PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE INFORMÁTICA
FABRÍCIO PRETTO
USO DE REALIDADE AUMENTADA
NO PROCESSO DE TREINAMENTO EM SUPORTE À VIDA
Porto Alegre
2008
FABRÍCIO PRETTO
Uso de Realidade Aumentada
no Processo de Treinamento em Suporte à Vida
Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Informática da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Orientador: Prof. Dr. Márcio Sarroglia Pinho
Porto Alegre
2008
Agradecimentos
Pois bem, a seção de agradecimentos é uma das partes mais importantes de
todo trabalho realizado, pois é nesse momento em que as pessoas que trabalharam
indiretamente nos bastidores de todo o projeto e sem saber disso, aparecem. O meu
primeiro profundo agradecimento vai para o meu orientador Márcio Pinho, que sempre
esteve presente em todas as correções, policiamentos, dando aquele puxão de orelha nas
horas certas... tudo bem, merecidas, mas sempre contribuíram para a formação desse que
escreve. Obrigado Pinho !
Um abraço especial para a professora Isabel, que sempre esteve muito prestativa e
entusiasmada para ler meus textos e auxiliar na escrita dessa dissertação e dos papers. É
verdade que muitas vezes eu acabava com o entusiasmo dela com o que escrevia, mas
tudo bem... Aos meus amigos, companheiros e parceiros de GRV, Rafael, Trombetta,
Bacim, Genilson, André Tomasi, nosso fotógrafo profissional o Marcelo, Jefferson e claro, o
Pedrão (“Zeleza”). Um abraço forte para o Bibi e o Bixinho, amigões enormes do coração.
Depois de uma longa jornada, mais uma caminhada está acabando mãe e vou voltar a ficar
um pouco mais de tempo por perto... isso claro, até eu me embrenhar em outra aventura.
Um beijo enorme para a minha mãe e avó, que tanto amo, com carinho.
Agradecimento mais uma vez especial, para uma pessoa que há um ano vem
acompanhando essa loucura que se chama Mestrado. À minha namorada Jaque, que
agüentou um mestrando em fase nervos e sem praticamente paciência alguma. Deixamos
muitas vezes de sair, jantar e festas. As provas não deixavam, os artigos incomodavam, os
deadlines sempre batendo na porta, e quando tudo isso parecia ser suficiente, eram as
provas dos meus alunos, trabalhos e TC’s para corrigir. Agora um desses está acabando,
ótimo para nós. Aos colegas da EEEPE, Univates e aos meus alunos, que por horas me
pegaram meio estressado. Um abraço forte para os médicos da Medicina que apoiaram a
realização desse projeto com dicas, críticas e sugestões para que pudéssemos fazer um
bom trabalho em equipe. Em especial: Dra. Maria Helena Itaqui, Dr. Emerson Rodrigues, Dr.
Carlos Cupski e Dr. Francisco Bruno. Enfim, de maneira abrangente e tentando não deixar
ninguém de fora, obrigado a Deus por ter chegado até aqui, ele sabe como foi complicado
dormir menos do que eu já vinha dormindo.
Acredito que devamos sempre procurar descobrir nossos limites, exigindo cada vez
mais de nós mesmos. A cada fase superada descobrimos que nosso limite ainda não
chegou e que apenas ganhamos força para tentar subir mais um nível. ”Quando parar ?”
Não sei, mas confesso que quando chegar em um ponto onde eu não possa mais subir,
então vou para os lados. Não dá pra esquecer também, que a vida, é para ser vivida !
Resumo
A área de Qualificação Médica em treinamentos de Suporte à Vida
(atendimento de emergência) tem sido constantemente aperfeiçoada. Atualmente, os
treinamentos são realizados utilizando-se manequins anatômicos que permitem a
execução de algumas manobras comuns do atendimento de emergência, como
massagem cardíaca, intubação, e punção venosa, entre outras. No entanto, muitos
problemas são ainda identificados no processo de treinamento, tais como a falta de
realismo nos exercícios e o pouco envolvimento do aluno. O projeto ARLIST
(Augmented Reality Environment for Life Support Training) foi desenvolvido para
apoiar o treinamento médico de emergência, buscando possibilitar ao aluno em
treino uma maior interação com o manequim de simulação. Para atingir este
objetivo, recursos computacionais como sons e imagens, foram adicionados nos
manequins usados nos cursos de treinamento, de forma a criar um ambiente de
simulação mais realista de um atendimento médico de emergência. Um vasto
conjunto de sons pode ser reproduzido, desde falas e gemidos do paciente até sons
pulmonares e cardíacos. Imagens mostram expressões faciais e lesões no tórax
sobre o corpo do manequim anatômico. Uma ferramenta foi desenvolvida para
prover controle ao médico-instrutor sobre o processo de simulação e registrar as
ações dos estudantes em treinamento. O projeto foi avaliado através de sessões
com acadêmicos do curso de medicina. Foi possível concluir que as simulações com
os recursos agregados mostraram mais realismo do que o ambiente em uso
atualmente. De acordo com a opinião dos instrutores, a principal vantagem
observada durante os testes foi a melhora da interação autônoma entre o trainee e o
manequim. O projeto foi adaptado para ser usado na prova de residência médica do
Hospital São Lucas PUCRS.
Palavras-chave: Treinamento. Suporte à vida. Realidade Aumentada.
Abstract
The area of Medical Qualification in Life Support Training (emergency care)
has been constantly improved. Currently, training is carried out using anatomical
manikins which allow the execution of some common maneuvers of emergency care,
such as cardiac arrest, intubation, venous puncture, among others. However, many
problems have been identified in the training process, such as lack of realism on the
exercises and engagement of students. The ARLIST project (Augmented Reality
Environment for Life Support Training) was developed to support the emergency
medical training in first aid, allowing students in a process training to have more
interaction with the manikin simulation. To reach this goal, computational resources,
such as sounds, images, were added in training courses, in order to create a more
realistic environment for emergency medical care. A wide range of sounds can be
played, from talks and groans of the patient to cardiac and pulmonary sounds.
Images show facial expressions and lesions on the thorax over the body of an
anatomical manikin. A software tool was developed to provide control over the
simulation process to the instructor-medical and to register the students action in the
training, too. The project was evaluated through sessions with Medical School
academics. It was possible conclude that the simulations with the aggregate
resources showed more realism than the currently environment in use. According to
the instructors’ opinion, the main advantage observed during the tests was the
improvement of the autonomous interaction between the trainee and the manikin.
The project was adapted to be used in the medical-residency test of São Lucas
Hospital - PUCRS.
Keywords: Training. Life support. Augmented Reality.
Lista de Figuras
Figura 1 - Algoritmo universal de reanimação ............................................................ 25
Figura 2 – Modelo de manequim para reanimação e ventilação (a) e modelo infantil (b) ......................................................................................................................... 32
Figura 3 – Modelo de manequim utilizado em rotinas de intubação9 ..................... 32
Figura 4 – Manequim adulto com recursos avançados10 ........................................... 33
Figura 5 - Estágios de obtenção e tratamento de imagens hepáticas .................... 47
Figura 6 – Amostra do sistema de simulação para cirurgias hepáticas.................. 48
Figura 7 - Paciente virtual no simulador VirtualClinic................................................ 49
Figura 8 – Simulador básico de vida em pediatria ..................................................... 51
Figura 9 – Simulador SimNerv....................................................................................... 51
Figura 10 – Ambiente de treino Just VR ...................................................................... 52
Figura 11 – Exemplo de RA na manipulação objetos virtuais .................................. 55
Figura 12 – Simulador de parto por fórceps ............................................................... 56
Figura 13 – Simulador obstétrico para Parto Normal ................................................ 57
Figura 14 – Sistema de RA distribuída ......................................................................... 58
Figura 15 – Manequim adaptado para o projeto ARLIST .......................................... 62
Figura 16– Modelo computacional do Projeto ARLIST ............................................... 64
Figura 17 – Elásticos que prendem o colete ao manequim de treinamento.......... 68
Figura 18 – Colete para auscultas (esquerda) e exemplo de botão de pressão (direita) .............................................................................................................................. 68
Figura 19 – Placa paralela de captura .......................................................................... 69
Figura 20 - Estetoscópio adaptado para auscultas..................................................... 70
Figura 21 – Expressões faciais disponíveis no ARLIST .............................................. 72
Figura 22 – Exemplo de lesão corporal (esquerda) e locais de projeção (direita)73
Figura 23 – Cores de pele disponíveis no ARLIST ...................................................... 74
Figura 24 - Estrutura metálica desenvolvida para suporte do projetor.................. 75
Figura 25 – Manequim preso com tiras de nylon ....................................................... 76
Figura 26 - Máscara elaborada para a projeção das expressões faciais ................ 76
Figura 27 – Interface do protótipo ARLIST.................................................................. 77
Figura 28 - Exemplo de arquivo de log ........................................................................ 80
Figura 29 – Transições de Estado do Caso de Treinamento 1 ................................. 84
Figura 30 – Transações de estado Caso de Treinamento 2 ...................................... 85
Figura 31 – Transações de estado do Caso de Treinamento 3 ................................ 87
Figura 32 - Questionário de Avaliação da Simulação – ARLIST - Trainee.............. 89
Figura 33 - Questionário de Avaliação da Simulação – ARLIST - Médico-Instrutor............................................................................................................................................ 90
Figura 34 - Alunos em fase de teste............................................................................. 96
Figura 35 – Estação de Medicina Interna da prova de residência médica ........... 100
Figura 36 - Interface do sistema MEDIEVAL ............................................................. 101
Figura 37 – Texto de Descrição do Caso.................................................................... 101
Figura 38 –Manequim com botões fixos no corpo .................................................... 103
Lista de Tabelas
Tabela 1- ABCD Primário para atendimento de Suporte Básico à Vida .................. 26
Tabela 2 – Avaliação do nível de consciência - AVDN ............................................... 27
Tabela 3 - Sinais clínicos representáveis ..................................................................... 30
Tabela 4 – Áreas de cuidado à saúde ........................................................................... 39
Tabela 5 – Simuladores utilizados em aplicações médicas....................................... 41
Tabela 6 - Comparação entre o protótipo ARLIST e os sistemas existentes ......... 60
Tabela 7 - Categorização dos principais Sinais Clínicos Quanto à Forma de Apresentação .................................................................................................................... 65
Tabela 8 – Falas disponíveis na FCS............................................................................. 71
Tabela 9 - Informações presentes nos Casos de Treinamento ................................ 83
Tabela 10 - Configuração do Caso de Treinamento 1................................................ 84
Tabela 11 – Configurações do Caso de Treinamento 2 ............................................. 85
Tabela 12 – Configurações do Caso de Treinamento 3 ............................................. 86
Tabela 13 – Resultados dos questionários de avaliação ........................................... 96
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................19
1.1 Motivação ...................................................................................................20
1.2 Objetivos ....................................................................................................21
1.3 Organização do texto...............................................................................22
2 EMBASAMENTO TEÓRICO ..........................................................................23
2.1 Padrões dos treinamentos em SV .........................................................24
2.2 Metodologias de treinamento para SV .................................................27
2.3 Sinais clínicos ............................................................................................29
2.4 Recursos disponíveis para treinamento ...............................................31
2.5 Dificuldades do processo de treinamento............................................34
3 SIMULAÇÃO EM APLICAÇÕES DE CUIDADO À SAÚDE .....................37
4 REALIDADE VIRTUAL E REALIDADE AUMENTADA ...........................45
4.1 Aplicações de CG e RV ............................................................................46
4.2 Aplicações de RA na Medicina ................................................................54
4.3 Comparação do ARLIST com os sistemas existentes ........................59
5 PROTÓTIPO DE TREINAMENTOS ARLIST.............................................61
5.1 Modelo computacional .............................................................................63
5.2 Ferramentas para representação dos sinais clínicos .........................65
5.3 Recursos computacionais........................................................................66
5.3.1 Recursos Sonoros.............................................................................67
5.3.1.1 Simulação de Auscultas .............................................................67
5.3.1.2 Simulação de Falas .....................................................................70
5.3.2 Recursos Visuais ...............................................................................71
5.3.2.1 Recursos Tecnológicos para Exibição das Imagens..............75
5.3.3 Ferramenta para Controle da Simulação .....................................76
5.3.3.1 Arquivo de Registro (Log) .........................................................79
6 AVALIAÇÃO DO PROTÓTIPO.....................................................................81
6.1 Objetivos da avaliação ............................................................................81
6.2 Metodologia para avaliação do sistema de simulação ......................82
6.2.1 Casos de Treinamento.....................................................................82
6.2.2 Questionários de Avaliação do Protótipo .....................................88
6.3 Protocolo de testes...................................................................................91
6.4 Testes com usuários ................................................................................92
6.4.1 Análise por Especialistas .................................................................93
6.4.2 Testes-Piloto com Alunos................................................................93
6.4.3 Análise dos Testes............................................................................95
6.5 ESTUDO DE CASO – Prova da residência médica do Hospital São Lucas da PUCRS..................................................................................................98
6.5.1 Adaptação da FCS – Sistema Medieval ......................................100
6.5.2 Adaptação do Manequim...............................................................101
6.5.3 Resultados do Estudo de Caso.....................................................102
7 CONCLUSÃO E TRABALHOS FUTUROS.................................................105
REFERÊNCIAS ....................................................................................................109
APÊNDICE I - Instruções para alteração dos sons do protótipo ARLIST .................................................................................................................113
APÊNDICE II - Instruções para alteração das imagens do protótipo ARLIST .................................................................................................................115
APÊNDICE III - Testes de avaliação .........................................................117
APÊNDICE IV - Termo de consentimento livre e esclarecido ..........121
19
1 INTRODUÇÃO
A busca de aperfeiçoamento por parte dos profissionais das mais variadas
áreas de atuação é constante, pois a qualificação pessoal é um fator importante para
o desenvolvimento de um trabalho eficiente. O processo de aquisição do
conhecimento abordado em cursos técnicos e graduações de universidades tem
atingido bons resultados nos aspectos teóricos, porém, muitas vezes, deixa a
desejar no que se refere à atividade prática a ser exercida pelo profissional egresso
destes cursos.
A reprodução de situações realistas durante o processo de treinamento,
buscando representar com qualidade aceitável as práticas reais, tem sido alcançada
em diversas áreas através do uso de simulações por computador, através das
quais, o número de possibilidades de treino é expandido, frente aos recursos hoje
disponíveis em simulações reais.
A área da Medicina é uma das que vem se beneficiando mais fortemente do
uso de simuladores construídos para auxiliar as práticas médicas. Estes
simuladores, sejam reais (táteis) ou computacionais (virtuais), permitem que os
alunos exercitem suas habilidades em dispositivos que simulam o comportamento do
corpo humano, executando as tarefas repetidas vezes, podendo ou não variar
parâmetros de entrada ou o comportamento dos simuladores durante a execução
das tarefas.
Dentro da medicina, uma das áreas que utiliza ferramentas de simulação há
mais tempo é a área de treinamento para Suporte à Vida (SV). Estes treinamentos
objetivam qualificar o profissional médico para o atendimento de situações de
emergência permitindo que o sujeito em treinamento possa praticar os cuidados a
pacientes em cenários próximos dos reais, através do uso de manequins
anatômicos, próprios para esse tipo de treinamento. Normalmente esses cenários
são montados por especialistas em atendimentos de primeiros socorros, que
configuram diversos estudos de caso para realização dos exercícios, tais como:
operações de reanimação, primeiros socorros a vítimas de acidentes, ataques
súbitos ou quedas [1].
20
Os manequins utilizados atualmente possuem diversos recursos
incorporados para permitir e qualificar os treinamentos, como pulso, simulador de
arritmia e auscultas. No entanto, algumas deficiências são percebidas na atual
estrutura de treinamento, como por exemplo, a ausência de resposta automática do
manequim, como conseqüência das ações do aluno em treinamento, a
impossibilidade de reproduzir imagens como expressões faciais e lesões corporais, a
falta de sons que representem o estado clínico do paciente, a necessidade de
comunicação constante com o médico-instrutor, entre outras.
1.1 Motivação
A área médica possui diversos problemas relacionados com o gerenciamento
de informações, controle de equipamentos médico-hospitalares e capacitação de
seus profissionais. O uso de Computação é capaz de solucionar parte desses
problemas a partir do desenvolvimento de aplicações computacionais, como
sistemas de informação, bancos de dados, computação aplicada ao gerenciamento
de equipamentos médicos ou através de simuladores para o auxílio do treinamento
profissional.
Na área de treinamento médico, percebe-se uma carência relacionada ao
produto final obtido através das simulações realizadas atualmente. Cursos de
extensão e de aperfeiçoamento buscam amenizar essa lacuna deixada pela
formação deficitária do profissional através da simulação de diferentes
procedimentos, porém, nem sempre o fazem com qualidade.
Os cursos de capacitação médica utilizam manequins anatômicos
específicos para o processo de treinamento. Estes treinamentos seguem as normas
da American Heart Association (AHA) [2] e American College of Surgeons (ACS) [3]
nas áreas de atendimento Cardíaco, Pediátrico e Traumatológico. Seus
21
procedimentos são formados por algoritmos1 que determinam as seqüências de
atendimento, as manobras necessárias para prestação de ajuda e as medições
utilizadas para diversas situações de emergência.
O projeto devolvido nessa dissertação buscou mapear os principais sinais
clínicos passíveis de representação através de dispositivos computacionais e
eletrônicos, e instrumentar tais soluções em manequins de treinamento utilizados em
cursos de SV. Esta instrumentação consiste na adição de dispositivos elétricos,
eletrônicos e mecânicos, que possibilitem a simulação de sinais clínicos como
reprodução de sons de falas, batimentos cardíacos e pulmonares, e imagens que
representem o estado clínico do paciente por meio da expressão facial.
Após o término da implementação da aplicação de simulação, o projeto foi
validado junto a uma equipe médica que exercitou suas habilidades no atendimento
de urgência com a utilização dos recursos desenvolvidos, buscando determinar a
relevância dos sinais representados com auxílio computacional.
1.2 Objetivos
Com base no atual método de capacitação médica para situações de
emergência, o projeto ARLIST busca apoiar o processo de treinamento médico em
SV, através da construção de um framework conceitual e físico que utiliza recursos
computacionais adaptados aos manequins atualmente utilizados.
O objetivo geral deste projeto é implementar meios que qualifiquem os
treinamentos dos cursos de SV através da instrumentação dos manequins de
treinamento existentes.
Como objetivos específicos este trabalho pretendeu:
• Aprimorar a metodologia atual dos treinamentos de SV;
• Aumentar o nível realismo durante os treinamentos;
1 Conjunto de regras ou passos usados para definir, executar ou resolver um problema [Michaelis].
22
• Proporcionar maior autonomia ao aluno em treino através dos recursos
implantados e disponibilizados para o treinamento dos atendimentos;
• Gerenciar de maneira sistemática e eficiente os treinamentos, através da
Ferramenta de Controle da Simulação (FCS);
• Analisar e acompanhar as ações adotadas por meio de um registro preciso
de atividades (arquivo de log) após a conclusão da simulação.
1.3 Organização do texto
A concepção e os detalhes do desenvolvimento do projeto ARLIST estão
relatadas nesse documento conforme a seguinte organização: No capítulo 2 é
apresentado o referencial teórico relacionado à forma de realização dos
atendimentos e treinamentos de Suporte à Vida. Neste capítulo estão documentados
os procedimentos e padronizações seguidas pela área médica que são utilizadas
durante os atendimentos dos primeiros socorros, além dos recursos e deficiências
existentes no atual modelo de treinamento.
Nos capítulos 3 e 4, respectivamente, são apresentadas algumas
motivações para utilização de simulação em treinamentos médicos, e alguns casos
em que a Computação Gráfica, a Realidade Virtual e a Realidade Aumentada
podem auxiliar na construção de cenários de simulação.
O capítulo 5 contempla o detalhamento da implementação do projeto. Nele
estão descritos os materiais e as ferramentas de software utilizadas para o
desenvolvimento do projeto, bem como a ferramenta para controle da simulação e
suas funcionalidades.
Nos capítulos 6 e 7, respectivamente, são apresentados os testes de
validação realizados com o projeto ARLIST, seguido das conclusões obtidas e dos
trabalhos futuros em relação ao tema.
23
2 EMBASAMENTO TEÓRICO
Os atendimentos de Suporte à Vida (SV), ou atendimentos de primeiros
socorros, são caracterizados na área médica pelo suporte a vítimas de acidentes,
quedas ou mau-súbitos, poucos instantes após o ocorrido. A agilidade e a eficiência
do primeiro atendimento é fundamental para a sobrevivência do paciente, por isso
necessita ser realizado de forma rápida e correta, aumentando as chances de
sobrevida e minimizando possíveis seqüelas decorrentes do incidente [1].
Dentro da área da medicina, esses atendimentos são classificados de duas
formas: Básico e Avançado. O atendimento básico está voltado à prestação de
socorro com ausência de qualquer dispositivo de apoio como estetoscópio e
esfignomanômetro, ou equipamento externo, como desfibrilador, monitor cardíaco e
aparelho de eletrocardiograma. Estes atendimentos são prestados em locais fora
dos domínios das instituições médicas, como em lojas e supermercados, na rua ou
até mesmo em casa. Nesse momento, a pessoa que está prestando socorro conta
apenas com suas habilidades manuais e raciocínio lógico para prestar o
atendimento.
