhor (o mais forte, vencedor, por-
que defendido pela Lei). A Lei apenas aceita o mtodo da luta
pela seleo do mais forte nos nveis inferiores, onde tal mto-
do representa uma defesa da vida. Mas tudo se transforma na
evoluo do AS para o S, inclusive o mtodo de defesa, que
deixa de ser representado pela supremacia bestial de um indi-
vduo sobre outro, como convm num mundo em estado de ca-
os, para se constituir numa posio de obedincia na ordem,
como convm num mundo que atingiu o estado orgnico, onde
os impulsos inimigos (AS) chegaram, atravs de tanta luta, a
coordenar-se em harmonia (S).
Eis a tcnica do fenmeno. Como se diz em palavras sim-
ples, Deus defende com a sua justia os honestos, que o mun-
do condena e persegue. Deus protege quem Lhe obedece.
Quem observa a Sua lei, est defendido por Ele. A arma para
salvar os honestos est na defesa proporcionada por Deus, na
qual se encontra o grande poder dos que abandonaram as ar-
mas da fora e da astcia. Isto importante, sobretudo com
relao ao tema que estamos tratando aqui, a tica, porque
aqueles julgados os mais fracos pelo mundo podem, de fato,
com tal jogo de elementos, tornar-se os mais fortes. E isso
acontece devido existncia de uma lei positiva que rege a
vida e que est sempre pronta para funcionar, to logo o indi-
vduo se coloque nas devidas condies.
Tudo isto est escrito na Lei, que representa o pensamento de
Deus e a Sua vontade para realiz-lo. Assim, essa lei formada
no apenas pelos princpios que dirigem os caminhos da vida,
mas tambm pelos impulsos que realizam estes princpios. Essa
lei foi escrita por Deus no funcionamento do universo, atravs da
Sua criao, e toda a fenomenologia a cumpre. Tudo e todos tm
de obedecer Lei, se no lhe querem sofrer as reaes. Mas o
primeiro a obedecer e eis a grande maravilha o prprio
Deus, que, assim, apenas obedece livremente Sua prpria von-
tade, por Ele codificada na Sua lei. Ora, obedecer a si mesmo no
obedecer, mas sim mandar. por essa obedincia de Deus, que
o ser tem o mesmo dever de obedincia dentro da mesma ordem
universal, que no admite ser violada pela vontade descontrolada
do arbtrio de Deus. Perante a Sua ordem, isso no representaria
liberdade, mas sim violao e erro. Ora, essa violao pode suce-
der com o ser, que por essa culpa ter de pagar (assim se redi-
mindo), mas no possvel em Deus, pois Ele no pode errar.
A Lei, ento, representa no somente um princpio de ordem
universal inviolvel, mas tambm um compromisso entre o Cria-
dor e a criatura, com a garantia absoluta para esta de que a Lei
sempre responder com exatido aos movimentos do ser, conso-
ante os princpios estabelecidos e em proporo ao merecimento
do ser. Esta concluso, que tambm diz respeito ao nosso atual
tema da tica, de grande importncia para a nossa conduta, por-
que, conhecendo este fato, o indivduo sabe que, ao cumprir o
seu dever de obedincia Lei, ele tem o direito de receber em
troca uma ajuda para defend-lo. Esse o princpio pelo qual
funciona a Providncia de Deus. O real apoio do homem honesto,
condenado pelo mundo, a certeza de que Deus, acima de todos,
tambm respeita a Sua lei, merecendo por isso toda a confiana.
H tambm outra razo em que nos podemos apoiar para
ter essa confiana, e ela est na segurana que nos vem dos re-
sultados, necessria para nos resolvermos a praticar todos os
sacrifcios da obedincia e o esforo de uma conduta correta.
A ideia a respeito de Deus oferecida a ns pelas religies a
de que Ele criou o universo, tirando-o do nada ou do caos.
Mas, depois de haver estabelecido a Sua ordem, Ele ter-se-ia
ausentado para os cus, ficando a olhar l de longe a Sua obra,
sem tomar parte ativa no seu funcionamento. Ora, queremos
aqui salientar que nada mais absurdo do que essa ideia da au-
sncia de Deus, a qual permite imagin-Lo afastado, longnquo
e, assim, mais facilmente ludibrivel, quando, na verdade, a
lgica exige e tudo nos fala da Sua presena viva e contnua
entre ns no funcionamento orgnico do todo, dirigindo tudo
de perto, vigiando, controlando, velando e realizando. Este fato
acarreta importantes consequncias no terreno da tica, porque
um Deus to prximo penetra toda a nossa vida por dentro e
por fora, constituindo uma atmosfera em que todos estamos
mergulhados e todos respiramos, da qual no h possibilidade
de nos separarmos. Trata-se de um Deus que est conosco em
todo lugar e a toda hora, inclusive fora dos templos, em meio
nossa vida de lutas; um Deus independente de seus ministros,
o que elimina a possibilidade de engan-Lo.
