CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA
DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL,
EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL
RAFAEL ALVES DE ARAUJO CASTILHO
PRÁTICAS SOCIAIS ORGANIZACIONAIS:
a Gestão Social e os Relatórios de Sustentabilidade de acordo com
a Global Reporting Initiative
BELO HORIZONTE 2018
RAFAEL ALVES DE ARAUJO CASTILHO
PRÁTICAS SOCIAIS ORGANIZACIONAIS:
a Gestão Social e os Relatórios de Sustentabilidade de acordo com
a Global Reporting Initiative
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre.
Área de Concentração: Inovações Sociais e Desenvolvimento Local
Linha de Pesquisa: Gestão Social e Desenvolvimento Local
Orientadora: Profª. Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos
BELO HORIZONTE 2018
Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras – Bibliotecário Júlio Ferreira Gomes – CRB 6 – 3227.
C352p Castilho, Rafael Alves de Araujo.
Práticas sociais organizacionais: a gestão social e os relatórios de sustentabilidade de acordo com a global reporting initiative. / Rafael Alves de Araújo – 2018.
250 p.: il. Color.
Orientadora: Profa. Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2018. Programa de
Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local. Inclui bibliografias
1. Responsabilidade social da empresa. 2. Gestão social. 3. Desenvolvimento social. I. Vasconcelos, Fernanda Carla Wasner. II. Centro Universitário UNA. III. Título.
CDU: 658.114.8
NOTA INTRODUTÓRIA
No Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, as dissertações de mestrado se orientam pelas seguintes normas aprovadas por seu Colegiado: Para os elementos textuais: 1. A introdução deve trazer o tema, problema, questão central da pesquisa, hipótese (facultativa), objetivo geral, objetivos específicos, justificativas e o plano de capítulos; 2. O primeiro capítulo deve trazer uma revisão teórica na área temática da pesquisa, dentro de um recorte de tempo. É esperado que esse capítulo seja apresentado na forma de um artigo de revisão, contendo: título, subtítulo, nomes e filiação institucional dos autores (o mestrando e a orientadora), resumo, palavras-chave, abstract, keywords, introdução, desenvolvimento, conclusão, referências, notas, anexos e apêndices; 3. O segundo capítulo deve trazer o relato da pesquisa realizada pelo mestrando. É esperado que esse capítulo seja apresentado na forma de um artigo científico, contendo: título, subtítulo, nomes e filiação institucional dos autores (o mestrando e a orientadora), resumo, palavras-chave, abstract, keywords, introdução, discussão teórica, metodologia, análise dos dados e/ou discussão dos resultados, considerações finais, referências, notas, anexos e apêndices; 4. O terceiro capítulo deve trazer o produto técnico derivado da revisão teórica e da pesquisa realizada pelo mestrando, sua proposta de intervenção na realidade. É esperado que contenha: título, subtítulo, nomes e filiação institucional dos autores (o mestrando e a orientadora), resumo, palavras-chave, abstract, keywords, introdução, discussão para introduzir o produto técnico e contextualização, descrição detalhada do produto técnico, considerações finais, referências, notas, anexos e apêndices; 5. Por último, o mestrando deve trazer as considerações finais da dissertação; 6. Ficam mantidos os elementos pré-textuais e pós-textuais de praxe em dissertações e teses; 7. Alguma flexibilidade em relação a essa estrutura pode ser considerada, mas é indispensável que o/a mestrando/a apresente pelo menos uma das suas partes na forma de um artigo.
AGRADECIMENTOS
Uma jornada como esta só foi possível devido às diversas mãos que estiveram comigo
em todo este percurso e para as quais quero exteriorizar os meus agradecimentos.
À Professora Dra. Fernanda Wasner, minha querida orientadora. É difícil encontrar
palavras para agradecer todo o seu apoio, carinho, orientação e suporte, sobretudo
nos desafios encontrados durante este percurso. A nossa pesquisa é fruto de uma
experiência singular de aprendizado e da relação harmônica entre mestre e aprendiz,
muito obrigado. Sou um afortunado em tê-la como minha mentora desde a graduação,
como uma grande parceira de projetos de trabalho e como amiga.
Agradeço ao Centro Universitário Una e ao Sindicato dos Professores do Estado de
Minas Gerais (Sinpro Minas) que por meio de suas políticas de valorização do
professor do ensino superior me propiciaram a bolsa de estudos parcial, que me
permitiu cursar este mestrado. Estendo os agradecimentos à Global Reporting
Initiative (GRI) por disponibilizar seu banco de dados para a pesquisa.
Agradeço à Professora Dra. Lúcia Afonso e ao Professor Dr. Frederico Figueiredo por
suas contribuições durante a banca de qualificação do projeto desta pesquisa. Seus
ensinamentos foram essenciais para a condução da pesquisa.
Obrigado a todo corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social,
Educação e Desenvolvimento Local, pelos seus ensinamentos, finalizo esta etapa
como um homem transformado.
Aos membros da banca de defesa, Professora Dra. Lúcia Afonso e ao Professor Dr.
Armindo Teodósio obrigado por terem aceito o convite e por suas contribuições.
Àqueles que me ajudaram na pesquisa, meus amigos Sebastião Diniz, Sthéfanni Lima
e Gabriel Fonseca, minha gratidão. Agradecimento estendido ao amigo Adieliton de
Freitas, que gentilmente apoiou-me no pré-teste do roteiro de entrevista.
A um quarteto de alegria que formamos durante as aulas, agradeço o apoio dos
amigos Patrícia Costa, Luciana Freitas e Marco Antônio Morais. Agradeço também
aos amigos do mestrado Ari Gobira, Daniela Kangussu e Vagner Souza e estendo
meus agradecimentos aos demais colegas do curso.
Agradeço ao colega de mestrado Gabriel Perona por me mostrar os primeiros passos
desta trajetória e à colega Luana Braga por gentilmente me auxiliar nas dúvidas. À
minha amiga Virgínia Lima que sempre me estimulou e com a qual fiz a disciplina de
Inovação Social e Desenvolvimento Local, ponto de partida para iniciar este projeto.
Aproveito para agradecer aos queridos funcionários da secretaria do mestrado e aos
demais funcionários da Una pelo acolhimento e presteza.
Agradeço aos que de forma próxima ou à distância acompanharam esta trajetória.
Estejam certos de que todos foram importantes para que eu percorresse este
caminho, e agora é hora de buscar novos aprendizados e novas aventuras. Continuo
contando com o apoio de todos vocês.
Àqueles de quem tanto me orgulho e em quem me espelho, meus pais amados,
obrigado por me ensinarem a ser perseverante e me mostrarem os caminhos dos
estudos e dos bons valores. Aos outros pais que a vida deu, Teinha e Luiz, obrigado
por fazerem parte da minha história. À minha avó Divina e aos meus irmãos Raquel e
Raul.
Compartilho com meu marido Fábio esta conquista e lhe agradeço pelo apoio e
companheirismo incondicional durante nossos 11 anos de convivência e em especial
durante toda esta fase de aprendizado. Agradeço ao nosso filho Lucas, que chegou
de mansinho e encheu nossas vidas de alegria.
Enfim, todo este caminho foi transformador. Se perceber, se reinventar e se
transformar são iniciativas daqueles que perseguem a felicidade e compartilham suas
conquistas com aqueles que ama. Obrigado.
“Os que se encantam com a prática sem a ciência são como os timoneiros que entram no navio sem timão nem bússola, nunca tendo certeza do seu destino.”
Leonardo da Vinci
RESUMO
A evolução dos debates sobre o desenvolvimento sustentável (DS) estimularam a busca de compreensão da multidimensionalidade da sustentabilidade conforme os autores Sachs, Sartori, Latrônico e Campos, Lozano e Huisingh. Assim, a dimensão social é destacada por representar um ambiente de desafios vividos pela sociedade, como o da promoção da qualidade de vida e da garantia dos direitos humanos. Neste contexto, é fortalecida a importância do debate sobre as concepções de gestão social como discutidas por Dowbor, Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira, Cançado, Tenório e Pereira, no ambiente das diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), utilizadas nos Relatórios de Sustentabilidade (RS) de organizações públicas, privadas e sem fins lucrativos. Logo, o objetivo desta pesquisa foi analisar a correspondência entre os elementos característicos de uma gestão social e aqueles da categoria social das diretrizes da GRI – G4 e de Relatórios de Sustentabilidade de organizações brasileiras publicados no ano de 2015, buscando compreender as concepções e os conceitos aplicáveis às práticas sociais organizacionais divulgadas por meio dos RS. A metodologia apresenta abordagem qualitativa e quantitativa de cunho descritivo. Os procedimentos metodológicos incluíram a pesquisa documental de 12 RS selecionados a partir da base de dados disponibilizada pela GRI. Os indicadores do pilar social dos RS foram analisados pelo método de clusters de variáveis por ligação completa através de distâncias do coeficiente de correlação e, em seguida, por distâncias euclidianas; pelo teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis e pela comparação múltipla com correção de Bonferroni. Profissionais que trabalham com a elaboração desses relatórios foram entrevistados, os dados foram transcritos e realizada análise de conteúdo conforme Bardin, utilizando o software Iramuteq Como resultados, identificou-se a presença de alguns pressupostos de gestão social nos RS das organizações bem como nas percepções dos profissionais entrevistados. Entretanto, constatou-se que esses pressupostos ainda não são capazes de promover uma gestão social estruturada no ambiente das organizações. Oportunidades de melhoria foram observadas no processo de materialidade e de engajamento das partes interessadas nos RS. Além disso, foi percebido que as práticas de responsabilidade social das organizações podem ser aperfeiçoadas na perspectiva da gestão social, orientando a elaboração de um guia para avaliação de práticas sociais organizacionais à luz dos pressupostos da gestão social identificados nesta pesquisa e que fomentam premissas de inovação social, motivando ações para o desenvolvimento local. Palavras-chave: Sustentabilidade. Responsabilidade Social. Inovação Social. Desenvolvimento Local.
ABSTRACT
The debates on sustainable development (DS) evolution encouraged the search for an understanding of the multidimensionality of sustainability according to Sachs, Sartori, Latrônico and Campos, Lozano and Huisingh. Thus, the social dimension is highlighted as representing a challenging environment faced by society, such as the promotion of quality of life and the guarantee of human rights. In this context, the importance of the debate on social management conceptions is strengthened as discussed by Dowbor, Mendonça, Gonçalves-Dias and Junqueira, Cançado, Tenório and Pereira, within the guidelines of the Global Reporting Initiative (GRI), used in the Sustainability Reports (RS) of public, private and non-profit organizations. Therefore, the objective of this research was to analyze the correspondence between the characteristic elements of a social management and those of the social category of GRI - G4 guidelines and of Brazilian organizations Sustainability Reports published in 2015, seeking to understand the conceptions and concepts applicable to organizational social practices released through Sustainability Reports. The methodology presents a qualitative and quantitative descriptive approach. The methodological procedures included the documental research of 12 Sustainability Reports selected from the database provided by GRI. The Sustainability Reports social pillar indicators were analyzed by the clusters method of variables by complete connection through distances of the correlation coefficient and then by Euclidean distances; by the Kruskal-Wallis non-parametric test and by the Bonferroni correction multiple comparison. Professionals working with the preparation of these reports were interviewed, data were transcribed and content analysis performed according to Bardin using the Iramuteq software. As results, we identified the presence of some social management assumptions in the Sustainability Reports of the organizations as well as in the perceptions of the professionals interviewed. However, it has been found that these assumptions are not yet capable of promoting structured social management in the organizations' environment. Opportunities for improvement were observed in the materiality process and concerned parties engagement in SR. In addition, it was noticed that the organizations social responsibility practices can be improved in the perspective of social management, guiding the development of a guide for the organizational social practices evaluation in light of the social management assumptions identified in this research and that promote social innovation premises, motivating actions for local development. Keywords: Sustainability. Social responsibility. Social Innovation. Local Development.
LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS
LISTA DE FIGURAS
pág.
FIGURA 1 Sistematização da estrutura da dissertação ............................. 36
FIGURA 1.1 Consolidação dos dados de publicação de Relatórios de
Sustentabilidade no Brasil .........................................................
54
FIGURA 2.1 Visão geral do processo de definição dos aspectos materiais e
limites do RS .............................................................................
82
FIGURA 2.2 Classificação Hierárquica Descendente (CHD) ......................... 152
FIGURA 2.3 Nuvem de palavras do conteúdo das entrevistas ...................... 153
FIGURA 2.4 Dendograma resultante da Classificação Hierárquica
Descendente dos relatos das entrevistas ..................................
155
FIGURA 2.5 Representação das classes de palavras no corpus original do
texto ..........................................................................................
158
LISTA DE GRÁFICOS
pág.
GRÁFICO 2.1 Clusters dos indicadores reportados pelas organizações ........ 110
GRÁFICO 1.2 Agrupamento das organizações no Cluster 1 ........................... 116
GRÁFICO 2.3 Agrupamento das organizações no Cluster 2 ........................... 118
GRÁFICO 2.4 Agrupamento das organizações no Cluster 3 ........................... 122
GRÁFICO 2.5 Agrupamento das organizações no Cluster 4 ........................... 124
GRÁFICO 2.6 Agrupamento das organizações no Cluster 5 ........................... 127
GRÁFICO 2.7 Agrupamento das organizações no Cluster 6 ........................... 128
GRÁFICO 2.8 Agrupamento das organizações no Cluster 7 ........................... 130
GRÁFICO 2.9 Agrupamento das organizações no Cluster 8 ........................... 132
LISTA DE QUADROS
pág. QUADRO 1.1 Caracterização das dimensões da Sustentabilidade ................ 45
QUADRO 1.2 Categorias, subcategorias e aspectos das diretrizes GRI - G4 56
QUADRO 1.3 Conceitos sobre Responsabilidade Social ................................ 62
QUADRO 1.4 Consolidação da análise sobre Gestão Social .......................... 66
QUADRO 2.1 Princípios estabelecidos pelas diretrizes GRI – G4 .................. 81
QUADRO 2.2 Evolução da Agenda de Direitos Humanos .............................. 84
QUADRO 2.3 Características comparativas de Gestão Social e
Sustentabilidade........................................................................
90
QUADRO 2.4 Critérios de tipicidade para definição das unidades de
pesquisa ...................................................................................
95
QUADRO 2.5 Tipicidade de Unidades de Pesquisa por similaridade da
maturidade em publicação de Relatórios de Sustentabilidade .
97
QUADRO 2.6 Composição dos Clusters dos indicadores reportados pelas
organizações ............................................................................
111
QUADRO 2.7 Informações sobre os entrevistados ......................................... 151
LISTA DE TABELAS
pág.
TABELA 2.1 Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados
pelas organizações Cluster 1 ...................................................
116
TABELA 2.2 Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados
pelas organizações Cluster 2 ...................................................
119
TABELA 2.3 Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados
pelas organizações Cluster 3 ...................................................
122
TABELA 2.4 Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados
pelas organizações Cluster 4 ...................................................
125
TABELA 2.5 Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados
pelas organizações Cluster 5 ...................................................
127
TABELA 2.6 Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados
pelas organizações Cluster 6 ...................................................
129
TABELA 2.7 Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados
pelas organizações Cluster 7 ...................................................
131
TABELA 2.8 Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados
pelas organizações Cluster 8 ...................................................
133
TABELA 2.9 Teste Kruskal-Wallis comparando as categorias das
empresas .................................................................................
136
TABELA 2.10 Identificação das palavras nas classes .................................... 157
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
A - Nível de Aplicação A das diretrizes GRI
A+
AA
- Nível de Aplicação A das diretrizes GRI e assegurado
externamente
- AcountAbility
Abrang. - Abrangente
ACSP - Associação Comercial de São Paulo
AFD - Análise Pós-fatorial de Correspondência
A4 - Folha com dimensões de 210mm x 297mm
B - Nível de Aplicação B das diretrizes GRI
B+ - Nível de Aplicação B das diretrizes GRI e assegurado
externamente
BB - Banco do Brasil
C - Nível de Aplicação C das diretrizes GRI
C+ - Nível de Aplicação C das diretrizes GRI e assegurado
externamente
CAAE - Certificado de Apresentação para Apreciação Ética
CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CERES - Coalition for Environmentally Responsible Economies
CF/88 - Constituição Federal do Brasil (1988)
CHD - Classificação Hierárquica Descendente
CI
CMMAD
CNPJ
DNV
DS
- Content Index (Índice de Conteúdo)
- Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
- Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica
- Det Norske Veritas
- Desenvolvimento Sustentável
EMAS - Eco Management Audit Scheme
Essec. - Essencial
GRI - Global Reporting Initiative
GS - Gestão Social
G1
G2
- Geração 1
- Geração 2
G3
G3.1
G4
- Geração 3
- Geração 3.1
- Geração 4
G4-DMA - Informações sobre a Forma de Gestão
IA - In Accordance (De acordo)
IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
IFC - International Finance Corporation (Corporação Financeira
Internacional)
inpEV - Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias
IOS - Instituto da Oportunidade Social
Iramuteq - Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes
et de Questionnaires
ISEA - Institute of Social and Ethical AccountAbility
ISO - International Organization for Standardization (Organização
Internacional de Normalização)
KPMG - Klynveld Peat Main Goerdeler
MG - Minas Gerais
mm - Milímetros
nº - Número
ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
OIT - Organização Internacional do Trabalho
ONG - Organização Não Governamental
ONU - Organização das Nações Unidas
PIB - Produto Interno Bruto
PPG-GSEDL - Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e
Desenvolvimento Local
® - Marca Registrada
Rio+20 - Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento
Sustentável
RS - Relatório de Sustentabilidade
SA
Scielo
- Social Accountability
- Scientific Eletronic Library Online
Sd - Self declaration (Auto declaração)
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
U - Undeclared (Não declarado)
UCE - Unidades de Contexto Elementares
UNEP - United Nations Environmental Program
UNESCO
- Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura
3p - Terceira parte
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 21
Justificativa ................................................................................................................ 28
Estrutura da dissertação ........................................................................................... 33
CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 37
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 38
1 DESENVOLVIMENTO .................................................................................... 40
1.1 Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade .......................................... 40
1.2 Os Relatórios de Sustentabilidade e as diretrizes da GRI .............................. 49
1.3 Gestão Social e Responsabilidade Social ...................................................... 58
2 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 68
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 70
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................. 74
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 75
2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................. 78
2.1 Compreendendo as diretrizes da GRI............................................................. 78
2.2 O pilar social dos Relatórios de Sustentabilidade ........................................... 83
3 METODOLOGIA ............................................................................................. 92
3.1 Procedimentos de pesquisa ............................................................................ 92
3.2 Cenário da pesquisa ....................................................................................... 93
3.2.1 Fontes da pesquisa documental ...................................................................... 93
3.2.2 Sujeitos da pesquisa de campo ....................................................................... 99
3.3 Instrumentos de coleta de dados .................................................................. 100
3.3.1 Coleta de Dados da Pesquisa Documental ................................................... 100
3.3.2 Coleta de Dados da Pesquisa de Campo ...................................................... 100
3.4 Análise de Dados da Pesquisa Documental ................................................. 101
3.5 Análise de Dados da Pesquisa de Campo .................................................... 102
3.6 Aspectos Éticos ............................................................................................ 103
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS .................................................................... 105
4.1 Caracterização dos Relatórios de Sustentabilidade ..................................... 105
4.2 Pesquisa Documental: contexto, descritivos e análises ............................... 109
4.3 Contexto da Pesquisa de Campo ................................................................. 149
4.3.1 Resultados da Análise de Conteúdo ............................................................. 151
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 167
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 170
CAPÍTULO 3 ........................................................................................................... 175
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 176
2 DESENVOLVIMENTO .................................................................................. 179
2.1 Indicadores de Sustentabilidade .................................................................... 179
2.2 Inovação Social e o Desenvolvimento Local ................................................. 181
2.3 Descrição do produto técnico ........................................................................ 182
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 187
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 188
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 192
Implicações sociais e gerenciais ............................................................................. 198
Limitações da pesquisa ........................................................................................... 198
Recomendações para pesquisas futuras ................................................................ 200
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 202
APÊNDICE A – Autorização para Coleta de Dados ............................................ 205
APÊNDICE B – Termo de Compromisso de Cumprimento da Resolução Nº
466/2012 ................................................................................................................. 206
APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .......................... 207
APÊNDICE D – Termo de Compromisso de Coleta de Dados ........................... 209
APÊNDICE E – Roteiro de entrevista com os responsáveis pela compilação das
informações para o Relatório de Sustentabilidade ............................................ 210
APÊNDICE F – Composição de indicadores da categoria social do GRI
considerados nas análises da pesquisa ............................................................. 214
APÊNDICE G – Produto técnico: Guia para avaliação de práticas sociais ...... 221
ANEXO A – E-mail de disponibilização da lista de relatórios GRI para a pesquisa
................................................................................................................................. 245
ANEXO B – Parecer do Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário
Newton Paiva ......................................................................................................... 246
21
INTRODUÇÃO
A abrangência e complexidade concernentes aos debates sobre o Desenvolvimento
Sustentável (DS) implicam em reestruturar e tornar tangíveis conceitos, métodos,
instrumentos e práticas capazes de promover as mudanças necessárias no modelo
de desenvolvimento vigente que orienta a sociedade e as organizações
Termos como sustentabilidade, desenvolvimento, inovação são elencados nas pautas
de discussão sobre DS não só pelas organizações, mas também pela sociedade.
Entretanto, essa discussão se torna complexa a partir das diferentes necessidades de
cada um dos grupos de organizações e da sociedade e das características sistêmicas
e transforamdoras propostas por meio dos conceitos e práticas do DS.
Observa-se que os debates sobre o Desenvolvimento Sustentável perpassam
inicialmente a sua delimitação conceitual, sendo a mais conhecida, aquela
apresentada no Relatório Nosso Futuro Comum1, da Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, que diz: “A humanidade é capaz de tornar o
desenvolvimento sustentável – de garantir que ele atenda às necessidades do
presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também
às suas.” (CMMAD, 1991, p. 9). Todavia, existe um conjunto de desafios e
oportunidades a serem estudados e solucionados entre a capacidade de se tornar o
modelo de desenvolvimento em um modelo sustentável e a habilidade de se promover
ações que contribuam no alcance desse desenvolvimento. Assim, é necessário
considerar o DS como um objetivo multidimensional, que contempla minimamente o
equilíbrio entre os pilares social, ambiental e econômico, conhecidos como triple
bottom line ou tripé da sustentabilidade (MENDES, 2009; SARTORI; LATRÔNICO;
CAMPOS, 2014).
Nesse contexto, Guimarães e Feichas (2009) destacam, apesar dos esforços no
desenvolvimento de instrumentos capazes de mensurar o progresso das iniciativas
que almejam o desenvolvimento sustentável, o nível de complexidade dos parâmetros
1 Tradução de Our Common Future, também conhecido como “Relatório de Brundtland”, elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, publicado em 1987, que propõe o conceito de desenvolvimento sustentável.
22
socioambientais envolvidos nessas análises não permitem que esses instrumentos
captem as relações de causalidade inerentes às questões socioambientais.
Em relação a essa reflexão sobre o DS, Dias (2004) amplia o debate apresentando o
termo desenvolvimento socialmente sustentável. O autor destaca a importância do
processo de participação, organização, educação e fortalecimento das pessoas para
que o desenvolvimento socialmente sustentável ocorra. Portanto, esses atores
constituem elemento central das preocupações relativas ao desenvolvimento e para
que esse desenvolvimento seja sustentável, sua abordagem deverá contemplar
recursos econômico-financeiros e ambientais, bem como os aspectos culturais,
históricos e os sistemas locais nos quais esses atores estão inseridos. Ademais,
resgatando o conceito de DS, proposto pelo Relatório Nosso Futuro Comum, os
protagonistas das preocupações referentes ao desenvolvimento são os mesmos
apresentados por Dias (2004), ou seja, a sociedade e seus grupos sociais.
Com o intuito de organizar e divulgar práticas consideradas sustentáveis, conforme
proposto pelo Relatório Nosso Futuro Comum, os Relatórios de Sustentabilidade (RS)
foram se consolidando nas organizações públicas, privadas e sem fins lucrativos como
instrumentos de comunicação e de informações dessas práticas e dos resultados que
realmente contribuem com o DS, na perspectiva dos pilares social, ambiental e
econômico. Porém, tornaram-se necessários a estruturação e o aperfeiçoamento de
referenciais que orientassem a elaboração dos RS, de acordo com a evolução das
necessidades de informações a serem relatadas pelas organizações.
Assim, a utilização de modelos e relatórios que evidenciem adequadamente as
práticas de sustentabilidade adotadas pelas organizações estão se fortalecendo no
Brasil e no mundo. No contexto da América Latina, os resultados dos estudos de
Sierra-García, García-Benau e Zorio (2014) sobre a prática de elaboração de RS e a
credibilidade das informações prestadas nesses relatórios permitem tal afirmação,
destacando o Brasil como o país em posição de liderança na apresentação de
informações e de sua asseguração por auditoria. Logo, as diretrizes da Global
23
Reporting Initiative2 (GRI) representam um dos modelos adotados mundialmente nos
RS, e é considerada uma organização de referência de procedimentos para
elaboração desses Relatórios, conforme os estudos de Oliveira et al. (2014)
sustentam.
Apesar dos RS representarem um instrumento de organização e divulgação de
práticas e resultados de sustentabilidade das organizações, existem críticas a esses
relatórios e às diretrizes da GRI. Para exemplificar essas críticas, os estudos de
Ferreira-Quilice e Caldana (2015) levantaram aspectos negativos dos relatórios e do
modelo da GRI na visão de organizações brasileiras. Dentre as críticas, destacam-se
um modelo de relatório pouco atraente, a não sinceridade de todas as organizações
ao reportarem as informações, a ausência de padrão para o modelo de relatório final,
o nível de classificação da aplicação do relatório pode gerar confusão com o nível de
desempenho em sustentabilidade da organização, a dificuldade no desenvolvimento
do processo de engajamento das partes interessadas por ausência de uma referência
objetiva para esse processo e a utilização do relatório como parte complementar de
análise por falta de informações financeiras que são de análise obrigatória.
Todavia, neste estudo compreende-se que a utilização das diretrizes da GRI, como
referência para a elaboração dos RS, viabiliza certa padronização e a comparabilidade
entre os relatórios, além de servir como orientação contínua para uma gestão
organizacional focada em requisitos que podem contribuir para o Desenvolvimento
Sustentável e para a divulgação dos resultados de desempenho da sustentabilidade
organizacional, conforme os manuais de diretrizes da GRI (2013; 2013a). Mesmo que
autores como Ferreira-Quilice e Caldana (2015) apresentem críticas sobre a real
viabilização da comparabilidade dos RS promovida pelas diretrizes da GRI, estas
trabalham com um conjunto de conteúdos, chamados de padrões específicos, que
precisam ser apresentados pelas organizações, na forma de programas, práticas,
2 Fundada em 1997, a GRI é uma organização sem fins lucrativos, com sede em Amsterdã, na Holanda. A criação da organização foi uma iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (United Nations Environmental Program – UNEP) e da Coalisão para Economias Ambientalmente Responsáveis (Coalition for Environmentally Responsible Economies – CERES) com o propósito de elaborar um documento de referência e orientador para a elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade (RS) e apresentação de suas informações e que pudessem ser utilizados voluntariamente pelas diferentes organizações no mundo.
24
iniciativas ou de indicadores. Esses conteúdos são divididos nas categorias
econômica, ambiental e social, constituindo os três pilares da sustentabilidade,
reconhecidos objetivamente nas diretrizes da GRI. Diferentemente das categorias
econômica e ambiental, a categoria social ainda se divide nas subcategorias: (i)
práticas trabalhistas e trabalho decente, (ii) direitos humanos, (iii) sociedade e (iv)
responsabilidade pelo produto.
Em relação à evolução dessas diretrizes, os Relatórios de Sustentabilidade das
organizações que as utilizam e publicados a partir de 1999 foram estruturados com
base nas diferentes versões propostas pela GRI. A versão G1 foi publicada em 2000;
a versão G2, em 2002; a G3, em 2006; a G3.1, em 2011; a versão G4, em 2013,
conhecida como GRI – G4 (objeto desse estudo) e, em 2016, foram lançadas as
Normas GRI.
De acordo com Terreo (2014), a evolução das diretrizes da versão G1 para a G3
compreendeu mudanças em seu conteúdo que objetivaram maximizar a clareza
dessas diretrizes, permitindo maior compreensão das organizações em relação aos
princípios a serem adotados na elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade. De
maneira complementar, o aperfeiçoamento da versão G3 para a G4 consistiu em
melhoria da qualidade técnica dos indicadores e protocolos, estabelecimento de
requisitos prescritivos sobre a materialidade3 das informações apresentadas no RS e
sobre a cadeia de fornecedores das organizações. Em contrapartida, o lançamento
das Normas GRI contempla maior clareza dos elementos mandatórios e opcionais
para o relato, esclarecimentos conceituais e são distribuídos em trinta e seis (36)
documentos, divididos em normas universais e normas específicas das dimensões
sociais, econômicas e ambientais. Observa-se que as mudanças estruturais não
representam uma nova versão das diretrizes da GRI no que tange ao conteúdo.
Ademais, mesmo que as diretrizes da GRI estejam focadas nos três pilares principais
da sustentabilidade, ressalta-se, nas discussões propostas por autores como Sachs
(1993), outros pilares da sustentabilidade são contemplados, tais como, o político e o
3 A materialidade representa a relevância das informações apresentadas no RS definida com as partes interessadas, auxiliando-as nas análises e decisões sobre os desempenhos econômico, social e ambiental apresentados pela organização emissora do RS.
25
cultural. Entretanto, apesar da relação entre estes pilares e os aspectos sociais, esse
estudo não os discutiu, pois não pertencem à estrutura apresentada pelas diretrizes
da GRI e não são contemplados de forma direta nos seus indicadores. Além disso, a
temática dessa pesquisa é a categoria social dos Relatórios de Sustentabilidade
baseados nas diretrizes da GRI, geração 4, pois o foco do estudo são as práticas
sociais das organizações. Ressaltando, que não é pretensão deste estudo analisar o
contexto de trajetória e inserção política, social e cultural dessas organizações e sim
os relatos de práticas registrados em seus RS.
A dedicação à análise do pilar social da sustentabilidade também é justificada, pois
nas diretrizes da GRI, a categoria social e suas subcategorias se destacam diante da
abrangência e do detalhamento quando comparados às categorias ambiental e
econômica. Este contexto gerou discussões sobre a relação do pilar social proposto
pela GRI com os constructos de Gestão Social da literatura específica.
Essa delimitação possibilita a identificação de possíveis restrições apresentadas no
modelo GRI e nos relatórios de sustentabilidade. Outro fator relevante de acordo com
as pesquisas de Cançado, Tenório e Pereira (2011) é que a gestão social no Brasil
representa um campo em desenvolvimento conceitual, conclusão pautada também
por outros autores como Perret et al. (2009) e Peres Jr. e Pereira (2014), o que atribui
a esta pesquisa possibilidades variadas de discussão. Nesse debate, não se pode
desconsiderar os questionamentos relativos às iniciativas de responsabilidade social,
que se limitam às ações concernentes aos interesses exclusivamente institucionais,
sem de fato buscarem a convergência de atendimento às demandas comuns entre a
organização e as partes interessadas4.
A utilização dessas referências não quer dizer que as organizações compreendam os
conceitos fundamentais dos seus requisitos e que as pessoas envolvidas na
elaboração desses Relatórios possuam o nível necessário de entendimento e de
conhecimento sobre sustentabilidade e seus pilares, que possibilitem a interpretação
correta dos modelos e dos instrumentos utilizados na elaboração adequada desses
4 Partes interessadas e stakeholders são considerados sinônimos. As partes interessadas podem ser internas, como é o caso dos empregados, e externas como os sindicatos, comunidades locais e outros.
26
Relatórios. Portanto, a possibilidade de existirem lacunas conceituais ou de
compreensão das diretrizes utilizadas nos RS é que estimularam estudos como o
proposto nessa pesquisa, principalmente, quando se observa especificamente a
categoria social, que está associada a um processo de construção e debate conceitual
de seus construtos e pressupostos.
Nesse contexto, ao refletir sobre as iniciativas de sustentabilidade, na perspectiva da
evolução das organizações e na mudança sobre a questão social no decorrer do
tempo, Dowbor (1999) discute sobre a profunda transformação da área social e sua
relação com as questões econômicas: uma área que se transforma de uma posição
filantrópica e assistencialista, que representa uma tranquilidade às consciências
capitalistas, para uma visão de que a área social se tornou fundamental às atividades
econômicas. Essa mudança no tratamento das questões sociais nas organizações
ainda pode ser percebida uma vez que colocam em pauta elementos relevantes como
a qualidade de vida, a saúde, a educação, a cultura, o lazer e a informação.
Diante desse processo de transformação da área social e da necessidade de
compreender as concepções e os conceitos aplicáveis às práticas sociais
organizacionais divulgadas por meio dos Relatórios de Sustentabilidade, a questão
norteadora desta pesquisa é:
• Como as percepções e concepções sobre a gestão social das organizações e
das pessoas envolvidas na elaboração dos relatórios de sustentabilidade estão
descritas na categoria social das diretrizes da GRI e dos Relatórios de
Sustentabilidade?
O objetivo geral consistiu em analisar a correspondência entre os elementos
caracterizadores de uma gestão social e aqueles da categoria social das diretrizes da
Global Reporting Initiative GRI – G4 e de Relatórios de Sustentabilidade, no ano de
2015, tendo em vista o desenvolvimento de intervenção na área de gestão social com
características de inovação social e como potencializadora para o desenvolvimento
local. Logo, cabe salientar que a intervenção proposta como produto técnico desta
pesquisa foi orientada pela potencialidade de criação de valor para os grupos sociais
27
e para as demais partes interessadas nas práticas sociais promovidas por
organizações e na difusão do conhecimento gerado da análise dessas práticas,
alinhado com os estudos de Bignetti (2011) sobre inovação social.
Foram três os objetivos específicos propostos:
I. Realizar revisão teórica sobre as temáticas: Desenvolvimento Sustentável,
Relatórios de Sustentabilidade, Diretrizes da GRI, Gestão Social e
Responsabilidade Social.
II. Identificar os pressupostos de Gestão Social em Relatórios de
Sustentabilidade 2015 de organizações brasileiras, elaborados à luz das
diretrizes da GRI.
III. Analisar as percepções de Gestão Social dos profissionais responsáveis
por Relatórios de Sustentabilidade de organizações brasileiras que utilizam
como referência as diretrizes da GRI.
IV. Elaborar um guia para avaliação das práticas sociais organizacionais para
a promoção da inovação social em prol da sustentabilidade e do
desenvolvimento local.
Nesse contexto, ao observar os RS elaborados conforme a GRI e a aplicação dos
conceitos de GS às organizações relatoras de RS foram elaboradas as seguintes
premissas para verificação por meio dessa pesquisa:
• A categoria social do GRI possui requisitos alinhados aos principais
constructos de gestão social.
• A categoria social nos Relatórios de Sustentabilidade analisados não
apresenta os constructos de gestão social em seu processo de elaboração
ou em sua estrutura.
• As pessoas envolvidas na elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade
não adotam os principais constructos de gestão social nesse processo.
28
• Os Relatórios de Sustentabilidade de acordo com as diretrizes da GRI – G4
contribuem com o aperfeiçoamento das práticas relativas à gestão social.
• Os Relatórios de Sustentabilidade se restringem à descrição de práticas de
responsabilidade social.
• As práticas de responsabilidade social podem ser aperfeiçoadas na
perspectiva de gestão social.
Baseada nos resultados das análises estatísticas aplicadas à pesquisa documental e
dos resultados das análises de conteúdo da pesquisa de campo, a contribuição
técnica dessa dissertação é um guia para avaliação de práticas sociais
organizacionais de sustentabilidade, desenvolvido na perspectiva da gestão social
relacionada às diretrizes do GRI e dos desafios e, ou, lacunas de compreensão
conceitual e prática identificados na pesquisa. Assim, o guia servirá como fonte de
informações e aprendizado para a melhoria do desempenho organizacional,
contribuindo com a dimensão social do Desenvolvimento Sustentável.
Esse material será destinado aos profissionais que elaboram, contribuem ou avaliam
informações para os Relatórios de Sustentabilidade, estudantes, pesquisadores,
líderes que tenham contato com o pilar social da sustentabilidade ou que precisam
compreender melhor esse pilar para colocá-lo em prática, assim como para os
cidadãos que possuam interesse por essa temática. Este guia se aplica às práticas
sociais de organizações públicas, privadas e sem fins lucrativos.
Justificativa
A proposta de estudar a categoria social dos Relatórios de Sustentabilidade baseados
nas diretrizes da GRI-G4, justifica-se pela correlação interdisciplinar e
interdependente entre as práticas elencadas na categoria social dos Relatórios de
Sustentabilidade, orientados pelas diretrizes da GRI e pelas discussões dos
constructos e pressupostos referentes à gestão social. Tal proposta propiciará
reflexões, ajustes ou, até mesmo, novos direcionamentos para as práticas sociais
29
registradas pelas organizações, pois a gestão social (como um processo contínuo de
relação social entre as organizações e sociedade) pode ser promovida por práticas
sociais organizacionais, desde que estas consigam ultrapassar a abordagem
tecnicista e administrativa do termo gestão, conforme proposto pelas reflexões de
Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012).
A adequada compreensão das diretrizes da GRI e dos constructos de gestão social
nas organizações podem contribuir com o Desenvolvimento Sustentável e com a
integração sistêmica dos pilares da sustentabilidade, ao considerar que a
sustentabilidade é discutida inicialmente na relação entre sociedade, ambiente e fator
econômico, na perspectiva do desenvolvimento. O que inclui, no contexto das
organizações, a necessidade de amadurecimento das práticas reconhecidas como de
responsabilidade social para uma percepção ampliada das relações emancipatórias
sociais, como aquelas propostas por Maia (2005) e Cançado, Tenório e Pereira (2011)
em seus estudos.
Essas percepções são propícias às inovações sociais e ao desenvolvimento local,
uma vez que o amadurecimento das iniciativas, reconhecidas como de
responsabilidade social, pode se estruturar na perspectiva de ações promovidas e
promotoras de gestão social, maximizando os resultados de desenvolvimento para as
organizações e suas partes interessadas e para os territórios onde realizam suas
atividades.
Desta forma, a potencialidade de contribuição das práticas e dos resultados do pilar
social da sustentabilidade organizacional é maximizada e permite contribuição efetiva
aos objetivos propostos para um DS. Na perspectiva da gestão social, as adequações
não se limitam às práticas, mas também ao processo de gestão da sustentabilidade
organizacional, como um processo participativo, dialógico e democrático,
pressupostos de gestão social elencados por Maia (2005), Pimentel et al. (2011) e
Cançado, Tenório e Pereira (2011). Processo este que se alinha à necessidade
apresentada no documento O futuro que queremos5 da ONU (2012), resultante da
5 O futuro que queremos é o documento final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que apresenta as proposições acordadas entre as delegações dos Estados-Membros da ONU e demais especialistas envolvidos para um Desenvolvimento
30
Rio+20, ao propor melhoria na integração dos aspectos econômicos, sociais e
ambientais em todos os níveis, sejam eles, internacionais, nacionais, regionais e
locais, e ainda nas organizações públicas, privadas e sem fins lucrativos e na
sociedade.
É nesta necessidade de integração desses aspectos que se destacam as diretrizes
da GRI, como uma ferramenta reconhecida mundialmente por empresas, poder
público e organizações não govermentais (ONG), para o alinhamento e disseminação
da prática de elaboração de Relatórios de Sustentabilidade, que contribuem para a
melhoria da comunicação de informações de sustentabilidade para os públicos de
interesse permitindo, assim, a comparabilidade das informações prestadas e,
consequentemente, das ações desenvolvidas. As diretrizes da GRI ainda tornam
possível analisar as diferentes práticas, quando são compreendidos os elementos
ambiental, social e econômico em um processo contínuo de aperfeiçoamento.
Todavia, não se pode deixar de ressaltar que os RS que utilizam como referência as
diretrizes da GRI também possuem gargalos como os identificados pela pesquisa de
Oliveira et al. (2014), dos quais se destacam a apresentação de informações limitadas
em alguns RS; a ausência de demonstração das externalidades negativas das
organizações relatoras; o nível de subjetividade da seleção dos indicadores que serão
contemplados nos RS e, até mesmo, a padronização da apresentação das
informações entre as organizações, o que inclui a periodicidade das informações
relatadas.
Para a área de concentração do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social,
Educação e Desenvolvimento Local (PPG-GSEDL), Inovações Sociais e
Desenvolvimento Local, essa pesquisa possui relevância quando se percebe que as
diretrizes da GRI e os RS, objetos dessa análise, são considerados como
instrumentos ou iniciativas estratégicas de Desenvolvimento Sustentável e estimulam
a promoção de inovações nas organizações que os implementam.
Sustentável. Neste documento foi destacado que a erradicação da pobreza é o maior desafio global para o Desenvolvimento Sustentável.
31
Ao observar os requisitos básicos definidos pela GRI, pode-se perceber o estímulo ao
processo de inovação, quando essas diretrizes definem como um dos seus princípios
de relato, a publicação da melhoria do desempenho dos seus indicadores e das
iniciativas organizacionais apresentadas nos seus RS, permitindo que as partes
interessadas consigam analisar mudanças no desempenho das organizações no
decorrer do tempo. Para isso, novas ações de aperfeiçoamento das práticas e
resultados sociais precisam ser tomadas em esfera local e com repercussão global, o
que representa um ambiente promissor para a inovação social no contexto do
desenvolvimento de parcerias, promoção e estímulo da participação social, geração
do conhecimento em rede e observância das reflexões propostas para o DS no
Relatório de Brundtland6.
Na linha de pesquisa, Gestão Social e Desenvolvimento Local, este estudo é
importante na perspectiva de que a implantação, avaliação e prestação de contas
sobre a sustentabilidade praticadas pelas organizações, do Primeiro, Segundo e
Terceiro Setores, podem contribuir com o Desenvolvimento Local e a partir deste,
caminhar para o alcance de um Desenvolvimento Sustentável. Neste contexto,
considera-se que as ações organizacionais que contribuem para o DS precisam ser
capazes de promover a transformação local com impactos socioambientais e
econômicos positivos que, no âmbito do Desenvolvimento Local, torna-se elemento
relevante para a proposta de Desenvolvimento Sustentável na dimensão global.
Assim, essas organizações buscam uma validação de sua gestão da e para a
sustentabilidade, orientada por diretrizes reconhecidas mundialmente, como as da
GRI, comunicando suas ações e resultados para as partes interessadas, o que
estimula a continuidade e a melhoria dessas práticas, seja na esfera social, seja na
ambiental, seja na econômica, conforme os atuais pilares adotados pela GRI.
Portanto, as reflexões de pesquisa orientadas pela Gestão Social e Desenvolvimento
Local ainda podem permitir suporte às práticas de sustentabilidade entre os diferentes
setores da sociedade, poder público, iniciativa privada e ONG. Além disso, tais
6 O Relatório de Brundtland é um documento elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU), publicado em 1987 e nomeado de Our Common Future (Nosso Futuro Comum). Esse Relatório discute sobre os padrões de desenvolvimento pautados no consumo, destaca a concepção de desenvolvimento sustentável e elenca um conjunto de propostas necessárias para que esse desenvolvimento seja alcançado.
32
reflexões podem promover, de forma efetiva, a mobilização dos sujeitos que possuem
interesse nessas organizações, resultante de um amadurecimento do conhecimento
dos pilares da sustentabilidade; no caso específico desse estudo, maior conhecimento
do pilar social. Esse amadurecimento contribuirá com os debates teóricos na área de
gestão social, assim como, contribuirá com a construção de soluções alternativas e
inovadoras para a gestão do Desenvolvimento Sustentável a partir de ações
promovidas no contexto do desenvolvimento local, reconhecendo que ao trabalhar
uma prática no âmbito social, ela irá contemplar os aspectos internos e externos das
organizações7, o que inclui as questões de desenvolvimento local e o protagonismo
dos sujeitos como cidadãos.
A trajetória acadêmica do pesquisador é pautada em uma formação com foco na
gestão da sustentabilidade. Já o percurso profissional possibilitou ao pesquisador a
implantação e manutenção de práticas e indicadores de sustentabilidade que
contribuíram para a elaboração de RS e processos de verificação e validação das
informações relatadas nesses documentos. Logo, este trabalho permitiu uma
avaliação crítica relacionada às práticas com as quais o pesquisador já teve e tem
contato em sua vida profissional, mas sob uma perspectiva diferenciada pelo nível de
detalhamento agregado à análise do pilar social e pelo debate estruturado dos temas
Desenvolvimento Sustentável, sustentabilidade organizacional, Gestão Social e
práticas socioambientais em uma posição de pesquisador e não mais como parte
envolvida no processo de elaboração dos RS.
Esta pesquisa ainda corroborou com a formação do pesquisador atribuindo estudos
interdisciplinares à sua formação, além de contribuir com o seu trabalho docente em
disciplinas nas áreas de gestão ambiental e gestão empresarial. Portanto, este
trabalho ampliou os conhecimentos sobre os modelos de sustentabilidade
desenvolvendo maior consistência técnica e crítica em relação às diretrizes e
instrumentos que têm como objetivo promover o Desenvolvimento Sustentável, a
partir da ação individual (organizacional) como preconiza o Relatório de Brundtland.
7 Os aspectos internos das organizações correspondem principalmente às questões relacionadas aos seus processos e controles internos, assim como relativos ao público interno da organização como os empregados, líderes e outros. Os aspectos externos estão vinculados às relações externas da organização as demais partes interessadas, como fornecedores, comunidades locais, poder público e outros, e também vinculado às ações externas ao contexto das operações da organização.
33
Estrutura da dissertação
A dissertação está estruturada em três capítulos além desta Introdução e das
Considerações Finais. Cada parte possui informações que estão inter-relacionadas
pela lógica de desenvolvimento da pesquisa. Os capítulos possuem a estrutura de
artigos científicos que articulam cada etapa da pesquisa, conforme apresentado na
Nota Introdutória.
O primeiro capítulo apresenta uma revisão de literatura, resultante de estudos e
pesquisa bibliográfica sobre Desenvolvimento Sustentável e sustentabilidade,
Relatórios de Sustentabilidade e as diretrizes da GRI e, por fim, sobre Gestão Social
e Responsabilidade Social, no período de 1991 a 2017.
Neste capítulo, a revisão de literatura apresenta debates sobre o desenvolvimento e
Desenvolvimento Sustentável e, para este, buscou elementos que não se limitam à
abordagem ambiental do conceito. Nesta perspectiva, discutiu-se sobre as dimensões
do desenvolvimento: social, econômica, cultural, ecológica, política e territorial e a
apresentação de conceitos de sustentabilidade para que se consiga compreender a
amplitude do tema e a necessidade de sua delimitação para uma abordagem clara e
aplicada ao contexto desse estudo. Isto se tornou relevante, pois a pesquisa
contempla como objeto de estudo, organizações privadas, públicas e entidades da
sociedade civil sem fins lucrativos e a mitigação de vieses na compreensão de
sustentabilidade na realidade dessas organizações.
Este primeiro capítulo também se dedicou a apresentar a importância dos Relatórios
de Sustentabilidade na descrição das informações referentes às práticas e aos
resultados das organizações que contribuem para o DS. Logo, como as diretrizes da
GRI são referências mundiais para a elaboração desses relatórios, e também por
constituírem objeto dessa pesquisa, foram descritas a estrutura delas e sua
metodologia para o desenvolvimento dos relatos de sustentabilidade.
Ademais, o capítulo um (1) aborda a caracterização da Gestão Social e da
Responsabilidade Social, buscando revelar seus elementos de convergência e
34
divergência além de se dedicar, de forma significativa, a definir quais são os
pressupostos de Gestão Social resultantes da análise da discussão de artigos como
Dowbor (1999), Tenório (2009) e Cançado, Tenório e Pereira (2011). Esta etapa de
caracterização da Gestão Social se consolida na definição desta pesquisa, e também
na definição dos construtos que serão utilizados como referência para as análises dos
resultados das pesquisas (documental e de campo) apresentadas no capítulo dois (2).