O atendimento avançado, por sua vez, preserva todos os conceitos e práticas
adotadas no atendimento básico, entretanto, os procedimentos de atendimento são
realizados com o paciente dentro de um espaço com acesso aos recursos de
atendimento de emergência, como desfibriladores e medicamentos, disponíveis em
ambulâncias, postos de saúde e salas de atendimento em hospitais.
Com o intuito de oferecer um atendimento de qualidade, cursos de
treinamento de SV são oferecidos de forma extracurricular, como meio de aprimorar
os conhecimentos teóricos e práticos dos profissionais da área médica. Mesmo com
a prática acadêmica exercida pelos estudantes de medicina e enfermagem durante o
processo de graduação, a renovação do conhecimento e aperfeiçoamento é uma
necessidade constante. Novas técnicas, equipamentos e drogas surgem com
freqüência, tornando a tarefa de assistência à vida mais eficiente.
24
Visando traçar um panorama do processo atual de treinamento de médicos e
estudantes de medicina na área de SV, o restante deste capítulo aborda os
principais métodos de capacitação utilizados pelos profissionais da saúde, bem
como as dificuldades encontradas durante o processo de aprendizagem.
2.1 Padrões dos treinamentos em SV
Apesar de exercitarem em aulas-práticas a maioria dos procedimentos
inerentes a atendimentos clínicos e de emergência, os alunos de medicina percebem
com facilidade a diferença entre o ambiente simulado de exercícios e o mundo real,
quando se deparam com o campo de trabalho. A prática de laboratório estimula o
raciocínio lógico e prático, porém não contempla situações relevantes e comuns da
prática real, como o exercício das habilidades cognitivas e motoras, o nervosismo, a
tensão e a pressão psicológica por parte dos membros da equipe e de colegas
subordinados.
As rotinas para atendimentos de emergência são todas documentadas.
Esses documentos [4][5] determinam a ordem de execução das tarefas, prevêem
execução de tarefas repetitivas, desvios de procedimento e reavaliação da situação,
retornando ao início do processo. O estabelecimento de uma melhor ordem para a
realização de tarefas rotineiras de atendimento tem sido foco de estudo de diversos
pesquisadores que buscam um conjunto padrão de passos que possibilite diminuir
erros e seqüelas subseqüentes, levando a um atendimento de qualidade, seguro e
mais confortável ao paciente, através da correta execução de tarefas durante o
atendimento de emergência, no qual o tempo é um fator fundamental.
A necessidade de padronização surge durante a realização de uma tarefa
quando se evidencia repetição de ações durante o seu desenvolvimento. Com a
finalidade de melhor guiar os profissionais da saúde no processo de aprendizagem,
foram desenvolvidos algoritmos que estabelecem, de maneira organizada e
hierárquica, a seqüência das ações a serem realizadas durante os procedimentos. A
Figura 1 apresenta o algoritmo padronizado para o atendimento de pacientes em
caso de Parada Cardiorrespiratória (PCR), proposto pela American Heart
25
Association (AHA). Este algoritmo expressa uma seqüência genérica para
atendimento, além de possuir chamadas a outros sub-algoritmos que expressam
com maior clareza os demais níveis de atendimento. Estes níveis subseqüentes,
assim como, os respectivos algoritmos de tratamento, não serão tratados neste
documento, mas podem ser consultados facilmente na literatura médica [4][6][7].
Figura 1 - Algoritmo universal de reanimação
Os cursos elaborados para qualificar os profissionais da área da saúde em
SV, estão divididos em Advanced Trauma Life Support (ATLS), Advanced Cardiac
Life Support (ACLS) e Pediatric Advanced Life Support (PALS), e têm seus objetivos
focados nos principais procedimentos de reanimação para as áreas de Medicina
Traumática, Cardíaca e Pediátrica, respectivamente [2]. Esses cursos são oferecidos
em diversos países, principalmente nos Estados Unidos, ponto de início de todo
26
processo. No Brasil, diversos pólos distribuídos geograficamente, oferecem
capacitação aos profissionais da área da saúde seguindo as diretrizes determinadas
pela AHA e pelo American College of Surgeons (ACS [3], para ATLS).
Em uma segunda linha de cursos, tendo como seu público alvo a população
em geral, sem conhecimentos médicos ou de enfermagem, estão os chamados
cursos “B’s”, Basic Life Support (BLS) e Pediatric Basic Life Support (PBLS), que
buscam capacitar a população para identificar situações de emergência e intervir
corretamente em casos de risco de vida.
O SAVC (Suporte Avançado à Vida em Cardiologia) é um dos principais
cursos procurados por médicos e enfermeiros da área de medicina intensiva,
ambulatorial, emergencial e resgate, por estar focado nas técnicas de reanimação de
suporte básico e avançado à vida [6]. Ele também é oferecido em diversos centros
de treinamento espalhados pelo mundo, inclusive no Brasil. O manual de SAVC,
escrito e traduzido em diversas línguas, serve como guia de orientação e
treinamento em muitos países e conta com a parceria da AHA.
Dentre as determinações feitas pela AHA, os passos para atendimento de
emergência estão divididos em quatro etapas, definidas como o ABCD Primário. A
Tabela 1 apresenta os quatro passos básicos que compõe o ABCD primário no
atendimento de emergência, determinando a ordem de execução (do item A ao D)
que deve ser seguida para realização do atendimento.
Tabela 1- ABCD Primário para atendimento de Suporte Básico à Vida
Ordem de Execução
Descrição
A Airway (vias aéreas): abrir as vias aéreas do paciente B Breathing (respiração): avaliar e manter a ventilação com pressão positiva C Circulation (circulação): avaliar o pulso e realizar compressões torácicas externas D Defibrilation (desfibrilação): monitorizar e desfibrilar o paciente
O ABCD primário é recomendado em todo e qualquer atendimento de
assistência e deve ser seguido cuidadosamente. O emergencista2 deve obedecer à
2 Emergencista: profissional que presta assistência à saúde.
27
ordem de realização dos algoritmos, respeitando todos os pré-requisitos. Durante um
atendimento, deve ser observado, sempre, o estado da via aérea do paciente (A),
para depois proceder com a ventilação adequada (B), procurar re-estabelecer a
circulação sangüínea através de massagens cardíacas (C) e, então, por último, fazer
uso de desfibrilador (D). O atendimento é considerado errôneo caso não haja
observância desses passos, ou seja, as letras A, B, C e D, estabelecem a ordem de
prioridade na execução dos procedimentos. Um exemplo prático do não
cumprimento das normas acontece quando o emergencista passa a ventilar a vítima,
não percebendo a existência de uma obstrução na via aérea. O procedimento não é
adequado, pois não haverá passagem necessária de ar e nem ocorrerá a expansão
torácica esperada. Nesse caso específico, a manobra de atendimento não será
eficiente devido ao não cumprimento das rotinas de atendimento de SV.
Além da seqüência de passos a serem seguidos, um método preconizado
pela AHA para atendimentos de primeiros socorros é a avaliação do nível de
consciência do paciente, estabelecido através de um método simples chamado
AVDN. Segundo Mantovani [8], define-se AVDN conforme a Tabela 2.
Tabela 2 – Avaliação do nível de consciência - AVDN
Nível de alerta AVDN Descrição A – Alerta O paciente é classificado como estado
consciente e com nível de conversação aceitável. V – resposta ao estímulo Verbal Paciente apresenta-se com baixo nível de
consciência, mas consegue responder verbalmente ao chamado do médico.
D – só responde à Dor Paciente está praticamente com ausência de consciência e responsivo apenas à dor, esboçando reações através de beliscões ou picadas de agulha.
N – Não responde a qualquer estímulo Não há resposta alguma por parte do paciente, não ocorre feedback verbal nem à dor.
2.2 Metodologias de treinamento para SV
A metodologia utilizada nos treinamentos de SV consiste na aplicação de
casos de estudo, nos quais o médico instrutor provê ao trainee informações a
28
respeito do estado clínico do paciente e observa as atitudes adotadas por ele para o
atendimento da emergência. Os casos de estudo são cenários que configuram o
estado de um paciente, com informações iniciais para o exercício, como PA, FR e
FC.
Nos cursos de treinamentos, que duram em geral de dois a três dias, o
trainee3 tem na sua frente um manequim anatômico médico4 utilizado para realizar
as manobras de reanimação, tais como massagem cardíaca, intubação e colocação
de colar cervical. No mercado, existem vários tipos de manequins, com diversas
características de acordo com o modelo e objetivo proposto para o exercício,
conforme está descrito na Seção 2.3.
De acordo com as ações tomadas pelo trainee, surge a necessidade de
reavaliar o estado clínico do paciente (conforme procedimentos apresentados nos
cursos de SV), o que acontece por meio de questionamentos ao médico-instrutor5.
Os casos de estudo são formulados pelos instrutores dos cursos de SV e
objetivam proporcionar aos trainees situações similares às vividas em atendimentos
de emergência reais. São informados alguns dados sobre o estado clínico do
paciente como a idade, sexo e motivo que levou o paciente ao atendimento. A partir
desse momento, o trainee decide o caminho a ser tomado, administrando
medicação, realizando massagem cardíaca ou ventilando.
Os exercícios de treinamento são realizados em grupos e divididos em dois
modelos: cooperado e individual. No primeiro modelo, todos os participantes do
grupo interagem com o caso de estudo exposto, opinando e participando da solução.
Na modalidade individual, situações de emergência são apresentadas
individualmente a cada participante, que não pode contar com a ajuda dos colegas
para realizar o atendimento.
Os grupos realizam um rodízio entre as diversas estações (módulos)
organizadas para o treinamento. Todos os grupos devem passar por todas as
estações. Nelas são abordados temas como:
3 No contexto deste trabalho, trainee é o indivíduo que está sendo treinado no curso de SV, seja ele um aluno de medicina, um médico residente ou profissional médico. 4 A partir desse ponto, o manequim anatômico médico será chamado apenas de manequim. 5 Instrutor e médico-instrutor são considerados sinônimos nesse documento.
29
a) manejo das vias aéreas e ventilação através bolsa valva-máscara6;
b) reconhecimento de arritmias e utilização de cardioversor/desfibrilador7;
c) manobras de reanimação de suporte básico à vida;
d) atendimento ao trauma e imobilização de coluna;
e) sedação e analgesia;
f) procedimentos de intubação.
Independentemente da rotina realizada durante o treinamento, os
participantes devem fazer uso de materiais de proteção individual como: máscaras,
jalecos e luvas. As práticas de reanimação que envolvem massagem cardíaca e
ventilação são exercitadas sobre os manequins.
Durante os cursos de capacitação ao atendimento de SV, diversas situações
de erro são comumente observadas pelos médicos-instrutores. Os procedimentos
são realizados incorretamente devido a fatores como a falta de atenção, o estresse,
a falta de conhecimento das rotinas de atendimento e a má avaliação do caso.
2.3 Sinais clínicos
Defini-se como sinal clínico tudo aquilo que é possível avaliar a respeito do
paciente, como, por exemplo, febre, palidez e inchaços [8]. Além da realização de
manobras, outro objetivo dos cursos de treinamento de SV é possibilitar ao aluno,
através de manequins equipados com recursos avançados, determinar o estado
clínico do paciente a partir da observação de alguns sinais clínicos, sejam esses
visuais ou sonoros.
Buscando melhorar o processo de atendimento, as empresas fabricantes de
equipamentos e dispositivos médico-hospitalares, vêm procurando reproduzir de
maneira automática os sinais de um paciente sobre o manequim de treinamento.
6 Equipamento para ventilação artificial manual. 7 Equipamento eletrônico cuja função é reverter um quadro de fibrilação auricular/ventricular, ou seja, um tipo de arritmia cardíaca caracterizada pelos movimentos incorretos dos átrios.
30
Através da representação de sinais clínicos, aprimora-se a capacidade de
percepção do aluno, levando-o a avaliar o que está acontecendo e a tomar a
decisão adequada rapidamente. Além disto, a reprodução automática dos sinais
produz uma tensão psicológica no aluno, o que também ocorre em situações de
emergência real.
É possível simular sinais clínicos que se aproximem da realidade através da
utilização de materiais e produtos convencionais de uso doméstico. Produtos de
beleza como cosméticos podem auxiliar na criação de uma cor de pele roxa ou
pálida, além de lesões de diferentes cores e intensidades. Com o auxílio de
aparelhos de reprodução sonora como caixas acústicas de aparelhos de som ou
computador, é possível tocar sons de batimentos do coração, pulmão, além de
reproduzir falas e choros.
Segundo os instrutores dos cursos de SV, a metodologia e os equipamentos
utilizados nos treinamentos de SV atuais, não possibilitam aos alunos perceber o
estado do paciente para decidir como agir. Evidencia-se a importância em
representar tais sinais de forma eficiente e realista. Um conjunto de sinais clínicos
relevantes e passíveis de representação através de meio computacional, é
apresentado na Tabela 3. Esses sinais estão agrupados de acordo com o meio de
representação, tais como visual, sonoro e tátil.
Tabela 3 - Sinais clínicos representáveis
Representação Sinal Cor de pele Lesões Expressões faciais Tempo de perfusão (enchimento capilar) Responsividade verbal
Visual
Responsividade à dor Ausculta pulmonar Ausculta cardíaca Responsividade verbal
Sonoro
Responsividade à dor Sudorese, sangramento Temperatura corporal Padrão de respiração (expansão do tórax) Choque cardíaco Medição da pulsação Massagem cardíaca
Tátil
Ventilação do paciente
31
Muitos manequins comerciais possuem diversas funcionalidades que
buscam imitar o comportamento humano, representando os principais sinais de
maneira próximo do real. A seção 2.4 mostra um resumo dos principais modelos
existentes.
2.4 Recursos disponíveis para treinamento
Como o objetivo dos cursos de reanimação e atendimentos de emergência
está voltado para o treinamento das habilidades práticas do aluno, a figura do
manequim é importante durante o processo de capacitação, pois permite a
realização prática das manobras sobre um objeto com forma e medidas semelhantes
as de um ser humano.
Os modelos de manequins são vendidos de acordo com o número de
recursos disponíveis, desde modelos mais simples de manequim (Básico) que
permitem manobras de intubação, deslocamento torácico para massagem cardíaca
e balões internos para ventilação, até os que possuem um maior número de
recursos (Avançado), capazes de representar informações sonoras de ausculta
pulmonar e cardíaca, de serem controlados por computador, dentre outras
características, conforme exposto a seguir. Porém, até onde foi possível saber
durante o presente estudo, os modelos disponíveis não oferecem todas as
funcionalidades reunidas em um único manequim.
Os modelos de manequins básicos são utilizados nos principais cursos como
PBLS, PALS e ACLS, durante a fase de treinamento e avaliação dos alunos. Os
modelos disponíveis atendem tanto ao paciente adulto quanto ao paciente infantil ou
recém-nascido, sendo projetados nas proporções dos modelos reais humanos.
A Figura 2 (a) apresenta um exemplo de um torso de um manequim básico da
empresa Simulaids [9], utilizado nos treinamentos de SV. Esses manequins são
revestidos com uma espécie de borracha macia, porém resistente, que procura
imitar a cor da pele humana, além de seguirem os formatos da anatomia, como o
comprimento de braços, pernas e tronco, e o tamanho da cabeça. Balões instalados
dentro do tórax simulam o funcionamento dos pulmões quando se injeta ar pelas
32
vias aéreas em uma manobra de ventilação. Molas de pressão posicionadas sob o
tórax permitem a realização das manobras de reanimação cardiovascular. A Figura 2
(b) apresenta um manequim infantil, também fabricado pela empresa Simulaids, com
recursos básicos, utilizado em treinamentos de reanimação e atendimentos de
emergência pediátrica.
(a) (b)
Figura 2 – Modelo de manequim para reanimação e ventilação (a) e modelo infantil (b)8
Para treinamento das rotinas de intubação, outro tipo de manequim está
disponível. A Figura 3 apresenta um modelo de manequim da empresa Ambu [10]
utilizado nas manobras de intubação. Neste manequim, o tórax é removido,
deixando visível o interior da caixa torácica e permitindo visualização da expansão
pulmonar quando o procedimento for realizado com sucesso e os balões encherem
devido à ventilação externa.
Figura 3 – Modelo de manequim utilizado em rotinas de intubação9
8 imagem obtida em http://www.simulaids.com 9 imagem obtida em http://www.eo.com.sg
33
A utilização de manequins que possuem recursos mais avançados possibilita
dar mais realismo ao treinamento. A Figura 4 apresenta um manequim
comercializado pela empresa Laerdal [11], equipado com recursos adicionais como
pulso palpável, simulador de arritmias que possibilitam ao trainee acompanhar no
monitor cardíaco os sinais vitais do paciente (manequim), simulador de punção
venosa, além de ausculta pulmonar e cardíaca.
Figura 4 – Manequim adulto com recursos avançados109
Apesar de todos estes recursos já existentes, muitas dificuldades são
encontradas na realização dos treinamentos de capacitação profissional em SV
devido a empecilhos técnicos que impedem uma boa representação dos sinais nos
manequins de treinamento. A Seção 2.5 apresenta um levantamento destas
dificuldades, realizado a partir de um estudo realizado com médicos-instrutores de
cursos de SV da Sociedade de Pedriatria e do Hospital São Lucas da PUCRS .
10 imagem obtida em http://www.laerdal.com.br
34
2.5 Dificuldades do processo de treinamento
Para a identificação dos principais problemas existentes nos treinamentos de
SV, foram acompanhados treinamentos em SV voltados para a área Pediátrica
(PALS) e adulta (ATLS). Durante esses cursos e através de entrevistas com os
médicos-instrutores dos cursos, algumas dificuldades foram detectadas no atual
processo de treinamento, mesmo com o uso de manequins avançados nos
exercícios.
A representação dos sinais clínicos, conforme apresentado na seção 2.2, é
sem dúvida, um dos fatores mais importantes para garantir um melhor treinamento
aos alunos, no entanto, o realismo e a qualidade existente nos produtos comerciais
não são satisfatórios, do ponto de vista médico. Algumas das principais dificuldades
encontradas nos treinamentos são descritas nesta seção.
Durante um atendimento médico real, uma parte importante do diagnóstico é
realizada através da observação e interação com o paciente, por meio de
conversação ou toque físico. Nos manequins atuais, entretanto, muitos destes
recursos não estão disponíveis nos treinamentos devido à impossibilidade de
representação de alguns sinais.
Uma preocupação constante por parte dos cursos de SV, é conseguir retirar
a figura do instrutor do cenário de testes. Os manequins com recursos avançados
minimizam essa tarefa e aproximam o aluno da realidade, permitindo que o aluno
não veja o boneco apenas como um pedaço de borracha inerte.
Nota-se durante a realização das atividades práticas dos treinamentos de
SV, que o trainee enfrenta diversos problemas ligados à baixa capacidade de
representação de sinais clínicos disponível nos manequins. Por exemplo, os alunos
observam o manequim que o instrutor descreve como uma pessoa com pele roxa,
pulso fraco e dificuldade respiratória, entretanto, esses sinais clínicos não estão
sendo reproduzidos pelo manequim de simulação, obrigando os alunos a
imaginarem o quadro clínico e atuarem sobre este modelo mental para realização do
procedimento.
35
Aspectos como cor ou textura de pele, respiração ofegante ou inexistente,
lesões ou escoriações, aparência visual do paciente (esboço de dor ou desconforto)
e troca de informações verbais, são fatores inexistentes que dificultam a realização
de um treinamento mais realista.
Recursos como a reprodução de imagem facial e lesões corporais
dinâmicas, ou seja, que podem ser facilmente alteradas, não estão presentes nos
manequins avançados.
A ausculta cardíaca e pulmonar pode ser encontrada separadamente em
simuladores de sons, porém, esta não está inclusa no manequim avançado
juntamente com os demais recursos, além dos sons não estarem associados ao
estado clínico do paciente.
Muitos procedimentos importantes para o perfeito andamento dos
treinamentos e para a correta assistência aos pacientes na vida real, precisam ser
abstraídos durante a realização do curso devido à impossibilidade de representação.
Os sinais são avaliados por meio de questionamento ao instrutor, que fornece
valores a respeito da freqüência cardíaca, saturação e pressão sangüínea, por
exemplo. As ações adotadas pelo aluno são igualmente comunicadas ao instrutor
que avalia e informa o efeito causado pela atitude tomada. Poucas ações como a
massagem cardíaca, a intubação e a ventilação artificial são possíveis de realização
sobre o manequim.
Este fator relacionado ao registro das ações tomadas pelo aluno durante o
processo de treinamento é muito importante e não está presente nos manequins de
treinamento. Esse recurso possibilitaria uma análise das ações adotadas, avaliando
a conduta do aluno em treinamento.
Aspectos de caráter subjetivo e pessoal podem ser agravados ou atenuados
com o uso de recursos simulados. O estresse, um fator que acompanha os
profissionais da saúde constantemente, toma conta do aluno em treinamento
quando a evolução do estado clínico não é boa. Isto ocorre devido a fatores como:
a) necessidade de memorizar muitas informações de uma só vez sem apoio
tecnológico;
b) nível abstração dos sinais visuais, táteis e sonoros;
36
c) observação crítica dos colegas de grupo que assistem o atendimento e a
condução da solução;
d) inexperiência ou falta de prática no atendimento de emergência;
e) desconhecimento das rotinas de atendimento.