6 PRINCPIOS DE UMA NOVA TICA Pietro Ubaldi
H, portanto, duas maneiras de se conceber Deus, das quais
derivam dois mtodos de pensar e de viver, duas ticas diferen-
tes, filhas de dois tipos de religio: a do homem atual, ainda in-
voludo, correspondente sua forma mental de primitivo, e a do
evoludo, super-homem do futuro, correspondente a uma forma
mental completamente diferente. No primeiro caso, o homem
concebe Deus antropomorficamente sua imagem e semelhan-
a, rebaixando-O at ao seu nvel humano, sujeitando-O sua
lei de luta e tratando-O com o seu mtodo de astcia e psicolo-
gia de engano, com que costuma enfrentar os seus semelhantes.
No segundo caso, o homem, possuindo outra forma mental,
concebe Deus como um ser que est acima das leis do plano
humano e das suas maneiras de pensar e agir. Trata-O, por con-
seguinte, com absoluta sinceridade e confiana, adotando um
mtodo completamente diferente, apoiado na honestidade, no
merecimento e na justia. No se trata aqui das aparncias cos-
tumeiras, que o mundo desejaria tomar por verdades, nem to
pouco das exterioridades apresentadas pelas doutrinas das reli-
gies. Estamos falando da substncia vivida nos fatos, e no
das ticas pregadas. Falamos daquilo que o homem de fato ,
pensa e faz, sendo isso a nica coisa que interessa e vale.
O que de fato existe no mundo, ento, so dois tipos de reli-
gio: a vigente, filha do passado, e outra, que antecipa o futuro.
Ambas correspondem a dois nveis de evoluo e so conse-
quncia da forma mental e das leis que regem a vida do involu-
do e do evoludo. Isso se deve ao fato de ser o homem uma cri-
atura em evoluo, ou seja, em estado de transformismo, pelo
qual, ao lado do velho, que est morrendo, aparece e existe o
novo, que est nascendo. Esta a razo para existirem duas
verdades diferentes, aparentemente contraditrias, mas que no
passam de posies mais ou menos adiantadas ao longo do
mesmo caminho da evoluo. So momentos sucessivos da
mesma lei, que est sendo cumprida por seres pertencentes a
dois nveis biolgicos sucessivos, um acima do outro. De cada
uma dessas duas verdades deriva, coexistindo lado a lado, uma
tica especfica correspondente: a inferior, praticada pela maio-
ria involuda, e a outra, que, sendo exceo regra comum,
seguida por uma minoria de evoludos.
Isto apenas uma constatao de fatos, feita sem a inten-
o de condenar ou reformar. Com efeito, nada pode ser feito
neste sentido por um homem ou um grupo, mas somente pelas
poderosas e sbias foras da vida, que se manifestam nos
grandes acontecimentos histricos, tratando-se de profundos
amadurecimentos biolgicos. E os honestos deste mundo so
poucos demais para formar um grupo poderoso, alm de no
possurem as qualidades de agressividade necessrias para
vencer no terreno animal-humano. Quem segue o mtodo
evanglico da no-resistncia foge da luta e, consequentemen-
te, no pratica qualquer forma de imposio de ideais, condi-
o que implica em ter de respeitar a ignorncia na qual o
prximo, pronto a lutar para defend-la, permanece fechado.
Quem no aceita o mtodo da luta tem de repudi-lo, mesmo
quando no haja outro meio para tirar a cegueira aos cegos,
rendendo-se a deix-los ser como quiserem ser.
O que desejamos fazer aqui apenas indicar queles poucos
indivduos inteligentes as tristes consequncias do mtodo hoje
em vigor, explicar-lhes como, comparado ao que merece, so
poucas as dores do mundo; faz-los ver que a Lei, e no o
homem, que manda; mostrar-lhes que a dor que ensina, fa-
zendo isto com fatos, e no com palavras, deixando cada um
acreditar e pregar vontade, mas fazendo-o pagar sempre como
merece. No h, pois, necessidade de impor fora ideias ou
at mesmo a salvao, j que isso excita o instinto de agressivi-
dade, provocando reao e luta, o que um convite para a ani-
malidade funcionar. Para que incomodar a fera com sbias pre-
gaes, quando ela se ofende em ouvi-las e se revolta contra
elas? Para que isto, quando, nas mos da Lei, est pronta a lio
do sofrimento, para ensinar to bem o que ningum pode deixar
de aprender? A verdadeira tica no depende do homem, mas
de Deus. Ela est acima de tudo e de todos, escrita na Lei e
dentro da prpria natureza das coisas, razo pela qual no se
pode fugir-lhe. Ento, por que lutar contra os inferiores, se isto
serve apenas para excitar neles a ofensa e os artifcios do enga-
no? Por que lutar para que eles entendam, se, pelo seu nvel
evolutivo, no podem entender? Por que forar a sua evoluo,
se o progresso fatal e se apenas Deus tem o poder de impulsi-
on-los para frente? Por que, se a nossa pregao da verdade
gera na sua forma mental apenas uma procura por escapatrias?
