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Práxis, gênero humano e naturezaNotas a partir de Marx, Engels e Lukács
Practice, mankind and nature — notes from Marx, Engels and Lukács
Epitácio Macário*
Resumo: TendoporbaseopensamentodeMarx,EngelseLukács,oartigosustentaqueogênerohumanosefundasobreapráxiseevoluisegundoumadinâmicaquereforçaoselementossociaisereduzasdeterminaçõesnaturaissobreaformadevidahumana.
Palavras-chave:Práxis.Gênerohumano.Natureza.
Abstract: FromMarx,EngelsandLukács,theargumentinthearticlesupportsthatmankindisbasedonpracticeandevolvesbyadynamicthatreinforcesthesocialelementsandreducesthenaturaldeterminationsovertheformofhumanlife.
Keywords:Practice.Mankind.Nature.
*DoutoremEducaçãopelaUniversidadeFederaldoCeará(UFC),Fortaleza/CE,Brasil;professoradjuntodaUniversidadeEstadualdoCeará(Uece)comatuaçãonomestradoacadêmicoemServiçoSocial(Mass),coordenadordoCentrodeEstudosdoTrabalhoeOntologiadoSerSocial—Cetros.PresidentedaSeçãoSindicaldoAndesnaUece.E-mail:[email protected].
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Introdução
Nos Manuscritos de 1844,Marx esboçouum sistema categorial queforneceesteiosparaafundamentaçãodaesferasocialdoser.Partiudaconstataçãodequeohomemtemumaexistênciacorpórea,objetiva,talcomoplantaseanimais.Porserobjetivo,éumser sofredor,na
medidaemqueosoutrosobjetos(omeioexterior)éacondiçãodesuaexistência,porquantoohomemtemdeatuarsobreosobjetosexternosparagarantir-secomoservivo.Umserqueindependacompletamentedosobjetosexterioressópodeserconcebidoidealisticamente;napráticaseriaumamonstruosidade.Emcontraste,todavia,comosdemaisseresvivos,o“sernaturalhumano”éum“serexistenteparasimesmo”,“ser genérico,que,enquantotal,temdeatuareconfirmar-setan-toemseusercomoemseusaber”.Aatividadecomqueintercambiacomomeiofazdeleumser para si,umserduplicadonosaberenascoisas.E,nasequência,proclama:
Consequentemente,nemosobjetoshumanossãoosobjetosnaturaisassimcomoestesseoferecemimediatamente,nemosentido humano,talcomoéimediataeobjetiva-mente,ésensibilidade humana,objetividadehumana.Anaturezanãoestá,nemobje-tivanemsubjetivamente,imediatamentedisponívelaoserhumanodemodoadequa-do.(Marx,2010,p.127-28)
Noutromanuscrito,opensadoralemãopõeotrabalhocomoaatividadevitalhumana,avidaprodutivapormeiodaqualosernaturalhumanoseconfirmacomoparticularidadeeuniversalidade,comoindivíduoegênero.Dizeleque,
[...]naelaboraçãodomundoobjetivo[éque]ohomemseconfirma,emprimeirolugarefetivamente, como ser genérico. Esta produção é a sua vida genérica operativa.Atravésdelaanaturezaaparececomoasua obraeasuaefetividade(Wirklichkeit).Oobjetodotrabalhoéportantoaobjetivação da vida genérica do homem:quandoohomem se duplica não apenas na consciência, intelectual[mente],mas operativa,efetiva[mente],contemplando-se,porisso,asimesmonummundocriadoporele.(Idem,ibidem,p.85)
Aposiçãodosernaturalhumanosobreseusprópriospés,istoé,comorealiza-çãodesuaatividadevital,seráampliadaemA ideologia alemã.Nessaobra,ateoria
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da atividade consciente comodemiurgodo ser social ganha emprofundidade eabrangênciaaoabarcartodasasformasdeatuaçãodohomemsobreanaturezaeasociedade.Ahistóriahumanaemergeaquicomoconstrutodospróprioshomens,comoresultadoeprocessodasaçõesdosindivíduosnaproduçãodesuascondiçõesmateriaisdeexistência.Essasaçõesocorremsemprepormeiodeumconjuntocadavezmaiscomplexoderelaçõessociaisquerespondem,aofim,pelaproduçãodosvaloresdeusoedosbensespirituaisnecessáriosàexistênciaindividualecoletiva.Àatividaderesponsávelpelaproduçãodahistóriaoautorchamoudepráxis.
NaprimeiratesesobreFeuerbach,oacentodeMarxrecaiprecisamentesobreapráxiscomoatividadehumanasensível,objetiva,queoperaainterpenetraçãodomundodascoisasedasubjetividade.Aquijánãohálugarparaumaconsciênciaanteposta, sobreposta e/ou separada da objetividade; ao contrário, patenteia-secategoricamenteumanovaconcepçãosegundoaqualtantoaobjetividadecomoasubjetividadehumanassãoinstauradaspelapráxis,pelaatividadehumanasensível.1 AteseIgolpeiadeumasóvezomaterialismoatéentãoexistente(incluídoodeFeuerbach)—paraquemomundoobjetivoémeraexterioridade—eoidealismo(inclusiveohegeliano)—quedesenvolveu“oladoativo”dasubjetividade,mas“demodoabstrato”,semconsiderara“atividaderealesensívelcomotal”(Marx,2007,p.27).Ambos,omaterialismoeoidealismo,nãoconseguiramalcançaraverdadeira natureza da práxis como atividade humana sensível que engendra aobjetividadeeasubjetividadesimultaneamente.
Oprimadodaatividadehumanasensível—apráxis—comofundamentodaesferasocialdoserconduzaqueoindivíduosejaimediatamenteimplicadocomosujeitohistórico,poiséeleoportadoreorealizadordaatividadepráticasensível(tesesI,VI,VIIeVIII).Nessaperspectiva,adinâmicasocialtemdeprocessar-sepormeiodapráxisdosindivíduosqueexercitamsuaatividadesensívelsemprenoseioeatravésdeumconjuntoderelaçõesqueosimbricamcomadinâmicatotaldasociedade(MarxeEngels,2003,p.111).Asrelaçõesestabelecidasnaprodução
1. JoséChasin (1995, p. 398) sintetiza esse ponto de vista: “Transitividadeou conversibilidadeentreobjetividadeesubjetividadecompreende,pois,adissoluçãodaunilateralidadeoulimitesdesfigu-radores,materialistaseidealistas,dosujeitoedoobjeto:aqueleperdeaestreitezadepurainterioridadeespiritualeesteademeraexterioridadeinerte.Pelaconstataçãodointercâmbio,asubjetividadeéreco-nhecida em sua possibilidade de ser coisa nomundo, e a objetividade comodynameis— campo depossíveis.O sujeito se confirma pela exteriorização sensível, na qual plasma sua subjetividade, e oobjetopulsanadiversificação,tolerandoformassubjetivasaolimitedesuaplasticidade,istoé,desuamaleabilidadeparaseroutro”.