Assim, o segundo capítulo da dissertação dedica-se à análise documental dos doze
(12) Relatórios de Sustentabilidade selecionados como objeto de estudo. Para esses
relatórios, foram avaliadas e classificadas as informações da categoria social ao
agrupar o conjunto desses indicadores nas organizações analisadas. Neste capítulo,
também foram analisados os conteúdos obtidos nas entrevistas com profissionais
responsáveis pelos RS de quatro (4) das organizações estudadas. Nesta fase,
utilizou-se o software Iramuteq para a organização e classificação dos dados
coletados e foram relatadas as percepções sobre as categorias: (i) Gestão Social
aplicada à sustentabilidade organizacional; (ii) concepção e elaboração do RS; (iii)
partes interessadas e materialidade8 dos RS e (iv) práticas socioambientais para a
sustentabilidade organizacional.
Com base nesses resultados, foi possível identificar como as percepções e
concepções sobre a Gestão Social das organizações estão presentes nos Relatórios
de Sustentabilidade e quais constructos de Gestão Social foram encontrados nas
diretrizes da GRI, nos RS e nas percepções dos profissionais dessas organizações
que se dedicaram a elaboração desses relatórios.
Por fim, o terceiro capítulo aborda as reflexões relativas às inovações sociais e ao
desenvolvimento local e como essas se tornam referência para os debates sobre os
resultados alcançados das práticas de sustentabilidade nas organizações analisadas.
Logo, o capítulo três (3) congrega o conjunto de aprendizados oriundos dos estudos
do primeiro e segundo capítulos, tanto no desenvolvimento de práticas e alcance dos
resultados relacionados ao pilar social da sustentabilidade, quanto no
8 Também chamada de relevância. Constitui um item dos RS no modelo da GRI que fornece informações necessárias para subsidiar as partes interessadas em suas decisões sobre os desempenhos econômico, social e ambiental da organização relatora.
35
aperfeiçoamento dos RS. O capítulo também apresenta um guia para avaliação de
práticas sociais organizacionais de sustentabilidade, composto por um modelo
estruturado de fatores concernentes à gestão social que podem contribuir para o
monitoramento de práticas sociais como as de responsabilidade social, assim como
fomentar o aperfeiçoamento dessas iniciativas. Espera-se neste capítulo demonstrar
que o produto técnico e de intervenção desenvolvido com base nesse estudo, possua
características de inovação social e que seja potencializador para o desenvolvimento
local conforme conceituações apresentadas no primeiro capítulo.
A Figura 1 ilustra a sistematização da estrutura desta dissertação e os elementos que
podem ser observados em cada uma das partes.
36
Fonte: Elaborado pelo autor.
Figura 1 – Sistematização da estrutura da dissertação.
Capítulo 1
Capítulo 2
Artigo de relato de pesquisa sobre os RS e as diretrizes da GRI na perspectiva da Gestão Social, apresentando a metodologia de análise, os resultados e discussão desse estudo.
Capítulo 3
Artigo de apresentação do produto técnico com o objetivo de intervenção na realidade por meio de guia para avaliação de práticas sociais que possui como referência a aplicação dos conceitos de Gestão Social para o aperfeiçoamento de inicitativas de sustentabilidade das organizações e dos seus RS, no contexto da inovação social e do desenvolvimento local.
Introdução
Apresenta o tema, problema, questão central da pesquisa, hipóteses, objetivo geral, objetivos específicos, justificativas e o plano de capítulos da dissertação.
A
B
Considerações finais
Apresenta as considerações finais da dissertação diante do conjunto de resultados e reflexões da pesquisa; as limitações da pesquisa e a sugestão para trabalhos futuros.
C
Referências
Apresenta as referências utilizadas nas partes de introdução e considerações finais, quando aplicáveis.
D
Apêndices e Anexos
Apresenta os apêndices e os anexos de todas as partes da dissertação. E
Artigo de revisão de literatura da pesquisa que dialoga sobre os temas:
• Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade. • Relatórios de Sustentabilidade e as diretrizes da GRI. • Gestão Social e Reponsabilidade Social.
37
CAPÍTULO 1
OS RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE COMO INSTRUMENTOS DE
GESTÃO SOCIAL PARA AS ORGANIZAÇÕES
THE SUSTAINABILITY REPORTS AS INSTRUMENTS OF SOCIAL
MANAGEMENT FOR ORGANIZATIONS
Rafael Alves de Araujo Castilho9
Fernanda Carla Wasner Vasconcelos10
RESUMO O Relatório de Sustentabilidade (RS) tem se consolidado como um dos instrumentos utilizados pelas organizações para a comunicação das suas práticas e do seu desempenho em relação aos pilares do Desenvolvimento Sustentável (DS). Referenciais para a elaboração e aperfeiçoamento desses relatórios são necessários e as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI) se despontam como um dos parâmetros utilizados em todo o mundo e também pelas organizações brasileiras, o que atribui materialidade e comparabilidade aos relatos. Logo, o objetivo deste artigo é identificar a convergência entre os conceitos de DS e Sustentabilidade e os constructos de Gestão Social no contexto das práticas de sustentabilidade organizacional e dos RS. A metodologia deste estudo apresenta abordagem qualitativa de cunho descritivo, com a utilização de procedimentos que incluem a realização de uma pesquisa bibliográfica para suporte teórico desenvolvido por meio de uma revisão de literatura sobre os temas: DS, Sustentabilidade, RS, GRI, Gestão Social e Responsabilidade Social. Como resultado, constatou-se que os desafios do DS fomentam os requisitos das diretrizes da GRI e consequentemente dos Relatórios de Sustentabilidade, contudo, observou-se que existe uma convergência teórica entre os pressupostos de Gestão Social e as potencialidades de aperfeiçoamento e inovação das práticas relacionadas ao pilar social da sustentabilidade organizacional, a partir das ações de responsabilidade social. Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável. Global Reporting Initiative. GRI. Sustentabilidade. Responsabilidade Social.
9 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]. 10 Doutora em Ciências e professora do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected].
38
ABSTRACT The Sustainability Reports (SR) has been consolidated as one of the instruments used by organizations for the communication of its practices and performances related to the Sustainable Development (SD) pillars. References for the elaboration and improvement of these reports are necessary and the guidelines of the Global Reporting Initiative (GRI) emerge as one of the parameters used throughout the world and also by the Brazilian organizations, attributing materiality and comparability to the reports. Therefore, the objective of this article is to identify the convergence between the concepts of SD and Sustainability and the Social Management constructs in the context of the practices of organizational sustainability and SR. This study methodology presents a descriptive qualitative approach, with the use of procedures that include the accomplishment of a bibliographic research for theoretical support developed through a literature review on the themes: SD, Sustainability, SR, GRI, Social Management and Social responsibility. As a result, it was found that the challenges of the SD promote the requirements of the GRI guidelines and consequently of the Sustainability Reports. However, it was observed that there is a theoretical convergence between the Social Management assumptions and the potential for improvement and innovation of practices related to the social pillar of organizational sustainability, based on social responsibility actions. Keywords: Sustainable Development. Global Reporting Initiative. GRI. Sustainability. Social Responsibility.
1 INTRODUÇÃO
O modelo de desenvolvimento, atualmente pautado no consumo e direcionado ao
crescimento econômico, não permitiu o alcance da esperada qualidade de vida das
comunidades nem a conservação dos ecossistemas naturais. Portanto, repensar este
modelo fomenta a avaliação das ações de sustentabilidade como aquelas promovidas
e divulgadas pelas organizações públicas, privadas e sem fins lucrativos. Logo, para
uma avaliação estruturada dessas iniciativas, presentes nos Relatórios de
Sustentabilidade (RS), emergem os desafios de compreender e equilibrar os múltiplos
elementos que compõem a sustentabilidade e a necessidade de refletir sobre o que
representa um desenvolvimento realmente sustentável.
Segundo Pelicioni (1998), um novo paradigma é estabelecido pela sociedade atual,
pautado na necessidade de opções econômicas e tecnológicas diferentes daquelas já
utilizadas, que sejam capazes de sustentar o atendimento das demandas dos povos,
considerando as diversidades ecológicas, sociais e culturais.
39
O objetivo dessa revisão teórica é identificar a convergência entre os conceitos de
Desenvolvimento Sustentável (DS) e Sustentabilidade e os constructos de Gestão
Social no contexto das práticas de sustentabilidade organizacional e dos RS. Para
isso, a metodologia adotada nesta seção apresenta natureza qualitativa e é descritiva
quanto aos fins. O procedimento inclui a realização de uma pesquisa bibliográfica,
com enfoque nos temas Desenvolvimento Sustentável, Sustentabilidade e seus
pilares, Relatórios de Sustentabilidade, Global Reporting Initiative (GRI), Gestão
Social e Responsabilidade Social, a partir de um levantamento realizado nos sites:
Google Acadêmico, IBICT e SCIELO, considerando publicações científicas, do
período de 1991 a 2017.
O referencial teórico deste trabalho dividiu os temas da pesquisa bibliográfica em três
blocos norteadores. O primeiro deles relaciona-se ao desenvolvimento sustentável
(DS) e sustentabilidade: conceitos e objetivos. O segundo se refere aos Relatórios de
Sustentabilidade (RS) como elemento fundamental para o aprimoramento das
organizações visto a divulgação de suas práticas ambientais, sociais e econômicas,
com ênfase no conceito e na caracterização das diretrizes propostas pela Global
Reporting Initiative (GRI). Por fim, são apresentados pressupostos e concepções de
gestão social aplicáveis às práticas de desenvolvimento sustentável, descritas nos
relatórios de sustentabilidade.
Assim, a investigação teórica sobre elementos conceituais desta revisão de literatura
buscou o resgate de significados e sentidos dos termos DS, Sustentabilidade e GS
para que, no desenvolver da pesquisa, fosse possível avaliar de forma estruturada as
iniciativas do pilar social da sustentabilidade apresentadas pelas organizações nos
seus RS. Entretanto, outros propósitos compuseram esta revisão, como esclarecer a
convergência e divergência entre a Responsabilidade Social e GS, consolidar as
percepções sobre os constructos de GS e compreender a origem e a estrutura das
diretrizes da GRI e dos RS.
Por conseguinte, a palavra sustentabilidade aplicada aos diversos contextos para os
quais não há uma significação precisa, implica na banalização do uso da palavra,
desconsiderando o seu propósito fomentador de iniciativas eficazes para um
40
desenvolvimento considerado sustentável. O mesmo acontece com o termo gestão
social. Em ambos os casos, torna-se premente a análise aprofundada dos constructos
que permitam evidenciar o real propósito destes termos no sentido de não limitar o
uso das palavras social e sustentabilidade como adjetivos. Portanto, quando as
análises e o uso consciente da sustentabilidade e da GS são aplicados aos RS, estes
(análise e uso consciente) podem representar ferramentas úteis para o estudo de
práticas organizacionais e podem permitir o aperfeiçoamento destas por meio de uma
crítica consistente sobre o que pode torná-las ações concretas em prol do
desenvolvimento sustentável.
1 DESENVOLVIMENTO
1.1 Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade
De acordo com Mendes (2009), o conceito de desenvolvimento se associou por um
longo período ao crescimento econômico, desconsiderando a diversidade dos
sistemas sociais, políticos e econômicos existentes, contexto também destacado nos
estudos de Pelicioni (1998). Este modelo de associação pautou-se na crença de que
a geração de riqueza por meio da industrialização fosse capaz de aumentar o bem-
estar social. Todavia, as externalidades socioambientais negativas resultantes dessa
relação desenvolvimento e crescimento, quase não eram observadas. Ratificando
essa mesma abordagem, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento relata que a limitação do uso do termo desenvolvimento foi resultado
do seu emprego contínuo em um processo necessário para o enriquecimento das
nações pobres (CMMAD, 1991).
Nesse contexto, Flores, Vieira e Xaubert (2012) abordam que a preocupação com a
postura de consumo do homem e o esgotamento dos recursos naturais representaram
elementos que incentivaram as discussões das diversas conferências mundiais sobre
esses temas. A partir delas, o debate e a evolução sobre a ciência ambiental foram
maximizados, surgindo novas categorias como o Desenvolvimento Sustentável e a
Governança Ambiental, sendo que a visão socioambiental não mais se limitava à
abordagem técnica do meio ambiente. Portanto, os autores resgatam o termo
41
socioambientalismo apresentado por Guimarães (2001), termo que corresponde ao
dever das políticas públicas ambientais em incluir e envolver as comunidades locais,
considerando seus conhecimentos e práticas de manejo ambiental. Assim, um país
pobre e com tantas desigualdades sociais não pode se restringir à promoção da
sustentabilidade ambiental, mas sim colocar na agenda de a sustentabilidade social
como agente que promove valores como a justiça social e a equidade. Através da GS,
esse país deveria contribuir para a redução da pobreza e das desigualdades sociais,
considerar e valorizar a diversidade cultural e consolidar o processo democrático no
país por meio da ampla participação social na gestão ambiental.
Assim, é válido compreender a inter-relação entre pobreza, desigualdade e
degradação ambiental e que estas representam o desperdício de oportunidades e de
recursos, mas estimulam o propósito de mudanças sob a perspectiva econômica
integrada aos elementos socioambientais correlatos. Assumindo o compromisso de
se repensar o crescimento e seus efeitos, que se delimitou o conceito de DS, no
Relatório de Brundtland, em 1987. Todavia, a apresentação conceitual de DS nesse
documento, bem como as variáveis que precisam ser observadas para o seu alcance,
não possuem como propósito limitar os debates sobre o desenvolvimento, o
crescimento econômico, a influência humana e os impactos sociais e ambientais.
Neste interim, Dias (2004) ressalta que na Conferência de Estocolmo, em 1972, a
Declaração da Organização das Nações Unidas (ONU), sobre o Meio Ambiente
Humano, cita que, para a garantia de uma vida e de um trabalho adequados ao
homem, é fundamental a criação de condições favoráveis à melhoria da qualidade de
vida no nosso Planeta e à promoção do desenvolvimento tanto no âmbito econômico
quanto no social.
Esclarecendo o breve relato anterior, em 1987, o Relatório Nosso Futuro Comum
conceitua Desenvolvimento Sustentável (DS) como um processo de mudança no qual
a relação entre as necessidades atuais e futuras definirá o perfil de exploração dos
recursos naturais e humanos, a orientação dos investimentos, os caminhos e objetivos
do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional. O Relatório afirma que: “A
humanidade é capaz de tornar o desenvolvimento sustentável – de garantir que ele
42
atenda às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações
futuras antederem também às suas.”
A delimitação conceitual do DS, recortada do Relatório de Brundtland, destaca o
trecho referente à capacidade da humanidade em promover um novo perfil de
desenvolvimento. Este trecho geralmente é suprimido pelas pessoas ao divulgarem
tal conceito, o que permite uma interpretação isenta do sujeito responsável pela
mudança que se faz necessária. Portanto, a perspectiva de uma nova fase de
crescimento econômico, na qual as questões socioambientais atuais sejam
consideradas, assim como, as das futuras gerações, ainda é carente ou limitada por
questões tecnológicas e de organização social. Entretanto, o aperfeiçoamento da
relação homem-natureza está pautado na observância da resiliência do planeta diante
das ações antrópicas, na própria sensibilização em relação às responsabilidades
pelas mudanças, no atendimento às necessidades básicas das pessoas e na criação
de condições para melhoria da qualidade de vida que as pessoas desejarem
(CMMAD, 1991).
Gro Harlem Brundtland11 ressalta, no prefácio do relatório, a importância do homem e
do pilar social nas discussões sobre o Desenvolvimento Sustentável e aponta o
equívoco dessa Comissão em considerar a importância somente das questões
ambientais, visto que o meio ambiente não é um elemento desvinculado das ações,
das ambições e das necessidades humanas.
Portanto, quando a CMMAD (1991) destaca o atendimento às necessidades básicas
das pessoas, com ele estão abordadas questões fundamentais como a garantia da
equidade, assegurada por sistemas políticos que contemplem de forma estruturada a
participação cidadã e democrática no processo decisório em âmbito internacional, o
que neste momento, cabe salientar que ainda é um desafio promover este sistema em
nível nacional.
11 Gro Harlem Brundtland é uma médica norueguesa, líder internacional de assuntos referentes ao DS e saúde pública e foi nomeada Primeira Ministra da Noruega, em 1981. Possui atuação política, diplomática e no período de 1983 e 1987 presidiu a Comissão da ONU que levou seu nome, Comissão de Brundtland, que se dedicou aos estudos sobre a relação entre as questões ambientais e o progresso.
43
Prosseguindo nessas reflexões, Sachs (1997) pondera que o desenvolvimento é
diferente e mais abrangente que o crescimento econômico, mas ainda não inclui, de
maneira suficiente e de forma sistêmica, as dimensões ética, política, social,
ecológica, econômica, cultural e territorial. Logo, o compromisso da Organização das
Nações Unidas (1995) com o conceito de desenvolvimento sustentável foi reafirmado
pela Declaração de Copenhague12 diante dos problemas globais da esfera social
(pobreza, desemprego e exclusão social), tais como, desigualdades inerentes aos
sistemas econômicos pautados em má distribuição da renda e privações de direitos
aos grandes grupos populacionais; inadequados padrões de utilização de recursos e
dos modelos de produção e consumo; priorização das pesquisas tecnológicas para
resultados que não objetivam a satisfação das necessidades básicas e da privação
das vidas humanas do direito de trabalhar, da vida decente e da oportunidade de
manifestar suas potencialidades humanas. (ALVES, 1997; SACHS, 1997;
CALEGARE; SILVA JÚNIOR, 2011; JACOBI; GIATTI, 2015).
Logo, é a partir do conhecimento do histórico dos debates sobre o DS e dos elementos
que o compõem que se fortalece a análise crítica sobre o comportamento individual e
coletivo, do modelo de consumo e das relações sociais, políticas e econômicas
estabelecidos pela sociedade, fomentando a necessidade de se compreender
conceitualmente a sustentabilidade e perceber o papel deste termo quando
relacionado ao DS.
Portanto, Veiga (2014, p. 19) traz uma reflexão que contribui com o debate da
sustentabilidade para esta pesquisa quando diz que no âmago da sustentabilidade
“está uma visão de mundo dinâmica, na qual transformação e adaptação são
inevitáveis, mas dependem de elevada consciência, sóbria precaução e muita
responsabilidade diante dos riscos e, principalmente, das incertezas”. A partir desta
conclusão, o autor invoca a importância de um avanço sobre uma governança global
e de cooperação de forma sinérgica.
12 Documento resultante da Cúpula Mundial da ONU realizada capital da Dinamarca, Copenhague, em 1995, cúpula que representou o primeiro encontro internacional sobre desenvolvimento social (ALVES, 1997).
44
Conforme Sartori, Latrônico e Campos (2014), o conceito de sustentabilidade é
complexo e contínuo, com diferentes abordagens resultantes de um processo histórico
e da tomada de consciência sobre os aspectos ambientais, econômicos e sociais. As
autoras consideram a sustentabilidade como um princípio de interação com sistemas
abertos e dinâmicos como os industriais, sociais e naturais e naqueles em que há a
interação entre a sociedade e a natureza. As autoras ainda relatam que a
sustentabilidade é entendida, por alguns autores como objetivo final, e o
Desenvolvimento Sustentável como o processo para alcançá-la. Tal relação percebida
de forma inversa por outros autores.
Nessa perspectiva, Dovers e Handmer (199213 apud SARTORI; LATRÔNICO;
CAMPOS, 2014) conceituam a sustentabilidade como a resiliência de um sistema
humano, natural ou misto às alterações endógenas ou exógenas por tempo
indeterminado, considerando o DS como um caminho intencional e de melhoria deste
atributo do sistema para o atendimento das necessidades da população. Todavia,
para Elkington14 (199415 apud SARTORI; LATRÔNICO; CAMPOS, 2014), o que
representa o objetivo final é o DS, que deve ser alcançado pelo processo de
sustentabilidade, considerando que as empresas precisam contribuir com esse
processo para que tenham um ambiente de mercado estável e habilidades que
permitam realizar a transição do modelo de desenvolvimento vigente para o DS.
Entretanto, independentemente destas percepções da sustentabilidade como objetivo
final ou de processo, para compreendê-la conceitualmente é necessário conhecer
suas características e desafios.
Assim, nos estudos de Flores, Vieira e Xaubert (2012) constam que as necessidades
essenciais dos pobres do mundo e a noção das limitações do atual estágio da
tecnologia e da organização social impedem o atendimento à prerrogativa do DS que
é suprir as necessidades das presentes e futuras gerações. Esses autores reforçam
13 DOVERS, S.R.; HANDMER, J.W. Uncertainty, sustainability and change. Global Environmental Change, v. 2, n. 4, p. 262-276, 1992. 14 John Elkington foi o fundador da consultoria britânica SustainAbility e criou o termo Triple Botton Line, em português, Tripé da Sustentabilidade. O Triple Botton Line corresponde à inter-relação dos pilares People, Planet e Profits, correspondendo respectivamente aos resultados sociais, ambientais e econômicos de uma organização. 15 ELKINGTON, J. Towards the sustainable corporation: Win-win-win business strategies for sustainable development. California Management Review, v. 36, n. 2, p. 90-100, 1994.
45
a abordagem da sustentabilidade para além dos elementos ambientais, sociais e
econômicos, considerando as demandas e os contextos socioculturais das
populações locais em sua diversidade e fomentando a participação da sociedade civil
nos processos decisórios e de gestão.
Portanto, são nos estudos de Mendes (2009) que respostas à ampliação de
abordagem da sustentabilidade destacadas por Flores, Vieira e Xaubert (2012) podem
ser esclarecidas, pois esses estudos vinculam a exigência de aplicações práticas
quando se trata de sustentabilidade. Tais práticas são: ações que estejam engajadas
na garantia do futuro de um determinado lugar; a promoção da qualidade de vida das
pessoas e a dignidade da vida humana; a preservação e a conservação ambiental e
o respeito às pessoas e à sua cultura. Assim, o autor caracteriza a sustentabilidade
como multidimensional, componente de um sistema complexo que insere o ser
humano, composta pela relação interdependente de várias dimensões, o que lhe
atribui a complexidade sistêmica.
Para essa revisão de literatura, serão consideradas como as principais dimensões que
compõem o sistema complexo da sustentabilidade: a sustentabilidade social, a
sustentabilidade ambiental ou ecológica, a sustentabilidade econômica, a
sustentabilidade espacial ou territorial, a sustentabilidade cultural, a sustentabilidade
política, conceitualmente caracterizadas no Quadro 1.1, conforme Sachs (1993),
Foladori (2002) e Mendes (2009).
Quadro 1.1 – Caracterização das dimensões da Sustentabilidade
Dimensões Características
Social
Atendimento às necessidades de recursos materiais e não-materiais da população para maior equidade na distribuição de renda, melhoria dos direitos e da qualidade de vida da população e igualdade no acesso aos recursos e serviços sociais.
Ambiental ou Ecológica
Representa o equilíbrio, a conservação e a preservação dos ecossistemas, dos recursos abióticos e da integridade climática.
Econômica
Consiste no crescimento econômico pela gestão eficaz de recursos e dos fluxos de investimentos públicos e privados, que não se limita ao acúmulo de riquezas, promovendo a geração de trabalho digno, a distribuição de renda, o desenvolvimento local e suas potencialidades e a diversificação dos setores.
Espacial ou Territorial
Contempla a organização do espaço e a ocupação territorial capaz de recuperar a qualidade de vida e a biodiversidade.
Continua...
46
... Continuação
Dimensões Características
Cultural Pautada no respeito à cultura local, promovendo e preservando o equilíbrio contínuo entre história, tradição, valores regionais e inovação.
Política
Baseada na democracia, na promoção dos direitos humanos e na concepção de parcerias e colaboração entre os setores público, privado, não governamental e comunitário, tanto no contexto nacional quando no internacional.
Fonte: Adaptado de Sachs (1993), Foladori (2002) e Mendes (2009).
Mendes (2009) conclui que o atual modelo focado na riqueza por acumulação de
capital não é a garantia da melhoria do bem-estar social e nem atende às
necessidades da sociedade. O autor ainda discute o desafio de estimular o equilíbrio
entre as diferentes dimensões da sustentabilidade, sobretudo perante o modelo
econômico vigente. Porém, em resposta a esses desafios, novas iniciativas são
propostas baseadas na participação da sociedade, na educação e na delimitação dos
parâmetros de desenvolvimento para as novas perspectivas, o que dialoga de forma
direta com a abordagem de Flores, Vieira e Xaubert (2012).
A importância das reflexões sobre os RS e das ações de sustentabilidade são
reforçadas por Mendes (2009), uma vez que as iniciativas de sustentabilidade
organizacionais públicas, privadas e da sociedade precisam ser objeto de
amadurecimento contínuo para a consolidação de um modelo de DS. Para atingir essa
maturidade, é necessário focar na sinergia entre as ações implantadas, na
democratização do processo decisório, na participação social ativa e consciente e no
benefício do bem-estar coletivo.
Contudo, Sachs (1997) considera que o desenvolvimento tem muitas facetas que, no
decorrer do tempo, demonstram a multiplicidade de adjetivos aplicados ao
desenvolvimento e à sustentabilidade. Logo, Sachs (1997) aproveita o debate que
promove sobre o desenvolvimento para introduzir o conceito de desenvolvimento
integral, sintetizando a consideração e a inter-relação dos diversos atributos e
dimensões do desenvolvimento de forma completa e sistêmica e que dialogam com
as dimensões de sustentabilidade apresentadas por Mendes (2009).
Ratificando sobre a multidimensionalidade da sustentabilidade, conforme Ipiranga,
Godoy e Brunstein (2011), os construtos de sustentabilidade merecem um olhar
47
holístico e interdisciplinar no contexto das organizações, pois, assim, torna-se possível
materializar o conjunto de princípios que comportam a ideia de sustentabilidade,
ampliando as discussões sobre o assunto para a dimensão da gestão social nas
organizações, possibilitando a reflexão sobre temas como a diversidade, a
responsabilidade social interna, a garantia dos direitos humanos nos contextos interno
e externo à organização, o direito dos trabalhadores bem como os valores de
transparência e da ética e de ações que promovam a participação das partes
interessadas em projetos de cunho social. Todavia, os autores ponderam que, para
que esse olhar holístico e interdisciplinar ocorra em ações concretas, torna-se
necessária a participação dos múltiplos atores interessados neste processo de
mudança.
Além do desafio de participação dos diferentes atores nesse processo de mudança
para o DS, Sartori, Latrônico e Campos (2014) destacam outros desafios relacionados
à sustentabilidade, como a (i) necessidade de integração e equilíbrio nos pilares
propostos pelo Triple Bottom Line, incluindo (ii) a relação com as questões
institucionais na percepção dos impactos futuros das ações atuais, e (iii) a
necessidade de maximizar a conscientização e envolvimento da sociedade.
No que tange ao primeiro desafio relatado no parágrafo anterior, o relatório da Rio+20,
O futuro que queremos, emitido em 2012, destaca a necessidade de melhorar a
integração dos aspectos econômicos, sociais e ambientais em todos os níveis. Neste
Relatório, a ONU reafirma a necessidade de erradicação da pobreza, da mudança dos
modos de consumo e produção e da proteção e gestão dos recursos naturais como
objetivos fundamentais e requisitos essenciais para o DS (ONU, 2012). Ao elencar as
ações necessárias para a concretização do DS, esse documento se aproxima dos
resultados esperados nas práticas de Gestão Social. Assim,
Reafirmamos também que, para a realização do desenvolvimento sustentável, é necessário: promover o crescimento econômico sustentável, equitativo e inclusivo; criar maiores oportunidades para todos; reduzir as desigualdades; melhorar as condições básicas de vida; promover o desenvolvimento social equitativo para todos; e promover a gestão integrada e sustentável dos recursos naturais e dos ecossistemas, o que contribui notadamente com o desenvolvimento social e humano, sem negligenciar a proteção, a regeneração, a
48
reconstituição e a resiliência dos ecossistemas diante dos desafios, sejam eles novos ou já existentes. (ONU, 2012, p. 3).
No contexto dos resultados das práticas de Gestão Social, Guimarães e Feichas
(2009) também destacam a necessidade de integração dos diferentes elementos na
mensuração da sustentabilidade para que esses instrumentos efetivamente
monitorem as iniciativas socioambientais em prol do desenvolvimento sustentável.
Assim,
mensurar diferentes dimensões de forma a apreender a complexidade dos fenômenos sociais; possibilitar a participação da sociedade no processo de definição do desenvolvimento; comunicar tendências, subsidiando o processo de tomada de decisões; e relacionar variáveis, já que a realidade não é linear nem unidimensional. (GUIMARÃES; FEICHAS, 2009, p. 310).
Logo, as reflexões apresentadas sobre os desafios relacionados aos resultados da
Gestão Social e de sua mensuração permitem a afirmação de que as organizações
precisam adotar iniciativas que observem de forma integrada o conjunto de dimensões
da sustentabilidade, mas também precisam ter ferramentas e instrumentos capazes
de auxiliar na promoção do equilíbrio entre estas dimensões e entre as diferentes
demandas das partes interessadas, sejam elas, sociedade, empregados, dirigentes e
outros (BRAGA et al., 2005; CAMPOS et al., 2013). Essas relações serão discutidas
posteriormente no item 2.3 deste capítulo.
Assim, a análise do comportamento institucional em prol do DS e do amadurecimento
organizacional em perceber que o homem e suas organizações possuem papel
essencial no processo de transformação desse modelo de desenvolvimento, tornou-
se relevante a divulgação das iniciativas de sustentabilidade promovidas pelas ações,
pelos programas bem como pelos resultados sociais, ambientais e econômicos. Um
dos instrumentos de divulgação utilizado é o RS e sua estrutura está usualmente
organizada com o objetivo de demonstrar de forma clara as informações sobre as
principais dimensões da sustentabilidade organizacional.
49
1.2 Os Relatórios de Sustentabilidade e as diretrizes da GRI
Atualmente, os RS são um dos principais instrumentos que consolidam as
informações de sustentabilidade das organizações. Contudo Daub (2007) destaca que
estes foram precedidos de três outros tipos de Relatórios: (i) os Sociais, (ii) os
Ambientais e (iii) os Anuais. O primeiro deles, os Relatórios Sociais, foram resultantes
da necessidade de apresentação dos balanços sociais concernentes às atividades
das organizações na década de 1970. Sendo que ao fim da década de 1980, em
alguns casos, esses relatórios iniciaram a inclusão de informações referentes às
questões ambientais e às de saúde e segurança do trabalho, consolidando o que foi
reconhecido como Relatórios Ambientais. Em meados da década de 1990, as
questões éticas, sociais e ambientais relativas às atividades das organizações
começam a ser apresentadas nos relatórios, o que caracterizou os Relatórios Anuais.
No final da década de 1990, as informações se estruturam em uma apresentação
qualitativa e quantitativa das dimensões sociais, ambientais e econômicas da
sustentabilidade, originado os conhecidos Relatórios de Sustentabilidade (DAUB,
2007).
Lozano e Huisingh (2011) compararam as principais diretrizes para os RS,
observando o foco de cada uma delas, as suas vantagens e desvantagens. As
diretrizes objeto desse estudo foram a série de normas ISO 1400116 e EMAS17, a
norma SA 800018, a norma AA 100019 e as diretrizes da Global Reporting Initiative
(GRI), todas de uso voluntário e utilizadas mundialmente. Como conclusão de seus
estudos, os autores observaram que as diretrizes da GRI possuem o escopo mais
amplo e tendem a ser mais frequentemente utilizadas para o reporte da
sustentabilidade organizacional do que as demais diretrizes estudadas e ainda
16 A série de normas ISO 14001 corresponde a um conjunto de normas elaboradas pela International Organization for Standardization (ISO) referentes às diretrizes para a gestão ambiental das organizações. Os estudos de Lozano e Huisingh (2011) focaram, principalmente, a norma ISO 14031 que trata da Avaliação do Desempenho Ambiental. 17 O Eco Management and Audit Scheme (EMAS) é um regulamento de sistema de ecogestão e auditoria voluntário, desenvolvido pela União Européia, para organizações que desejam melhorar e avaliar seu comportamento ambiental. 18 A SA 8000 (Social Accountability 8000) é uma norma internacional certificável para orientar a implantação e auditoria de Sistemas de Gestão de Responsabilidade Social e foi desenvolvida observando as convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e outras convenções da ONU. 19 A AA 1000 (AccountAbility 1000) foi criada pelo Institute of Social and Ethical AccountAbility (ISEA) e é uma norma que busca assegurar a qualidade da contabilidade, auditoria e relato social ético.
50
elencam a GRI como a melhor opção para a avaliação dos RS. Destacam também
como vantagem das diretrizes da GRI, a participação das múltiplas partes
interessadas, mas elenca como desvantagem, o grande número de indicadores que a
constituem o que dificulta a comparação longitudinal e o benchmarking20, podendo
tornar onerosa a coleta de informações para atender a todos os indicadores propostos.
Justificado pelos argumentos dos estudos de Lozano e Huisingh (2011), muitas
organizações, a partir do final da década de 1990, adotaram as diretrizes da GRI como
padrão para a apresentação do conteúdo e formato dos seus RS. Logo, Campos et
al. (2013) relatam que, de acordo com as tendências de mercado, o formato e o
conteúdo dos RS foram se adaptando e evoluindo com o tempo e que muitas
empresas utilizam esse formato como referência para seus relatórios, o padrão
estabelecido pelas GRI. Considerando a importância da GRI nesse processo de
amadurecimento dos RS, os autores ainda destacam que a sua missão consiste em
(i) fomentar a melhoria em qualidade e importância dos RS quando equiparados com
os relatórios financeiros das organizações; (ii) aperfeiçoar continuamente as diretrizes
de relatórios nas dimensões sociais, ambientais e econômicas; (iii) construir uma
instituição global e perene para a gerenciamento das diretrizes elaboradas.
Conforme Daub (2007), os RS representam uma designação para a forma de se
integrar os relatórios de desempenho econômico, ambiental e social, sendo
considerado, no sentido mais estrito do termo Relatório de Sustentabilidade, aqueles
que são públicos e que dizem ao leitor como a organização está cumprindo os
desafios da sustentabilidade corporativa, que pela amplitude desta pesquisa serão
considerados como desafios de sustentabilidade organizacional. O autor também
menciona que os RS precisam conter informações qualitativas e quantitativas que
evidenciam se a organização conseguiu melhorar sua eficácia e eficiência social,
ambiental e econômica, no período definido em seu relatório, além de integrar esses
aspectos à um sistema de gestão da sustentabilidade. O autor ainda reconhece a GRI
como uma instituição de referência mundial que define padrões para as organizações
elaborarem os seus RS.
20 O benchmarking é um processo de busca por melhores práticas de uma determinada organização e que colaboram com melhores resultados de desempenho.
51
Na perspectiva voluntária da adesão em elaboração e publicação dos RS, Campos et
al. (2013) apresentam objetivos das organizações que optam por esse instrumento,
destacando o apoio e a facilitação na gestão das questões de sustentabilidade das
organizações de forma sistemática e a divulgação dos riscos e oportunidades. Além
disso, os autores ainda relatam que as informações prestadas pelas organizações por
meio dos RS podem atender às demandas emergentes da sociedade e cobranças das
partes interessadas sobre as suas ações de responsabilidade socioambientais bem
como da sua relação com o território na qual estão inseridas. Outros motivadores são
apresentados por Campos et al. (2013), pois as organizações têm percebido os
benefícios correlatos à construção de uma reputação mais transparente e íntegra
perante o desempenho de sustentabilidade, o que fomenta a elaboração de RS que
representam um estímulo para o aprimoramento de ações e, ou, práticas na relação
entre sociedade e meio ambiente.
Assim, as diretrizes da GRI têm sido utilizadas de forma contínua para orientar a
elaboração dos RS estimulando que as organizações pensem e reflitam sobre sua
gestão considerando os pilares da sustentabilidade e tornem tangíveis os resultados
alcançados neste contexto. Portanto, evidenciar uma gestão orientada pela
sustentabilidade, para o DS, torna-se premissa básica para as organizações
contemporâneas de qualquer setor que estejam sensibilizadas do seu papel perante
às mudanças no modelo de desenvolvimento vigente. Logo, ter uma referência para
a elaboração dos RS e para a estruturação dos debates internos sobre a
sustentabilidade organizacional representa um importante ponto de partida e de apoio
para a proposição e o aprimoramento das práticas adotadas pelas organizações. O
nível de padronização da estrutura de apresentação dos indicadores propostos nas
diretrizes da GRI também pode permitir suporte às práticas intersetoriais promovidas
pelas organizações e mobilizar sujeitos que se interessem pelas atividades e
resultados dessas organizações por ter acesso às informações de sustentabilidade de
forma clara e estruturada.
No decorrer das discussões propostas pelos estudos de Campos et al. (2013), vale
ressaltar o relato de outros autores que salientam o objetivo da GRI em harmonizar o
52
numeroso conjunto de sistemas de informação utilizado pelas organizações. De forma
curiosa, é revelado que o modelo GRI foi pautado no sistema americano de
informações financeiras, ampliando-o em um formato de aplicação global e que
contemplasse as categorias social, econômica e ambiental e que ainda fosse flexível
na demanda de apresentação de informações qualitativas e quantitativas, além de
pensar na base de partes interessadas no modelo proposto pela GRI, tais como:
indústria, setor financeiro, sociedade civil, órgãos e instituições ambientais,
Organizações Não Governamentais (ONG) de direitos humanos, além de sindicatos,
entre outras. Campos et al. (2013) ainda ampliam a apresentação dos propósitos da
GRI com o objetivo de representarem uma plataforma de diálogo participativo da
sociedade sobre os debates de desempenho de sustentabilidade das organizações e
destacam que sua estrutura está pautada nos princípios da comparabilidade e da
flexibilidade, considerando as diferenças entre organizações e setores e aqueles que
possibilitam a comparação dessas informações entre as organizações além de
permitir essa sistematização de forma paralela aos relatórios financeiros.
Refletindo um pouco mais sobre os motivos pelos quais as organizações adotam as
diretrizes da GRI para a elaboração dos seus RS, Campos et al. (2013) destacaram a
correlação da legitimação das decisões e das ações de gestão das organizações com
as mudanças perante às demandas e exigências da sociedade, como aquelas
relativas à ética e à responsabilidade organizacional. Todavia, os autores também
apresentam uma crítica às diretrizes da GRI pela ausência de indicadores integrados
e pela limitação do conceito da sustentabilidade em somente três dimensões, não
observando a inter-relação entre as partes, elemento também destacado pelos
estudos de Lozano e Huisingh (2011). Esta crítica pode ainda ser relacionada às
percepções de Sachs (1993) sobre a necessidade de pensar a sustentabilidade de
forma integrada, em uma perspectiva de compreensão do DS em desenvolvimento
integral, diante da complexidade dos elementos que o compõem e da necessidade de
inter-relação contínua e consistente entre as dimensões social, ambiental, econômica,
cultural, política, ecológica e territorial.
Ademais, Lozano e Huisingh (2011) ainda fazem outra crítica: as diretrizes estudadas
quase não conseguem abordar a dimensão temporal além da comparação que as
53
organizações efetuam de suas ações e resultados em relação ao ano anterior. E,
desta reflexão, os autores afirmam que as diretrizes utilizadas nos RS não abordam
adequadamente o que eles propõem como o Segundo Nível de Equilíbrio da
Sustentabilidade, chamado por eles de Two Tiered Sustainability Equilibria. Este
conceito pode contribuir de forma significativa com esta pesquisa, no que tange a
discussão sobre a perenidade das ações de sustentabilidade e da inovação social
esperada dessas práticas e dos resultados mencionados na categoria social dos RS.
Lozano (2008) explica que o Primeiro Nível de Equilíbrio da Sustentabilidade, First
Tiered Sustainability Equilibria, corresponde ao equilíbrio das dimensões social,
ambiental e econômica da sustentabilidade. Já o Segundo Nível do Equilíbrio de
Sustentabilidade atribui a dimensão temporal à análise de sustentabilidade,
correspondendo ao equilíbrio das dimensões social, ambiental e econômica ao longo
dos anos.
Por fim, Lozano e Huisingh (2011) concluem que a sustentabilidade é amplamente
abordada por meio da compartimentação de suas dimensões, pois as diretrizes
utilizadas como referências para a elaboração dos RS são baseadas em dimensões
únicas do tripé da sustentabilidade. Embora as diretrizes para os RS não forneçam
uma estrutura capaz de abordar ou informar sobre possíveis sinergias entre as
questões de sustentabilidade, é possível encontrar exemplos de organizações que
estão alcançando esses resultados, talvez de forma inconsciente e não pela estrutura
das diretrizes que os autores estudaram seja série ISO 14000 e EMAS, SA 8000, AA
1000 seja a GRI.
No contexto da evolução das diretrizes da GRI, na Figura 1.1, encontram-se
consolidadas as informações referentes ao número de Relatórios emitidos por
organizações brasileiras e comunicados à GRI, desde que iniciou a publicação de
suas diretrizes para o relato de sustentabilidade. Os quantitativos estão agrupados
por ano e por tipo de Relatório, apresentando o modelo de referência utilizado para a
elaboração. Essa consolidação permite a visualização do perfil de crescimento da
adoção das práticas de relatos de sustentabilidade, a partir das diretrizes da GRI
54
utilizadas ou, até mesmo, da condição de serem Relatórios referenciados ou não no
modelo GRI.
Figura 1.1 – Consolidação dos dados de publicação de Relatórios de
Sustentabilidade no Brasil.
Fonte: Elaborado pelos autores, de acordo com GRI (2015; 2016). Nota: Non-GRI* – Relatórios nos quais a organização divulga informações sobre o seu desempenho econômico, ambiental, social e de governança, mas sem a referência de que se baseou nas Diretrizes da GRI. GRI-Ref.* – Relatórios que fazem referência explícita por serem baseados nas Diretrizes da GRI, mas sem o índice de conteúdo GRI.
Percebe-se, na Figura 1.1, o crescente número de publicações de Relatórios de
Sustentabilidade no Brasil e o uso das diretrizes da GRI como referência para esses
Relatórios. Em 2015, constatou-se o maior número de organizações que utilizaram
uma das versões das diretrizes da GRI em seus RS, neste caso a GRI - G4, que
reafirma a relevância do objeto de estudo e o crescimento da utilização dos Relatórios
como forma de divulgação de práticas e indicadores de sustentabilidade e da relação
com as partes interessadas. Percebe-se ainda a evolução das diretrizes da GRI
apresentada na Figura 1.1 e o acompanhamento desta evolução pelas organizações
brasileiras, que representam o amadurecimento da prática de publicação de
informações dos RS e, com isso, o aumento das possibilidades de alcance dos
55
resultados esperados de sustentabilidade organizacional pelo incentivo contínuo de
apresentação das iniciativas, práticas e resultados dos indicadores de
sustentabilidade utilizados por essas organizações.
A evolução das diretrizes do GRI pode representar o acompanhamento do movimento
das organizações privadas de ultrapassarem a visão assistencialista para assumir as
responsabilidades do poder político que têm. Conforme apresentado por Dowbor
(1999), as empresas partem do marketing social para atuar na construção do interesse
público naquilo que a elas compete. O que nos permite interpretar que, nesse cenário,
se verifica a criação das diretrizes da GRI, sua evolução e o crescimento de
organizações que as utilizam na orientação de suas iniciativas e dos indicadores de
sustentabilidade apresentados em seus Relatórios.
Nesse contexto, o estudo possui relevância diante dos debates sobre inovações
sociais e desenvolvimento local quando se percebe que as diretrizes da GRI e os
Relatórios de Sustentabilidade são considerados estratégicos para o
Desenvolvimento Sustentável e podem promover inovações nas organizações que o
implementam, assim como, nas iniciativas de sustentabilidade adotadas por essas
organizações. Logo, as inovações sociais e ambientais são estimuladas pelo
desenvolvimento de parcerias estratégicas, da participação social e da construção de
conhecimentos em rede, na esfera local e global em consonância com o conceito
inicial de Desenvolvimento Sustentável proposto no Relatório de Brundtland (CMMAD,
1991) e relatados na perspectiva das diretrizes da GRI.
A geração G4 das diretrizes da GRI foi desenvolvida por um processo que contou com
a participação de relatores, pessoas que utilizam os relatórios e profissionais de
sustentabilidade de todo o mundo. Essa Geração mantém conteúdos e indicadores
acordados internacionalmente para que sejam possíveis o acesso e a
comparabilidade das informações prestadas pelas organizações e por aqueles que
possuírem interesse nelas. As diretrizes GRI - G4 também objetivam fomentar a
padronização do formato desse relato bem como a apresentação de informações
relevantes de sustentabilidade nos RS (GRI, 2013).
56
Por esse motivo e considerando que as diretrizes da GRI são um dos objetos desta
pesquisa, o Quadro 1.2 mostra a sua estrutura para apresentação das informações
de sustentabilidade.
Quadro 1.2 – Categorias, subcategorias e aspectos das diretrizes GRI – G4
Categoria Subcategoria Aspectos
Econômica -
Desempenho Econômico Presença no Mercado Impactos Econômicos Indiretos Práticas de Compra
Ambiental -
Materiais Energia Água Biodiversidade Emissões Efluentes e Resíduos Produtos e Serviços Conformidade Transportes Geral Avaliação Ambiental de Fornecedores Mecanismos de Queixas e Reclamações Relacionadas a Impactos Ambientais
Social
Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente
Emprego Relações Trabalhistas Saúde e Segurança no Trabalho Treinamento e Educação Diversidade e Igualdade de Oportunidades Igualdade de Remuneração entre Homens e Mulheres Avaliação de Fornecedores em Práticas Trabalhistas Mecanismos de Queixas e Reclamações Relacionadas a Práticas Trabalhistas
Direitos Humanos
Investimento Não Discriminação Liberdade de Associação e Negociação Coletiva Trabalho Infantil Trabalho Forçado ou Análogo ao Escravo Práticas de Segurança Direitos Indígenas Avaliação Avaliação de Fornecedores em Direitos Humanos Mecanismos de Queixas e Reclamações Relacionadas a Direitos Humanos
Sociedade
Comunidades Locais Combate à Corrupção Políticas Públicas Concorrência Desleal Conformidade Avaliação de Fornecedores em Impactos na Sociedade Mecanismos de Queixas e Reclamações Relacionadas a Impactos na Sociedade
Continua...
57
... Continuação
Categoria Subcategoria Aspectos
Social
Responsabilidade pelo Produto
Saúde e Segurança do Cliente Rotulagem de Produtos e Serviços Comunicações de Marketing Privacidade do Cliente Conformidade
Fonte: GRI (2013). Nota: A descrição dos indicadores que compõem cada um dos aspectos está apresentada no Apêndice F.
A estrutura das diretrizes da GRI tem como base os pilares econômico, ambiental e
social. As subcategorias e os aspectos correlacionados representam informações
qualitativas e quantitativas que precisam ser apresentadas pelas organizações ao
optarem por elaborar seus RS de acordo com a GRI. Essas informações solicitadas
são chamadas de indicadores.
Das informações apresentadas no Quadro 1.2, destacam-se aquelas da categoria
social, que é a única dividida em subcategorias que representam blocos de
informações específicas tanto em abordagens relacionadas aos públicos internos,
como no caso das Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente. Além dessas
informaçõoes, destaca-se o bloco de Direitos Humanos, quanto em abordagens com
foco maior nas relações com públicos externos como em Sociedade e a
Responsabilidade pelo Produto. O conteúdo dessa categoria será detalhado no
Capítulo 2.
Ainda sobre o pilar social relacionado aos RS, Daub (2007) destaca que as
expectativas específicas podem variar de acordo com cada um dos diferentes grupos
de partes interessadas, sejam internas como os funcionários, sejam externas como o
poder público e as ONG. Nesse contexto, Daub (2007) traduz esta realidade como o
papel das partes interessadas em influenciar as organizações a lutarem pela
legitimidade social para garantir suas licenças para operar. Esse desafio é conhecido
como eficiência social quando comparado ao termo ecoeficiência, pois mede o grau
em que o impacto negativo das atividades de uma organização na sociedade é
reduzido e os impactos positivos são aumentados.
58
Ao observar a estrutura proposta para a categoria social nas diretrizes GRI - G4,
abordando sobre a perenidade do desenvolvimento que satisfaça a simetria entre a
solidariedade com as futuras gerações concomitantemente à solidariedade em
relação às atuais gerações, Sachs (1997) enfatiza a necessidade de primar as
questões sociais no estabelecimento dos objetivos de desenvolvimento. Todavia, de
acordo com Bittencourt e Carrieri (2005), existe uma hegemonia do discurso da
responsabilidade social, no contexto das empresas, focado no desempenho social
dessas organizações mensurado por balanços e reportados por relatórios como os
RS que permitem institucionalizar práticas e políticas de marketing, valorizando
imagens e representações, e não necessariamente a relevância social das práticas
implementadas pelas organizações.
