PRIORIDADES COMPETITIVAS E O
PROCESSO PRODUTIVO: ESTUDO DE
CASO NO BENEFICIAMENTO DE
COURO
Estefani Silva Rocha (UNIFRAN)
Fernanda Neves da silva (UNIFRAN)
Paulo Renato Pakes (UNIFRAN)
Glauco Fabricio Bianchini (UNIFRAN)
Carlos do Amaral Razzino (UNESP)
Este artigo analisa o processo produtivo de uma empresa de
beneficiamento de couro do interior do Estado de São Paulo. Para isto,
realizou-se a análise do projeto de processos, do layout de produção e
das prioridades competitivas às quais se submete o sistema de
produção. Realizou-se um estudo de caso único em uma empresa
fornecedora de couro para as indústrias de sapatos e bolsas. Por meio
de visita técnica foi possível descrever as etapas do processo
produtivo, evidenciando o projeto de processos utilizado e o layout
produtivo. Além disso, em entrevista realizada com gestores foi
possível identificar as prioridades competitivas de produção.
Observou-se que: a) o projeto de processo utilizado é o de produção
em lotes; b) o layout produtivo é o linear; e c) as prioridades
competitivas do sistema de produção são confiabilidade, qualidade e
flexibilidade.
Palavras-chave: Processo Produtivo; Beneficiamento de couro;
Prioridades Competitivas
XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens
avançadas de produção” Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.
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1. Introdução
A cadeia produtiva do couro abrange os setores de curtumes, calçados, componentes,
máquinas e equipamentos para calçados de couros, artefatos, além de artigos de viagem reúne
mais de dez mil unidades industriais (CENTRO DAS INDÚSTRIAS DE CURTUMES DO
BRASIL, 2016).
A indústria de couros brasileira, constituída pelos segmentos de curtumes e de artefatos de
couro, é formada, em sua maior parte, por empresas de pequeno e médio porte e de capital
predominantemente nacional. O país é um dos cinco maiores produtores mundiais. Por conta
disso, esse segmento apresentou elevação em suas exportações de couros e peles no mês de
abril de 2016. Foram 15,9 milhões de metros quadrados vendidos para o exterior no período.
Isso significa uma alta de 2,3% em relação à metragem comercializada em abril de 2015 (15,5
milhões). Em reais, o valor exportado de janeiro a abril chegou à marca de R$ 2,6 bilhões, ou
seja, 7,1% a mais ante o mesmo período de 2015 (R$ 2,4 bilhões) (CENTRO DAS
INDÚSTRIAS DE CURTUMES DO BRASIL, 2016).
Dada a importância da indústria do couro para a economia nacional, este artigo teve como
objetivo a análise do processo produtivo de uma empresa do setor de produção de
beneficiamento do couro. Para isso, analisou-se seu projeto de processo, seu layout e a
estratégia competitiva, por meio das cinco prioridades competitivas: custo, qualidade,
flexibilidade, velocidade e confiabilidade de entrega.
No nível estratégico de um sistema de produção, durante sua etapa de projeção da fábrica,
deve-se decidir sobre o tipo básico de organização do processamento da produção a ser usado
para produzir o produto. Considerando as dimensões volume de output e variedade de output,
Neumann e Scalice (2015) sugerem que existem diversos tipos de projetos de processos,
conforme a relação entre estas duas dimensões. Dessa forma, os autores apresentam 5 tipos de
projetos de processos, em termos de volume e variedade, sendo eles: a) projeto; b) jobbing; c)
produção em lotes ou bateladas; d) produção em linha; e e) produção contínua.
Ademais, a seleção de um projeto de processos tem impacto direto sobre a seleção do layout
ou arranjo físico da unidade produtiva. De acordo com Slack, Chambers e Johnston (2009),
existem 4 tipos de layout, sendo eles: a) Layout de Processo; b) Layout por Produto ou
Linear; c) Layout Posicional; e d) Layout Celular.
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Já no que se refere às prioridades competitivas de um sistema de produção, Hayes et al.
(2008) sugerem que estas podem ser compreendidas também como objetivos de desempenho
que conduzem a linha de produção. Os autores consideram cinco prioridades, sendo elas:
qualidade, velocidade, confiabilidade de entrega, flexibilidade e e) custo.
Este artigo teve como objetivo a análise da organização industrial de um sistema de produção
de uma empresa do setor de beneficiamento de couro. Para isso, realizou-se um estudo de
caso único em uma empresa situada no interior do Estado de São Paulo.