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davidamaterialconstituemasforçasgenéricasresponsáveis,aocabo,pelaestru-turação,manutençãoetransformaçãodatotalidadesocial.Sãoessasforçassociaisesuasrealizaçõesmateriaiseespirituaisqueditamoconteúdodahistóriae,por-tanto,põemascondiçõesepossibilidadesdeexistênciadosindivíduos.2Portanto,ogênerohumanoépostoemvidapelaforçasocialnascidadassíntesesrelacionaisdaspráxisdosindivíduos,razãoporquesuperaomutismobiológicoeseinstauracomodinâmicageral,progressiva,daqualosindivíduossãopartesmoventes—namedidadesuaatividadeconscientesensível—emovidas—porquesuaatividadeocorre emcondições concretas postas pelomovimentoda sociedade e nomaiselevadograupelageneridade.
Apráxiséaatividadesensíveldohomempelaqualproduzosmeiosdeexis-tênciae,aoproduzi-los,engendranovasnecessidadesquejánãodimanamdabasebiofísica.Aestasnovasnecessidades,oshomensreagemproduzindonovosmeiosdesatisfazê-laseassimsucessivamente.NaspalavrasdeLukács(1981b,p.146)“pelacombinaçãodaatividadesocialdoshomensnareproduçãodaprópriavida,[...],nascemcategoriaserelaçõescategoriaiscompletamentenovas,qualitativa-mentediversasque[...]modificamtambémareproduçãobiológicadavidahuma-na.”Acombinação da atividade social dos homens não somente implica umatransformaçãocadavezmaioremaisprofundadanatureza,mastambémengendracategorias e relações qualitativamente diversasqueformamoconteúdodavidasocial.Poristo,dizLukács,asociedade“encontracadavezmenosjá‘prontas’nanaturezaascondiçõesdaprópriareproduçãoasquais,aocontrário,elacriamedian-teapráxissocialdoshomens”(Idem,ibidem,p.146-47).Comefeito,areproduçãobiológicaéummomentoinelimináveldareproduçãosocial,masoquecaracterizaestaúltimaéofatodeaatividadesocialdoshomensedificar,paulatinamente,umconjuntodenovasrelaçõesecategoriasnãomaisdeterminadaspelabasebiológica.Areproduçãosocialsecaracterizapelocontínuoafastamento—aindaquejamaisaeliminação—dasbarreirasnaturaisdavidahumana.
Esteartigoobjetivacaracterizar,emlargostraços,esseprocesso,tendoporbaseimportantestextosdeMarx,EngelseLukács.
2.Cf.MarxeEngels(2007,p.70):“Ahistórianãoémaisdoqueasucessãodasdiferentesgeraçõesindividuais,cadaumadasquaisexploraosmateriais,capitaiseforçasdeproduçãotransmitidasporaquelasqueaprecederam;querdizer,quedeumladoprossegueemcondiçõescompletamentedistintasdaativida-deprecedente,enquantodeoutroladomodificaascircunstânciasanterioresmedianteumaatividadetotal-mentediferente...”.
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1. O significado da expressão afastamento das barreiras naturais
Aalimentaçãoéumanecessidadenaturaldetodoservivo,porconseguinte,dosernaturalhumano.ComoasseveraMarx(2011,p.47),porém,“Fomeéfome,masafomequesesaciacomcarnecozida,comidacomgarfoefaca,éumafomediversadafomequedevoracarnecrua,commão,unhaedente”.Aquisepõeemevidênciaocarátersocialmentefundadodasformasconcretasdesatisfaçãodafome,porquantoohomemproduzseualimentotransformandoanaturezaeosubmeteaoutratransformação:elepreparaseualimento,utilizandoutensílios,métodoserituaiscriadospelasociedade.Ohomemresponde,pois,aumanecessidadedeorigembiológicasobumaformasocialmenteinstituída.
Nãoéapenas,todavia,aformacomoohomemrespondeàfomequeassumedeterminaçãosocial;tambémaprópriafomeéalteradanasuaformanatural,emvirtudedaaçãosocialdoshomens.Pensamosnasconquistasdotrabalhoqueforamseacumulandoatéchegaropontodeproporcionaroacúmulodeexcedentesdevíverescomadescobertadaagriculturaeocriatóriodeanimais.Semdúvida,estesacontecimentosreagiramsobreadeterminaçãonaturaldafome,porquantopropor-cionarammaioracessodosindivíduosaosalimentos,bemcomoinseriramnohá-bitoalimentaroconsumodacarne.Sedeixarmosdelado,porém,ofatodoaumen-to da quantidade de alimentos e da passagemà dieta carnívora ter provocadoconsequênciasbiológicasconsideráveis,argumentaofilósofohúngaro,“permane-ceofatodequearegulamentaçãosocialdapossedacomidatem,indubitavelmen-te,efeitosbiológicos”(Idem,ibidem,p.148).Apropriedadeprivadadosalimentosconduz ao paradoxoda fome emescala social, numa época de predomínio daabundância,comoaconteceatualmente.Afomedaspopulaçõessubmetidasàmi-sériaébiologicamentediferentedaqueladaparceladapopulaçãoquetemacesso,àsaciedade,aosalimentos.Outroaspectoaserreferido,seguindooraciocíniodomestremagiar,éoadventodacozinhainternacional.Comoentrecruzamentodospovosenações,dinamizadopelomercadomundial,acozinhalocaleregionales-praiou-separaoutroslugaresenações,influenciandoogostoeohábitonoutrasparagenserecebendoinfluênciasdestas.Oshábitosalimentaresdecadacomuni-dadeforamobjetodemudançasemvirtudedaadoção,noseucotidiano,dacozinhadeoutrascomunidadesounações.Lukácsargumentaque“ofatodequeistoassu-mahoje,deváriasmaneiras,asformasdemanipulação,doconsumodeprestígioetc.,mostra precisamente a que alto grau de sociabilização se chegou tambémnestecampo”(Idem,ibidem,p.149).
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Esterecobrimentoealteraçãodoselementosbiológicosporleispuramentesociais verificam-se, também, no domínio da sexualidade.É instrutivo, nessesentido,observarcomoasgrandestransformaçõeseconômicasesociaisocorridasnofimdabarbariaeiníciodacivilizaçãoprovocarammudançassignificativasnarelaçãoentreossexos.NacompreensãodeEngels(1987),odesenvolvimentodasforçasprodutivaseofatodeoshomensteremassumidoposiçãoderelevonaproduçãoeconômicaemcomparaçãocomopapeldasmulhereslevaramaode-saparecimentoda formade famíliabaseadanodireitomaterno, instaurando afamíliamonogâmicapatriarcal.Desdeentão,anormasocialimpunhaadevoçãodefidelidadedamulheraomarido,aocontráriodeoutrora,quandoestamantinharelaçõessexuaiscomvárioshomens.Nãoédifícilcompreenderdequemodo,umavezsedimentadanocostume,estanormaoperoumudançassignificativasnaprópriaatraçãoentreossexos(Engels,1987)e,fundamentalmente,nosrituaisqueoprecedem.