Um dos módulos existentes nos cursos de SV consiste na realização de
avaliações individuais. O aluno é, na verdade, avaliado durante todo o período de
curso, porém necessita obter um bom desempenho na prova individual final para ser
aprovado e receber o certificado. É nesse momento em que a ausência de sinais
visuais, sonoros e táteis fariam a diferença para o aluno em treino. No momento da
avaliação, o instrutor novamente relata verbalmente ao aluno o quadro clínico do
paciente e suas informações vitais. Ao aluno, cabe tratar o paciente, baseando-se
nas informações passadas. Dessa forma, o aluno percorre diversos módulos durante
o treinamento e encontra dificuldades de execução na realização de praticamente
todas as tarefas.
Outro problema relatado pelos instrutores dos cursos de SV, é que, após a
simulação, muitos estudantes contestam os resultados de sua avaliação,
principalmente quando são reprovados. Para contrapor os comentários do aluno e
confirmar ou não a avaliação realizada, o médico-instrutor tem disponível apenas a
sua opinião subjetiva sobre o desempenho do trainee, sem nenhum registro formal.
Além disto, o próprio médico-instrutor pode esquecer ou errar durante o processo de
repasse das informações, devido à complexidade do caso, ou até mesmo por
distração.
37
3 SIMULAÇÃO EM APLICAÇÕES DE CUIDADO À SAÚDE
Uma das mais conhecidas técnicas para representar objetos, cenários e
artefatos não existentes, é sem dúvida alguma, a criação de modelos. Através de
modelos matemáticos, esboço em papel e uso de software especializado, é possível
ter a noção do produto final antes de sua concepção.
A modelagem estática, assim conhecida, é formada por modelos de
informação que não possibilitam a obtenção de resultados diferentes dos previstos.
Isto ocorre pelo fato do modelo ser construído para casos específicos, não sendo
flexível a alteração dos valores de entrada.
Por outro lado, a modelagem baseada em simulação sofreu diversos avanços
e vem sendo utilizada com maior freqüência, sendo a substituta natural da
modelagem estática. Com a característica fundamental de permitir “testar” o projeto
e avaliar o seu comportamento, mesmo demandando um maior tempo para o
desenvolvimento das plataformas e ambientes de teste, a modelagem baseada em
simulação tem sua existência justificada.
Um modelo de simulação busca assemelhar-se com o ambiente real de forma
a compatibilizar o maior número de elementos possíveis, como, objetos, ações e
reações. Uma vez avaliado, desenvolvido e testado, o projeto torna-se aplicável a
outras realidades e conjunto de variáveis de entrada. Inúmeras situações podem ser
demonstradas apontando os prováveis resultados, através de um nível de
confiabilidade estabelecido, garantindo melhor qualidade na posterior
implementação prática.
Através da construção de ambientes de simulação (que utilizam técnicas e
elementos de Computação Gráfica, Realidade Virtual e Realidade Aumentada),
consegue-se ampliar a gama de situações simuladas, podendo-se, inclusive,
adicionar ao cenário testado o recurso da interatividade sobre as variáveis de
ambiente. Essa última modalidade de simulação tem assumido a preferência no
desenvolvimento dos projetos pela qualidade e quantidade de opções fornecidas
pelas aplicações.
38
Em áreas como aviação (simuladores de vôo), jogos e capacitação de
pessoal, as ferramentas de simulação baseadas em software vêm obtendo bons
resultados. A necessidade de otimizar os investimentos financeiros, de mão-de-obra
e de tempo, são fatores determinantes para desenvolvimento de projetos de
simulação.
A utilização de simulações permite transpor grandes barreiras existentes
impostas pelos métodos convencionais de trabalho. Na área da saúde,
especificamente, os treinamentos atuais são conduzidos de forma teórica,
juntamente com exercícios práticos que não representam a devida realidade,
deixando que os resultados obtidos fiquem aquém dos resultados esperados. A
carência de uma metodologia mais eficiente na capacitação dos profissionais reflete-
se no campo de trabalho, quando ocorrem erros devido à falta de práticas mais
realistas que representem com maior qualidade as situações futuras que serão
vividas pelos profissionais [12].
Os projetos de simulação atuais utilizam recursos computacionais que são
desenvolvidos com o intuito de auxiliar o processo de análise e acompanhamento
das fases da simulação. As informações processadas pelos sistemas de simulação
são registradas e servem como material para análises posteriores. O número de
possibilidades de simulação se expande imensamente devido à disponibilidade de
tais recursos. Cenários, situações, condições, podem ser alterados e novamente
simulados através de poucos comandos.
Segundo Standridge [13] na área de treinamento em cuidados de saúde a
simulação possui um papel importante no processo de aprendizado dos seus
profissionais, pois através de modelos de simulação produzidos por computador, é
possível visualizar a estrutura lógica do protótipo em teste. As mais variadas
alternativas podem ser avaliadas, dentro dos limites previstos para o protótipo, sem
incorrer em risco a pacientes e nem aumentar o custo do projeto. O número de
situações possíveis de serem geradas é muito maior quando comparadas com os
meios convencionais [14]. Além disto, existe a possibilidade de personalizar cenários
e criar situações de ensino-aprendizagem que obriguem a realização das atividades
na seqüência programada para atingir a conclusão das tarefas. Estes conjuntos de
tarefas e critérios podem ser alterados, gerando um novo grupo de regras e de
possíveis decisões ou caminhos a seguir.
39
Existem, entretanto, barreiras que impedem a utilização das técnicas de
simulação em algumas áreas. Um dos motivos conhecidos é a falta de conhecimento
sobre como trabalhar com simulação. Para o desenvolvimento de projetos que
utilizem simulação, segundo Standridge [13] é necessário observar que:
a) as informações geradas por um modelo de simulação são muitas vezes
complexas e em maior número, comparadas a dados estatísticos simples;
b) os valores de saída da simulação estão diretamente ligados aos valores
de entrada e que saídas não esperadas podem surgir;
c) todas as alternativas possíveis do sistema sejam avaliadas;
d) as saídas do modelo sejam coerentes com as informações esperadas
pelos projetistas;
e) o modelo contemple todos os componentes relevantes de um sistema em
operação.
Segundo Gaba [12], as diversas aplicações de simulação na área de
cuidados à saúde podem ser divididas em 11 dimensões. Essa classificação
determina que a utilização de simulação na área médica necessita atentar para itens
como, por exemplo: o nível de conhecimento e de experiência dos participantes; o
local de realização da simulação e quais habilidades estarão sendo avaliadas, com
intuito de definir qual o tipo de simulação estará sendo desenvolvida; a forma de
conduzir os testes e quais resultados podem ser esperados. A Tabela 4 apresenta a
relação das 11 dimensões de cuidados à saúde, descrevendo o item a observar e o
seu escopo.
Tabela 4 – Áreas de cuidado à saúde
Dimensão Descrição Comentários/Dificuldades
1 Propósito da atividade de simulação
Determina o escopo da simulação. Grande maioria com foco para áreas de educação e treinamento.
2 Unidade de
participação na simulação
Nível de envolvimento. Necessidades de treinamento muitas vezes individualizado ao invés de treinamentos em grupo.
40
Dimensão Descrição Comentários/Dificuldades
3 Nível de
experiência dos participantes
Os participantes do projeto de simulação já tiveram contato com outro tipo de projeto similar ? As práticas de simulação podem ser desenvolvidas durante a formação dos profissionais. Participantes que fizeram parte de outros experimentos de simulação, possuem um maior conhecimento de como conduzir as tarefas e sobre os resultados a serem obtidos.
4
Domínio de cuidado à
saúde no qual a simulação está
inserida
Relacionado a área de aplicação, como por exemplo: Cirurgia, Obstetrícia e Cardiologia.
5 Nível de
instrução dos participantes
As simulações podem ser aplicadas não somente a médicos, mas também enfermeiros, técnicos e população em geral.
6
Tipo de conhecimento,
habilidade, atitude ou
comportamento
A simulação pode ser utilizada para prática de habilidades e conhecimentos já adquiridos, vista como uma ferramenta de exercício, ou para aprendizado de novas habilidades. Ex.: Clínicos podem aprender as práticas de cirurgia através de exercícios simulados.
7
Idade do paciente que está sendo utilizado na simulação
Os projetos de simulação desenvolvidos atualmente são voltados para modelos de manequins adultos. As aplicações focadas na área pediátrica ainda precisam ser aprimoradas, bem como, os modelos de simulação, que oferecem complexidades diferenciadas.
8 Tecnologia aplicada ou requerida
Há possibilidade de realizar simulações com poucos recursos tecnológicos, não havendo muitas perdas na qualidade do treinamento. Porém, atividades mais complexas necessitam de maior alocação tecnológica para uma representação mais realista e eficiente da simulação. Monitores de computador, modelos de manequins especiais, dotados de características como molas de pressão e balões de ar, e técnicas de Realidade Virtual são recursos tipicamente utilizados em simulações na área da saúde.
9 Local de
execução da simulação
O local de execução da simulação é importante por determinar o nível de envolvimento do participante. Algumas simulações podem ser feitas através da Web ou do próprio computador do usuário, porém com recursos limitados. Os centros de simulação possuem estrutura técnica diferenciada, onde a forma de interação, realizada através de dispositivos não convencionais, torna-se o principal diferencial.
10
Grau de
participação direta
Refere-se ao nível de participação exigida do participante durante a simulação. Em casos onde a interatividade não é fator fundamental para desenvolvimento de todo ou parcial processo de simulação, sistemas de videoconferência tem sido utilizados como alternativa para reunir participantes remotos.
11 Método de respostas
O usuário que está participando da simulação necessita, de alguma forma, receber respostas sobre suas decisões. Em simuladores que utilizam-se das técnicas de RV ou outros recursos áudio-visuais, fornecer retorno sobre as ações é uma característica padrão. Em casos de simulações convencionais que utilizam manequins e instrutores, os retornos são fornecidos verbalmente durante ou após a realização do experimento.
41
Com base nos itens citados na Tabela 4, constata-se que as simulações na
área médica, assim como em outras áreas, precisam ser desenvolvidas de acordo
com a necessidade da aplicação. Os recursos utilizados nas simulações variam de
acordo com a complexidade do cenário que se deseja representar e da própria
complexidade da área simulada, assim como o perfil dos participantes e as
tecnologias envolvidas. Aplicações como cirurgias cardíacas, traumatológicas,
neurológicas, entre outras, são exemplos de casos de difícil representação em
ambientes simulados.
Através do uso de manequins emborrachados, válvulas e balões de ar,
software específico e recursos computacionais agregados aos equipamentos
médicos, projetos de simulação foram desenvolvidos buscando abordar diversas
modalidades de treino. Esses modelos de capacitação foram classificados de acordo
com o meio de interação e as características técnicas disponíveis.
A Tabela 5 lista os principais grupos de simuladores utilizados em aplicações
médicas, além de apresentar uma breve descrição das funcionalidades oferecidas
por cada modelo.
Tabela 5 – Simuladores utilizados em aplicações médicas
Tipo Descrição Simuladores com tecnologia
limitada Modelos ou manequins utilizados para praticar manobras e procedimentos simples
Pacientes Padronizados Pacientes simulados ou padronizados permitem a estudantes interagir com “atores” treinados para apresentar sintomas, reações e emoções
Simuladores que utilizam a tela do computador como referência
ou a Web
Programas para treinar e avaliar o conhecimento clínico e a tomada de decisões. É possível examinar o paciente virtual, analisar os exames de laboratório, elaborar hipóteses de cura
Treinadores de tarefas complexas ou parcialmente complexas
Tarefas específicas de treinamento. Alta fidelidade visual e sonora. Uso de RV para representação dos cenários. Ex. exames de ultra-som, cirurgias laparoscópicas, consultas odontológicas.
Simuladores de pacientes baseados em manequins
Manequins em tamanho real. A anatomia humana é simulada, contemplando o maior número de funções possíveis, permitindo aos praticantes exercitar suas habilidades sobre os manequins. São obtidas respostas como pressão sangüínea e pulsação.
42
Mesmo com deficiências, os modelos de simulação médica proporcionam
muitas vantagens a pacientes, médicos e comunidade em geral. Hook [15] relata
alguns dos benefícios oferecidos pelos treinamentos médicos que fazem uso de
simulação para capacitar seus profissionais:
a) pacientes se beneficiam das melhorias geradas à saúde em geral, através
da redução de erros e menor número de mortes;
b) pacientes com casos raros, podem ser simulados em laboratório,
qualificando o profissional para enfrentar tais situações;
c) pacientes e profissionais da saúde se beneficiam, pois situações de alta
complexidade e risco, podem ser testadas durante os treinamentos;
d) melhor qualidade de atendimento com menores custos;
e) benefício dos próprios profissionais da saúde, que exercitam com maior
freqüência suas habilidades sem riscos;
f) qualificação profissional exigida, aumentando a demanda do mercado de
trabalho de profissionais com conhecimentos específicos em áreas
técnicas de alta tecnologia.
De forma a apoiar as técnicas de simulação utilizadas, Cooper [15] relata
que para a construção de um ambiente seguro para um paciente, alguns
elementos-chave devem ser seguidos, como:
a) elaboração e treinamento de rotinas de emergência;
b) treinamento das equipes de trabalhos;
c) criação de um ambiente para discussão dos erros sem que haja punição;
d) teste de novos procedimentos;
e) avaliação de competência;
f) realização de testes de usabilidade de dispositivos;
g) oferta de treinamento aos profissionais novatos de uma equipe.
No que diz respeito aos cursos de capacitação de assistência à saúde, há
uma divisão em dois grandes grupos, de acordo com o conhecimento na área. No
primeiro grupo encontram-se os profissionais da saúde, os quais envolvem médicos,
enfermeiros e técnicos de enfermagem, que visam adquirir formação no pré-
atendimento de emergência ou aperfeiçoar seus conhecimentos. O segundo grupo é
formado por pessoas comuns, civis, voluntários para o treinamento, interessados em
saber como proceder em momentos críticos e prestar a assistência correta.
43
Para o segundo grupo, é necessário atentar para três aspectos básicos de
controle: Conhecimento, Habilidades e Visão da Realidade. Os dois primeiros itens
são facilmente trabalhados durante o processo de treinamento, através de materiais
didáticos, simuladores de interação, manequins para realização de exercícios
práticos, entre outros mecanismos. O terceiro fator é encontrado somente durante a
situação de crise propriamente dita, ou seja, a emergência ao paciente. Esses casos
acabam por acontecer em seus locais de trabalho, nas ruas, enfim, em lugares
atípicos. Durante tais situações de emergência, o fator estresse é vivido
permanentemente. Com o passar do tempo e a evolução não positiva do quadro
clínico, o nervosismo gerado acaba por atrapalhar o atendimento. As interferências
geradas por intervenção de terceiros, acabam criando situações de discussões e
confusões desnecessárias. O peso da responsabilidade e as conseqüências
oriundas da má condução do atendimento fazem com que o socorrista perca o
controle da situação [17].
Portanto, o uso de simulação em áreas consideradas complexas, onde a
realização das tarefas exige equipamentos especiais e mão-de-obra especializada, a
aplicabilidade dessa metodologia é facilmente justificada. Os experimentos na área
da saúde dependem ainda do tipo de especialidade de aplicação da simulação, pois
as características pertencentes a um procedimento cirúrgico são diferentes dos
fatores exigidos durante um atendimento de emergência.
Dessa forma, a simulação torna-se uma técnica valiosa principalmente para
a área de capacitação de profissionais médicos, na qual além exercícios teóricos e
estudos de casos genéricos, é possível realizar testes com base em modelos
específicos, simular novos resultados a partir de novas interações de entrada e
praticar inúmeras vezes no mesmo sistema, com pessoas com experiências
diferentes.
44
45
4 REALIDADE VIRTUAL E REALIDADE AUMENTADA
Através da considerável aplicabilidade nas áreas de pesquisa, a Realidade
Virtual (RV) passou a ser de grande valia para os ramos industrial, comercial e de
lazer, possibilitando a criação de cenários gráficos interativos utilizados para
construção de projetos tridimensionais, simulações e entretenimento. Burdea [18]
define RV como sendo “uma interface com o usuário que envolve simulação em
tempo-real e interações através de múltiplos canais sensoriais. Essas modalidades
sensoriais são visuais, auditivas, táteis, possuem cheiro e sabor”.
Apoiada nos conceitos de RV, a Realidade Aumentada (RA) possibilita ao
usuário interagir com mundo real e virtual simultaneamente. Em algumas atividades,
ocorre a necessidade de interação com objetos reais, procurando por em prática as
habilidades táteis, sonoras e visuais do usuário em conjunto com o cenário virtual
modelado.
Um dos objetivos dos cursos de treinamento em SV, é fazer com que o
trainee olhe, pense e atenda sozinho ao paciente, sem ajuda de terceiros. Nos
ambientes atuais, entretanto, o maior problema está relacionado à como obter esta
autonomia durante as simulações, dado que a maioria dos manequins utilizados não
apresenta grande capacidade de simulação de sinais.
Recursos computacionais como Computação Gráfica (CG), RV e RA, podem
ser usados para prover maior realismo e interatividade autônoma entre o trainee e o
manequim, reduzindo o papel do médico instrutor no cenário de treinamento.
O uso de imagens tridimensionais (3D) é comum em sistemas de CG.
Através da modelagem de cenários com alto nível de detalhamento, profissionais de
áreas como a Arquitetura e a Engenharia podem elaborar seus projetos, testar suas
propostas e também conquistar seus clientes com a apresentação de uma simulação
visual do produto final em um curto espaço de tempo e com grande riqueza de
detalhes.
Na área da Medicina, por sua vez, os simuladores gráficos mais comuns são
os sistemas de visualização de partes ou órgãos específicos do corpo humano,
46
proporcionando ao trainee uma percepção mais detalhada da anatomia através da
tela do computador. Nestes sistemas é possível manusear órgãos virtuais,
manipulando os objetos de forma a aumentar e diminuir seu tamanho, rotacionar e
consultar suas propriedades, através de teclas ou mouse.
Como forma de apresentar trabalhos semelhantes ao descrito nesta
Dissertação, o restante deste capítulo descreve alguns ambientes computacionais
que utilizam recursos de CG, RV e RA, aplicados ao ensino e à prática médica.
4.1 Aplicações de CG e RV
Conforme exposto no Capítulo 3, o uso de simulação é aplicado a diversas
áreas de negócio e o apoio computacional é fundamental para enriquecer as tarefas
de simulação e possibilitar maior gerenciamento do ambiente. O processo de
simulação computacional permite aos acadêmicos e profissionais médicos, exercitar
suas habilidades em programas e equipamentos gerenciados por computador,
realizando as tarefas repetidas vezes, com um custo normalmente inferior ao custo
real, um maior número de possibilidades de teste e uma abrangência maior que os
métodos convencionais. Outro problema minimizado através do uso de simulações
por computador é a utilização de animais como ratos, galinhas, gatos e cachorros
em exercícios da prática médica. O sacrifício animal é freqüentemente questionado,
por razões éticas ou religiosas, porém, enquanto não houver alternativas
compatíveis com tais exercícios, o ato continuará sendo praticado.
Para construção de simuladores médicos, muitas vezes, as aplicações
utilizam dados gerados por equipamentos médicos, como o tomógrafo ou
eletrocardiograma, e, então, estruturam um cenário para tratamento das imagens,
sons ou sinais, conforme o caso.
No sistema de Simulação de Cirurgias Hepáticas [19], por exemplo, são
usadas imagens de fígado adquiridas por meio de Tomografia Computadorizada
(TC) ou Ressonância Magnética (RM) para criar modelos virtuais do órgão e permitir
que os alunos manipulem o objeto modelado, estudando sua forma. Mecanismos de
interação tátil estão presentes no simulador para auxiliar o treinamento médico
47
durante as práticas cirúrgicas. Durante a simulação, o médico em treinamento
visualiza a imagem digital e utiliza um bastão com o qual interage com um objeto
anatômico real. Em caso de colisão com tal objeto, a imagem representada
digitalmente, demonstra tal efeito, permitindo a ação de remoção de tecidos, por
exemplo. A Figura 5 mostra alguns exemplos dos estágios pelo qual passam o
tratamento das imagens que serão utilizadas no simulador. O fragmento (a.)
representa uma imagem obtida através de TC. A partir dessa imagem capturada, as
demais são construídas e adicionadas ao sistema de simulação. Em (b.) o órgão é
esboçado através da representação de polígonos, para determinar a forma do
objeto. As imagens (c. e d.) são representações de diferentes níveis de
transparência do órgão, onde em (c.) tem-se uma representação por árvores
vasculares e em (d.) por regiões de lesões hepáticas.
Figura 5 - Estágios de obtenção e tratamento de imagens hepáticas
A Figura 6 demonstra a visão do médico em treinamento e a imagem real de
interação entre o bastão e o objeto anatômico, com o sistema de simulação em
funcionamento.
