Professores reflexivos em uma escola reflexiva
Isabel Alarcão
Capítulos 1: Alunos, professores e escola face à sociedade da informação.
Aborda a problemática das competências de acesso, avaliação e gestão da informação e o papel que, na sociedade do conhecimento e da aprendizagem, se espera dos alunos, dos professores e da escola.
Introdução
Sociedade da informação – aberta e global.
Exige competências de acesso, avaliação e gestão da informação.
Escolas lugares onde as novas competências devem ser adquiridas, ou reconhecidas e desenvolvidas.
1ª competência exigência : literacia informática
diferenças de acesso à informação necessidade de providenciar igualdade de
oportunidade info – exclusão
Informação diferente de conhecimento (que pressupõe discernir entre válido / inválido, correto / incorreto, pertinente / supérflua).
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2ª competência organizar o pensamento e a ação em função da informação pessoa preparada para viver na sociedade da informação.
A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO EM QUE VIVEMOS
Sociedade complexa, inundada por canais e torrentes de informação
era da informaçãoera da comunicação
poder da mídia para o bem e para o mal
espírito crítico hábito de se questionar perante o que lhe é oferecido.
NTCI: Novas tecnologias da Comunicação e Informação
As NTCI aparentam ser neutras, mas podem ser fonte de libertação, de progresso científico geradoras de solidariedade ou instrumentos de controle e manipulação cabe ao sujeito discernir : está à serviço do que, de quem.
NTCI atuação nos múltiplos setores: investigação científica, economia, ciências da saúde, sistemas de transportes, organização do trabalho, educação (administração pública e formação profissional).
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Edgar Morin (2000) – só o pensamento pode organizar o conhecimento
conhecer pensarcabeça bem cheia / cabeça bem feita
transforma informação em conhecimento pertinente
conhecimento que é capaz de situar qualquer informação em seu contexto e se possível, no conjunto em que está inscrita.
Compreensão capacidade de perceber os objetos, as pessoas, os acontecimentos e as relações que entre todos se estabelecem.
precisam deixar de ser isoladas para estabelecerem conexões e configurações no sentido de se atingir uma compreensão estruturante das problemáticas e das potencialidades de intervenção.
para intervir compreender
Educação está em crise analisar contornos, perceber fatores que estão na sua gênese, congregar esforços e intervir sistemática e coerentemente.
A escola não detém o monopólio do saber.
O professor não é o único transmissor do saber precisa situar-se nas suas novas circunstâncias.
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Investigação em educação
Aluno – não é mais o receptáculo a deixar-se rechear de conteúdos tem que aprender a gerir e a relacionar informações para as transformar no seu conhecimento e no seu saber.
Sociedade da informação sociedade da informação e do conhecimento sociedade da aprendizagem.
Não há conhecimento sem aprendizagem.
A informação sem ser organizada não se constitui em conhecimento
não é saber, não se traduz em poder.
“Todas as nações e todos os indivíduos são simultaneamente depositantes e sacadores do banco do conhecimento que constitui a sociedade da aprendizagem”. (Long Worth e Davies)
AS NOVAS COMPETÊNCIAS EXIGIDAS PELA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO, DO
CONHECIMENTO E DA APRENDIZAGEM
Mundo contemporâneo – situação de mudança que se sobressai à Revolução Industrial.
valor capacidade de transformar em conhecimento a informação que temos acesso através das máquinas.
O pensamento e a compreensão são os grandes fatores de desenvolvimento pessoal, social, institucional, nacional e internacional.
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Início anos 90 (Europa) – industriais e reitores das universidades se reuniram com o objetivo de pensarem no papel da educação no mundo atual.
Salientaram:
a importância da educação pré-escolar;
a necessidade de o sistema de ensino ser articulado por meio de elos fortes de ligação entre os vários ciclos (pré-escolar, básico, secundário, superior);
a competência necessária a uma vivência na contemporaneidade.
Esta competência incluí:
1. conhecimentos (fatos, métodos, conceitos e princípios);
2. capacidades (saber o que fazer e como);
3. experiência (capacidade de aprender com o sucesso e com os erros);
4. contatos (capacidades sociais, redes de contatos, influências);
5. valores (vontade de agir, de acreditar, empenhar-se, aceitar responsabilidades);
6. poder (físico e energia mental).
Aponta para:
uma formação holística e integrada da pessoa, que não se restringe na informação e no conhecimento, mas vai além deles para atingir a sabedoria.
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percurso da aprendizagem. Desenvolve-se em degraus que, partindo de dados, se eleva, por meio da informação, da compreensão e da visão até chegar à sabedoria.