Este artigo está estruturado em seis seções. A seção 2 apresenta uma revisão de literatura
sobre projeto de processos, layout e prioridades competitivas de desempenho. A seção 3
apresenta os procedimentos metodológicos utilizados para realização da pesquisa. A seção 4
apresenta a descrição do caso e os resultados. A seção 5 apresenta as considerações finais. A
seção 6 apresenta as referências.
2. Revisão de Literatura
2.1 Projetos de Processos
O projeto de processo é a posição de uma operação no continuum “volume-variedade” (Figura
1), a qual determina a abordagem geral para gerenciar os processos, ou seja, determinam os
tipos de projetos de processos. Cada tipo de processo em manufatura implica uma forma
diferente de organizar as atividades das operações com diferentes características de volume e
variedade (NEUMANN; SCALICE, 2015).
Figura 1 - Continuum Volume-Variedade em Sistemas de Produção
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Fonte: Adaptadado de Neumann e Scalice (2015)
Em processos de projeto ocorre a produção de produtos discretos com maior customização,
menor volume e maior variedade, além de existir um tempo de execução longo e os recursos
são exclusivos, dedicados a cada projeto. As atividades envolvidas na execução do produto
podem ser flexíveis e incertas, às vezes modificando-se durante o próprio processo de
produção.
Em processos do tipo jobbing ou Job-Shop também possuem como característica baixo
volume e alta variedade. Porém, enquanto que em processos de projeto cada produto possui
recursos especificamente para ele, em processos de jobbing os recursos da produção são
divididos entre eles. A operação processa uma série de produtos que diferirão entre si por suas
características.
O processo de produção em lotes ou bateladas tem menor grau de variedade e é caracterizado
por um alto volume, além de produzir mais de um produto e ocorrer repetição da operação no
período em que está sendo processado o produto. Sua adaptabilidade exige uma mão de obra
especializada, devido às constantes mudanças de calibragens, ferramentas e acessórios.
No processo de produção em massa ou em linha ocorre a produção com atividades repetitivas
e previsíveis de produtos padronizados. Apresenta alto volume e variedade relativamente
baixa de produtos. As diferentes variantes do produto não afetam o processo básico de
produção. Permite que os trabalhadores concentrem a atenção no processamento da peça,
garantindo também a padronização de cada produto.
Por fim, o processo de produção em massa do tipo contínua é utilizado com volumes ainda
maiores que a produção em massa. Ocorre variedade menor que a produção em massa,
operam por longos períodos de tempos, em certos casos de maneira ininterrupta. Um processo
contínuo é o extremo da produção em grande volume e padronizada com fluxos de linha
rígidos. De uma maneira geral, um material principal (como um líquido, um gás, um pó)
move-se sem interrupção pelas instalações.
2.2 Layouts de unidades de manufatura
O projeto do arranjo físico ou layout busca uma combinação otimizada das instalações
industriais e de tudo que concorre para a produção, dentro de um espaço disponível. O
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objetivo geral de um layout é proporcionar um fluxo de trabalho de materiais otimizado ao
longo da fábrica (NEUMANN; SCALICE, 2015).
Os layouts são classificados como: a) Layout de Processo; b) Layout por Produto ou Linear; c)
Layout Posicional; e d) Layout Celular.
Figura 2 - Continuum Volume-Variedade em Sistemas de Produção
Fonte: Adaptado de Neumann e Scalice (2015)
No layout de processo, cada unidade de trabalho tem seus equipamentos específicos e os
produtos devem ser processados em cada uma delas. Este tipo de arranjo físico é de empresas
que trabalham com uma alta variedade de produtos e com baixo volume dos mesmos.
No layout por produto ou linear, é o caso da linha de montagem, os equipamentos estão
organizados para que os produtos passem de forma contínua e ágil pelo arranjo físico. Comum
em produções contínuas com baixa variedade e alto volume.
No layout posicional, é um tipo de arranjo físico o qual o produto está num único local e vai
sendo processado sem sair do lugar, ali equipes montam seus "canteiros" de obra.
Já no layout celular, é o tipo de layout que mescla características do layout de processos com
layout por produtos. As unidades/processos estão bem definidas no arranjo físico, porém em
alguns espaços são criadas pequenas células que contém todos os equipamentos necessários
para um determinado produto. Assim se ganha mais velocidade naquele produto, dentre os
vários outros, pois este possui maior volume.