Por que, se de fato no se atinge no mundo uma verdade nica
e total, mas apenas uma disputa entre verdades e religies, cada
uma considerando-se como absoluta e em luta para destruir as
outras? Por que nos substituirmos sabedoria de Deus, quando
a correo de todo erro automtica e a dor o grande mestre,
sempre pronto a nos colocar no caminho certo?
Nada mais podemos fazer seno explicar, aos que tm ouvi-
dos para ouvir e inteligncia para entender, os imensos preju-
zos que derivam da tica hoje vigorante. O atual sistema de in-
sinceridade tem o mesmo valor daquele utilizado tanto pelo pa-
tro capitalista que explora os operrios, pagando-lhes o menos
possvel, como pelo operrio que, buscando uma compensao,
procura explorar o patro, trabalhando pouco e da pior maneira
possvel. Que rendimento pode dar um sistema de enganos e
atritos recprocos, quando a energia tem de ser desperdiada
nessa luta para se explorarem um ao outro? Mas recolhendo
os tristes resultados desse mtodo, que se acaba entendendo
quo pouco ele seja rendoso, o que impulsiona a escolher outro,
sem tais rivalidades e atritos, at se atingir um estado de cola-
borao, que representa a maior vantagem para todos. O mesmo
acontece, como j vimos, no caso do mtodo empregado tanto
pela casta sacerdotal, que, do seu lado, consegue ficar na sua
posio de domnio, empregando a ameaa do inferno e a pro-
messa do paraso, como pela massa de seguidores, que acredita
apenas no seu interesse e busca se compensar, enganando a
Deus e seus ministros, com a execuo somente de prticas ex-
teriores, pensando ganhar com elas a salvao. Chega-se assim
a uma religio s avessas, onde se satisfazem os instintos infe-
riores e se aprende a arte da mentira. Tal mtodo, porm, pelos
muitos sofrimentos que gera para todos, persiste apenas en-
quanto eles no aprendem um outro, menos prejudicial que,
sem praticar enganos, no termine no engano apoiado na sin-
ceridade com Deus e consigo mesmo.
Esta a religio para a qual o impulso do progresso e a es-
cola de to duras experincias ter de levar o homem. Religio
do futuro, mais livre, porm sem possibilidade de enganos;
imaterial, mas inflexvel, e no mais flexvel como as atuais.
Ela no quer destruir as antigas, e sim insuflar no seu crcere de
forma material, com o qual elas se esto fundindo e confundin-
do, um novo sopro espiritual, para rejuvenesc-las e vivific-
las, libertando-as o mais possvel daquela forma, que, quando
se troca o vaso pelo contedo, representa um perigo. Trata-se
de um progresso que nos aproxima mais do verdadeiro conceito
de Deus. Isto quer dizer conquistar uma posio mais adiantada
no caminho da evoluo e, por isso, mais poderosa e perfeita,
porque mais prxima do S.
estranho, porm, que as religies atuais considerem tal
progresso uma ameaa e prefiram ficar cristalizadas nas suas
velhas formas, o que morte, ao invs de correr ao encontro da
vida, renovando-se. Avaliado com as velhas unidades de me-
dida, quem procura a renovao julgado irreligioso, rebelde,
hertico e, como tal, condenado. E os conservadores no en-
tendem que esses indivduos aparentemente revolucionrios
no trabalham para destruir o velho, mas sim para salv-lo,
porque a vida est no movimento e na renovao. Quem esta-
ciona a fim de se conservar, envelhece e morre. Sobretudo nas
Pietro Ubaldi PRINCPIOS DE UMA NOVA TICA 7
horas das mais rpidas mudanas biolgicas, como a atual,
quem no as segue acaba ficando abandonado para trs, morto
no tmulo do passado. E, pela lei da evoluo, o novo est des-
tinado a arrombar mais cedo ou mais tarde as portas fechadas
de todas as resistncias.
Os julgados revolucionrios no so destruidores, mas sim
construtores, para que amanh, das runas das velhas religies,
que esto desmoronando juntamente com os respectivos siste-
mas ticos nelas apoiados, alguma coisa de firme e seguro per-
manea no mundo, para orientar positivamente o homem do fu-
turo e dirigir com clareza e honestidade a sua conduta. A atual
falta de f, constatada no fato de no se tomar mais a srio as
coisas de Deus no importa se disfarado atrs de aparncias
formais representa um grave perigo que ameaa as religies
atuais, anquilosadas na sua imobilidade, num momento em que
todo o pensamento da humanidade est em crise e renovando-
se. A cincia no soube substitu-las por nada e, portanto, no
pode dirigir o homem. Ir Lua ou a outros planetas no orienta
o homem na sua conduta, deixando assim sem soluo o pro-
blema individual e o social. O homem permanece uma fera, po-
rm armada de recursos terrveis. Sobre a cabea dos povos que
conseguem engordar no bem-estar est suspensa por um fio a
espada de Dmocles, ameaando uma guerra destruidora da
humanidade e da sua civilizao.