Senãolevarmos,porém,nadevidacontaapenasastransformaçõesmacroes-truturais,quesemdúvidaimplicammudançasconsideráveisnoâmbitodasexua-lidade,tambémpodemosperceberoquantoasformasfenomênicasdoprogressoeconômicosocialinterferemnestaesfera.Amanipulaçãodeessênciaseaproduçãode cosméticosparaouso corporal, bemcomoosmodosdevestir, influenciamdecisivamentenofuncionamentodosinstintossexuais.Todosestesfatosatestam,pois,que
[...]arecíprocaatraçãosexualnãoperdejamaisseucaráteressencialmentefísico,biológico,masarelaçãosexual,comaintensificaçãodascategoriassociais,acolheem si um número crescente de conteúdos que,mesmo se sintetizandomais oumenosorganicamentecomaatraçãofísica,têm,todavia,umcaráter—diretaouindiretamente— humano-social que é heterogêneo em relação a ela. (Lukács,1981b,p.150)
Impusemosrealceadoiscomplexosrelacionadosdiretamenteàreproduçãodavida:afomeeosexo.Oobjetivoeramostrarque,mesmoemsetratandodefenômenosfundadosporestritanecessidadedareproduçãobiológica,háumain-tervençãodaleisocialsobretaisfenômenos,caracterizandoumafastamentodasdeterminaçõesnaturais,namedidaemqueelassãorecobertasporconteúdospura-mentesociais.Aanálisedoexcedenteeconômiconossituaráemumdegrauacimanoesclarecimentodestepontodevista.
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2. Excedente econômico e desenvolvimento da sociabilidade
Pelotrabalho,ohomemseapropriadanaturezasempremedianterelaçõessociaisqueconstituemformasdevidagrupalecomunitária.Nascondiçõesorigi-nárias, a comunidadenãoultrapassa o caráter de umgregarismonaturalmentefundadoqueforneceabaseparaodesenvolvimentodotrabalho.ÉMarx(2011,p.380)quemsustentaque
Acoletividadetribalquesurgenaturalmente,ou,sepreferirmos,ogregarismo,éoprimeiropressuposto—acomunidadedesangue,linguagem,costumesetc.—da apropriação das condições objetivas da suavida eda atividadeque a reproduzeobjetiva(atividadecomopastor,caçador,agricultoretc.).
Asleisnaturaisquefundamogregarismoorigináriosãoalvodeprofundastransformaçõestãologosedesenvolvemotrabalhoeadivisão/cooperaçãoqueoacompanham.Teminícioumprocessodecriação,desigualecontraditória,depre-missassociaisquerecobremaquelascondiçõesedeterminaçõesnaturaisdaexis-tênciadohomem.Istoquerdizerqueotrabalhoengastaocarátercomunalorigi-nárionumprocessodecomplexificaçãoqueculminacomaprópriadissoluçãodatotalidadeoriginária,dandolugaraformaçõessuperioreslastreadasemrelaçõessociais.Aproduçãodeexcedenteseconômicoséumdosfeitosdotrabalhosocialquerespondempelasocializaçãocrescentedavidahumana.
Aproduçãodeexcedenteseconômicosdesencadeouprocessosque,deumlado,impulsionaramasnecessidadeshumanaseaprópriadivisãodotrabalho;deoutraparte,implicaramacristalizaçãodadivisãosocialdotrabalhosobaformadeclasses sociais antagônicas.Noprimeiro caso, o excedente engendrou as basesmateriaisdadedicaçãoexclusivadepartedaforçadetrabalhoemtarefasprepara-tórias,voltadasparaaorganizaçãodacomunidadeeparaofabricodeinstrumentosdetrabalhoedefesa.Emtodosestescasos,opressupostomaterialéqueacomuni-dadeproduzamaisdoqueonecessárioparaareproduçãoimediatadosindivíduos;docontrário,nenhumesforçopoderiaserdeslocadodaproduçãodiretadevívereseasociedadehumanateriaestacionadonamerareproduçãodavida—epermane-cerianoestádiodogregarismooriginário.
Nosegundocaso,acapacidadedotrabalhodeproduzirmaisdoqueoneces-sárioparaaexistênciaimediatadoseuexecutoredacomunidade“criaabaseob-
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jetivadaescravidão,antesdaqualexistiaapenasaalternativadematarouadotaroinimigofeitoprisioneiro”,precipitandoumaclivagemnointeriordogênerohu-manoquesegue“atravésdeváriasetapas,aocapitalismo,ondeestevalordeusodaforçadetrabalho[acapacidadedeproduzirexcedente]setornaabasedetodoosistema”(Lukács,1981,p.136).
Emsentidoontológico—enãoimediatamentevalorativo—,osurgimentodasclassessociaismedianteoregimedeescravidãoexpressaumavanço,umpro-gressodasociabilidade,poisnasituaçãoanterioraigualdadesocialsebaseavanaescassezdevíveresenadependênciadiretadanatureza.Osurgimentodasclassessociaistemporfundamento,precisamente,odesenvolvimentodasforçasproduti-vas,umdadograudeevoluçãodopoderinterventivo(transformador)dohomem(sociedade)sobreanatureza.Asclassesrepousam,pois,embasespuramentesociais,ejánãopodemserexplicadaspornenhumdeterminantedeordemnatural.
Paraefeitodoquenosinteressa,ébastantesalientarqueaproduçãodeexce-denteeconômicotempesodecisivonaampliaçãodospoderesgenéricosdohomem,precisamenteporqueconcedebaseàampliaçãodadivisãodotrabalhoedesuasformasdecooperação,alçandoasociedadeapatamaresmaisdesenvolvidos.
3. Divisão do trabalho como veículo da socialização crescente do ser social
Adivisãodotrabalho“é,porassimdizer,tãoantigaquantootrabalho,deleéumprodutoorgâniconecessário”(Lukács,1981,p.136).Ela jácomparecenosprimeiríssimosestádiosdedesenvolvimentodacomunidadehumanasobaformadeumagiremconjuntonointeriordeumamesmaatividade.Noinício,elatemporbaseelementosnaturais,depoisestadeterminaçãovaisendosuplantada,recobertaporleispuramentesociais.