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Por fim, existe a possibilidade do layout combinado, sendo este uma combinação de dois ou
mais tipos de layout dentro de uma fábrica.
2.3 Prioridades Competitivas
Segundo Slack, Chambers e Johnston (2009), é responsabilidade de a função produção
compreender os objetivos de seus stakeholders e estabelecer seus objetivos de desempenho
(ou prioridades competitivas), os quais formam o pano de fundo para o processo decisório da
produção. O nível operacional requer um conjunto de objetivos estritamente definidos, que se
relacione especificamente a sua tarefa básica de satisfazer as exigências dos consumidores.
De acordo com Hayes et al. (2008), existem cinco dimensões de prioridades competitivas,
são elas: qualidade, velocidade, flexibilidade, confiabilidade de entrega e custo.
O objetivo de desempenho qualidade se refere a fornecer bens e serviços isentos de erros, de
modo a satisfazer os seus consumidores. Empresas que focam em qualidade, podem atrair
seus clientes por maior qualidade, em termos de desempenho, aparência ou características,
mesmo que acompanhada de maior preço.
O objetivo de desempenho velocidade se refere a minimizar o tempo de processamento
considerado como o lead time de fornecimento. Dessa maneira, a empresa aumenta a
disponibilidade de seus bens e serviços e consegue a vantagem em rapidez.
O objetivo de desempenho confiabilidade se refere a manter os compromissos de entregas
assumidos com os seus clientes, ou seja, entregar o produto no tempo prometido ao
consumidor. Ao cumprir este objetivo, a empresa terá a vantagem de confiabilidade,
permitindo até mesmo, a redução de estoques. As empresas podem focar em confiabilidade
oferecendo produtos ou serviços que podem ser mais caros e com menor desempenho,
entretanto, que funcionam como o especificado.
O objetivo de desempenho flexibilidade se refere à capacidade de adaptar-se às novas
necessidades do consumidor, mudando a sua atividade produtiva. Pode ser desdobrada em
flexibilidade de produto/serviço, de composto, de volume e de entrega. Esse objetivo de
desempenho determina uma flexibilidade não só do setor produtivo como da manutenção. A
equipe deve ser treinada para reagir rapidamente a sinais de mudança.
O objetivo de desempenho custo visa trabalhar dentro de baixos níveis de custo para que o
preço seja uma vantagem competitiva à empresa e assegurando assim, o retorno financeiro à
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organização. Empresas que focam no custo, por exemplo, podem oferecer do produto/serviço
por menor preço.
4. Método
Os métodos de pesquisa devem ser pensados como uma estrutura e orientação geral para
condução de uma investigação (BRYMAN, 1989). Para esta pesquisa o método escolhido em
função de sua adequação com a abordagem e contingências da pesquisa foi o estudo de caso.
Creswell (1997) define o estudo de caso como a exploração de um sistema limitado ou um
caso ou múltiplos casos que envolve coleta de dados em profundidade e múltiplas fontes de
informação em um contexto. Para Yin (2010), um estudo de caso é uma investigação empírica
que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto de vida real,
especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente
definidos.
Segundo Yin (2010), os estudos de caso se classificam em três possibilidades: (1)
exploratório, (2) descritivo, e (3) explanatório (ou explicativo). No primeiro caso, deseja-se
conhecer com maior profundidade questões pouco conhecidas. Já o segundo, está mais
preocupado com a descrição da situação. E o terceiro caso se volta a possibilidades de
explicação de causas.
Este estudo de caso pode ser classificado como descritivo, tendo em vista que se refere à
descrição de um fenômeno previsível e já explorado. Ademais, cabe denotar que é um estudo
de caso único, com análise dentro de único contexto.
O estudo de caso único foi realizado em uma empresa de beneficiamento de couro, localizada
no interior de São Paulo. Foi realizada uma visita à empresa em novembro de 2016, onde
puderam ser coletado os dados, por meio de observação dos processos de produção,
entrevistas e apresentação da empresa pela engenheira de produção responsável.
5. Resultados
A apresentação dos resultados se divide em 4 subseções: a) apresentação do caso, na qual
ocorre a descrição da empresa estudada, número de funcionários, principais produtos e outras
características da empresa; b) análise do projeto de processos, na qual ocorre a identificação
do projeto de processo utilizado pela empresa; c) análise do layout de manufatura, na qual
ocorre a identificação do layout utilizado para a produção do couro; d) análise das prioridades
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competitivas de produção, na qual ocorre a identificação dos objetivos de desempenho
operacionais que regem o sistema de produção.