Na convergência dos debates sobre os elementos da gestão social com a
apresentação desses elementos nos requisitos da categoria social da GRI e nas
descrições de práticas e resultados dos Relatórios de Sustentabilidade serão
desenvolvidas as discussões conceituais e aplicadas deste estudo, que buscam de
forma contextualizada o aperfeiçoamento desse modelo e dos RS.
1.3 Gestão Social e Responsabilidade Social
Quando ressaltada a necessidade de mudança institucional para que o crescimento
sob a perspectiva do Desenvolvimento Sustentável (DS) aconteça, é inevitável a
análise do modelo de desenvolvimento vigente. Portanto, Dowbor (1999) relata a
capacidade do capitalismo em organizar a produção na esfera microeconômica, mas
o seu péssimo desempenho como distribuidor e empregador. Além disso, o autor
caracteriza o capitalismo como um grande explorador dos recursos naturais e
destruidor do meio ambiente. Essa abordagem se alinha às considerações propostas
no Relatório Nosso Futuro Comum, no qual a desigualdade e a pobreza representam
um limitador do DS (CMMAD, 1991).
Novamente, percebe-se o papel social do ser humano e suas questões nos debates
sobre sustentabilidade e na mudança de modelo de desenvolvimento, o que
representa a necessidade de investimento no ser humano defendido por Dowbor
59
(1999), tanto em sua formação quanto nos aspectos relacionados à saúde, cultura,
lazer e informação. Portanto, o autor destaca que, no desenvolvimento sustentável, a
dimensão social não constitui uma categoria acessória, visto seu caráter humanitário
que a torna elemento essencial ao conjunto de transformação social, por estar
relativamente externa aos processos econômicos centrais.
Logo, Sachs (2010) reforça que não se pode minimizar o desenvolvimento apenas ao
crescimento econômico, e assim, torna-se necessário considerar duas ópticas
simultâneas, a saber:
(...) de um lado, o enfoque pelo crescimento, que nos remete ao crescimento do PIB, à acumulação de capital, ao progresso técnico, à produtividade crescente do capital, e, de outro, o enfoque que utiliza como porta de entrada o emprego e o autoemprego, e observa em que medida o processo de desenvolvimento favorece a inserção social pelo trabalho decente de todos os que sentem a necessidade e o desejo de trabalhar. Essas duas ópticas não são exclusivas uma da outra. Ao contrário, é indispensável articulá-las, combiná-las e conciliá-las graças ao planejamento flexível. (SACHS, 2010, p. 33-34).
Sachs (2010) também evidencia que o desenvolvimento na perspectiva do
crescimento está no núcleo modernizador e o desenvolvimento com foco no emprego
e no autoemprego está relacionado à rede de serviços sociais e sua universalização,
pois são serviços capazes de promover o bem-estar da população. Entretanto, o autor
pondera que, ao invés de aguardar o enriquecimento para posteriormente reproduzir,
o Estado provedor do bem-estar social deve aproveitar a situação de baixo nível dos
salários médios para desenvolver os serviços sociais, em especial, os que são
intensivos em pessoal, aproveitando as oportunidades de crescimento estimuladas
pelo emprego.
Nesse contexto é fundamental a discussão sobre os modelos de gestão na
perspectiva da sustentabilidade, pois considerando os pressupostos de gestão social,
essa visão sobre o desenvolvimento apresentada por Sachs (2010) pode ser
contraposta com os argumentos críticos de Tenório (2009) sobre uma gestão
estratégica cujas ações estão orientadas para o mercado e não para a sociedade.
60
Sachs (2010) estabelece como premissas do desenvolvimento, a acumulação do
capital e o uso das condições de desenvolvimento para a prestação dos serviços
sociais. Em contrapartida, Tenório (1998) infere que a gestão estratégica na lógica de
mercado tem direcionado o discurso e a prática da gestão social ao invés dessas
serem orientadas pelas questões de natureza social e que na esfera pública, buscam
atender ao bem comum da sociedade, e não a concorrência como é o caso da gestão
estratégica na esfera privada.
Ao considerar as questões sociais no contexto da gestão estratégica, Tenório (1998)
evidencia que o processo de gestão social ocorre na ação comunicativa e dialógica
na qual a ação social é validada pelos seus participantes em acordo racional,
resultante do debate crítico e da apreciação intersubjetiva. Em contrapartida,
menciona que o processo de gestão estratégica ocorre de forma relacional com as
ações estratégicas e é monológico, pois se baseia na influência de uma pessoa sobre
as outras, para a continuidade intencional de uma determinada interação, em que a
ação comunicativa, racionalmente, busca motivar os demais envolvidos a
concordarem com essa pessoa.
Essa mudança do tratamento das questões sociais nas organizações ainda pode ser
percebida uma vez que enfocam a qualidade de vida, saúde, educação, cultura, lazer
e informação. Entretanto, esses elementos deveriam ser desenvolvidos pelos
objetivos sociais primários, necessários para uma sociedade justa e não somente no
âmbito organizacional, pois “a atividade econômica é um meio, o bem-estar social é o
fim” conforme destaca Dowbor (1999).
Complementarmente às percepções apresentadas, Campos et al. (2013) inferem que
a elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade se associa justamente à
apresentação de um balanço social, que atribua transparência à gestão da
organização, evidenciando os desempenhos econômico, social e ambiental no que
tange às iniciativas consideradas relevantes para a sociedade. Talvez essa evolução
da percepção ou do propósito de estimular as mudanças no âmbito institucional possa
justificar o nível de abrangência da categoria social da GRI, transformando-o em um
bloco de informações significativas para os Relatórios de Sustentabilidade, por tratar
61
de assuntos relacionados às Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente, aos Direitos
Humanos, Sociedade e Responsabilidade pelo Produto.
Tanto a evolução das diretrizes da GRI como a percepção do bem-estar social como
um objetivo a ser almejado pelas organizações estão relacionadas ao
amadurecimento da Responsabilidade Social. De acordo com Morcelli e Ávila (2016),
o conceito de Responsabilidade Social tem sido modificado continuamente no
decorrer dos anos. Criado em 1953, o termo Social Responsabilities of the
Businessman ou Responsabilidade Social Corporativa, definido por Howard21, referia-
se ao fato que as organizações deveriam ter orientações, decisões e ações que
estivessem alinhadas com os objetivos e valores da sociedade. Os autores ainda
citam como principal premissa da Responsabilidade Social, o desenvolvimento de
políticas e práticas organizacionais integradas e comunicadas, mas não omitem a
existência inicial de uma visão economista que tem como foco principal o atendimento
das expectativas dos acionistas. Entretanto, observa-se que atualmente essas
políticas e práticas contemplam as necessidades e expectativas de outros públicos de
interesse na/da organização.
Os estudos de Dowbor (1999) ilustram essa evolução quando discorrem sobre o
movimento de parcerias entre os setores público, privado e o não governamental. O
autor ainda aponta, no caso do setor privado, a importância das responsabilidades
social e ambiental e, no caso do Terceiro Setor, uma potencial alternativa de articular
com o Estado e de assegurar a participação cidadã. Esse processo de mudança
representa o conceito do Desenvolvimento Sustentável proposto no Relatório de
Brundtland, em 1987 (CMMAD, 1991).
Outro fator importante é citado por Tenório (1998) que acredita ser na cidadania o
espaço onde o sujeito expressa o exercício dos seus direitos como pessoa e também
os direitos relativos à coletividade. É como uma ação política deliberativa que o autor
relaciona esse perfil de cidadania com a gestão social, na promoção da democracia
social para com os indivíduos nas mais diversas esferas e papeis da sociedade, na
21 Howard R. Bowen (1908-1989) foi um economista americano, autor de 14 livros e mais de 300 artigos e definiu um dos termos utilizados como referência para o pilar socil das empresas, a Responsabilidade Social Corporativa.
62
qual sua autodeterminação é efetivada pela igualdade política e decisória e que
posteriormente foi proposto no relatório da Rio+20, O futuro que queremos (ONU,
2012).
A cidadania deliberativa, como pressuposto da gestão social, no contexto da relação
trabalho-capital, ocorre quando o trabalhador se conscientiza do protagonismo de seu
papel social nas ações do trabalho, incluindo em suas reivindicações a efetiva
participação no processo de tomada de decisão do sistema-empresa e não se
limitando às reivindicações salariais e/ou de melhores condições de trabalho
(TENÓRIO, 1998). Essa abordagem sobre a cidadania deliberativa dialoga de forma
objetiva com as subcategorias de Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente e a de
Direitos Humanos da categoria social da GRI (2013a). Logo, nessas subcategorias, é
possível observar aspectos da relação trabalho-capital nas Relações Trabalhistas, nos
Mecanismos de Queixas e Reclamações Relacionadas a Práticas de Trabalhistas e
na de Direitos Humanos, assim como, a Liberdade de Associação e Negociação
Coletiva e a Avaliação de Fornecedores em Direitos Humanos, estas transcendendo
até os limites físicos da organização.
Complementarmente, Morcelli e Ávila (2016) apresentam uma consolidação de
conceitos de Responsabilidade Social que podem ratificar a importância das
subcategorias e aspectos elencados na categoria social das diretrizes da GRI – G4.
Logo, o Quadro 1.3 apresenta a relação conceitual elaborada por esses autores.
Quadro 1.3 – Conceitos sobre Responsabilidade Social
Autores Definições
Drucker (1984) A responsabilidade social ocorre em razão de a organização ser bem-sucedida, inserida num mercado em que cresce a necessidade de ser socialmente responsável, visando minimizar os problemas sociais.
Srour (1998)
A responsabilidade social “reflete tanto um sentido de realidade quanto um olhar para o futuro... a responsabilidade social reflete em síntese a constituição de uma cidadania organizacional no âmbito interno da empresa e a implementação de direitos sociais no âmbito externo.”
Garcia (1999)
A responsabilidade social corporativa envolve, por exemplo, tratar com dignidade seus funcionários, fabricar produtos ou prestar serviços com qualidade, veicular propaganda verdadeira, realizar limpeza no ambiente de trabalho, não sujar ruas ou dificultar o trânsito, colaborar com as causas da comunidade, não explorar mão de obra infantil, escrava ou incapaz de se defender.
Continua...
63
... Continuação
Autores Definições
Ashley (2002)
A responsabilidade social é definida como o compromisso que uma organização tem com a sociedade, expressa por meio de atitudes que a afetem positiva e coerentemente no que se refere ao seu papel específico na sociedade e à sua prestação de contas para com ela.
Oliveira (2002)
A responsabilidade social pode ser entendida como “o objetivo social da empresa somando a sua atuação econômica. É a inserção da organização na sociedade como agente social e não somente econômico... é ser uma empresa cidadã que se preocupa com a qualidade de vida do homem na sua totalidade.”
Fonte: Morcelli e Ávila (2016, p.19).
Os elementos conceituais de Responsabilidade Social apresentados no Quadro 1.3
são também encontrados nas diretrizes da GRI e podem ser evidenciados nos
Relatórios de Sustentabilidade. Porém, quando são comparados os pressupostos
conceituais de Responsabilidade Social e de Gestão Social, é possível identificar que
a Gestão Social atribui maior protagonismo aos atores sociais por meio da
participação, da cidadania deliberativa e maximiza o diálogo entre as partes. Por sua
vez a Responsabilidade Social possui um perfil de reflexão sobre o modelo de atuação
das organizações perante a sociedade, promovendo e defendendo direitos sociais
internos e externos, ou seja, elencando como protagonista, a organização.
Essa relação território e problemáticas sociais também foi mencionada por Carroll
(1999) ao elencar as quatro dimensões da Responsabilidade Social: (i) econômica, (ii)
legal, (iii) ética e (iv) filantrópica. Dimensões que compreendem as expectativas
sociais das partes interessadas em relação às organizações. Porém, essas
dimensões se restringem à obtenção do lucro, ao cumprimento dos requisitos legais,
em ser justo e, por fim, ao promover o bem-estar humano, o que permite perceber
suas limitações diante dos conceitos de Gestão Social apresentados, que ampliam
essas dimensões para outros elementos como o diálogo e a cidadania.
Essa dicotomia entre a Responsabilidade Social e Gestão Social pode ser reafirmada
quando as considerações apresentadas por Tenório (1998) permitem destacar como
pressupostos da gestão social, resultante da mudança das relações entre o
trabalhador e o capital e a sociedade e o Estado, a dialogicidade, a democracia social,
a intersubjetividade e o exercício da cidadania, na esfera privada ou pública. Essa
abordagem reforça e contextualiza a importância da participação, da organização, da
64
educação e do fortalecimento das pessoas para que o Desenvolvimento Sustentável
de fato alcance os resultados esperados e que as mudanças necessárias sejam
realizadas para que a nova era do crescimento aconteça, na perspectiva das
inovações sociais e do desenvolvimento local.
Assim, Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012) consideram que a gestão
social se constitui de interesses sociais, políticos, humanos, ambientais e econômicos,
ou seja, os interesses da esfera pública e que se contrapõem à realidade da gestão
empresarial na qual se prioriza os interesses privados: produtividade, desempenho e
controle.
O sentido do termo gestão social é discutido por Mendonça, Gonçalves-Dias e
Junqueira (2012), que destacam a necessidade de ultrapassar a abordagem das
ciências administrativas sobre o elemento gestão, que o restringe à produtividade, ao
desempenho e ao controle. Logo, considerando o sentido do termo gestão social,
Tenório (2005, p. 102) discorre que “o adjetivo social qualificando o substantivo gestão
será entendido como o espaço privilegiado de relações sociais em que todos têm o
direito à fala, sem nenhum tipo de coação”. As considerações desses autores trazem
ao debate teórico, a ampliação conceitual com a qual a gestão social precisa ser
tratada, fato reforçado por Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira, quando
apresentam que
adjetivar a gestão como social pode parecer uma redundância desnecessária, no entanto, foi uma escolha consciente de um grupo de pesquisadores que buscava desconstruir e destacar algumas noções acerca do que vem a ser o ato de gerir. Desconstruir, em primeiro lugar, uma noção que estava restrita a certos espaços e tipos de organizações (França Filho, 2008), e destacar algumas “novidades” acerca da gestão e seus desafios para atuar em prol de transformações sociais, que se materializam no contexto de democratização e ampliação dos atores que lidam e participam diretamente da discussão e da atuação social, seja em políticas públicas, em iniciativas de organizações da sociedade civil, ou em iniciativas do mercado. (MENDONÇA; GONÇALVES-DIAS; JUNQUEIRA, 2012, p. 1.405).
A viabilidade da discussão de gestão social no cenário do Desenvolvimento
Sustentável é reforçada quando Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012, p.
65
1392) afirmam que, os pesquisadores em Gestão Social “tem como objeto de estudo
a gestão de problemáticas sociais e ambientais que necessitam de uma visão
intersetorial e interorganizacional”, pois essas problemáticas ocorrem em um
determinado território no qual diversos atores compartilham seus interesses e ações,
fortalecendo o processo democrático.
Portanto, nesta pesquisa, compreende-se como Gestão Social, o processo de gestão
orientado para a sociedade que busca soluções de forma democrática e participativa
para os problemas sociais e ambientais de um território no qual se pratica a cidadania
deliberativa. Nesse território, os diversos atores sociais compartilham seus interesses
e ações em prol de transformações sociais, sendo que a efetiva participação no
processo de tomada de decisão seja realizada de forma comunicativa e dialógica, e
validada em acordo racional resultante do debate crítico a partir da apreciação
intersubjetiva desses atores sociais.
Cançado, Tenório e Pereira (2011) dizem sobre a construção do conceito de Gestão
Social no reforço da importância da sociedade e do trabalho como protagonistas da
relação sociedade-Estado e trabalho-capital, relações usualmente apresentadas de
forma invertida como, Estado-sociedade e capital-trabalho. Essa discussão de
protagonismo é expandida pelos autores para a relação sociedade-mercado.
Para a contextualização teórica de suas reflexões, Cançado, Tenório e Pereira (2011)
apresentam uma compilação das análises sobre Gestão Social realizadas por Maia
(2005) e Pimentel et al. (2011) e destacam a proximidade entre as categorizações
utilizadas para atribuir significado à Gestão Social. Portanto, o Quadro 1.4 consolida
a análise de Cançado, Tenório e Pereira (2011) selecionando os elementos
necessários para a construção dos pressupostos de Gestão Social que serão
utilizados neste trabalho.
66
Quadro 1.4 – Consolidação da análise sobre Gestão Social
Categorias Descrição
Propósito Viabilizar o desenvolvimento da sociedade pautado no interesse coletivo de caráter público.
Valores Democracia, cidadania e interesse público.
Agentes Conjunto composto pela Sociedade Civil organizada, Estado e mercado.
Operacionalização Processo social, desenvolvimento de parcerias e de redes intersetoriais.
Espaços Organizações (Estado, mercado e Sociedade Civil), políticas públicas, redes, interorganizações e espaço local.
Características
Processo de afirmação ou transformação do desenvolvimento com novos referenciais. Comunicação dialógica, com pouca ou nenhuma restrição ao direito de fala. Processo decisório descentralizado, emergente, participativo, como construção coletiva. Não há coerção, todos têm iguais condições de participação.
Fonte: Adaptado de Cançado, Tenório e Pereira, 2011.
Cançado, Tenório e Pereira (2011) constataram que a Gestão Social está baseada no
agir comunicativo, capaz de gerar um acordo resultante da apreciação intersubjetiva
dos indivíduos envolvidos e da discussão crítica realizada entre eles, promovendo
dialogicidade no processo gerencial no qual os participantes compartilham entre eles
a autoridade da decisão.
Considerando o conjunto de pesquisas e reflexões sobre Gestão Social apresentadas
pelos autores Dowbor (1999); Maia (2005); Cançado, Tenório e Pereira (2011);
Pimentel et al. (2011); Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012), foram
elencados os doze pressupostos adotados nesse estudo, como elementos
caracterizadores de Gestão Social e que subsidiarão o debate sobre o pilar social da
sustentabilidade:
I. Processo de gestão (social e governança) do interesse coletivo de caráter
público e orientado pelas questões de natureza social.
II. Processo comunicativo e dialogicidade entre os envolvidos.
III. Agentes e espaços relacionados às organizações (Estado, Mercado e
Sociedade Civil).
IV. Gestão democrática e igualdade política.
V. Gestão participativa, participação social cidadã.
VI. Cidadania deliberativa e igualdade decisória.
VII. Apreciação intersubjetiva e debate crítico para validação da ação social.
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VIII. Desenvolvimento de ações e políticas públicas sociais e gerenciais-
econômicas.
IX. Promoção de qualidade de vida, do bem-estar social e da garantia dos direitos
humanos.
X. Promoção da geração de trabalho e distribuição de renda.
XI. Promoção do Desenvolvimento Local.
XII. Transformações sociais, inovação social e construção paradigmática.
Após elencar os pressupostos de Gestão Social a serem utilizados como referência
para esta pesquisa, cabe salientar que a promoção da qualidade de vida, do bem-
estar, da garantia dos direitos humanos, da geração de trabalho e distribuição de
renda, das transformações e inovações sociais e do Desenvolvimento Local são
compreendidas como resultados da Gestão Social e não como componentes desse
processo.
Conforme Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012), a atribuição do termo social
à gestão implica em destacar desafios na sua atuação para transformações sociais e
a sua materialização na ampliação do debate e da atuação social para a promoção
dessas transformações no contexto das políticas públicas e das iniciativas da
Sociedade Civil e, ou, do mercado. É interessante salientar que os autores não limitam
o objeto de estudo da Gestão Social à problemática social, mas contemplam as
questões ambientais e a necessidade da visão intersetorial e intergovernamental de
múltiplos atores, interesses, visões e ações relacionados a um determinado território.
De acordo com Ometto, Bulgacov e May (2015), existe um debate dicotômico sobre a
Responsabilidade Social, no qual algumas percepções se pautam em práticas com
propósitos instrumentais e estratégicos e não nos valores pessoais daqueles que
compõem as organizações. Outras mostram que a Responsabilidade Social está
relacionada às questões valorativas, mesmo que seja por uma decisão estratégica,
esta é influenciada pelas características dos indivíduos daquela organização. Os
autores ainda argumentam sobre o importante papel da sensibilização dos indivíduos
para o sucesso da Responsabilidade Social, principalmente, quando esta
sensibilização permite o contato direto ou indireto com as condições sociais adversas,
68
constatando que o indivíduo esteja suficientemente sensível aos problemas e
predisposto a agir em prol da melhoria da situação.
Desse modo, quando a democracia, a boa governança e o Estado de Direito são
reconhecidos pelos indivíduos, reforçam-se as crenças presentes no relatório (O
futuro que queremos) como elementos essenciais para o Desenvolvimento
Sustentável, potencial contexto de convergência entre as iniciativas de
Responsabilidade Social e a Gestão Social. Assim, há o fortalecimento da ideia de
que a gestão democrática e participativa da Gestão Social fornece um ambiente
promissor para a promoção do DS e, no contexto das organizações, o
aperfeiçoamento das práticas de Responsabilidade Social contribui para esse
desenvolvimento. Desenvolvimento esse orientado pelos interesses de natureza
social e coletiva, em um processo dialógico entre os participantes em que as decisões
tomadas consideram de forma democrática os diversos anseios das partes
interessadas (TENÓRIO, 2005; MENDES, 2009; ONU, 2012).
2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O debate sobre DS estimula reflexões sobre os comportamentos individuais e
coletivos e sua relação com um novo modelo de desenvolvimento que consiga
atender, de forma equilibrada, ao conjunto de demandas sociais, ambientais e
econômicas da sociedade. Todavia, a dialogicidade entre os setores público e privado,
as ONG e a sociedade civil ainda é um desafio para o alcance do consenso sobre
esse modelo de desenvolvimento realmente desejado.
A revisão de literatura apresentou a discussão sobre a multidimensionalidade da
sustentabilidade, termo que se diferencia de DS quando se relata sobre a relação
entre o objetivo final e o processo para sua realização. Neste caso, optou-se por
ratificar as percepções dos autores como Sartori, Latrônico e Campos (2014) que
entendem o DS como objetivo e a sustentabilidade como como um processo,
tangibilizando-a em iniciativas, ações e práticas para se chegar a um modelo de
desenvolvimento que realmente seja sustentável.
69
Para as reflexões de sustentabilidade, a atribuição da temporalidade de Lozano (2008)
amplia as análises relativas às iniciativas de sustentabilidade reportadas pelas
organizações por meio de indicadores qualitativos e, ou, quantitativos como aqueles
previstos nas diretrizes da GRI e reconhecidos mundialmente como referência para a
elaboração de RS. A aplicação da análise tridimensional dos pilares da
sustentabilidade no processo de avaliação da efetividade das práticas e resultados de
iniciativas organizacionais reforçam a importância da elaboração dos RS, reforçam a
utilização das diretrizes da GRI pelas organizações e a apresentação das informações
referentes aos indicadores, assim como, a melhoria dos seus desempenhos.
Foi possível perceber que o DS está intimamente relacionado à garantia de direitos
humanos, à qualidade de vida, às condições dignas e justas de trabalho, à equidade
e ao equilíbrio do atendimento dessas necessidades com a utilização racional e
consciente de recursos naturais, preservando-os e conservando-os para o
atendimento perene das demandas humanas e dos demais ecossistemas,
observando o equilíbrio econômico capaz de sustentar e ser sustentado por este
sistema complexo. Apesar de se tratar do tripé fundamental da sustentabilidade, não
obstante, também são fundamentais o equilíbrio dos demais pilares como o político, o
cultural e o territorial, conforme Foladori (2002), Mendes (2009) e Sachs (1993). Todos
esses pilares perpassam por um elemento, destacado nesta pesquisa, que é o ser
humano e, com este elemento, toda a complexidade da Gestão Social que o
acompanha.
A relevância das questões sociais, quando se fala em sustentabilidade, congrega um
conjunto de elementos fundamentais para uma mudança de paradigma em prol do
DS, pois são nessas questões sociais que o fator humano e todas as suas demandas
individuais estão presentes. Logo, percebe-se que os pressupostos de Gestão Social
convergem e podem contribuir para o aperfeiçoamento de práticas classificadas como
sustentáveis e de responsabilidade social, sobretudo no contexto das organizações.
Ainda há um amplo debate sobre iniciativas e resultados de Responsabilidade Social
no contexto da sustentabilidade. Contudo, a aplicação dos constructos de Gestão
Social no processo de elaboração dos RS também pode colaborar com as potenciais
70
inovações sociais aplicáveis às organizações e isso poderá suscitar o
desenvolvimento local.
REFERÊNCIAS
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74
CAPÍTULO 2
O PILAR SOCIAL NOS RELATÓRIOS DE SUSTENTABILIDADE À LUZ DAS
DIRETRIZES DA GRI-G4
THE SOCIAL PILLAR IN THE SUSTAINABILITY REPORTS BY THE LIGHT OF
THE GUIDELINES OF GRI-G4
Rafael Alves de Araujo Castilho22
Fernanda Carla Wasner Vasconcelos23
RESUMO Os Relatórios Sustentabilidade (RS) representam os esforços organizacionais para a divulgação de informações das iniciativas e resultados referentes aos pilares social, ambiental e econômico da sustentabilidade de organizações privadas, públicas e sem fins lucrativos. Contudo, a efetiva compreensão sobre desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade ainda constituem desafios maximizados pela multidimensionalidade de seus pilares. Este artigo pretende analisar as concepções de Gestão Social presentes em Relatórios de Sustentabilidade de organizações brasileiras no ano de 2015, e as percepções de Gestão Social dos profissionais responsáveis por esses relatórios, à luz das diretrizes da GRI-G4. Este é um estudo de abordagem qualitativa e quantitativa de cunho descritivo. Os procedimentos metodológicos incluíram a realização de pesquisa documental em 12 RS de organizações de diferentes segmentos e a realização de entrevistas, com realização de análises estatística por clusters e de conteúdo respectivamente. A existência de alguns pressupostos de gestão social nos RS das organizações estudadas e nas percepções dos profissionais entrevistados foi constatada nesse estudo. Todavia, de forma isolada, estes pressupostos não garantem uma Gestão Social estruturada. Logo, foram identificados desafios da sustentabilidade no que tange as questões do pilar social e encontradas oportunidades de melhoria em processos, inclusive na elaboração dos RS que podem contribuir para uma Gestão Social real no contexto das organizações, como é o caso da materialidade dos RS. Palavras-chave: Gestão Social. Global Reporting Initiative. Indicadores de Sustentabilidade. Materialidade. Partes interessadas.
22 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]. 23 Doutora em Ciências e professora do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected].
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ABSTRACT The Sustainability Reports (SR) represent the organizational efforts for the information disclosure of initiatives and results concerned to social, environmental, and economic pillars of sustainability of private, public and organizational companies with nonprofit purposes. However, the effective understanding about sustainable development and sustainability still represents maximized challenges by the multidimentionality of its pillars. This article intends to analyze the conceptions of Social Management presented in Sustainability Reports of Brazilian organizations in 2015, and the perceptions of Social Management of professionals responsible for these reports, in the lights of the GRI directives– G4. This is a qualitative and quantitative approach study of descriptive nature. The methodological procedures include the realization of documental research in 12 SR of different lines of organizations and the performance of interviews including statistical analyses by clusters and content respectively. The existences of some Social Managements assumptions in the related organization SR and in the interviewed professional’s perception were verified in this study. However, dealt in an isolated form, these assumptions do not guarantee a structural Social Management. Therefore, sustainability challenges were identified concerning social pillar issues and improvement opportunities in processes, which can contribute to Social Management in the context of the organizations, such as the materiality of SR. Keywords: Social Management. Global Reporting Initiative. Indicators of Sustainability. Materiality. Stakeholders. 1 INTRODUÇÃO
Considerando as demandas atuais de relacionamento com os diversos sujeitos da
sociedade, e as demandas de estabelecimento de responsabilidades desses sujeitos
com o Desenvolvimento Sustentável (DS), as organizações dos setores público,
privado e as não governamentais (ONG) têm incorporado, às suas estratégias, as
dimensões social e ambiental correlatas à sua atuação e realizado a comunicação das
práticas implementadas e seus resultados por meio dos Relatórios de
Sustentabilidade (RS) divulgados para suas partes interessadas.
Todavia, limitando-se ao tripé da sustentabilidade (social, ambiental e econômico),
percebe-se que, a cada um desses pilares, é atribuída a palavra gestão. Isso se deve
à necessidade de desenvolvimento e implementação, de forma eficaz, das práticas
pertinentes a cada um deles possibilitando assim alcançar os resultados esperados.
Logo, é comum encontrar no contexto das organizações, o uso de termos como gestão
ambiental e gestão econômico-financeira.Todavia, a utilização do termo gestão social
não é tão comum como os demais. Este fato pode ser motivado pela dificuldade de se
76
compreender, de forma sistêmica, a gestão social ou motivado também pela
inexistência de um consenso sobre uma definição que seja clara o suficiente para ser
aplicada às organizações. Portanto, a utilização do termo Responsabilidade Social
(RS) é mais usual para as organizações, apesar de suas limitações quando diante da
Gestão Social (GS).
Prosseguindo nessas reflexões, pode-se inferir que, ao se tratar da gestão aplicada
às questões ambientais ou econômico-financeiras das organizações, tem-se um
espaço mais consolidado de práticas, ferramentas e instrumentos. O primeiro item
está focado na mitigação de impactos ambientais adversos, maximização da
conformidade legal ambiental e, até mesmo, iniciativas de certificações ambientais,
ecoeficiência, produção mais limpa, logística reversa, análise de ciclo de vida, dentre
outras práticas. No segundo item, tem-se o conjunto de práticas relacionadas ao
gerenciamento e controle econômico-financeiro das organizações, como balanços
patrimoniais, planejamento orçamentário, demonstração do resultado do exercício,
gestão de custos, controle de taxas de retorno de investimento, entre outros.
Independentemente do nível de complexidade que ambos os pilares possuem,
ambiental e econômico, tanto os objetos quanto os objetivos destes pilares são mais
evidentes e direcionados do que aqueles relacionados ao pilar social.
Assim, ao analisar o pilar social, com o intuito de definir quais os objetos a serem
gerenciados por ele, encontra-se uma multiplicidade de sujeitos a serem
contemplados por essa gestão social e cada sujeito com suas demandas a serem
desenvolvidas, seja o público interno das organizações, como os trabalhadores,
servidores públicos e voluntários, seja o público externo, composto pela comunidade
de entorno, a sociedade civil, os órgãos reguladores, os sindicatos, os conselhos de
classe e os diversos representantes das demais partes interessadas em uma
determinada organização, pública, privada ou sem fins lucrativos. Contudo, essa
mesma multiplicidade de objetos e sujeitos também implica em uma diversidade de
objetivos da gestão social aplicáveis a uma organização, objetivos que nem sempre
são comuns e que podem apresentar compreensões distintas de acordo com o sujeito
interessado em cada um desses objetivos.
77
Por conseguinte, existem dificuldades nesse debate, pois em alguns casos, ainda não
se encontram conceitos ou delimitações, definidos para a Gestão Social como
acontece com a gestão ambiental, pois conforme Machado e Quaresma (2014), a
consolidação conceitual e metodológica da gestão social é um processo que está em
fase de desenvolvimento. Entretanto, existem questões desafiadoras que necessitam
de respostas como aquelas relativas à participação social, à distribuição de renda, às
oportunidades de emprego e à geração de trabalho. As autoras ainda destacam a
maximização desses desafios quando se torna necessária a mediação da participação
dos sujeitos que possuem interesses no desenvolvimento resultante das ações de
gestão social propostas. Logo, Cançado (2011, p. 205) propõe uma síntese da
delimitação conceitual de Gestão Social como "um processo dialético de organização
social próprio da esfera pública, fundado no interesse bem compreendido, e que tem
por finalidade a emancipação do homem". Elementos esses que, juntamente com as
reflexões dos estudos sobre Gestão Social de outros autores como Cançado, Tenório
e Pereira (2005), Dowbor (1999), Maia (2005), Mendonça, Gonçalves-Dias e
Junqueira (2012), se tornam norteadores para os diálogos necessários para esta
pesquisa, uma vez que as proposições teóricas sobre Gestão Social desses autores
representam desafios para os requisitos da categoria social propostos pelas diretrizes
da GRI.
Portanto, o objetivo deste capítulo da análise de dados e resultados de pesquisa é
analisar as concepções de Gestão Social presentes em Relatórios de
Sustentabilidade, de organizações brasileiras do ano de 2015, e as percepções de
Gestão Social dos profissionais responsáveis por esses relatórios, à luz das diretrizes
da GRI - G4. Escolheu-se a geração 4 das diretrizes da GRI pelo fato dela ter sido
publicada em 2013 e, principalmente, pelo seu nível de consolidação e uso pelas
organizações, esta foi utilizada nas reflexões deste estudo. Entretanto, não se
pretende analisar o contexto político, social e cultural das organizações estudadas
nessa pesquisa.
Logo, com base no contexto apresentado, torna-se mais fácil compreender o desafio
da Gestão Social e justificam-se a dicotomia desse tema e as inúmeras reflexões
teóricas necessárias para integrar teoria e prática no âmbito dos desafios, percepções
78
e proposições necessárias para uma efetiva Gestão Social no contexto das
organizações preocupadas com a sustentabilidade e com o aperfeiçoamento da
responsabilidade social organizacional.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Percebe-se que a evolução dos Relatórios de Sustentabilidade (RS) está relacionada
à adaptação às tendências e demandas de mercado, como é o caso das organizações
privadas, e que se inicia um ciclo de utilização desses relatórios por outras
organizações que não sejam empresas e que possuem o interesse em divulgar e
prestar contas sobre suas práticas organizacionais.
Na análise realizada por Lozano e Huisingh (2011), das diferentes diretrizes para os
RS, eles observaram que, na maioria dos casos, existe uma tendência de
compartimentalização das dimensões do tripé da sustentabilidade, o que negligencia
possíveis sinergias entre as dimensões, sejam elas positivas sejam negativas.
Consideração que corrobora com as conclusões de Campos et al. (2013) sobre a
compartimentalização da sustentabilidade.
Todavia, a compreensão global e sistêmica da sustentabilidade só consegue ser
realizada se existir maturidade de entendimento das dimensões específicas que a
compõem. E, a partir dessa compreensão, perceber os elementos que se inter-
relacionam, se interferem e se complementam. Portanto, não é propósito deste estudo
compartimentar ainda mais as dimensões da sustentabilidade, mas sim compreender
de forma estruturada o pilar social, diante de sua importância, suas vertentes,
possibilidades e potencialidades.
2.1 Compreendendo as diretrizes da GRI
A partir da fundação da Global Reporting Initiative (GRI), em 1997, as organizações
iniciaram a utilização de suas diretrizes para a elaboração e publicação de seus RS.
As diretrizes da GRI foram aperfeiçoadas com o decorrer do tempo, sendo sua
primeira geração publicada nos anos 2000, conhecida como G1; dois anos depois, em
79
2002, a segunda versão ou G2 foi divulgada. Em 2006, a versão G3 é apresentada
para as organizações e, em 2011, essa versão é atualizada, sendo nomeada de G3.1.
A geração G4 surgiu em 2013 e, em 2016, as Normas da GRI são publicadas e ainda
estão em processo de estudos e de implantação pelas organizações.
As diretrizes da GRI solicitam a apresentação de informações qualitativas e
quantitativas que precisam ser relatadas e são nomeadas de conteúdos padrão gerais
e conteúdos padrão específicos. As organizações respondem tanto aos conteúdos
padrão gerais quanto aos específicos por meio do relato sobre seus programas,
práticas, iniciativas e resultados de indicadores. Os conteúdos da GRI são divididos
nas categorias social, ambiental e econômica, coerentes com o tripé da
sustentabilidade proposto por Elkington (1994)24. Assim, a categoria social da GRI
está subdividida ainda em subcategorias como Práticas Trabalhistas e Trabalho
Decente, Direitos Humanos, Sociedade e Responsabilidade pelo Produto conforme
descrito no Quadro 1.2. Todavia, as diretrizes da GRI não contemplam outras
dimensões da sustentabilidade como a política, cultural, territorial e outras propostas
por Foladori (2002), Mendes (2009) e Sachs (1993), apesar de em alguns casos serem
tratadas indiretamente pelo pilar social.
Logo, ao se tratar da categoria social da GRI e sua estrutura para apresentação das
informações organizacionais no relato das práticas e indicadores que evidenciam os
conteúdos padrão gerais e conteúdos padrão específicos, percebe-se que as
diretrizes buscam ultrapassar o processo de gestão estratégica corroborando com as
argumentações dos estudos de Tenório (2009). Essa afirmação é possível quando
observados os princípios para a definição do conteúdo do Relatório de acordo com a
GRI (2013a), dos quais se destacam a inclusão das partes interessadas ou público de
interesse, o contexto da sustentabilidade, a materialidade e a completude dos
conteúdos.
Conforme a GRI (2013), as opções de critérios utilizados pelas organizações no
preparo dos Relatórios de Sustentabilidade são a Essencial (focada em estabelecer
24 ELKINGTON, J. Towards the sustainable corporation: Win-win-win business strategies for sustainable development. California Management Review, v. 36, n. 2, p. 90-100, 1994.
80
uma referência para que a organização relate os impactos do seu desempenho
econômico, social e de governança) ou a Abrangente (que solicita informações
adicionais àquelas solicitadas na opção Essencial). As informações complementares
solicitadas pela opção Abrangente são relativas às estratégias, análise, governança,
ética e integridade da organização e a organização ainda precisa comunicar seu
desempenho de forma mais ampla, relatando todos os indicadores referentes aos
aspectos que foram indicados em seu processo de materialidade. Uma outra opção
utilizada por algumas organizações é a não declarada, que pode ser aplicada na
inexistência de uma declaração explícita de uma das opções anteriores, mas o RS
possui um índice de conteúdo GRI - G4 completo.
A GRI (2013) destaca que as opções não estão relacionadas à qualidade do relatório
ou ao desempenho de sustentabilidade da organização, mas à sua conformidade com
os critérios ´propostos pelas diretrizes da GRI, ao atendimento às necessidades de
comunicação da organização e à satisfação das necessidades de informações
solicitadas pelas partes interessadas. É importante ressaltar que “ambas as opções
enfocam o processo de identificação de Aspectos materiais. Aspectos materiais são
aqueles que refletem os impactos econômicos, ambientais e sociais significativos da
organização ou influenciam substancialmente as avaliações e decisões de
stakeholders.” (GRI, 2013, p. 11).
A GRI (2013) enfatiza que o processo de amadurecimento das diretrizes da GRI é
devido ao foco nos itens materiais para as atividades organizacionais e para as partes
interessadas como direcionador dos RS. Logo, compreender a materialidade é
perceber a atribuição de relevância, confiabilidade e compreensibilidade das
informações apresentadas nos RS, o que atribui maior transparência, consistência e
confiabilidade das informações prestadas pelas organizações nesses documentos.
As informações relevantes, confiáveis e compreensíveis são úteis para as partes
interessadas e para os processos de tomada de decisão pelas organizações.
Portanto, a adesão pela utilização das diretrizes da GRI pelos mais diversos tipos e
portes das organizações é explicado pelo fato da GRI servir de referência estruturada
para o processo de concepção, elaboração e formatação dos RS e por ainda permitir
81
comparabilidade das informações, considerando os indicadores qualitativos e
quantitativos definidos nas diretrizes.
Como orientadores propostos pela GRI, os princípios estabelecidos pelas diretrizes
devem ser observados nos conteúdos a serem apresentados nos RS. O Quadro 2.1
apresenta tais princípios que são classificados por atributos com os quais contribuem.
Quadro 2.1 - Princípios estabelecidos pelas diretrizes GRI – G4
Atributo Princípio Descrição
Definição do Conteúdo do
Relatório
Inclusão de stakeholders25
A organização deve identificar seus stakeholders e explicar no relatório as medidas adotadas para responder às expectativas e interesses razoáveis dessas partes.
Contexto da sustentabilidade
O relatório deve descrever o desempenho da organização no contexto mais amplo da sustentabilidade.
Materialidade
O relatório deve abordar Aspectos que reflitam os impactos econômicos, ambientais e sociais significativos da organização; ou possam influenciar, substantivamente, nas avaliações e decisões de stakeholders.
Completude
A cobertura de Aspectos materiais e seus limites deve ser suficientemente ampla para refletir impactos econômicos, ambientais e sociais significativos e permitir que os stakeholders avaliem o desempenho da organização no período analisado.
Assegurar a Qualidade do
Relatório
Equilíbrio O relatório deve refletir Aspectos positivos e negativos do desempenho da organização, de modo a permitir uma avaliação equilibrada do seu desempenho geral.
Comparabilidade
A organização deve selecionar, compilar e relatar as informações de forma consistente. As informações relatadas devem ser apresentadas de modo que os stakeholders possam analisar mudanças no desempenho da organização ao longo do tempo e subsidiar análises relacionadas a outras organizações.
Exatidão As informações devem ser suficientemente precisas e detalhadas para que os stakeholders possam avaliar o desempenho da organização relatora.
Tempestividade A organização deve publicar o relatório regularmente e disponibilizar as informações a tempo para que os stakeholders tomem decisões fundamentadas.
Clareza A organização deve disponibilizar as informações de forma compreensível e acessível aos stakeholders que usam o relatório.
Confiabilidade
A organização deve coletar, registrar, compilar, analisar e divulgar as informações e processos usados na elaboração do relatório, permitindo sua revisão e estabelecendo a qualidade e materialidade das informações.
Fonte: Elaborado pelos autores, de acordo com Global Reporting Initiative (GRI, 2013).
25 Stakeholders e partes interessadas são considerados sinônimos. De acordo com a GRI (2013, p. 93), “refere-se a entidades ou indivíduos que tendem a ser significativamente afetados pelas atividades, produtos e serviços da organização ou cujas ações tendem afetar a capacidade da organização de implementar suas estratégias e atingir seus objetivos com sucesso. O termo inclui organizações ou indivíduos cujos direitos nos termos da lei ou de convenções internacionais lhes conferem legitimidade de reivindicação perante a organização.” As partes interessadas podem ser internas como é o caso dos empregados e externas como os sindicatos, comunidades locais e outros.
82
Portanto, os princípios abordados no Quadro 2.1 devem ser observados durante todo
o processo de elaboração e publicação dos RS que compreende as etapas previstas
na Figura 2.1. Esse processo apresentado pela GRI é importante para que os
aspectos materiais e limites de informações dos RS das organizações sejam definidos
GRI (2013, p. 91).
Figura 2.1 – Visão geral do processo de definição dos aspectos materiais e limites
do RS
Fonte: GRI (2013, p. 91).
Diante da Figura 2.1, cabe salientar o papel da percepção do contexto da
sustentabilidade para cada uma das organizações e a inclusão das partes
interessadas no processo de elaboração dos relatórios, fortalecendo a premissa de
que as partes interessadas (internas e externas à organização) precisam ser
envolvidas na identificação e na seleção daquelas informações relevantes a serem
reportadas nos RS, reforçando o papel social dessas partes interessadas.
83
2.2 O pilar social dos Relatórios de Sustentabilidade
A Declaração do Rio26 reforça o papel central do ser humano e menciona a
erradicação da pobreza como condição fundamental para o desenvolvimento
(DECLARAÇÃO DO RIO DE JANEIRO, 1992). Em 1995, a Declaração de
Copenhague proclama o direito ao desenvolvimento como parte integrante dos
direitos humanos fundamentais (ONU, 1995), corroborado pelos estudos de Sachs
(1997). Esses debates estão relacionados com as discussões sobre a Gestão Social
no contexto dos Relatórios de Sustentabilidade. Entretanto, estes tendem a ser
compreendidos como publicações de assuntos ambientais e não de um relato
integrado de práticas ambiental, social e econômica cujos resultados estão
associados ao tripé da sustentabilidade. Nesse contexto,
uma maneira de reconceitualizar o desenvolvimento poderia consistir em considerá-lo em termos de universalizar a apropriação efetiva de todos os direitos humanos – civis, políticos, mas também sociais, econômicos e culturais. Tal abordagem parece oferecer vantagens teóricas e operacionais: permite escapar do estreito economicismo e, ao mesmo tempo, oferece um arcabouço para a avaliação concreta do progresso (ou regressão) obtido no árduo caminho do mal desenvolvimento ao desenvolvimento. (SACHS, 1997, p. 219).
Conforme a GRI (2016 a, p. 10-11), assim como todas as áreas da sustentabilidade,
os direitos humanos rapidamente evoluíram nas últimas décadas. Portanto, o Quadro
2.2 ilustra os marcos específicos e a evolução dos Direitos Humanos em várias
instituições, como a ONU e a GRI.
26 A Declaração do Rio ou a Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento foi aprovada na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992, conferência conhecida como Eco-92. Essa declaração ratificou a declaração da Conferência de Estocolmo, realizada em 1972. Nela foram estabelecidos 27 princípios para o DS, incluindo princípios sobre a dignidade humana, as questões ambientais e o papel do Estado diante dos direitos relacionados ao meio ambiente e à garantia da qualidade de vida das pessoas. (DECLARAÇÃO DO RIO DE JANEIRO, 1992).
84
Quadro 2.2 - Evolução da Agenda de Direitos Humanos
Ano Marcos específicos e evolução
1946
A Comissão de Direitos Humanos da ONU foi estabelecida para prover uma estrutura legal internacional para proteger os direitos fundamentais e liberdades.
A Declaração Universal de Direitos Humanos foi publicada pela Assembleia Geral da ONU.
1959 A Assembleia Geral da ONU adotou a Declaração de Direitos da Criança na qual definem-se a proteção, educação, saúde, moradia e boa nutrição como direitos das crianças.
1966
A Assembleia Geral da ONU adotou o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos no qual incluem-se o direito ao voto, liberdade de associação, julgamento justo, privacidade e liberdade religiosa bem como o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais que inclui o direito a um adequado padrão de vida, educação, trabalho, saúde e previdência social.
1977
A OIT adotou a Declaração Tripartite sobre os Princípios relativos às Empresas Multinacionais e às Práticas Sociais que provia orientações de políticas sociais e de inclusão às empresas, assim como, práticas responsáveis e sustentáveis no local de trabalho. A Declaração foi alterada em 2000 e 2006.
1993
O Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos foi lançado para liderar os esforços de Direitos Humanos da ONU.
Os Princípios de Paris foram adotados como um conjunto de padrões internacionais que estabelecem e orientam o trabalho dos Institutos Nacionais de Direitos Humanos.
1997 A GRI foi criada.
1999 O Pacto Global da ONU foi lançado e chamou as companhias para alinhar estratégias e operações com os princípios universais de Direitos Humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção.
2002
A GRI lançou as Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade G2, incluindo na estratégia e gestão tópicos de Direitos Humanos, tais como, não discriminação, liberdade de associação e negociação coletiva, trabalho infantil, trabalho forçado e compulsório, práticas disciplinares, práticas de segurança e direitos indígenas.
2005 O Mandato sobre Empresas e Direitos Humanos foi estabelecido pela Comissão de Direitos Humanos da ONU.
2006
O Conselho de Direitos Humanos que substituiu a Comissão de Direitos Humanos da ONU realizou sua primeira sessão. O Conselho é uma estrutura intergovernamental dentro do sistema das Nações Unidas responsável por fortalecer a promoção e a proteção dos direitos humanos em todo o mundo.
A GRI lançou a terceira geração das Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade (GRI-G3), na qual adicionou práticas de investimento e compras à dimensão de Direitos Humanos em suas diretrizes.
2008 A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiências entra em vigor.
Foi publicado o livro “Quando negócios não são apenas negócios” de John Ruggie.
2010
A Assembleia Geral da ONU criou a ONU Mulheres, para se concentrar na igualdade de gênero e empoderamento das mulheres.
A ISO 26000 de Responsabilidade Social é divulgada e inclui os Direitos Humanos como um dos seus sete temas principais.
Continua...
85
... Continuação
Ano Marcos específicos e evolução
2011
Divulgados os Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos da ONU, um conjunto de diretrizes para os Estados e empresas para prevenir, abordar e remediar os abusos dos Direitos Humanos cometidos em operações empresariais.
Grupo de Trabalho sobre Empresas e Direitos Humanos foi estabelecido para promover a divulgação e a implementação dos Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos da ONU.
