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Projeto livro vai... História vem:
A leitura literária na formação de novos leitores
Fernanda Vivacqua de Souza Galvão Boarin (Graduanda de Letras/UFJF)
Profª Drª Suzana Lima Vargas (Faculdade de Educação/UFJF)
Resumo: Discutimos as ações de incentivo a leitura literária promovidas pelo projeto Livro vai... História
vem, criado em 2008, no Laboratório de Alfabetização (Laboalfa/UFJF). O Laboalfa é uma ação de
extensão que atende alunos da rede pública, de 09 a 14 anos, com o objetivo de promover a aprendizagem
da leitura e da escrita a partir do estudo de variados gêneros textuais. O projeto Livro vai ... História vem
visa despertar o gosto pela leitura literária; favorecer o acesso a vários gêneros literários; auxiliar os
alunos na construção de critérios de escolha das leituras que mais lhes agradem; formar leitores
competentes. Os objetivos foram definidos face ao diagnóstico de que os alunos revelavam pouca
familiaridade com textos literários, mostravam-se alheios às atividades propostas no Laboalfa, não tinham
materiais de leitura em casa e o acesso à leitura literária na escola era esporádico. Os resultados obtidos
revelam que o sistema de empréstimo de livros assegurou a leitura de 32 títulos de literatura infantil, em
média, ao longo de um ano letivo, por cada criança. Até o presente momento, o projeto já atendeu 98
crianças, para quais foram proporcionadas tanto as experiências de leitura literária quanto as de produção
textual: 36 textos de apreciação literária, com críticas e sugestões acerca dos livros lidos e 58 livros com
pequenos contos elaborados pelos alunos.
1. Apresentação
O presente trabalho consiste no relato de experiência do Projeto Livro vai ...
História vem, que existe desde 2009 e, até o presente momento, atendeu 98 crianças. O
Projeto situa-se no interior da ação de extensão Laboratório de Alfabetização
(Laboalfa/FACED/UFJF), que atende alunos de 09 aos 14 anos de escolas públicas de
Juiz de Fora, Minas Gerais. Esses alunos, em sua maioria, têm histórico de fracasso
escolar em Língua Portuguesa e, através dessa ação extensionista, busca-se promover a
aprendizagem da leitura e escrita, através do contato com variados gêneros textuais.
A sala de aula, preparada para esses atendimentos, fica localizada na Faculdade
de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora, na qual os atendimentos são
realizados em grupos de 08 crianças por turma. Elas têm aulas semanais com
professoras bolsistas, alunas dos cursos de Pedagogia e de Letras.
No início das atividades do Projeto de Extensão, as professoras bolsistas
notaram um constante desinteresse dos alunos pelos livros de literatura. Ao buscarem
compreender os motivos, foi constatado que o contato com títulos dessa natureza era
limitado. Em casa, na maioria das vezes, não existiam exemplares e, na escola, o
contato era restrito devido a dois motivos principais: a permanência da biblioteca
fechada ou a pouca promoção de situações de leitura literária por parte da professora.
Assim, surgiu a necessidade de um trabalho com a leitura literária, sistematizado no
Projeto Livro vai... História vem.
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Quanto à escassez de materiais de leitura em contexto familiar, Moreira (2002)
discute as concepções de crianças alfabetizandas acerca das funções e conteúdos dos
portadores de texto:
As construções construídas por crianças de ambas as classes a respeito
do uso da escrita, mediante a sua interpretação do uso dos portadores
de textos, resultam na interação com familiares, com membros de sua
comunidade imediata. Se para a família os objetos têm uso funcional,
a escrita será valorizada e essa valorização irá interferir no
relacionamento da criança com estes objetos, permitindo-lhes
assimilar conhecimentos referentes à suas identidades, funções e
conteúdos. Mas se na família ocorre o inverso, a criança poderá
aprender, na escola, a habilidade técnica de desenhar letras e construir
palavras, ou de codificar mecanicamente letras em sons, trilhando
assim, lenta e penosamente, o caminho da valorização da escrita.
(MOREIRA:2002:50)
Paulino (2004), em sua pesquisa sobre leitura com alunos do Ensino Médio,
também revela que a maioria dos sujeitos participantes afirmava que não gostava de ler,
ou gostava pouco – o que corrobora nosso quadro: alunos com contato esporádico e não
sistêmico com a literatura e que, portanto, assumem falas como "não gosto de ler", "não
entendo" ou "não quero". A autora aponta outra realidade que também pudemos
constatar: os alunos que se diziam leitores, liam livros de auto-ajuda, religiosos e menos
de 10% realmente tinham contato com a leitura literária. Logo, concluímos que era
indispensável que nosso público tivesse contato com os livros e participasse de
situações que propiciassem a prática de leitura literária, de forma sistêmica e
perpassada, no caso do Projeto Livro vai ... História vem, pela figura da professora
bolsista.