Nascomunidadesoriginárias,ocorreumadistribuiçãodasatividadessegundoatributosfisiológicosdaspessoas.Esteéocasodadivisãodotrabalhoentrehomensemulheres.Comodesenvolvimentosocial,entretanto,aatribuiçãodepapéisestatusdiferenciadosparahomensemulherespassouaserdeterminadounicamen-tepelasrelaçõessociais.Destaformaéqueodestaqueourebaixamentodolugarqueasmulheresocupamnasociedadevaidepender,porumlado,defatoresdeordemeconômicaquedizemrespeitoàrelevânciadassuasfunçõesparaoaumen-todaproduçãosocial,e,deoutrabanda,dasconcretasformascomqueasocieda-
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deinstituieatribuipapéis,funçõesestatus.Porisso,houvesituaçõeshistóricasemque asmulheres preponderavamno plano social exatamente porque não só asfunçõesqueassumiamnointeriordaforçacoletivaeramvitaisparaacomunidade(pense-senosprimórdiosdaagriculturaedadomesticaçãodeanimais),mastambémporque,tãosomenteporseuintermédioeramconhecidososdescendentesdoclãe,portanto,amulherconstituíaocritérioderepartiçãodoprodutosocialnoseiodacomunidade.Tãologoestaspremissasforamsuperadaspeloprópriodesenvolvi-mentoda sociedade—aprimeirapelodomíniomasculinodasatividadesmaisimportantesnaproduçãodoexcedenteeconômicoeasegundapeloadventodafamíliamonogâmica—,asmulheresforamsendorelegadasaposiçõesinferioresnaestruturasocial(Engels,1987).
Estedeterminismosocialocorretambémcomaquelarelaçãodepreponde-rânciadosanciãossobreosmaisnovosnassociedadestradicionais.Aparentemen-te, esta diferenciação de papéis, de status, parece radicar numa determinaçãobiológica,qualseja,alongevidadedosanciãos.Emverdade,porém,“avidamaislonganãoésenãoabasebiológicasobreaqualserealizaaacumulaçãodasexpe-riênciasdevidasocialmenteimportantes”(Lukács,1981b,p.139).Umavezqueossaberesmaisrelevantesrelacionadosaoconvíviosocialeàproduçãoeconômi-casebaseiam,nestassociedades,naexperiência,osanciãossópodemterumlugardedestaque,porquantosãoosportadoresdestaexperiência,daquiloquechamamosdesabedoria;porém,“Àmedidaqueasexperiênciassocialmentedecisivasnãosãomaisacumuladasporviaempíricaeconservadasnamemória,massãodedu-zidaspor generalizações, esta posição exclusivados anciãosvai gradualmentedecaindo”(Idem,ibidem). Aleisocialseimpõe,tambémnestecaso,aoselemen-tosdeordembiológica.
Adistribuiçãodo trabalhonacomunidadeconsoanteatributosfisiológicosresultanafixaçãodedeterminadosindivíduosnodesempenhodeatividadesprepa-ratórias, fazendosurgirasprofissões.Pensamos,principalmente,nafixaçãodasmulheresnofabricodeutensíliosenatecelagem,bemcomonoestabelecimentodealgunshomensnofabricodeinstrumentos.Emtodososcasos,afixaçãofazcomqueestesindivíduosdesenvolvamhabilidadesquetransponhamonormalnaqueleramodeatividade,desencadeandoosurgimentodosofíciosprofissionais.Dora-vante,oexercíciodoofíciojánãoderivadeatributosfisiológicos,masdoapren-dizado,àsvezesmuitolongo,doseusaber-fazer.Edadoqueadiversificaçãoemprofissões éumaconquistadaqual não épossível regredir, a própriadinâmicasocialpassaaalocarsempremaisbraçosementesaoseucultivo,impulsionando,
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assim,umacrescentediferenciaçãonoseiodacomunidade.Ofatobiológicoére-cobertopornormassocialmenteassentidas,comoqueadiferenciaçãonoseiodogênerohumanosegue,emtodososcasosaludidos,umadinâmicacujoimpulso,rotaeritmodependemdefatorespuramentesociais.
Estadiferenciaçãointernaàcomunidade,determinadaporleispuramenteso-ciais,mostra-secomtodaaforçanadivisãoentretrabalhomaterialeintelectual.Éfatoqueotrabalhoimplicadoistiposdeteleologiasqueserelacionamreflexivamen-te:asprimáriaseassecundárias.3Adivisãodotrabalhomaterialeintelectualtemseugermeplantadonofatodeque,comodesenvolvimentosocial,asteleologiassecundáriasvãoassumindocadavezmaisaformadeatividadesexclusivas,exigin-doadedicaçãoexclusivadealgumaspessoas,enquantoasoutrascuidamdatrans-formaçãodanatureza.Destaforma,começaaseengendrarumaseparaçãoentreosquelidamcomasatividadesorganizativasdasociedade(baseadasnasteleologiassecundárias)eosquesededicamaotrabalhonosentidoestrito(teleologiasprimárias).Oqueestáemtelaéosetornarautônomodasatividadespreparatórias(produçãodeinstrumentoseutensílios,estudodanatureza,planejamento,organizaçãoecontroledacomunidadeetc.)easdeexecuçãomaterialdo trabalho.Comaproduçãodeexcedentes,estadivisãosecruzaesedetermina,reflexivamentemesmo,comadi-visãodeclasses.Comefeito,asposiçõesteleológicassecundárias
[...]podemserpostasaserviçodeumdomínio,independentedequemsesirvadisto,porviaespontâneaouinstitucional.Daquiafrequenteligaçãodotrabalhointelectual,tornadoautônomo,comossistemasdedomínioclassista,aindaqueseusiníciossejammaisantigose,apesarde,nocursodalutadeclasses,comoseobservanoManifestoComunista,umapartedosprópriosrepresentantesdotrabalhointelectualsedeslocar,comumacertanecessidadesocial,paraoladodosoprimidosqueserebelam.(Lukács,1981,p.155)
Note-sequeaseparaçãoentretrabalhomaterialeintelectualdelimita,con-cretamente, a posiçãoqueos indivíduosocupamna esfera econômica e social.
3.Cf.Lukács(1981,p.155):“Asposiçõesteleológicasnecessárias[aotrabalho]são,comovimos,deduasformas:aquelasquevisamtransformar,comfinalidadeshumanas,objetosnaturais[...]eaquelasquetencionamincidirsobreaconsciênciadosoutroshomensparaimpeli-losaexecutarasposiçõesdesejadas.Quantomaissedesenvolveotrabalho,ecomeleadivisãodotrabalho,tantomaisautônomassetornamasformasdasposiçõesteleológicasdosegundotipo,etantomaispodemsedesenvolveremumcomplexoporsidadivisãodotrabalho.”