48
Figura 6 – Amostra do sistema de simulação para cirurgias hepáticas
A utilização de simuladores gráficos estende-se à área militar, onde são
realizados treinamentos de situações de contaminação por gases tóxicos. Nesses
treinamentos são testados a seqüência de atendimento, o uso correto de drogas
medicinais e a tomada de decisão, tais como indicação cirúrgica, remoção do
paciente para outro local e prescrição médica. O sistema VirtualClinic [20], permite a
simulação para atendimentos de pacientes afetados por contaminação de agentes
químicos. Através da interface do simulador, o usuário visualiza o local da lesão e,
com base nas opções de busca, efetua o melhor atendimento possível. À medida
que o paciente é tratado, o sistema informa um retorno de melhora ou piora de seu
estado clínico, através de imagens ou mensagens textuais.
O sistema foi desenvolvido seguindo os princípios do modelo de atendimento
primário SOAP (Subjetivo, Objetivo, Avaliação, Planejamento) [20]. Através de uma
interface gráfica (Figura 7) composta de botões que disparam ações ao sistema,
uma área para apresentação das informações sobre o estado clínico da vítima, o
tempo transcorrido de simulação e uma barra de menus no topo da janela, um
paciente virtual é apresentado, aguardando as diretrizes de atendimento a serem
realizadas pelo trainee. Os meios de interação utilizados são teclado e mouse. Um
exemplo de atendimento simulado através da ferramenta VirtualClinic é apresentado
na Figura 7. No caso apresentado, o paciente está sendo tratado por ter sido vítima
49
de contato com a droga Anthrax em sua pele. Ao topo da janela de visualização é
possível observar os menus de opção para navegação entre as seções SOAP e na
lateral direita, as opções disponíveis de interação com o paciente virtual mostrado ao
centro.
Seguindo o modelo SOAP, o software possui comandos de caráter Subjetivo,
Objetivo, de Avaliação e de Planejamento, os quais possibilitam ao trainee tratar o
paciente virtual com base em informações sobre o histórico do paciente, tanto
médico quanto comportamental em seu dia-a-dia, além de acompanhar de maneira
interativa os possíveis riscos ao qual o paciente está exposto, vinculados ao seu
estilo de vida.
Os comandos Objetivos permitem a realização de exames para avaliação do
paciente, de diversas áreas do corpo, como eletrocardiogramas (ECG), raios-x,
exames laboratoriais de urina e sangue, por exemplo. Os comandos de Avaliação
permitem determinar as hipóteses de tratamento. Com base em um banco dados
composto por 1500 possíveis doenças, cabe ao trainee, traçar a hipótese de doença
mais apropriada. Em uma última fase, o Planejamento, o paciente recebe
prescrições médicas de tratamento para cura da doença. São prescritas
recomendações vitais para a saúde do paciente, como escala de visitas, alimentação
e medicações.
Figura 7 - Paciente virtual no simulador VirtualClinic
50
Nos exemplos do Simulador de Cirurgias Hepáticas e no sistema
VirtualClinic citados acima, a metodologia do treinamento busca prover ao usuário
uma interface amigável para realização das simulações. Os programas controlam e
gerenciam as ações adotadas pelo trainee e representam graficamente suas
conseqüências sobre o estado clínico do paciente. Bases de dados são formadas
com as informações de entrada e saída da simulação a fim de permitir a posterior
avaliação do trainee. Outros projetos relacionados fazem referência a essa
metodologia, na qual os recursos computacionais explorados são basicamente o
armazenamento de dados e a exibição de objetos gráficos.
O Projeto TORPed - Treinamento Orientado em Ressuscitação Pediátrica
[21], mantido pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), desenvolveu o
SIRPed que consiste em um Simulador Virtual para Ressuscitação Pediátrica.
Através desse simulador os alunos podem exercitar as práticas de atendimento de
emergência em pediatria baseados em estudos de caso de situações clínicas
disponíveis no sistema. O simulador possui 16 casos, dentre os quais se encontram:
parada cardíaca, arritmia, insuficiência circulatória, insuficiência cardiorespiratória,
parada respiratória e insuficiência respiratória. Desenvolvido para ser utilizado
através da Internet, possui dentre seus recursos computacionais, animações que
representam o ambiente e os participantes da simulação, diálogos entre os
participantes, imagens (fotos e esquemas não animados) e sons fisiológicos
comuns, como batimentos cardíacos, sopros, tosses e chiados no pulmão. As
perguntas são apresentadas uma a uma e, de acordo com a ação adotada, o caso
segue um rumo diferente no simulador. Como as informações sobre os acessos
ficam armazenadas em um Banco de Dados, o sistema também possibilita gerenciar
o controle de acessos ao serviço de simulação, bem como, gerar relatórios de
desempenho dos alunos nos casos de estudo.
A Figura 8 apresenta a interface da aplicação que executa em navegador de
Internet. As informações são apresentadas ao usuário por meio de textos, imagens e
sons e a interação se dá através do uso do mouse.
De maneira similar, outras soluções são apresentadas sob forma de CD-
ROMs interativos que estimulam a interação entre usuário e sistema, utilizando
seqüências de perguntas e respostas. A empresa cLabs [22], disponibiliza
simuladores como SimNerv e SimHeart (Figura 9), SimMuscle, SimVessel e
51
SimPatch, para serem utilizados nas áreas de ensino de fisiologia e biologia. Estes
sistemas são caracterizados por programas de controle que possibilitam ao usuário
interagir através de meios convencionais como teclado, mouse e monitor, gerando
respostas às atitudes deste usuário.
Figura 8 – Simulador básico de vida em pediatria
Figura 9 – Simulador SimNerv
52
Buscando apoiar a capacitação da área médica de maneira mais realista e
com possibilidade de interação entre usuário e aplicação, a Realidade Virtual
aparece nesse contexto contribuindo com suas características fundamentais de
navegação, imersão e interação [17]. Os ambientes de RV possibilitam que os
usuários visualizem os cenários apresentados com o auxílio de dispositivos como
Head Mounted Displays (HMDs) e de rastreadores de posição, aumentando
significativamente a sensação de imersão. Recursos sonoros e imagens de alta
definição, com efeitos estereoscópicos, prendem a atenção do usuário, fazendo com
que ele se sinta como parte integrante do ambiente virtual.
O Projeto Just VR [17], utilizado para treinamento de primeiros socorros, é
um exemplo no qual foram utilizados estes dispositivos. A referência física do
usuário em relação ao cenário real é oferecida através dos sensores de movimento
presos a um colete vestido por ele. Durante o processo de treino, o usuário tem a
possibilidade de movimentar-se pelo ambiente real com passos para frente e para
trás. Os sensores captam esse deslocamento e reproduzem a imagem no HMD e na
tela de projeção à frente do usuário. O sistema conta ainda com recursos sonoros de
reconhecimento de comandos de voz, liberando o aluno de usar comandos em
menus e dispositivos como mouse. A Figura 10 mostra o ambiente de treino do
sistema Just VR, onde é possível observar o cenário virtual de treinamento e o
ambiente real.
Figura 10 – Ambiente de treino Just VR
Em simulações médicas de atendimento de emergência, nas quais
sensações de tensão e estresse precisam estar presentes para contemplar o
realismo do exercício, os ambientes virtuais, apoiados pelos dispositivos de RV,
53
cumprem o papel de maneira mais eficiente, quando comparados às simulações
baseadas apenas em softwares interativos utilizando dispositivos convencionais e
modelos 3D estáticos.
No que diz respeito à característica de imersão do usuário no ambiente
virtual, os dispositivos utilizados comumente para visualização como os HMD’s,
possuem limitações na representatividade da interface. A falta de precisão na
apresentação de alguns objetos causa confusão aos usuários. Os dispositivos de
rastreamento, da mesma forma, podem não oferecer a precisão desejada no
mapeamento entre o real e o virtual, principalmente quando implementados em
ambientes de RV totalmente imersivos. O pequeno número de dispositivos
encontrados somados às poucas funcionalidades oferecidas pelos dispositivos táteis
impõe diversas barreiras para implementação dos cenários virtuais desejados.
Através dos avanços e conquistas alcançados na área de Ciência da
Computação no que se refere às representações e simulações gráficas, apenas
consolida-se a idéia de que reproduzir experimentos de treinamento em emergência
à saúde com aplicação de CG e RV é uma solução viável e vantajosa, mesmo sem
contemplar em sua totalidade as características presentes nos cenários reais
[23][24]. O ponto chave dos sistemas de simulação de assistência à saúde está
ligado à imersão que envolve o participante do treinamento. Para possibilitar a
imersão através de cenários interativos, o ambiente deverá ser capaz de
representar:
a) Um cenário virtual com bom nível de detalhes: a qualidade das
informações exibidas pode estar vinculada às limitações de hardware dos
equipamentos que executam as aplicações de RV;
b) Uma simulação realista da situação de emergência à saúde: através da
combinação de diversos dispositivos de hardware e tecnologias de interação,
simulações que misturam elementos reais e virtuais são implementadas para
causarem as sensações de imersão ao trainee. Detalhes importantes como a
renderização gráfica e sonora 3D, modelagens e animações dos humanos
virtuais e o meio de manipulação dos mecanismos de controle da interação,
devem ser levados em conta.
c) As situações de estresse pela qual o aluno em treinamento deverá
passar: durante o desenvolvimento das tarefas, o trainee deverá vivenciar de
54
maneira visual, sonora ou tátil as mudanças de estado dos componentes da
simulação e demonstrar as atitudes a serem tomadas no decorrer de um
procedimento de assistência. Os principais fatores considerados são: tempo
para realização da tarefa, pressão psicológica, medo de errar e
responsabilidade sobre as decisões.
Apesar da existência de alguns fatores que não qualificam o meio virtual
como sendo a melhor solução para os problemas com simulação, ele oferece um
bom número de possibilidades de treino aliadas a um menor custo e risco.
Sistemas totalmente imersivos, reproduzem a simulação em um ambiente
totalmente virtual, no qual o usuário não tem contato com objeto algum do mundo
real que esteja relacionado à simulação, somente com os dispositivos de RV. Não
são manipulados medicações, equipamentos médicos, nem mesmo um manequim
de treinamento, que se assemelhe a um ser humano. Esta característica faz com
que não seja estabelecida relação alguma com o mundo real e seus objetos. As
práticas médicas por muitas vezes necessitam que os exercícios sejam realizados
com base em seus equipamentos e dispositivos de controle. O uso de RA possibilita
tal interação, preservando objetos reais no ambiente virtual.
4.2 Aplicações de RA na Medicina
Ao se avaliar as possibilidades oferecidas pelo uso da Realidade Virtual, seus
benefícios e formas de implementação, faz-se necessário explorar uma área que
vem ganhando destaque nos últimos anos, chamada de Realidade Aumentada (RA).
Através do uso da Realidade Aumentada (em inglês, Augmented Reality), o
usuário vê parte do mundo real com objetos virtuais sobrepostos ao ambiente
real [25]. Através da técnica de registro10, os objetos virtuais são projetados sobre o
ambiente real com maior precisão e rastreabilidade, ou seja, o movimento de um
objeto que é referência para o sistema de projeção, causa o movimento da imagem
a ele vinculada [26]. Na Figura 11 pode-se observar um exemplo de um cenário de
10 Técnica que permite ao sistema de gerenciamento “conhecer” a posição dos objetos reais (incluindo o usuário).
55
RA o qual representa a sala de estar de uma casa projetada juntamente com seus
móveis sobre um marcador reconhecido pelo software de RA. Com o auxílio de uma
pequena pá, reconhecida pelo sistema de RA através do uso de outro marcador, o
usuário tem a possibilidade de acrescentar e trocar os objetos de lugar.
Figura 11 – Exemplo de RA na manipulação objetos virtuais
Basicamente três características definem os sistemas de RA:
a) a combinação entre imagens do mundo real com cenas geradas
sinteticamente por computador;
b) a possibilidade de interação em tempo real com os objetos virtuais e reais
simultaneamente;
c) o mapeamento dos objetos reais dentro da aplicação 3D.
Deficiências hoje existentes em sistemas de simulação médica totalmente
imersivos, como feedback tátil de qualidade e uso de instrumentos reais têm sido
amenizadas através do uso de RA [27][28][29]. Com a técnica, os modelos sintéticos
gerados por computador são agregados aos objetos reais de manuseio médico,
como seringas, estetoscópios e laringoscópios, proporcionando a noção de forma,
textura e peso destes instrumentos, facilitando o exercício das habilidades práticas,
fundamentais nos procedimentos reais. Procedimentos como laparoscopias podem
56
ser exercitados através de simuladores de RA, onde o conjunto de recursos visuais,
sonoros e táteis proporciona realismo ao exercício [30].
O Simulador Obstétrico por Fórceps [31], por exemplo, possibilita ao médico
exercitar as medidas de remoção de um feto em situações em que o parto normal
não será bem sucedido, procurando evitar a cesariana. Utilizando um fórceps real, o
trainee visualiza um modelo virtual de feto posicionado sobre uma estrutura que se
assemelha ao quadril feminino (Figura 12). Rastreadores de posição e movimento
adaptados ao fórceps (a) determinam, em relação ao quadril, o andamento do
procedimento. Conforme ocorre a ação de aproximação e pressão das lâminas do
fórceps sobre a cabeça do feto virtual (b), o sistema de simulação capta essa
atividade, permitindo que o trainee visualize os movimentos do objeto virtual de
acordo com os movimentos do fórceps.
(a) (b)
Figura 12 – Simulador de parto por fórceps
Dentro da mesma área de pesquisa, outros trabalhos buscam aumentar o
nível de realismo em treinamentos médicos de obstetrícia, mantendo presentes ao
ambiente de simulação, objetos reais fundamentais para reprodução das sensações
táteis.
O Simulador Obstétrico para Parto Normal [32], utiliza um modelo plástico de
um quadril feminino, que simula o parto normal, impulsionando mecanicamente o
bebê para fora, de acordo com o andamento das ações do médico em treinamento.
57
Através do uso de um HMD e de rastreadores de movimento, o médico tem
a possibilidade de acompanhar (Figura 13) as imagens do processo de parto que
são projetadas sobre o quadril de testes da simulação, tomando suas decisões,
tanto reais (sobre o quadril feminino), quanto virtuais (através do sistema de
simulação). O sistema de simulação permite acompanhar dados clínicos como
pressão sangüínea, freqüência cardíaca e quantidade de oxigênio utilizada. Essas
informações, associadas ao conjunto de reações obtidas das ações praticadas sobre
o quadril de treinamento, procuram proporcionar uma simulação realista que permita
um aprendizado mais efetivo para realização do procedimento.
Figura 13 – Simulador obstétrico para Parto Normal
O trabalho de Hamza-Lup [33] aborda a utilização de sistemas de RA
distribuída, de forma que um experimento que estiver sendo realizado por um grupo
de usuários em um ambiente de RA (a), possa ser acompanhado remotamente por
outros participantes. Neste sistema, enquanto um médico em treinamento pratica o
procedimento de intubação endotraqueal, por exemplo, utilizando um torso
anatômico (b), equipamentos como cânula, laringoscópio e um HMD, uma imagem
tridimensional é exibida em um ambiente paralelo representando os pulmões, a
traquéia e a ação de intubação (Figura 14). Os participantes do segundo ambiente
(c), visualizam as imagens através de HMDs individuais ou sistemas de visualização
compartilhados como telas de projeção 3D.
58
Figura 14 – Sistema de RA distribuída
De acordo com a área de aplicação da simulação, a presença de objetos
reais é fundamental para os treinamentos, não havendo, até o momento, formas
satisfatórias de substituição por objetos virtuais. Porém, com a junção dos ambientes
real e virtual [26], resultados expressivos têm sido obtidos, tais como o aumento do
nível de percepção espacial, dado pelo usuário em relação ao ambiente que o cerca
e uma maior sensação de realismo proporcionada pela interação tátil com o objeto
real, cabendo aos recursos virtuais apenas a representação de objetos que
enriqueçam o cenário de simulação.
De uma forma ou de outra, a utilização de sistemas de RV e RA, permite aos
usuários praticar em ambientes total ou parcialmente virtuais, um grande número de
possibilidades de treino, dada a versatilidade proporcionada pelos recursos
disponíveis nessas tecnologias.
Conforme exposto nesse capítulo, esses sistemas utilizam-se de diversos
dispositivos para realização de seus experimentos. A interação, característica
fundamental nessas tecnologias, acontece nas mais variadas formas, como:
a) Através do monitor e caixas acústicas do computador;
b) Dispositivos clássicos de entrada como o teclado e o mouse;
c) HMDs;
d) Sensores de movimentos;
e) Projetores de vídeo;
f) Objetos físicos, como manequins de treinamento e materiais sintéticos
diversos.
59
Vários dispositivos estão disponíveis e são utilizados em testes, pesquisas e
simulações de RV e RA, porém muitos outros ainda podem ser desenvolvidos
visando aumentar a interação dos usuários participantes de cenários virtuais ou
aumentados, proporcionando sensações mais realistas de acordo com o objetivo
proposto.
4.3 Comparação do ARLIST com os sistemas existentes
Conforme exposto nas seções 4.1 e 4.2, existem outros projetos que
procuram qualificar a metodologia de treinamento existente na área da saúde.
Opções como os simuladores SimNerv e VirtualClinic, possibilitam o exercício
médico tão somente através da interação com o computador, onde o retorno
referente às ações do usuário fica restrito ao monitor de visualização. Os demais
exemplos abordados, como o simulador de Cirurgias Hepáticas e o Projeto Just VR,
propiciam ao trainee a visualização do cenário virtual e uma pequena interação com
o ambiente real. Essa prática mostra-se mais qualificada frente ao modelo anterior,
voltado somente ao uso do computador, porém deixa de contemplar requisitos
básicos dos sistemas de treinamento em Suporte à Vida, como a interação com o
manequim.
Os sistemas de RA analisados apresentam propostas de interação com
objetos reais apoiados por imagens virtuais, como o quadril sintético para
treinamento de partos normal e cesárea, que qualificam a interação e agregam maior
realismo à simulação. Nestes modelos de simulação, apenas partes do corpo
humano são utilizadas para tarefas de práticas específicas da medicina. Estão
presentes, em alguns cenários, dorsos de manequins, parte superiores de
manequins como a cabeça, para treino de intubação, e braços, para a prática de
punção venosa, por exemplo.
O modelo de simulação proposto pelo projeto ARLIST visa preservar o
manequim de treinamento, importantíssimo para os treinamentos de SV, durante o
processo de simulação. Tarefas como a verificação de sons cardíacos e pulmonares,
visualização de coloração da pele e informações sobre o estado de alerta do
paciente, são atualmente encontradas nos produtos existentes no mercado de forma
60
isolada, em soluções individuais, através de módulos de treinamento. Um
comparativo entre a funcionalidades presentes nos sistemas existentes e no Projeto
ARLIST, é apresentado na Tabela 6. Algumas funções, constatadas como
fundamentais durante o primeiro atendimento, foram desenvolvidas e agregadas ao
manequim de treinamento do projeto ARLIST, conforme está descrito no capítulo 5.
Tabela 6 - Comparação entre o protótipo ARLIST e os sistemas existentes
Características Sistemas Existentes Projeto ARLIST
Imagens tridimensionais X X
Expressões Faciais sobre o rosto do manequim
X
Lesões corporais X
Sons X X
Auscultas Cardíaca e Pulmonar (utilizando o estetoscópio)
X
Sistema de gerenciamento X X
Presença do manequim X
61
5 PROTÓTIPO DE TREINAMENTOS ARLIST
Pelo que foi exposto no capítulo 2, em relação ao estágio atual dos
processos de treinamento de SV e baseado na análise dos sistemas já existentes
para apoio a este tipo de treinamento (capítulo 4), pode-se sumarizar as deficiências
existentes nos modelos de treinamento vigentes pela seguinte lista:
• Os sistemas computacionais baseados apenas em computador não são
capazes de representar todo o processo de treinamento, privando o trainee
das práticas manuais;
• Há um baixo nível de envolvimento e interação do trainee em relação com
manequins durante os treinamentos, por não existirem mecanismos
automáticos de resposta;
• É exigido um alto nível de imaginação do trainee devido à falta de meios
eficientes para representação dos sinais clínicos realistas;
• A comunicação constante com o médico-instrutor quebra a seqüência de
atendimento e inibe a ação autônoma do trainee;
• A inexistência de recursos visuais como a reprodução das expressões
faciais ou lesões, consideradas de grande importância no atendimento de
emergência, impossibilita ao aluno fazer uso de sua percepção durante o
processo de atendimento;
• A falta de um meio concreto e eficiente para registrar as ações realizadas
nos treinamentos, tanto pelo trainee como pelo médico-instrutor, restringe as
possibilidades de avaliação da conduta do trainee e possibilita a contestação
desta por parte do mesmo.
De uma forma geral, o projeto busca qualificar o processo de treinamento
através da adição de recursos computacionais que possibilitem ao trainee ter maior
autonomia sobre o atendimento prestado, e ao médico-instrutor, ter maior controle
sobre as ações realizadas pelo trainee durante as simulações.
A partir deste cenário, esta dissertação de mestrado criou o ARLIST
(Augmented Reality Environment for Life Support Training – Ambiente de Realidade
62
Aumentada para Treinamento de Suporte à Vida), um protótipo de simulação
baseado em um software de controle que monitora as ações de um trainee sobre um
manequim instrumentado11.