1. Alguns aportes teóricos
Ao iniciarmos o trabalho do Projeto Livro vai ... História vem, no Laboratório de
Alfabetização, sentimos a necessidade de algumas definições teóricas, a fim de
delimitar e aprofundar nossa atuação. A questão inicial era como conceituaríamos a
Literatura Infantil, visto que nossos novos leitores iriam entrar em contato com "essa"
literatura. Sabíamos que, historicamente, o termo "literatura infantil" tinha sido tratado
como um gênero inferior, composto de leitores pouco profícuos e competentes. Porém,
como nos mostra Nelly Novaes Coelho (2010), essa concepção começa a mudar, no
século XX, ao passo que também muda a concepção de infância. Assim, a literatura
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para esse estágio da vida, além de todos os benefícios em geral - fomento da
imaginação, contato com situações da psiquê humano e do extraordinário, entre outros -
também estaria ligada a formação das mentes de seus leitores; o que determina
diretamente a constituição dos adultos que serão.
Coelho, ainda, nos chama atenção para duas ramificações da Literatura Infantil:
o seu lado artístico e o pedagógico:
Se analisarmos as grandes obras que através do tempo se puseram
como "literatura infantil", veremos que pertencem simultaneamente a
essas duas áreas distintas (embora limítrofes, as mais das vezes,
interdependentes): a da arte e a da pedagogia. Sob esse aspecto,
podemos dizer que, como objeto que provoca emoções, dá prazer ou
diverte e, acima de tudo, modifica a consciência de mundo de seu
leitor, a literatura infantil é arte. Sob outro aspecto, como instrumento
manipulado por uma intenção educativa, ela se inscreve na área da
pedagogia. (p. 46)
Como a autora acima afirma, essas duas ramificações não se excluem ou
competem, pois são limítrofes, mas têm suas próprias características e funcionalidade. A
esse respeito, retomamos Cademartori (2012) quando afirma que
a literatura não tem – e não pode ter – compromisso com a
transmissão de antídotos a males sociais variados, seja sexismo,
racismo, desigualdade social, poluição ambiental e outros. Tampouco
lhe cabe a difusão de noções de saúde, higiene, ecologia, história. Ou
o texto é pragmático ou é literário. Ou é doutrinário ou é estético.
Uma coisa e também outra não consegue ser. (p.48)
No caso do Projeto Livro vai ... História vem, o lado artístico, estético sobressai,
já que as ações inscritas no cenário do projeto não têm como principal objetivo a
atividade pedagógica. Portanto, o ato da leitura se torna uma oportunidade de fruição e,
como consequência, provoca emoções distintas e altera a forma do leitor se ver e ver o
entorno.
Contudo, é importante deixar claro que os livros, pertencentes ao acervo
literário, são usados muitas vezes como ponto de partida para situações didáticas
centradas na escrita e reescrita. Essas situações não são parte do projeto e, por isso, têm
outra função, mas sabemos que, ao serem executadas, acabam inserindo a faceta
pedagógica na literatura.
Outra preocupação que nasceu junto ao Projeto Livro vai ... História vem foi a
construção do acervo literário. Como mostram os estudos de Paiva (2008), há uma
onipresença de temática no universo da literatura infantil: os contos de fadas e as
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ambientações em fazendas, com bichos e outros elementos do imaginário. Esses temas,
que dominam o número de títulos, são seguidos por temáticas transversais (ecologia,
inclusão social, entre outros) e, como último e em número ínfimo, temas delicados que
toquem nas questões humanas (miséria, morte, doença). Para a autora, esse índice
demonstra que:
A escola opta pela literatura de entretenimento que melhor se adapta a
função de coadjuvante pedagógico, censura os temas que considera
delicados, polêmicos, perigosos, ousados; promove uma assepsia
temática em seu diálogo com a literatura; coíbe as discussões dos
enigmas da existência humana e da complexidade das relações sociais
que poderiam ser problematizadas por meio da ficção. Deste modo, se
presta um desserviço à criança, porque simplifica seus conflitos e
subestima sua capacidade de lidar com a realidade e com a literatura a
ela destinada porque impulsiona o mercado editorial na direção
contrária aos seus anseios de legitimidade no campo da literatura;
contribui para aumentar a distância que a separa da literatura enquanto
processo estético, que tem como característica fundamental o
investimento na perplexidade do ser humano frente à vida. (p. 45)
Assim, sentimos a necessidade de optar pela literatura de entretenimento, mas
também a que supere essa função e abarque a complexidade das relações humanas.