Esta representação traduz a gradualidade do percurso, mas também a dificuldade crescente dos vários degraus (representada pela altura dos sucessivos degraus).
Até onde a escola leva os alunos neste percurso?
Escola de modo geral, situa-se informação e compreensão
não é a única responsável considerar capacidades individuais desresponsabilização da sociedade
Exercício livre e responsável da cidadania exige a capacidade de pensar e a sabedoria para decidir com base em informações e em conhecimentos sólidos.
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coloca na escola expectativas elevadas sem valorizá-la como
deveria
Escada da informação
Cidadão pessoa responsável
direito a papel ativo na sociedade
cidadania participativa
Informação fidedigna, relevante e fácil de encontrar.
Cidadão , pronto para:
encontrar a informação necessária; decidir sobre a sua relevância; avaliar a sua fidedignidade.
Ter pensamento independente e crítico, para não ser manipulado e info-excluído.
da leitura e da escrita
Literacia da numeracia
da informática
Sobre competências, as críticas são:
oposição entre competência / conhecimento regressão ao utilitarismo subordinação da educação à economia
Sugere estudo sobre o conceito:
Perrenoud Competência é a capacidade de utilizar os saberes para agir em situação, constituindo-se assim como uma mais – valia relativamente aos saberes. Ter competência é saber mobilizar os saberes.
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As competências não estão CONTRA os conhecimentos, mas sim COM os conhecimentos.
Utilitarismo
2) Cita Perrenoud (2001): “a abordagem por competências não pretende mais do que permitir a cada um aprender a utilizar os seus saberes para atuar”.
A cultura humana está fundamentada na ação.
3) Os bons empresários de hoje não querem pessoas adaptadas, mas pessoas capazes de se adaptarem.
Relação bilateral indivíduo e sociedade
Escola: setor da sociedade
Compreensão capacidade de escutar, observar, pensar e utilizar as várias linguagens.
Compreender o mundo
aprender autonomamente.
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os outros
a si interação
entre estes
Bases dos atuais paradigmas de formação e de investigação:
noções de pessoa; diálogo; aprendizagem e conhecimento (ativo e ativável).
Competências desejadas e valorizadas:
curiosidade intelectual; capacidade de utilizar e recriar o conhecimento; de indagar e questionar; de ter um pensamento próprio; de desenvolver mecanismos de auto-aprendizagem; gerir a vida individual e em grupo; de se adaptar sem deixar de ter a sua própria identidade; se sentir responsável pelo seu desenvolvimento
constante; lidar com situações que fujam à rotina; decidir e assumir responsabilidades; resolver problemas; trabalhar em cooperação ; aceitar os outros; horizontes temporais e geográficos alargadas; compreensão sistêmica dos acontecimentos; comunicar e interagir; auto-conhecimento e auto-estima.
A COMPETÊNCIA PARA LIDAR COM A INFORMAÇÃO NA SOCIEDADE DA APRENDIZAGEM
Sociedade moderna capacidade de utilizar a informação de modo rápido e flexível.
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Saber o que procurar e onde procurar
por em ação a sua mente interpretativa, seletiva, sistematizadora, criadora.
aluno
professor saber
Escola organizar o trabalho de maneira que os alunos tenham tempo para pesquisas, criando verdadeiras comunidades de aprendizagem.
OS ALUNOS NA SOCIEDADE DA APRENDIZAGEM
Ser aluno ser aprendente – ao longo da vida.
ser que observa o mundo e se observa a si mesmo
competências hoje exigidas dificilmente ensináveis, e contudo elas têm que ser desenvolvidas.
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medidor “orquestrado”
variedade de fontes de
informação
Sala de aula (Demo) deixou de ser espaço onde se transmitem conhecimentos, passando a :
Sair da pedagogia da dependência
Construir pedagogia da autonomia
Canário (1998) (escola) passando de uma lógica de acumulação para uma lógica de produção de saberes.
Condições de aprendizagens – mais favoráveis e informais, mais ativa e partilhada.
Criação de comunidades de aprendizagens em que os alunos assumiram uma atitude de pesquisa colaborativa.
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Conhecimento
sala de aula
não se transmite
auto e hetero - aprendizagem
se produz se procura
–depender menos do professor;–ter maior consciência crítica;–valorizar mais suas capacidades.
OS PROFESSORES NA SOCIEDADE DA APRENDIZAGEM
É o timoneiro na viagem da aprendizagem em direção ao conhecimento.
Professor reflexivo numa comunidade profissional reflexiva.
Ter o sentido da liberdade e reconhecer os dessa mesma liberdade.