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Consequentemente,aligaçãoentreasatividadesintelectuaiseodomíniodeclasseé,antesdetudo,umaleisocial;valedizer,éumaligaçãoquesedeterminapelolugarocupadopelaspessoasnaestruturaeconômico-social.Elanãotrata,pois,deumaescolhaa prioridotipo“dequeladodevoficar?”.Antesqueosindivíduosseper-guntemporisto,elesjáocupamdeterminadaposiçãonumdosladosemquestão.Comefeito,aprópriaposiçãoqueosintelectuaisocupamnaestruturaeconômico--social,e,porconsequência,adefesaqueempreendemdeseusinteressesparticula-res(vinculadosaestaposição),ossituaemligaçãocomoexercíciodopoderdaclassedominante.
Istonãoquerdizerqueaquelaquestão“dequeladodevoficar”sejadespro-vidadeforçanasescolhasindividuais.Comefeito,oantagonismoestruturalins-tauradocomoadventodasclassessociaisdevetomaraformadeconfrontosparciaisoumaisoumenosglobaisentreasclasses.Medianteesseconfronto,osindivíduostomamciênciadesuavinculaçãodeclasseesãopremidosasepronunciarafavoroucontradeterminadosinteresses.Énessemomentoeemfunçãodasforçasdesa-brochadaspeloconflito,emvirtudedadireçãoconcretamenteassumidapelocon-fronto,queosintelectuaispodemrenegaraprópriaposiçãoesedisporabertamen-teafavordosoprimidos.
Duassuposiçõespodemsederivardadiscussãoprecedente.Primeira:nocasohumano,arelaçãoentreleigeraleparticularidadeéradicalmentediversadaquelaqueoperanaesferabiológica,porquantoogênerohumanoseformacomoleiobje-tivanamesmamedidaemqueoperaintensadiferenciaçãointerna.Asrelaçõesdaindividualidadecomageneridadesãofeitasporcadeiasdemediaçõescadavezmaisabrangentesecomplexas.Segunda:quantomaissedesenvolvemasmediações—esteadasamplamentenadivisãodotrabalho—,maisseengendrampossibilidadesdequeaspartessediferenciemeassumamdeterminadasposiçõesemconfrontocomaleigeral.Nocasoemepígrafe,ointelectualchegamesmoacontradizeranormageralaosepôraoladodosdominados.Aanálisedatrocaedovalor,cujaorigemradicanadivisãodotrabalho,reforçaráesancionaráateseaquisuscitada.
4. Divisão social do trabalho, troca e valor
EmO capital, Marxafirmaquecada“comunidadeencontradiferentesmeiosdeproduçãoediferentesmeiosdesubsistênciaemseuambientenatural”e,por
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isso,desenvolvemodosdeproduçãoeprodutosque,emcontrastecomosdeoutrascomunidades, revelamdiferençaseespecificidades.Tambémnestecomenos, setratadeumadivisãonaturaldotrabalhoquevaisersuplantada,dandolugaraumarepartiçãoocupacionalfundadaexclusivamenteemlaçossociais.Oveículofunda-mentaldestapassageméatroca,hajavistaoquelecionaMarx(1996,p.403):
Éessadiferençanaturalqueprovocaatrocarecíprocadeprodutoseemconsequênciaatransformaçãoprogressivadessesprodutosemmercadoria,aoentrarememcontatoascomunidades.Atrocanãocriaadiferençaentreosramosdeprodução,masesta-belece relações entre os ramos diferentes e transforma-os ematividadesmais oumenosinterdependentesdentrodoconjuntodaproduçãosocial.Adivisãosocialdotrabalho surgeaí atravésda trocaentre ramosdeproduçãoque sãooriginalmentediversoseindependentesentresi.
A divisão social do trabalho tem como veículo basilar a troca realizadaentrecomunidades.Comesta,umadiferenciaçãomeramentenaturalpassaaserrealizadasobformapuramentesocial,ouseja,adeterminaçãonaturalpassaaconstituirapenasabasesobreaqualseergueumconjuntoderelaçõeseconômi-casquejánãotêmnadadenatural:atrocadevaloresdeuso.Pormeiodesta,inicia-seoentrecruzamentodascomunidades,ummovimentodeintegraçãoemunidadescadavezmaisabrangentes,introduzindoasbasesparaaexplicitaçãodogênerohumano.
Atrocaéumelementoqueoperaemmãodupla:aomesmotempoquesupe-raalimitaçãonaturaldascomunidades,situando-asemrelaçãoumascomasoutrasdemodoatorná-lasinterdependentes—formandoumatotalidade,ouoconjunto da produção socialnacitaçãoacima—tambémimplicaumadiferenciaçãointernaàprópriacomunidade,sendoestaumelementoamaisnorecobrimentodosele-mentosnaturaisporcategoriaspuramentesociais.Comotempo,atrocadesbordaorelacionamentoentrecomunidadeseseinfiltranelasmesmastornando-seumamediaçãofundamentalnorelacionamentoentreasunidadesprivadasdeprodução,as famílias,edepoisentreospróprios indivíduosquecompõemacomunidade.Nestecaso,expressaMarx(1996,p.403):
[...]osórgãosparticularesdeumtodounificadoecompactosedesprendemunsdosoutros,sedissociam,sobainfluênciadatrocademercadoriascomoutrascomunida-desetornam-seindependentesatéaopontoemqueaconexãoentreosdiversostra-balhosseprocessaporintermédiodosprodutoscomomercadorias.Noprimeirocaso
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[natrocaentrecomunidades],oqueeraindependentesetornadependente;nosegun-do[atrocaentrefamíliaseindivíduos],oqueeradependentesetornaindependente.
Compreende-se,destaforma,comoadivisãodotrabalhooriginaatroca4 e esta,umaveztornadahábitosocial,agesobreaquela,alçando-aapatamaresmaiselevados.Dedoismodosatrocaimpulsionaadivisãodotrabalho:pelainserçãodecadaparticularismolocalnumconjuntoderelaçõesmuitomaisamploepeloim-pulsoqueforneceàdiferenciaçãointernadasprópriascomunidades.Evidentemen-te, ela surge tendopor pressuposto umestádio de desenvolvimento das forçasprodutivasqueoriginevaloresdeusonumaquantidadesuperioràsnecessidadesinternasdacomunidade.Elatambémpressupõequeodesenvolvimentodasneces-sidadessociaisatingiuumpontoemqueacomunidadejánãoaspodesupricomseutrabalhointernoe,porisso,recorreàstrocasfronteiriças.Estespressupostos,noentanto,encontramnapermutamercantilomóvelfundamentaldeseudesen-volvimento ulterior. Isto quer dizer que divisão do trabalho, forças produtivas,excedenteeconômico,necessidadessociaisetrocasmercantissãofatoresquesedeterminam,reflexivamentemesmo,nomovimentodareproduçãosocial.Enãoédemaisassinalarqueomodoea intensidadecomquepenetramometabolismoeconômico-socialdascomunidadesdeterminamocaráterestacionárioouprogres-sistadecadaformaçãosocialparticular.Ocontrasteentreomododeproduçãoasiáticoegreco-romanoéparticularmenteinstrutivoquantoaestefato.5
Atrocaseerguesobreabasedeprodutosquerespondemanecessidadesdacomunidadee,comisto,elaseligaàbasematerialdasociedade,valedizer,aotrabalho,comoformadeintercâmbiodohomem(sociedade)comanatureza.Elamesma,porém,sópodeemergircomorelaçãoentrecomunidadeseposteriormen-teentreosindivíduosdamesmacomunidadecomoproprietáriosprivados,oquelheconfereocaráterdemediaçãosocialmedianteaqualosvaloresdeusopodemsuprirasnecessidadescomunais,familiaresouindividuais.