A GRI divulgou as Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade (G3.1), expandindo as orientações para o relato de desempenho em relação a gênero, comunidade e Direitos Humanos, assim como avaliação de impacto relativos aos Direitos Humanos e a remediação de queixas sobre Direitos Humanos.
2013 A GRI divulga as Diretrizes para Relatórios de Sustentabilidade (G4) que incluem temas e divulgações sobre os Direitos Humanos, trabalho, os impactos ambientais e sociais na cadeia de suprimentos.
2015
A GRI publicou o documento “Linking G4 and the UN Guinding Principles" para ajudar as organizações a entenderem o vínculo entre as Diretrizes GRI e os Princípios Orientadores da ONU.
A SHIFT27 publica o Guia de estrutura para relatório de princípios da ONU, que fornece orientação para relatos de Direitos Humanos.
2016 A GRI publica as Normas GRI para Relatórios de Sustentabilidade.
Fonte: Adaptado de GRI (2016 a, p. 10-11).
Conforme observado no Quadro 2.2 e afirmado pela GRI (2016a), os direitos humanos
representam um tema integrante das suas diretrizes desde a sua origem, e as novas
Normas GRI publicadas no final do ano de 2016, além de reforçarem o papel
importante do relato sobre direitos humanos nos RS, ainda trazem referências diretas
de ferramentas internacionais e instrumentos para a promoção de ações relativas à
garantia dos direitos humanos. Destacando a contínua evolução e crescimento
gradual dos relatos sobre direitos humanos nos RS, a GRI (2016a) reconhece o longo
caminho ainda a percorrer sobre o tema, mas destaca que as organizações estão
investindo em processos de due diligence, compromissos públicos sobre direitos
humanos e na implantação de ferramentas de gerenciamento e sistemas de
monitoramento para garantir os resultados correlatos a esse relevante componente
das diretrizes da GRI.
É no contexto da importância da gestão e do monitoramento como fomentadores da
melhoria do desempenho organizacional perante as questões relativas aos direitos
27 Organização não governamental presidida John Ruggie, Representante Especial do Secretário-Geral da ONU sobre Empresas e Direitos Humanos, e liderada por antigos membros da equipe dele.
86
humanos e demais fatores sociais, que Herculano (2000) destaca o papel dos
indicadores na consolidação, simplificação e quantificação de variáveis complexas
como aquelas relacionadas à esfera social e a viabilização de uma comunicação clara
o suficiente para se permitir a comparabilidade dos resultados e a tomada de decisão.
O autor ainda fala que os indicadores sociais também representam um incentivo para
a mobilização social afim de pressionar aqueles que tomam as decisões. O que no
âmbito da gestão social poderia ser ampliado pelos entendimentos de Tenório (2009)
no qual a tomada de decisão, na perspectiva da gestão social é compreendida como
um processo dialógico de gestão no qual há o compartilhamento da autoridade
decisória, logo, a mobilização social não se restringiria ao pressionar os que tomam
decisão e, sim, dialogicamente gerenciar o compartilhamento do processo e da
autoridade nas decisões.
Logo, essas reflexões estabelecem um percurso que esclarece a relevância dos RS
na disseminação e fomento da garantia dos direitos humanos no contexto das
organizações, e esclarece também o papel dos indicadores como instrumentos de
comunicação e a gestão social como fomentadora de uma nova perspectiva da
mobilização social. Contudo, a gestão social como um processo gerencial dialógico
destacado nos estudos de Tenório (2009) converge com as percepções de Dowbor
(2005) de que os processos democráticos são o caminho para a qualidade de vida e
o DS.
De acordo com Herculano (2000), a avaliação sobre qualidade de vida tem sido
proposta ou pelo exame da efetiva capacidade de um grupo social alcançar a
satisfação de suas necessidades ou pela avaliação das necessidades sob os
parâmetros da satisfação e dos patamares almejados. Ou seja, o primeiro se
concentra na avaliação dos recursos disponíveis enquanto o segundo observa as
necessidades. Dowbor (2005) afirma que a mensuração da qualidade de vida se
reduziu ao nível da renda per capita, como é o exemplo da referência utilizada pelo
Banco Mundial. Porém, o autor elenca como referência de indicadores básicos de
qualidade de vida, os de educação, emprego, energia, meio ambiente, saúde, direitos
humanos, renda, infraestrutura, seguridade social, segurança pública, entretenimento
87
e habitação, os quais exemplificam indicadores de recursos e de necessidades, e dos
quais observa-se um conjunto significativo correlacionado de forma direta com a
esfera social dos RS e contemplado nas diretrizes da GRI, como é o caso dos
indicadores relacionados aos direitos humanos, aqui como uma dimensão da
qualidade de vida.
Ao enfatizar os debates sobre o pilar social dos RS, não é possível desconsiderar os
debates a respeito da qualidade de vida, caracterizada pelos indicadores
apresentados por Dowbor (2005), pois essa é compreendida como um dos elementos
das iniciativas promovidas pela Gestão Social. Nesse contexto, Herculano (2000),
após analisar as considerações dos autores Allardt, Erikson, Sen e as premissas
utilizadas em indicadores sociais escandinavos, consolida a convergência entre as
referências de que o bem-estar, fator integrante à qualidade de vida, possui como
elementos básicos: a possibilidade de influenciar nas decisões relativas à coletividade
e de participar na vida comunitária, sob uma perspectiva política, além de beneficiar
com as ações do passado e do presente da coletividade, o que possui relevância
quando se analisa as diretrizes da GRI e os RS que são orientados por elas, pois
estes trabalham com informações da esfera social com foco nos processos decisórios
e nos benefícios gerados pelas iniciativas socioambientais promovidas pelas
organizações.
Herculano (2000) ainda contextualiza a qualidade de vida, agregando a questão
ambiental aos demais itens mensurados pelo IDH (expectativa de vida, taxa de
alfabetização, anos de escolaridade e PIB per capita), propondo que qualidade de vida
representa:
a soma das condições econômicas, ambientais, científico-culturais e políticas coletivamente construídas e postas à disposição dos indivíduos para que estes possam realizar suas potencialidades: inclui a acessibilidade à produção e ao consumo, aos meios para produzir cultura, ciência e arte, bem como pressupõe a existência de mecanismos de comunicação, de informação, de participação e de influência nos destinos coletivos, através da gestão territorial que assegure água e ar limpos, higidez ambiental, equipamentos coletivos urbanos, alimentos saudáveis e a disponibilidade de espaços naturais amenos urbanos, bem como da preservação de ecossistemas naturais (HERCULANO, 2000, p. 22).
88
Ademais, complementando os elementos teóricos relativos ao debate conceitual de
qualidade de vida, é possível vinculá-la ao atendimento das necessidades básicas dos
cidadãos em uma concepção política razoável de justiça, considerados por Weber
(2013, p. 207) como bens necessários primários para o exercício dos direitos e
liberdades dos cidadãos. O autor destaca os direitos e liberdades fundamentais, as
liberdades de movimento e livre escolha de ocupação, os poderes e prerrogativas de
cargos e posições de responsabilidade, renda e riqueza e as bases sociais do auto-
respeito.
É válido ressaltar que o autor desenvolve o conceito de justiça como equidade e
discorre sobre o conceito de dignidade da pessoa humana vinculada à satisfação dos
bens necessários mínimos para que, de fato, o indivíduo seja capaz de exercer a
cidadania. Portanto, os elementos aqui apresentados podem contribuir para a análise
sobre a qualidade de vida aplicada aos RS, partindo da premissa de que a qualidade
de vida é condição indissociável ao atendimento das necessidades básicas dos
cidadãos, como fator de cooperação na sociedade em que vive.
A delimitação de qualidade de vida apresentada por Herculano (2000) e sua relação
com os pressupostos apresentados por Weber (2013) maximizam o diálogo entre os
elementos gestão social, qualidade de vida e a sustentabilidade. Portanto, em
andamento ao diálogo teórico até aqui realizado, nos requisitos propostos na
Constituição Federal Brasileira de 1988 (CF/88), verifica-se o delineamento dos
direitos sociais dos cidadãos brasileiros e que para este estudo tornam-se importantes
alguns recortes que serão discorridos a seguir.
Objetivamente, a CF/88 define como seus princípios fundamentais a cidadania, a
dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa
dentre outros, e também estabelece como um dos objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil, a erradicação da pobreza e da marginalização e a
redução das desigualdades sociais e regionais, objetivo este que possui grande
relação com esta pesquisa.
89
Para esse estudo é importante ressaltar que no artigo 5º, inciso XIII da CF/88 é
apresentado o direito de liberdade do exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer (BRASIL,
1988), condição diretamente relacionada aos indicadores da subcategoria Práticas
Trabalhistas e Trabalho Decente, das diretrizes da GRI e reportados pelas
organizações em seus RS.
A CF/88 também destaca no seu artigo 6º que "são direitos sociais a educação, a
saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição." (BRASIL, 1988). Em seguida, no artigo
7º, a CF/88 apresenta a relação de direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além
de outros que visam melhoras em sua condição social evidenciando os direitos sociais
que devem ser garantidos a eles. A proposta desses artigos concretiza o preconizado
pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 que em seu artigo 25
estabelece que
todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle (UNESCO, 1998, p. 5).
Na perspectiva apresentada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos,
verifica-se o alinhamento brasileiro como país comprometido com esta causa, o que
é evidenciado no artigo 79, da CF/88, em que é instituído o Fundo de Combate e
Erradicação da Pobreza, que tem como objetivo viabilizar o acesso a níveis dignos de
subsistência a todos os brasileiros, com a aplicação de "ações suplementares de
nutrição, habitação, educação, saúde, reforço de renda familiar e outros programas
de relevante interesse social voltados para melhoria da qualidade de vida."
Contudo, ainda é necessário observar, nas iniciativas de sustentabilidade
organizacional, a existência ou não de práticas consistentes e coerentes de promoção
da emancipação social, do conjunto de sujeitos interessados nos resultados da
sustentabilidade organizacional, considerando que a emancipação social, de acordo
90
com Lima e Pereira (2015), seria um dos objetivos principais da gestão social e que,
neste caso, busca-se observar a sua aplicação em um contexto organizacional
estimulado pelas diretrizes da GRI e que precisam estar devidamente relatadas em
seus RS.
Um olhar crítico sobre sustentabilidade é apresentado por Abramovay (2012) que
destaca a necessidade de pensar em um novo modelo de governança, com foco no
gerenciamento dos limites no uso de recursos naturais e nos seus impactos,
enfrentando as desigualdades de distribuição e do uso desses recursos e lutando
contra a pobreza na economia global e no interior dos diferentes países. O autor afirma
que o desafio da governança contemporânea está na gestão dos excessos das
desigualdades e esta deve estar no âmago das decisões econômicas públicas e
privadas, o que reforça o propósito deste estudo ao observar as potencialidades da
relação da Gestão Social e a Sustentabilidade.
Ademais, apresenta-se no Quadro 2.3, uma compilação comparativa das
características de Gestão Social e de Sustentabilidade aplicáveis a essa pesquisa ao
contribuírem com a reflexão sobre as concepções de gestão social presentes nas
diretrizes da GRI, dos relatórios de sustentabilidade e das pessoas que os elaboram.
Quadro 2.3 – Características comparativas de Gestão Social e Sustentabilidade
Elementos de Gestão Social Pilar Social da Sustentabilidade
Papel central do ser humano para as mudanças sociais (participação).
Papel central do ser humano para as mudanças do modelo de desenvolvimento.
Foco na qualidade de vida, saúde, educação, cultura, lazer e informação (Direitos Humanos).
Desempenho econômico, social e ambiental.
Orientada pelas questões de natureza social. Objetiva o bem-estar social.
Debate crítico e apreciação intersubjetiva para validação da ação social.
Governança e atuação na construção da ação social de interesse público.
Cidadania deliberativa, igualdade política e decisória (democracia).
Cidadania crítica para a construção e operacionalização da nova era do desenvolvimento que objetiva a qualidade de vida e o bem-estar socioambiental.
Fonte: Elaborado pelos autores.
O propósito da apresentação e inter-relacionamento dessas características é delimitar
parâmetros mínimos sobre as potencialidades da sustentabilidade organizacional
orientada pela gestão social, e evidenciar que ações e indicadores relativos à
qualidade de vida, bem-estar socioambiental e garantia dos direitos humanos são
91
objetos essenciais dessa relação e da sua orientação para o DS. Logo, o Quadro 2.3
ainda justifica o subsídio do arcabouço legal, apresentado anteriormente, às
condições de diálogo entre os elementos de gestão social, qualidade de vida e a
sustentabilidade propostos por Weber (2013).
Segundo essa perspectiva, de que a Gestão Social pode ser efetivada de acordo com
que a qualidade de vida seja promovida em relação à garantia dos direitos
fundamentais, dos direitos humanos e dos bens mínimos necessários para sustentar
os direitos à cidadania, pois estes também viabilizarão os outros elementos da gestão
social, como a apreciação intersubjetiva e a igualdade decisória discutidas por Tenório
(2009) e Cançado, Tenório, Pereira (2011).
Portanto, desta discussão emerge o propósito desta pesquisa no que tange ao
fomento à mudança do paradigma existente sobre o pilar social no contexto das
organizações, paradigma arraigado nas iniciativas pontuais em relação à sociedade,
em alguns casos inclusive assistencialistas e filantrópicas, e em ações de
cumprimento legal relativa às relações de trabalho. Propósito genuíno quando
observada a argumentação de Tenório (2009) relativa à necessidade de se
estabelecer um novo marco conceitual sobre gestão social, capaz de sensibilizar os
gestores das organizações na perspectiva de que as ações organizacionais precisam
ter como fator determinante a sociedade e não o mercado. Esta é uma premissa
discutida por Dowbor (1999) que também critica a limitação do social tratado por uma
gestão de visão puramente estratégica, de cunho filantrópico e assistencialista.
Diante do paradigma discutido, Morcelli e Ávila (2016) afirmam, sobre a mudança
gradual do perfil das iniciativas de responsabilidade social nas organizações da
responsabilidade social no decorrer do tempo, que implica na inferência de um campo
aberto a ser debatido, no qual existem possibilidades de avanços como os propostos
nesta pesquisa, considerando a gestão social como uma referência plausível e
adequada para as inovações sociais concernentes à maximização dos resultados das
iniciativas de responsabilidade social e do amadurecimento de todo o processo de
gestão no contexto do pilar social da sustentabilidade organizacional.
92
3 METODOLOGIA
3.1 Procedimentos de pesquisa
Este estudo apresenta abordagem qualitativa e quantitativa de cunho descritivo. Os
procedimentos incluíram a realização de pesquisa documental com análise estatística
de correlação dos resultados (clusters) e, para a pesquisa de campo, foram realizadas
entrevistas, cujos dados coletados foram submetidos à análise de conteúdo proposta
por Bardin.
A pesquisa analítica documental foi realizada por exame de dados secundários de
Relatórios de Sustentabilidade das organizações públicas, privadas e sem fins
lucrativos selecionadas por critérios objetivos. Os Relatórios foram selecionados da
base de dados disponibilizada pela GRI, na Lista de Relatórios GRI (2016), que
apresenta os endereços eletrônicos nos quais as organizações disponibilizam
publicamente seus Relatórios de Sustentabilidade.
As orientações para utilização da base de dados estão na publicação Legenda de
dados (GRI, 2015) do Banco de Dados de Sustentabilidade da GRI (2016). Estes
Relatórios, juntamente com as orientações das Diretrizes da GRI – G4, correspondem
às fontes da pesquisa ou unidades de análise, que de acordo com Alves-Mazotti e
Gewandsznajder (1998), constituem a forma de organização dos dados para a
realização da análise.
As informações referentes aos Relatórios de Sustentabilidade foram observadas e
tabuladas no que tange a existência de conteúdo sobre cada um dos 78 indicadores
da categoria social das diretrizes da GRI e a realização de verificação externa,
independente destes conteúdos, conhecida como asseguração externa, o que atribui
maior confiabilidade às informações prestadas. O resultado desta pesquisa
documental foi objeto de uma análise estatística de correlação entre os itens e
reagrupamento dos indicadores do pilar social por clusters (agrupamentos), com maior
perfil de similaridade na perspectiva de apresentação do conteúdo e de sua
verificação externa.
93
A pesquisa de campo buscou informações através de pessoas responsáveis pelo
processo de consolidação e elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade das
organizações selecionadas na etapa da pesquisa documental. Estas pessoas
usualmente possuem uma visão ampliada sobre os Relatórios da organização na qual
trabalham e esclareceriam as questões relativas à utilização das diretrizes da GRI, as
ações e indicadores de sustentabilidade e os procedimentos utilizados para a
elaboração e divulgação do Relatório de Sustentabilidade das organizações
selecionadas. Após a coleta de dados pelas entrevistas, a análise de conteúdo das
informações prestadas foi realizada com o auxílio do programa Iramuteq e dos
métodos propostos por Bardin (2011).
3.2 Cenário da pesquisa
Em relação ao cenário dos RS disponíveis para análise, de acordo com a Lista de
Relatórios GRI (2016), no ano de 2015, no Brasil, foram publicados 262 Relatórios,
dos quais 157 já utilizaram a geração 4 das diretrizes GRI e, desses, 24 utilizaram a
opção “Abrangente” de Relatório previsto nas diretrizes da GRI–G4. Com base em
critérios de inclusão e exclusão preestabelecidos, descritos no item 4.2.1, esta
pesquisa analisou 12 RS28 e contemplou as declarações dos 4 responsáveis pela
elaboração dos RS de suas organizações que se disponibilizaram a participar das
entrevistas.
3.2.1 Fontes da pesquisa documental
Diante do cenário de pesquisa apresentado, o levantamento documental dos RS foi
realizado por amostra não probabilística, que conforme Richardson (2012), as
unidades de pesquisa foram selecionadas por meio de critérios estabelecidos pela
intencionalidade da escolha. Logo, foram utilizados, como referência para a seleção
dos RS, os seguintes critérios de inclusão e exclusão e suas justificativas:
28 Associação Comercial de São Paulo (ACSP); Banco do Brasil; Bunge Alimentos Brasil; Caixa Econômica Federal; Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV); Instituto da Oportunidade Social (IOS); Itaipu Binacional; Santander – Brasil; Sírio Libanês Hospital; Tractebel Energia (atual Engie Brasil Energia); Unimed Cuiabá; Unimed Sorocaba.
94
• Emitidos por organizações brasileiras: pela similaridade cultural, espacial e
política, mesmo considerando os regionalismos existentes, e por estarem
submetidas aos mesmos parâmetros normativos e legais que as regulam.
• Utilizarem a geração 4 das diretrizes da GRI, publicada em 2013, que
contempla o resultado dos debates sobre sustentabilidade das organizações e
dos especialistas de todo o mundo, envolvidos no processo de revisão.
• Relatórios publicados em 2015, pois é o ano com a relação de RS já
consolidada na Lista de Relatórios GRI (2016) disponibilizada.
• Utilização da opção “Abrangente”29 desses Relatórios prevista nas diretrizes da
GRI – G4: existem três classificações de formato dos Relatórios de
Sustentabilidade, o de acordo “Essencial”, o “Abrangente” ou o “Não
declarado”, que designam o conteúdo a ser incluído no Relatório, e a opção
“Abrangente” amplia a quantidade de informações disponíveis para a análise
na pesquisa.
• Organizações de atuação em setores distintos, pois isso permite que, na
análise dos dados, seja possível a comparação das percepções sobre gestão
social nas diferentes esferas de atuação, uma vez que possuem escopos de
atuação distintos, seja mais próximo ou não dos interesses sociais ou privados.
De acordo com Marconi e Lakatos (2010), a técnica de amostragem não probabilística
por tipicidade atribui ao pesquisador a busca por uma amostra representativa diante
das características da pesquisa que o impedem de utilizar uma amostra probabilística.
Essa técnica de amostragem não probabilística tornou-se aplicável a este estudo,
sendo uma das opções, a definição de um subgrupo que tenha propriedades típicas
da publicação dos Relatórios de Sustentabilidade, inferindo que os componentes
desse subgrupo também possuam características típicas relativas à apresentação das
suas práticas e indicadores da categoria social em seus Relatórios. Portanto, para a
pesquisa documental, foram utilizados os critérios de tipicidade relacionados como
critérios de inclusão e exclusão e são apresentados no Quadro 2.4 para a seleção do
29 De acordo com a GRI (2015, p. 11), os Relatórios elaborados conforme a GRI – G4 podem ser classificados em “De acordo – Essencial”, “De acordo – Abrangente” ou “Não declarado”, sendo este quando não há explicitado a opção “de acordo”, mas segue todo índice de conteúdo GRI.
95
subgrupo de Relatórios de Sustentabilidade que serão utilizados na pesquisa a partir
da Lista de Relatórios GRI (2016).
Quadro 2.4 – Critérios de tipicidade para definição das unidades de pesquisa
Critérios Universo da pesquisa
documental Cenário da pesquisa
documental Unidades de pesquisa
Ano de publicação
1999 – 2015 2015 5609
País 100 países Brasil 262
Tipo de Relatórios
• Non – GRI
• GRI – Referenced
• GRI – G1
• GRI – G2
• GRI – G3
• GRI – G3.1
• GRI – G4
• GRI – G4
157
Tipo de organização30
• Instituição Pública
• Empresa Estatal
• Empresa Privada
• Subsidiária
• Parceria Cooperativa
• Organização Sem Fins Lucrativos
• Instituição Pública
• Empresa Estatal
• Empresa Privada, Subsidiária, Parceria
• Cooperativa
• Organização Sem Fins Lucrativos
InexistenteA
8 131
8 A
6 A
Nível de aderência
• De acordo – Abrangente
• De acordo – Essencial
• Não declarado
• De acordo – Abrangente para Empresas Estatais, Empresas Privadas, Subsidiárias, Parcerias e Cooperativas
• De acordo – Essencial para Organizações Sem
Fins LucrativosB
Empresa Estatal - 3 Empresa Privada, Subsidiária, Parceria –
17C
Cooperativa - 2 Organização Sem Fins Lucrativos - 4
Fonte: Elaborado pelos autores. Notas: A Ao analisar o resultado dos critérios aplicados à Lista de Relatórios GRI (2016), verificou-se que a organização listada como Instituição Pública de fato é uma Cooperativa, assim como duas organizações que foram classificadas como Organizações sem Fins Lucrativos. Uma das organizações classificadas como Cooperativa é uma Empresa Privada. Essa verificação foi realizada no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) disponibilizado na internet pela Receita Federal Brasileira, por consulta da descrição de natureza jurídica dessas organizações. Considerando a inexistência de informações complementares que justifiquem a alocação das organizações citadas em outra categoria da Lista de Relatórios GRI (2016), essas foram desconsideradas como objetos de análise e não constam na tabela. B Não consta, em 2015, Relatório de Sustentabilidade com nível de aderência “De acordo – Abrangente”, publicado por alguma Organização Sem Fins Lucrativos no Brasil (GRI, 2016). C Ao se filtrar as Empresas Privadas, Subsidiárias e Parcerias, com Relatórios “De acordo – Abrangente” GRI – G4 em 2015, foi identificado que uma delas é uma Organização Sem Fins
30 De acordo com o GRI (2015, p. 16), a empresa estatal corresponde a uma entidade jurídica criada por um governo, a fim de realizar atividades comerciais em nome do governo. As empresas subsidiárias são aquelas controladas por uma outra empresa por meio da posse de 50% ou mais do seu capital e a parceria corresponde a uma formação de empresas ou indivíduos com o propósito de avançar os seus interesses comerciais.
96
Lucrativos, logo, também foi desconsiderada na análise. Das 17 empresas, serão definidas aqueles que serão objeto desse estudo.
Para a definição de quais das 17 Empresas Privadas, Subsidiárias e/ou Parcerias
terão seus Relatórios analisados, foi aplicada uma avaliação qualitativa do histórico
de publicações da Lista de Relatórios GRI (2016) para que fossem selecionadas
aquelas organizações com maior homogeneidade referente à maturidade de
elaboração dos seus Relatórios.
O primeiro filtro para a seleção dessas empresas foi ter iniciado a publicação de seus
Relatórios, no mínimo no ano de 2011, ano de publicação da versão GRI – G3.1,
geração anterior à GRI – G4. Aplicando tal critério, foi realizada a análise qualitativa
da versão das diretrizes utilizadas nos Relatórios e, com referência a elas, verificar o
melhor nível de aderência e o status de 13 empresas, priorizando como objeto de
estudo aquelas empresas que demonstrem maturidade de publicação pela quantidade
de itens de melhor parâmetro dentre àqueles disponíveis pelas diretrizes da GRI.
Para compilação e uso desses critérios de seleção das organizações que tiveram seus
Relatórios 2015 analisados, foi utilizada a Lista de Relatórios disponibilizada pela GRI
para a realização desta pesquisa, que contempla o banco de dados de Relatórios de
1999 a 01 de agosto de 2016. Foram aplicados na planilha correspondente ao ano de
2015, os filtros descritos no Quadro 2.4, após essa seleção, as organizações foram
buscadas na planilha Overview, que consiste em uma compilação que demonstra o
histórico de publicações por empresa. Desta última planilha foram selecionadas as
organizações classificadas como Empresas Privadas, considerando aquelas que
possuem o maior número de publicações de Relatórios de Sustentabilidade com
melhor classificação de maturidade, como apresentado no Quadro 2.5.
Esclarecendo os parâmetros utilizados, de forma decrescente de maturidade,
conforme a GRI (2015, p. 11-12), tem-se:
• Relatórios GRI – G4: De acordo – Abrangente (IA – Abrang.), De acordo –
Essencial (IA – Essec.) ou Não declarado (U).
97
• Relatórios GRI – G3 e GRI – G3.1: A+, A, B+, B, C+, C ou Não declarado (U).
A classificação A, B ou C refere-se ao nível de aplicação da estrutura de
Relatórios da GRI, sendo respectivamente iniciantes, intermediários e
avançados. O símbolo + indica que o Relatório passou por verificação externa
e inclui uma declaração de verificação externa. Para os Relatórios dessas
versões, ainda foi verificado o seu status, sendo: Verificado pela GRI (GRI) ou
Terceira parte (3p), ou Auto declaração (Sd).
• Relatórios GRI–G2: De acordo (IA) ou somente o Índice de Conteúdo (CI).
Para a demonstração dessa similaridade, foram destacados no Quadro 2.5 os
parâmetros de maturidade elencados de acordo com os requisitos estabelecidos pela
GRI (2015) na publicação intitulada Legenda de dados, que deve ser utilizada
juntamente com o Banco de Dados de Sustentabilidade da GRI (2016).
Quadro 2.5 – Tipicidade de Unidades de Pesquisa por similaridade da maturidade
em publicação de Relatórios de Sustentabilidade
Org
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12
20
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20
14
20
15
A 0 0 0 0 G3 C
GRI
G3 B 3p
G3 B 3p
G3.1 A 3p
G3 A 3p
G4 IA – Abrang.
G4 IA – Abrang.
2
B G2 CI
G2 CI
G3 A+ 3p
G3 A+ 3p
G3 A+ 3p
G3 A+ 3p
G3 A+ 3p
G3 A+ 3p
G3 A+ 3p
G4 IA – Abrang.
G4 IA – Abrang.
9
C 0 0 G3 B+ Sd
G3 B+ 3p
G3 B+ 3p
G3 A+ 3p
G3 A+ 3p
G3.1 A+ 3p
G3 A+ 3p
G4 IA – Abrang.
G4 IA – Abrang.
6
D 0 0 0 0 0 G3 C Sd
0 G3 A
Sd
G3 A
Sd
G3 A
Sd
G4 IA – Abrang.
1
E 0 0 0 0 0 G3 C Sd
G3.1 B
GRI
G3.1 A
GRI
G3.1 A
GRI
G4 IA – Abrang.
G4 IA – Abrang.
2
Continua...
98
... Continuação
F 0 0 0 G3 C Sd
G3 B
Sd
G3 B
Sd
G3 B
Sd
G3 B
Sd
G3.1 B
Sd
G3.1 B
Sd
G4 IA – Abrang.
1
G 0 0 0 0 0 G3 B+ 3p
G3 B+ 3p
G3.1 A+ 3p
G3.1 A+ 3p
G4 IA – Abrang.
G4 IA – Abrang.
4
H 0 0 0 0 0 G3 C
GRI
G3 B
GRI
G3.1 A+ GRI
G3.1 A+ GRI
G4 IA – Abrang.
G4 IA – Abrang.
4
I 0 0 0 G3 B
Sd
G3 A
Sd
G3 A
Sd
G3 A
GRI
G3 A
GRI
G3 A
GRI
G4 IA – Abrang.
G4 IA – Abrang.
2
J 0 0 0 0 0 0 G3.1 A+ 3p
0 G3.1
B Sd
G4 IA – Essec.
G4 IA – Abrang.
2
L 0 0 0 0 G3 B
Sd
G3 B
Sd 0
G3 B
Sd
G3 B
Sd
G3.1 U
G4 IA – Abrang.
1
M 0 0 G3 A+ GRI
G3 A+ GRI
0 G3 A+ GRI
G3 A+ GRI
G3 A+ GRI
G3 A+ GRI
G4 U
G4 IA – Abrang.
7
N 0 0 0 G3 C
GRI
G3 A+ GRI
G3 A+ GRI
G3 A+ GRI
G3 A+ GRI
G3 A+ GRI
G4 IA – Abrang.
G4 IA – Abrang.
7
Fonte: Elaborado pelos autores, de acordo com GRI (2016). Nota: As células coloridas correspondem àqueles parâmetros de maior maturidade e foram contabilizados na última coluna.
De acordo com as informações apresentadas no Quadro 2.5, foram objeto de estudo
aquelas empresas que apresentaram de 7 a 9 itens classificados como os melhores
parâmetros de publicação. Portanto, mais três Empresas Privadas, Subsidiárias ou
Parcerias também foram objeto desta pesquisa, juntamente com as organizações já
definidas, totalizando 12 RS. Logo, os 12 Relatórios de Sustentabilidade fontes da
pesquisa documental foram:
• 3 (três) de Empresas Estatais: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e
Itaipu Binacional.
• 3 (três) de Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias: Bunge Alimentos
Brasil, Santander – Brasil e Tractebel Energia (atual Engie Brasil Energia).
• 2 (duas) Cooperativas: Unimed Cuiabá e Unimed Sorocaba.
• 4 (quatro) Organização Sem Fins Lucrativos: Associação Comercial de São
Paulo (ACSP), Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias
(inpEV), Instituto da Oportunidade Social (IOS) e Sírio Libanês Hospital.
99
Em 2015, não foram publicados Relatórios de organizações sem fins lucrativos na
categoria “Abrangente”, logo, devido à importância deste grupo de organizações para
a pesquisa, os seus Relatórios que serão analisados são da categoria “De acordo –
Essencial”. Por fim, ressalta-se que esses dados foram organizados a partir da
planilha disponibilizada pelo escritório central da GRI, por e-mail, conforme solicitado
pelos pesquisadores (ANEXO A), e os RS estão disponíveis no site da GRI bem como
nos sites das respectivas organizações. O Anexo A apresenta o e-mail de
disponibilização da planilha e a autorização da GRI para o seu uso nesta pesquisa.
3.2.2 Sujeitos da pesquisa de campo
Na etapa de pesquisa de campo, realizaram-se entrevistas com profissionais
envolvidos na compilação e elaboração dos RS. As entrevistas foram orientadas por
roteiro semiestrurado apresentado no Apêndice E. Todas as 12 organizações
selecionadas na etapa da pesquisa documental foram convidadas por e-mails e por
contatos telefônicos para participarem das entrevistas, e tiveram livre escolha em
contribuir com essa pesquisa, conforme os aspectos éticos orientadores deste estudo
e discorridos no item 4.6. Nesse contexto, as organizações participantes forneceram
anuência para a realização das entrevistas (APÊNDICE A) e os entrevistados
assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) apresentados no
Apêndice C.
Os profissionais entrevistados foram selecionados pelos seguintes critérios:
• Terem envolvimento direto na coordenação, elaboração e revisão dos
Relatórios de Sustentabilidade das organizações objeto de estudo, com
conhecimento sistêmico sobre a estrutura e conteúdo dos relatórios. Serem
empregados próprios dessas organizações.
• Serem indicados pelas organizações mediante a apresentação dos dois
critérios anteriores.
O processo de realização dos contatos, esclarecimentos sobre a pesquisa e a
realização das entrevistas ocorreram no período de janeiro a julho de 2017. As
100
entrevistas subsidiaram a compreensão sobre a categoria social desses sujeitos no
contexto de suas organizações e também sobre as concepções de gestão social
presentes nos RS estudados nessa pesquisa.
3.3 Instrumentos de coleta de dados
3.3.1 Coleta de Dados da Pesquisa Documental
Como as fontes da pesquisa documental foram os RS das organizações já definidas,
o levantamento documental para esse estudo foi realizado com o download dos
Relatórios de Sustentabilidade das organizações selecionadas e publicados em 2015,
além das diretrizes da GRI – G4. Os Relatórios de Sustentabilidade estavam
relacionados na Lista de Relatórios GRI (2016), que incluem o endereço eletrônico
desses Relatórios. Destes Relatórios foram extraídos os dados e as informações e
organizados em planilha eletrônica Microsoft Excel® para que fosse possível a
realização posterior da análise estatística realizada pelo programa Minitab®.
3.3.2 Coleta de Dados da Pesquisa de Campo
Como instrumentos de coleta de dados, foram realizadas entrevistas semiestruturadas
que foram gravadas e, posteriormente, transcritas utilizando-se o Microsoft Word® e
os corpus textuais preparados conforme os requisitos do programa de análise de
conteúdo Iramuteq. Este tipo de abordagem permitiu uma percepção qualitativa que
pode não ter sido coletada, ou mesmo, apresentada nos dados presentes nos
Relatórios analisados.
O roteiro de entrevista está descrito no Apêndice E, devido à distância ou às
dificuldades de realização das entrevistas de forma presencial, estas foram realizadas
por teleconferência e conferência virtual, em datas e horários pré-agendados com os
entrevistados. Os TCLE foram encaminhados aos entrevistados para assinatura e
retornaram ao pesquisador antes das entrevistas, assim como, as autorizações para
coleta de dados, conforme o Apêndice C, foram emitidas pelos responsáveis
pertinentes das organizações. Os critérios éticos foram cumpridos tanto na solicitação
101
de anuência das organizações para realização das entrevistas bem como para cada
um dos entrevistados.
3.4 Análise de Dados da Pesquisa Documental
Como primeira etapa da análise de dados da pesquisa documental, verificou-se a
apresentação dos 78 indicadores da categoria social das diretrizes da GRI, no
Sumário de conteúdo da GRI - G4, dos 12 RS. A existência dessas informações dos
sumários foi confirmada no decorrer do relatório. Também fez parte da primeira etapa
da análise de dados, a identificação das informações dos indicadores que foram
verificadas externamente por empresa independente, processo também conhecido
como auditoria externa ou asseguração externa do Relatório de Sustentabilidade.
Esse conjunto de informações foi tabulado em planilha Microsoft Excel®, utilizando
códigos numéricos, em formato de níveis de qualidade de dados, sendo:
• 0 – Informação não contemplada no sumário;
• 1 – Informação não apresentada;
• 2 – Informação parcialmente apresentada sem verificação externa;
• 3 – Informação parcialmente apresentada com verificação externa;
• 4 – Informação apresentada sem verificação externa;
• 5 – Informação apresentada com verificação externa.
Para melhor operacionalização das variáveis, cada indicador recebeu um código
alfanumérico para as representações gráficas e estão apresentados nas legendas no
decorrer da apresentação dos resultados.
Após a tabulação dos dados referente à pesquisa documental, utilizando as
funcionalidades do programa computacional Minitab®, versão 18, foi realizada a
análise de cluster de variáveis para obter um agrupamento dos 78 indicadores da
categoria social reportados pelas 12 organizações, com maior similaridade entre si e
de acordo com os níveis de qualidade de dados definidos e descritos anteriormente.
O método utilizado para determinação das similaridades foi o de ligação completa
através de distâncias do coeficiente de correlação e resultou em oito clusters.
102
Após a definição dos clusters de variáveis, cada um dos agrupamentos foi analisado
no que tange à composição pelos indicadores da categoria social e, por conseguinte,
foram classificados qualitativamente. Após essa etapa, foi realizada uma análise de
cluster das 12 organizações pesquisadas, para cada um dos oito clusters
estabelecidos, verificando, desta forma, o comportamento do perfil organizacional em
relação a cada agrupamento de indicadores. Nesta segunda análise de cluster foi
utilizado o método de ligação completa através de distâncias euclidianas para a
determinação das similaridades entre as organizações.
Para descrever o perfil das empresas pelas categorias nas quais elas são
classificadas (estatais, privadas, cooperativas e sem fins lucrativos), em relação aos
oito clusters de variáveis, foi utilizado o teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis e a
comparação múltipla com correção de Bonferroni.
3.5 Análise de Dados da Pesquisa de Campo
Para a análise de dados da pesquisa de campo, foi utilizada a técnica de análise de
conteúdo por categorias e análise da enunciação conforme Bardin (2011). Segundo a
autora, a análise de conteúdo se difere da análise documental ao se atribuir a
inferência ao processo da análise categórica temática. Ainda cabe destacar que a
análise de conteúdo trabalha com as mensagens e sua manipulação, com o propósito
de esclarecer o conteúdo e a expressão desse conteúdo que pode demonstrar os
indicadores capazes de permitir a inferência de outra realidade que não se limitando
àquela descrita na mensagem.
No caso específico da análise da enunciação, Bardin (2011) destaca que este tipo de
análise se apoia na perspectiva da comunicação como um processo de elaboração,
comportando contradições, incoerências e imperfeições e, no contexto de uma análise
lógica da enunciação, tem-se também o conhecimento sobre o arranjo do discurso.
Logo, considerando que os entrevistados possuem seus posicionamentos
espontâneos e os constrangimentos relacionados aos relatos focados nas instituições
103
que representam, este tipo de análise representou um método promissor para essa
pesquisa.
Ainda segundo Bardin (2011), a organização da análise de conteúdo é realizada em
três etapas: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados,
inferência e interpretação. Na pré-análise, as ideias são sistematizadas e
operacionalizadas para tornar preciso o desenvolvimento das ações. Nessa etapa, as
entrevistas a serem analisadas foram consolidadas, os objetivos e hipóteses definidos
e os indicadores, para fundamentar a interpretação final, foram elaborados.
Na exploração do material, as decisões tomadas na etapa de pré-análise foram
sistematizadas e aplicadas. Logo, no contexto desta pesquisa, essa etapa foi
realizada manualmente, utilizando, respectivamente, o texto transcrito em Microsoft
Word®, para compilação das informações, e o software Iramuteq, para as
codificações, decomposição e enumeração pertinentes. Por fim, a etapa de tratamento
dos resultados obtidos, inferência e interpretação corresponderam à fase de
tratamento da significância e validação dos resultados brutos alcançados na etapa
anterior (BARDIN, 2011).
Cabe destacar que a técnica utilizada na análise de conteúdo também contemplou a
análise da enunciação do conteúdo. Esta, de acordo com Bardin (2011), se desvia
das estruturas e dos elementos formais, assim como percebe a comunicação como
um processo e, não, como um conjunto de dados. Essa percepção ampliada do
conteúdo das entrevistas realizadas contribui com a busca da compreensão conceitual
presente no processo de elaboração dos RS.
3.6 Aspectos Éticos
Considerando que a pesquisa utilizou entrevistas como instrumento de coleta de
dados, os aspectos éticos foram contemplados em seu desenvolvimento. Após o
exame de qualificação em outubro de 2016, este projeto foi cadastrado na Plataforma
Brasil, que o enviou ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Newton
Paiva, observando os requisitos da Resolução nº 466/2012, do Conselho Nacional de
104
Saúde, que estabelece as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas
envolvendo seres humanos no Brasil, de acordo com o Termo de Compromisso
apresentado no Apêndice B, para análise de viabilidade. Os requisitos sobre os
aspectos éticos das pesquisas em ciências humanas e sociais também foram
observados, conforme os requisitos da Resolução nº 510/2016, do Conselho Nacional
de Saúde.
O projeto foi cadastrado na Plataforma Brasil pelo registro CAAE
62865616.0.00005097 e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, do Centro
Universitário Newton Paiva, pelo parecer nº 1.892.159 que foi emitido em 17 de janeiro
de 2017 (ANEXO B).
Os entrevistados assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APÊNDICE C), emitido em duas vias, sendo que uma delas ficou com a pessoa
entrevistada. Para as entrevistas realizadas, também foi solicitada a Autorização para
Coleta de Dados emitida pela organização, conforme o Apêndice A. Ressalta-se que
esse procedimento ocorreu após a anuência das respectivas organizações para
realização dessas entrevistas visto que os relatórios são disponibilizados para o
público em geral tanto no site da GRI quanto nos sites organizacionais, de acordo com
o termo de compromisso apresentado no Apêndice D.
Neste interim, salienta-se que as conclusões e interpretações, resultantes das
análises das informações coletadas pelas entrevistas realizadas e contidas neste
estudo, não representam, necessariamente, a posição das organizações
participantes.
105
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.1 Caracterização dos Relatórios de Sustentabilidade
De acordo com o GRI (2016), dentre as 12 organizações, objeto desse estudo, duas
delas são classificadas como pequenas e médias organizações, sendo elas o Instituto
Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV) e o Instituto da
Oportunidade Social (IOS). Todas as demais são classificadas como grandes
organizações, sendo elas: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaipu
Binacional, Bunge Alimentos Brasil, Santander – Brasil, Tractebel Energia (atual Engie
Brasil Energia), Unimed Cuiabá, Unimed Sorocaba, Associação Comercial de São
Paulo (ACSP) e Sírio Libanês Hospital. As organizações classificadas como grandes,
o Santander – Brasil e a Tractebel Energia (atual Engie Brasil Energia) são empresas
privadas com ações listadas em bolsa de valores, assim como o Banco do Brasil, que
possui uma parte de ações sem propriedade governamental e negociadas em bolsa
de valores.
Em relação aos setores de atuação, as organizações selecionadas estão classificadas
na lista do GRI (2016) como três organizações de serviços financeiros (Banco do
Brasil, Caixa Econômica Federal e Santander – Brasil); três organizações de serviços
de saúde (Unimed Cuiabá, Unimed Sorocaba e Sírio Libanês Hospital); duas
organizações de energia (Itaipu Binacional e Tractebel Energia); duas organizações
de serviços sem fins lucrativos (IOS e ACSP), uma de alimentos e bebidas (Bunge
Alimentos Brasil) e uma de agricultura (inpEV).
A maioria dos Relatórios de Sustentabilidade foram publicados no segundo semestre
de 2015 e, apenas dois deles, no primeiro semestre de 2016, conforme a lista do GRI
(2016). Ressalta-se que esses relatórios apresentam informações consolidadas do
ano de 2014.
106
Dos 12 relatórios analisados, as organizações inpEV, Santander – Brasil e Sírio
Libanês Hospital utilizaram o serviço de divulgação de materialidade da GRI31 e duas
organizações utilizaram o serviço de índice de conteúdo (CI) da GRI32, Itaipu
Binacional e Unimed Sorocaba.
Das organizações analisadas nesta pesquisa, quatro não tiveram verificação externa
ou asseguração externa por auditores independentes, sendo elas a ACSP, Bunge
Alimentos Brasil, inpEV e Unimed Sorocaba. Das demais, de oito organizações que
tiveram as informações dos seus relatórios asseguradas externamente por auditores
independentes, duas delas foram auditadas pela KPMG, sendo elas o Banco do Brasil
e Itaipu Binacional (ambas em asseguração limitada33); duas auditadas pela
PricewaterhouseCoopers, foram elas, IOS (auditoria das informações contábeis) e
Tractebel Energia (asseguração limitada); a Caixa Econômica Federal foi auditada
pela Ernst & Young (asseguração limitada e não contemplou os indicadores da
categoria social como G4-HR4, G4-HR8, G4-HR11, G4-SO2, G4-PR4 e G4-PR8,
descritos no Apêndice F), o Santander – Brasil foi auditado pela Deloitte (asseguração
limitada), o Sírio Libanês Hospital foi auditado pela DNV (asseguração limitada), e a
Unimed Cuiabá verificada pela consultoria M. de Menezes Consultoria no seu
relatório, como foco no acompanhamento e verificação das informações prestadas.
Prosseguindo no processo de caracterização das organizações e dos RS, o Banco do
Brasil, a Caixa Econômica Federal, a Itaipu Binacional, o Santander – Brasil e a
Tractebel Energia indicam referência ou uso objetivo dos princípios do Pacto Global
das Nações Unidas34. A seguir, um relato que ilustra esse compromisso no cenário do
31 Serviço prestado pela GRI que verifica as informações que a organização forneceu sobre seu processo de materialidade utilizado para a elaboração do RS, avaliando se esse processo está de acordo com as diretrizes da GRI no que tange ao envolvimento e engajamento das partes interessadas, aos métodos de definição e limites do conteúdo presente no RS. 32 Serviço prestado pela GRI que auxilia a melhoria da precisão e usabilidade do índice de conteúdo do RS, avaliando se esse índice está de acordo com as diretrizes da GRI. 33 Trabalho realizado por auditor independente no qual o risco do trabalho foi reduzido a um nível aceitável nas circunstâncias apresentadas pelas organizações em seus RS. 34 O Pacto Global é uma iniciativa da ONU que tem como propósito a mobilização das empresas para a adoção dos seus dez princípios universais, dos quais as organizações podem se tornar signatárias. No contexto dos RS, a conexão dos princípios do Pacto Global com as diretrizes da GRI está relacionada às práticas e resultados das organizações no que tange os direitos humanos, as comunidades locais, as relações entre trabalhadores e empregadores, a liberdade de associação e negociação coletiva, as questões referentes ao trabalho forçado ou análogo ao escravo, assim como o
107
Santander – Brasil e o desdobramento deste compromisso em ações e metas para o
banco e sua relação com a importância dessas ações para as partes interessadas.
A sustentabilidade faz parte da estratégia de negócios do Santander. Alinhado à agenda de desenvolvimento do País e aos compromissos empresariais assumidos – que estimulam as práticas de responsabilidade socioambiental, como o Pacto Global, foram estabelecidas metas vinculadas aos temas de alta materialidade, apontados como relevantes pelos públicos de relacionamento do Santander. As metas estão organizadas a partir dos eixos estratégicos de atuação: Inclusão Social e Financeira, Educação e Negócios Socioambientais. (SANTANDER BRASIL, 2015, p. 65).
Todavia, a única organização de serviços financeiros que relata a adoção dos padrões
da International Finance Corporation (IFC)35 é o Banco do Brasil, no sentido de
assegurar que investimentos possuam resultados de desenvolvimento social de forma
responsável além de outros objetivos.
Os projetos avaliados pelo BB são enquadrados em uma matriz de risco socioambiental, que identifica impactos e riscos relevantes e medidas de gestão. (BANCO DO BRASIL, 2015, p. 92).
De acordo com a categoria de financiamento, a IFC exige do cliente o
desenvolvimento ou manutenção de um sistema de gestão ambiental e social. Em
caso de situações específicas de alto risco, o banco pode solicitar ao cliente a
complementação de sua documentação de avaliação com uma due diligence36 com
objeto específico sobre questões relacionadas aos direitos humanos ou uma avaliação
social ou ambiental de escopo específico, realizada como uma auditoria.
Dos relatórios pesquisados, a Tractebel Energia foi a única que fez referência à
utilização das recomendações da ISO 2600037 no conteúdo das avaliações de
trabalho infantil, as iniciativas sobre a não discriminação, os aspectos ambientais, o combate à corrupção e ações vinculadas às políticas públicas (GRI, 2013). 35 A International Finance Corporation, em português, a Corporação Financeira Internacional representa uma instituição que realiza a análise de riscos para assegurar que os financiamentos promovidos por uma organização contribuam com o desenvolvimento social e que as melhores práticas de gestão ambiental estão sendo implementadas nos empreendimentos financiados. 36 Processo de investigação e auditoria para confimação de informações prestadas com o intuito de avaliar os potenciais riscos envolvidos no processo. 37 Norma Internacional ISO publicada em 2010 e que estabelece as diretrizes sobre Responsabilidade Social.
108
melhoria contínua de sua governança corporativa. Esta prática é destacada pela
Tractebel Energia como um dos diferenciais adotados para a melhoria contínua do
seu processo de Governança Corporativa.