A ESCOLA NA SOCIEDADE DA APRENDIZAGEM
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PROFESSOR
estruturarcriar
dinamizar situações de
aprendizagem
estimular a aprendizagem e a
auto-confiança
estruturadores
“Gestão Flexível do Currículo”
animadores
Reorganizar espaços
pequenos gruposgrandes grupos
trabalhar isoladamente
livrosrevistasInternet
Formação de professores
psicologia metodologia da libertação humana autonomia não transmissão
organização que continuamente se pensa a si própria, “na sua missão social e na sua organização, e se confronta com o desenrolar da sua atividade em um processo heurístico simultaneamente avaliativo e formativo”.
ESCOLA REFLEXIVA
auto gerida; projeto próprio, construído com a colaboração de seus
membros;
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Centros de aprendizagem
informática InternetCD Rom
lazerleitura e cinema
bibliotecapesquisastrabalhos
centros de recursosmateriais
professores tutores
Escolas comunidades auto-críticas, aprendentes, reflexivas.
saber onde quer ir e avalia permanentemente sua caminhada;
contextualiza-se na comunidade que serve e com esta interage;
acredita nos seus professores (investe neles); envolve alunos, pais e comunidade; pensa-se e avalia-se, constrói conhecimento sobre si
própria.
Gestão da informação
Novas tecnologias (recursos)
Morin é preciso organizar o pensamento para compreender e poder agir.
Capítulos 2
A FORMAÇÃO DO PROFESSOR REFLEXIVO
“profissional reflexivo” nas situações profissionais, incertas e imprevistas atua de forma inteligente e flexível, situada e realista.
Não compreendido na sua profundidade (o conceito reflexivo) mero slogan, modismo.
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QUAL A RELAÇÃO ENTRE O PROFESSOR REFLEXIVO E A ESCOLA REFLEXIVA.
professor escola
profissionalidadedocente
comunidade educativa
alunos representantes
escola pais
professores funcionários
Professor reflexivo reflete em situação e constrói conhecimento a partir do pensamento sobre a sua prática
E a escola também.
COMO FORMAR PROFESSORES REFLEXIVOS PARA E NUMA ESCOLA REFLEXIVA
Donald Schön inspirador do movimento do professor reflexivo.
Poder da criatividade, capacidade que temos de encontrarmos a nossa própria maneira de agir e de intervir na vida social.
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Sistematizarmos conhecimento sobre o que fazemos e as condições em que agimos.
Capacidade reflexiva é inata no ser humano. Necessita de contextos que favoreçam o seu desenvolvimento, contextos de liberdade e responsabilidade.
Passar do nível meramente descritivo ou narrativo para o nível em que se buscam interpretações articuladas e justificadas e sistematizações cognitivas.
consigo próprio
com os outros com a situação que (conhecimentos universais) “não fala”
sair do descritivo
atingir nível explicativo e crítico (agir e falar com o poder razão).
Formadores de professores
estratégias de formação
pesquisa ação
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Diálogo
diálogo
aprendizagem a partir da experiência e a formação com base na reflexão.
sistemática nas suas interrogações
estruturante dos saberes dela resultantes
apresenta características importantes para a reflexão:
contribuição para a mudança; caráter participativo, motivador, apoiante do grupo; impulso democrático.
:
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Pesquisa ação
professores, que sejam:
seres pensantes
intelectuais
capazes de gerir sua ação profissional
Reflexão eficaz
Pesquisão ação
Pesquisa – Formação – Ação
formação em contexto de trabalho; compreensão da realidade enquanto observadores
participantes implicados; resolver problemas que se encontram na sua prática
cotidiana.
– experiência concreta
– observação reflexiva
– conceptualização
– experimentação activa
A PESQUISA – AÇÃO, a abordagem reflexiva e a aprendizagem experiencial.
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observação
reflexão
planificação
ação
problema
Kolb Reflexão
para
sobre
na
Met
a –
refle
xão
estr
utur
ante
Matriz Schöniana: componentes da reflexão na ação e sobre a ação reflexão para a ação.
Reflexão na ação: acompanha a ação em curso e pressupõe uma conversa com ela (no decurso da própria ação, sem a interrompermos, com breves distanciamentos / reformulações enquanto estamos a realizá-lo) - tal qual na interação verbal.
Reflexão sobre a ação distanciamento da ação. Reconstruímos mentalmente a ação para tentar analisá-la retrospectivamente.
meta reflexão sistematizadora
por em destaque a relevância da reflexão sobre a reflexão na ação.
Grupos de estudos comprometimento com a profissão.