Estedeterminismosocialatesta-seaindamaisintensamentenomomentoemqueatrocasetornaotipodemediaçãofundamentalnainteraçãoentreaspessoas,
4.EsteéumpontoderupturadeMarxcomateoriaeconômicaclássica.Smith(1996),porexemplo,afirmaqueadivisãodotrabalhoderivadapropensãonaturaldoshomensaointercâmbiodeseusprodutos.ParaMarxéoexatooposto:adivisãodotrabalhodáorigemàtroca.VeraesterespeitoSweezy(1986,p.31-3).
5.Verificaraesse respeitoa seção intitulada“Formasqueprecederamaproduçãocapitalista”,dosGrundrisse(Marx,2011,p.388-423).
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sejanoqueconcerneàsatividadesprodutivas,sejanoâmbitodasatividadesres-ponsáveis pela reprodução social.Nestemomento, os produtos do trabalho setornammercadoriasnãojáemdecorrênciadeumaespecializaçãodotrabalhonascomunidades—eporissoestastenhamdetrocarseusprodutosparasatisfazerasnecessidadesquenãoconseguemsuprircomseuprópriotrabalho—,masprinci-palmenteporqueatrocaseuniversalizouenquantoformadesocializaçãodostra-balhossingulares.Estesmesmos,paraseinseriremnoconjunto da produção social,hãodesermediadosporatosdetroca.Consequentemente,otornar-semercadoriadosprodutosdotrabalhodeixadeserummovimentoa posteriorieassumeacon-diçãode pressuposto da própria produção, porquanto o trabalho é tornado, elemesmo,mercadoria.Istosignificaumalargamentosubstantivodasdeterminaçõessociaissobreoscondicionamentosnaturaisdaexistênciadohomem.ComopensaLukács(1981,p.141):“Odevirmercadoriadosprodutosdotrabalhorepresenta,portanto,estágiosuperiordesociabilidade;significaqueomovimentodasocieda-deédominadoporcategoriascadavezmaispuramentesociaisenãomaissomen-tenaturais.”
Acrescentesocializaçãotorna-semaisevidenteaosetomarovalornaquali-dadedeprincípioreguladordoscâmbiosmercantiseemcujoconteúdoeformajánãohabitanenhumátomodenatureza.Ovalorsópodeviràtonacomoexpressãodedeterminadasrelaçõessociais,istoé,comomanifestaçãodeumaformadereci-procidadesocialfundadanapropriedadeprivadaenatrocamercantil.Omovimen-todeuniversalizaçãodastrocascomerciaisétambémomotopeloqualovalorpodeseerguercomoabstraçãogeralquepresideointercâmbiodasmercadoriase,porestavia,areciprocidadenoplanoeconômicoesocial.Ovaloré,pois,umaabstra-ção no exato sentido de que supera as singularidades diferenciadoras de cadamercadoriaedostrabalhosqueasengendraramreduzindo-osaúnicadimensão:àquantidadedetemponecessárioparasuaprodução.Portanto,dizerquesecuidadeumaabstraçãoengendradanoâmbitodasrelaçõessociaisnãosignificaumaindi-ferençadacategoriavaloremrelaçãoaosvaloresdeuso,tampoucoquersinalizarparaalgumespiritualismovazio.Estaformadesituaroproblemaapenasesclareceserovalorumaentificaçãoaindamaissocialmentepuradoqueoprópriovalordeusoqueacompanhaohomemdesdequesepôsdepépelotrabalho.Intentamosexprimiraindaqueovalorsóseengendraeoperanoâmbitodeumarelaçãorefle-xivacomovalordeuso—umdadodanaturezasocialmentetransformado—comoqueeleseligaàproduçãomaterialdavida.Estaligaçãocomabasenaturalsobreaqualrepousaareproduçãodavidahumana,contudo,
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[...]nãodiminuiemnadaograndepassoadianterealizadopelasociabilidade,oemer-giresefazeruniversaledominantedovalordetrocacomomediadorpuramentesocialdasrelaçõesrecíprocasentreoshomens.Aocontrário.Éjustamenteestamediaçãoquefazsurgirnapráxisdoshomensrelaçõessociaistãoimportantesque,umavezconscientes,tornamasrelaçõesaindamaissociais.(Lukács,1981b,p.142)
Auniversalizaçãodatrocaedovalorcomomediaçõesfundamentaisdaso-ciabilidadeimplicaacentralizaçãodavidaeconômico-socialemtornodacategoriatempode trabalho socialmente necessário; é este, devidamente elaborado, queforneceemconcretoagrandezadevalordasmercadoriaseapenasotendoporbaseatrocapodeseuniversalizar(Marx,1996,p.45-46).Asubstânciadovalornãopoderadicaremnenhumapropriedadeparticulardasmercadorias,tampouconostrabalhossingularesquelhesdãoorigem;ovalortemdeterminaçãofundamentalnotrabalhoemgeral,oumelhor,noquantumdetrabalhoestabelecidosocialmenteparaaproduçãodasmercadorias.E,comootrabalhosemedeemtempo,então,asubstânciadovalorsópodeserotempodetrabalhosocialmentenecessárioàpro-duçãodasmercadorias.Napresençadestacategoria,ostrabalhossingularesadqui-remdeterminaçãopuramentesocial,jáqueéaleisocialquedeterminaotempoeograudehabilidademédiaparaaexecuçãodecerta tarefae,ademais,esta leidelimita concretamente o quantumdetrabalhovivorequeridonareproduçãoeco-nômicaesocial.