Se nestes livros procuramos explicar tudo, encarando e re-
solvendo os maiores problemas, a fim de dar uma resposta ho-
je ausente, isto no com a finalidade de criar uma nova teo-
logia para substituir as antigas, mas sim para lhes dar um con-
tedo positivo, demonstrado, de cuja lgica a razo no possa
fugir, cumprindo a funo no de atingir abstraes filosficas,
mas de chegar a concluses prticas, para uma conduta correta,
tendo por base princpios claramente definidos e convincentes.
O que procuramos uma religio capaz de, sem permitir esca-
patrias, levar o homem a uma tica que, pela sua justia evi-
dente, tenha o direito de impor o cumprimento dos deveres
exigidos por ela, porque se baseia na realidade da vida, e no
em abstraes tericas, situadas fora dessa realidade e, por is-
so, entendidas por poucos. Perante uma religio inteiramente
demonstrada e a natural tica decorrente dela, formando um
conjunto que explica positivamente as consequncias fatais de
cada ato nosso, com as quais cada erro tem de ser pago, no
possvel ficar neutro nem h lugar para a hodierna indiferena.
Acreditamos que s assim possvel vencer esse inimigo mor-
tal de toda espiritualidade, que inicia a decomposio final das
religies e preludia a sua morte.
O que desejamos esclarecer que no se trata de agressivi-
dade destruidora, mas sim de uma desesperada tentativa de
aplicar uma injeo vital, para salvar da velhice da forma os va-
lores eternos. Quando estes vo caindo, ento as religies
porque lhes falta a substncia e nada mais resta seno o ceti-
cismo adoecem e, esvaziadas de todo o contedo vital, ficam
ameaadas de morte. O que de fato prevalece hoje o materia-
lismo religioso, dado por uma aparncia formal de religio, pra-
ticamente ateia na substncia, representando esta a ltima fase
da decadncia. Na Idade Mdia, os problemas religiosos eram
percebidos vivos, e os homens lutavam naquele terreno. Hoje
tais problemas no interessam mais. O mundo voltou-lhes as
costas, para tomar a srio os problemas da cincia, a nica fonte
que parece oferecer um resultado capaz de satisfazer as exign-
cias da mente moderna. Como ningum agride um morto, assim
as religies saram do terreno da luta, que o terreno da vida.
Quanto mais a mente se desenvolve, tanto mais o homem se
torna exigente em querer conhecer as razes pelas quais ele tem
de se conduzir de uma dada maneira, suportando os respectivos
deveres e sacrifcios. Desponta ento um esprito crtico e uma
autonomia de juzo que no permitem mais a aceitao cega das
ideias simplistas do passado, impostas por sugesto ou princpio
de autoridade. Assim, aparece o hbito do controle analtico das
coisas e ideias, pelo qual, se o indivduo se apercebe que os ide-
ais proclamados no correspondem realidade dos fatos e s
exigncias da vida, ento os repele. Quando, com a psicanlise,
comea-se a controlar a natureza subconsciente onde esto as
razes de nossas aes de tantos dos nossos impulsos secretos,
aos quais, no passado, o homem obedecia inconscientemente,
como uma verdade absoluta, ento no mais fcil convencer e
obter obedincia. Os pilares da velha lgica no se sustentam
mais, porque est mudando por evoluo a forma mental huma-
na. Mas, se neles se baseia o edifcio dos princpios que dirigem
a nossa conduta, eis que esta fica sem alicerces, e o edifcio todo
ameaa cair. Ento os que so intelectual e espiritualmente mais
fortes comeam a pensar com a sua prpria cabea, dirigindo-se
por si mesmos e assumindo sinceramente, perante Deus, as suas
responsabilidades. Eles so condenados como rebeldes por sa-
rem das fileiras, o que escndalo. Mas quem tem uma cabea
no pode deixar de us-la para pensar, nem pode cort-la num
suicdio espiritual, que a renncia ao conhecimento. Quanto
mais a evoluo produz tal tipo de homem, tanto mais se torna
contraproducente para as religies o velho mtodo absolutista.
Concordar somente numa base de recproca utilidade, que o
princpio da troca j visto por ns, no pode ser vantajoso, por-
que no seguro para durar, nem slido para construir.