Para garantir a interação do trainee com o sistema de treinamento, o
manequim de instrumentação possibilita, entre outras ações:
• a ausculta cardíaca;
• a ausculta pulmonar;
• a representação visual de lesões;
• a representação visual de expressões faciais;
• a reprodução sonora de falas do paciente;
• a reprodução sonora de gemidos do paciente.
Como diretrizes do desenvolvimento da solução proposta, tinha-se a
necessidade de sempre manter um manequim real durante a simulação e, além
disto, criar uma forma de equipar manequins já existentes e/ou já utilizados em
cursos de treinamento.
A Figura 15 apresenta parte dos materiais que foram adicionados a um
manequim de loja. Na seção 5.2 são detalhados os recursos utilizados.
Figura 15 – Manequim adaptado para o projeto ARLIST
11 Por ‘instrumentação’ considera-se a adição de recursos elétricos, eletrônicos ou mecânicos, como interruptores, alto-falantes, conversores analógico-digitais e imagens.
63
5.1 Modelo computacional
O Projeto ARLIST foi desenvolvido buscando qualificar o processo de
capacitação médica, de forma que a comunicação entre trainee e médico-instrutor
diminuísse, e o nível de interação entre trainee e manequim pudesse ser aumentado
de maneira mais realista e autônoma. Neste sentido, dispositivos automáticos para
captação de toque foram previamente programados para emitir sons quando
pressionados e imagens de expressões faciais e leões foram modeladas para
projeção sobre o manequim de treinamento em seu rosto e dorso de forma que sua
execução fosse transparente ao trainee.
O protótipo de simulação do Projeto ARLIST é composto por três módulos
principais, sendo eles o Módulo de Som, o Módulo de Imagem e o Módulo de
Gerenciamento.
O Módulo de Som é responsável pela apresentação de sons durante da
simulação. Através de uma caixa acústica presente no ambiente, o protótipo
reproduz sons de falas, gemidos, reclamações, dentre outros sons presentes no
sistema de gerenciamento. Um alto-falante conectado ao estetoscópio de ausculta
reproduz os sons cardíacos e pulmonares do paciente virtual. Os arquivos de som
estão no formato wave e são reproduzidos conforme ação do trainee (botões de
ausculta) ou por escolha do médico-instrutor.
O Módulo de Imagem apresenta sobre o rosto e dorso do manequim de
treinamento, imagens de expressões faciais e lesões corporais, respectivamente. As
imagens de face foram criadas em um sistema de modelagem 3D, formatadas com
texturas que se assemelhem ao rosto humano. As lesões estão em imagens no
formato jpeg, extraídas de lesões de hematomas reais.
O Módulo de Gerenciamento mantém o sincronismo e controle entre os
dois módulos já citados e captura as informações de entrada do protótipo de
simulação e ativa as saídas de imagens e sons quando necessário. Neste módulo é
possível configurar os parâmetros da simulação, efetuar as alterações dos sons
pulmonares e cardíacos, falas, expressões faciais e lesões que serão reproduzidos,
além de permitir a geração de um arquivo de log em formato txt.
64
Com o objetivo de detalhar o funcionamento do protótipo de simulação
projetado, um modelo computacional foi desenvolvido para determinar os itens que
compõe a execução de uma simulação no ARLIST.
A Figura 16 apresenta o modelo computacional que engloba os dispositivos
utilizados para reprodução dos sinais clínicos, o tipo de dado gerado ou lido, os
atores participantes da simulação, bem como o sentido do fluxo das informações de
entrada e saída.
As setas direcionais indicam o fluxo de informações e eventos dentro do
sistema de simulação. As setas de tracejado contínuo no sentido direita-esquerda
indicam as entradas do sistema ou interações por parte do trainee ou
médico-instrutor. As setas de tracejado pontilhado no sentido esquerda-direita
determinam as saídas do sistema, ou seja, informações visuais ou sonoras enviadas
ao trainee ou médico-instrutor. Como exemplo, tem-se a interação do usuário em
busca da informação de ausculta cardíaca. Ao pressionar o botão correspondente
sobre o dorso do manequim, o sistema capta essa ação e o alto-falante do
estetoscópio imediatamente reproduz o respectivo som.
Figura 16– Modelo computacional do Projeto ARLIST
65
Estão presentes no cenário de treinamento, o trainee e o médico-instrutor.
As interações por parte do trainee são limitadas tendo em vista os recursos
implementados (conforme seção 5.2). A única interação direta feito pelo trainee
consiste no processo de ausculta, na qual o mesmo busca a informação e a recebe
por meio da caixa acústica ou do alto-falante do estetoscópio.
Os dispositivos utilizados no projeto foram: uma caixa acústica, um alto-
falante e um projetor de imagens. Uma ferramenta de software (que possui o papel
de interface do sistema dentro do modelo computacional) foi desenvolvida para o
propósito do gerenciamento das simulações. Esses dispositivos têm a capacidade
de gerar saídas automáticas (durante a ação das auscultas) ou manuais (troca de
expressões faciais e lesões, emissão de sons de reclamação), emitidas pelo
médico-instrutor através da ferramenta de software.
5.2 Ferramentas para representação dos sinais clínicos
Conforme apresentado na Seção 2.2, o projeto foi desenvolvido com base
na identificação dos sinais clínicos utilizados durante o chamado primeiro
atendimento de emergência. Dentre estes sinais foram selecionados e agrupados
nas categorias de sinais Sonoros e Visuais aqueles considerados mais relevantes.
A Tabela 7 mostra a relação destes sinais.
Tabela 7 - Categorização dos principais Sinais Clínicos Quanto à Forma de Apresentação
Representação Sinal Lesões Expressões faciais Responsividade verbal
Visual
Responsividade à dor Ausculta pulmonar Ausculta cardíaca Sonda naso-traqueal Responsividade verbal
Sonoro
Responsividade à dor
66
Para a gerência da simulação foi criado um software batizado de
Ferramenta para Controle da Simulação (FCS), descrito na Seção 5.2.3. Nesta
ferramenta o médico-instrutor tem a possibilidade de configurar aspectos como:
• os estados de alerta do paciente, baseado na classificação AVDN dos
manuais de reanimação (Alerta, Responsivo Verbal, Responsivo à Dor e
Não Responsivo);
• os sons de ausculta, de acordo com o problema apresentado pelo paciente e
pelo caso a ser simulado;
• as falas do paciente;
• a exibição de imagens de expressões faciais;
• a exibição de imagens de lesões sobre o corpo do manequim;
• a cor da face do paciente, vista através da face;
• o caso inicial com parâmetros pré-configurados.
Além destas configurações, o médico-instrutor pode registrar na FCS várias
informações a respeito do andamento do treinamento, como ações realizadas pelo
trainee (massagem cardíaca, administração de drogas, acesso venoso, intubação) e
quais informações são passadas pelo médico-instrutor a este trainee durante a
simulação, como por exemplo, valores de pressão arterial (PA), freqüência cardíaca
(FC), freqüência respiratória (FR) e saturação12.
5.3 Recursos computacionais
Conforme já foi mencionado na Seção 2.3, uma das diretrizes mais
importantes levantadas durante o desenvolvimento do projeto está relacionada com
a necessidade de permanência do manequim anatômico utilizado atualmente nos
treinamentos de SV. Este manequim, além de permitir a realização de diversas
manobras fundamentais nos atendimentos de emergência, representa o elo físico da
simulação com o mundo real, pois possui as medidas e as formas semelhantes às
de um ser humano. Por este motivo, qualquer que fosse o recurso adicional
12 Saturação: Nível de concentração de oxigênio presente na corrente sangüínea [Michaelis].
67
implantado, este deveria sempre levar em consideração que o manequim real estaria
presente durante a simulação.
Nas seções a seguir são apresentados os recursos computacionais
implementados, de acordo com sua forma de apresentação (sonora ou visual).
5.3.1 Recursos Sonoros
Dentre os recursos sonoros considerados como relevantes para o processo
de simulação, constatou-se que itens simples, como falas do paciente, murmúrios,
gemidos, gritos e reclamações de dor, ajudam a gerar tensão psicológica e a manter
o estado de alerta do trainee durante o atendimento.
O procedimento de ausculta também possui um papel importante durante o
atendimento de emergência, pelo fato de ser executado diversas vezes e permitir ao
trainee consultar com autonomia tal informação. Nos treinamentos atuais, como
muitos manequins não disponibilizam recursos sonoros, as informações sobre
batimentos cardíacos e situação pulmonar são informadas pelo médico-instrutor,
tendo que ser requisitadas verbalmente pelo trainee. Nas seções a seguir são
detalhados os recursos sonoros desenvolvidos.
5.3.1.1 Simulação de Auscultas
Para que fosse possível representar os sinais das auscultas em qualquer
tipo de manequim, foi desenvolvido um colete com botões de pressão. O colete foi
produzido com um material macio e flexível, semelhante a uma lâmina de borracha
com espessura de 5 mm, denominado EVA (Estileno, Acetato de Vinila), comumente
utilizado para trabalhos com artesanato. Através das medidas de quadril, tórax e
ombros, extraídas do manequim de testes, efetuou-se o corte do material de forma
que este pudesse ser vestido como um colete sobre o manequim. Elásticos (Figura
17) foram costurados em 4 pontos do colete (quadril, tórax, braços e pescoço), para
possibilitar uma melhor fixação do mesmo sobre o corpo do manequim.
68
Figura 17 – Elásticos que prendem o colete ao manequim de treinamento
Os botões de pressão, em número de cinco, estão divididos em dois pontos
de ausculta cardíaca, dois pontos de ausculta pulmonar e um ponto para ausculta da
sonda naso-traqueal, como ilustra a Figura 18, onde se pode observar o detalhe de
um botão de pressão instalado no colete.
Figura 18 – Colete para auscultas (esquerda) e exemplo de botão de pressão (direita)
69
Os botões presos ao colete estão conectados por meio de fios a uma placa
de comunicação paralela (Figura 19), ligada a um computador. Quando ocorre o
pressionamento de um dos botões fixados no colete, o sinal é captado pela placa,
que retransmite ao computador uma identificação do botão ativado. A FCS trata esta
codificação, reproduzindo o som de acordo com a configuração feita previamente
pelo médico-instrutor, com base nas características do caso que está sendo
simulado.
Figura 19 – Placa paralela de captura
A reprodução dos sons acontece de duas formas: (a) através de caixas
acústicas conectadas ao computador, posicionada sob o pescoço do manequim e
(b) através de um estetoscópio adaptado (Figura 20) para também reproduzir os
mesmos sons. A adaptação do estetoscópio foi realizada fixando-se um alto-falante
de duas polegadas no lugar do diafragma do estetoscópio. Este alto-falante está
interligado com a mesma saída de som da caixa acústica que se encontra sob a
cabeça do manequim. Com este mecanismo, o trainee tem a possibilidade de ouvir
os sons das auscultas enquanto mantiver pressionado algum dos botões do colete.
Os demais presentes na sala onde ocorre a simulação também podem ouvir o
mesmo som através das caixas acústicas, se este for o desejo do médico-instrutor.
70
Figura 20 - Estetoscópio adaptado para auscultas
Para tornar simples a alteração dos sons utilizados nas auscultas,
permitindo, por exemplo, que o paciente apresente sinais clínicos de um adulto do
sexo feminino, o médico-instrutor pode gravar novos sons e substituir os existentes,
de acordo com as instruções contidas no Apêndice I deste documento. As
informações atuais representadas no manequim de simulação procuram mostrar ao
trainee uma criança de 11 anos, do sexo masculino.
5.3.1.2 Simulação de Falas
As falas emitidas pelo protótipo buscam representar atitudes voluntárias do
paciente, como manifestação de dor, tontura, pronúncia de seu nome e idade. De
acordo com o estado clínico do paciente, o médico-instrutor dispara o som desejado,
através da FCS e este é reproduzido na caixa acústica colocada sob da cabeça do
manequim para que todos possam ouvir e ter a impressão que a fala foi proferida
pelo paciente simulado.
Na versão atual da FCS, estão disponíveis, gemidos, murmúrios,
manifestações de dor em partes específicas do corpo, choro de criança, além das
frases apresentadas na Tabela 8.
71
Tabela 8 – Falas disponíveis na FCS
Tipo de Fala Frase Dor no peito Ai doutor, tô com dor no peito, tá doendo... Falta de Ar Tô com falta de ar doutor, não consigo respirar... Tontura Tô tonto doutor, tá tudo girando...
Paralisia de um lado Doutor.... não tô sentindo meu lado esquerdo...não consigo mexer o pé, nem o braço...
Palpitação Meu coração tá batendo tão forte doutor...parece que vai pular fora do peito, me dá algum remédio, me dá alguma coisa por favor...
Dor na barriga Que dor de barriga doutor, dói bem no meio... eu quase não consigo nem mexer, nem respirar...
Nome Eu me chamo Junior... Idade Eu tenho 11 anos... Choro (criança) (reprodução de um choro de criança pequena)
Da mesma forma que acontece com os sons de auscultas, o
médico-instrutor também pode atualizar os sons relativos às falas, conforme as
instruções apresentadas no Apêndice I.
Além disto, o médico-instrutor pode carregar, durante a simulação, através
da interface da FCS, arquivos de som para serem reproduzidos como se fossem
falas do paciente ou de algum acompanhante.
5.3.2 Recursos Visuais
Aplicações de computador que realizam a exibição de órgãos humanos reais
e modelos virtuais tridimensionais são comuns em sistemas de treinamentos e
enciclopédias médicas. Porém, embora se saiba, que muito do diagnóstico médico é
realizado com base em aspectos visuais do paciente, como cor da pele, existência
de lesões, características da expressão facial e nível de alerta do paciente, em
treinamentos de SV que preservam o uso do manequim para o exercício das
manobras práticas, não há registros do emprego de imagens para qualificação do
processo de aprendizagem.
Buscando suprir esta lacuna, a arquitetura do ARLIST buscou reproduzir
sobre o manequim imagens de expressões faciais e de lesões corporais que
pudessem dar suporte à identificação visual de elementos do estado clínico do
paciente.
72
As ferramentas de hardware utilizadas para a exibição das imagens são
descritas na seção 5.3.2.1.
No que diz respeito a expressões faciais, as possibilidades existentes na
versão atual do ARLIST procuram demonstrar expressões de dor ou desconforto e
também se o paciente está inconsciente ou acordado. Na Figura 21 pode-se
observar da esquerda para a direita a representação de expressões de
Desacordado, Responsivo Verbal, Delirando, Responsivo à Dor. A decisão de qual
imagem deve ser exibida a cada momento fica a cargo do médico-instrutor que pode
facilmente alterá-las na interface do FCS.
Desacordado Responsivo Verbal Delirando Responsivo à Dor
Figura 21 – Expressões faciais disponíveis no ARLIST
Às expressões faciais estão associados alguns sons, tais como gemidos e
falas de desconforto. Olhos e boca também podem ser movimentados conforme
decisão do médico-instrutor, proporcionando um maior realismo à simulação.
Na versão atual da FCS, estão disponíveis imagens que procuram simular
uma criança, porém, da mesma forma que acontece com os sons, o médico-instrutor
também pode alterar as imagens utilizadas de acordo com as necessidades do
treinamento. Detalhes sobre este procedimento podem ser obtidos no Apêndice II.
As expressões faciais foram reproduzidas com auxílio do Expression ToolKit [34].
73
Com relação às lesões corporais (hematomas13), imagens são projetadas
sobre o colete vestido no manequim em duas regiões: tórax inferior esquerdo ou
tórax inferior direito. A existência de lesão em uma dessas regiões inibe o som do
pulmão do lado em que estiver a lesão. Assim, o trainee será alertado a suspeitar de
uma colisão ou queda e a tomar decisões diferenciadas, como drenagem de tórax e
alívio da cavidade torácica através de perfuração com uma agulha, por exemplo.
A Figura 22 apresenta à esquerda um exemplo da imagem um hematoma
utilizado no ARLIST. À direita, são apresentados os locais de projeção sobre o
manequim de testes.
Figura 22 – Exemplo de lesão corporal (esquerda) e locais de projeção (direita)
Além das expressões faciais e das lesões, na categoria de sinais visuais foi
implantado o recurso para representação da cor de pele, observável através do
rosto do paciente. Na Figura 23 podem-se observar imagens dos três níveis de cor
de pele (normal, pálida e cianótica) disponíveis no ARLIST.
13 Hematoma: Manchas roxas causadas pelo acúmulo de sangue em um órgão ou tecido, provenientes de colisão, queda ou alguma alteração hematológica.
74
Pele Normal Pele Pálida Pele Cianótica
Figura 23 – Cores de pele disponíveis no ARLIST
O estado de alerta do paciente, por sua vez, é observado através do tipo de
expressão facial exibido sobre o rosto do manequim, conforme as alternativas
apresentadas na Figura 21. Através delas, o trainee tem a possibilidade de avaliar o
estado do paciente, baseado na reprodução dos sons de dor ou gemidos, emitidos
nas caixas acústicas no momento de um questionamento verbal ou estímulo físico
(como um beliscão), que são disparados pelo médico-instrutor.
A grande vantagem destas imagens é que elas permitem ao trainee olhar
para o paciente e, de maneira autônoma, constatar seu estado de alerta (acordado
ou inconsciente), avaliar o seu estado de acordo com a cor de sua pele (cianótico,
pálido, normal) e perceber a presença de lesões (equimoses e hematomas) na
região torácica.
75
5.3.2.1 Recursos Tecnológicos para Exibição das Imagens
A exibição das imagens sobre o manequim é realizada através de um
projetor fixado na parte superior de uma estrutura metálica projetada e construída
para o projeto ARLIST. Essa estrutura, que cerca a mesa de treinamento, é
desmontável e móvel. A Figura 24 (a) apresenta um modelo da estrutura com suas
medidas, número de peças e características de encaixe. A Figura 24 (b) apresenta a
referida estrutura juntamente com alguns dos recursos utilizados, como o colete de
auscultas, o manequim de treinamento, e o projetor de imagens.
(a) (b)
Figura 24 - Estrutura metálica desenvolvida para suporte do projetor
Conforme já foi mencionado, a presença do manequim de treinamento é
indispensável durante o processo de simulação. Para garantir que a projeção das
imagens das expressões faciais e das lesões corporais fossem exibidas no local
correto, o manequim foi preso à mesa por meio de tiras de nylon colocadas no
pescoço e no quadril do manequim (Figura 25).
76
Figura 25 – Manequim preso com tiras de nylon
Para receber a projeção das expressões faciais foi confeccionada uma
máscara, apresentada na Figura 26, feita de pano branco, com elásticos nas bordas,
permitindo que essa seja vestida sobre o rosto do manequim. O objetivo da máscara
é facilitar a visualização das imagens devido ao formato e as cores existentes na
face do manequim de treinamento, impróprios para projeção.
Figura 26 - Máscara elaborada para a projeção das expressões faciais
5.3.3 Ferramenta para Controle da Simulação
A FCS foi desenvolvida com base nas informações obtidas com profissionais
da área de emergência médica, e através da participação em duas edições dos
cursos de SV. A interface do ARLIST foi desenvolvida preocupando-se com a
praticidade e a clareza dos dados e comandos apresentados. Por isso, os itens
foram agrupados por assunto (visuais, sonoros, ações e falas), e a mudança de
estados pode ser feita através de poucos cliques na interface.
77
O projeto foi desenvolvido para plataforma Windows, utilizando linguagem de
programação C++ e a biblioteca gráfica wxWidgets [32] para a criar a interface
gráfica.
O gerenciamento da simulação acontece por meio da interface gráfica
apresentada na Figura 27, na qual o médico-instrutor pode executar ações como:
• definir os tipos de sons pulmonares, cardíacos e de intubação a serem
reproduzidos em cada ponto de ausculta (Figura 27, área “d”);
• disparar falas como manifestações de reclamação, desconforto, dor,
angústia e choros (Figura 27, área “g”);
• definir o tipo e a localização de lesões (Figura 27, área “c”);
• definir a cor de pele do paciente (Figura 27, área “b”);
• definir o nível de alerta do paciente (Figura 27, área “a”);
• registrar ações do trainee não captadas automaticamente pelo protótipo de
simulação (Figura 27, área “f”);
• registrar informações dos sinais vitais do paciente, bem como informações
gerais passadas ao trainee (Figura 27, áreas “e” e “h”);
Figura 27 – Interface do protótipo ARLIST
78
Além de permitir a execução destas ações, a FCS registra de maneira
automática toda a ação do médico-instrutor sobre a interface e do trainee sobre os
pontos de ausculta no colete, com o objetivo de permitir a avaliação da sessão de
treinamento.
A fim de permitir o registro de outros eventos durante uma sessão de
treinamento, a interface da FCS possibilita que o médico-instrutor registre, através
de um campo de texto (Figura 27, área “h”), informações não previstas na interface
que foram passadas ao trainee para o correto andamento da simulação.