Comisto,antesdemaisnada,otempodetrabalhoindividualrequeridoparaafabri-caçãodeumprodutoadquireumadeterminidadequetranscendeodadonatural.Nosprimeiríssimosestágiosdotrabalhoacoisaprincipaleraonascimentodoproduto:otemponecessárioparaobtê-loeraassuntodeimportânciasecundária.Domesmomodo,adiversidadedosrendimentosdostrabalhossingularesoriginalmenteerafundadanascaracterísticasbiológicas(atépsíquicas)dosindivíduos.Somenteemumdetermina-doníveldoprocessodeproduçãoetrocasurgeotempodetrabalhosocialmentene-cessáriocomoverdadeiracategoriasocial.(Lukács,1981b,p.143)
Otempo,comoumdadodenatureza,constituipresençaconstantenavidahumanae,semdúvida,forneceualgumparâmetroparaareproduçãosocialemqualquerperíododahistória.Somentecomauniversalizaçãodastrocasmercan-tis,todavia,elesetornaumacategoriaelaboradasocialmente,conformesede-preendedaanálisedeMarxsobreafantasiosasituaçãodeRobinsonCrusoé,osolitáriohabitantedailhaselvagemtãoagostodosteóricosdaeconomiaclássica:
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nascondiçõesemqueseencontra,talhomem“temdesatisfazerdiferentesne-cessidades e, por isso, é compelido a executar trabalhos úteis diversos, fazerinstrumentos, fabricarmóveis, domesticar lamas, pescar, caçar. [...]Apróprianecessidadeobriga-oadistribuir,cuidadosamente,seutempoentresuasdiversasfunções”(Marx,1996,p.85).Aquitemosotemposervindodeparâmetroparaaalocaçãodasenergiaspessoaisdanossafiguraliterária,masadivisãodotempoaqueapersonagemdeDanielDefoesevêobrigadanãoderivadeumasançãosocial:ela,nasolidão,temdededicarparcelasdoseutempoàsatividadesneces-sáriasasuaexistência.
OimperativoqueobrigaRobinsonCrusoéaseocupardesuasdiversasativi-dadessegundoumtempodeterminadocorrespondeàleisocialquenaproduçãomercantilestabeleceumquantumdeterminadodetempoeumgraumédiodeha-bilidadeparaaexecuçãodedeterminadastarefas.Adiferençafundamentalentreosdoisexemplosresidenofatodeoprimeiroserumacriaçãofantasiosaeooutrocorresponderàrealidade,bemcomonofatodeque,paraapersonagem,adistri-buiçãodotemponasdiversastarefaséprerrogativasuacomohomemisoladodetodocontatohumano,aopassoque,naproduçãomercantil,aalocaçãodostrabalhosparticulareséatributodomovimentoespontâneodastrocasqueestabelece,porsimesmo,aquantidadedetempoedeesforçosqueasociedadedevedispensaremcadaumadasatividadesnecessárias.Emconsequência,adistribuiçãodotempoparacadatarefatransparececristalinamenteparaCrusoéeéassumidacomoposiçãoconsciente; jánocasoda formaçãosocialcapitalista,adistribuiçãodo trabalhosocialsegundoumtempoassentidosocialmentenãotranspareceaosindivíduos,porquantoaparecesobaformafetichizadadecoisasquesetrocam.Trata-sedeumaleidasociedadedaqualaspessoasapenassofremasconsequências,masnãoaconhecemnemacontrolam,sendoporeladominadas.
TambémnaIdadeMédiaeuropeia,quandoa“dependênciapessoalcaracteri-zatantoasrelaçõessociaisdaproduçãomaterial,quantoasoutrasesferasdavidabaseadasnessaprodução”,(Idem,ibidem,p.86),otempodetrabalhoconstituiareferênciaconcretasobreaqualsetecemasrelaçõeseconômico-sociais.Emvir-tude,porém,deaformasocialcoincidirdiretamentecomsuaconfiguraçãoconcre-ta,adistribuiçãodotrabalhosegundootempoéumarealidadecristalinae
cadaservosabequequantidadedesuaforçapessoaldetrabalhodespendenoserviçodosenhor.[...]Noregimefeudal,sejamquaisforemospapéisqueoshomensdesem-penham,aoseconfrontarem,asrelaçõessociaisentreaspessoasnarealizaçãodeseus
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trabalhosrevelam-secomosuasprópriasrelaçõespessoais,nãosedissimulandoemrelaçõesentrecoisas,entreprodutosdotrabalho.(Marx,1996,p.86)
Omesmoocorrenareproduçãodeumafamíliacamponesaqueproduzparaasprópriasnecessidades.Talcomoacontececomapersonagememsuailhaenso-larada,afamília—comocorposocialquetrabalha—temquedistribuirparaosindivíduosasdiversastarefascomvistaasuprirasnecessidades,eistoéfeitodeacordocomumtempodeterminado.Nestecaso,“asforçasindividuaisdetrabalhooperam,naturalmente,comoórgãosdaforçacomumdetrabalhodafamíliae,porisso,odispêndiodas forças individuaisde trabalho,medidopelo tempodesuaduração,manifesta-se,aqui,simplesmente,emtrabalhossocialmentedeterminados”(Marx,1996,p.87).
Vê-se,comefeito,queadistribuiçãosocialdotrabalhosegundooprincípiotemporalnãopressupõeatrocamercantil.Trata-se,antes,deumamanifestaçãoqueserevelaemváriasformaçõessociais,muitoemboranassociedadespré-capitalis-tasnãose tenhafundadoaindaumaleisocialquedeterminaamédiade temponecessárioeograumédiodehabilidadeparacadatrabalhosingular.Nosexemplostratadoshápouco,ostrabalhossingularesseinseremdiretamentenatessituradolabor social total enãomediadospela troca.Asmediaçõesaíoperantes sãodeoutraordemesetecemcomorelaçõesdedependênciapessoal,laçosconsanguíne-osefamiliares,eostrabalhossingularessãolevadosemcontasegundoasuauti-lidadeeosatributospessoaisnelesimpressos.Nesseâmbito,otempoemergecomoobjetividadenaturalque,semdúvida,fornecealgumparâmetroparaadistribuiçãodostrabalhosnotecidosocial,porémaindanãoassumiuumadeterminatividadesocialqueofaçaumaleireguladoradetodaaproduçãoecirculaçãoeconômico--social.Aprópriaproduçãomaterial,umavezquenãosevoltaparaavalorizaçãodovalor,mastãosomenteparaoatendimentodasnecessidadesdacomunidade,nãogravitaàórbitadoquantum detempoempregadonarealizaçãodosprodutos.Emverdade,oqueinteressaéovalordeusodosprodutosdotrabalho.Emfunçãodessacaracterísticadereproduçãodessassociedades,otempodetrabalhoapareceaícomodeterminaçãoemsi,naturaleespontaneamenteaceita,diferentementedoqueacontecequandoaproduçãoeconômicapassaaserregidapelalógicamercan-til: aqui,o temponaturaléelaborado,é instituídocomo lei socialque regulaaproduçãoereproduçãodasociedade,ecadatrabalhosingulartemdeseadequaraestaleisancionadasocialmente.Tudosefaz,aqui,emfunçãodotempo.ÉoTime is Moneybenjaminiano.