A evoluo nunca para neste seu trabalho, lento mas cons-
tante, de amadurecimento da forma mental humana. Chega-se
assim a uma nova maneira de se conceber e se orientar com
uma nova psicologia, o que significa dirigir-se com uma tica
e mtodo de conduta diferentes. O ser aprende ento que, para
alm de todas as formas exteriores, h uma realidade interior
independente delas, representada pela existncia da mente di-
retora de tudo, Deus, que fixou o Seu pensamento e a Sua von-
tade de realizao na Sua lei. Deus est assim sempre presente,
imanente em nosso universo, e, por essa Sua presena, o ser
existe mergulhado e fundido Nele, que, representando o prin-
cpio da prpria existncia, sustenta e anima tudo. Trata-se de
um Deus do qual ningum pode sair e do qual nada se pode es-
conder. Um Deus vivo ao nosso lado e presente a toda hora,
com a Sua inteligncia e atividade. Quanto mais o ser evolu-
do, tanto mais ele se torna consciente dessa presena e vive
em contato direto com Deus, fundindo-se na Sua vontade e
tornando-se assim, ao contrrio da criatura egocntrica e re-
belde, Seu fiel instrumento. Um fato assim to fundamental
orienta de maneira completamente diferente a vida, que se tor-
na outra coisa. Ento o ser se faz consciente do funcionamento
orgnico do todo, dos princpios que o regem e da tarefa que
lhe cabe realizar. Ele compreende a lgica do plano divino na
direo tudo e percebe que a sua maior vantagem est em se-
gui-lo. Profundamente convencido disto, ele julga loucura o
esprito de revolta do homem atual e, espontaneamente, colo-
ca-se na ordem, para obedecer sabedoria da Lei.
Dessa nova maneira de conceber decorrem consequncias
importantes. Antes de tudo, o ser atinge um conceito comple-
tamente diferente de Deus, da religio e da tica. Ao princpio
antropomrfico do sistema hierrquico se substitui o princpio
superior do sistema de tipo unitrio. Neste, a criatura no
mais um sdito sujeito vontade de um rei que se colocou em
cima de uma hierarquia de dependentes, perante o qual o indi-
vduo no tem outro direito a no ser obedecer lei que o rei
quer e faz, transmitida por intermdio dos seus ministros, que
o representam, mandando em nome dele. A tal conceito, com-
pletamente humano, que a reproduo da condio encontra-
da em nosso atual nvel biolgico, substitui-se outro, de um es-
tado orgnico, segundo o qual a criatura uma clula do todo,
nele harmonicamente fundida numa ordem superior, ou seja,
na Lei, que, com justia imparcial, tudo dirige e domina. A po-
8 PRINCPIOS DE UMA NOVA TICA Pietro Ubaldi
sio natural do ser no , ento, de automtica rebeldia
qual o rebelde levado pelo fato de seus interesses, como
acontece na sociedade humana, no serem os mesmos do che-
fe, que manda apenas porque venceu como o mais forte mas,
pelo contrrio, de espontnea obedincia, porque esta a
condio da sua maior vantagem.
E lgico que seja assim, porque o contedo de um plano
evolutivo superior no pode ser seno de tipo unitrio, como
o S, do qual aquele plano est mais prximo, e porque o conte-
do de um plano evolutivo inferior, como o humano, no pode
ser seno de tipo egocntrico separatista, como o AS, do qual
este plano est mais prximo. Unio, fuso, eis a psicologia de
quem atingiu a forma mental superior, que est nos antpodas
da psicologia egocntrica, de oposio a tudo e a todos, divi-
dindo em vez de unificar. Trata-se de duas formas opostas de
pensamentos e de existncia.
De tudo isto decorre uma diferente forma de conceber e rea-
lizar as relaes sociais. O indivduo, ento, no mais um ri-
val do seu semelhante, em luta contra ele, num regime de ini-
mizade, guerra e atritos, mas seu amigo, num regime de com-
preenso, paz e colaborao. Tudo isto representa uma grande
mudana nas atuais condies da sociedade humana e ser a re-
voluo que transformar um mundo de feras num mundo de
seres conscientes e civilizados.
Tudo isto diferente da tica e das religies em vigor. Dife-
rente no do que elas pregam e sustentam em teoria, mas sim
do que a maioria faz na prtica, devido natureza involuda do
homem atual, que, com sua forma mental, no sabe sair do seu
plano e concebe tudo antropomorficamente, reproduzindo o que
ele v acontecer na Terra. A culpa, ento, no das religies,
mas do homem ainda no evoludo, que no sabe pensar de ou-
tro modo. Para ele, so necessrias as formas exteriores, os ab-
solutismos dogmticos, o esprito de grupo para condenar todos
os que se encontram fora dele, a exclusividade da verdade, a
coligao de interesses, um Deus atingvel s atravs dos seus
representantes materiais, bem visveis e concretos, o terror do
dano (inferno) e a cobia da vantagem (paraso), sem o que tu-
do cairia no abuso. Trata-se, ento, dada a natureza humana, de
um mtodo indispensvel, de um mal necessrio, pois no se
pode permitir liberdade s massas ignorantes, que, no pos-
suindo qualquer instinto de autodisciplina consciente, mas s a
desordenada inconscincia dos impulsos egocntricos individu-
alistas, acabariam na anarquia.