Este recurso de entrada de um texto livre, apesar de prover grande
flexibilidade à ferramenta, pode tornar-se pouco prático se tiver que ser utilizado
com muita freqüência. Por este motivo, para aquelas informações que são
repetidamente solicitadas pelo trainee, como freqüência cardíaca, freqüência
respiratória, pressão arterial, saturação e tempo de enchimento capilar, foram
criados botões específicos para que o médico-instrutor possa facilmente sinalizar
estes eventos, registrando a resposta fornecida ao trainee (Figura 27, área “e”).
Além disto, quando o trainee decide realizar algum procedimento que não
pode ser “percebido” automaticamente pelo manequim como intubação, ventilação
artificial, massagem cardíaca ou a administração de uma medicação, estes também
podem ser registrados com facilidade na FCS através de botões específicos (Figura
27, área “f”).
Com o objetivo de facilitar a configuração e a reutilização de casos, a FCS
permite também a gravação e a carga de casos de estudo (Figura 27, área “i”).
Através dessa característica, o médico-instrutor tem a possibilidade de aplicar casos
pré-configurados, reduzindo o tempo de início da simulação.
Existe ainda a possibilidade de reproduzir, no início da sessão de
treinamento, um arquivo de som relatando a situação que trouxe o paciente até a
sala de emergência, a fim de introduzir o trainee ao caso (Figura 27, área “j”).
79
5.3.3.1 Arquivo de Registro (Log)
Um dos problemas encontrados nos cursos de SV está relacionado com a
forma de acompanhar o caso de simulação desenvolvido pelo trainee durante o
exercício.
Devido ao fato de terem de ser anotadas à mão tais informações e não
possuir registro algum formal das ações tomadas pelo trainee sobre o manequim, os
treinamentos em SV geram problemas de contestação por parte dos alunos que
discordam, após a realização dos casos, da avaliação feita pelo médico-instrutor. A
falta de um mecanismo formal, preciso e palpável, dá margens a discussão e
questionamentos a respeito da avaliação.
Para apoiar o processo de avaliação do treinamento, a FCS registra em um
arquivo de log (Figura 28) toda e qualquer informação gerada pelo médico-instrutor
(informações prestadas ao trainee, mudanças nos parâmetros clínicos do paciente,
entre outros) assim como as atitudes e ações vindas do trainee (auscultar o
paciente, aplicar medicação, intubar ou realizar massagem cardíaca, entre outros).
Essas informações podem ser analisadas posteriormente tanto pelo médico-instrutor
quanto pelo trainee, para fins de avaliação e correção das medidas tomadas.
O arquivo de log (Figura 28) é padronizado e obedece sempre a mesma
seqüência para gravação das informações. A primeira e a última linha apresentam,
respectivamente, a marcação de “Início”, o nome do caso apresentado ao trainee,
juntamente com a data e hora de início, seguida da marcação de “Fim”,
acompanhada da data e hora de término da simulação.
Cada uma das demais linhas do arquivo de log representa um evento do
sistema, gerado pelo médico-instrutor ou pelo trainee. Através de uma numeração
seqüencial, cada linha registra o número da ação, a hora, o autor da ação (I -
instrutor ou A - aluno) e o evento acionado, seja esse uma ausculta, uma fala, a
alteração do estado clínico ou a informação de um sinal vital (FR, FC, PA).
80
Figura 28 - Exemplo de arquivo de log
Através do registro de ações no arquivo de log, é possível analisar a
seqüência realizada no atendimento e o intervalo de tempo entre a ação disparada
pelo instrutor e a reação tomada pelo trainee.
# -------------------------------------------- Início do caso: Atropelamento - Wed Nov 07 01:19 2007 001 - 01:19 - I - Estado: (N) - Não Responde 002 - 01:19 - I - Lesão: Hemotórax Direito 003 - 01:19 - I - Cor: Cianótico 004 - 01:19 - I - AsPu: Roncos 005 - 01:20 - I - AsCa: Bradicardia 006 - 01:20 - I - SNG: Desclocado 007 - 01:20 - A - FC: 20 008 - 01:20 - A - FR: 0 009 - 01:20 - A - PA: 0 010 - 01:20 - A - Saturação: 81 011 - 01:20 - A - Enchimento Capilar: 7 012 - 01:20 - A - Ação: Entubação - Sucesso 013 - 01:20 - A - Ação: Imobilizção Cervical 014 - 01:20 - A - Ação: Ventilação - Adequada 015 - 01:20 - I - Fala: Tontura # -- Fim da simulação - Wed Nov 07 01:22 2007
81
6 AVALIAÇÃO DO PROTÓTIPO
Com o objetivo de avaliar se a presença e a qualidade dos recursos
agregados pelo ARLIST contribuem ou não para o aumento do realismo nos
treinamentos de SV, foi executado um conjunto de testes com alunos da Faculdade
de Medicina da PUCRS (conforme seção 6.4) que fazem parte do público-alvo da
ferramenta desenvolvida.
Nas próximas seções são detalhados os objetivos da avaliação do protótipo, a
metodologia utilizada para realização das avaliações, o protocolo de testes, a
descrição sobre as fases de testes (testes com especialistas – pré-teste – testes
com usuários), a análise dos resultados obtidos com os testes e apresentação de um
Estudo de Caso com candidatos a residência médica da Faculdade de Medicina da
PUCRS.
6.1 Objetivos da avaliação
O processo de avaliação do protótipo ARLIST buscou alcançar quatro
objetivos:
• Avaliar o nível de percepção do trainee em relação aos recursos
implantados;
• Analisar o grau de contribuição dos recursos implantados para o aumento do
nível de realismo durante a simulação de um atendimento;
• Analisar a praticidade da Ferramenta de Controle da Simulação (FCS);
• Analisar a utilidade do registro das ações do usuário no arquivo de log.
82
6.2 Metodologia para avaliação do sistema de simulação
Para garantir o cumprimento dos objetivos propostos, foi estabelecida uma
metodologia composta por quatro etapas descritas a seguir.
A primeira etapa consistiu na criação dos chamados Casos de Treinamento
que definem um conjunto de parâmetros que caracterizam o estado clínico do
paciente, como o nível de alerta do paciente simulado, as auscultas cardíacas e
pulmonares, e as falas previstas. A partir do cenário elaborado em um Caso de
Treinamento, um conjunto mínimo de ações é esperado por parte do trainee. Estes
casos foram elaborados de acordo com a complexidade e a habilidade que se
deseja treinar e avaliar durante o processo de treinamento.
A segunda etapa compreendeu a formulação de dois questionários, um a ser
respondido pelo trainee e outro pelo médico-instrutor, com a finalidade de avaliar o
grau de contribuição gerado pela presença dos recursos computacionais agregados
ao manequim, bem como a qualidade destes recursos na versão atual do protótipo.
Uma avaliação subjetiva fornecida pelo médico-instrutor a respeito da
conduta dos trainees nos atendimentos constituiu a terceira etapa do processo de
avaliação. Os profissionais que participaram desta etapa possuíam grande
experiência em cursos de treinamento de SV, tanto como instrutores quanto como
avaliadores.
A última etapa consistiu na análise das avaliações, objetiva e subjetiva,
mapeando os pontos fracos e fortes dos recursos implementados, como importância
e qualidade do recurso.
6.2.1 Casos de Treinamento
Os Casos de Treinamento foram elaborados em conjunto com alguns
profissionais dos cursos de SV para possibilitar uma melhor avaliação dos itens
computacionais implantados e do comportamento do trainee em relação aos
mesmos durante as simulações. Em cada um dos Casos de Treinamento, um estado
83
de alerta inicial é definido para o paciente, uma seqüência de possíveis ações
esperadas para resolução do caso são descritas, falas de reclamação e desconforto
são previstas. A partir desses cenários estabelecidos, o uso de alguns recursos
implantados são observados durante as simulações. De acordo com o estado de
alerta inicial, baseado nos estados de alerta da classificação AVDN, e os possíveis
entre estes estados, um conjunto de recursos é utilizado para facilitar a percepção
do trainee em relação à conduta que deve ser adotada.
A seguir são descritos três Casos de Treinamento elaborados para utilização
nos testes com usuários. A Tabela 9 apresenta estes quatro conjuntos de
informações e seus possíveis valores.
O primeiro Caso de Treinamento apresenta ao trainee um paciente que se
encontra desacordado, sem batimento cardíaco e com respiração ausente. Este
caso exige do trainee grande atenção, agilidade e eficiência para resolução do
problema, tendo em vista que o paciente precisará passar pela rotina de
reanimação, através das manobras de massagem cardíaca, ventilação e uso de
medicações específicas, além da possibilidade de utilização do desfibrilador. A
Tabela 10 descreve a configuração do caso de treinamento e os possíveis valores
esperados.
A Figura 29 mostra as possibilidades de transição entre os estados de alerta.
Tabela 9 - Informações presentes nos Casos de Treinamento
Informações Descrição
Estados de alerta
Alerta Resposta Verbal Resposta à Dor Não responsivo
Ações esperadas
Massagem cardíaca, Ventilação, Medicação, Ausculta, Intubação. Verificação de sinais como Pressão Arterial, Freqüência Cardíaca e Freqüência Respiratória.
Falas Nenhuma fala, Idade, Nome. Reclamações: Dor, Tontura, Dor de barriga, Falta de ar, Dor no peito.
Recursos analisados
Expressões faciais Lesões Auscultas Falas
84
Tabela 10 - Configuração do Caso de Treinamento 1
Informações Descrição Estados de alerta Alerta (A)
Não responsivo (N) Ações esperadas Massagem cardíaca e ventilação
Medicação Desfibrilação Intubação (se necessário) Verificação do pulmão e do coração Pedido de informações de PA, FC, FR
Falas Quando o estado de alerta for “Não responsivo”, nenhuma Quando o estado de alerta for “Alerta”, nome e idade
Recursos analisados Expressões faciais: desacordado e acordado Auscultas: pulmonar e sonda (se paciente intubado) Falas
Figura 29 – Transições de Estado do Caso de Treinamento 1
No segundo Caso de Treinamento, apresentado na Tabela 11 e na Figura
30, o paciente encontra-se no estado de alerta Responsivo Verbal. Nessa situação,
objetiva-se que o trainee tome as medidas cabíveis para re-estabelecer o nível de
consciência do paciente através de medicações, ventilação e demais procedimentos,
tendo em vista que o estado do paciente não apresenta gravidade. A conduta
correta levará o paciente para o estado de alerta esperado (Acordado), assim como
a seqüência incorreta, poderá causar piora do quadro clínico do paciente, chegando
ao estado de alerta Não Responsivo, sendo, neste caso, necessário realizar todos
os procedimentos de reanimação.
85
Tabela 11 – Configurações do Caso de Treinamento 2
Informações Descrição Estados de alerta Responsivo Verbal (V)
Não responsivo (N) Alerta (A)
Ações esperadas Massagem cardíaca e ventilação Medicação Desfibrilação Intubação (se necessário) Verificação do pulmão e do coração Pedido de informações de PA e Peso
Falas Quando o estado de alerta for “Responsivo Verbal”, nome, idade, tontura, falta de ar Quando o estado de alerta for “Não Responsivo”, nenhuma Quando o estado de alerta for “Alerta”, nome, idade, tontura
Recursos analisados Expressões faciais: lúcido e responsivo, desacordado e acordado Auscultas: cardíaco, pulmonar e sonda (se paciente intubado) Falas
Figura 30 – Transações de estado Caso de Treinamento 2
O terceiro Caso de Treinamento apresenta um paciente que se encontra em
estado de alerta Responsivo à Dor, conforme mostra a Tabela 12. O paciente
apresenta inquietude e lamentos. A Figura 31 apresenta as possibilidades de
86
transição entre os estados de alerta de acordo com a conduta seguida. Nesse caso
de treinamento procura-se avaliar o nível de percepção visual e sonora do trainee
com base nas características técnicas implementadas e no estado clínico
apresentado. Com base no estado de alerta inicial, o paciente estará apresentando
resposta apenas a estímulos de dor (como apertões e beliscões) que serão ouvidos
pelas caixas acústicas da sala de treinos, além de possuir hematomas na lateral de
seu tórax, projetados pelo projetor de imagens. Assim como nos demais casos de
treinamento, o procedimento de auscultas cardíaca e pulmonar será de suma
importância para solucionar o caso, pois a lesão indicará ausência de som do lado
em que estiver localizada a lesão. O trainee deverá saber qual medida deverá ser
adotada para solucionar o problema. A conduta incorreta poderá levar o paciente
para o estado de alerta Não Responsivo.
Tabela 12 – Configurações do Caso de Treinamento 3
Informações Descrição Estados de alerta Responsivo à Dor (D)
Não responsivo (N) Alerta (A) Responsivo Verbal (V)
Ações esperadas Massagem cardíaca e ventilação Medicação Desfibrilação Intubação (se necessário) Verificação do pulmão e do coração Pedido de informações de PA e Peso Alívio torácico devido a lesão apresentada
Falas Quando o estado de alerta for “Responsivo Verbal”, nome, idade, tontura, falta de ar Quando o estado de alerta for “Não Responsivo”, nenhuma Quando o estado de alerta for “Alerta”, nome, idade, tontura Quando o estado de alerta for “Responsivo à dor”, dor de barriga, dor de uma lado, dor no peito
Recursos analisados Expressões faciais: lúcido e responsivo, desacordado e acordado, desconforto devido à dor Auscultas: cardíaco, pulmonar e sonda (se paciente intubado) Falas Lesões no corpo
87
Figura 31 – Transações de estado do Caso de Treinamento 3
Para todos os Casos de Treinamento, é realizado o registro (através da
FCS) das informações passadas pelo médico-instrutor ao trainee, assim como os
seus comentários em relação à condução do caso. Assim, toda e qualquer
informação solicitada ao médico-instrutor ou repassada de maneira espontânea ao
trainee, é feita em qualquer estado de alerta ou caso de treinamento, conforme
apresentado na seção 5.2.3. Exemplos dessas informações são:
• PA, FC, FR, tempo de enchimento capilar14;
• Peso do paciente, idade, sexo;
• Fato ocorrido: uma descrição da chegada do paciente a emergência.
14 Enchimento capilar: Tempo de enchimento dos vasos sangüíneos. Um membro que é pressionado pela pressão das mãos, por exemplo, fica esbranquiçado voltando a colorar gradativamente. Tempo normal de 1 a 3 segundos.
88
6.2.2 Questionários de Avaliação do Protótipo
Com o objetivo de obter uma avaliação mais abrangente do projeto, foram
realizadas avaliações do protótipo tanto com trainees quanto com os
médicos-instrutores.
Cada trainee que realiza a simulação responde um questionário
individualmente. O médico-instrutor realiza uma avaliação por equipe de simulação,
e os seus comentários a respeito do desempenho da equipe de simulação são
registrados no questionário, em campo próprio.
As questões que compõem o questionário de avaliação do trainee
procuram obter informações a respeito dos recursos implementados pelo ARLIST,
focando a análise na presença e na qualidade dos recursos, ou seja, procurou-se
analisar o impacto causado pela existência de um recurso computacional (ex.:
projeção de uma lesão) e pela qualidade e realismo proporcionado pelo recurso (ex.:
a qualidade da imagem da lesão, o tamanho e a semelhança com uma lesão real
visualizada em um paciente real). Na
Figura 32 são apresentadas as questões aplicadas aos trainees. A numeração
abaixo de cada opção de resposta serve como indicador para facilitar a
contabilização dos dados em um segundo momento.
As questões respondidas pelo médico-instrutor buscam, além de avaliar a
presença e a qualidade dos recursos implementados no protótipo de simulação,
colher informações sobre:
• a facilidade de uso da interface da FCS;
• a clareza e qualidade dos dados contidos no arquivo de log;
• se houve melhora no processo de treinamento devido à implantação dos
recursos computacionais.
Adicionalmente, ao final das sessões de teste, provoca-se uma discussão
informal com o médico-instrutor com o objetivo de levantar sugestões de mudanças
no protótipo desenvolvido, bem como que recursos poderiam ser agregados às
novas versões do protótipo. O questionário completo é apresentado na Figura 33.
89
Sexo: [ M ] [ F ] Idade: __________ Semestre: ____________ 1) Na sua opinião, a presença dos recursos visuais relacionados às Expressões Faciais ...
Contribui para o realismo da simulação
É indiferente
Confunde o treinamento
5 4 3 2 1
2) Na sua opinião, a qualidade dos recursos visuais relacionados às Expressões Faciais: Contribui Indiferente Confunde
5 4 3 2 1
3) Na sua opinião, a presença dos recursos visuais relacionados às Lesões do corpo... Contribui para o
realismo da simulação
É indiferente
Confunde o treinamento
5 4 3 2 1
4) Na sua opinião, a qualidade dos recursos visuais relacionados às Lesões do corpo: Contribui Indiferente Confunde
5 4 3 2 1
5) Na sua opinião, a presença dos recursos sonoros de Ausculta Pulmonar e Cardíaca, e Sonda... Contribui para o
realismo da simulação
É indiferente
Confunde o treinamento
5 4 3 2 1
6) Na sua opinião, a qualidade dos recursos sonoros de Ausculta Pulmonar e Cardíaca, e Sonda: Contribui Indiferente Confunde
5 4 3 2 1
7) Na sua opinião, a presença dos recursos sonoros de Fala... Contribui para o
realismo da simulação
É indiferente
Confunde o treinamento
5 4 3 2 1
8) Na sua opinião, a qualidade dos recursos sonoros de Fala: Contribui Indiferente Confunde
5 4 3 2 1
9) Algum dos recursos implantados atrapalhou o andamento do treinamento: ( ) Não ( ) Sim - Quais: ___________________________________________ 10) Registre aqui seus comentários gerais a respeito da simulação: __________________________
Figura 32 - Questionário de Avaliação da Simulação – ARLIST - Trainee
90
1) Em relação ao aluno: a) Como você avalia a presença dos recursos computacionais em relação a conduta do aluno durante o treinamento?
Contribuiu para o realismo da simulação
Foi indiferente Confundiu o andamento do
treinamento 5 4 3 2 1
b) Como você avalia o nível de atenção dos alunos durante o processo de treinamento em relação ao uso de recursos computacionais ?
Contribuiu para o realismo da simulação
Foi indiferente Confundiu o andamento do
treinamento 5 4 3 2 1
c) É possível perceber melhora no treinamento de suporte à vida devido aos recursos computacionais implantados ? ( ) Sim ( ) Não – Por quê ? ________________________________________
2) Em relação ao protótipo: a) Como você avalia a interface da Ferramenta de Controle da Simulação (FCS), levando em consideração a facilidade de uso ?
Muito Fácil Fácil Complicada 5 4 3 2 1
b) Como você classifica, quanto à clareza e qualidade, as informações apresentadas no arquivo de Log (registro) gerado pelo protótipo de simulação ?
Relevantes Irrelevantes Confusas 5 4 3 2 1
c) Que itens computacionais poderiam ser implantados para propiciar maior realismo aos treinamentos de Suporte à Vida ?
d) Que melhorias julgas necessária na aplicação existente ?
e) Registre aqui outros comentários que poderiam auxiliar no aperfeiçoamento do protótipo de treinamento ARLIST:
Figura 33 - Questionário de Avaliação da Simulação – ARLIST - Médico-Instrutor
91
6.3 Protocolo de testes
De forma a garantir que as instruções e informações passadas aos
participantes fossem uniformes, e todos realizassem os mesmos exercícios
preliminares, foi definido um protocolo de apresentação do projeto e de execução da
simulação.
A escolha dos participantes do processo de testes utilizou como critério o
nível de graduação dos participantes da área da Medicina. Neste caso, para
acadêmicos foi observado o semestre do curso no qual o aluno se encontrava. Os
testes foram realizados em grupos homogêneos formados por:
• acadêmicos, que realizam os testes com acadêmicos que estão cursando o
mesmo semestre;
• médicos residentes;
Ao iniciar o teste, cada trainee recebe um conjunto de instruções (Apêndice
III) sobre o projeto e um Termo de Consentimento (Apêndice IV), que autoriza a
utilização dos resultados dos testes.
De forma resumida, este protocolo define a seguinte seqüência de
atividades:
a) Exposição do objetivo do protótipo: Através de uma apresentação teórica
e oral, são apresentados os problemas constatados durante a pesquisa e
quais foram os principais pontos que o projeto procurou qualificar no processo
de treinamento dos cursos de SV;
b) Entrega do Termo de Consentimento e das Instruções sobre o projeto:
Termo de Consentimento que explica novamente a finalidade dos testes e
informa que os candidatos estão autorizando a utilização dos resultados
observados, mediante sua assinatura. As Instruções fornecem sucintamente
algumas explicações a respeito dos recursos implantados no manequim de
testes;
c) Demonstração das funcionalidades do protótipo: Buscando garantir um
melhor entendimento dos recursos implementados no manequim de testes,
uma pequena demonstração é feita aos trainees. São exibidas imagens de
92
diferentes expressões faciais, lesões sobre o manequim, além da reprodução
falas;
d) Ambientação dos participantes no ambiente de simulação: durante essa
fase os trainees têm a possibilidade de utilizar o estetoscópio e auscultar o
manequim, tocá-lo, além conhecer a interface de gerenciamento da
simulação;
e) Execução de um caso de estudo por trainee: Baseados nos casos de
treinamento apresentados na Seção 6.2.1, cada trainee realiza um caso de
treinamento aleatório, tendo um tempo máximo de dez minutos para concluir
a tarefa. O médico-instrutor repassa o caso ao trainee e comanda a simulação
através da FCS;
f) Preenchimento do questionário de avaliação: Como última etapa, cada
trainee recebe e preenche o questionário de avaliação do protótipo. Nesse
momento o trainee avalia os recursos presentes no seu caso de treinamento,
como dos demais colegas, tendo em vista que todos os trainees assistem a
todos os casos e os casos são diferentes. Dessa forma, algum recurso que o
trainee não tenha observado durante a exposição de seu caso, este poderá
fazê-lo quando estiver acompanhando o caso de um colega.