5.1 Apresentação do Caso
A empresa visitada, localizada no interior de São Paulo, é responsável pela venda de couros
para marcas multinacionais da indústria de sapatos e será chamada de Empresa X. A empresa
produz em média 300 mil metros de couro por mês. A empresa utiliza somente couro bovino
já curtido ao cromo, fornecidos de curtumes parceiros. A prioridade por couro já curtido se
deve a diferença entre o couro curtido e o cru, devido a reações diferentes ao calor e à água. O
couro cru endurece no calor e apodrece quando molhado novamente. O couro curtido, por
outro lado, continua flexível no calor e não apodrece quando molhado. Dessa forma, trabalhar
com o couto já curtido permite a empresa reduzir custos possíveis custos operacionais e
relacionados às perdas de matéria-prima.
O couro passa por várias etapas, sendo que cada delas há um processo de qualificação, o qual
é um processo de verificação das conformidades dos requisitos pré-estabelecidos.
A empresa possui em torno de 250 funcionários, entre técnicos, engenheiros, assistentes de
produção e operadores. A maioria dos funcionários do chão de fábrica não possui formação
acadêmica ou técnica. Já os cargos de supervisão são ocupados por técnicos. Os funcionários
que gerenciam a linha de produção possuem uma qualificação maior, sendo eles engenheiros
graduados ou técnicos experientes.
A empresa X exporta 30% da sua produção, referente ao ano de 2016, esta produção
representa uma receita entre US$30 e US$ 50 milhões. Seus principais mercados, além do
Brasil, são outros países de regiões da América de Sul, América Central, Leste e Sudeste da
Ásia, União Europeia e Caribe.
5.2 Análise do projeto de processos
A resposta da demanda de produção da empresa é feita sob encomenda, conforme os pedidos
de lotes requeridos pelos os clientes. Desta forma, um lote de couro somente passa a ser
produzido a partir do momento em que uma ordem de pedido é requisitada. A empresa produz
variadas cores de couros em torno de 15 texturas diferentes, cada peça é encomendada e feita
conforme o pedido do cliente.
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A primeira etapa do processo ocorre com a inspeção dos couros fornecidos por parceiros. O
processo é conhecido na empresa como processo de qualificação e armazenamento, cujo
supervisor deste setor qualifica os couros que chegam dos curtumes parceiros, verificando os
quais possuem defeitos ou tamanhos irregulares, para devolução, e quais estão conforme com
o padrão da empresa, para armazenamento. Após esta qualificação, os auxiliares estocam os
couros de acordo com cada destino da produção.
Os couros armazenados são levados para o Fulão de Remolho. Nessa etapa, os couros são
molhados com água à temperatura de 40ºC, para evitar o ressecamento. A Figura 3 apresenta
este processo. Após isso, o couro é passa pela enxugadeira, onde se retira o excesso de água,
deixando-os quase secos, com características mais finas e maleáveis, e depois disso, são
colocados em repouso.
Figura 3 - Fulão de Remolho e Enxugadeira
Fonte: Pesquisa de Campo
A próxima etapa é o corte do couro, de acordo com o tamanho solicitado. A Figura 4
apresenta esta etapa do processo. O couro passa pela máquina divisora, que faz o corte
conforme o tamanho programado. Ao sair da máquina os funcionários conferem os tamanhos
em uma mesa de medição. Depois, realiza-se o processo de refila, cortando as rebarbas. Em
seguida, o couro é carimbado na região da cabeça do animal, por ser uma região mais nobre,
para fins de rastreamento no processo produtivo.
Figura 4 - Divisora e Carimbo
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Fonte: Pesquisa de Campo
Na sequência, o couro passa por fulões de recurtimento, cujas funções são colorir e amaciar.
Adiante, descarrega-se dentro de caixas com água para ficarem de molho.
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Figura 5 - Togle e Prensa à Vácuo
Fonte: Pesquisa de campo
Após essa etapa, o couro passa pela máquina chamada Togle, apresentada na Figura 5, cuja
função é estirá-lo e retirar o excesso de água. Esta máquina abre-o para poder passar pela
máquina de prensa à vácuo, a qual faz secagem do produto, deixando-o quase seco. A
secagem por completo é feita por meio do aéreo. Este método é realizado para materiais mais
delicados. Para materiais mais rústicos, o processo de secagem é feito através de um forno,
que sai seco por completo, diretamente, por ser uma temperatura alta.