Se, porm, num nvel superior a este, o ser atinge a consci-
ncia da Lei e da presena de Deus e, nesta conscincia, encon-
tra a autodisciplina que dirige a sua conduta, tudo o que pro-
duto daquela necessidade prtica para dominar os rebeldes com
o medo da pena e o desejo do prmio, como agora mencion-
vamos, no mais necessrio e, pelo fato de no ter mais razo
para existir, tem de desaparecer. No h mais nada que justifi-
que tais mtodos, quando o ser conhece a sua posio no todo e
obedece a Deus com toda a liberdade, por convico, sem pre-
cisar de ser constrangido, porque sabe que obedecer Lei re-
presenta a sua maior vantagem. Esse novo tipo de tica repre-
senta a maioridade das religies, que a nova civilizao do III
Milnio alcanar. Podero assim desaparecer por evoluo os
pontos fracos que vimos a respeito das religies atuais.
Numa religio clara e visvel, positiva e racionalmente de-
monstrada, sem nuvens de mistrio, no h mais lugar para en-
ganos. Perante um Deus que a mente concebe verdadeiramente
presente, e no s em teoria, no ter mais sentido desenvolver
a arte das escapatrias. Quando no houver mais comando pra-
ticado com a psicologia de patro, no haver mais razo para a
revolta que nasce no corao da criatura. Para que ento deso-
bedecer a Deus, quando a mente entendeu que isto absurdo e
prejudicial, uma vez que rebelar-se quer dizer ferir-se com as
prprias mos? Quem no procura a sua vantagem e no quer
fugir do seu dano? Ningum pode ir contra a sua prpria vida.
O problema s um: chegar a compreender quo contraprodu-
cente o atual mtodo da conduta humana. Quando o homem
entender a convenincia de ser honesto, ele s no far o que
mais lhe convm, se for louco.
Apesar de tudo, muitos quereriam ficar parados, descansan-
do nas velhas posies do passado, poupando-se ao trabalho de
progredir. Mas a evoluo no os deixa em paz, impulsionando-
os irresistivelmente para frente. O homem, aos poucos, ir as-
sim entendendo cada vez mais, at se aperceber quo mais sa-
tisfatria uma conduta livre, com a obedincia espontnea, di-
rigida pelo conhecimento e pela convico, em vez de uma dis-
ciplina imposta fora, pelo terror da punio. A isto levar a
evoluo, o que significa afastar-se do AS e de suas caracters-
ticas, para aproximar-se do S, isto , de Deus.
assim que Ele se aproxima de ns, e ns Dele. uma sen-
sao deslumbrante a percepo dessa presena. maravilhoso
poder absorver a Sua potncia vital, observando o pensamento
Dele escrito na Sua lei e lendo esse livro, onde esto os princ-
pios que dirigem a vida de tudo o que existe. Ele representa a
atmosfera dinmica e conceptual que respiramos em todos os
momento e lugares, circulando ao nosso redor, penetrando-nos
e enchendo-nos por dentro. Que esplendor no ter de imaginar
Deus afastado, longnquo nos cus, mas poder senti-lo vivo en-
tre ns, trabalhando ao nosso lado, ajudando-nos em nossa luta
para evoluir, com o Seu imenso poder, bondade e sabedoria!
No pode deixar assim de acabar por si mesmo o jogo in-
teresseiro para nos assegurar a vida futura, quando sabemos
que ela est automaticamente garantida para quem a mereceu,
conforme a justia exige, e que, seja qual for a nossa astcia,
nada podemos obter, se no for merecido. A massa dos fiis
de hoje, porm, no gosta e no aceita tal verdade, porque no
sabe renunciar bela miragem que satisfaz os seus instintos,
com a qual lhe parece possvel realizar o sonho de receber
sem pagar, de obter sem merecer. Neste nvel prevalece o
princpio da fora e da astcia, enquanto no nvel superior
domina o princpio da justia. Nestes dois nveis biolgicos, a
vida se defende com armas diferentes. As primeiras so de ti-
po inferior, mais prximo do AS, e representam, por isso, um
mtodo involudo, de superfcie, levando a uma vitria mais
imediata, porm temporria, destinada a acabar na falncia,
porque baseada no engano, e no no merecimento. Neste caso
trata-se de um edifcio que tem de cair, porque, no tendo os
seus alicerces nos princpios da Lei, desequilibrado. As ar-
mas que defendem a vida no outro nvel biolgico so de tipo
superior, mais prximo do S, e representam, por isso, um m-
todo evoludo, que trabalha na profundeza, com uma vitria
em longo prazo, porm estvel, que no acaba na falncia,
porque baseada na verdade e no merecimento. Neste caso, tra-
ta-se de um edifcio que no cai, porque, tendo os seus alicer-
ces nos princpios da Lei, equilibrado.