6.4 Testes com usuários
Os testes com usuários foram executados em três fases. Na primeira foi
realizada uma análise por especialistas em treinamento de emergência, que
testaram o protótipo analisando suas funcionalidades e carências, apontando
sugestões de melhoria. Na segunda, foram feitos testes-piloto com alunos de
medicina para testar o comportamento do protótipo com este perfil de usuários e,
coletar idéias e sugestões para adaptação do protótipo. Por fim, foi realizada uma
bateria de testes com novos estudantes de medicina a fim de avaliar a efetiva
adequação do protótipo com o principal público-alvo do mesmo.
Nas três fases de avaliação descritas nas seções a seguir, teve-se o objetivo
de coletar as opiniões a respeito da implementação realizada, não avaliando o
desempenho do usuário. Nos itens que buscavam avaliar a “presença do recurso”,
93
solicitou-se aos avaliadores que classificassem o nível de contribuição deste recurso
para a simulação. A avaliação da “qualidade” de cada item buscou identificar a
similaridade da simulação em relação aos sinais presentes em pacientes durante um
atendimento real e avaliar a percepção dos avaliadores a respeito desses sinais.
6.4.1 Análise por Especialistas
Para as avaliações iniciais do projeto, foram convidados médicos
especialistas que atuam profissionalmente tanto em atendimento de emergência,
quanto médicos que costumam treinar estudantes de medicina nos cursos do SAVC.
Participou ainda um especialista em educação médica. Durante estes testes,
realizados com um grupo de quatro profissionais, um dos médicos atuava como
médico-instrutor enquanto os demais faziam o papel de trainees. Posteriormente
havia uma troca de papéis.
Este grupo analisou a estrutura e o protótipo implementado, sugerindo
algumas mudanças na interface da FCS e na qualidade dos sons emitidos, mas
classificou como muito satisfatório o conjunto de recursos disponíveis no ARLIST.
6.4.2 Testes-Piloto com Alunos
Após a realização das alterações sugeridas pelos especialistas, a fase de
testes-piloto foi realizada contando com a participação de um grupo de quatro alunos
do curso de Medicina da PUCRS. O grupo era formado por alunos do terceiro ano do
curso, que já tinham passado por um treinamento em atendimento de emergência e
já haviam utilizado os manequins tradicionais durante este treinamento. Um médico
da área da pediatria realizou o papel do médico-instrutor nesta seção de testes.
Esse especialista é instrutor dos cursos de PALS há mais de oito anos.
Os participantes dos testes iniciais realizaram suas avaliações com base no
questionário recebido (conforme apresentado na seção 6.2.2).
94
A aplicação do teste-piloto teve como objetivo auxiliar no desenvolvimento
do protótipo em sua fase final. O intuito foi de captar a percepção de profissionais da
área (mesmo que em formação acadêmica) a respeito da implementação, para
corrigir erros e modificar situações não condizentes com o dia-a-dia de um
atendimento de emergência.
Estes alunos consideraram tanto a presença, quanto a qualidade dos itens
implementados como importantes e muito relevantes para o ensino médico. De
acordo com a escala de opiniões do questionário, onde o grau 5 corresponde à
efetiva contribuição do recurso, o grau 3 indica que o recurso implementado foi
considerado indiferente e o grau 1 indica que o recurso atrapalhou a simulação, os
conceitos foram 4 e 5 para 93 % das respostas.
Na questão que permitia comentários livres sobre a experiência de utilização
do sistema e sua comparação com o uso de manequins tradicionais, os principais
comentários foram:
• A necessidade de imaginação diminuiu consideravelmente com a
possibilidade de visualizar a expressão facial e a lesão corporal sobre
manequim;
• O processo de ausculta pulmonar e cardíaca permitiu maior autonomia
durante a simulação;
• O nível de realismo global da simulação aumentou, em especial devido aos
sons autônomos emitidos pelo manequim;
• Os registros das ações dos trainees possibilitaram uma análise mais
detalhada da atuação de cada um, possibilitando tanto uma auto-avaliação,
como uma comparação dos resultados dos membros do grupo (esta
observação, feita pelo médico-instrutor após as sessões de teste).
Um detalhe importante durante estes primeiros testes foi que todos os
alunos mostraram-se preocupados com a elevação do nível de estresse durante a
simulação, comparado com o sistema tradicional, em especial pelas constantes falas
do paciente, reclamando de dor ou falta de ar. Este aspecto, segundo os instrutores,
é muito positivo, pois aproxima a simulação da realidade encontrada neste tipo de
atendimento.
95
Algumas alterações foram sugeridas para aperfeiçoamento do projeto, como
a melhora na qualidade da imagem da lesão apresentada sobre o manequim e o
ajuste de volume e qualidade dos sons das auscultas.
6.4.3 Análise dos Testes
Com base nas opiniões dos avaliadores, nos comentários feitos pelos alunos
da fase de testes-piloto e na alteração dos itens sugeridos, deu-se início a terceira
fase de avaliação do sistema.
Os testes com usuários foram realizados nas dependências do Laboratório
de Visualização da Faculdade de Informática da PUCRS. A amostra foi formada por
alunos do 11º semestre do curso de Medicina. Estes alunos realizaram os testes em
grupos de dois e três alunos, em dias distintos.
Em cada seção de testes, eram apresentados os objetivos do projeto e as
funcionalidades implementadas. Os alunos também eram lembrados dos
procedimentos básicos para atendimentos de urgência como o ABCD, o AVDN e da
necessidade constante de reavaliação da situação do paciente durante o
atendimento (conforme apresentado no capítulo 2).
O protótipo ARLIST foi avaliado por 13 (treze) alunos os quais assinaram o
Termo de Consentimento para publicação de suas respostas, responderam ao
questionário de avaliação e ainda fizeram comentários orais sobre o sistema (alunos
em teste Figura 34).
96
Figura 34 - Alunos em fase de teste
Na Tabela 13 são apresentados os resultados dos questionários
respondidos pelos alunos para cada item analisado, conforme as questões do
formulário apresentado na Figura 32.
Tabela 13 – Resultados dos questionários de avaliação
Conceito Questão 5 4 3 2 1 Total 1) Presença - Expressões Faciais 10 3 13 77% 23% 2) Qualidade - Expressões Faciais 10 3 13 77% 23% 3) Presença - Lesões no corpo 7 4 1 12 58% 33% 4) Qualidade - Lesões no corpo 2 5 5 12 17% 42% 42% 5) Presença - Auscultas 13 13 100% 6) Qualidade - Auscultas 11 1 1 13 85% 8% 8% 7) Presença - Falas 11 2 13 85% 15% 8) Qualidade - Falas 12 1 13 92% 8%
97
Um fator a ser considerado inicialmente para o protótipo ARLIST é o fato de
que nenhum dos alunos, num total de 13 participantes, conceituou qualquer recurso
do sistema como um empecilho para a simulação ou que este provocasse algum tipo
de confusão durante o exercício.
Um número considerável (42%) dos alunos comentou que a qualidade da
lesão (Figura 5.7) apresentada era indiferente para a simulação. A presença da
lesão sobre o paciente sim, ajudou no diagnóstico, dada a sua localização e
aparência.
A presença, assim como a qualidade das expressões faciais foi considerada
pela maioria dos alunos como sendo o recurso mais inovador do sistema. A
aceitação desse recurso foi elevada, dado que 77% dos alunos conceituaram como
sendo um recurso que contribui para o realismo das simulações.
A implementação das auscultas pulmonar e cardíaca no sistema teve como
objetivo dar autonomia ao aluno para buscar a informação quando fosse necessário,
além de permitir que fosse trabalhada a habilidade de identificar o tipo de som
reproduzido e a posição onde o mesmo deveria ser auscultado. Em 100% dos
conceitos relacionados a presença constatou-se, assim como a qualidade das
auscultas (84%), a contribuição para o realismo da simulação foi muito considerável.
Alguns alunos (16%) apontaram que a qualidade de alguns sons poderia ser
melhorada.
A falas reproduzidas pelo sistema, da mesma forma como as auscultas,
foram bem avaliadas pelos alunos quanto a sua presença (85%) e qualidade (92%).
Seu objetivo era auxiliar o aluno na determinação do estado de alerta do paciente e
também criar um ambiente de estresse, causado pelas reclamações e comentários
vindos do manequim. Baseando-se nessas avaliações, avalia-se como de grande
importância a reprodução das falas durante as simulações.
Em relação à questão número 9 (relacionada a confusão causada por algum
recurso implementado), alguns alunos comentaram que a cor da face e a qualidade
do som emitido na ausculta cardíaca teriam causado confusão durante a simulação
e poderiam ser aprimorados.
Como sugestões e comentários gerais do sistema (questão número 10),
foram relatados:
98
• O sistema representa um recurso de treinamento satisfatório, pois oferece
mais situação mais real que os manequins convencionais;
• Existe a necessidade de melhorar a qualidade das lesões corporais.
• É necessário melhorar cor da face;
• O protótipo é um pouco limitado (falta de pulso), mas é bom;
• Há necessidade de mais treino para o instrutor do sistema;
• A implementação dos recursos visuais foi de grande contribuição para as
simulações. Grande relevância para o aprendizado médico;
• É importante melhorar a nitidez dos sons de ausculta;
• O protótipo oportunizou a prática das rotinas de emergência com mais
realismo e auxiliou na auto-avaliação das deficiências dos alunos;
• Protótipo bom, melhorar: tempo de resposta às falas, agregar imagens infantis.
6.5 ESTUDO DE CASO – Prova da residência médica do Hospital
São Lucas da PUCRS
O projeto ARLIST teve seu desenvolvimento acompanhado por alguns
membros docentes da Faculdade de Medicina (FAMED) da PUCRS, que
contribuíram com informações específicas da área técnica de treinamentos em SV.
Como conseqüência desta parceria, foi proposta pela direção da FAMED a
utilização imediata de uma versão adaptada do ARLIST na prova de Residência
Médica do Hospital São Lucas. Esta prova consistiu-se de cinco “estações práticas”,
pelas quais todos os candidatos deveriam passar, de forma seqüencial, para a
simulação de um atendimento médico em cinco áreas médicas diferentes
(Ginecologia, Medicina Interna, Medicina Social, Pediatria e Cirurgia). Em cada
estação havia uma dupla de médicos, professores da Faculdade de Medicina da
PUCRS, atuando como avaliadores.
99
O projeto ARLIST foi usado na estação da Medicina Interna. Nesta estação,
dada a descrição de um caso, o objetivo era testar as habilidades dos candidatos
quanto à:
• Utilização adequada do estetoscópio: uma questão importante analisada
pelos avaliadores da prova de residência consistia em observar a forma de
colocação do estetoscópio pelo candidato. O uso incorreto do dispositivo
impede a adequada ausculta dos batimentos cardíacos e pulmonares.
• definição dos pontos corretos de ausculta: Cada candidato tinha como
uma de suas tarefas auscultar os pontos corretos no manequim. Alguns
pontos extras foram adicionados justamente com o objetivo aumentar o
número de opções do candidato e com isto forçá-lo a escolher os pontos
corretos.
• Identificação correta do som auscultado: Além da habilidade de auscultar
o ponto correto, o candidato deveria informar o tipo de som ouvido,
classificando-o corretamente.
Para atender a esta demanda foram desenvolvidas duas adaptações no
projeto ARLIST. Na primeira, a interface da FCS foi reformulada para torná-la
específica para a estação da Medicina Interna. A segunda adaptação foi a
instrumentação de manequins convencionais de loja, colocando os botões de
pressão no próprio corpo dos manequins, dispensando o uso do colete original.
Detalhes destas duas modificações são apresentados nas seções a seguir.
Do projeto ARLIST original foram preservadas as características de registro
das ações do usuário ao auscultar o paciente, o contador de tempo transcorrido e a
narração do caso de estudo no início do exercício. Itens como projeção de imagens
de expressões faciais e lesões, bem como as falas, foram suprimidos, dada sua falta
de relevância para o caso apresentado ao candidato.
A Figura 35 ilustra uma das salas onde foi instalada uma das estações da
Medicina Interna, montada para realização da prova de residência médica.
100
Figura 35 – Estação de Medicina Interna da prova de residência médica
6.5.1 Adaptação da FCS – Sistema Medieval
Como os objetivos da estação de Medicina Interna da Prova de Residência
eram mais específicos que os do projeto ARLIST, decidiu-se remodelar a interface a
fim de torná-la mais simples e fácil de utilizar. O resultado desta adaptação, que
pode ser visto na Figura 36, deu origem ao sistema batizado de Medical Evaluation
System ou, Medieval.
Nesta interface, ao receber um candidato, o avaliador digitava o identificador
deste na tela do sistema e, ao clicar no botão “Inicia”, era disparada uma narração
do caso a ser atendido. O candidato ouvia a descrição do caso que continha
informações como idade e histórico clínico do paciente e seguia as instruções a
partir daquele ponto, de forma autônoma. Na Figura 37 pode-se observar o texto
apresentado ao candidato pelo Medieval. Note-se que ao final, a narração, indicava
que o candidato deveria voltar-se para o manequim e responder às questões
afixadas na parede a sua frente. Ao lado da cabeça do manequim, estava
posicionado o estetoscópio adaptado descrito na seção 5.2.2.1.
101
Figura 36 - Interface do sistema MEDIEVAL
Homem, 55 anos, com história prévia de hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia e tabagismo. Refere dispnéia progressiva há seis meses e apresentou dois episódios recentes de síncope.
Agora, dirija-se ao manequim que está na maca de exame e responda para os avaliadores, de forma oral e somente na seqüência apresentada os questionamentos que estão na folha afixada na parede.
Figura 37 – Texto de Descrição do Caso
6.5.2 Adaptação do Manequim
Dada a demanda de candidatos (140 candidatos) e com o objetivo de que
todos fossem atendidos no período de no máximo 5 horas, a coordenação geral da
Prova definiu que cada estação fosse replicada em seis salas diferentes. Como isto,
no caso da Medicina Interna, também foi necessária a montagem de seis estações.
Como o custo de utilizarem-se seis manequins convencionais de
treinamento médico simultaneamente, seria muito elevado, optou-se por criar uma
102
versão do sistema de ausculta sobre manequins de loja, os quais possuem custo
mais acessível (menos de R$ 300,00).
Conforme foi mencionado anteriormente, nestes manequins, os botões que
permitem a ausculta foram fixados diretamente no corpo do mesmo, sem a
utilização dos coletes originalmente utilizados no projeto ARLIST. Os botões de
pressão para as auscultas foram fixados no próprio manequim para oferecer ao
candidato um maior realismo na tarefa proposta, dado que o manequim de loja já
possuía as medidas e o formato de tórax moldados no próprio material plástico. Com
a não utilização do colete, obteve-se também mais simplicidade na montagem e
desmontagem dos manequins.
A Figura 38 apresenta um dos manequins utilizados nas avaliações, no qual
foram feitos oito furos e afixados os botões de pressão sobre seu tórax.
Apesar de existirem oito possibilidades de ausculta, apenas quatro dos
botões emitiam, de fato, algum som. Os demais nada reproduziam, servindo apenas
para registrar se o candidato havia optado por um ponto de ausculta incorreto. A
colocação de mais pontos de ausculta sobre o manequim teve como objetivo levar o
candidato a utilizar sua habilidade de escolha do ponto correto para ausculta, dadas
as características do caso relatado pelo sistema. Para efeito de avaliação, o sistema
MEDIEVAL registra em seu arquivo de log a tentativa de ausculta em qualquer um
dos oitos pontos disponíveis.
6.5.3 Resultados do Estudo de Caso
Os resultados da avaliação mostraram que a média de nota dos candidatos
da estação de Medicina Interna foi inferior em relação à média das demais estações.
Em uma escala de 0 a 100 pontos, as notas da estação de Medicina Interna ficaram
em 59 pontos, enquanto as demais estações tiveram média não inferior a 70 pontos.
Na visão dos doze avaliadores presentes durante as provas nas estações da
Medicina Interna (dois em cada sala), o nível de dificuldade da prova foi aumentado,
exigindo maior habilidade e conhecimento para realização da tarefa. O resultado foi
considerado positivo, pois possibilitou aos candidatos ver o paciente (manequim),
103
utilizar o instrumento apropriado para realização do exame (estetoscópio) e
diagnosticar o estado do paciente de acordo com o que ouviam nas auscultas.
Figura 38 –Manequim com botões fixos no corpo
104
105
7 CONCLUSÃO E TRABALHOS FUTUROS
O uso de simulação em aplicações médicas cresce devido à forte demanda
por profissionais qualificados em hospitais, emergências e ambulâncias de resgate.
Os processos de simulação atuais vem sendo apoiados pela área da Ciência da
Computação, que pode auxiliar de forma significativa esse processo de capacitação,
contribuindo com recursos computacionais, eletrônicos e automáticos para controle
das simulações.
O projeto ARLIST, apresentado nesse trabalho, buscou desenvolver uma
ferramenta de apoio aos cursos de treinamento em Suporte à Vida através do
desenvolvimento de um protótipo que adicione novas funcionalidades ao modelo
atual de treinamento baseado simplesmente no uso do manequim anatômico, tais
como a projeção de imagens, a reprodução de sons médicos e um controle eficaz da
simulação.
Até onde foi possível saber, este projeto é pioneiro no segmento de apoio ao
treinamento de Suporte à Vida, pois apresenta uma proposta de treinamento onde
diversas funções importantes ao processo de capacitação e exercício das
habilidades médicas, estão presentes em um único sistema. Além disto, os
resultados obtidos nos testes preliminares mostraram que os recursos implantados
podem de fato trazer melhorias ao processo de treinamento em SV. Durante o
desenvolvimento do protótipo, o projeto foi submetido para avaliação em um
congresso [37] sob o formato de pôster, tendo sido aceito. O trabalho se encontrava
ainda em fase de escolha das melhores soluções que seriam adotadas e testes de
consistência do sistema.
A proposta de utilizar uma máscara para projeção das imagens e de fixar os
botões de pressão a um colete e conectá-los, por meio de extensões, a qualquer
computador de mesa ou portátil, é exemplo da versatilidade oferecida pelo protótipo.
Com esta abordagem, os recursos computacionais desenvolvidos podem ser
utilizados em diversos tipos de manequins hoje disponíveis, aumentando o espectro
de aplicação do projeto e ainda mantendo a possibilidade da realização das
106
manobras de massagem cardíaca em conjunto com a reprodução sonora e a
visualização da expressão facial do paciente.
Outra iniciativa que apresentou bons resultados foram os testes realizados
durante o processo seletivo para Residência Médica do Hospital São Lucas da PUC,
no qual manequins convencionais de loja foram furados e os botões de pressão
adaptados. Esta adaptação configura uma alternativa de treinamento de baixo custo,
para fins específicos, se comparada ao custo de um manequim normalmente
utilizado em treinamentos médicos. De qualquer forma, ambas as possibilidades (o
colete desenvolvido ou os furos no próprio manequim) representam alternativas para
utilização de sons durante os treinamentos com baixo custo e praticidade.
O recurso da projeção de imagens foi visto como diferencial em relação aos
modelos vigentes de treinamento. A exibição da imagem facial de um paciente em
estado de sofrimento (expressão de dor), desacordado ou consciente, estimula a
percepção visual do trainee para definição do nível de consciência do paciente. A
mudança de expressão facial aliada à reprodução de sons de reclamações, aumenta
significativamente o nível de realismo da simulação.
A estrutura de metal que serve de suporte para o projetor de imagens, ainda
é algo a ser aprimorado, tornando mais prática a sua utilização.
A Ferramenta para Controle da Simulação garantiu ao instrutor um maior
controle sobre a troca de estados do paciente, e permitiu o registro tanto dos
eventos realizados pelo médico instrutor na interface de gerenciamento, como das
ações tomadas pelo trainee sobre o manequim durante o exercício, representando
uma solução concreta para avaliação do treinamento. Baseado no registro da hora,
do autor e do tipo evento ocorrido, o médico-instrutor tem a possibilidade de avaliar o
trainee após o treinamento, analisando em conjunto com ele, os pontos positivos e
negativos de suas ações durante o processo de atendimento.
Considerando os trabalhos já existentes, o ARLIST possui um diferencial em
relação aos recursos visuais, pois as imagens são projetadas diretamente sobre o
manequim real. Segundo os instrutores ouvidos durante os cursos de SV, a
visualização da expressão facial e das lesões corporais, estimula o aluno a fazer um
diagnóstico autônomo, fundamental para a conduta médica de emergência.
107
A reprodução das auscultas não foi considerada um recurso inovador, porém
o fato de permitir ao trainee escutar os sons no próprio estetoscópio contribui para o
realismo da tarefa, inovando os métodos atuais utilizados nos treinamentos, que
consistem em questionar o instrutor sobre o som pulmonar ou cardíaco, sem poder
ouvi-lo de fato.