Recomendações como as do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), do ISE, do Guia ISO 26000 e da Global Reporting Initiative (GRI) são consideradas pela Companhia nas avaliações de melhoria contínua de sua governança corporativa. Desde 2007, a Tractebel Energia publica seus relatórios de sustentabilidade alinhados às diretrizes da GRI e a partir de 2013, passou a adotar a versão G4, na opção Comprehensive (TRACTEBEL ENERGIA, 2015, p. 31).
Constata-se que outras referências, além das diretrizes da GRI, são utilizadas pelas
organizações para a melhoria da qualidade do seu processo de gestão da
sustentabilidade e, consequentemente, para o alcance de um melhor desempenho
nos itens que são considerados relevantes ou material na linguagem dos RS, para as
partes interessadas. A aproximação de referenciais como o IFC, Pacto Global, ISO
26000, dentre outros das práticas de sustentabilidade relatadas nos RS é estimulada
pela GRI, que em suas diretrizes, vinculam os indicadores com esses referenciais, por
meio de marcadores. Como exemplo, cita-se o aspecto Comunidades Locais da GRI
(2013a) que possui indicadores que solicitam informações referentes aos programas
de engajamento da comunidade local, e a avaliação de impactos e desenvolvimento
local. Neste aspecto, a própria GRI indica que existem conexões com os dez princípios
do Pacto Global das Nações Unidas e destacam como uma das referências a serem
observadas, a publicação sobre os padrões de desempenho socioambiental da
sustentabilidade emitido pela IFC.
Essas referências, como a IFC, ISO 26000, Pacto Global e outras utilizadas pelas
organizações, se constituem em iniciativas que tratam elementos específicos da
sustentabilidade organizacional, e que juntas permitem um trabalho ampliado de
controles e melhorias que corroboram com o objetivo comum de todas elas, o DS por
meio das ações promovidas pelas organizações. Portanto, nesse âmbito, se fortalece
o papel das diretrizes da GRI também como estimuladoras e consolidadoras do relato
das inciativas relacionadas às demais referências, o que maximiza o potencial
109
resultado da sustentabilidade nas organizações e traz a público outras informações
que podem ser consideradas relevantes para as partes interessadas.
4.2 Pesquisa Documental: contexto, descritivos e análises
O propósito da análise dos Relatórios no contexto das diretrizes da GRI é a
identificação dos elementos que permitam a exemplificação da compreensão da
Gestão Social tanto na categoria social das diretrizes da GRI, quanto nas práticas e
resultados reportados pelas organizações para essa categoria. Pelas diretrizes da
GRI, a categoria social é dividida em quatro subcategorias que são ampliadas para 30
aspectos dos conteúdos padrão específicos, que são desdobrados em 78 indicadores
que consistem em informações qualitativas ou quantitativas que precisam ser
apresentadas pelas organizações, de acordo com os aspectos que foram
considerados materiais a serem reportados,ou seja, informações relevantes no
contexto de atuação da organização. Para entendimento da composição dessas
subcategorias, aspectos e indicadores vide o Apêndice F.
Verificou-se, nos RS das organizações, cada um dos 78 indicadores previstos nas
diretrizes da GRI, cabendo salientar que todos os aspectos possuem como primeiro
indicador a solicitação de informações sobre a forma de gestão daquele item (G4-
DMA). No caso desse primeiro indicador, comum a todos os aspectos, as diretrizes
da GRI (2013) solicitam que as organizações relatem a justificativa daquele
determinado aspecto ter sido considerado material, importante para serem relatados
pela empresa de acordo com a avaliação e necessidades das partes interessadas,
apresentando os impactos que o atribuíram materialidade, além de ser necessário o
relato dos modos pelos quais o aspecto material e seus impactos são gerenciados
pela organização e como é avaliada a abordagem de gestão, no que tange à sua
eficácia, resultados e ajustes.
A análise documental pretende contribuir com o objetivo da pesquisa de verificar se
as diretrizes G4 da GRI e os Relatórios de Sustentabilidade podem ser considerados
instrumentos de Gestão Social pela presença de seus pressupostos. Para isso,
verificou-se, em cada um dos 12 RS, se foram apresentados:
110
• os conteúdos padrão específicos solicitados em cada um dos 78
indicadores previstos nas diretrizes da GRI;
• se foi realizada verificação externa nas informações de todos os
indicadores relatados e,
• se havia a presença de pressupostos de Gestão Social no decorrer do
relato.
Logo, com o intuito de reduzir o número de variáveis a serem analisadas, que neste
momento representam os indicadores da categoria social, foi utilizada a análise de
cluster de variáveis para obter um agrupamento dos itens em clusters. No final dessa
análise, foi possível identificar um total de 8 clusters, como indicado no Gráfico 2.1. O
maior cluster ficou com 15 variáveis e o menor com apenas duas. O método utilizado
para determinação das similaridades foi o de ligação completa utilizando as distâncias
do coeficiente de correlação.
Gráfico 2.1 – Clusters dos indicadores reportados pelas organizações
Fonte: Dados da pesquisa, Software MINITAB, 2017. Nota: Os indicadores do pilar social da GRI conforme os códigos apresentados no Apêndice F estão apresentados em sequência conforme o gráfico: Cluster azul ou cluster 1 – EMP1, TED1, INV1, NDI1, LAN1, TFA1, DPI1, AVA1, SHR1, MQH1, LCO1, COS1, PSL1, COP1 e COP2. Cluster verde ou cluster 3 – LMR1, OHS1, OHS5, DEO1, DEO2, ERWM1, ERWM2, INV2, LAN2, PDS1, PDS2, MQS1, MQS2, CPR1 e CPR2. Cluster azul marinho ou cluster 7 – ACO2, PSL2 e PSL3. Cluster vermelho ou cluster 2 – EMP2, EMP3, EMP4, OHS2, OHS3, OHS4, TED3, TED4, INV3, NDI2, LCO3 e PSL4.
CHS3
CHS2
CHS1
MCO2
LCO2CD
E2CDE1
SHR3
PPU 2
SALP3
SHR2
SALP2
MQH2
TFA2
ACO4ACO3
TIN2
DPI2
AVA2LM
R2CO
S2AFI1
ACO1TIN
1AFI3
AFI2
MQ
L2
MCO3
PPU1
MQL1
MCO1
SALP1
TED2LCO3
NDI2IN
V3
OHS4
OHS3
OHS2
PSL4
EMP4
TED4TED3
EMP3
EMP2
PSL3PSL2
ACO2PD
S2DEO2
INV2
OHS5
CPR1PDS1
DEO1OHS1
MQ
S2M
QS1
ERWM2
ERWM
1CPR2
LAN2LM
R1
COP2CO
P1COS1
MQH1
SHR1
TFA1D PI1
AVA1LAN1
LCO1TED1
NDI1
INV1
PSL1EM
P1
9,95
39,97
69,98
100,00
Itens de indicadores
Sim
ilarid
ade
DendrogramaMétodo de Ligação Completa; Distâncias do Coeficiente de Correlação
111
Cluster cinza ou cluster 5 – TED2, SALP1, MQL1, MQL2, TIN1, ACO1, PPU1, COS2, AFI1, AFI2, AFI3, MCO1 e MCO3. Cluster roxo ou cluster 4 – LMR2, SALP2, SALP3, TIN2, TFA2, DPI2, AVA2, SHR2, SHR3, MQH2, ACO3, ACO4, PPU2, CDE1. Cluster marrom ou cluster 8– CHS1, CHS2 e CHS3.
Devido ao grande número de variáveis, o Quadro 2.6 representa de forma adequada
o agrupamento dos indicadores (qualitativos e quantitativos) para cada um dos
clusters. Lembrando que a correlação entre eles está estatisticamente relacionada ao
perfil da apresentação dessas informações no que tange aos critérios de existência
da informação e se essas foram verificadas externamente, conforme critérios
apresentados no item 4.4. Os códigos apresentados no Quadro 2.6 podem ser
consultados no Apêndice F, juntamente com a descrição do indicador solicitado pela
GRI.
Quadro 2.6 – Composição dos Clusters dos indicadores reportados pelas
organizações
Cluster 11º
Cluster 24º
Cluster 32º
Cluster 46º
Cluster 55º
Cluster 67º
Cluster 73º
Cluster 88º
Variáveis relativas
aos indicadores
EMP1 EMP2 LMR1 LMR2 TED2 LCO2 ACO2 CHS1
TED1 EMP3 OHS1 SALP2 SALP1 MCO2 PSL2 CHS2
INV1 EMP4 OHS5 SALP3 MQL1 PSL3 CHS3
NDI1 OHS2 DEO1 TIN2 MQL2
LAN1 OHS3 DEO2 TFA2 TIN1
TFA1 OHS4 ERWM1 DPI2 ACO1
DPI1 TED3 ERWM2 AVA2 PPU1
AVA1 TED4 INV2 SHR2 COS2
SHR1 INV3 LAN2 SHR3 AFI1
MQH1 NDI2 PDS1 MQH2 AFI2
LCO1 LCO3 PDS2 ACO3 AFI3
COS1 PSL4 MQS1 ACO4 MCO1
PSL1 MQS2 PPU2 MCO3
COP1 CPR1 CDE1
COP2 CPR2 CDE2 Fonte: Dados da pesquisa, Software MINITAB, 2017.
Nota: As cores das variáveis correspondem àquelas do dendograma do Gráfico 2.1, os números ordinais sobrescritos correspondem à sequência dos clusters apresentada no dendograma. Salientando que a ordem de numeração atribuída pelo software não está relacionada à sequência apresentada no dendograma.
Os indicadores agrupados nos clusters foram analisados em relação aos seus temas
e a eles foi definido um ou mais pressupostos de Gestão Social que podem ser melhor
112
caracterizados por aquele conjunto de indicadores. Portanto, antes de apresentar a
análise dos clusters das variáveis que correspondem aos 78 indicadores da categoria
social da GRI apresentados nos RS, a seguir serão enumerados os pressupostos ou
constructos de gestão social que foram utilizados como referência para a análise
desses 8 clusters e do grupo de indicadores que os compõem. Os pressupostos são
frutos da revisão de literatura sobre gestão social apresentada no capítulo 1 desta
dissertação, e correspondem à consolidação dos elementos capazes de caracterizar
a gestão social no contexto da sustentabilidade organizacional, propostos por
Cançado, Tenório e Pereira (2011), Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012),
Tenório (1998; 2005; 2009), Dowbor (1999), Maia (2005) e Pimentel et al. (2011),
sendo eles:
a) Processo de gestão (social e governança) do interesse coletivo de caráter
público e orientado pelas questões de natureza social.
b) Processo comunicativo e dialogicidade entre os envolvidos.
c) Agentes e espaços relacionados às organizações (Estado, Mercado e
Sociedade Civil).
d) Gestão democrática e igualdade política.
e) Gestão participativa, participação social cidadã.
f) Cidadania deliberativa e igualdade decisória.
g) Apreciação intersubjetiva e debate crítico para validação da ação social.
h) Desenvolvimento de ações e políticas públicas sociais e gerenciais-
econômicas.
i) Promoção de qualidade de vida, do bem-estar social e da garantia dos direitos
humanos.
j) Promoção da geração de trabalho e distribuição de renda.
k) Promoção do Desenvolvimento Local.
l) Transformações sociais, inovação social e construção paradigmática.
Revisitados, o que se compreende nesta pesquisa por pressupostos de gestão social,
os oito clusters apresentados no gráfico 2.1 serão analisados a seguir em relação aos
indicadores que os compõem, o que permitirá a próxima etapa, que corresponde o
vínculo aos constructos de gestão social já apresentados.
113
I. Cluster 1 – Dos 15 indicadores agrupados neste cluster, 14 deles solicitam
informação da forma com a qual são gerenciadas as práticas sociais e
resultados, conhecidos como indicadores G4 - DMA, e o único que não se
difere do grupo corresponde a não conformidades legais referentes aos
produtos e serviços.
II. Cluster 2 – Os 12 indicadores deste cluster se referem a práticas
trabalhistas, trabalho decente, benefícios, capacitação dos empregados em
direitos humanos, controle de casos de discriminação, operações com
impactos locais e a satisfação dos clientes.
III. Cluster 3 – Com 15 indicadores, estes tratam de um universo de
especificidades, como questões sociais de fornecedores, reclamações
formais da sociedade, saúde e segurança, governança das questões sociais
internas como as relativas à discriminação e às minorias, acordos e
contratos celebrados contendo quesitos de direitos humanos.
IV. Cluster 4 – Também possui 15 indicadores que tratam principalmente de
direitos humanos, comunicação relativa aos produtos ou serviços, direitos
de povos indígenas e tradicionais, trabalho infantil, trabalho forçado ou
análogo ao escravo, combate à corrupção e práticas trabalhistas de
fornecedores.
V. Cluster 5 – Agrupa 13 indicadores, concernentes à capacitação de
empregados, comunicação, reclamações formais sobre práticas trabalhistas
e impactos de fornecedores na sociedade.
VI. Cluster 6 – Possui dois indicadores, um deles sobre engajamento da
comunidade local e, o outro, sobre venda de produtos proibidos ou
contestados.
VII. Cluster 7 – Com dois indicadores que tratam de informações e conformidade
de produtos e serviços e avaliação de riscos das operações.
VIII. Cluster 8 – Possui três indicadores, referentes aos produtos e serviços no
que tange o gerenciamento das questões de saúde e segurança.
Com o estabelecimento objetivo dos pressupostos de Gestão Social que são
orientadores desta pesquisa e com a análise dos temas de indicadores que
114
compuseram cada um dos clusters, revelam-se as seguintes inferências de relação
entre os clusters e os pressupostos de Gestão Social:
I. Cluster 1 – Processo de gestão (social e governança) do interesse coletivo
de caráter público e orientado pelas questões de natureza social.
II. Cluster 2 – Promoção da geração de trabalho e distribuição de renda;
Transformações sociais, inovação social e construção paradigmática.
III. Cluster 3 – Desenvolvimento de ações e políticas públicas sociais e
gerenciais-econômicas.
IV. Cluster 4 – Promoção de qualidade de vida, do bem-estar social e da
garantia dos direitos humanos; Processo de gestão (social e governança)
do interesse coletivo de caráter público e orientado pelas questões de
natureza social – foco na conformidade legal e ações anticorrupção.
V. Cluster 5 – Processo comunicativo e dialogicidade entre os envolvidos;
Processo de gestão (social e governança) do interesse coletivo de caráter
público e orientado pelas questões de natureza social – foco em
fornecedores e seus impactos na sociedade.
VI. Cluster 6 – Agentes e espaços relacionados às organizações (Estado,
Mercado e Sociedade Civil).
VII. Cluster 7 – Processo de gestão (social e governança) do interesse coletivo
de caráter público e orientado pelas questões de natureza social – foco na
conformidade de produtos ou serviços e avaliação de riscos.
VIII. Cluster 8 – Processo de gestão (social e governança) do interesse coletivo
de caráter público e orientado pelas questões de natureza social – foco na
saúde e segurança relacionadas aos produtos ou serviços.
Portanto, pode-se dizer que os indicadores de sustentabilidade propostos pelas
diretrizes da GRI e reportados pelas organizações objeto de estudo conseguem
evidenciar alguns dos pressupostos da Gestão Social, principalmente no que tange à
apresentação de informações orientadas para as questões de natureza social internas
e externas e aos processos de gestão relacionados a estas questões. Contudo, os
pressupostos relacionados diretamente ao processo de Gestão Social, como a gestão
democrática e a igualdade política; a gestão participativa e a participação social
115
cidadã; a cidadania deliberativa e igualdade decisória; a apreciação intersubjetiva e o
debate crítico para validação da ação social e, até mesmo, a promoção do
desenvolvimento local não conseguiram ser observados por meio da avaliação restrita
às informações relativas aos conteúdos padrão específicos da categoria social dos
RS analisados.
Após a análise de cluster das variáveis, para cada um dos oito clusters definidos
anteriormente, foi realizada uma nova análise de cluster entre as 12 organizações
pesquisadas definindo o agrupamento das organizações com perfis similares de
apresentação de informações relatadas nos RS. Esta segunda análise de cluster será
nomeada de análise de agrupamento para maior clareza da apresentação dos
resultados.
Neste momento, foram utilizadas as médias do conjunto de variáveis analisadas no
cluster para cada uma das organizações, e que estas médias se referem à
classificação realizada na tabulação dos dados sobre os indicadores dos RS
analisados, obtidos na análise documental, conforme critérios de 0 a 5 apresentados
no item 4.4.
Logo, para o Cluster 1 que representa o processo de gestão (social e governança) do
interesse coletivo de caráter público e orientado pelas questões de natureza social,
obteve-se o dendograma apresentado no Gráfico 2.2, com 4 agrupamentos.
116
Gráfico 2.2 – Agrupamento das organizações no Cluster 1
Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017.
A relação da composição dos 4 agrupamentos apresentados no dendograma e o
ranqueamento das médias das organizações estão sintetizadas na Tabela 2.1.
Tabela 2.1 – Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados pelas
organizações
ID Nome Tipo de organização Média Agrupamento
2 Caixa Econômica Federal Empresas Estatais 4,93 1
6 Tractebel Energia Empresas Privadas Subsidiárias ou Parcerias
4,07 1
1 Banco do Brasil Empresas Estatais 3,80 1
5 Santander – Brasil Empresas Privadas Subsidiárias ou Parcerias
3,33 3
8 Unimed Sorocaba Cooperativas 2,40 4
12 Sírio Libanês Hospital Organizações Sem Fins Lucrativos
2,00 4
9 Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Organizações Sem Fins Lucrativos
1,60 2
10 Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV)
Organizações Sem Fins Lucrativos
1,33 2
3 Itaipu Binacional Empresas Estatais 1,27 2
4 Bunge Alimentos Brasil Empresas Privadas Subsidiárias ou Parcerias
0,27 2
7 Unimed Cuiabá Cooperativas 0,27 2
11 Instituto da Oportunidade Social Organizações Sem Fins Lucrativos
0,00 2
Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017. Nota: As cores da coluna agrupamento correspondem àquelas do dendograma do Gráfico 2.2, salientando que a ordem de numeração atribuída pelo software não está relacionada à sequência apresentada no dendograma.
128109117435621
0,00
33,33
66,67
100,00
Organizações
Sim
ilarid
ade
DendrogramaMétodo de Ligação Completa; Distâncias Euclidianas
117
Com os resultados da Tabela 2.1, percebe-se que a apresentação de informações
qualitativas e quantitativas referentes aos processos de gestão preocupados com o
interesse coletivo e orientado pelas questões de natureza social é maduro para o
conjunto de empresas classificadas como públicas e privadas e presentes
principalmente no agrupamento 1, Caixa Econômica Federal (4,93), Tractebel Energia
(4,07) e Banco do Brasil (3,80) e no agrupamento 3, Santander – Brasil (3,33). Como
evidência deste resultado, apresenta-se:
Promoção da diversidade. Desde 2005, o Programa CAIXA de diversidade desenvolve ações de estímulo, inclusão e conscientização em quatro pilares: gênero; raça/ etnia; orientação sexual e identidade de gênero; e pessoas com deficiência. Balizada por essa ação, a Instituição tem investido na mudança cultural interna e externa, por meio da valorização da multiplicidade de perfis de colaboradores, de adaptações em infraestrutura e de compromissos setoriais e públicos. Outro pilar importante é o combate à discriminação e o estímulo a práticas que permitam oportunidades iguais para homens e mulheres e acessibilidade para clientes e colaboradores com deficiência. Para isso, a Empresa conta com o apoio de 16 Comissões Regionais de Diversidade, espalhadas por todo o País. A CAIXA é signatária dos Princípios de Empoderamento das Mulheres da ONU e integra o Comitê de Articulação e Monitoramento do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, além do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, da Secretaria de Políticas para Mulheres – no qual, em 2014, foi assinado novo termo de compromisso. A equidade de gênero ainda é um desafio para o Banco, mas melhorias têm sido registradas. Hoje, 63,40% das mulheres exercem função gratificada, das quais 31,92% ocupam funções gerenciais. No aspecto de inclusão de pessoas com deficiência, ao fim do ano 1,29% dos empregados CAIXA tinham algum tipo de deficiência. Destes, 48,31% exercem função gratificada. (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, 2015, p. 26).
O trecho destacado do RS da Caixa Econômica Federal possui orientação pelas
questões de natureza social sobre diversidade de interesse coletivo para o público
interno e, de forma complementar, apresenta-se um trecho do RS do Santander –
Brasil com foco em interesses coletivos de partes interessadas externas.
No Santander Brasil, 100% dos fornecedores são selecionados com base em critérios socioambientais (incluindo questões trabalhistas, direitos humanos, impactos na sociedade) e são submetidos a uma “Análise Técnica” durante a homologação. Aqueles classificados na categoria “Alto Impacto” passam por uma avaliação mais detalhada sobre os aspectos operacionais, administrativos financeiros, fiscais,
118
legais, de governança, sociais e ambientais. Baseada nos princípios do Pacto Global da ONU, esta etapa inclui uma visita para verificar as evidências e respostas fornecidas durante a avaliação. (SANTANDER BRASIL, 2015, p. 111).
Ambos os trechos destacam o cunho social das práticas que são oriundas de um
interesse coletivo específico ou do público interno, no que tange às questões de
discriminação e oportunidades relacionadas ao trabalho; ou do público externo, no
que tange a questões relativas aos fornecedores, às condições de trabalho de seus
empregados e aos impactos desses fornecedores na sociedade. As práticas dos
trechos apresentados são aderentes à perspectiva de busca de novos resultados
capazes de promover efetivamente um DS que observe questões relativas à
satisfação das necessidades básicas das pessoas, o direito de trabalhar e a
oportunidade de manifestar suas potencialidades humanas. Perspectiva considerada
pelos estudos de Jacobi e Giatti (2015) e de Calegare e Silva Júnior (2011).
O Cluster 2 da análise das variáveis que indica iniciativas de promoção da geração de
trabalho e distribuição de renda, assim como, as ações que contribuem para as
transformações sociais, inovação social e construção paradigmática, alcançou os
resultados apresentados no Gráfico 2.3 e na Tabela 2.2.
Gráfico 2.3 – Agrupamento das organizações no Cluster 2
Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017.
109115387126241
0,00
33,33
66,67
100,00
Organizações
Sim
ilarid
ade
DendrogramaMétodo de Ligação Completa; Distâncias Euclidianas
119
A seguir, a relação da composição dos 4 agrupamentos apresentados no dendograma
e o ranqueamento das médias das organizações (TABELA 2.2).
Tabela 2.2 – Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados pelas
organizações
ID Nome Tipo de organização Média Agrupamento
12 Sírio Libanês Hospital Organizações Sem Fins Lucrativos
5,00 1
6 Tractebel Energia Empresas Privadas Subsidiárias ou Parcerias
4,83 1
2 Caixa Econômica Federal Empresas Estatais 4,67 1
1 Banco do Brasil Empresas Estatais 4,00 1
7 Unimed Cuiabá Cooperativas 4,00 1
8 Unimed Sorocaba Cooperativas 4,00 1
3 Itaipu Binacional Empresas Estatais 3,92 1
4 Bunge Alimentos Brasil Empresas Privadas Subsidiárias ou Parcerias
3,25 1
5 Santander – Brasil Empresas Privadas Subsidiárias ou Parcerias
2,58 2
9 Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Organizações Sem Fins Lucrativos
2,08 3
11 Instituto da Oportunidade Social Organizações Sem Fins Lucrativos
1,67 2
10 Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV)
Organizações Sem Fins Lucrativos
0,00 4
Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017. Nota: As cores da coluna agrupamento correspondem àquelas do dendograma do Gráfico 2.3, salientando que a ordem de numeração atribuída pelo software não está relacionada à sequência apresentada no dendograma
Diferentemente do dendograma anterior, a análise relativa ao Cluster 2 está
relacionada à esfera das ações e resultados e não da gestão. Logo, pode-se obter
dos resultados apresentados no Gráfico 2.3 e da Tabela 2.2. que um número maior
de organizações possui média superior à 3,25 e este universo contempla empresas
estatais, Caixa Econômica Federal (4,67), Banco do Brasil (4,0) e Itaipu Binacional
(3,92); empresas privadas, Tractebel Energia (4,83) e Bunge Alimentos Brasil (3,25);
as duas cooperativas, Unimed Sorocaba (4,00) e Unimed Cuiabá (4,00) e somente
uma organização sem fins lucrativos, o Sírio Libanês Hospital (5,0). Esse resultado
permite afirmar que 66,66% das organizações analisadas possuem um perfil de
resposta médio que corresponde a ter apresentado todas as informações solicitadas
pelos doze indicadores que compõem este cluster, inclusive, a maioria delas
120
apresenta médias superiores a 4,00, as informações ainda foram verificadas por
empresa externa independente.
Das organizações que se destacaram neste cluster, o Sírio Libanês Hospital
apresentou informações e verificou externamente todos os indicadores deste cluster,
por isso, sua média foi igual à 5,00. Neste caso, essa organização pode ser
considerada de referência no que tange aos pressupostos de gestão social
relacionados à promoção da geração de trabalho e distribuição de renda, assim como,
às ações que contribuem com as transformações sociais, inovação social e
construção paradigmática, alinhando-se aos debates teóricos de Cançado, Tenório e
Pereira (2011), para os quais destacam-se os trechos do seu RS.
Faz parte do projeto de expansão a contratação e capacitação de novos colaboradores. Em 2014, 1.456 novos colaboradores foram contratados em São Paulo, número 34% superior às admissões de 2013 (1.079). Em Brasília, 53 novos colaboradores foram admitidos, dobrando o número de admissões em comparação com 2013. (SÍRIO LIBANÊS HOSPITAL, 2015, p. 45). Existe ainda a Rede Social Bela Vista, fundada em 2005 com apoio do hospital, que reúne pessoas e instituições para construção de propostas que beneficiem a vida da comunidade. Mais de 50 ações e projetos de desenvolvimento comunitário já foram implementados, sendo um dos mais importantes o Plano de Bairro Bela Vista 2020, que busca o desenvolvimento local por meio da integração com a comunidade residente, o poder público e a iniciativa privada (SÍRIO LIBANÊS HOSPITAL, 2015, p. 36).
O resultado apresentado na tabela 2.2 atribui às outras três organizações sem fins
lucrativos médias inferiores a 2,08, assim como, ao banco privado, Santander – Brasil
(2,58). Este resultado pode ser motivado pela menor apresentação de indicadores das
organizações sem fins lucrativos, uma vez que seus relatórios são da categoria de
acordo Essencial. No caso do Banco Santander – Brasil, mesmo tendo tido uma média
de 2,58, o que o coloca em posição mais favorável em relação às demais
organizações que não estão no agrupamento 1, isso ainda lhe atribui oportunidades
de melhoria, assim como para as organizações, Associação Comercial de São Paulo
(2,08), Instituto da Oportunidade Social (1,67) e Instituto Nacional de Processamento
de Embalagens Vazias (0,00), no que tange à promoção de iniciativas que contribuam
com a geração de trabalho e distribuição de renda e ações que colaborem nas
121
transformações sociais, inovação social, o que não quer dizer que essas organizações
não as façam, mas cabe a atenção sobre o tema e sobre como os indicadores que
compõem este cluster estão sendo reportados.
No caso das organizações sem fins lucrativos como a ACSP, IOS e inpEV, cabe
salientar que pode ser importante uma análise daquilo que foi estabelecido como
material para os indicadores previstos neste cluster, principalmente, os atributos
relacionados à transformação social e à inovação social para o contexto da
sustentabilidade dessas organizações.
Esta sugestão orienta-se pela compreensão de que, na oportunidade das
organizações sem fins lucrativos aperfeiçoarem sua atuação no contexto da Gestão
Social, observa-se que a inovação social seria um fator relevante para viabilizar essa
transformação. Logo, de acordo com Bignetti (2011), a inovação social possui
finalidade, estratégia, local de aplicação, processo de desenvolvimento e da difusão
do conhecimento diferente da inovação tecnológica, pois se pauta, na relevância
social desses processos. Isso pode contribuir com essas organizações sem fins
lucrativos, uma vez que estas possuem seu objeto social em atendimento às
necessidades de grupos sociais específicos.
Quando observado o Cluster 3, relativo ao desenvolvimento de ações e políticas
públicas sociais e gerenciais-econômicas, têm-se os seguintes agrupamentos
apresentados no Gráfico 2.4.
122
Gráfico 2.4 – Agrupamento das organizações no Cluster 3
Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017.
A Tabela 2.3 apresenta as médias das organizações representadas nos
agrupamentos do dendograma e o seu ranqueamento.
Tabela 2.3 – Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados pelas
organizações
ID Nome Tipo de organização Média Agrupamento
1 Banco do Brasil Empresas Estatais 4,33 1
6 Tractebel Energia Empresas Privadas Subsidiárias ou Parcerias
3,53 1
8 Unimed Sorocaba Cooperativas 3,47 1
9 Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Organizações Sem Fins Lucrativos
3,47 1
2 Caixa Econômica Federal Empresas Estatais 3,00 2
3 Itaipu Binacional Empresas Estatais 2,60 1
7 Unimed Cuiabá Cooperativas 2,13 3
4 Bunge Alimentos Brasil Empresas Privadas Subsidiárias ou Parcerias
0,93 3
10 Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV)
Organizações Sem Fins Lucrativos
0,53 4
12 Sírio Libanês Hospital Organizações Sem Fins Lucrativos
0,33 4
Continua...
101211574239861
0,00
33,33
66,67
100,00
Organizações
Sim
ilari
dad
e
DendrogramaMétodo de Ligação Completa; Distâncias Euclidianas
123
... Continuação.
ID Nome Tipo de organização Média Agrupamento
5 Santander – Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias
0,00 4
11 Instituto da Oportunidade Social Organizações Sem Fins Lucrativos
0,00 4
Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017. Nota: As cores da coluna agrupamento correspondem àquelas do dendograma do Gráfico 2.4, salientando que a ordem de numeração atribuída pelo software não está relacionada à sequência apresentada no dendograma.
Pode-se observar no que tange às informações relativas ao pressuposto de Gestão
Social de desenvolvimento de ações e políticas públicas sociais e gerenciais-
econômica, o Cluster 3 apresenta média superior a 2,6, um misto de organizações
representantes dos diferentes setores: público, privado e terceiro setor, o que permite
a afirmação da contribuição dos diferentes setores representados na promoção de
políticas públicas e de governança interna, no contexto dos 12 indicadores que
compõem este cluster.
Ao considerar o pressuposto de gestão social de desenvolvimento de ações e políticas
públicas sociais e gerenciais-econômicas, resgatam-se os estudos de Mendonça,
Gonçalves-Dias e Junqueira (2012) que destacam o papel da Gestão Social na
ampliação do debate e da atuação da Sociedade Civil e do mercado para as
transformações sociais vinculadas às políticas públicas e às suas iniciativas. E os
autores ainda reforçam a necessidade da visão intersetorial e intergovernamental de
múltiplos atores, para a promoção das transformações sociais aplicáveis, o que
corrobora com os resultados alcançados neste cluster pela diversidade de tipos de
organizações que compuseram os agrupamentos com média superior a 2,6 e
evidenciados com os trechos dos RS a seguir.
COMPROMISSOS DE SUSTENTABILIDADE [...] Buscar por parcerias com o poder público, organizações não governamentais e empresas privadas, com o objetivo de promover uma atuação socioambiental voltada às questões globais da sociedade. (UNIMED SOROCABA, 2015, p. 17-18). O relacionamento com as diferentes esferas governamentais se dá no âmbito de compromissos legais e institucionais e de convênios de finalidade específica e direcionados ao desenvolvimento sustentável de comunidades e regiões onde atua. Não há política formal para prática de lobby e/ou atuação em políticas públicas, mas a Companhia
124
mantém diálogo com instituições governamentais e tem como prática colaborar para o aprimoramento técnico e regulatório do modelo setorial, em geral por meio das Audiências e Consultas Públicas organizadas pelos órgãos institucionais do setor elétrico, tais como Ministério de Minas e Energia (MME), Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e Empresa de Pesquisa Energética (EPE). A colaboração se dá de forma individual ou por meio de associações, dentre as quais se destacam: Apine, Abrage, Abraceel e ABDIB. (TRACTEBEL ENERGIA, 2015, p. 84).
Logo, as iniciativas organizacionais de sustentabilidade no que tange à sua
contribuição para as políticas públicas, puderam ser ilustradas pelos trechos
apresentados e fortalecer o papel organizacional nos debates intersetoriais e
intergovernamentais como proposto por Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira
(2012).
Por conseguinte, o Cluster 4 está intimamente relacionado aos resultados esperados
da Gestão Social e tangibilizados pela promoção de qualidade de vida, do bem-estar
social e da garantia dos direitos humanos e, no processo de gestão, com foco na
conformidade legal e ações anticorrupção. A seguir, o Gráfico 2.5 apresenta os
agrupamentos de organizações para o Cluster de variáveis 4.
Gráfico 2.5 – Agrupamento das organizações no Cluster 4
Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017.
912101183276541
0,00
33,33
66,67
100,00
Organizações
Sim
ilari
dad
e
DendrogramaMétodo de Ligação Completa; Distâncias Euclidianas
125
A relação da composição dos agrupamentos apresentados no dendograma e o
ranqueamento das médias das organizações (TABELA 2.4).
Tabela 2.4 – Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados pelas
organizações
ID Nome Tipo de organização Média Agrupamento
6 Tractebel Energia Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias
4,60 3
7 Unimed Cuiabá Cooperativas 3,73 3
5 Santander – Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias
3,33 1
4 Bunge Alimentos Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias
3,13 1
1 Banco do Brasil Empresas Estatais 3,07 1
2 Caixa Econômica Federal Empresas Estatais 2,73 2
3 Itaipu Binacional Empresas Estatais 2,33 2
9 Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Organizações Sem Fins Lucrativos
1,60 4
8 Unimed Sorocaba Cooperativas 0,80 4
11 Instituto da Oportunidade Social Organizações Sem Fins Lucrativos
0,53 4
10 Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV)
Organizações Sem Fins Lucrativos
0,00 4
12 Sírio Libanês Hospital Organizações Sem Fins Lucrativos
0,00 4
Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017. Nota: As cores da coluna agrupamento correspondem àquelas do dendograma do Gráfico 2.5, salientando que a ordem de numeração atribuída pelo software não está relacionada à sequência apresentada no dendograma.
Neste item, verifica-se principalmente o protagonismo das empresas privadas, como
é o caso da Tractebel Energia com média de 4,60, mas também enumera a
cooperativa Unimed Cuiabá, neste conjunto de organizações, com a média de 3,73.
O Banco do Brasil também está no grupo de organizações de melhor média (3,07). As
organizações listadas com valor da média superior à 3,00 possuem ambientes de
atuação regulados, o que pode permitir maior estímulo aos controles relativos ao
processo de gestão com foco na conformidade legal e ações anticorrupção.
Com isso, evidenciam-se ações estruturadas para garantir os direitos humanos,
relacionadas à conformidade legal, no contexto das organizações, bem como, as
questões de qualidade de vida nos ambientes internos para os empregados dessas
organizações.
126
A Unimed Cuiabá apresenta o seu Código de conduta da cooperativa como prática
orientadora e em colaboração com os 15 indicadores deste cluster que tratam de
direitos humanos, comunicação relativa aos produtos ou serviços, direitos de povos
indígenas e tradicionais, trabalho infantil, trabalho forçado ou análogo ao escravo,
combate à corrupção e práticas trabalhistas de fornecedores. Logo, é apresentado o
trecho que trata das questões relativas aos direitos humanos no RS da Unimed
Cuiabá.
O tema é abordado no Código de conduta da cooperativa. O código foi entregue a todos os colaboradores em workshop e aos novos colaboradores o código é entregue durante o momento de integração; é amplamente discutido durante o Fórum do Fornecedor, realizado anualmente e destinado aos fornecedores, parceiros e prestadores de serviço; e é abordado em reuniões, cursos, treinamentos e atendimento ao cooperado. Proibição aos atos discriminatórios, dignidade e direitos iguais a todos, respeito da integridade e contra a corrupção, respeito a segurança e qualidade de vida dos colaboradores, liberdade de associação a sindicatos, respeito a privacidade e individualidade; Equilíbrio trabalho e família. (UNIMED CUIABÁ, 2015, p. 31).
A garantia dos direitos humanos se tornou um ponto alto da discussão teórica desta
pesquisa, uma vez que eles perpassam grande parte das dimensões da Gestão Social
e por representarem os interesses que garantem o mínimo de dignidade aos
indivíduos. A relevância do tema é destacada nas diretrizes da GRI (2013; 2013a),
assim como, na publicação específica sobre os direitos humanos da GRI (2016a). As
proposições de Weber (2013) podem ser incorporadas a essas reflexões, quando este
autor atribui à promoção da qualidade de vida a garantia dos direitos fundamentais,
dos direitos humanos e dos bens mínimos necessários para sustentar os direitos à
cidadania. Com os resultados da pesquisa, percebe-se que isto pode ser viabilizado
por uma Gestão Social estruturada no contexto das organizações
As reflexões pertinentes ao Cluster 5 estão vinculadas aos pressupostos relacionados
ao processo comunicativo e de dialogicidade entre os envolvidos e, também, ao
processo de gestão social com foco em fornecedores e seus impactos na sociedade,
estando os resultados alcançados descritos no Gráfico 2.6.
127
Gráfico 2.6 – Agrupamento das organizações no Cluster 5
Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017.
A seguir, a composição dos agrupamentos do dendograma (TABELA 2.5).
Tabela 2.5 – Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados pelas
organizações
ID Nome Tipo de organização Média Agrupamento
5 Santander – Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias
4,92 1
6 Tractebel Energia Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias
4,38 1
1 Banco do Brasil Empresas Estatais 3,77 1
3 Itaipu Binacional Empresas Estatais 3,08 3
8 Unimed Sorocaba Cooperativas 2,15 3
7 Unimed Cuiabá Cooperativas 1,85 3
2 Caixa Econômica Federal Empresas Estatais 1,38 2
9 Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Organizações Sem Fins Lucrativos
1,38 4
4 Bunge Alimentos Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias
0,92 4
10 Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV)
Organizações Sem Fins Lucrativos
0,62 4
12 Sírio Libanês Hospital Organizações Sem Fins Lucrativos
0,38 4
11 Instituto da Oportunidade Social Organizações Sem Fins Lucrativos
0,31 4
Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017.
783912111042651
0,00
33,33
66,67
100,00
Organizações
Sim
ilari
dad
e
DendrogramaMétodo de Ligação Completa; Distâncias Euclidianas
128
Nota: As cores da coluna agrupamento correspondem àquelas do dendograma do Gráfico 2.6, salientando que a ordem de numeração atribuída pelo software não está relacionada à sequência apresentada no dendograma.
O resultado alcançado novamente destaca as empresas privadas e estatais, talvez
pela maturidade do Santander – Brasil (4,92), da Tractebel Energia (4,38) e do Banco
do Brasil (3,77) em elaborar os RS, o que inclui processos estruturados de
comunicação com as partes interessadas e, a preocupação dos seus impactos, em
relação à cadeia de fornecimento e à sociedade.
A promoção e a garantia dos Direitos Humanos e Práticas Trabalhistas é fundamental para o Santander Brasil. Para isso, o Banco conta com mecanismos de queixas que são o canal de contato dos públicos com que se relaciona e que querem manifestar suas insatisfações. Para clientes, investidores e comunidade em geral, os canais disponíveis são SAC e Ouvidoria; já funcionários e fornecedores utilizam o Canal de Denúncias. (SANTANDER BRASIL, 2015, p. 115).
No Cluster 6, foram agrupados indicadores que se correlacionavam com o constructo
de Gestão Social referente aos agentes e espaços relacionados às organizações,
sejam eles: o Estado, o mercado e a Sociedade Civil, ou seja, onde ocorre e quem
promove a Gestão Social. Logo, no Gráfico 2.7 estão representados o perfil das
empresas diante deste constructo.
Gráfico 2.7 – Agrupamento das organizações no Cluster 6
Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017.
511731084126291
0,00
33,33
66,67
100,00
Organizações
Sim
ilarid
ade
DendrogramaMétodo de Ligação Completa; Distâncias Euclidianas
129
Na Tabela 2.6, encontra-se o ranqueamento das médias das organizações em relação
ao cluster de variáveis 6.
Tabela 2.6 – Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados pelas
organizações
ID Nome Tipo de organização Média Agrupamento
3 Itaipu Binacional Empresas Estatais 4,50 3
5 Santander – Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias
4,00 3
7 Unimed Cuiabá Cooperativas 4,00 3
11 Instituto da Oportunidade Social Organizações Sem Fins Lucrativos
4,00 3
2 Caixa Econômica Federal Empresas Estatais 2,50 2
4 Bunge Alimentos Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias
2,50 4
6 Tractebel Energia Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias
2,50 2
12 Sírio Libanês Hospital Organizações Sem Fins Lucrativos
2,50 2
8 Unimed Sorocaba Cooperativas 2,00 4
10 Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV)
Organizações Sem Fins Lucrativos
2,00 4
1 Banco do Brasil Empresas Estatais 0,50 1
9 Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Organizações Sem Fins Lucrativos
0,00 1
Fonte: Dados da pesquisa, Software MINITAB, 2017. Nota: As cores da coluna agrupamento correspondem àquelas do dendograma do Gráfico 2.7, salientando que a ordem de numeração atribuída pelo software não está relacionada à sequência apresentada no dendograma.
Neste cluster, pode-se observar um representante de cada um dos tipos de
organização no agrupamento de com média igual e superior a 4. Este comportamento
refere-se à consciência dessas organizações no que tange ao seu papel para a
promoção da Gestão Social e o reconhecimento de locos no qual a Gestão Social
ocorre, corroborando com as reflexões dos estudos de Maia (2005).
Como neste cluster um dos indicadores avaliados foi o engajamento da comunidade
local, a seguir são apresentados trechos dos RS das organizações do agrupamento
1, concernentes a esse tema.
A atuação em prol das comunidades de Foz do Iguaçu, onde a usina está instalada, bem como da área de influência atinge o engajamento de 100% dos envolvidos em programas e projetos voluntários, patrocínios, termos de cooperação e convênios firmados com
130
instituições que apoiam o desenvolvimento de ações e articulação institucional, visando atrair investimentos e empreendimentos para a região. [...] A comunidade é envolvida nas decisões, por meio dos comitês gestores e diversos documentos nacionais e internacionais são adotados como referência, tanto na elaboração quanto na execução dos programas e projetos. No mês de agosto, a região recebeu uma iniciativa inovadora, que tem como objetivo acelerar e multiplicar o desenvolvimento econômico de 54 municípios. Trata-se do Programa Oeste em Desenvolvimento, fruto de uma parceria entre diversas instituições públicas e privadas, incluindo a Itaipu. (ITAIPU BINACIONAL, 2015, p. 72).
Prosseguindo as análises realizadas até aqui, o processo de gestão social e de
governança baseado na conformidade de produtos ou serviços e avaliação de riscos,
atribuídos ao Cluster 7, está representado no Gráfico 2.8.
Gráfico 2.8 – Agrupamento das organizações no Cluster 7
Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017.
A seguir, a relação da composição dos agrupamentos apresentados no dendograma
e o ranqueamento das médias das organizações (TABELA 2.7).
116121039852741
0,00
33,33
66,67
100,00
Organizações
Sim
ilarid
ade
DendrogramaMétodo de Ligação Completa; Distâncias Euclidianas
131
Tabela 2.7 – Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados pelas
organizações
ID Nome Tipo de organização Média Agrupamento
5 Santander – Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias
5,00 1
2 Caixa Econômica Federal Empresas Estatais 4,67 1
1 Banco do Brasil Empresas Estatais 4,33 1
4 Bunge Alimentos Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias
4,00 1
7 Unimed Cuiabá Cooperativas 4,00 1
8 Unimed Sorocaba Cooperativas 3,00 3
9 Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Organizações Sem Fins Lucrativos
3,00 4
6 Tractebel Energia Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias
1,33 2
11 Instituto da Oportunidade Social Organizações Sem Fins Lucrativos
1,33 2
3 Itaipu Binacional Empresas Estatais 0,33 2
10 Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV)
Organizações Sem Fins Lucrativos
0,00 2
12 Sírio Libanês Hospital Organizações Sem Fins Lucrativos
0,00 2
Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017. Nota: As cores da coluna agrupamento correspondem àquelas do dendograma do Gráfico 2.8, salientando que a ordem de numeração atribuída pelo software não está relacionada à sequência apresentada no dendograma.
O comportamento deste agrupamento novamente destaca as organizações privadas
e estatais e inclui a cooperativa Unimed Cuiabá (4,0). Sendo menos restritivo, também
pode-se considerar a cooperativa Unimed Sorocaba e a organização sem fins
lucrativos ACSP, ambas com média igual a 3,00. Um dos indicadores considerados
neste cluster é o número total e percentual de operações submetidas a avaliações de
riscos relacionados à corrupção e os riscos significativos identificados. Logoeste será
o indicador para o qual foram buscadas informações nos RS. Devido à Unimed Cuiabá
ser a única cooperativa do agrupamento 1, a título de ilustração será apresentada a
prática concernente ao indicador selecionado.
[...] monitora os riscos relacionados à corrupção através de auditorias internas, em processos de compras, controle de contrato de fornecedores e prestadores, reajuste e venda de planos empresariais, individuais e outros. A cooperativa não faz avaliações de riscos relacionados a corrupção. Os riscos identificados e relatados compreendem também os impactos reais e potenciais nas comunidades de atuação da Unimed Cuiabá. (UNIMED CUIABÁ, 2015, p. 84).
132
Portanto, verifica-se que a possibilidade de descrição qualitativa dos indicadores
apresentada pelas diretrizes da GRI atribui maior possibilidade de adaptabilidade
desses indicadores às realidades organizacionais. Neste caso, a Unimed Cuiabá se
destaca porque monitora os riscos de corrupção, mas não possui uma prática de
avaliação deste tipo de risco. Esta reflexão da cooperativa representa a sua
compreensão dos requisitos solicitados pelo indicador GRI (2013) e gera
potencialidade de melhoria no que tange a implantação de uma prática de avaliação
de riscos de corrupção.
Enfim, o Gráfico 2.9 apresenta o Cluster 8, destacando as organizações com processo
de gestão social e de governança com foco na saúde e segurança relacionadas aos
produtos ou serviços.
Gráfico 2.9 – Agrupamento das organizações no Cluster 8
Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017.
A Tabela 2.8 apresenta a relação da composição dos agrupamentos do dendograma.
129874116532101
0,00
33,33
66,67
100,00
Organizações
Sim
ilarid
ade
DendrogramaMétodo de Ligação Completa; Distâncias Euclidianas
133
Tabela 2.8 – Composição dos Agrupamentos dos indicadores reportados pelas
organizações
ID Nome Tipo de organização Média Agrupamento
12 Sírio Libanês Hospital Organizações Sem Fins Lucrativos
5,00 4
8 Unimed Sorocaba Cooperativas 4,00 4
9 Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Organizações Sem Fins Lucrativos
4,00 4
4 Bunge Alimentos Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias
2,67 3
7 Unimed Cuiabá Cooperativas 2,67 3
10 Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV)
Organizações Sem Fins Lucrativos
2,67 1
1 Banco do Brasil Empresas Estatais 2,00 1
2 Caixa Econômica Federal Empresas Estatais 0,00 2
3 Itaipu Binacional Empresas Estatais 0,00 2
5 Santander – Brasil Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias
0,00 2
6 Tractebel Energia Empresas Privadas, Subsidiárias ou Parcerias
0,00 2
11 Instituto da Oportunidade Social Organizações Sem Fins Lucrativos
0,00 2
Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017. Nota: As cores da coluna Agrupamento correspondem àquelas do dendograma do Gráfico 2.9, salientando que a ordem de numeração atribuída pelo software não está relacionada à sequência apresentada no dendograma.
Diferentemente de todos os demais resultados dos clusters de variáveis, este é
liderado por duas organizações sem fins lucrativos (Sírio Libanês Hospital e
Associação Comercial de São Paulo) e por uma cooperativa (Unimed Sorocaba) com
médias 5, 4 e 4 respectivamente. Fato que pode ser explicado pela característica dos
serviços que prestam o Sírio Libanês Hospital e a Unimed Sorocaba. Ambos são da
área de saúde, o que implica em uma maior compreensão sobre os riscos
relacionados aos seus serviços e sobre as questões de segurança correlatas.
Todavia, a presença da ACSP neste grupo pode ser explicada pelo baixo nível de
complexidade das exigências relacionadas à saúde e segurança aplicável às suas
atividades.