Posteriormente, o couro passa para a seção de classificação, onde é feita uma verificação do
produto, sendo analisado minuciosamente se possui algum defeito ou manchas. Caso possuam
imperfeições, eles são refugados. Após isso, eles passam por máquinas lixadeiras, para
ficarem uniformes e prontos para receberem o pré-acabamento.
Figura 6 - Molissa
Fonte: Pesquisa de campo
É comum que até esta etapa, os couros estejam ressecados. Por este motivo, ao final passam
por um processo chamado remuctação. Os couros são remuctados por um aéreo que lança
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névoas de água para umidificá-los, pois o couro tem que possuir no mínimo 14% de água em
sua composição. Em seguida passa-se para a máquina chamada molissa, onde são amaciados.
Na sequência, passam pelas máquinas de pintura, onde recebem as cores conformes os
pedidos de cada lote. Sendo este o primeiro processo do pré-acabamento do couro. Logo,
passam-se pelas molissas novamente, amaciando ainda mais os couros, para receberem a
gravação de estampas.
Após esta etapa, o couro vai para a seção de gravação, passando por uma máquina chamada
prensa de moldes que utiliza chapas com molde de cada couro, possuindo temperatura e
pressão para a gravação. Outra máquina utilizada neste procedimento é a prensa rotativa,
sendo ela maior e com menos chapas de gravação.
Para couros que necessitam ser mais brilhosos, como nas cores dourada e prata, utiliza-se a
máquina chamada prensa rotativa transfer, que possui um papel diferenciado para gravação.
Em seguida, os couros passam pela máquina chamada espelhadora, a qual vai dar o brilho
final do couro.
No processo final de produção o couro passa por uma prensa à vácuo seco, para deixá-lo liso.
Figura 7 - Sala de Expedição
Fonte: Pesquisa de campo
Por fim, os couros prontos vão para uma sala de Controle da Qualidade, apresentada na Figura
7, onde os funcionários revisam a medição por meio de uma máquina medidora. Na fase de
entrega do couro para o cliente, a empresa permite que o cliente verifique se o tamanho
solicitado está conforme o pedido, garantindo o atendimento a necessidade do cliente. A
Figura 8 resume as etapas do processo produtivo descrito.
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Essas são as etapas do processo de produção de beneficiamento de couro. Portanto, foi
possível observar que o projeto de processo é o de produção em lotes ou bateladas, sendo que
cada lote segue uma série de operações, caracterizada por um menor grau de variedade,
produção de mais de um produto, um grau de repetição de operação ao período em que ele
está sendo processado. Além disso, cada couro é destinado para um tipo de produto, a
depender do final do processo, variando suas características, como por exemplo: para sapatos,
bolsas, cintos, entre outros.
Figura 8 - Processo produtivo do beneficiamento de couro
Fonte: Elaborado pelos autores
5.4 Análise das prioridades competitivas
Além de descrever o processo produtivo, foi perguntado para a engenheira de produção
responsável, quais são as prioridades competitivas da empresa. Dentre as cinco prioridades
competitivas, foi afirmado que a empresa X prioriza: a) confiabilidade; b) qualidade; e c)
flexibilidade de produto.
A confiabilidade é considerada uma prioridade competitiva relevante devido ao
comprometimento das entregas assumidas dos couros com seus clientes e conservando-os
sempre na mesma qualidade com o passar do tempo.
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A qualidade é considerada uma prioridade competitiva relevante, pois o maior objetivo dessa
empresa é ter a qualidade total do couro, para satisfazer o cliente fazendo uma produção
isenta de erros, e para isso, cada setor produtivo existe um setor de qualidade o qual é feito a
conferência para poder retirar os erros, se existir, cometidos durante o processo produtivo.
Ademais, a flexibilidade de produto também é considerada prioridade relevante, pois a
empresa procura fazer ou customizar o couro da forma em que o cliente quer, tendo a
capacidade de adaptação das novas mudanças para as necessidades dos consumidores,
garantindo assim a maior satisfação destes.