Chegando a esse superior plano de evoluo, mudam as re-
laes entre o ser e Deus. Nada mais de arbtrio irresponsvel,
pelo direito do mais forte. Tal conceito no pode existir seno
na forma mental humana, em relao ao nvel desta e para as
finalidades do seu mundo. Chegou a hora de aplicar a psicanli-
se a este e outros conceitos que dominam nas religies, para ver
de que impulsos do subconsciente eles nasceram. absurdo
que, mais no alto, domine a mesma desordem e esprito de pre-
potncia reinante no nvel humano. Direitos e deveres existem
para todos, escritos na Lei. E Deus o primeiro que d o bom
exemplo de obedincia Lei. Se imaginarmos Deus igual a um
chefe humano que pode fazer tudo com o seu arbtrio, ento o
ser estar, justamente por isso, autorizado a agir da mesma
forma, tendo o direito de fazer perante Deus, como de fato
acontece, o que fazem os sditos humanos, que procuram, com
o engano, evadir-se da lei do mais forte.
Pietro Ubaldi PRINCPIOS DE UMA NOVA TICA 9
lgico que, em dois nveis biolgicos diferentes, seja di-
verso o conceito de Deus. A concepo antropomrfica do arb-
trio descontrolado tem de desaparecer no nvel superior, porque
a, onde reina uma ordem preestabelecida e perfeita, ela se torna
absurda. Isto no ofende a liberdade de Deus, pois quem obe-
dece sua prpria vontade no escravo. A primeira concep-
o se baseia, de um lado, no princpio da fora, que em nosso
mundo constitui o direito do patro, e, do outro, como reao
correspondente, no princpio da astcia, que a criatura utiliza
para exercer o seu equivalente direito vida, porquanto este
comum a todos. A segunda concepo no se baseia mais em
tal princpio de antagonismos e rivalidades, pelo qual o mais
fraco tem de obedecer ao mais forte, mas sim num princpio de
equilbrio estvel e de justia, representado pela reciprocidade
dos direitos e deveres. Temos assim uma ordem perfeita para
ambos os termos do binmio: Deus e criatura. O conceito de
arbtrio est ligado ao de ignorncia, tentativa, escolha entre
opostos, dualismo, egocentrismo individualista, desordem, im-
perfeio, e nada disto compatvel com a perfeio de Deus.
Em um nvel superior, o ser sabe com clareza o que ele deve
fazer, tendo certeza de poder contar com a Lei, que lhe permite
calcular os efeitos das suas aes.
A palavra obedincia toma outro significado neste nvel su-
perior. Nos planos inferiores, o egocentrismo individualista di-
vide e a obedincia significa escravido perante uma vontade
inimiga. Nos planos superiores, a obedincia do ser representa
concordar e harmonizar-se com os princpios que regem a pr-
pria vida dele, para sua maior vantagem. Mas ser constrangido
obedincia para realizar o prprio bem no obedecer, mas
sim realizar plenamente a prpria vontade. A diferena entre os
dois nveis est no fato de que, nos planos inferiores, prevalece
o antagonismo, o qual divide os seres entre si e contra Deus,
tornando a obedincia uma opresso antivital, enquanto, nos
planos superiores, tudo isto desaparece numa unidade na qual
os seres se fundem entre si e com Deus, numa s vontade, diri-
gida para a mesma finalidade de bem, o que transforma a obe-
dincia em elemento vital. No segundo caso, ento, a obedin-
cia no significa, como acontece com os patres terrenos, que
Deus esmaga a criatura sua escrava, mas sim que Ele a ajuda,
dignifica e respeita nela a Si prprio, todos colaborando juntos
para o bem e a felicidade de cada um.
Antes de ter o dever de obedecer, o ser tem o direito de sa-
ber em proporo ao seu merecimento, desenvolvendo com o
seu esforo a sua capacidade de entendimento. E Deus quer que
a desenvolvamos sempre mais, para entender cada vez melhor.
Ai de quem adormece por preguia na f cega, sustentando que
tudo j foi resolvido e conhecido! A obedincia ser tanto
mais perfeita quanto mais perfeito for o conhecimento. Quanto
mais este se desenvolve, tanto mais o ser entende que sua
vantagem obedecer, fundindo a sua vontade com a de Deus,
que s quer o bem da criatura. E esta fuso pode ser realizada,
uma vez que, subindo, desaparecem os egocentrismos separatis-
tas dos rebeldes, levando os seres a se coordenarem e organiza-
rem dentro do nico egocentrismo de Deus. Ento, o maior de-
sejo e satisfao fazer a vontade do Pai, com a qual a nossa
vontade se funde, tornando-se uma s, porque Ele quer o que
ns mais desejamos, isto , a nossa felicidade. Neste nvel, no
fazem mais sentido nem tm mais lugar os mtodos praticados
no nvel atual, baseados na ideia da vingana, no terror da pena
e nas astcias para escapar Lei.
O ser pode ento se movimentar com conhecimento, num
regime de lgica e clareza, que lhe garante os resultados. Ele se
encontra finalmente perante um Deus sobretudo inteligente, que
no condena como culpa o desejo de conhecimento e que admi-
te perguntas inteligentes, s quais responde para quem tem ou-
vidos. O ser sabe que tem os seus direitos e quais so eles, por-
que Deus escreveu tudo na Sua lei; sabe que Deus no um pa-
tro desptico e caprichoso, como tambm sabe que pode con-
tar com Ele, porque Ele, honestamente, mantm a Sua palavra.