Os relatos deste cluster focam principalmente na parte interessada, clientes das
organizações como observado no trecho do RS do Sírio Libanês Hospital que
apresenta as inovações tecnológicas que estão sendo implantadas na organização
que contribuem com a maximização da saúde e segurança de seus pacientes.
134
Investindo em novas tecnologias para obter maior qualidade na assistência, o Hospital Sírio-Libanês trouxe avanços na gestão de sistemas de informação. Em 2014, em continuidade ao projeto de informatização de processos, foi iniciada a informatização da nova torre (bloco D), com a implantação de novos módulos do Sistema de Informação Hospitalar (SIH) na Unidade Coronariana, no 7º andar. (SÍRIO LIBANÊS HOSPITAL, 2015, p. 18).
Para o mesmo indicador do Sírio Libanês Hospital, o RS da Unimed Sorocaba
apresentou a seguinte prática relativa à saúde e segurança dos serviços prestados.
Unimed Sorocaba dispõe do Núcleo ANS, setor responsável por acompanhar, analisar e controlar as regulamentações estabelecidas pela ANS. Em 2014, 25 novos regulamentos foram publicados. O Núcleo tem a função de fazer a gestão e garantir a aplicação de tais regulamentações. Além das determinações da ANS, a Unimed Sorocaba desempenha um papel proativo no cumprimento das legislações vigentes no país. As lideranças das áreas estão orientadas e capacitadas nesse sentido e a alta gestão é atualizada sobre as novas demandas para que sejam traçados os planos de ação, objetivando o cumprimento das mesmas. (UNIMED SOROCABA, 2015, p. 62).
Pode-se perceber os níveis diferentes de maturidade da prática referente à saúde e
segurança dos serviços prestados, pois o Sírio Libanês Hospital, encontra-se em um
patamar de inovação tecnológica e, no caso da Unimed Sorocaba, no perfil de
cumprimento dos requisitos legais. Todavia, no RS da Unimed Sorocaba existe um
relato de melhorias que seriam implantadas em 2015, em relação aos prontuários
eletrônicos.
Observa-se que a Unimed Cuiabá não pertence ao mesmo agrupamento do Sírio
Libanês Hospital e da Unimed Sorocaba o que pode ser explicado pelo perfil de
informação apresentada para esse conjunto de indicadores. Mas ao se verificarem as
informações do RS, percebe-se que a Unimed Cuiabá prioriza os controles dos
processos internos de forma geral e a satisfação dos pacientes, representado pelo
seguinte trecho do RS, “Nosso sistema, fluxos de atendimento e capacitação de
colaboradores tem sempre a preocupação com a segurança do cliente” (UNIMED
CUIABÁ, 2015, p. 99).
135
Portanto, de uma forma consolidada, a partir da análise do perfil das médias das
organizações, perante aos clusters que representavam os constructos de Gestão
Social, consegue-se inferir uma maturidade das organizações estatais e privadas no
relato das suas iniciativas da categoria social do RS para os clusters 1, 2, 3, 4 e 5 o
que é justificável por representarem o grupo de organizações que já trabalham com o
desenvolvimento de RS, utilizando as diretrizes da GRI há mais de 8 anos, de acordo
com a lista de informações da GRI (2016).
Os clusters 6, 7 e 8 possuem um comportamento diferente, no qual as cooperativas
mudam de patamar e as composições dos agrupamentos se estruturam de forma mais
diversa, o que é resultado do menor número de indicadores que compõem estes
clusters, sendo respectivamente, 2, 2 e 3 indicadores. Essas conclusões serão
validadas pela apresentação das análises do teste Kruskal-Wallis a seguir.
Pode-se também identificar que as cooperativas estão entre os clusters de maior
média e de menor média. Mas, esta posição pode ser justificada pelo fato da
elaboração de RS ainda não ser uma prática muito usual no contexto das
cooperativas, o que é reforçado inclusive pela diferença de abordagem entre a Unimed
Sorocaba e Unimed Cuiabá para os mesmos indicadores do cluster 8. Todavia, a sua
posição entre os agrupamentos pode estar vinculada à proximidade do processo de
gestão dessas cooperativas da área de saúde estarem bem próximas à realidade das
organizações privadas.
Ademais, existe um grupo de organizações, as organizações sem fins lucrativos, para
as quais o ambiente de relato da sustentabilidade é razoavelmente novo o que implica
em oportunidades de melhoria no processo de relato que pode se originar na própria
compreensão das diretrizes, no desafio de interpretar os requisitos em uma linguagem
adequada ao terceiro setor e, até mesmo, na prática de elaboração dos RS. Contudo,
cabe também uma reflexão de que essas organizações geralmente possuem
propósito na esfera social, logo, os resultados alcançados servem de reflexão para o
aperfeiçoamento das práticas relacionadas aos indicadores sociais dessas
organizações e de provocações sobre o papel dessas organizações no contexto da
Gestão Social.
136
Enfim, as análises estatísticas realizadas foram validadas pelo teste não-paramétrico
de Kruskal-Wallis e a comparação múltipla com correção de Bonferroni, comparando
as diferentes categorias das empresas em cada um dos clusters definidos
anteriormente. Logo, a Tabela 2.9 apresenta o comparativo entres as categorias das
empresas nos oito clusters.
Tabela 2.9 – Teste Kruskal-Wallis comparando as categorias das empresas
Médias dos Itens dos Clusters
Categoria das Organizações Estatísticas
Cooperativas Empresas Estatais
Empresas Privadas,
Subsidiárias ou Parcerias
Organizações Sem Fins Lucrativos
Teste Kruskal-Wallis
Valor-p
Cluster 1 1,33a,c 3,33b 2,56a,b 1,23c 28,92 0,000 Cluster 2 4,00a 4,19a 3,56a 2,19b 20,24 0,000 Cluster 3 2,80a 3,31a 1,49b 1,08b 38,42 0,000 Cluster 4 2,27a 2,71a,b 3,69b 0,53c 62,99 0,000 Cluster 5 2,00a 2,74a,b 3,41b 0,67c 44,88 0,000 Cluster 6 3,00a 2,50a 3,00a 2,13a 0,86 0,835 Cluster 7 3,50a,b 3,11a,b 3,44a 1,08b 9,70 0,021 Cluster 8 3,33a,b 0,67a 0,89a,b 2,92b 9,73 0,021
Fonte: Dados da pesquisa, Software Minitab, 2017. Nota: Observação: os valores na mesma linha e subtabela que não compartilham a mesma letra subscrita são bastante diferentes em relação ao p < 0,05 no teste de igualdade bilateral para médias de coluna. As células sem nenhum subscrito não são incluídas no teste. Os testes consideram variâncias iguais1. 1 Os testes são ajustados para todas as comparações de pares em uma linha de cada subtabela mais interna com o uso da correção Bonferroni.
O teste Kruskal-Wallis, por meio da análise da significância da diferença de resultado
alcançado entre os tipos de organizações (Empresas Estatais; Empresas Privadas,
Subsidiárias ou Parcerias; Cooperativas; e Organizações Sem Fins Lucrativos) para
cada um dos oito clusters de variáveis, permite que seja realizada a verificação
daquele grupo com maior média, que se destaca naquele cluster analisado. A
comparação múltipla com correção de Bonferroni, compara a diferença do perfil das
médias das respostas aos indicadores que compõem aquele cluster entre de cada tipo
de organizações.
Para melhor compreensão da análise dos dados, os 78 indicadores verificados em
cada um 12 RS foram classificados de 0 a 5, sendo: 0 – Informação não contemplada
no sumário; 1 – Informação não apresentada; 2 – Informação parcialmente
137
apresentada sem verificação externa; 3 – Informação parcialmente apresentada com
verificação externa; 4 – Informação apresentada sem verificação externa; e 5 –
Informação apresentada com verificação externa. Essa escala serve como uma
referência qualitativa para as médias apresentadas no teste de Kruskal-Wallis.
Logo, esse teste permite afirmar que sete dos oito clusters possuem diferença
significativa entre os tipos de organização, nos quais o p encontrado é inferior à 0,05,
o que atribui consistência à conclusão sobre o tipo de organização que se destaca em
média nos clusters de variáveis 1, 2, 3, 4, 5, 7 e 8 e aos seus respectivos pressupostos,
contribuindo na validação da análise quantitativa e qualitativa de cada um dos clusters,
a saber.
No cluster 1, a melhor média é de 3,33 obtida pelas empresas estatais relacionados
ao processo de gestão (social e governança) do interesse coletivo de caráter público
e orientado pelas questões de natureza social. No cluster 2, de promoção da geração
de trabalho e distribuição de renda; e das transformações sociais, inovação social e
construção paradigmática, a melhor média é das empresas estatais (4,19). O mesmo
acontece no Cluster 3, referente ao desenvolvimento de ações e políticas públicas
sociais e gerenciais-econômicas, no qual as empresas estatais possuem média de
3,31.
As empresas privadas, subsidiárias ou parcerias possuem melhor média nos clusters
4 e 5, alcançando respectivamente os valores de 3,69 e 3,41. O pressuposto atribuído
ao cluster 4 é o de promoção de qualidade de vida, do bem-estar social e da garantia
dos direitos humanos, e o processo de gestão (social e governança) do interesse
coletivo de caráter público e orientado pelas questões de natureza social – foco na
conformidade legal e ações anticorrupção. O cluster 5 se relaciona ao constructo da
gestão social, processo comunicativo e dialogicidade entre os envolvidos e processo
de gestão (social e governança) do interesse coletivo de caráter público e orientado
pelas questões de natureza social – foco em fornecedores e seus impactos na
sociedade.
O cluster 6 foi o único que indicou diferença não significativa, com p=0,835, superior
à 0,05. Ao verificar a Tabela 2.9, pode-se perceber uma proximidade das médias entre
138
os quatro tipos de organizações e que estas ainda compartilham da letra sobrescrita
atribuída pela correção de Bonferroni. Esse cluster representa o pressuposto da
Gestão Social de agentes e espaços relacionados às organizações (Estado, mercado
e Sociedade Civil) e corresponde a somente dois indicadores: (i) programas de
engajamento das comunidades locais e (ii) sobre venda de produtos proibidos ou
contestados. Assim, o indicador i é atendido por 83,33% das organizações como
informação apresentada com ou sem verificação externa e o indicador ii é classificado
como informação não contemplada no sumário ou informação não apresentada por
66,66% das organizações. Esses comportamentos de respostas das organizações
nos seus RS justificam a média 3,00 para as organizações do tipo cooperativas e
empresas privadas, mas que pela correção de Bonferroni possui diferença não
significativa dos demais tipos de organizações.
No caso do cluster 7, referente ao processo de gestão (social e governança) do
interesse coletivo de caráter público e orientado pelas questões de natureza social –
foco na conformidade de produtos ou serviços e avaliação de riscos, se destacaram
com a média 3,50, as cooperativas. Situação semelhante foi observada no cluster 8,
com média de 3,33, para o processo de gestão (social e governança) do interesse
coletivo de caráter público e orientado pelas questões de natureza social – foco na
saúde e segurança relacionadas aos produtos ou serviços.
Os resultados apresentados na Tabela 2.9 e os tipos de organização de maior média
por cluster, que possuem resultados igual ou superior a 3,00, correspondem àquelas
organizações de destaque em cada um dos clusters e que apresentam no mínimo, as
informações de forma parcial e realizam a verificação externa dessas informações.
Ainda sobre os resultados concernentes ao teste Kruskal-Wallis, é possível identificar
outros tipos de organização com as quais houve menor diferença entre eles:
• no Cluster 1 – as empresas privadas poderiam ser consideradas juntamente
com aquelas que tiveram a maior média que são as empresas estatais;
• no Cluster 2 – as empresas estatais (4,19), as cooperativas (4,00) e as
empresas privadas (3,56) podem ser consideradas com diferença menos
significativa e possuem comportamentos similares;
139
• no Cluster 3 – a diferença menos significativa está entre as empresas estatais
(3,31) e as cooperativas (2,80);
• no Cluster 4 – as empresas privadas (3,69) possuem a diferença menos
significativa com as empresas estatais (2,71);
• no Cluster 5 – novamente as empresas privadas possuem a diferença menos
significativa com as empresas estatais (3,41) e as cooperativas (2,74),
• no Cluster 6 – as cooperativas (4,00) e as Empresas Privadas, Subsidiárias ou
Parcerias (3,56) possuem comportamentos similares em seus RS;
• no Cluster 7 – apesar das diferenças menos significativas se correlacionarem
de uma forma mais ampla, será considerado que as cooperativas (3,50)
compartilham uma correlação de mesmos subscritos com as empresas
estatais (3,11); e
• no Cluster 8 – a situação é semelhante à do Cluster 7, porém o
compartilhamento de mesmos subscritos acontece entre as cooperativas
(3,33) e as empresas privadas (0,89).
Com base nos resultados do teste de Kruskal-Wallis, é possível afirmar que as
empresas estatais e privadas disputam um perfil mais maduro em seus RS no que
tange à apresentação de informações solicitadas pelos indicadores e a verificação
externa seguidas das cooperativas. Entretanto, verifica-se que os relatórios das
organizações sem fins lucrativos, mesmo sendo estes da opção de acordo Essencial,
essas organizações ainda precisam evoluir no que tange à materialidade e
consequente apresentação das informações nos seus relatórios e em sua verificação
externa.
Ainda considerando o levantamento realizado nos documentos, observou-se, no início
da tabulação dos dados analisados estatisticamente, que as informações sobre as
questões sociais das organizações não se limitavam ao item da categoria social, nem
às suas subcategorias e aspectos sumarizados nos Relatórios de Sustentabilidade,
nos 78 indicadores presentes nessa análise documental. Logo, identificou-se que
informações sobre o pilar social, na perspectiva da Gestão Social, também estavam
presentes em outras partes do relatório como no bloco de conteúdos padrão gerais
que contempla o Perfil Organizacional, Aspectos Materiais e Limites Identificados,
140
Engajamento de Stakeholders, Governança, Ética e Integridade. A seguir, um
exemplo sobre uma parte da informação de engajamento de partes interessadas da
Bunge Alimentos Brasil.
A Matriz de Materialidade é essencial para que este Relatório aborde os impactos da empresa, de forma concreta. Mas, independentemente disso, promovemos ações contínuas de engajamento com colaboradores, clientes e consumidores, organizações não governamentais, instituições financeiras, fornecedores, associações de classe e entidades ligadas ao Governo. Temos canais de comunicação, como e-mails e telefone 0800, realizamos reuniões técnicas e consultas diretas aos stakeholders, participamos em eventos do setor, além de pesquisa contínua disponibilizada nas páginas corporativas de sustentabilidade localizadas na internet em http://www.bunge.com.br/sustentabilidade/Nossos_Principios.aspx. (BUNGE ALIMENTOS BRASIL, 2015, s.p.).
Esta informação está relacionada aos constructos de gestão social como os propostos
por Cançado, Tenório e Pereira (2011) e não está descrita na parte do relatório da
Bunge Alimentos Brasil que trata dos indicadores da categoria social na parte de
conteúdo padrão geral que fala sobre a matriz de materialidade da Bunge e os
processos correlatos a ela. Este resultado de pesquisa evidencia a distribuição de
elementos que contribuem para a perspectiva da Gestão Social no contexto das
organizações e das diretrizes da GRI, sendo necessário um maior esforço para
encontrar os pressupostos de Gestão Social ao analisar os Relatórios de
Sustentabilidade, pois esses pressupostos não estão alocados apenas nos descritos
dos indicadores da categoria social dos Relatórios e são encontrados dispersos pelo
RS.
Esta descoberta corrobora com a situação de que nem todos os pressupostos de GS
conseguiram ser representados pelos Clusters das variáveis relativos aos conteúdos
padrão específicos, dos indicadores da categoria social desses relatórios.
Exemplificando esse contexto, um dos elementos de Gestão Social, que se refere à
participação das partes interessadas, está relacionado ao item de Aspectos Materiais
Identificados e Limites dos relatórios que é apresentado na primeira parte dos RS,
chamada de Conteúdos Padrões Gerais. Entretanto, de acordo com a lista de
informações da GRI (2016), a única organização que realizou um painel de partes
interessadas foi o Banco do Brasil. No RS do Banco do Brasil, destaca-se:
141
A avaliação com os públicos ocorreu no Painel de Stakeholders 2014 do BB, realizado em setembro em São Paulo. O evento reuniu representantes funcionários, fornecedores, clientes, sociedade civil, investidores/acionistas e especialistas em sustentabilidade, que, organizados em mesas, avaliaram cada um dos desafios individualmente e em grupos. As notas dadas por esses públicos foram posteriormente ponderadas de acordo com o mapa de stakeholders prioritários do Banco, previamente definido e aprovado pelos executivos do BB. (BANCO DO BRASIL, 2015, p. 4).
Todavia, apesar de não estar relatado na lista de informações da GRI (2016), foi
identificado que o Sírio Libanês Hospital também realizou um painel com as partes
interessadas.
A priorização de temas ocorreu a partir dos resultados de um painel realizado em 2014, que contou com a participação de membros da comunidade do entorno e fornecedores, das respostas ao questionário online enviado para gestores, corpo clínico, colaboradores, terceiros e pacientes e de entrevistas com especialistas. (SÍRIO LIBANÊS HOSPITAL, 2015, p. 4).
Logo, pode-se constatar que a prática de painel com as partes interessadas se alinha
com alguns pressupostos da Gestão Social. Todavia não é uma realidade para todas
as organizações estudadas, pelo menos com o perfil de estrutura de participação
promovida pelo Banco do Brasil e pelo Sírio Libanês Hospital.
Dentre os pressupostos de GS aplicável à prática do painel, destacam-se o processo
comunicativo e dialogicidade entre os envolvidos; a gestão participativa e gestão
social cidadã e a apreciação intersubjetiva e debate crítico para validação da ação
social em consonância com os estudos de Cançado, Tenório e Pereira (2011),
Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012), Tenório (1998; 2005; 2009), Dowbor
(1999), Maia (2005) e Pimentel et al. (2011) Porém existem oportunidades de melhoria
nessa prática ao promover a cidadania deliberativa e a igualdade decisória nas
questões de sustentabilidade diretamente relacionadas às partes interessadas, pois
as duas práticas relatadas estão vinculadas a temas mais importantes e que deveriam
ser considerados nos RS e, não, uma avaliação das práticas sociais das
organizações. Entretanto, sob uma perspectiva crítica, como a apresentada por
Barnajee (2008), não se acredita que surgirá uma radical revisão de direitos de
142
responsabilidade social nas organizações, pela característica de que esse tema está
em níveis elevados da política econômica. Logo, as mudanças no contexto das
organizações chegariam a resultados limitados, pois torna-se necessária uma crítica
sobre teoria da organização e as discussões precisam romper o debate sobre a
sustentabilidade ecológica e social das organizações e alcançar a política econômica
para que haja uma mudança de pensamentos em um nível macro.
Porém, é importante ressaltar que, apesar do painel com partes interessadas
pressupor elementos de dialigicidade, não foi possível pelo relato analisar criticamente
se este processo dialógico esteja de fato acontecendo. Apesar das demais
organizações não terem realizado uma prática de painel com as partes interessadas,
considerada uma iniciativa de referência e de alta complexidade, todas as demais
organizações, dentro dos seus contextos e propósitos de trabalho com a
sustentabilidade, apresentaram nos RS como realizam seus processos de
materialidade para o RS.
Buscando atender as novas diretrizes da GRI - G4, a Unimed Cuiabá estabeleceu uma metodologia para identificação dos temas relevantes para a sustentabilidade da cooperativa. Primeiramente, todos os temas levantados pela Global Reporting Initiative (GRI) foram considerados. Trabalhou-se a visão interna da Unimed Cuiabá por meio de sua direção e gerencia através do preenchimento de questionário e entrevistas individuais. E posteriormente foi realizada pesquisa eletrônica com 444 questionários respondidos por colaboradores, cooperados, clientes, fornecedores, prestadores de saúde, comunidade, governo e imprensa. [...] Os temas considerados de maior relevância para a gestão da cooperativa confrontados com os dos públicos consultados, foram selecionados para a elaboração da matriz de materialidade. (UNIMED CUIABÁ, 2015, p. 28).
A seguir são apresentados trechos retirados dos RS das organizações analisadas com
o propósito de identificar os demais pressupostos de Gestão Social que não
conseguiram ser revelados de forma objetiva por meio dos indicadores apresentados
e analisados estatisticamente pelos clusters e estão descritos no Apêndice F. Dentre
os pressupostos a serem verificados nesta fase estão, principalmente, aqueles
referentes à (i) gestão democrática e igualdade política; (ii) gestão participativa,
participação social cidadã; (iii) a cidadania deliberativa e igualdade decisória; (iv)
apreciação intersubjetiva e debate crítico para validação da ação social; e, (v)
143
promoção do Desenvolvimento Local. Assim, este debate será iniciado com a
apresentação dos temas considerados como materiais para as organizações e suas
partes interessadas.
Verificou-se que o Banco do Brasil destaca em seu RS, os seus desafios prioritários
de acordo com a materialidade. Desses desafios destacam-se aqueles que possuem
uma relação direta com a Gestão Social, a saber:
i. Aprimorar a estrutura de governança em sustentabilidade envolvendo a Alta Administração (Conselho de Administração, Conselho Diretor e Diretoria Executiva), reforçando o compromisso do Banco com o tema.
ii. [...] Estabelecer mecanismos que reforcem o compromisso dos funcionários com o cumprimento do Código de Ética e das Normas de Conduta.
iii. [...] Aprimorar a gestão do risco socioambiental tendo como base o previsto na Resolução CMN nº 4.327/2014.
iv. Aprimorar a relação entre o Investimento Social Privado e a estratégia de negócios.
v. Aprimorar o sistema de remuneração variável dos funcionários, inclusive da Alta Administração, contemplando o desempenho individual.
vi. Aumentar o índice de satisfação dos funcionários. vii. Manter e expandir o papel do Banco como um agente indutor do
desenvolvimento sustentável por meio da inclusão financeira e dos negócios sociais (Microcrédito Produtivo Orientado – MPO, Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior – Fies, Minha Casa Minha Vida, BB Crédito Acessibilidade, Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf, entre outros), integrando programas e políticas públicas, parcerias com o setor privado e estratégias de desenvolvimento sustentável do BB (investimento social privado, voluntariado, inclusão digital, desenvolvimento regional sustentável, modelo de atuação integrada em desenvolvimento sustentável, entre outros) [...]. (BANCO DO BRASIL, 2015, p. 5).
O Sírio Libanês Hospital elencou como temas materiais que podem ser relacionados
ao contexto social desta pesquisa a saber:
i. Foco nos Pacientes - Transparência no processo de cuidar - empoderamento do paciente - Saúde e segurança do paciente; Rotulagem de produtos e serviços.
ii. Foco nos colaboradores e corpo clínico - Retenção de colaboradores, redução da rotatividade, clima e plano de carreira - Emprego; Saúde e segurança dos colaboradores - Saúde e segurança no trabalho; Desenvolvimento profissional de médicos e colaboradores - Treinamento e educação.
144
iii. Foco na governança - Transparência na prestação de contas e combate à corrupção - Desempenho econômico; Combate a todas as formas de discriminação** - Direitos Humanos.
iv. Foco na sociedade - Projetos e iniciativas próprias para assistência às comunidades do entorno - Direitos humanos; Atuação na formação de profissionais da saúde, pesquisas e parceria para a melhoria do SUS - Impactos econômicos indiretos.
**O tema foi considerado transversal, em termos de impacto e necessidade de gestão, pela empresa, portanto, inserido junto com os demais temas relacionados à governança. (SÍRIO LIBANÊS HOSPITAL, 2015, p. 5).
O IOS destaca que os temas mais relevantes para o seu público de relacionamento e
que possuem relação com os objetivos desta pesquisa são:
i. Gestão de parcerias com as empresas para apoiar a empregabilidade dos beneficiários.
ii. Capacitação do quadro de funcionários da Organização, incluindo professores, para garantir a qualidade dos cursos.
iii. Processo para formular, comunicar e implementar campanhas de conscientização pública.
iv. Processos para garantir ética na captação e destinação de recursos.
v. Capacitação/Sensibilização das empresas, para receber os beneficiários. (IOS, 2015, p. 11).
Dentre os temas materiais destacados pelo inpEV, aqueles correlatos ao pilar social
são:
i. Atuação do inpEV em conscientização e educação. ii. Papel do SCL como referência para outros setores. iii. Visibilidade das informações do Sistema – Conformidade
(sociedade). iv. Atendimento à legislação. (inpEV, 2015, p. 39).
A Unimed Sorocaba elencou os indicadores de maior importância, diferentemente das
informações das demais organizações já apresentadas que elencaram temas.
Conforme o RS da Unimed Sorocaba (2015, p. 14), destacam-se os seguintes
indicadores do pilar social: Emprego, Combate à corrupção, Saúde e Segurança do
cliente, Saúde e Segurança no trabalho, Trabalho infantil, Igualdade de remuneração
entre mulheres e homens, Práticas de segurança, Não discriminação, Rotulagem de
produtos e serviços, Conformidade legal (leis e regulamentos), Diversidade e
igualdade de oportunidades, Avaliação de fornecedores em impactos na sociedade,
Mecanismos de queixas e reclamações relacionados aos impactos na sociedade e
nas comunidades locais.
145
Os temas do pilar social destacados pelas partes interessadas da Unimed Cuiabá
foram:
i. Clientes: privacidade dos dados do cliente e acesso a tratamento médico de qualidade.
ii. Colaborador: privacidade dos dados do cliente e acesso a tratamento médico de qualidade e desempenho econômico.
iii. Cooperado: acesso a tratamento de qualidade, qualidade no atendimento e controle de doenças.
iv. Fornecedores: Treinamento e educação, saúde e segurança no trabalho, consumo de materiais, prática de direitos humanos.
v. Comunidade: Energia e água. vi. Prestadores: Consumo de materiais, Impactos econômicos
indiretos, geração de emprego. vii. Governo: Transparência nos preços e coberturas dos planos,
Energia, água, práticas de direitos humanos, acesso a tratamento médico de qualidade.
viii. Imprensa: Transparência nos preços e coberturas dos planos, desempenho econômico, Energia, Água, Geração de emprego, acesso a tratamento médico de qualidade, privacidade de dados do cliente, comunicação de marketing. (UNIMED CUIABÁ, 2015, p. 28).
Logo, foram considerados como materiais pela Unimed Cuiabá (2015), os seguintes
temas do pilar social da GRI: Geração de Emprego, Saúde e Segurança, Treinamento
e Educação, Diversidade e Igualdade de Oportunidades, Práticas de Direitos
Humanos, Não Discriminação, Liberdade de Associação e acordo de negociação
coletiva, Trabalho Infantil, Trabalho Forçado, Comunidade (gestão dos impactos das
operações nas comunidades), Corrupção, Políticas Públicas, Controle de doenças,
Concorrência desleal, Saúde e segurança do beneficiário, Acesso a tratamentos
médicos de qualidade, Qualidade no atendimento, Privacidade de dados do cliente,
Inovação, Medicina Preventiva, Comunicação de Marketing, Desempenho do Plano
(ex. pedidos que foram negados, taxa de reclamação).
Para a Tractebel Energia (2015, p. 18-19), os temas sociais materiais que foram
relatados:
i. [...] Gestão da carteira de clientes - Rotulagem de produtos e serviços.
ii. [...] Aumento da capacidade de geração (investimentos, licenciamentos e perspectivas) - Investimentos; Avaliação de impactos relacionados a direitos humanos.
146
iii. [...] Emprego e relações de trabalho – Emprego; Relações trabalhistas; Não discriminação; Liberdade de associação.
iv. [...] Saúde e Segurança no Trabalho (empregados próprios e terceirizados) - Saúde e segurança no trabalho.
v. Relacionamento com a comunidade (engajamento local e canais de relacionamento, denúncia, resolução de problemas e queixas) - Mecanismos de queixas e reclamações relativas a impactos ambientais; Mecanismos de queixas e reclamações relacionadas a práticas trabalhistas; Direitos dos povos indígenas e tradicionais; Mecanismos de queixas e reclamações relacionadas a direitos humanos; Comunidades locais; Comunidades locais (setorial); Mecanismos de queixas e reclamações relacionadas a impactos na sociedade; Biodiversidade e Emissões. (TRACTEBEL ENERGIA, 2015, p. 18-19).
O Santander – Brasil apresentou como temas e aspectos sociais materiais, os
seguintes:
i. [...] Gestão de Pessoas - Treinamento e educação; Emprego. ii. Relações com clientes e consumidores - Rotulagem de produtos e
serviços; Comunicações de marketing. iii. Combate à Corrupção e conformidade com leis, normas e políticas
internas - Combate à corrupção; Mecanismos de queixas e reclamações (Práticas Trabalhistas e Direitos Humanos); Conformidade (produtos e sociedade); Auditoria; Políticas Públicas.
iv. Impactos positivos do banco na sociedade - Impactos econômicos indiretos; Comunidades locais.
v. Avaliação da cadeia de fornecedores - Avaliação de fornecedores em práticas; trabalhistas, ambientais, DH e sociedade.
vi. Estratégia da Sustentabilidade. (SANTANDER BRASIL, 2015, p. 69).
A Caixa Econômica Federal apresentou os seguintes temas e aspectos sociais
essenciais:
i. Sociedade – Posicionamento quanto à corrupção e combate à corrupção na Instituição - Combate à corrupção.; Conformidade (Sociedade).
ii. Serviços bancários – Iniciativas de educação para o uso responsável do crédito - Rotulagem de produtos e serviços.
iii. Economia – Atuação da CAIXA como agente financeiro de programas governamentais (Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família etc.) - Portfólio de produtos.
iv. Serviços bancários – Qualidade e satisfação dos clientes - Rotulagem de produtos e serviços; Privacidade do cliente; Conformidade (Responsabilidade pelo produto).
v. Sociedade – Inclusão e acessibilidade de clientes - Portfólio de produtos FS6; Comunidades locais.
147
vi. Direitos humanos – Respeito aos direitos fundamentais - Investimentos; Não discriminação; Liberdade de associação e negociação coletiva; Trabalho infantil; Trabalho forçado ou análogo ao escravo; Práticas de segurança; Direitos indígenas; Avaliação; Avaliação de fornecedores em direitos humanos; Mecanismos de queixas e reclamações relacionadas a direitos humanos.
vii. [...] Trabalho – Segurança e proteção de empregados - Saúde e segurança no trabalho.
viii. Trabalho – Geração de oportunidades e postos de trabalho - Desempenho econômico; Presença no mercado; Emprego; Treinamento e educação.
ix. [...] Sociedade – Engajamento com comunidades locais Comunidades locais. (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, 2015, p. 52).
Os relatos da Itaipu Binacional (2015, p. 9) destacam os seguintes temas do pilar
social considerados como materiais: Relacionamento com a Comunidade,
Treinamento e Educação, Impactos Econômicos Indiretos/Desenvolvimento Regional,
Direitos Humanos, Práticas de Governança, Práticas Anticorrupção, Pesquisa e
Desenvolvimento Tecnológico, Diversidade e Igualdade de Oportunidades e Gestão
de Recursos Humanos.
De acordo com a ACSP (2015, p. 7), os temas de maior relevância e selecionados na
perspectiva social são:
i. Defesa dos interesses institucionais - Aspectos: Governança,
Engajamento com stakeholders e Compromissos e iniciativas - Atualização do estatuto e demais documentos da governança corporativa contribui para o processo de transparência e gestão da entidade.
ii. Direitos humanos - Aspectos: Não-discriminação, Liberdade de associação e negociação coletiva, Trabalho infantil, Trabalho forçado ou análogo ao trabalho escravo, Práticas de segurança e Avaliação de fornecedores em práticas de direitos humanos - Respeitar integralmente a legislação vigente e combater ações de preconceito e desrespeito aos direitos humanos, tendo práticas estabelecidas na Política Interna da entidade.
iii. Ambiente de trabalho - Aspectos: Emprego, Saúde e segurança no trabalho e Diversidade e igualdade de oportunidades - Desenvolver um ambiente de trabalho propício ao desenvolvimento dos colaboradores e que contribua com a melhoria do clima organizacional.
iv. Desenvolvimento profissional - Aspectos: Treinamento e educação - Aprimorar as lideranças internas para que tenham condições técnicas de corresponder às expectativas da entidade e de atender sua missão e visão; Engajamento com fornecedores - Aspectos: Avaliação Fornecedores-práticas trabalhistas, Avaliação Fornecedores - impacto na sociedade,
148
Avaliação fornecedores - direitos humanos e Avaliação fornecedores - impacto no meio ambiente - Desenvolver um canal de comunicação com os fornecedores e aproximá-los das práticas já existentes na ACSP. (ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO, 2015, p. 7).
Dentre os temas considerados principais pela matriz de materialidade, pela Bunge
Alimentos Brasil (2015), destacam-se aqueles com maior relação ao pilar social:
Governança, estratégia e compliance, segurança alimentar e saúde do consumidor,
responsabilidade pelo produto, investimento social, engajamento, apresentando como
principais assuntos: cumprimento com leis, normas e regulamentos; ética e conduta;
transparência; direitos humanos e condições de trabalho na cadeia de suprimentos e
segurança e qualidade dos produtos.
Assim, foi possível perceber que elementos de orientação para a sociedade são
apresentados pelos RS como previsto por Tenório (2009). Essa orientação é
fortalecida pela apresentação por parte das organizações de informações e
indicadores correlatos às subcategorias de Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente,
Direitos Humanos, Sociedade e Responsabilidade pelo Produto, conteúdos da
categoria social da GRI.
Esses conteúdos exemplificam o objeto de estudo da Gestão Social apresentado por
Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012), ou seja, as problemáticas sociais e
ambientais ocorrem em um determinado território no qual os interesses e ações de
diversos atores são compartilhados. Assim, as organizações podem representar tais
territórios, as suas partes interessadas, esses atores, e os Relatórios de
Sustentabilidade como instrumentos para a divulgação das ações e dos interesses do
público envolvido e, orientador, para as inovações sociais e mudanças que promovam
o desenvolvimento local no contexto da sustentabilidade.
Os aspectos que precisam ser apresentados pelas organizações para a subcategoria
Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente das diretrizes G4 da GRI se correlacionam
diretamente às reflexões de Sachs (2010) sobre o desenvolvimento includente,
pautado nos conceitos de trabalho decente conforme Organização Internacional do
Trabalho (OIT). Portanto, Sachs (2010, p. 33) conceitua trabalho decente como “um
149
trabalho convenientemente remunerado, levando-se em conta o nível de
desenvolvimento do país, que se faz em condições de salubridade também aceitáveis
e dá lugar a relações humanas que respeitam a dignidade do trabalhador”. Assim, as
diretrizes da GRI corroboram com o estímulo a esse modelo de desenvolvimento
includente quando solicita informações qualitativas e quantitativas das organizações
na subcategoria Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente, com o relato a respeito dos
aspectos de Emprego, Relações trabalhistas, Saúde e segurança no trabalho,
Treinamento e educação, Diversidade e igualdade de oportunidades, Igualdade de
remuneração entre homens e mulheres, Avaliação de fornecedores em práticas
trabalhistas e Mecanismos de queixas e reclamações relacionadas a práticas
trabalhistas. O autor ainda destaca que não é suficiente multiplicar as oportunidades
de trabalho se este não possui condições decentes às relações humanas.
Percebendo o papel da GRI fomentando as organizações para contribuírem com o
Desenvolvimento Sustentável, existe uma alta correlação entre os indicadores da
categoria social com os compromissos reafirmados no relatório da Rio+20. Dentre
estes compromissos, relatados pela ONU (2012, p. 10), destacam-se “a importância
da participação dos trabalhadores e dos sindicatos para a promoção do
desenvolvimento sustentável”. O relatório ainda apresenta como elementos
fundamentais para o fortalecimento da capacidade de trabalhadores e sindicados em
apoiarem o Desenvolvimento Sustentável, a informação, a educação e a
sustentabilidade em todos os níveis, o que inclui o local de trabalho.
4.3 Contexto da Pesquisa de Campo
Nesta pesquisa ainda foram utilizadas, como instrumento de coleta de dados,
entrevistas semiestruturadas com profissionais responsáveis pela consolidação de
informações e elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade (RS) das organizações
selecionadas na pesquisa documental, com o objetivo de identificar o conhecimento e
as concepções de Gestão Social (GS) desses indivíduos, no contexto de suas
organizações, e ter parâmetros de comparabilidade com os resultados alcançados na
etapa da pesquisa documental. A análise de conteúdo dessas entrevistas ainda
buscou conhecer as percepções sobre Gestão Social para verificar se as diretrizes G4
150
da GRI e os Relatórios de Sustentabilidade representam instrumentos de Gestão
Social nas diferentes organizações.
Após os contatos realizados com as 12 organizações selecionadas para esse estudo,
somente quatro delas concordaram em participar da pesquisa por meio de realização
das entrevistas. Além dessas quatro organizações, uma delas preferiu responder as
perguntas do roteiro semiestruturado (APÊNDICE E) de forma escrita. Todavia, essa
resposta não foi considerada na análise de conteúdo, pois se optou por trabalhar com
um grupo homogêneo quanto ao método de aplicação do instrumento de coleta de
dados.
Cabe salientar que, em todos os casos, os contatos iniciais com as organizações
foram realizados por meio dos canais para informações de sustentabilidade
disponibilizados nos RS. Todavia, nem todos os canais permitiram contato direto para
viabilização das entrevistas, o que representa uma oportunidade de melhoria para as
organizações pesquisadas.
Das empresas públicas, privadas, cooperativas e organizações sem fins lucrativos,
somente um tipo de organização não conseguiu ser contemplada nessas quatro
entrevistas realizadas e as informações coletadas foram suficientes para a saturação
dos dados, o que permitiu a análise de conteúdo apresentada a seguir. A identidade
dos entrevistados e de suas organizações serão mantidas em sigilo, logo, serão
nomeados no decorrer do texto como: Entrevistado 1, 2, 3 ou 4 e seu perfil está
relacionado no Quadro 2.7.
151
Quadro 2.7 – Informações sobre os entrevistados
Entrevistados 1 2 3 4
Sexo feminino feminino masculino feminino
Idade 34 anos 34 anos 36 anos 31 anos
Cor auto atribuída
branca branca branca amarela
Função
Coordenadora da área de
Empregabilidade e de
Comunicação
Coordenadora de
Comunicação e Educação
Analista de Responsabilidade
Social ou Sustentabilidade
Supervisora de Responsabilidade
Social
Tempo na função
dois anos quatro anos seis anos um ano
Tempo na Organização
três anos quatro anos 10 anos oito anos
Tempo que participa da elaboração dos RS
três anos dois anos seis anos seis anos
Fonte: Dados da pesquisa.
Todos as autorizações e termos referentes às questões éticas de realização das
entrevistas estão devidamente assinados e mantidos pelo pesquisador.
4.3.1 Resultados da Análise de Conteúdo
O conteúdo das entrevistas realizadas nas quatro organizações que aceitaram
participar da pesquisa foi tratado para sua inserção no software Iramuteq. Os corpus
textuais foram revisados, suprimindo-se expressões que representavam vício de
linguagem dos entrevistados e demais elementos estranhos ao conteúdo das
entrevistas, observando-se a manutenção da coesão e coerência do texto.
Após os ajustes nos corpus textuais, a análise de conteúdo realizada pelo software
contemplou quatro textos, estratificados pelo programa em 402 segmentos de textos,
2.128 formas, com 14.297 ocorrências, 1.405 lemas, 1.291 formas ativas, 108 formas
suplementares, 509 formas ativas com frequências ≥ 3, média das formas por
segmento de 35,564677, conforme Figura 2.2.
152
Figura 2.2 - Classificação Hierárquica Descendente (CHD)
Fonte: Dados da pesquisa, Software Iramuteq, 2017.
Orientando-se pelas considerações de Camargo e Justo (2013), com o método da
Classificação Hierárquica Descendente (CHD), o software identificou e reformatou as
unidades de texto, transformando-as em quatro classes de Unidades de Contexto
Elementares (UCE). Como evidenciado na Figura 2.2, dos 402 segmentos de textos,
332 foram classificados, correspondendo a 82,59% dos segmentos. O número de
hapax foi de 609, ou seja, 4,26% das ocorrências e 43,35% das formas (lemas). A
média de ocorrências por texto foi de 3574,35.
Em um primeiro cenário de resultado alcançado com a utilização do software Iramuteq
é apresentado na Figura 2.3, o agrupamento e a organização gráfica em nuvem das
palavras das entrevistas em relação à sua frequência.
153
Figura 2.3 – Nuvem de palavras do conteúdo das entrevistas
Fonte: Dados da pesquisa, Software Iramuteq, 2017.
Conforme Camargo e Justo (2013), a nuvem de palavras representa uma análise
lexical simples, porém, esta consegue ilustrar os elementos preliminares dos
resultados desta pesquisa, na qual a palavra gente se destaca como elemento central
e de maior frequência, revelando, das informações coletadas nas entrevistas, a
importância das pessoas quando se trata das questões sociais no contexto dos
relatórios e práticas de sustentabilidade organizacional.
154
O destaque ao termo gente na nuvem de palavras é reconhecido na publicação, O
futuro que queremos, elaborada pela ONU (2012, p.3) quando esta relata:
Reconhecemos que os povos estão no centro do desenvolvimento sustentável e, nesse sentido, trabalhamos por um mundo justo e equitativo para todos, e nos comprometemos a trabalhar juntos, por um crescimento econômico sustentável que beneficie a todos, pelo desenvolvimento social e pela proteção do ambiente favorecendo o interesse de todos. (ONU, 2012, p. 3).
Outras palavras também são destacadas na nuvem como: não, também, público,
indicador, questão, porque, como e Relatório de Sustentabilidade. Ao observar as
transcrições das entrevistas é possível identificar que essas palavras podem ser
agrupadas em aquelas que:
i. buscam explicar, conectar e complementar informações, como é o caso das
palavras porque, como e também.
- “Eu acho, eu acredito que para a coordenação a gente consegue ter uma visão ampla de todas as áreas, porque quando a gente lê o relatório de sustentabilidade, elas conseguem enxergar o que está acontecendo no financeiro, o que está acontecendo no RH, a gente consegue enxergar todas as áreas de uma maneira, em um relatório de sustentabilidade único.” (Entrevistado 1).
ii. buscam esclarecer o real sentido das informações, como a palavra não;
- “Eu acredito que é uma organização socialmente responsável é aquela que controla esses indicadores propostos pela GRI, por exemplo, o tempo inteiro e não para fazer o relatório de sustentabilidade, mas que ela tenha uma visão para o futuro.” (Entrevistado 1).
iii. buscam apresentar os elementos relacionados à sustentabilidade
organizacional, representadas por público, indicador, questão e Relatório de
Sustentabilidade.
- “Por ordem de relevância também, nós classificamos as partes interessadas, fizemos um estudo com a consultoria e foram selecionados pela relevância que nosso público demonstrou em querer saber, em que eles têm interesse.” (Entrevistado 2).
Portanto, a ocorrência das palavras apresentadas na nuvem evidencia a coleta de
informações relativas à sustentabilidade organizacional com foco central na discussão
do pilar social. Informações prestadas pelos entrevistados buscando a exemplificação,
155
complementariedade e preocupação em apresentar o real sentido do que estava
sendo relatado, o que indica a aplicabilidade das informações coletadas para o
alcance dos objetivos propostos por esta pesquisa.
Ao realizar a Classificação Hierárquica Descendente dos relatos obtidos pelas
entrevistas, as classes relacionadas ao conteúdo são formadas pela aproximação dos
sentidos e relevância das palavras, tendo como referência a análise estatística do X²
(qui-quadrado) em relação à frequência dos radicais das palavras em cada segmento
de texto e o conjunto de texto que representa o corpus textual. Assim, a Figura 2.4
representa o dendograma resultante da CHD com a apresentação das respectivas
classes do conteúdo analisado e as palavras que foram significativas em cada uma
dessas classes.
Figura 2.4 - Dendograma resultante da Classificação Hierárquica Descendente dos
relatos das entrevistas
Fonte: Dados da pesquisa, Software Iramuteq, 2017.
156
As palavras em cada uma das categorias da Figura 2.4 estão apresentadas de forma
decrescente em relação ao X² de associação à categoria, sendo consideradas
significativas aquelas com X² ≥ 3,84. Logo, a partir da definição das classes (termo
atribuído pelo Iramuteq), torna-se relevante analisar o conjunto de palavras e relatos
de cada uma dessas classes e nomear as categorias, nomenclatura utilizada por
Bardin (2011), que cada conjunto de palavras representa. Portanto, as categorias
ficaram assim definidas:
a) Categoria 1 (classe 1) – Gestão Social aplicada à sustentabilidade
organizacional.
b) Categoria 2 (classe 2) – Concepção e elaboração do Relatório de
Sustentabilidade.
c) Categoria 3 (classe 3) – Partes interessadas e materialidade dos Relatórios de
Sustentabilidade.
d) Categoria 4 (classe 4) – Práticas socioambientais para a sustentabilidade
organizacional.
De uma forma bastante coerente, percebe-se que as categorias 2 e 3 estão
diretamente relacionadas no dendograma da Figura 2.4 e representam categorias que
relatam a concepção e elaboração dos RS. Considerando que o mapeamento das
partes interessadas e o processo de materialidade para os relatórios são etapas
indissociáveis da concepção e elaboração dos RS, esta correlação se demonstra
adequada e corresponde à 52,1% das falas dos entrevistados.
Na Tabela 2.10, estão descritas as classes semânticas que foram separadas pela
relação lexical por variável definida nesta pesquisa, que corresponde às organizações
respondentes. As principais palavras dos segmentos de texto típicos são
apresentadas na tabela e justificam a criação das respectivas 4 classes.
157
Tabela 2.10 – Identificação das palavras nas classes
Classe/Categoria Palavras EFF.
St EFF. Tot
% tot. X²
1 – Gestão Social aplicada à sustentabilidade organizacional
Pensar 21 25 84,00 40,60 Gestão Social 15 16 93,75 34,91 Social 22 34 64,71 24,16 Direitos Humanos 9 9 100,00 23,08 Econômico 8 8 100,00 20,45
2 – Concepção e elaboração do Relatório de Sustentabilidade
Relatório de Sustentabilidade
42 63 66,67 38,59
Área 19 20 95,00 36,25 Começar 15 16 93,75 27,48 Processo 13 14 92,86 23,19
Ano 17 22 77,27 20,35
3 – Partes interessadas e materialidade dos Relatórios de Sustentabilidade
Missão 7 7 100,00 31,14 Matriz 7 7 100,00 31,14 Consulta 7 7 100,00 31,14 Aluno 11 15 73,33 30,90 Público 23 51 45,10 27,70
4 – Práticas socioambientais para a sustentabilidade organizacional
Embalagem 15 16 93,75 59,91 Educação Ambiental 8 8 100,00 34,33 Educação 9 10 90,00 33,14 Campo 7 7 100,00 29,94 Agricultor 7 7 100,00 29,94
Fonte: Dados da pesquisa, 2017. Nota: EFF.St representa o número de UCE que contém a palavra na Classe; EFF. Tot. representa o número de UCE do corpus textual que contém a palavra; e X² é igual ao Qui-quadrado relativo à associação da palavra com a respectiva Classe.
Como exemplo, os dados apresentados na Tabela 2.10, foram interpretados da
seguinte forma, a palavra Pensar, surgiu 25 vezes no texto sendo que em 21 das
vezes ela estava na Classe 1, que corresponde à Gestão Social aplicada à
sustentabilidade organizacional. Logo, este perfil de ocorrência da palavra Pensar na
Classe 1 representou 84% do total de vezes que ela apareceu no texto, o que equivale
a um X² = 40,60. Esse valor do X² em cada palavra servirá de referência para se definir
quais os outros termos que apresentam maior representatividade em cada uma das
classes, e quanto maior for o seu valor, maior será o seu destaque naquela classe,
caracterizando cada uma delas.
Foi também possível, obter do software uma análise pós-fatorial de correspondência
(AFD) a partir da CHD, conforme Figura 2.5. Nesta análise, as palavras e variáveis
associadas a cada uma das quatro classes da CHD são representadas em um plano
cartesiano, permitindo o resgate de segmentos de textos do corpus original, que
viabiliza a compreensão do contexto das palavras estatisticamente significativas.