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“Somenteemumdeterminadoníveldoprocessodeproduçãoetrocasurgeotempo de trabalho socialmente necessário como verdadeira categoria social”(Lukács,1981b,p.143). Istoquerdizerquea longauniversalizaçãodas trocasmercantiscomoformadereciprocidadesocialconstituiomovimentopeloqualotempodetrabalhosocialmentenecessárioseengendracomoforçadeterminativaquecondicionaainserçãodostrabalhossingularesnoconjuntodaproduçãoeco-nômica.Éumavitóriadasociabilidadeque,porsobreaspeculiaridadesdecadatrabalhosingularedoseuproduto,seergamdeterminaçõespuramentesociaiscomoatroca,ovaloreotempodetrabalhosocialmentenecessário,jáqueelasapenasexpressamumaformadeserdareproduçãoeconômico-socialnãomaisdetermina-daporforçasnaturais.NaspalavrasdeLukács,“asociabilizaçãodaproduçãonatroca demercadorias, com todas as suas formas fenomênicas necessariamentecontraditórias,éumveículoobjetivodoprogressoemdireçãoàsociabilidade”.
Estamosaquiperanteumacategoriaque,aexemplodoexcedenteeconômico,exprimecarátercontraditório.Comefeito,otempodetrabalhosocialmenteneces-sárioconstituiumavançodopontodevistadasocializaçãodareproduçãoeconô-mico-social,porémseefetivanocapitalismosobofetichemercantil,servindodebaseeparâmetroparaaexploraçãodotrabalhopelocapital.Isto,entretanto,nãoinvalidasuanaturezadecategoriapuramentesocialque,umaveztornadaconscien-te e assumida livremente na práxis social dos homens, deve se interverter emcondiçãodaemancipaçãohumana.
Numa“sociedadedehomenslivres,quetrabalhamcommeiosdeproduçãocomuns,eempregamsuasmúltiplasforçasindividuaisdetrabalho,conscientemen-te,comoforçadetrabalhosocial”(Marx,1996,p.87),otempodetrabalhoassumeoutraformaaoseprestarafunçõessociaisprofundamentediversasdaquelasassu-midasnocapitalismo.Mediadosporformasdeorganizaçãoconscientementecria-das,oshomenscontrolamaproduçãonasuaglobalidadee,porisso,atotalidadedeforçasquepõeaeconomiaemmovimentoselhestransparececomoextensãodesuasprópriasforças.Otempodetrabalhodesempenharia,nestascircunstâncias,duplafunção:regularaproporçãoentreasdiversasfunçõeseasnecessidades,bemcomomediraparticipaçãodosindivíduosnasatividadescomunitáriasenousufru-todariquezaproduzidasocialmente.Aeconomiadetemponaproduçãocria,assim,aspossibilidadesconcretasdoricodesenvolvimentofísicoeespiritualdoshomens,pois:“Tantoparaoindivíduosingular,comoparaasociedade,aomnilateralidadedoseudesenvolvimento,dasuasatisfaçãoedasuaatividadedependedaeconomiadetempo”(MarxapudLukács,1981b,p.143-44).
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Oprogressofeitopelaformasocialcapitalistaconsiste,nesteparticular,emtercriadoforçasprodutivaseformasdeintercâmbiouniversais.Asprimeiraspõemabasedadiminuiçãoprogressivadotrabalhonecessárioàproduçãoeconômicaedaconsequenteliberaçãodetempoparaoutrasatividades.Ejáqueointercâmbioserealizanoplanomundiallastreadoempremissaspuramentesociais,abre-seumlequedepossibilidadesconcretasdequeelesejaassumidoedirigidoconsciente-mentepeloshomens.Paratanto,énecessáriosuperarasmediaçõesalienadasquesustêmogênerohumano,dentreasquaissedestacamapropriedadeprivada,ocapitaleoEstado.
5. Conclusão
Aposiçãodaatividadehumanasensível—apráxis—comofundamentodoser social instauraumaontologia críticaque supera a exterioridade comqueoidealismoeomaterialismotrataramasrelaçõesentreessênciaefenômeno,univer-salidadeeparticularidade,generidadeeindividualidade,objetividadeesubjetivi-dade.Apráxisimplicaqueasubjetividadeseconfirmanamedidaemqueintervém,ativaeprodutivamente,sobreomundoexterior,oqualofereceoslimitesepossi-bilidadesdaaçãodosujeito,namedidamesmadesuaplasticidadeoudesuama-leabilidadeparaseroutro,comoassinalouChasin(1995).
Omundohumanoemerge,assim,comoprocessofundadonassíntesesrela-cionaisdaspráxishumanas.NacompreensãodeLukács(1981b,p.186),
énestassomasesíntesesqueseexprime[...]acontinuidadedosocial.Elasconstituemumtipodememóriadasociedade,queconservaoadquiridodopassadoedopresen-tefazendodelesosveículos,aspremissas,ospontosdeapoioparaodesenvolvimen-tofuturo.
Taissíntesesrelacionaisconstituem,precisamente,asforçasgenéricasres-ponsáveispelaproduçãoefixaçãodasobjetivaçõeshumanas.Ostraçoscomunsàsváriasetapasdaevoluçãohistóricacorrespondemàquiloquenatradiçãofilosóficasechamoudeessênciahumana—agorareveladacomocriaçãohistórica.
Otraçocaracterísticodaentificaçãoprogressivaeprocessualdogênerohu-mano,comotencionamosdemonstrar,édadopelocrescimentoextensivoeinten-
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sivodeelementossociaiseaconsequenteregressãodoscondicionantesnaturais.Intentamosdizerqueascondiçõesdeexistênciadohomemsãocadavezmenosdadaspelanaturezaecadavezmaisproduzidassocialmente.Asprofundastrans-formaçõesoperadas napráxis do trabalho, desde a fabricaçãodemachadosdepedraatéaconquistadoespaçoeamicroeletrônica, impulsionarameexigiramtransformaçõesdemesmamontanasformasderelaçõessociais.Oprogressonodomíniodanatureza—facilmenteintuídonoâmbitodotrabalho—foiacompa-nhadodoprocessodeaumentoecomplexificaçãodasmediaçõessociaisqueinter-ligamohomemeogênero.Osurgimentodasclassessociaiseodecomplexosparciaiscomoapolítica,aeducaçãoescolar,odireitoeovalordetrocacomore-guladordaeconomiadãoprovadisto.Daíépossívelderivaroseguinte:ogênerohumanoproduzleisquetendemàuniversalização(leidovalor,mercadomundial),tornando-secadavezmaisunitário,oquesópodeocorrerpeladiversificaçãodasmediações internas, valedizer, pela expansãoe aprofundamentodasdiferençasparciais.Éesteoterrenoondesurgeesereproduzaindividualidadeouapersona-lidade,hojemistificadapelaideologiadoindividualismopossessivonarcísico.
Recebido em 17/7/2012 ■ Aprovado em 10/12/2012
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