O tipo de processo produtivo por lote facilita o atendimento às prioridades competitivas da
empresa, uma vez que cada lote possui um produto diferente, atendendo a prioridade
competitiva flexibilidade. Além disso, possui inspeções na matéria-prima recebida, durante e
após a conclusão dos processos produtivos, garantindo a qualidade dos produtos. E, por fim,
busca atender aos prazos prometidos, primando assim pela confiabilidade.
Figura 9 – Layout do processo produtivo do beneficiamento de couro
Fonte: Elaborado pelos autores
Em relação ao layout (Figura 9), observou-se uma sequência de máquinas fixas por onde o
produto passa ao longo do processo produtivo. As máquinas são organizadas em uma linha de
montagem para que o produto produzido se processe de forma contínua e ágil. Sendo assim,
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acaba-se por ser considerada uma produção de alto volume e baixa variedade, apesar de a
empresa produzir por lotes. Dessa maneira, pode-se considerar como um layout linear.
7. Considerações Finais
Este trabalho teve como objetivo analisar a organização industrial de uma empresa do setor de
produção de couro por meio da análise de seu projeto de processo, layout e prioridades
competitivas estratégicas.
Foi possível observar que o projeto de processo utilizado foi a produção em lotes ou
bateladas, pois a empresa tinha como objetivo de organização desenvolver uma quantidade
limitada de um tipo de produto de cada vez. No caso do couro, cada lote é direcionado para
um tipo de finalidade seja ela calçados, cintos, bolsas entre outros além de se renovarem a
cada estação de acordo com a tendência da moda. As unidades de cada lote são
dimensionadas de acordo com o volume de vendas previsto para um período de tempo. Os
lotes são identificados com um número ou código.
Além disso, observou-se que o layout de produção é o linear. Este layout foi utilizado, pois a
empresa tinha como objetivo ter um melhor fluxo na fábrica, facilitando assim o fluxo de
materiais e trabalho, melhorando a ocupação da área destinada à produção e também ter o
controle fácil e simples da produção.
Ademais, identificou-se como prioridades competitivas junto aos entrevistados do sistema
produtivo como sendo: a) Confiabilidade b) Qualidade e c) Flexibilidade.
Pode-se sugerir que existe uma relação entre as prioridades competitivas e o projeto de
processo e layout utilizados. Ao priorizar a confiabilidade, preza pela entrega com qualidade
ao longo do tempo de produto uniforme, para isso, adotou o layout de produção linear,
estrategicamente voltado a repetir operações, aumentando assim a confiabilidade. Ao priorizar
a qualidade, realiza ações ao longo do processo produtivo que garantem a qualidade do
produto, para isso existe em cada setor do processo produtivo linear uma seção de verificação
da qualidade do produto. Ao priorizar a flexibilidade de produto, mesmo havendo diferenças
no couro produzido em termos de cor, espessura e design, o produto produzido na planta é um
só – o couro beneficiado – e os processos de produção pelos quais passam costumam ser os
mesmos para todos os couros beneficiados.
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Sugerem-se como estudos futuros, as formas de produção que prezem pela diminuição dos
riscos ao meio ambiente, estudos sobre a gestão de resíduos, pesquisas sobre gestão da
qualidade; estudar a ergonomia e a qualidade de vida no trabalho, e também a realização do
mesmo estudo em outras unidades de produção do couro, para verificar se outras empresas
também possuem a mesma configuração de layout e projeto de processo.
REFERÊNCIAS
BRYMAN, Alan. Research methods and organization studies. London: Unwin Hyman, London, 1989. 283 p.
CENTRO DAS INDÚSTRIAS DE CURTUMES DO BRASIL. Importações e Exportações de couro do
Brasil. Disponível em: <http://www.cicb.org.br/?p=14115> . Acesso em 5 de janeiro de 2017.
CRESWELL, J. W. Qualitative inquiry and research design: choosing among five traditions. Thousand Oaks,
CA:Sage, 1997.
FLYNN, B. B. et al. Empirical Research Methods in Operations Management. Journal of Operations
Management, v. 9, n. 2, 1990.
HAYES, R. H. et al. Produção, Estratégia e Tecnologia: em busca da vantagem competitiva. Porto Alegre:
Bookman, 2008. 384 p.
NEUMANN, C.; SCALICE, R. K. Projeto de Fábrica e Layout. Rio de janeiro: Campus, 2015. 422 p.
SLACK,N.; JOHNSTON, R.; CHAMBERS,S. Administração da Produção. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2009. 703
p.
YIN, R. K. Estudo de Caso: planejamento e métodos. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010. 248 p.
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