158
Figura 2.5 – Representação das classes de palavras no corpus original do texto
Fonte: Dados da pesquisa, Software Iramuteq, 2017. Nota: Variáveis ativas - coordenadas - 30 pontos por classe. A posição dos pontos pode não ser exata.
A representação gráfica da Figura 2.5 reforça a relação entre as categorias 2 e 3,
inclusive compondo praticamente o mesmo quadrante. Nessa mesma perspectiva,
compreende-se, na análise deste gráfico, que as palavras mais próximas ao eixo
horizontal representam elementos comuns entre as classes. Logo, pode-se perceber
que a categoria 2 possui como palavras de maior relevância em seu contexto, os
Relatório de Sustentabilidade, Área, Começar, Processo e Ano e a categoria 3,
apresenta como palavras de destaque Missão, Matriz, Consulta, Aluno e Público.
Ambas possuem um conjunto de palavras convergentes no propósito de que a
elaboração do Relatório de Sustentabilidade só é possível com a consideração e
159
participação efetiva das partes interessadas e de um processo de materialidade
estruturado.
Para a categoria 3, as palavras Missão, Matriz e Consulta possuem o mesmo X² de
31,14 que representa o maior valor nesta classe e que se destacam quando se infere
que a missão da elaboração de um Relatório de Sustentabilidade (X²=38,59 na classe
1) depende de um processo de materialidade no qual se constrói a matriz de temas
materiais para as partes interessadas, processo no qual é inerente a consulta a estas
partes. Processo destacado com trechos dos RS na análise de cluster realizado nos
RS das organizações.
Na categoria 1, referente à gestão social aplicada à sustentabilidade organizacional,
as palavras, Pensar (X²=40,60), Gestão Social (X²=34,91) e Social (X²=24,16) são as
de maior ocorrência e destaque e apesar de estarem horizontalmente mais próximas
às categorias 2 e 3, relativas ao Relatório de Sustentabilidade em si, se encontram
em outro quadrante na perspectiva vertical e o núcleo de palavras Pensar, Gestão
Social e Social ainda estão distantes do núcleo das principais palavras presentes nas
categorias 2 e 3. Esta disposição espacial no gráfico permite inferir que, apesar de
uma relação da categoria 1 com as categorias 2 e 3, essas palavras da categoria 1
ainda são pensadas pelos profissionais que elaboram os RS como um elemento
específico e não considerado no processo de elaboração dos RS.
Situação semelhante acontece com as palavras da categoria 4, Embalagem
(X²=59,91), Educação Ambiental (X²=34,33) e Educação (X²=33,14), que estão
relacionadas às práticas socioambientais das organizações, mas que não são
compreendidas no mesmo contexto da elaboração e da materialidade dos RS. Neste
ponto, ressalta-se ainda que a Gestão Social no contexto da sustentabilidade
organizacional ainda não é compreendida como um orientador de práticas
socioambientais, o que inclui as caracterizadas como de Responsabilidade Social.
Todavia, percebe-se que as categorias 1 e 4 se distanciam das demais categorias e
entre si, inclusive assumindo quadrantes opostos e que pode representar um
descolamento ou divergência entre as percepções de Gestão Social aplicada à
160
sustentabilidade (categoria 1) e das práticas socioambientais para a sustentabilidade
organizacional (categoria 4). Este resultado se alinha às percepções também
observadas na análise documental, uma vez que se identificou que as práticas
organizacionais relacionadas às questões sociais foram apresentadas nos
indicadores dos conteúdos padrão específicos e os elementos mais próximos aos
pressupostos do processo de Gestão Social estão em outras partes dos RS,
correspondentes aos padrões de conteúdos gerais.
Com os resultados da análise de conteúdo realizada com o auxílio do Iramuteq, as
categorias definidas foram analisadas pelo método de enunciação proposto por Bardin
(2011), com o propósito de explorar o conteúdo dos relatos de entrevistas e destacar
aqueles trechos que possuem correlação com os pressupostos de Gestão Social
aplicada ao contexto da sustentabilidade organizacional.
Logo, para a categoria, Gestão Social aplicada à sustentabilidade organizacional,
pode-se perceber por meio dos trechos de entrevistas transcritos que ainda há um
caminho a ser percorrido na compreensão da Gestão Social no contexto
organizacional e sua contribuição com a sustentabilidade.
- “[...] mas também acho que está dentro das suas palavrinhas, gestão social, prestação de contas, transformação social, gestão democrática e participativa... pode ser também, geração de trabalho, distribuição de renda, responsabilidade social; [...] eu gostei desse termo que você colocou de cidadania organizacional, mas eu não conseguiria refletir sobre ele ainda. É... eu acho que impacto social, de novo, esse, inovação social, talvez seja um sonho, eu não sei, se eu pensaria em outra palavra agora; [...] talvez uma coisa engajamento, porque assim, para fazer o relatório de sustentabilidade, nós temos que ter o engajamento das partes interessadas, talvez o engajamento das pessoas para a gestão social seja bem interessante, estou pensando; [...] interesses dos grupos sociais e comunidade, orientação para o valor social, novas soluções para grupos sociais e esse, mecanismos de difusão replicação e abstenção”. (ENTREVISTADO 1).
Esses trechos de resposta do Entrevistado 1 foram classificados exatamente na
categoria de Gestão Social aplicada à sustentabilidade e evidenciam as reflexões
ainda não precisas sobre a aplicação da Gestão Social no contexto organizacional.
Todavia, demonstra também uma coerência de percepção do entrevistado no que
161
tange os pressupostos de GS, apesar de ele não ter conhecimento prévio sobre o
tema. Em contrapartida, no trecho de resposta do Entrevistado 2, encontra-se uma
outra realidade de compreensão da GS, uma visão limitada a ações pontuais e não
sistêmicas.
- “[...] a gestão social ela parte do princípio de que a gente atende a legislação com relação a funcionários e disso tem os demais, se for falar de sistema tem 500 indiretamente, existe um fator social também apesar de nosso foco ser ambiental; [...] a gente tem essa questão da proximidade com a comunidade com os estudantes acho que é por aí o que é gestão social; [...] hoje, no Brasil, nós temos uma legislação trabalhista boa acredito que uma gestão social satisfatória é uma empresa que atenda essa legislação trabalhista e obviamente se ela puder oferecer benefícios que não são previstos em lei.” (ENTREVISTADO 2).
O Entrevistado 3 percebe o tema Gestão Social aplicada à organização da seguinte
maneira:
- “[...] as características são assim basicamente aquelas que de alguma forma vão trazer algum impacto positivo para os públicos com os quais a se relaciona, não apenas a comunidade que é um olhar que gera muita confusão ao achar que a gestão social é apenas para o público externo e não é bem assim, a gente também tem o público interno, empregado ou contratado de empresas terceirizadas; [...] são basicamente ações que trazem algum impacto ou benefícios para esses públicos, isso é um dos pontos interessantes que nós já observamos que merece atenção e ser aprimorado; [...] a questão social é tratada um pouco distante do que a GRI propõe, ela gostaria pela GRI, gostaria que houvesse uma gestão desses aspectos uma gestão dos indicadores em si.” (ENTREVISTADO 3).
No caso apresentado pelo Entrevistado 3, constata-se uma relação com as
considerações do Entrevistado 1, porém em um perfil mais preciso e delimitado com
o vínculo às diretrizes da GRI. No mesmo interim, corroborando com as considerações
dos Entrevistados 1 e 3, o Entrevistado 4 ainda destaca:
- “[...] a gestão social, quando a gente fala em social, a gente pensa em só uma comunidade, mas não é somente a comunidade, igual quando a gente falou da gestão corporativa; [...] não é somente minha obrigação social com todos os stakeholders e nossos públicos, porque eu acho que quando a gente fala de social não tem como deixar de fora isso, não tem como abordar sem falar em justiça social, desenvolvimento tecnológico, interesse dos grupos sociais na comunidade, orientação para o valor social, participação de
162
cooperação, novas soluções para grupos sociais, responsabilidade social e sustentabilidade. Eu acho que está bem explicado e esqueci de falar, mudança gestacional porque para funcionar a gente tem que estar sempre aberto para mudanças, para coisas novas”. (ENTREVISTADO 4).
A abordagem do entrevistado 4 ainda realiza uma conexão com a inovação social e
os processos transformadores relacionados à Gestão Social. Cabendo salientar, que
alguns termos que são utilizados pelos entrevistados, estão relacionados em fichas
que lhes foram apresentadas durante a entrevista, uma vez que estes não tinham o
contato com o termo Gestão Social e, assim, ter-se-ia um norteador para os
encaminhamentos das questões. Essas fichas podem ser observadas nos quadros
azuis do roteiro semiestruturado de entrevista, no Apêndice E.
Em continuidade, observando os trechos dos relatos concernentes à categoria 2,
Concepção e elaboração do RS, foram recortados trechos enunciados da entrevista
que foram classificados nessa categoria e que a representam.
- “[...] a consultoria faz a entrevista com os coordenadores e com a gestora; [...] mas a gente sempre abre caso ela precise conversar com alguém, a gente define quem vai dar as entrevistas, a gente oferece as entrevistas para a consultoria que começa a escrever o relatório de sustentabilidade; [...] e a área de comunicação é a que puxa toda a gestão desse cronograma, toda a gestão desse projeto, e a gente começa para cada área, assim, olha seus indicadores serão esses, vocês precisam me dar as respostas até o fim de dezembro e tal, às vezes, é um pouco complicado; [...] na primeira edição, a gente fez um workshop com todo mundo junto com a consultoria, para que todo mundo soubesse para que serve o relatório de sustentabilidade e quais os tipos de indicadores que cada um tem que colocar e envolver todo mundo; [...] eu acho que o relatório de sustentabilidade é sempre difícil para quebrar a barreira com todo mundo, mas depois disso já vai ficando fácil de fazer, todo mundo já está acostumado já sabe a importância.” (ENTREVISTADO 1).
Para o Entrevistado 2, a concepção e elaboração do RS consistem em:
- “[...] e a gente, o público interno, desculpa, o público envolvido obviamente no relatório de sustentabilidade é o público interno, que são as pessoas responsáveis em alimentar esses indicadores para a gente publicar no final do ano no começo do ano;
163
[...] com relação aos demais, com a publicação pronta, a gente manda para essas pessoas envolvidas. Antes disso, a gente tem a aprovação do conselho diretor sobre os números que a gente publica, sobre as informações que a gente responde; [...] a gente fecha o relatório de sustentabilidade, esse relatório de sustentabilidade vai para editora, ele é aprovado ou não, pode voltar pelo diretor, do que é representante dos associados e volta para a gente fazer a versão oficial; [...] acredito que a melhor coisa com a publicação do relatório de sustentabilidade é a questão do relacionamento mesmo, essa aproximação. Ele como um documento de comunicação, ele é ótimo para o relacionamento, mas não tem uma utilização administrativa.” (ENTREVISTADO 2).
Destaca-se do relato do Entrevistado 2, o papel do processo de elaboração do
relatório na promoção do relacionamento entre as pessoas envolvidas neste processo,
potencial indício de uma comunicação intersubjetiva, constructo da Gestão Social. Os
trechos destacados foram:
- “[...] outra coisa que a gente repara também é que durante o processo do relatório de sustentabilidade tem sempre um período, uma oportunidade bem no início dos trabalhos, antes das informações serem fornecidas, que a gente faz umas oficinas; [...] já não mais com a instituição de ensino ou um consultor específico para treinamentos. É uma etapa de um projeto grande que é contratado a consultoria, que vence a licitação ou que é contratada, ela tem que proporcionar essa oficina, essa oportunidade de capacitação; [...] nos últimos relatórios de sustentabilidade você vai ver que a gente só vai atualizando a matriz de materialidade com base em conversas internas, porque a contribuição do público externo não foi enriquecedora não; [...] mas a gente dá sempre oportunidade, claro inclusive usa os canais de público interno que tem a proposta de alguma contribuição que a gente possa aproveitar. O processo é bem amplo mesmo.” (ENTREVISTADO 3).
Verifica-se que, apesar do Entrevistado 3 ainda complementar a questão da
comunicação, com a qualificação das pessoas, é relatado que o processo de
materialidade não tem contribuído para a elaboração dos RS das organizações, o que
pode representar uma oportunidade de melhoria para o aperfeiçoamento do método
utilizado ou a não compreensão da importância do processo em si, como instrumento
de participação cidadã das partes interessadas e contribuição no processo decisório.
164
Assim como os demais, o Entrevistado 4 reforça o processo de envolver as áreas
internas da organização para a elaboração do RS. Mas, neste caso, o entrevistado
não detalha o processo como os demais entrevistados, considerando que este trecho
foi obtido da seleção da categoria, Concepção e elaboração do RS, resultante das
análises do Iramuteq.
- “[...] as informações a gente já têm a base que é feita pelo GRI e a gente passa as informações que a gente precisa de cada área correspondente, e cada área fornece as informações e a gente faz uma junção para constar no relatório de sustentabilidade.” (ENTREVISTADO 4).
Ademais, quando analisada a categoria referente às Partes interessadas e
Materialidade dos RS, o Entrevistado 1 ressalta que a decisão de elaboração da matriz
de materialidade é tomada de forma subjetiva a cada ano:
- “[...] normalmente em setembro a gente define se a gente vai fazer uma matriz de materialidade ou não, se a gente vai fazer questionário ou não com os públicos, com as partes interessadas. Define como que a gente vai fazer isso e um cronograma de projetos.” (ENTREVISTADO 1).
O Entrevistado 2 evidencia os motivos pelos quais a organização elabora a matriz de
materialidade, a saber:
- “[...] é para entender quais eram as inquietações, digamos que era para a gente responder os indicadores que atenderem a essa demanda do nosso público, os principais públicos que o relatório de sustentabilidade contempla. Nós fizemos essa matriz de materialidade para entender quais são os indicadores; [...] a gente tem essa questão da possibilidade, têm a realização da matriz de materialidade. A gente mandou, fez uma pesquisa em todos esses públicos que eu comentei. Entre os indicadores de GRI, quais eram o posicionamento, o que eles queriam saber nesse relato público que é o relatório de sustentabilidade? [...] todos os indicadores, eles estão dentro da matriz, a gente faz um levantamento do que é relevante e o que não é relevante a gente faz outra seleção; [...] depois a gente com base na matriz de materialidade e interesse dos nossos públicos, a gente responde aquele indicador e conta o que acontece e o que a gente faz e tudo mais.” (ENTREVISTADO 2).
165
O Entrevistado 3 reforça a prática de teste de materialidade com as partes
interessadas na organização e discorre sobre a prática.
- “[...] também fazemos o teste de materialidade com nossos públicos de interesse e a partir do resultado dessa materialidade a gente consegue definir quais são os indicadores e os conteúdos que a gente precisará relatar [...] a gente por não ter uma tecnologia refinada de engajamento a gente trata com todos os públicos de interesse da... a gente faz convite público, avisa que estamos fazendo o relatório de sustentabilidade para todas as partes interessadas.” (ENTREVISTADO 3).
Esse entrevistado destaca um elemento relevante no processo de participação que é
o engajamento. Em alguns relatos apresentados pelos entrevistados sobre o processo
de materialidade, pode-se identificar que os dificultadores estão ou no método
utilizado para este processo ou no engajamento das partes interessadas com este
processo. Refletir sobre o que influencia este engajamento das partes interessadas
pode ser um campo promissor para outros estudos.
Por fim, o trecho utilizado do relato do Entrevistado 4, classificado para esta categoria,
está relacionado ao tratamento das informações, que também corresponde ao
processo de Concepção e elaboração dos RS e vinculado ao controle social das
inciativas organizacionais.
- “[...] todas as informações sociais que constam no relatório de sustentabilidade são finalizados e tabulados pelo programa de ação social. Esses indicadores são selecionados e acompanhados pelo programa de ação social, isso por várias questões.” (ENTREVISTADO 4).
No que tange à categoria de Práticas socioambientais para a sustentabilidade
organizacional, os trechos utilizados trabalham desde a caracterização de práticas
socioambientais, como a apresentação de argumentos sobre sua importância até as
percepções sobre uma organização sustentável. Logo, o Entrevistado 1 menciona
que:
- “[...] eu acredito em desenvolvimento de produtos e serviços que vão fazer sentido para as pessoas e que eu consiga prestar um serviço de atendimento onde eu vá. Conseguir me importar com o que aquilo vai influenciar na vida da pessoa de verdade, não só criar um produto por
166
criar; [...] você ter serviços que pensam no meio ambiente, pois como você desenvolveu aquele produto, tomar cuidado com as populações daqueles locais de onde você extrair matéria prima e etc.”. (ENTREVISTADO 1).
As percepções do Entrevistado 1 se alinham de forma estruturada com elementos
para a promoção do DS conforme a ONU (2012) e, neste contexto, os Entrevistado 2,
3 e 4 prosseguem e complementam as conceituações do Entrevistado 1 e
caracterizam o que consideram como uma organização sustentável.
- “[...] uma empresa socioambiental economicamente e socialmente responsável é aquela que vai levar em consideração não somente o papel do lucro, tanto atender a sociedade de consumo quanto atender a sociedade, o papel de gerar emprego.” (ENTREVISTADO 2).
- “[...] seria fazer uma gestão que quando planejar um pensamento para se produzir ou se prestar um serviço, que trace esses impactos que afetem a comunidade e também meio ambiente.” (ENTREVISTADO 3).
- “[...] tudo aquilo que podemos para agregar valor aos nossos clientes, essa gestão é socialmente justa. É cuidar de toda localidade no qual está inserido, é se preocupar e poder priorizar também os produtores da comunidade local.” (ENTREVISTADO 4).
Apesar de uma abordagem ainda pouco sistêmica para a sustentabilidade, perto da
multidimensionalidade proposta pelos estudos de Flores, Vieira e Xaubert (2012),
Mendes (2009), Foladori (2002) e Sachs (1993), é importante ressaltar que, no trecho
apresentado pelo Entrevistado 4, aparece a percepção da dimensão territorial da
sustentabilidade no que tange a preocupação com o desenvolvimento local, assim
como, o Entrevistado 2 destaca a relação de uma organização sustentável e a geração
de trabalho e renda, que é um dos constructos de Gestão Social e premissas do
alcance do DS.
A percepção obtida pela categorização do conteúdo das entrevistas e a enunciação
dos resultados obtidos pela categorização demonstraram que os profissionais que
elaboram os RS compreendem a importância do processo de materialidade para a
concepção e elaboração dos RS e reconhecem que as práticas socioambientais
implementadas pelas suas organizações são importantes para as partes interessadas
e contribuem com a sustentabilidade organizacional, todavia, o conhecimento e
167
percepção sobre Gestão Social ainda precisa ser melhor esclarecido para esses
profissionais. Esta compreensão da Gestão Social relacionada às responsabilidades
sociais da empresa faz com que esta não seja uma promotora de mudanças que
contribuam com o desenvolvimento local, como é esperado dos processos
relacionados à inovação social conforme Bignetti (2011). Este fato também é
percebido no relato das práticas de sustentabilidade e destacadas durante as
entrevistas que fortalecem as percepções de Sartori, Latrônico e Campos (2014) em
relação às publicações de sustentabilidade, das quais se destacam a necessidade de
reconhecimento da sustentabilidade social, a cooperação entre as partes
interessadas, governos e sociedade civil, o equilíbrio entre os pilares da
sustentabilidade e a participação pública no planejamento das práticas de
sustentabilidade.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando analisada a presença dos pressupostos de Gestão Social nos Relatórios de
Sustentabilidade das organizações, observou-se que as informações sobre suas
questões sociais não se limitavam ao item da categoria social dos seus Relatórios,
previsto nos conteúdos padrão específicos do pilar social conforme as diretrizes da
GRI (2013; 2013a). Logo, identificou-se que informações sobre o pilar social, na
perspectiva da Gestão Social, também estavam presentes em outras partes do
Relatório como no Perfil Organizacional; Aspectos Materiais e Limites Identificados;
Engajamento de Stakeholders; Governança, Ética e Integridade. Estas seções dos
relatórios apresentavam informações que exemplificavam pressupostos de Gestão
Social, como a participação das partes interessadas no processo de seleção daqueles
aspectos considerados materiais a serem apresentados pelas organizações e foram
considerados nos resultados desta pesquisa.
Porém, verificou-se que a participação efetiva dos grupos interessados e o adequado
monitoramento dos resultados sociais alcançados ainda são desafios da inovação
social para as organizações pesquisadas, pois estas compreendem a necessidade do
processo de materialidade, porém com foco na promoção de um processo
comunicativo, o que pode permitir a dialogicidade entre os envolvidos. Portanto, ainda
168
não compreendem outros objetivos do processo de materialidade na perspectiva da
Gestão Social, objetivos que possam promover uma gestão democrática e igualdade
decisória na validação das informações prestadas nos RS e, principalmente, nas
ações de responsabilidade social implantadas pelas organizações.
No contexto das análises quantitativas, pode-se perceber que as empresas estatais e
privadas demonstraram maior maturidade de apresentação das informações
solicitadas pelos indicadores da GRI (2013; 2013a) e em relação à abrangência da
verificação externa dos indicadores apresentados em seus RS. Posteriormente, em
nível de maturidade, estão as cooperativas que, neste estudo, possuem uma gestão
próxima a de uma empresa privada. Entretanto, verificou-se a oportunidade de
melhoria dos relatórios das organizações sem fins lucrativos em relação à
apresentação das informações e de sua verificação externa. Atualmente, essas
organizações utilizam a opção de acordo essencial das diretrizes da GRI, mas pode-
se observar que a ampliação do seu relato pode lhes auxiliar na melhoria da gestão
no âmbito da sustentabilidade.
De acordo com as análises realizadas, os RS podem ser considerados campo fértil
para uma apreciação crítica de ações da esfera social promovidas pelas organizações
e instrumentos pelos quais outros debates referentes à Gestão Social podem ser
desenvolvidos. Pois, foi possível identificar a presença de alguns constructos de
Gestão Social nas iniciativas apresentadas nos indicadores dos RS analisados e nos
conteúdos das entrevistas realizadas, como o desenvolvimento de ações relacionadas
à qualidade de vida, do bem-estar social e da garantia dos direitos humanos e a
promoção da geração de trabalho e distribuição de renda.
Portanto, no que tange aos objetivos desta seção da dissertação, foi possível analisar
as concepções de Gestão Social presentes nos Relatórios de Sustentabilidade
analisados e tomando como referência os constructos resultantes dos estudos dos
autores Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012), Dowbor (1999), Cançado,
Tenório e Pereira (2011), Mendes (2009) e Tenório (2005). Nesse contexto, pode-se
perceber que existem elementos relatados nos RS que exemplificam os constructos
de cunho da prática da gestão social, mas que ainda há um caminho a ser percorrido
169
em busca de um processo decisório deliberativo com as partes interessadas. Todavia,
as iniciativas de engajamento das partes interessadas e o processo de materialidade
são pontos iniciais que podem contribuir com este amadurecimento das organizações.
Contudo, em relação ao objetivo de se conhecer as percepções de Gestão Social dos
profissionais responsáveis por esses relatórios, não se pode afirmar que as pessoas
que trabalharam na elaboração dos RS analisados estão familiarizadas com o termo
Gestão Social e compreendem, de forma clara, suas vertentes conceituais. Esse
resultado já era esperado e reforça a necessidade de se trabalhar o tema no ambiente
organizacional, na perspectiva de aperfeiçoamento das práticas sociais
organizacionais. Esta percepção não se limita às organizações privadas, pois esta
limitação da compreensão da Gestão Social também se aplicou às organizações sem
fins lucrativos e das cooperativas, que pelos objetos sociais poderia gerar a inferência
de um conhecimento maior sobre o tema. Porém, verificou-se uma compreensão e
consciência da maioria dos entrevistados em relação às questões de sustentabilidade
e esta ambiência pode servir como um pilar estruturador de ações para o
aperfeiçoamento da sustentabilidade organizacional
Por conseguinte, os resultados do estudo indicam que o aperfeiçoamento do
monitoramento da categoria social das organizações analisadas e o amadurecimento
contínuo dos indicadores de sustentabilidade, qualitativos e quantitativos, tipificam
uma inovação social. Portanto, os indicadores da Global Reporting Initiative se
evidenciam como inovação social em função de sua finalidade de buscar a criação de
valor voltada aos interesses dos grupos sociais e da comunidade e pelo propósito de
difusão do conhecimento pela replicabilidade dos indicadores propostos e pela
disseminação dos Relatórios de Sustentabilidade. Contudo, a compreensão da
Gestão Social pelas organizações pode contribuir para o aperfeiçoamento das atuais
práticas de Responsabilidade Social e ainda mais no processo relativo às questões
da esfera social das organizações.
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175
CAPÍTULO 3
AVALIAÇÃO DE PRÁTICAS SOCIAIS PUBLICADAS EM RELATÓRIOS DE
SUSTENTABILIDADE NO CONTEXTO DA GESTÃO SOCIAL
EVALUATION OF SOCIAL PRACTICES PUBLISHED IN SUSTAINABILITY
REPORTS IN THE CONTEXT OF SOCIAL MANAGEMENT
Rafael Alves de Araujo Castilho38
Fernanda Carla Wasner Vasconcelos39
RESUMO Este artigo tem como objetivo apresentar um guia para a avaliação de práticas sociais de organizações públicas, privadas ou sem fins lucrativos à luz dos pressupostos da Gestão Social. A metodologia usada inclui abordagem qualitativa de cunho descritivo para a apresentação do produto técnico e dos resultados almejados da sua aplicação pelas organizações e suas partes interessadas. O guia proposto foi estruturado com base nas potencialidades dos Relatórios de Sustentabilidade (RS) de organizações brasileiras e nas diretrizes da Global Reporting Initiative como instrumentos de Gestão Social. Os resultados indicaram que as práticas de Responsabilidade Social das organizações podem ser aperfeiçoadas na perspectiva da Gestão Social, o que permite a viabilização da inovação social e do desenvolvimento local que promovam impactos positivos para o conjunto de partes interessadas e que contribuam para o Desenvolvimento Sustentável (DS). Todavia, ainda é um desafio para as organizações a compreensão da Gestão Social aplicada às suas práticas de sustentabilidade e essa pode maximizar os resultados em prol do DS. Por isso, o guia proposto estabelece um modelo de avaliação de práticas sociais publicadas em RS, utilizando os pressupostos de Gestão Social como critérios para avaliação objetiva dessas práticas. O modelo é composto por nove fatores de avaliação relacionados a três dimensões da Gestão Social e possui formato que busca facilitar a compreensão das pessoas em relação à sua utilização e aplicação, assim como estimular uma análise crítica estruturada das iniciativas sociais promovidas pelas organizações e das inovações sociais que podem ser alcançadas por meio do aperfeiçoamento dessas ações sociais. Palavras-chave: Inovação Social. Desenvolvimento Sustentável. Desenvolvimento Local. Global Reporting Initiative. Indicadores Sociais.
38 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected]. 39 Doutora em Ciências e professora do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una. E-mail: [email protected].
176
ABSTRACT
This article aims to present a guideline for the evaluation of public, private or nonprofit organizations social practices in the light of the Social Management assumptions. The methodology used includes a descriptive qualitative approach for the presentation of the technical product and the desired results of its application by organizations and their concerned parties. The proposed guide was structured based on the potential of the Sustainability Reports (SR) of Brazilian organizations and the guidelines of the Global Reporting Initiative as instruments of Social Management. The results indicated that the organizations' Social Responsibility practices can be improved from a Social Management perspective, which allows the viability of social innovation and local development that promote positive impacts for all concerned parties and contribute to Sustainable Development (SD). However, it is still a challenge for organizations to understand the social management applied to their sustainability practices and this can maximize the results in favor of DS. Therefore, the guide has been published in SR, using management assumptions to evaluate practical issues. The model is composed of nine evaluation factors related to three dimensions of Social Management and has a format that seeks to facilitate people's understanding of their use and application, as well as stimulate a structured analysis of the social initiatives promoted by organizations and innovations that can be achieved through the improvement of these social actions. Keywords: Social Innovation. Sustainable Development. Local Development. Global Reporting Initiative. Social Indicators.
1 INTRODUÇÃO
Pensar em um desenvolvimento que possa ser considerado sustentável é assumir a
premência de um debate crítico sobre as ações que estão sendo tomadas em prol
desse objetivo. É assim que as conferências mundiais sobre o desenvolvimento
sustentável (DS) têm estabelecido suas pautas. Além disso, tais conferências
congregam Estados, organizações, sociedade civil e especialistas, com o propósito
de buscar soluções plausíveis para a mitigação dos impactos socioambientais (por
meio de novas tecnologias, inclusive as sociais), possibilitando a adoção de práticas
e promoção de novos comportamentos. Essas práticas e comportamentos se fazem
no sentido de favorecer a mudança de paradigma necessária em prol de um novo
modelo de desenvolvimento que atenda às necessidades das novas gerações,
permitindo a todos uma vida digna.
Atualmente, no contexto mundial, a referência do debate sobre o DS são os Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os ODS, também conhecidos como Agenda
177
2030, foram publicados pela ONU, em 2015, e representam os 17 objetivos40 e 169
metas a serem alcançados até 2030 e que possuem como propósito o estímulo de
ações em áreas essenciais para a humanidade e para o planeta (ONU, 2015). Porém,
as perguntas (como viabilizar tais objetivos e seu extenso desdobramento de metas;
como operacionalizar o conjunto de agendas intersetoriais e ainda gerenciar e
controlar as inúmeras iniciativas capilarizadas em todo o mundo) são constantes. Tais
perguntas também permeiam as ideias e ações daqueles que estudam e trabalham
com esse assunto
Perante a esses questionamentos, um fato a ser observado no contexto dos ODS é a
erradicação da pobreza elencada como o maior desafio global pela ONU (2015). Esse
fato da esfera social é ratificado de forma direta ou indireta pelos estudos de autores
como Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012), Mendes (2009), Tenório (2005;
2009) e Sachs (2010), que debatem sobre os temas desenvolvimento,
sustentabilidade e gestão social, diante da importância destas para a Agenda de DS.
Não obstante aos conceitos de DS e de sustentabilidade, a gestão social também é
um termo complexo, imbricado de noções em contínuo debate, conforme
argumentado por Machado e Quaresma (2014). Porém, dentre as dimensões
atribuídas à sustentabilidade, apresentadas pelos autores Flores, Vieira e Xaubert
(2012), Sachs (1993), Foladori (2002) e Mendes (2009), verifica-se não só o tripé
básico pautado nas questões sociais, ambientais e econômicas, mas também
associação com outros pilares como o político, o territorial e o cultural. A gestão social
pode ser considerada um potencial fomentador de ações capazes de perpassar
transversalmente por todas essas dimensões e na qual usualmente está a origem do
debate de sustentabilidade, a relação do homem com a natureza e do homem com os
processos que regem a vida.
40 Os ODS ratificam e aperfeiçoam os Objetivos do Milênio, publicados pela ONU em 2000 para a agenda de sustentabilidade até 2015. Os 17 objetivos que o compõem os ODS tratam dos seguintes temas: Objetivo 1 – Erradicação da pobreza; Objetivo 2 – Erradicação da fome; Objetivo 3 – Saúde de qualidade; Objetivo 4 – Educação de qualidade; Objetivo 5 – Igualdade de gênero; Objetivo 6 – Água limpa e saneamento; Objetivo 7 – Energias renováveis; Objetivo 8 – Empregos dignos e crescimento econômico; Objetivos 9 – Inovação e infraestrutura; Objetivo 10 – Redução das desigualdades; Objetivo 11 – Cidades e comunidades sustentáveis; Objetivo 12 – Consumo responsável; Objetivo 13 – Combate às mudanças climáticas; Objetivo 14 – Vida debaixo da água; Objetivo 15 – Vida sobre a terra; Objetivo 16 – Paz e justiça; e Objetivo 17 – Parcerias pelas metas (ONU, 2015).
178
Assim, os fundamentos da gestão social podem contribuir de forma eficaz com o DS,
no sentido de aperfeiçoar práticas sociais das organizações atribuindo argumentos e
significados aos processos de gestão dessas iniciativas de sustentabilidade,
potencializando novas descobertas de aplicação da gestão social, relacionadas aos
objetivos e metas propostos pelos ODS. Por isso, este artigo tem como objetivo
apresentar um guia para a avaliação de práticas sociais de organizações públicas,
privadas ou sem fins lucrativos à luz dos pressupostos da Gestão Social.
Esse guia constitui o produto técnico da pesquisa intitulada “Os Relatórios de
Sustentabilidade e as diretrizes da Global Reporting Initiative como instrumentos para
práticas de gestão social”, realizada no período de 2015 a 2017 sobre as
potencialidades dos Relatórios de Sustentabilidade (RS) de organizações brasileiras
e das diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI) como instrumentos de Gestão
Social. Os resultados dessa pesquisa indicaram que a Gestão Social pode contribuir
para o aperfeiçoamento das práticas de Responsabilidade Social das organizações,
buscando a promoção da inovação social e do desenvolvimento local nos territórios
onde essas organizações atuam. Nesta pesquisa, também foi identificado que as
organizações ainda possuem dificuldades e, até mesmo, desconhecimento sobre a
GS e suas potencialidades ao ser aplicada às práticas de sustentabilidade. Porém,
alguns dos pressupostos de Gestão Social foram encontrados nos RS e nos relatos
das entrevistas, o que indica um ambiente favorável para o debate sobre o tema e
para a implantação de novas abordagens para as iniciativas de sustentabilidade.
Para o desenvolvimento deste artigo, os procedimentos metodológicos possuem
abordagem qualitativa de cunho descritivo, por meio da realização de uma revisão de
literatura sobre inovação social, indicadores de sustentabilidade e gestão social e de
uma apresentação sobre a concepção do modelo e dos critérios para avaliação de
práticas sociais.
Este modelo e seus critérios foram tangibilizados na elaboração do produto técnico ao
definir uma estrutura que permitisse melhor comunicação e aplicação do conteúdo
proposto pelo guia e que viabilizasse a sua utilização não só pelas organizações, mas
179
também por estudantes, pesquisadores, líderes que tenham contato com o pilar social
da sustentabilidade ou que precisam compreender melhor esse pilar para colocá-lo
em prática, assim como, cidadãos que possuam interesse por essa temática. O guia
está apresentado no Apêndice G e as informações de sua concepção e estrutura estão
descritas no decorrer deste artigo.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Indicadores de Sustentabilidade
Sartori, Latrônico e Campos (2014) apresentam um histórico da trajetória dos estudos
relacionados à sustentabilidade no qual relatam que, até a década de 1990, esses
estudos a relacionavam ao desenvolvimento, ao planejamento ambiental, urbano e
regional, aos impactos das ações antrópicas sobre os recursos naturais e às
mudanças ambientais. Na década de 1990, encontra-se o fortalecimento dos debates
acadêmicos sobre o DS e a sustentabilidade e, no final desta década, surgem as
dimensões da sustentabilidade para caracterizá-la. A partir deste momento, final da
década de 1990 e primeiras décadas dos anos 2000, a sustentabilidade é introduzida
no meio organizacional, principalmente, empresarial e surge a necessidade de avaliá-
la quantitativamente.
Essa avaliação da sustentabilidade ocorre por meio de indicadores, índices,
ferramentas ambientais e modelos para análise organizacional. Neste contexto,
Guimarães e Feichas (2009) destacam que o entendimento sobre a sustentabilidade
pode assumir diferentes percepções que impactam diretamente na imparcialidade da
construção desses indicadores. Isso fortalece a necessidade de debates sobre a sua
compreensão conceitual, no que tange à promoção da inovação social, das iniciativas
socioambientais monitoradas por esses indicadores e, até mesmo, o processo de
desenvolvimento desses indicadores.
Os indicadores de sustentabilidade estão principalmente relacionados ao
monitoramento de iniciativas correlatas aos pilares social, econômico e ambiental da
sustentabilidade, contudo ainda existem indicadores classificados como de impacto e
180
que se destinam ao monitoramento de ações de um universo específico, focado nos
resultados sociais das organizações. De acordo com Buvinich (1999), os indicadores
de efeito e impacto possuem como propósito a mensuração da qualidade e quantidade
dos resultados das iniciativas, promotoras de bens ou serviços, que tratem de
demandas sociais concernentes à qualidade de vida, como saúde, emprego e renda,
dentre outros. Convergentemente a essa percepção, Jannuzzi (2005, p. 144)
conceitua os indicadores de impacto como aqueles que se referem “aos efeitos e
desdobramentos mais gerais, antecipados ou não, positivos ou não, que decorrem da
implantação dos programas”. Portanto, a necessidade de discussão sobre os
indicadores de sustentabilidade e impacto, aplicáveis no contexto da inovação social,
se fortalece no ambiente em que seus pressupostos se alinham.
Campos et al. (2013) ainda ressaltam a importância da GRI em estimular a concepção
dos indicadores de desempenho das organizações, baseada no tripé da
sustentabilidade e em reconhecer a necessidade de desenvolvimento de garantias
externas, realizadas por meio de auditorias que possuam como propósito verificar a
conformidade da organização em relação às diretrizes da GRI e a exatidão das
informações prestadas, garantindo-lhes maior confiabilidade. Portanto, Silveira,
Alberton e Vicente (2017) afirmam que o aumento da divulgação das informações
pelos RS acompanha os interesses das partes interessadas e a garantia externa
busca oferecer aos usuários credibilidade, mesmo que de forma limitada, em relação
às informações dos RS.
Logo, no contexto deste artigo, é importante perceber uma proposta de ampliação do
conceito de indicador de sustentabilidade, na perspectiva de que é um instrumento de
comunicação e divulgação de informações, que pode apresentar dados qualitativos e,
ou, quantitativos e que possui relação com um conjunto de práticas de
sustentabilidade promovidas pelas organizações e com a intenção de monitorar e
controlar os resultados alcançados por essas práticas. Essa percepção ampliada é
ratificada pelos requisitos e instruções das diretrizes da GRI (2013) assim como pelas
expectativas do ONU (2015) ao estabelecer os ODS e suas metas, e é nesse interim
que se destaca a importância dos indicadores e de suas informações no processo de
inovação social e de promoção do desenvolvimento local.
181
2.2 Inovação Social e o Desenvolvimento Local
Considerando como premissa o debate sobre os indicadores de sustentabilidade e
impacto e a promoção da inovação social, conforme Bignetti (2011), a inovação social
se distingue da inovação tecnológica principalmente em função de sua finalidade,
estratégia, local de aplicação, processo de desenvolvimento e da difusão do
conhecimento. Para caracterizar estas diferentes funções, que distinguem a inovação
social da tecnológica, o autor apresenta que a finalidade da inovação tecnológica trata
da apropriação de valor, enquanto a inovação social se volta para a criação de valor.
Assim, a primeira possui uma orientação para os fatores econômicos enquanto a
segunda está voltada para os interesses dos grupos sociais e da comunidade. Ao
refletir sobre essa finalidade é que se pôde estruturar o desenvolvimento de um
produto técnico relacionado à avaliação das práticas sociais para as organizações.
Ademais, Bignetti (2011) evidencia as diferenças de difusão do conhecimento, tendo
as inovações tecnológicas formas blindadas, de modo a desenvolver fatores
essenciais à competitividade e as inovações sociais seguem mecanismos de difusão
que favorecem a replicação e a expansão dos resultados a outras comunidades. Essa
replicação e expansão de resultados tornam-se possíveis no ambiente em que os
instrumentos de relato das inovações, nesse caso, os Relatórios de Sustentabilidade,
consigam alcançar sua capacidade de garantir os esforços e os resultados da gestão
social aplicados à iniciativa socioambiental das organizações. Essa análise é
fortalecida por Boullosa e Schommer (2010, p. 1) no contexto em que a inovação pode
“representar um modo especial de problematizar e gerir realidades sociointeracionais
complexas”, objetos da gestão social.
Portanto, este estudo e seu produto técnico buscam estimular as reflexões sobre a
promoção de inovações sociais e sua contribuição para o desenvolvimento nos locais
onde as ações das organizações públicas, privadas ou sem fins lucrativos são
implantadas. A elaboração desse produto técnico considerou o debate conceitual, a
prática de relato de ações e resultados de sustentabilidade organizacional e a
182
necessidade de aperfeiçoamento de práticas de responsabilidade social à luz dos
pressupostos de gestão social.
Destaca-se que o próprio amadurecimento dos modelos de referência como as
diretrizes da GRI ou dos RS e seus indicadores também podem representar elementos
de inovação social aplicados ao processo de gestão social, nas iniciativas que buscam
a sustentabilidade. Sustentabilidade que possui direcionamentos concretos como os
ODS publicados pela ONU (2015), os quais se relacionam diretamente com o desafio
do amadurecimento das práticas socais e com as potencialidades que a Gestão Social
possui em contribuir de forma significativa com esses objetivos. Essa potencialidade
da Gestão Social no contexto do DS pode ser observada nas reflexões de Mendonça,
Gonçalves-Dias e Junqueira (2012), Mendes (2009) e Tenório (2005; 2009) e foram
exploradas no decorrer deste trabalho.
2.3 Descrição do produto técnico
A premência da necessidade de inovações sociais para o desenvolvimento local é
reforçada pela ONU (2012) com a renovação do compromisso político para reafirmar
os princípios da Declaração do Rio41 e com os planos de ações anteriores, em que há
o reconhecimento de um progresso desigual no que se refere ao Desenvolvimento
Sustentável e à erradicação da pobreza. Assim, é invocada a necessidade dos países,
principalmente, os em desenvolvimento, participarem de forma efetiva na tomada de
decisões em nível mundial, considerando a diversidade de atores e das partes
interessadas envolvidas na busca do desenvolvimento sustentável e permitindo uma
gestão participativa em nível global. Fato este que justifica a necessidade de se pensar
também na gestão participativa das partes interessadas em nível local, que constitui
pressuposto de Gestão Social e prática fundamental para a elaboração dos Relatórios
de Sustentabilidade no âmbito das organizações públicas, privadas e sem fins
lucrativos.
41 A Declaração do Rio ou a Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento foi aprovada na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992, conferência conhecida como Eco-92 (DECLARAÇÃO DO RIO DE JANEIRO, 1992). Os compromissos da Declaração do Rio foram renovados na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 2012, conhecida como Rio+20 (ONU, 2012).
183
A importância dessas iniciativas preocupadas com o desenvolvimento local pode ser
justificada quando estimadas pelo reconhecimento da ONU (2012) de que é essencial
a geração de empregos decentes e renda que busquem a minimização das
desigualdades das condições de vida das pessoas (DOWBOR, 2005; SARTORI;
LATRÔNICO; CAMPOS, 2014) e a promoção de meios de subsistência e práticas
sustentáveis (FOLADORI, 2002; JACOBI; GIATTI, 2015) que garantam o uso racional
dos recursos naturais e dos ecossistemas em consonância com os objetivos e metas
dos ODS propostos pela ONU (2015). Pois várias pessoas dependem diretamente
desses ecossistemas para a sua subsistência e seu bem-estar econômico, social,
físico e, até mesmo, a preservação do seu patrimônio cultural.
Considerando o compromisso de uma formação que estimula a aplicabilidade
profissional relacionada à pesquisa e à disseminação de resultados capazes de
contribuir efetivamente com a sociedade e as organizações que a compõem, esta
pesquisa foi desenvolvida vinculada a um Programa de Pós-Graduação Profissional.
O guia elaborado é um produto técnico que representa um elemento relevante para a
formação proposta pelo curso de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação
e Desenvolvimento Local, do Centro Universitário Una e está alinhado aos requisitos
previstos na Portaria Normativa n.º 389, de 23 de março de 2017 que trata das
questões relativas aos mestrados e doutorados profissionais, no âmbito da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES (BRASIL,
2017).
O guia desenvolvido e a pesquisa de mestrado da qual foi originado contemplam a
área de concentração, Inovação Social e Desenvolvimento Local e a linha de pesquisa
em Gestão Social e Desenvolvimento Local. Portanto, o conjunto de proposições,
reflexões e percepções deste artigo e do seu produto técnico buscam um debate
direcionado e estruturado sobre a Gestão Social no contexto das organizações e suas
relações com as partes interessadas. Além disso, o guia apresenta as potencialidades
de promoção da Inovação Social e do Desenvolvimento Local, por meio da avaliação
sistêmica das iniciativas já implantadas de sustentabilidade organizacional, como é
caso daquelas concernentes à responsabilidade social.
184
O produto técnico foi intitulado Guia para Avaliação de Práticas Sociais: Gestão Social
e Desenvolvimento Local, apresentado no Apêndice G, e tem como objetivo geral
colaborar com o processo de avaliação de práticas sociais e servir de referência para
aperfeiçoar as iniciativas de responsabilidade social das organizações. Portanto, o seu
público alvo são as organizações públicas, privadas e sem fins lucrativos que
possuem práticas de responsabilidade social implantadas e comunicadas para suas
partes interessadas por meio dos RS. O guia possui 22 páginas orientadas no estilo
retrato e em formato A4.
O guia desenvolvido é considerado como uma produção tecnológica de acordo com a
CAPES (BRASIL, 2009) e a qualidade desse produto técnico foi observada no que
tange à sua aplicabilidade, inovação e complexidade.
Para o primeiro quesito, aplicabilidade, conforme a GRI (2016) cabe salientar que no
Brasil foram publicados 262 RS, no ano de 2015. Esse universo de organizações que
elaboram e publicam seus RS representa o principal público desse produto técnico.
Todavia, existe um outro universo de organizações que possui ações de
responsabilidade social no contexto interno e externo de suas atividades e que não
elaboram RS, mas para as quais o modelo de avaliação de práticas sociais também é
aplicável. Como os critérios de avaliação estão pautados em constructos da gestão
social e não nos formatos de práticas sociais ou das organizações, o modelo proposto
possui alta replicabilidade nos diferentes setores.
Ainda sobre a aplicabilidade, o formato dos critérios de avaliação desenvolvido buscou
a simplificação da linguagem dos pressupostos de gestão social e a sua garantia em
ações específicas que permitam o desenvolvimento desses pressupostos. Logo, para
auxiliar o usuário na aplicação do modelo de avaliação proposta pelo guia, o processo
foi dividido em três etapas:
(i) caracterização qualitativa da organização promotora da iniciativa;
(ii) caracterização qualitativa da prática social; e
(iii) avaliação objetiva da prática.
185
As duas primeiras etapas possuem como propósito consolidar dados essenciais sobre
a prática para que o usuário tenha informações basilares suficientes para a aplicação
das questões específicas da GS propostas na terceira etapa.
As etapas de caracterização qualitativa da organização promotora da iniciativa da
prática social são compostas por um conjunto de itens a ser coletado e compilado para
que se compreenda o contexto no qual a organização se encontra, suas partes
interessadas e no que consiste a prática. Neste ponto, vale destacar que em alguns
casos, as práticas são representadas por informações quantitativas, logo, o processo
de caracterização contribui na busca da origem daquele resultado que está sendo
apresentado e, a partir deste momento, possibilitar uma avaliação da prática em si e
não só do seu desempenho mensurado.
Caracterizadas a organização e sua prática, a etapa de avaliação está apresentada
no formato de roteiro estruturado, com 5 alternativas que respondem, em nível de
maturidade, a uma pergunta que consolida um conjunto de pressupostos da gestão
social e sua aplicação às iniciativas de sustentabilidade, principalmente, as do pilar
social.
No modelo de avaliação proposto, o nível de maturidade ou a qualidade da prática
social está relacionada à adequação da prática aos requisitos da pergunta do fator de
avaliação e da existência de asseguração ou verificação externa desta prática por
profissional independente. Portanto, o formato proposto pelo modelo de avaliação do
guia atribui facilidade e clareza ao usuário, na utilização desses critérios por meio de
uma tangibilização objetiva dos complexos constructos da gestão social.
Para o quesito inovação, há de se destacar duas vertentes relacionadas a este critério.
A primeira diz respeito à inovação relacionada ao modelo de avaliação proposto; a
segunda mostra a inovação social que pode ser alcançada com a análise crítica dos
resultados da avaliação das práticas sociais organizacionais, no âmbito da
sustentabilidade.
186
Para o primeiro caso, os estudos se dedicaram às reflexões da caracterização da
gestão social, ao campo de conhecimento, às aplicações de seus conceitos, como as
pesquisas de Maia (2005), Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012) e Cançado,
Tenório e Pereira (2011). Assim, o modelo de avaliação consolida, de forma aplicada,
o conjunto de reflexões teóricas e os resultados empíricos relativos aos pressupostos
de gestão social. Além disso, transforma um conjunto qualitativo de pressupostos de
gestão social em um modelo estruturado por fatores de avaliação e dimensões que
consolidam de forma objetiva, qualitativa e quantitativamente, o nível de maturidade
de uma prática social organizacional. Isso atribui ao guia um método inédito capaz de
promover mudanças nos processos de avaliação das iniciativas sociais.