A adição de alguns recursos ainda pode ser feita para dar continuidade ao
projeto. A simulação de emissão de líquidos como lágrimas e sangramentos, a
presença de pulso palpável e um conjunto de respostas automáticas (sem a
intervenção do médico-instrutor) por parte do protótipo, que permitam modificar o
estado clínico do paciente de maneira autônoma e coerente, são pontos almejados
em um futuro próximo.
A realização de mais testes com profissionais da área médica poderá
mostrar mais carências do protótipo. O objetivo é possibilitar de maneira mais
eficiente e funcional a interação entre o trainee e o manequim sem intervenção do
médico instrutor.
No que se refere a projeção das imagens, levou-se em consideração a
ocorrência de movimentos com o manequim, para tanto, foram testadas técnicas de
registro adotadas em sistemas de Realidade Aumentada.
A partir de imagens capturadas por uma câmera de vídeo, fixada junto ao
projetor, o sistema permitiu efetuar o rastreamento de marcadores posicionados
sobre o colete que vestia o manequim. Sabendo-se a relação destes marcadores
com o corpo do manequim, pode-se testar o posicionamento das respectivas
imagens.
O uso dos marcadores para o registro e da câmera para captura das
imagens, foram utilizados apenas nos testes iniciais do projeto, não apresentando
bons resultados no rastreamento e na respectiva projeção, e por isso merecem
maior atenção nos próximos trabalhos. Para contornar esse problema, foram
utilizadas tiras de nylon para manter o manequim firme à mesa e evitar movimentos
durante seu manuseio. As tiras utilizadas fixaram o manequim através do pescoço e
do quadril.
108
109
REFERÊNCIAS
[1] TIMERMAN, A., S. R. R. Vieira. Conselho Nacional de Ressuscitação Cardiorespiratória. São Paulo: Arquivos Brasileiros de Cardiologia. vol. 66, pages 375-402, 1996.
[2] AHA - American Heart Association. Disponível em:
<http://www.americanheart.org>. Acessado em: 20 Mar. 2007. [3] American College of Surgeons. Disponível em: <http://www.facs.org>.
Acessado em: 20 Mar. 2007. [4] PAIVA, E. F. de; et al. Suporte avançado de vida em cardiologia – essência.
São Paulo: Editora: Lemos Editorial & Gráficos, 2005. 47p. [5] National Association of Emergency Medical Tchenicians. Pre-Hospital Trauma
Life Support Committee. Atendimento pré-hospitalar ao traumatizado: básico e avançado: PHTLS. Rio de Janeiro: Elsevier, 5ª ed. 2004. 451 p.
[6] SAVC: Manual para provedores. Rio de Janeiro: Editora Richard Cummins.
American Heart Association, 2004. 315 p. [7] FRITSCHER, C.C.; et al, Manual de urgências médicas. Porto Alegre: Editora
PUCRS, 2002. 591 p. [8] MANTOVANI, M.; Schmidt, M. F. S. Suporte básico e avançado de vida no
trauma. São Paulo: Editora Atheneu, 2005. 452 p. [9] SIMULAIDS Inc. Disponível em: <http://www.simulaids.com>. Acessado em: 4
Abr. 2007. [10] AMBU Inc. Disponível em: <http://www.ambu.com>. Acessado em: 5 Abr. 2007. [11] LAERDAL Inc. Disponível em: <http://www.laerdal.com>. Acessado em: 10 Abr.
2007. [12] GABA, D. M.. The future of simulation in health care. Disponível em:
<http://qshc.bmj.com/cgi/reprint/13/suppl_1/i2.pdf>. Acessado em: 30 Out. 2006.
[13] STANDRIDGE, C. A tutorial on simulation in health care: Applications and
issues. In: Simulation Conference Proceedings, Phoenix, USA: IEEE, pages 49-55, vol 1, 1999.
[14] MONTGOMERY, K. Bruynsm C. Wildermuth, S. Heinrichs, L. Hasser, C.
Osene, S. Bailey, D. Surgical Simulator for Hysteroscopy: A Case Study of Visualization in Surgical Training. In: IEEE Visualization 2001, San Diego, USA: IEEE, pages 14-17, 2001.
110
[15] HOOK, J. E. Simulation in Health Care: A Model for improving Patient Safety and Ensuring Quality. Disponível em: <http://medsim.org/press/documents/AIMS2005MeetingSummary.pdf>. Acessado em: 22 Set. 2006.
[16] COOPER J. BARRON, D. BLUM, R. et al. Video teleconferencing with realistic
simulation for medical education. Disponível em: <http://medsim.org/press/documents/AIMS2005MeetingSummary.pdf>. Acessado em: 25 Set. 2006.
[17] PONDER, M. HERBELIN, B. MOLET, T. SCHERTENEIB, S. ULICNY, B.
PAPAGIANNAKIS, THALMANN, G. N. D. “Interactive Scenario Immersion: Health Emergency Decision Training in JUST Project”. In: VRMHR2002 Conference Proceedings, VRlab-EPFL, Lausanne, Switzerland: ACM, pages 87-101, 2002.
[18] BURDEA, G., Virtual reality technology. Hoboken: Wiley-Interscience, 2ª ed.
2003. 444p. [19] DELINGETTE, H. AYACHE, N. Soft tissue modeling for surgery simulation. In
International Symposium on Surgery Simulation, Ed. Computational Models for the Human Body: Handbook of Numerical Analysis. Juan-Les-Pins, France: Elsevier, 2003, 386p.
[20] KIZACKEVICH, P. N. et al. Virtual Simulated Patients for Bioterrorism
Preparedness Training. Disponível em: <http://www.rvht.info/pubs%5Crti.10.02.pdf>. Acessado em: 24 Out. 2006.
[21] TORPed. Treinamento Orientado em Ressuscitação Pediátrica. Universidade
Federal de São Paulo. Disponível em: <http://teledmedicina.unifesp.br>. Acessado em: 20 Ago. 2006.
[22] CLABS. Multimedia Computer Simulation. Disponível em: <http://clabs.de>.
Acessado em: 27 Ago. 2006. [23] CAVAZZA, M. Simulation Qualitative en Physiologie Cardiaque, In:
Proceedings of AFCET/RFIA'91, Lyon, France: ACM, pages 19-25, 1991. [24] AGUS, M. GIACHETTI, A. GOBBETTI, E. ZANETTI, G. ZORCOLO, A. Real-
Time Haptic and Visual Simulation of Bone Dissection, In: Proceedings of the IEEE Virtual Reality Conference 2002, Washington, DC, USA: IEEE, pages 209-216, 2002.
[25] AZUMA, R. T. A Survey of Augmented Reality. In: Presence Teleoperators
and Environments, Los Angeles, USA: MIT Press Journal, pages 355-385, 1997.
[26] BIMBER, O. Spatial Augmented Reality: merging real and virtual worlds.
Wellesley, MA: A. K. Peters, 2005. 369p.
111
[27] AZUMA, R. T. BAILLOT, Y. BEHRINGER, R. JULIER, S. FEINER, S. MACINTYRE, B. Georgia Institute of Technology. Recent Advances Augmented Reality. In: Augmented Reality IEEE CG&A, Georgia, USA: IEEE, pages 34-47, 2001.
[28] FISCHER, J. et al. Model-based Hybrid Tracking for Medical Augmented
Reality. Disponível em: <http://www.gris.uni-tuebingen.de/publics/paper/Fischer-2006-Modelbased.pdf>. Acessado em: 10 Out. 2006.
[29] SIELHOST, T. et al, An Augmented Environments for Medical Imaging. In: 30th
Workshop AMI-ARCS - Conjunction with MICCAI'04, Rennes, France: IRISA, pages 77-86, 2004.
[30] NICOLAU, S. A. MARESCAUX, J. RUBINO, F. ARENAS, M. MUTTER, D. and
SOLER, L. Augmented-reality-assisted laparoscopic adrenalectomy. JAMA – The Journal of American Medical Association. Chicago, USA: American Medical Association, pages 2214-2215, 2004.
[31] LAPEER, R.J. CHEN, M.S. VILLAGRANA, J. An augmented reality based
simulation of obstetrics forceps delivery, In: Proceedings of the International symposium of Mixed and Augmented Reality ISMAR04, Norwich, UK: Springer London, pages 274-275, 2004.
[32] SIELHORST, T. OBST, T. BURGKART, R. RIENER, R. NAVAB, N. An
Augmented Reality Delivery Simulator for Medical Training. In: Proceedings AMI-ARCS, Rennes, France: IEEE, pages 11-20, 2004.
[33] HAMZA-LUP, F. G. SANTHANAM, A. FIDOPIASTIS, C. ROLLAND, J.P.
Distributed training system with high-resolution deformable virtual models. In: Proceedings of the 43rd Annual Southeast Regional Conference, New York, USA: ACM, pages 268-273, 2005.
[34] EXPRESSION TOOLKIT. Disponível em: <http://expression.sourceforge.net>.
Acessado em: 15 Jan. 2007. [35] WXWIDGETS TOOLKIT. Disponível em: <http://www.wxwidgets.org>.
Acessado em: 23 Fev. 2007. [36] ARTOOLKIT. Disponível em: <http://www.hitl.washington.edu/artoolkit>.
Acessado em: 14 Set. 2006. [37] 3DUI – IEEE Symposium on 3D User Interfaces. ARLIST – Augmented Reality
for Life Support Training – Poster. In: Proceedings IEEE VR/3DUI. <http://conferences.computer.org/3dui/3dui2008/>. Reno, USA: IEEE, pages 139-140, 2008.
[38] 3M SOLUTIONS. Disponível em:
<http://www.3m.com/intl/br/saude/saude_medico_hospitalar/linksa1e5.html?link=sons>. Acessado em: 20 Jul. 2007.
112
[39] REAL Hospital Português de Pernambuco. <http://www.realcor.com.br/sons.htm>. Acessado em: 23 Jul. 2007.
[40] SOBENC - Sociedade Brasileira Cardiovascular.
<http://www.sobenc.org/13_sons_pulmonares.htm>. Acessado em: 23 Jul. 2007.
[41] SOLUTION II Sound Record. Disponível em: <http://home.bip.net/baxtrom/>.
Acessado em: 18 Jul. 2007. [42] MYSTIK Media. AudioEdit Deluxe. Disponível em:
<http://www.mystikmedia.com/>. Acessado em: 5 Ago. 2007.
113
APÊNDICE I - Instruções para alteração dos sons do
protótipo ARLIST
Os sons reproduzidos no protótipo ARLIST foram obtidos em sites da
Internet [38][39][40] que disponibilizam amostras de sons cardíacos e pulmonares, e
com a equipe médica da Faculdade de Medicina da PUCRS. Já as falas do sistema,
foram gravadas no laboratório de pesquisa do Grupo de Realidade Virtual (GRV) e
trabalhadas em softwares próprios para edição de áudio como Solution [41] e
AudioEdit Deluxe [42].
Cada som foi armazenado em um arquivo de áudio cujo nome está
relacionado ao nome da opção disponível na interface de gerenciamento (FCS).
Dessa forma, para alteração de qualquer arquivo de áudio, deve-se observar o nome
e a extensão do referido arquivo no diretório correspondente.
O ARLIST utiliza o formato WAV para o armazenamento dos sons e
armazena os arquivos no subdiretório \software\arlist\sons, dentro do diretório onde
foi instalado o projeto. A Tabela 1 apresenta a lista completa dos arquivos utilizados
no projeto e sua respectiva função.
Tabela 1 – Sons utilizados no ARLIST
Nome do Arquivo Descrição coracao_bradicardia.wav Som de coração em ritmo Bradicardia coracao_irregular.wav Som de coração em ritmo Irregular coracao_normal.wav Som de coração em ritmo Normal coracao_taqui_sinusal.wav Som de coração em ritmo Taquicardiasinusal coracao_taqui_supra_ventricular.wav Som de coração em ritmo
Taquicardiasupraventricular estomago.wav Som da sonda naso-traqueal no estômago pulmao_crepitantes.wav Som do pulmão com crepitantes pulmao_subcrepitantes.wav Som do pulmão com subcrepitantes pulmao_roncos.wav Som do pulmão com roncos pulmao_sibilos.wav Som do pulmão com sibilos pulmao_vesicular.wav Som do pulmão com murmúrio vesicular pulmao_vesiculard.wav Som do pulmão com murmúrio vesicular diminuído fala_choro.wav Som de choro infantil fala_davdn.wav Fala de lamento de dor, no estado de AVDN – Dor fala_vavdn.wav Fala de lamento de dor, no estado de AVDN –
Verbal fala_dor_barriga.wav Fala de reclamação de dor de barriga fala_dor_peito.wav Fala de reclamação de dor no peito fala_falta_ar.wav Fala de reclamação de falta de ar
114
Nome do Arquivo Descrição fala_idade.wav Fala da idade do paciente fala_nome.wav Fala do nome do paciente fala_palpitação.wav Fala de reclamação de palpitação no peito fala_paralisia.wav Fala de reclamação de paralisia de um lado do
corpo fala_tontura.wav Fala de reclamação de tontura do paciente umminuto.wav Fala que comunica o término da simulação em 1
minuto acabou.wav Aviso sonoro que comunica o fim da simulação
Caso seja necessário alterar algum destes arquivos de som, deve-se realizar
os seguintes procedimentos:
Obter o novo som e gravá-lo em um arquivo no formato WAV;
Renomear o arquivo de acordo com o nome da função que este irá
desempenhar;
Gravar este arquivo no diretório de sons do ARLIST, sobrescrevendo o
arquivo lá existente.
115
APÊNDICE II - Instruções para alteração das imagens do
protótipo ARLIST
A imagem disponível na versão atual do protótipo ARLIST é a imagem
padrão do sistema de expressões faciais Expression Toolkit, descrito na Seção
5.2.2. O modelo 3D do rosto visualizado no sistema de expressões faciais foi gerado
com a ferramenta 3D Studio (e corresponde ao arquivo gedalia_source_biped.max,
armazenada em \software\expression\playback\face-data). Sobre o modelo
tridimensional, é mapeada a textura de uma imagem no formato Windows Bitmap
(arquivos gedalia.bmp para a cabeça e gedaliaeye.bmp para os olhos),
armazenados em \software\expression\playback\face-data\gedalia).
Para substituição do modelo existente, torna-se necessário alterar o arquivo
Bitmap correspondente, sobrescrevendo-o no devido diretório.
Abaixo estão ilustradas duas imagens vistas através do software em
execução, a imagem original e a imagem com alterações nos olhos, nos seios da
face e nos cabelos.
116
117
APÊNDICE III - Testes de avaliação
Sistema de Apoio ao Treinamento de Suporte à Vida
Instruções para realizar o Experimento
Introdução
Seja bem vindo! Muito obrigado por concordar em participar desse
experimento. O projeto ARLIST (Augmented Reality for Life Support Training) tem
por objetivo qualificar os treinamentos de médicos que prestam auxílio aos primeiros
socorros, seja ele básico ou avançado.
Com base nos Cursos de Suporte à Vida, realizou-se uma análise de quais
seriam as principais características que inexistem nos manequins atuais de
treinamento, e que ao mesmo tempo, poderiam ser agregadas às simulações
trazendo maior nível de realismo aos treinamentos, qualificando de maneira mais
eficiente o profissional médico.
Dentre os itens mapeados no estudo, detectou-se que a presença do instrutor
causa grande dependência por parte do aluno, o que ocorre através de perguntas
constantes dirigidas ao mesmo. Outro fator relevante é a ausência de imagens e
sons oriundos do manequim. O alto nível de abstração, prejudica o desenvolvimento
dos treinamentos e não contempla o estresse e a pressão psicológica, evidenciados
no dia a dia das emergências de primeiros socorros.
Nesse sentido, foram implantados alguns recursos aos manequins de
treinamento, que permitirão a você, médico em treinamento, realizar suas tarefas
de maneira mais autônoma, fazendo com que sua tomada de decisão seja mais
precisa e que seu feedback seja mais real.
A simulação é controlada pelo médico instrutor, através de uma Ferramenta
para Controle da Simulação. Nessa interface, será possível determinar os sons
das auscultas pulmonares e cardíacas, bem como falas do paciente, projeção de
lesões expressões faciais sobre o manequim de treinamento.
Todas as ações disparadas pelo médico instrutor, assim como as ações
realizadas por você, ficarão registradas em um arquivo de registro, contendo data,
hora e ação desempenhada, que poderá ser consultado ao término de cada
simulação.
118
Ao final do experimento será solicitado que você responda a algumas
questões sobre sua impressão a respeito de sua experiência nesse novo modelo de
treinamento.
É importante ressaltar que, neste experimento, não estará sendo avaliado o
seu desempenho, mas sim o grau de contribuição que os recursos implantados
trouxeram para os treinamentos de Suporte à Vida.
Recursos utilizados durante o Experimento
1 – Estetoscópio
Durante o experimento estará disponível um estetoscópio que foi adaptado
especialmente para os testes. Nele foi anexado um alto falante que reproduzirá os
sons desejados quando posicionado sobre pontos de ausculta.
2 – Colete
Um colete contendo conectores de pressão permitirá a você, médico em
treinamento, consultar os pontos de ausculta. Para realizar tal tarefa, basta manter
qualquer um dos botões pressionados para que seja reproduzido o respectivo som
no estetoscópio.
3 – Máscara
O manequim de treinamento estará vestido com uma máscara onde serão
projetadas imagens que esboçarão seu estado de alerta (acordado, desacordado).
4 – Caixa Acústica
Posicionada embaixo da cabeça do manequim de treinamento, tem o
objetivo de reproduzir sons como falas, que denotarão o que o paciente estiver
sentindo, além de narrativas configuradas pelos instrutores sobre casos de estudo.
5 - Projetor
Sobre a mesa, situa-se o projetor de imagens, responsável por exibir as
imagens relacionadas às expressões faciais e lesões de corpo. Esse projetor fica
preso a uma armação de metal que envolve a mesa de treinamento.
119
ATENÇÃO !!!
Da mesma forma como nos Cursos de Treinamento em Suporte à Vida (ACLS, ATLS, PALS), algumas informações necessitam ser questionadas ou comunicadas verbalmente ao médico-instrutor.
Você PODE SOLICITAR ao instrutor informações como:
- PA, FC, FR, Saturação, Tempo de Enchimento Capilar, etc...
Você DEVE COMUNICAR ao instrutor quando decidir realizar ações como:
- Intubação;
- Colocação de acesso venoso;
- Colocação de colar cervical;
- Administração de medicações (indicando qual a medicação);
- Dentre outras.....
120
121
APÊNDICE IV - Termo de consentimento livre e esclarecido
O Grupo de Realidade Virtual, através do desenvolvimento do projeto de Mestrado
“ARLIST – Augmented Reality for Life Support Training”, agradece previamente pela sua
participação e a de todos os demais que contribuíram para a realização da fase de testes
do sistema, não medindo esforços para realização das tarefas.
O objetivo desse projeto é propiciar aos alunos de medicina uma melhor
qualificação durante o processo de treinamento em situações de Suporte à Vida (SV).
Para tanto, foram agregados aos manequins de treinamento utilizados atualmente,
recursos computacionais que procurarão fornecer ao médico em treinamento, maior
realidade durante as simulações.
Aos participantes, será explicado o funcionamento do sistema, por meio de
demonstração prática dos recursos. Não há necessidade de utilização de qualquer
equipamento especial para realização dos testes, apenas o já conhecido pelas turmas de
medicina, o estetoscópio.
O objetivo dos testes é avaliar o nível de realismo propiciado ao treinamento, a fim
de constatar se os recursos computacionais contribuíram ou não para a melhora das
simulações em SV. O uso que se faz dos registros efetuados durante os grupos é
restritamente limitado à atividade de pesquisa e desenvolvimento, garantindo-se para
tanto que:
1. O anonimato dos participantes será garantido em todo e qualquer documento
divulgado em foros científicos (tais como conferências, periódicos, livros e
assemelhados);
2. Todo participante terá acesso a cópias destes documentos após a publicação dos
mesmos;
3. Todo participante que se sentir constrangido ou incomodado durante os testes
pode se retirar e estará colaborando de forma importante com a equipe se registrar
por escrito as razões ou sensações que o levaram a esta atitude. A equipe fica
obrigada a descartar suas contribuições para fins da avaliação que se destinaria;
4. Todo participante tem direito de expressar por escrito, na data do encontro,
qualquer restrição ou condição adicional que lhe pareça aplicar-se às garantias
122
enumeradas em (1), (2) e (3), acima. A equipe do projeto se compromete a
observá-la com rigor e entende que, na ausência de tal manifestação, o
participante concorda que estas diretrizes conduzam o comportamento ético da
equipe de pesquisadores;
5. A equipe do projeto tem direito de utilizar os dados surgidos durantes os testes,
mantidas as condições acima mencionadas, para quaisquer fins acadêmicos
contemplados por seus membros.
( ) Estou de pleno acordo com os termos acima.
( ) Em anexo registro condições adicionais para participar dos testes.
________________________ ________________________
Assinatura do participante Assinatura do observador
________________________
Nome do participante
Top Related