Estratégias de desenvolvimento da capacidade de reflexão:a) análise de casos (episódios reais);b) narrativas (registros significativos);c) elaboração de portfólios (*1) reveladores do processo de
desenvolvimento seguido; (*1) Portfólio “conjunto coerente de documentação refletidamente selecionada, significativamente comentada e sistematicamente organizada e contextualizada no tempo, reveladora do percurso profissional”.d) questionamento dos outros atores educativos;e) confronto de opiniões e abordagens;f) grupos de discussão ou círculos de estudo;g) a auto-observação;h) supervisão colaborativa;
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i) as perguntas pedagógicas (questionamentos com intencionalidade formativa).
pesquisa-ação projeto resolução de problema concreto qualificação dos participantes pela formação através da ação.
Estratégias de formação objetivam tornar os professores mais competentes para analisarem as questões do seu cotidiano e sobre ele agirem.
círculos de estudos / grupos de discussão / supervisão
colaborativa
Só o conhecimento que resulta da sua compreensão e interpretação permitirá a visão e a sabedoria necessária para mudar a qualidade do ensino e da educação.
Gerir uma escola reflexiva
professor professor tecnocrata prático racionalista “crítico” técnico reflexivo
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Ciclo de Aprendizagem
experimentação na ação
experiência conceituação
e generalização
X
Gerir uma escola reflexiva é: ser capaz de liderar e mobilizar as pessoas; saber agir em situação; nortear-se pelo projeto da escola; assegurar uma atuação sistêmica; assegurar a participação democrática; pensar e escutar antes de decidir; saber avaliar e deixar-se avaliar; ser conseqüente; ser capaz de ultrapassar dicotomias paralisantes; decidir; acreditar que todos e a própria escola se encontram
num processo de desenvolvimento e de aprendizagem.
“Ou a escola é reflexiva ou é um edifício sem alma”.
é um organismo vivo, articulado pelo seu projeto educativo (gestado e realizado coletivamente).
é uma comunidade educativa que se constitui e partilha com a família e a sociedade, a tarefa educativa.
Schön , sobre a profissionalidade:
“É um saber – fazer sólido, teórico e prático, inteligente e criativo que permite ao profissional agir em contextos instáveis, indeterminados e complexos, caracterizados por zonas de indefinição que de cada situação fazem uma
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observação reflexiva
novidade a exigir uma reflexão e uma atenção dialogante com a própria realidade que lhe fala”.
Senge: “organização que está continuamente expandindo a sua capacidade de criar o futuro”.
ESCOLA
COMUNIDADE COM PROJETO
PROJETO DE ESCOLA (MACEDO): carta de definição da política educativa da escola:
“política distinta e original de cada comunidade educativa, definida na gestão de tensões positivas, princípios, normas racionais e objetivos, necessidades, recursos e modos de funcionamento específicos de cada escola”.
CURRÍCULO centro do projeto da escola.
Currículo (Roldão):“o currículo que legitima socialmente a escola, como instituição a quem a sociedade remete a ‘passagem’ sistemática das aprendizagens tidas como necessárias”.
(2000:17) :
homogeneidade, segmentação, seqüencialidade e conformidade.
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Paradigma da uniformidade
percursos iguais / turmas homogêneas / tempos e espaços previamente definidos
transmissão linear do saber do professor para o aluno.
:
grupos de aprendizagens constituídos em função das necessidades e dos objetivos;
Citando Perrenoud, que propõe:
organização baseada em objetivos (e não em programas);
ciclos de aprendizagens plurianuais (e não anuais);
grupos flexíveis (e não turmas imutáveis);
módulos intensivos (e não grades);
projetos pluridisciplinares (e não disciplinas estanques);
tarefas escolares à base de problemas e de projetos (em vez dos exercícios clássicos).
Escola reflexiva
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Novo paradigma
agir em situação
escola inteligente
decide o que deve fazerregistra no projeto
educativo
atenção dialogante com a realidade
Projeto Educativo da Escola
documento que registra
Escolas eficazes (segundo Zabalza) possuem: liderança efetiva que busque melhoria da educação (não
desempenha só funções administrativas); clima de escola ordenado e disciplinado; articulação e organização curriculares concensualizadas
sobre objetivos a atingir e procedimentos a alcançar; coordenação entre os níveis; organização dos recursos; participação das famílias; continuidade, promoção e oportunidades de formação para
os professores; sentimento de vinculação à escola; expectativas de êxito generalizado.
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missão da escola(expressa valores)
referência para a ação
como cumprir essa missão (políticas e
metas)
objetivos metodologias
inserção em um determinado
contexto
Modelo democrático de gestão
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todos e cada um se sente pessoa
cada pessoa é responsável
cada um se sente presente
negociaçãoe
diálogo
busca a concretização
do projeto institucional
norteado pelo projeto de
escola
o educando é o foco da ação
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