Na segunda perspectiva do requisito de inovação, relacionada à inovação promovida
pelo produto técnico, a proposta de elaboração do guia tem como origem o resultado
da pesquisa de mestrado de que existe potencial de aperfeiçoamento de práticas de
responsabilidade social organizacional à luz dos pressupostos de gestão social. Logo,
a própria aplicação dos fatores de avaliação e a apresentação do gráfico radar
resultante do processo de avaliação proposto no guia, permitem uma visualização do
perfil de aderência da prática social aos constructos da gestão social e às lacunas
destacadas pelas pontuações referentes à menor maturidade ou qualidade do fator
avaliado. Tais premissas são claras oportunidades de melhorias que permitem a
inovação, no contexto da transformação social e, consequentemente, no
favorecimento das partes interessadas correlacionadas à prática social, objeto de
aperfeiçoamento e do desenvolvimento local, quando a prática está vinculada a algum
elemento relevante do desenvolvimento do território.
Enfim, destaca-se que uma das dimensões propostas pelo modelo de avaliação
apresentado nesse guia é a dimensão de Resultados da Gestão Social e, vinculados
a esta dimensão, estão os fatores de avaliação sobre o nível de inovação social, de
desenvolvimento local e de qualidade de vida decorrentes dos resultados dessas
práticas. Logo, o próprio modelo de avaliação fomenta a inovação social e o
desenvolvimento local.
187
Por fim, ao se debater sobre o critério de complexidade do produto técnico, este se
embasa inicialmente nos desafios da aplicação da gestão social e também do alcance
de resultados eficazes em prol do DS. A gestão social por si só já representaria campo
de alta complexidade de análise pelo número de variáveis que a compõe. Porém,
buscar um critério de avaliação de práticas sociais aplicável a diferentes realidades
atribuiu maior desafio à tarefa de confecção deste material. Contudo, a referenciação
nos fatores imparciais e consensados sobre a gestão social e nos objetivos concretos
do DS permitiram uma solução plausível, concretizada no modelo de avaliação
proposto neste guia. Cabe ressaltar que este ainda considera como fundamental a
compreensão de quais as partes interessadas relacionadas às práticas sociais, quais
são suas necessidades e expectativas e instiga as organizações a promoverem,
conforme Cançado, Tenório e Pereira (2011), um processo participativo, dialógico,
democrático e contínuo, para um novo paradigma, proposto para a categoria social
das iniciativas de sustentabilidade organizacional. Paradigma pautado em práticas
que transformem as realidades sociais, ambientais, políticas e econômicas e que
gerem resultados que trilhe o caminho de um desenvolvimento sustentável.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A conclusão de que as práticas de responsabilidade social das organizações públicas,
privadas e sem fins lucrativos, assim como, as demais iniciativas de cunho social
podem ser aperfeiçoadas considerando os elementos estruturantes de uma Gestão
Social foram suficientes para estimular uma proposta de solução referente à definição
de critérios que auxiliem a avaliação dessas práticas e iniciativas.
Logo, o guia elaborado como produto técnico e modelo estruturado para a avalição
das práticas sociais poderá contribuir para as organizações e suas partes
interessadas com o estabelecimento de uma referência sobre a maturidade e
qualidade das práticas analisadas, subsidiando-as para a promoção de ações
corretivas, melhorias e inovações. Fato este que corrobora com as asserções sobre
inovação social de Bignetti (2011), pois a finalidade deste produto consiste na criação
de valor para partes interessadas em práticas sociais organizacionais. Outra finalidade
188
deste produto consite no fortalecimento dos RS como instrumentos de difusão das
iniciativas sociais das organizações e de suas melhorias no decorrer do tempo.
O aperfeiçoamento dos indicadores de sustentabilidade, fomentado pela melhoria das
práticas sociais é um efeito colateral positivo da utilização deste guia. Um processo
estruturado para a avaliação de práticas sociais pode estimular reflexões que
transcendem os próprios resultados alcançados, como o desenvolvimento de um olhar
crítico em relação às concepções das práticas sociais, seu controle e gestão. Logo, a
iniciativa proposta pelo guia corrobora com o rompimento de alguns desafios da
sustentabilidade e do desenvolvimento sustentável citados por Sartori, Latrônico e
Campos (2014) como a cooperação entre as partes interessadas para o bem coletivo
e o uso de novos indicadores que permitam avaliações complementares, como a
avaliação apresentada pelo produto técnico elaborado. A abordagem sistêmica do
modelo de avaliação das práticas sociais, proposta no guia, também colabora com a
sustentabilidade conforme Sartori, Latrônico e Campos (2014).
O foco principal deste produto técnico, e de toda a pesquisa que o subsidiou, se
encontra na contribuição para a promoção de inovação social capaz de promover a
melhoria da qualidade de vida das pessoas, para a melhoria das relações entre
organização e partes interessadas, para a garantia da dignidade humana e dos
direitos humanos e maximização da sensibilização e do engajamento das pessoas em
relação ao alcance dos ODS. Tudo isso a partir da aplicação do conceito de gestão
social e da identificação dos constructos/pressupostos de GS nas práticas de
sustentabilidade desenvolvidas pelas organizações com o intuito de fortalecer o pilar
social no novo modelo de desenvolvimento, o desenvolvimento sustentável.
REFERÊNCIAS
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192
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A utilização de modelos e instrumentos usados como referência para relatar e avaliar
uma gestão sustentável, nas diferentes organizações, tem assumido posição
importante no debate sobre os pilares da sustentabilidade no mundo, destacando os
pilares ambientais, sociais, econômicos, políticos e culturais. Esta afirmação se
reforça no contexto em que a implantação, a avaliação e a prestação de contas sobre
essas iniciativas organizacionais são fundamentais para o Desenvolvimento Local
(DL) e para o alcance dos objetivos correlacionados ao Desenvolvimento Sustentável
(DS). A GRI foi selecionada para este estudo, visto que seus modelos para orientação
e elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade (RS) são reconhecidos
mundialmente.
Essa pesquisa teve como questão norteadora a investigação das concepções de
gestão social no ambiente organizacional e como essas concepções são percebidas
pelos profissionais que foram entrevistados e são responsáveis pelos RS nas
organizações. Essa investigação foi feita por meio de pesquisa documental nos RS e
também por meio de entrevistas no sentido de buscar como as pessoas envolvidas
na elaboração desses relatórios compreendem as concepções de gestão Social.
Assim, os objetivos, geral e específicos, propostos para este estudo foram alcançados
pelas as análises quantitativas e qualitativas dos dados coletados. Os resultados
encontrados levaram ao entendimento de que ainda há um percurso a ser adotado
pelas organizações e pelas pessoas responsáveis pelos RS no sentido de
compreender a gestão social em toda sua amplitude. Compreendeu-se também o
pontencial atribuído a essa gestão para o aperfeiçoamento da sustentabilidade
organizacional, pois pelas informações analisadas, ainda se percebe um íntimo
vínculo entre a concepção de gestão social e a Responsabilidade Social.
Para atingir a percepção acima citada (que atende a um dos objetivos específicos
desta pesquisa) foi realizada, durante a revisão de literatura, uma discussão teórica
sobre as dimensões da sustentabilidade e os pressupostos da gestão social. Para tal,
através da compilação teórica levantada, buscou-se um consenso entre as diversas
193
compreensões sobre sustentabilidade e sobre gestão social. Esse consenso permitiu
uma evolução das reflexões teóricas quando aplicadas às práticas de sustentabilidade
organizacionais e quanto às análises realizadas nos RS.
No âmbito das discussões sobre a sustentabilidade, as reflexões sobre o
desenvolvimento promovidas pelos autores como Jacobi e Giatti (2015), Calegare e
Silva Júnior (2011), Sachs (1997) e Alves (1997) e as caracterizações sobre
sustentabilidade utilizando os autores Sartori, Latrônico e Campos (2014), Flores,
Vieira e Xaubert (2012), Foladori (2002), Mendes (2009) e Sachs (1993) permitiram
esclarecer a diferença entre o DS e a sustentabilidade, atribuindo a esta o papel de
elemento processual e àquele o papel de objetivo final.
No âmbito social, a conceituação da responsabilidade social destacada por Morcelli e
Ávila (2016), Ometto, Bulgacov e May (2015) e Carroll (1999) e os debates promovidos
sobre a gestão social por Mendonça, Gonçalves-Dias e Junqueira (2012), Dowbor
(1999), Cançado, Tenório e Pereira (2011), Mendes (2009) e Tenório (2005)
evidenciaram a correlação entre ambos. A conclusão é que existe um limite de
atuação, e também que os resultados da responsabilidade social podem ser
potencializados pela gestão social, uma vez que este tipo de gestão trabalha o
processo social no sentido de atender às demandas sociais e envolver, de forma
cidadã e democrática, os sujeitos. Por sua vez, a responsabilidade social está na
operacionalização de uma prática de característica social.
Apesar das conclusões conceituais terem sido alcançadas pelos estudos do primeiro
capítulo desta dissertação, foi por meio delas que se tornou possível a validação da
hipótese de que as informações da categoria social dos RS e da GRI não contemplam
todos os pressupostos de GS. Isso representa uma oportunidade de melhoria tanto
para os RS quanto para as diretrizes da GRI.
A responsabilidade social organizacional foi identificada como um limitador do papel
social relacionado à sustentabilidade, no qual somente pressupostos de cunho
operacional da gestão social foram observados na categoria social dos RS, o que
limita as suas potencialidades e restringe um extenso número de indicadores
194
referentes às ações específicas focadas em um resultado que responda a um dos
requisitos das diretrizes da GRI. Ou seja, a restrição dos RS em relatar somente
iniciativas de responsabilidade social na categoria social, inibe ações capazes de
mudar comportamentos e de promover o fortalecimento das partes interessadas.
Consequentemente, essas restrições limitam a promoção da melhoria da qualidade
de vida interna e externa à organização e seu incentivo ao desenvolvimento local.
Porém, ao ampliar a análise dos RS para a descrição dos conteúdos padrão gerais,
foi possível observar indícios de características de gestão social nos processos de
materialidade e de engajamento das pessoas.
De acordo com as diretrizes GRI – G4, contribuições com o aperfeiçoamento das
práticas de gestão social nas organizações não foram identificadas nos RS, pois estas
práticas ainda não constituem realidade nesse ambiente. Porém, nesse contexto, a
gestão social demonstrou ser um instrumento útil para o aperfeiçoamento das
iniciativas de cunho social das organizações. Esta conclusão trata de uma hipótese
desta pesquisa e foi apresentada pelas organizações de maneira incipiente. Essa
hipótese está diretamente relacionada ao título desta dissertação, portanto, após a
realização dos estudos pode-se afirmar que os RS e as diretrizes da GRI não são
instrumentos de gestão social e, sim, o inverso. Porém, este comportamento de
causalidade pode ser temporário, de acordo com o amadurecimento dos RS e das
diretrizes da GRI perante às questões sociais. Esse amadurecimento está
principalmente relacionado à evolução do contexto do processo de gestão das
iniciativas sociais, processo que precisa se tornar efetivamente dialógico, participativo
e democrático no que tange à igualdade na tomada de decisões de interesse público
e coletivo.
É possível reconhecer, com esta pesquisa, que o amadurecimento da gestão social
deverá contemplar a promoção do conhecimento dos profissionais que trabalham com
sustentabilidade no contexto das organizações. Assim, é necessário saber o que é a
gestão social e diferenciá-la da responsabilidade social. Igualmente necessário é o
aprofundamento nos requisitos que correspondem aos direitos humanos, ao
engajamento das pessoas, à inovação social, pois, durante as entrevistas, constatou-
se ainda uma falta de compreensão adequada desses termos. Isso implicou em
195
concepções ou relatos de ações de maneira equivocadas, ou mesmo, fragilizadas no
contexto da Gestão Social.
Consolidando as conclusões alcançadas pela pesquisa e que respondem aos
objetivos e hipóteses propostos, foi possível identificar que as organizações e as
pessoas que trabalham com os RS não reconhecem suas práticas sociais como sendo
de gestão social. Isso explica a não divulgação e a não utilização do termo gestão
social nas organizações pesquisadas.
Devido à relação da gestão social com a garantia dos direitos humanos, destaca-se
que as percepções obtidas nas entrevistas, relacionadas aos direitos humanos, ainda
são incipientes para os entrevistados, pois eles mencionaram que tal relação ocorre
apenas para atender aos requisitos legais, ao referirem às questões referentes ao
trabalho infantil e escravo. Embora não seja possível afirmar que tal descrição
corresponda ao entendimento da organização sobre o pilar social, este se torna um
ponto de destaque a ser relatado nas conclusões desse trabalho.
Existem pressupostos referentes à gestão social que não estão apresentados nos
aspectos da categoria social dos RS. Eles são encontrados na primeira parte dos RS
e das diretrizes da GRI que tratam das questões de governança e processo de
elaboração dos RS. Dentre esses elementos que se relacionam diretamente com os
pressupostos da gestão social, estão o processo de materialidade que se pauta na
participação e decisão das partes interessadas em relação ao conteúdo de
informações a serem apresentadas no relatório e também o processo de engajamento
das partes interessadas que precisam ser continuamente envolvidas no processo de
elaboração dos RS e estimuladas a participarem de forma ativa deste processo.
Outra consideração feita é que o vínculo da categoria social da sustentabilidade às
práticas de responsabilidade social limita as potencialidades de desenvolvimento
social e sustentável das organizações. Logo, existe um grande potencial de
aperfeiçoamento das questões sociais das organizações com o uso da gestão social,
o que pode promover inovação social. Porém, os RS e as diretrizes da GRI só
conseguirão representar de forma efetiva um instrumento de gestão social se
196
paradigmas limitantes como o da responsabilidade social forem rompidos, e a gestão
social se tornar um termo debatido nas organizações com práticas concebidas,
estruturadas, implementadas e avaliadas.
Para isso, o processo de materialidade e de engajamento das partes interessadas
representa tanto um ponto de referência como o início do debate de gestão social para
as organizações (e nas organizações). Contudo, os processos de materialidade e de
engajamento propostos pelas diretrizes da GRI e realizados pelas organizações
promovem a participação das partes interessadas, mas se limitam à definição de quais
informações são relevantes, em detrimento de decisões que realmente poderiam
interferir na prática social e seus resultados.
A utilização apenas dos requisitos da categoria social das diretrizes da GRI - G4 e dos
RS analisados foram insuficientes para perceber os constructos da GS, pois estes
estão relacionados aos processos que são descritos em outras partes das diretrizes e
dos RS. Logo, se a análise se restringisse à categoria social, algumas respostas às
hipóteses desta pesquisa não seriam alcançadas ou teriam resultados restritos, como
é o caso da hipótese de que a categoria social, nos Relatórios de Sustentabilidade
analisados, apresentaria os constructos de gestão social em seu processo de
elaboração ou em sua estrutura, ou o caso daquela que diz que as pessoas envolvidas
na elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade adotavam os principais constructos
de gestão social.
Os indicadores da GRI podem ser considerados como inovação social em função de
sua finalidade que é a de buscar a criação de valor para os interesses dos grupos
sociais e da comunidade. A criação desse valor se dá pelo propósito de difusão do
conhecimento, pela replicabilidade dos indicadores propostos pela GRI bem como
pela disseminação dos Relatórios de Sustentabilidade. Porém, verificou-se que a
participação efetiva dos grupos interessados e o adequado monitoramento dos
resultados sociais alcançados ainda são desafios da inovação social para as
organizações pesquisadas.
197
Pelas análises quantitativas dos RS, pode-se perceber que as empresas classificadas
como estatais e privadas apresentaram maior maturidade na divulgação das
informações solicitadas pelos indicadores da GRI (2013; 2013a) e na realização da
prática de asseguração externa das informações prestadas. As cooperativas
analisadas, por terem o escopo de atuação que implica em uma gestão próxima à
realidade das empresas privadas, apresentaram um perfil de qualidade de relatório
intermediário entre o grupo de empresas estatais e privadas e o grupo das
organizações sem fins lucrativos.
As organizações sem fins lucrativos podem melhorar seus relatórios no que tange à
ampliação da sua opção de relatório conforme as diretrizes da GRI (2013; 2013a). O
trabalho com a opção abrangente trará novas reflexões pelo maior número de
indicadores a serem apresentados, além de promover inovações no contexto social e
nas demais dimensões da sustentabilidade das organizações.
Na expectativa de contribuir com as organizações e suas partes interessadas em
relação às oportunidades de melhoria observadas nos resultados desta pesquisa, foi
desenvolvido um modelo para a avaliação de práticas sociais organizacionais à luz
dos pressupostos da gestão social. Para viabilizar a disseminação deste modelo, um
guia foi elaborado que poderá ser utilizado no processo de avaliação das práticas
sociais. Esse guia busca instrumentalizar e auxiliar as pessoas no diagnóstico de
elementos a serem aperfeiçoados nas iniciativas de responsabilidade social
organizacionais, incluindo no ambiente de debate crítico dessas iniciativas, o seu
potencial de inovação social e de desenvolvimento local.
Esse produto técnico representa uma contribuição da pesquisa em relação ao
resultado que identificou a potencialidade de aperfeiçoamento das práticas de
responsabilidade social. Ele foi estruturado de forma inovadora pelo seu ineditismo
metodológico, considerando em seu desenvolvimento: permitir a facilidade de uso,
mesmo diante da complexidade da gestão social e viabilizar a sua aplicabilidade a um
universo significativo de organizações que possuem iniciativas de cunho social e que
elaboram RS.
198
Implicações sociais e gerenciais
Por meio deste estudo, compreendeu-se que a dimensão social da GRI, nos RS, pode
promover uma nova percepção sobre a Responsabilidade Social quando esta se
baseia nos constructos da Gestão Social (no contexto da sustentabilidade). Este
estudo também aponta para a abertura de um campo promissor no que se refere às
melhorias nas iniciativas e nos indicadores de sustentabilidade organizacionais. Essas
melhorias representam inovações sociais conforme destaca Bignetti (2011), pois
buscam a criação de valor para as partes interessadas e estão direcionadas para os
interesses dos grupos sociais e da comunidade, neste estudo, chamados partes
interessadas, internas ou externas.
Desta forma, o estudo ainda contribui com elementos do desenvolvimento local, no
fomento da efetivação do potencial inerente às práticas de sustentabilidade uma vez
que as organizações se apropriem dos pressupostos da Gestão Social, e contribuam
com os grupos sociais beneficiados pelas melhorias e inovações sociais provenientes
do aprendizado e resultados disseminados por este estudo.
Essa expectativa de implicação social reforça a necessidade das decisões serem
tomadas na esfera local e com repercussão global, pautadas no fortalecimento de
parcerias entre as organizações e a sociedade. Dessa forma pode ser consolidada
uma rede de cooperação orientada pelos debates e pelas iniciativas de interesse
público coletivo no sentido de permitir a disseminação de conhecimentos e
aprendizados, gerados no ambiente interno ou externo das organizações, capazes de
promover o desenvolvimento local e contribuir com o DS.
Limitações da pesquisa
São elencados como principais fatores limitantes desta pesquisa: o nível de
complexidade do tema, principalmente em relação aos aspectos conceituais; a
dispersão dos dados e de informações a serem tratados e analisados nos RS; e o
acesso às organizações. Isso porque a maioria das empresas elencadas como objeto
dessa pesquisa, apesar de se disponibilizarem junto à GRI e aos usuários de seus RS
199
para esclarecerem dúvidas ou complementarem informações sobre seus RS para o
público em geral, a maioria das empresas não se dispôs a participar da pesquisa.
Um dos limitadores da pesquisa está na quantidade de RS analisados, pois em 2015,
foram publicados 262 RS no Brasil (GRI, 2016) logo, a ampliação da amostragem
poderia contribuir com novos resultados para esta pesquisa. Entretanto, os relatórios
selecionados foram classificados de forma qualitativa e de forma amostral não
probabilística, buscando maior homogeneidade dos objetos de estudo cuja proposta
inicial era uma análise de caráter qualitativo. A ampliação de RS como objeto de
estudo contribuiria para a extrapolação dos resultados no contexto do Brasil. Porém
os resultados alcançados foram validados estatisticamente no que tange as
informações que conseguiram ser extraídas desses relatórios.
Outro ponto a ser destacado foi o acesso aos profissionais que são responsáveis pela
elaboração dos RS para a coleta de dados por meio das entrevistas. Apesar de
metodologicamente ter-se conseguido a saturação dos dados coletados pelas
entrevistas realizadas, somente 4 organizações se dispuseram a fornecer informações
relacionadas à sustentabilidade organizacional conforme os métodos de pesquisa
estabelecidos. Algumas delas gostariam de responder em formato de questionário,
outras não se sentiram confortáveis em prestar as informações e algumas não
viabilizaram a resposta sobre a participação ou não na pesquisa, apesar dos contatos
realizados. Logo, um outro formato para a coleta dos dados poderia ser pensado,
mesmo que este perdesse, de certa forma, a percepção dos momentos do processo
de elaboração do discurso que a análise de conteúdo por enunciação observa,
conforme considera Bardin (2011). Logo, em pesquisas futuras, pode-se ampliar a
amostragem de dados relacionados às percepções sobre gestão social dos
profissionais envolvidos na elaboração dos RS, incluindo, por exemplo, profissionais
que trabalham nas empresas de consultoria que apoiam as organizações na
elaboração de seus relatórios.
No propósito de analisar as percepções sobre gestão social das organizações, a
pesquisa ficou restrita àquelas informações dos RS e dos profissionais responsáveis
200
pela elaboração do RS, logo, a percepção de gestão social das outras partes
interessadas não foi objeto de estudo.
Recomendações para pesquisas futuras
O objetivo principal desta pesquisa foi a análise do conjunto de indicadores
quantitativos e qualitativos da categoria social dos RS orientados pelas diretrizes da
GRI-G4. Todavia, percebeu-se que ampliar a análise para outras partes dos relatórios
era necessário no sentido de perceber elementos importantes que se
correlacionassem com a percepção dos constructos de gestão social das
organizações, sobretudo os processos de materialidade e de engajamento das partes
interessadas. Logo, pesquisas futuras poderiam ampliar a análise do conjunto de
partes dos relatórios, assim como, realizar a comparação qualitativa entre as práticas
sociais apresentadas pelas organizações. Neste mesmo contexto, a busca pelas
concepções de gestão social de outras partes interessadas poderia apresentar
informações comparativas entre as diferentes percepções dos grupos distintos de
partes interessadas na sustentabilidade organizacional.
Ademais, estudos de caso sobre a aplicação do modelo de avaliação das práticas
sociais, propostos nessa dissertação, poderão contribuir com o aperfeiçoamento do
instrumento elaborado e proposto nesta pesquisa. Além disso, o estudo de sua
aplicabilidade em outras realidades, como as de organizações que não elaboram
relatórios de sustentabilidade, pode maximizar exponencialmente a abrangência de
utilização desse guia.
Não se poderia deixar de destacar que existe ainda um longo caminho para se
tangibilizar os pressupostos das diversas dimensões da sustentabilidade conforme
apresentadas por Foladori (2002), Mendes (2009) e Sachs (1993). Portanto, esta
pesquisa limitou-se à dimensão social da GRI-G4 e dos Relatórios de Sustentabilidade
analisados permitindo uma referência metodológica para novas pesquisas que
busquem tratar as outras dimensões, assim como, os construtos conceituais
aplicáveis a elas. Ou seja, discutir os constructos dos pilares ambiental, econômico,
201
cultural, político e territorial representam campo fértil e útil para a qualificação de ações
concernentes à promoção do DS.
Tendo em vista o conjunto de considerações dos resultados da pesquisa, algumas
provocações são elencadas para o fomento de novos estudos:
• As organizações estão preparadas e dispostas a compartilharem o processo
decisório de suas ações internas e externas que possuam origem no interesse
público e coletivo?
• O pensamento atual dominante do modelo de relação das organizações com
as suas partes interessadas permite o compartilhamento do processo
decisório?
Por meio desta pesquisa, acredita-se que é neste ponto em que se encontra um dos
maiores desafios da gestão social nas organizações. Portanto, as possibilidades de
se debater estes temas, assim como, outros relacionados por essas recomendações
para novas pesquisas, poderão permitir contribuições para a efetivação da gestão
social no contexto organizacional. A partir disso, a efetivação das transformações
sociais necessárias para a promoção do desenvolvimento local no qual as
organizações atuam.
Por fim, considera-se que o Desenvolvimento Sustentável só pode ser concretizado
pela compreensão efetiva dos diversos elementos que o compõem e do
amadurecimento da aplicação desses elementos de forma sistêmica, equilibrada e
contínua. A partir do esforço de cada reflexão, estudo e aplicação, sustentar as
mudanças de paradigmas necessárias para a preservação da qualidade de vida em
todas as suas manifestações.
202
REFERÊNCIAS
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205
APÊNDICE A – Autorização para Coleta de Dados
Eu, _________________________________________________, ocupante do cargo
de _____________________________ do (a) ______________________________
AUTORIZO a coleta de dados do projeto: “OS RELATÓRIOS DE
SUSTENTABILIDADE E AS DIRETRIZES DA GRI COMO INSTRUMENTOS PARA
PRÁTICAS DE GESTÃO SOCIAL” realizado pelo pesquisador Rafael Alves de
Araujo Castilho, sob a orientação da Professora Dra. Fernanda Carla Wasner
Vasconcelos, para fins de pesquisa do Mestrado Profissional em Gestão Social,
Educação e Desenvolvimento Local, nas instalações físicas da
___________________________________________________ após a aprovação do
referido projeto pelo CEP do Centro Universitário Newton Paiva.
______________________, ______ de ____________________ de ______.
______________________________________________ Assinatura e carimbo do (a) responsável da organização
Nome do (a) responsável da organização
206
APÊNDICE B – Termo de Compromisso de Cumprimento da Resolução Nº
466/2012
Nós, Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos, inscrita no CPF sob o número
XXX.XXX.XXX-XX, e Rafael Alves de Araujo Castilho, inscrito no CPF sob o número
XXX.XXX.XXX-XX, responsáveis pela pesquisa intitulada “OS RELATÓRIOS DE
SUSTENTABILIDADE E AS DIRETRIZES DA GRI COMO INSTRUMENTOS PARA
PRÁTICAS DE GESTÃO SOCIAL” declaramos que:
• Assumimos o compromisso de zelar pela privacidade e pelo sigilo das
informações que serão obtidas e utilizadas para o desenvolvimento da
pesquisa;
• Os materiais e as informações obtidas no desenvolvimento deste trabalho
serão utilizados para se atingir o(s) objetivo(s) previsto(s) na pesquisa;
• O material e os dados obtidos ao final da pesquisa serão arquivados sob a
nossa responsabilidade;
• Os resultados da pesquisa serão tornados públicos em periódicos científicos
e/ou em encontros, quer sejam favoráveis ou não, respeitando-se sempre a
privacidade e os direitos individuais dos sujeitos da pesquisa, não havendo
qualquer acordo restritivo à divulgação;
• Assumimos o compromisso de suspender a entrevista imediatamente ao
perceber algum risco ou dano, consequente à mesma, a qualquer um dos
sujeitos participantes, que não tenha sido previsto no termo de consentimento.
• O CEP do Centro Universitário Newton Paiva será comunicado da suspensão
ou do encerramento da pesquisa, por meio de relatório apresentado
anualmente ou na ocasião da interrupção da pesquisa;
• As normas da Resolução 466/2012 serão obedecidas em todas as fases da
pesquisa.
Belo Horizonte, ____ de ________ de 2016.
___________________________________ Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos
CPF nº. XXX.XXX.XXX-XX __________________________________
Rafael Alves de Araujo Castilho CPF nº. XXX.XXX.XXX-XX
207
APÊNDICE C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Programa: Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una, Belo Horizonte/MG. Título da pesquisa: Os Relatórios de Sustentabilidade e as Diretrizes da GRI como instrumentos para práticas de Gestão Social. Nome da pesquisadora orientadora: Fernanda Carla Wasner Vasconcelos Nome do pesquisador aluno: Rafael Alves de Araujo Castilho 1. Natureza da pesquisa: o sr.(sra.) está sendo convidado(a) a participar dessa
pesquisa que tem como finalidade analisar a categoria social das diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI) e dos Relatórios de Sustentabilidade na perspectiva das concepções de gestão social das organizações e das pessoas envolvidas na elaboração desses relatórios. Para isso serão realizadas pesquisa documental e entrevistas.
2. Participantes da pesquisa: participarão dessa pesquisa24 (vinte e quatro) entrevistados, responsáveis pela elaboração e divulgação de Relatórios de Sustentabilidade, de organizações de diferentes setores, selecionadas por critérios específicos como o de maturidade em publicação desses Relatórios.
3. Envolvimento na pesquisa: ao participar desse estudo, o sr. (sra) permitirá que o pesquisador Rafael Alves de Araujo Castilho utilize na pesquisa as informações prestadas durante a entrevista, salvaguardando a confidencialidade da identidade daqueles que prestaram as informações. Tem ainda a liberdade de se recusar a participar ou a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para si. Sempre que quiser, poderá pedir mais informações sobre a pesquisa através do telefone do pesquisador do projeto e, se necessário, através do telefone do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).
4. Sobre as entrevistas: serão realizadas presencialmente nas instalações da organização na qual trabalha ou em local adequado para sua realização acordado entre o entrevistado e o pesquisador. Em caso específico, ainda poderá ser realizada de telefone ou conferência virtual.
5. Riscos e desconforto: a participação nessa pesquisa não traz complicações legais. Durante a entrevista os riscos e/ou desconfortos potenciais identificados são o constrangimento e a preocupação de cunho institucional sobre as informações prestadas durante as entrevistas. Os procedimentos adotados obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos, conforme Resolução no. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade.
6. Confidencialidade: todas as informações coletadas nesse estudo são estritamente confidenciais. Somente o pesquisador e a orientadora terão conhecimento da identidade das pessoas que prestaram as informações e o seu sigilo será mantido.
7. Forma de acompanhamento e assistência: em caso de constrangimento e preocupação de cunho institucional, a entrevista será suspensa até que possa ser continuada por anuência do entrevistado.
8. Benefícios: ao participar dessa pesquisa, o(a) sr.(sra.) não terá nenhum benefício direto. Entretanto, esperamos que esse estudo traga informações importantes sobre a sustentabilidade organizacional, com contribuições para a melhoria das diretrizes de referência para elaboração dos Relatórios de Sustentabilidade, assim como a promoção de uma ambiência minimizadora dos riscos e impactos
208
socioambientais, observada no aperfeiçoamento dos programas, ações e indicadores utilizados pelas organizações, diante do conhecimento dos resultados conceituais identificados pela pesquisa, potencializando as iniciativas de inovação social e desenvolvimento local. O estudo ainda permitirá a socialização de informações que colaborem com a capacitação de pessoas que elaboram, avaliam, utilizam e estudam Relatórios de Sustentabilidade de acordo com as diretrizes da GRI, assim como pessoas interessadas no assunto. Logo, o pesquisador se compromete a divulgar os resultados obtidos, de forma que o conhecimento que será construído possa amadurecer os debates a respeito da Gestão Social com as organizações e pessoas envolvidas no processo de relato da sustentabilidade organizacional.
9. Pagamento: o(a) sr.(sra.) não terá nenhum tipo de despesa para participar dessa pesquisa, bem como nada será pago por sua participação.
Após esses esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre
para participar da referida pesquisa. Portanto, preencha, por favor, os itens que se seguem. Obs.: Não assine este termo se ainda tiver dúvida a respeito.
Consentimento Livre e Esclarecido
Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida,
manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo.
____________________, ______ de ___________ de________.
__________________________________ Assinatura do(a) participante da pesquisa
Nome do(a) participante da pesquisa
__________________________________ Rafael Alves de Araujo Castilho
___________________________________
Fernanda Carla Wasner Vasconcelos Pesquisador Aluno: Rafael Alves de Araujo Castilho. Telefone (XX) XXXX-XXXX. Pesquisadora Orientadora: Fernanda Carla Wasner Vasconcelos. Telefone (XX) XXXX-XXXX. Comitê de Ética em Pesquisado Centro Universitário Newton Paiva: Avenida Carlos Luz, 987, Caiçara. Belo Horizonte. CEP 31.230-070. Telefone (31) 3516-2547. E-mail: [email protected]. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP): Esplanada dos Ministérios, Bloco G, Anexo B, Sala 104B. Brasília. CEP 70.058-900. Telefone (61) 3315-2150 / 3315-2151 / 3315-3566.E-mail: [email protected].
209
APÊNDICE D – Termo de Compromisso de Coleta de Dados
Nós, Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos, inscrita no CPF sob o número
876.491.956-00, e Rafael Alves de Araujo Castilho, inscrito no CPF sob o número
060.238.976-30, responsáveis pela pesquisa intitulada “OS RELATÓRIOS DE
SUSTENTABILIDADE E AS DIRETRIZES DA GRI COMO INSTRUMENTOS PARA
PRÁTICAS DE GESTÃO SOCIAL” declaramos estarmos cientes que as entrevistas
da pesquisa somente poderão ser realizadas após a anuência das empresas
participantes.
Belo Horizonte, ____ de ________ de 2017.
___________________________________ Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos
CPF nº. XXX.XXX.XXX-XX
__________________________________ Rafael Alves de Araujo Castilho
CPF nº. XXX.XXX.XXX-XX
210
APÊNDICE E – Roteiro de entrevista com os responsáveis pela compilação das
informações para o Relatório de Sustentabilidade
Nome: ______________________________________________________________
Idade: _________
Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino
Cor auto atribuída: _______________
Função do entrevistado (a): _____________________________________________
Tempo na organização: ________________________________________________
Tempo na atual função: ________________________________________________
Tempo de participação na construção do Relatório de Sustentabilidade da
organização: ________________________________________________
1. Como você define Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade
Organizacional?
2. O que é para você uma organização socialmente responsável?
3. Quais são as partes interessadas no Relatório de Sustentabilidade de sua
organização?
4. Como as partes interessadas são envolvidas no processo de elaboração e de
divulgação do Relatório?
5. Como as informações de sustentabilidade são selecionadas para atender o
princípio de materialidade do Relatório de Sustentabilidade?
6. Como é o processo de elaboração do Relatório de Sustentabilidade?
7. Quais são as facilidades encontradas no processo de elaboração dos Relatórios de
Sustentabilidade?
8. Quais são as dificuldades encontradas no processo de elaboração dos Relatórios
de Sustentabilidade?
9. Como as pessoas são orientadas e capacitadas para responder ou prestar as
informações necessárias para o Relatório de Sustentabilidade?
10. Quais são as principais características de uma informação social da organização
para que ela seja apresentada no Relatório de Sustentabilidade?
11. Como os indicadores relacionados à categoria social da sustentabilidade são
definidos pela organização?
211
12. Na sua percepção, por que a organização na qual você trabalha elabora e publica
os relatórios de sustentabilidade?
13. Por que a organização optou por elaborar um Relatório de Sustentabilidade
utilizando como referência as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI)?
14. Quais foram os ganhos organizacionais tangíveis conquistados pela instituição por
publicar Relatórios de Sustentabilidade?
15. Quais foram os ganhos organizacionais intangíveis conquistados pela instituição
por publicar Relatórios de Sustentabilidade?
16. Na sua percepção, como a gestão social é contemplada no Relatório de
Sustentabilidade?
17. O que é gestão social em práticas trabalhistas e trabalho descente?
18. O que é gestão social em direitos humanos?
19. O que é gestão social em produtos e serviços que afetam as partes interessadas
e clientes?
20. O que é gestão social nos impactos gerados na sociedade e nas comunidades
locais?
21. Como as iniciativas relacionadas à categoria social da GRI–G4 (Práticas
Trabalhistas e Trabalho Decente, Direitos Humanos, Sociedade, Responsabilidade
pelo Produto) são desenvolvidas pela organização?
22. Em sua opinião, quais destas palavras ou expressões melhor explicam a
sustentabilidade no contexto da sua organização?
Viabilidade econômica
Justiça socialAceitação cultural
Bem-estar social
Conformidade e qualidade ambiental
GovernançaCrescimento econômico
Modelo de desenvolviment
o
Qualidade de vida
Responsabilidade social
Ética e transparência
EquidadeDesenvolvimen
to LocalMarketing
socioambientalInovação social
Direitos humanos
Educação Ambiental
Economia circular
212
23. Para representar a sustentabilidade, quais outras palavras/expressões você
citaria? Por que?
24. Em sua opinião, quais palavras melhor explicam a gestão social no contexto da
sua organização?
25. Para representar a gestão social, quais outras palavras/expressões você citaria?
Por que?
26. Em sua opinião, quais destas palavras melhor explicam a inovação social no
contexto da sua organização?
27. Para representar a inovação social, quais outras palavras/expressões você citaria?
Por que?
Iniciativas filantrópicas e
assistencialistas
Qualidade de vida
Bem-estar social
Marketing social
Participação social cidadã
Cidadania organizacional
Prestação de contas
Agente socialGestão
democrática e participativa
Transformações sociais
Inovação socialDesenvolvimen
to localGeração de
trabalhoDistribuição de
rendaGestão
ambiental
Educação ambiental
Responsabilidade social
Economia circular
Desenvolvimento tecnológico
Mudança institucional
Interesses dos grupos sociais e
comunidade
Orientação para fatores
econômicos
CompetitividadeMecanismos de
difusão (replicação e expansão)
Orientação para o valor social
Práticas colaborativas de
governança
Participação e cooperação
Novas soluções para grupos
sociais
Responsabilidade social
Economia circular
Educação ambiental
Sustentabilidade
213
28. Como são medidos os resultados e impactos das ações do pilar social divulgados
no Relatório de Sustentabilidade?
Projeto de pesquisa aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro
Universitário Newton Paiva, CAAE 62865616.0.0000.5097, Parecer nº 1.892.159.
Os dados serão coletados por meio de entrevista gravada com a anuência dos
entrevistados e de suas organizações por meio da assinatura dos formulários: TCLE -
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, Termo de Autorização de Uso de Imagem
e Depoimentos e Termo de Autorização para Coleta de Dados.
214
APÊNDICE F – Composição de indicadores da categoria social do GRI
considerados nas análises da pesquisa
QUADRO – Subcategorias, aspectos e indicadores da categoria social das diretrizes GRI – G4
Subcategoria Aspecto Código da Variável
Estatística
Código da GRI
Descrição
Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente
Emprego
EMP1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
EMP2 G4-LA1
Número total e taxas de novas contratações de empregados e rotatividade de empregados por faixa etária, gênero e região
EMP3 G4-LA2
Benefícios concedidos a empregados de tempo integral que não são oferecidos a empregados temporários ou em regime de meio período, discriminados por unidades operacionais importantes da organização
EMP4 G4-LA3
Taxas de retorno ao trabalho e retenção após uma licença maternidade/paternidade, discriminadas por gênero
Relações Trabalhistas
LMR1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
LMR2 G4-LA4
Prazo mínimo de notificação sobre mudanças operacionais e se elas são especificadas em acordos de negociação coletiva
Saúde e Segurança no Trabalho
OHS1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
OHS2 G4-LA5
Percentual da força de trabalho representada em comitês formais de saúde e segurança, compostos por empregados de diferentes níveis hierárquicos, que ajudam a monitorar e orientar programas de saúde e segurança no trabalho
OHS3 G4-LA6
Tipos e taxas de lesões, doenças ocupacionais, dias perdidos, absenteísmo e número de óbitos relacionados ao trabalho, discriminados por região e gênero
OHS4 G4-LA7 Empregados com alta incidência ou alto risco de doenças relacionadas à sua ocupação
Continua...
215
... Continuação
Subcategoria Aspecto Código da Variável
Estatística
Código da GRI
Descrição
Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente
Saúde e Segurança no Trabalho
OHS5 G4-LA8 Tópicos relativos à saúde e segurança cobertos por acordos formais com sindicatos
Treinamento e Educação
TED1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
TED2 G4-LA9
Número médio de horas de treinamento por ano por empregado, discriminado por gênero e categoria funcional
TED3 G4-LA10
Programas de gestão de competências e aprendizagem contínua que contribuem para a continuidade da empregabilidade dos empregados em período de preparação para a aposentadoria
TED4 G4-LA11
Percentual de empregados que recebem regularmente análises de desempenho e de desenvolvimento de carreira, discriminado por gênero e categoria funcional
Diversidade e Igualdade de Oportunidades
DEO1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
DEO2 G4-LA12
Composição dos grupos responsáveis pela governança e discriminação de empregados por categoria funcional, de acordo com gênero, faixa etária, minorias e outros indicadores de diversidade
Igualdade de Remuneração entre Mulheres e Homens
ERWM1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
ERWM2 G4-LA13
Razão matemática do salário e remuneração entre mulheres e homens, discriminada por categoria funcional e unidades operacionais relevantes
Avaliação de Fornecedores em Práticas Trabalhistas
SALP1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
SALP2 G4-LA14 Percentual de novos fornecedores selecionados com base em critérios relativos a práticas trabalhistas
SALP3 G4-LA15
Impactos negativos significativos reais e potenciais para as práticas trabalhistas na cadeia de fornecedores e medidas tomadas a esse respeito
Continua...
216
... Continuação
Subcategoria Aspecto Código da Variável
Estatística
Código da GRI
Descrição
Práticas Trabalhistas e Trabalho Decente
Mecanismos de Queixas e Reclamações Relacionadas a Práticas Trabalhistas
MQL1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
MQL2 G4-LA16
Número de queixas e reclamações relacionadas a práticas trabalhistas registradas, processadas e solucionadas por meio de mecanismo formal
Direitos Humanos
Investimentos
INV1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
INV2 G4-HR1
Número total e percentual de acordos e contratos de investimentos significativos que incluem cláusulas de direitos humanos ou que foram submetidos à avaliação referente a direitos humanos
INV3 G4-HR2
Número total de horas de treinamento de empregados em políticas de direitos humanos ou procedimentos relacionados a Aspectos dos direitos humanos relevantes para as operações da organização, incluindo o percentual de empregados treinados
Não discriminação
NDI1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
NDI2 G4-HR3 Número total de casos de discriminação e medidas corretivas tomadas
Liberdade de Associação e Negociação Coletiva
LAN1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
LAN2 G4-HR4
Operações e fornecedores identificados em que o direito de exercer a liberdade de associação e a negociação coletiva possa estar sendo violado ou haja risco significativo e as medidas tomadas para apoiar esse direito
Trabalho Infantil
TIN1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
TIN2 G4-HR5
Operações e fornecedores identificados como de risco para a ocorrência de casos de trabalho infantil e medidas tomadas para contribuir para a efetiva erradicação do trabalho infantil
Continua...
217
... Continuação
Subcategoria Aspecto Código da Variável
Estatística
Código da GRI
Descrição
Direitos Humanos
Trabalho Forçado ou Análogo ao Escravo
TFA1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
TFA2 G4-HR6
Operações e fornecedores identificados como de risco significativo para a ocorrência de trabalho forçado ou análogo ao escravo e medidas tomadas para contribuir para a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou análogo ao escravo
Práticas de Segurança
PDS1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
PDS2 G4-HR7
Percentual do pessoal de segurança que recebeu treinamento nas políticas ou procedimentos da organização relativos a direitos humanos que sejam relevantes às operações
Direitos Indígenas
DPI1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
DPI2 G4-HR8
Número total de casos de violação de direitos de povos indígenas e tradicionais e medidas tomadas a esse respeito
Avaliação
AVA1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
AVA2 G4-HR9
Número total e percentual de operações submetidas a análises ou avaliações de direitos humanos de impactos relacionados a direitos humanos
Avaliação de Fornecedores em Direitos Humanos
SHR1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
SHR2 G4-HR10 Percentual de novos fornecedores selecionados com base em critérios relacionados a direitos humanos
SHR3 G4-HR11
Impactos negativos significativos reais e potenciais em direitos humanos na cadeia de fornecedores e medidas tomadas a esse respeito
Continua...
218
... Continuação
Subcategoria Aspecto Código da Variável
Estatística
Código da GRI
Descrição
Direitos Humanos
Mecanismos de Queixas e Reclamações Relacionadas a Direitos Humanos
MQH1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
MQH2 G4-HR12
Número de queixas e reclamações relacionadas a impactos em direitos humanos registradas, processadas e solucionadas por meio de mecanismo formal
Sociedade
Comunidades Locais
LCO1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
LCO2 G4-SO1
Percentual de operações com programas implementados de engajamento da comunidade local, avaliação de impactos e desenvolvimento local
LCO3 G4-SO2 Operações com impactos negativos significativos reais e potenciais nas comunidades locais
Combate à Corrupção
ACO1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
ACO2 G4-SO3
Número total e percentual de operações submetidas a avaliações de riscos relacionados à corrupção e os riscos significativos identificados
ACO3 G4-SO4 Comunicação e treinamento em políticas e procedimentos de combate à corrupção
ACO4 G4-SO5 Casos confirmados de corrupção e medidas tomadas
Políticas Públicas
PPU1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
PPU2 G4-SO6
Valor total de contribuições para partidos políticos e políticos, discriminado por país e destinatário/beneficiário
Concorrência Desleal
CDE1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
CDE2 G4-SO7
Número total de ações judiciais movidas por concorrência desleal, práticas de truste e monopólio e seus resultados
Conformidade COS1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
Continua...
219
... Continuação
Subcategoria Aspecto Código da Variável
Estatística
Código da GRI
Descrição
Sociedade
Conformidade COS2 G4-SO8
Valor monetário de multas significativas e número total de sanções não monetárias aplicadas em decorrência da não conformidade com leis e regulamentos
Avaliação de Fornecedores em Impactos na Sociedade
AFI1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
AFI2 G4-SO9 Percentual de novos fornecedores selecionados com base em critérios relativos a impactos na sociedade
AFI3 G4-SO10
Impactos negativos significativos reais e potenciais da cadeia de fornecedores na sociedade e medidas tomadas a esse respeito
Mecanismos de Queixas e Reclamações Relacionadas a Impactos na Sociedade
MQS1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
MQS2 G4-SO11
Número de queixas e reclamações relacionadas a impactos na sociedade registradas, processadas e solucionadas por meio de mecanismo formal
Responsabilidade pelo Produto
Saúde e Segurança do Cliente
CHS1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
CHS2 G4-PR1
Percentual de categorias de produtos e serviços significativas para as quais são avaliados impactos na saúde e segurança buscando melhorias
CHS3 G4-PR2
Número total de casos de não conformidade com regulamentos e códigos voluntários relacionados aos impactos causados por produtos e serviços na saúde e segurança durante seu ciclo de vida, discriminados por tipo de resultado
Rotulagem de Produtos e Serviços
PSL1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
PSL2 G4-PR3
Tipo de informações sobre produtos e serviços exigidas pelos procedimentos da organização referentes a informações e rotulagem de produtos e serviços e percentual de categorias significativas sujeitas a essas exigências
Continua...
220
... Continuação
Subcategoria Aspecto Código da Variável
Estatística
Código da GRI
Descrição
Responsabilidade pelo Produto
Rotulagem de Produtos e Serviços
PSL3 G4-PR4
Número total de casos de não conformidade com regulamentos e códigos voluntários relativos a informações e rotulagem de produtos e serviços, discriminados por tipo de resultados
PSL4 G4-PR5 Resultados de pesquisas de satisfação do cliente
Responsabilidade pelo Produto
Comunicações de Marketing
MCO1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
MCO2 G4-PR6 Venda de produtos proibidos ou contestados
MCO3 G4-PR7
Número total de casos de não conformidade com regulamentos e códigos voluntários relativos a comunicações de marketing, incluindo publicidade, promoção e patrocínio, discriminados por tipo de resultados
Privacidade do cliente
CPR1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
CPR2 G4-PR8
Número total de queixas comprovadas relativas à violação de privacidade e perda de dados de clientes
Conformidade
COP1 G4-DMA Informações sobre a forma de gestão
COP2 G4-PR9
Valor monetário de multas significativas aplicadas em razão de não conformidade com leis e regulamentos relativos ao fornecimento e uso de produtos e serviços
Fonte: Dados da pesquisa, adaptado de GRI (2013).
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APÊNDICE G – Produto técnico: Guia para avaliação de práticas sociais
organizacionais
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ANEXO A – E-mail de disponibilização da lista de relatórios GRI para a
pesquisa
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ANEXO B – Parecer do Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário
Newton Paiva
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