Quando se torna um justo, o ser no tem mais nada a esconder
ou a temer de Deus, passando a confiar Nele. Deus, ento, no
mais um inimigo a temer, como os rebeldes acham que seja,
mas sim um amigo que vem ao nosso encontro para nos ajudar.
Ento o ser sabe que, obedecendo a Deus, pode, em nome da
Sua prpria justia, reclamar perante Ele o cumprimento dela,
pois ningum mais do que Deus pode exigir respeito pela or-
dem estabelecida por Ele mesmo. Ento cada um que tenha
verdadeiramente cumprido todo o seu dever e esteja com a
conscincia limpa, pode dizer: Senhor, em nome da Tua pr-
pria justia, que procurei realizar com todas as minhas foras,
defende-me para eu obter justia neste mundo de injustias. A
verdadeira ofensa contra Deus seria se essa justia no fosse re-
alizada para quem a mereceu e, assim, prevalecesse no lugar da
Lei, que a voz do S, a vontade do rebelde, que representa a
voz do AS. O ser pode pecar, rebelando-se contra a vontade de
Deus. Mas como pode Deus pecar, rebelando-se contra Sua
prpria vontade? E como pode ser culpa reclamar perante Deus
que seja realizada a Sua lei, isto , que seja feita a Sua vontade?
II. EVOLUO DA TICA
O problema da tica fundamental no fenmeno evolutivo,
que o maior do universo. Da a sua extraordinria importn-
cia. A tica fundamental porque representa a norma que dirige
a nossa evoluo, ensinando-nos o caminho que nos leva sal-
vao. Ela contm a regra de vida que, praticada, leva o ser ca-
da vez mais a se aproximar do seu estado perfeito de origem, no
qual ele se encontrava no S, antes da queda. A importncia da
tica fundamental, porque ela est conexa com a Lei, repre-
sentando a expresso direta dela, da qual enuncia o pensamento
e manifesta a vontade a respeito da conduta do homem, dentro
dos limites que ele pode entender e praticar em relao sua
posio ao longo da escala evolutiva.
por isso que encontramos ticas relativas e progressi-
vas, como tambm relativa e progressiva toda verdade con-
quistada pelo ser na sua subida, em proporo ao conheci-
mento da Lei por ele atingido, somente em funo do qual a
tica relativa pode ser entendida e praticada. Seria, por isso,
interessante fazer um estudo da contnua transformao evo-
lutiva das verdades declaradas absolutas pelas religies. Te-
mos de lembrar que, em qualquer tempo ou lugar, cada fe-
nmeno portanto tambm a prpria existncia no pode
ser entendido seno como um vir-a-ser e que, assim, o ser
no pode estar situado seno dentro desse universal transfor-
mismo evolutivo nem pode viver seno em funo dele.
por isso que a cada nvel biolgico corresponde uma tica re-
lativa, ou moral de conduta, a qual se transforma to logo o
ser suba a um nvel de evoluo mais adiantado.
Eis como nasce e se justifica o conceito, a ser desenvolvido
por ns agora, de uma tica atual, inferior, que chamamos do
involudo, e de uma tica futura, mais adiantada, que chama-
mos do evoludo. Vemos ambas existindo em nossa humanida-
de, em luta entre si: a tica da teoria e a da prtica; a do Evan-
gelho, que quer instaurar na Terra o reino de Deus, e a do mun-
do, que, feita de cobia e destruio, quer continuar. Mas so-
mente com esses conceitos se pode explicar a convivncia de
duas ticas em contradio, em luta uma contra a outra. Isto se
deve ao fato de, atualmente, a humanidade se encontrar numa
fase de transio evolutiva, que vai de um plano biolgico para
outro, condio pela qual, em nosso mundo, podemos hoje ver
coexistir a velha tica do animal, ainda no extinta, ao lado da
nova tica super-humana, que se vai afirmando cada vez mais.
Podemos assim entender esse fenmeno semelhana da luta
que se verifica entre a luz e as trevas na alvorada, ambas exis-
10 PRINCPIOS DE UMA NOVA TICA Pietro Ubaldi
tindo no mesmo tempo e lugar. por isso que enfrentamos aqui
o problema da tica nesta forma dupla, pois este o aspecto as-
sumido por ela em nosso mundo.
Qual ento a diferena entre as duas ticas? Tomamos como
pontos de referncia os mximos do universo: o S e o AS. O que
nos permite julgar uma tica, oferecendo-nos a unidade de medi-
da do seu valor, a sua posio ao longo da escala da evoluo.
A tica do involudo mais prxima do AS e das suas qualida-
des, portanto mais afastado do S e das qualidades deste. A tica
do evoludo, por
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