Como dito por Coelho, o mercado editorial e os números mostram que exemplares com
essa última função são raros, mas buscamos, em diversas editoras, as mais diferentes
formas de literatura infantil, para darmos condições do aprofundamento estético e da
formação de leitores que saibam escolher suas leituras de forma autônoma e consciente.
E foi a partir dessas reflexões que nos apoiamos sobre o conceito de Letramento
Literário, que conduz o trabalho do Projeto Livro vai... História vem. Isso porque sabe-
se que, na contemporaneidade, falamos de letramentos, com suas múltiplas e diversas
funções; assim, o letramento literário "diz respeito a práticas de leitura sem finalidades
pragmáticas, envolvendo gêneros como poemas, contos, crônicas ou romances e
realizadas por escolhas mais personalizadas." (PAULINO, 2004, p.68) Ou seja, está em
consonância com as autoras citadas acima e nosso trabalho, construir uma prática de
leitura que proporcione o contato com a literatura enquanto experiência estética,
pessoal, subjetiva e intransferível.
Assim, distinguimos literatura infantil de mero livro para criança, nos
preocupando em oferecer experiências literárias que despertem nos alunos uma feliz
surpresa, como aquela suscitada na obra Sei por ouvir dizer, de Bartolomeu Campos de
Queirós (2007), no seguinte trecho:
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Declarava ser de um país que não tinha dia, não tinha noite, nem
fronteiras, onde se falavam três línguas: uma só feita de vogais, outra
apenas de consoantes e uma terceira feita de silêncios. A bandeira de
sua pátria foi costurada com três retalhos coloridos: um pedaço cor-
de-nada, outro cor-de-vazio e o terceiro com metros estampados de
silêncios.
Por meio de uma linguagem própria, a literatura cria um mundo peculiar e reage
à realidade que está fora do texto, desviando-se dela e revisando seus postulados. Desse
modo, o livro de literatura para criança não serve como propaganda, doutrina ou
ideologia. Ele é espaço para liberdade, para o encontro com diferentes vozes, para a
desconstrução das crenças inquestionáveis, daquilo que o leitor supunha sentir e pensar.
2. Objetivos e princípios norteadores
Diante desse cenário, foram traçados os objetivos do Projeto Livro vai ... história
vem: (i) despertar o gosto pela leitura literária, através da apresentação e do livre acesso
a livros e diversos gêneros literários; (ii) auxiliar os alunos na construção de critérios de
escolha de leituras que mais lhes agradem; (iii) formar leitores competentes.
A partir dos objetivos, foram definidos os cinco princípios norteadores e as
diversas ações desenvolvidas ao longo dos quatro anos de trabalho, revelando-nos
resultados consistentes. Os princípios norteadores foram postos desde o início das ações
e alguns outros foram incorporados aos poucos, pois, as crianças também nos
mostraram suas necessidades de leitores em formação. Reencontramos esses princípios,
de forma sistematizada, em ALENCAR (2004).
a) Ler sempre para o aluno
Esse pressuposto revela que, para a formação de leitores profícuos, é necessária
a leitura constante. Mais que uma leitura toda especial, porém pontual, é o contato
sistemático com outro leitor que vai despertar o interesse pela leitura. E o professor é o
principal mediador desse processo, pois compartilha interesses, proporciona para as
crianças o acesso ao mundo da literatura e da poesia, desenvolve gostos quanto a
autores e gêneros e desenvolve a afetividade com os livros e suas histórias.
b) Respeitar as escolhas literárias do aluno
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Nessa afirmativa, revelamos que, ao formarmos um leitor, não buscamos
alguém que repita as escolhas literárias do seu mediador. Ao contrário, alguém
apaixonado pela leitura, que possa, a sua medida, fazer escolhas conscientes e
autônomas sobre os livros que irá ler. Para tanto, o aluno tem o direito de elogiar ou
criticar os livros que são lidos em sala, ou que ele leva para casa, através de um sistema
de empréstimos; e é compromisso da professora não só assegurar, como também
promover esse direito. Para esse trabalho, concordamos com o pressuposto apontado por
Jolibert (1994) de que ler é questionar algo escrito como tal, a partir de uma expectativa
real, necessidade-prazer, numa verdadeira situação da vida. (p.15)
c) Compartilhar suas leituras pessoais com os alunos
O mediador deve se mostrar como leitor. Assim, acreditamos que os alunos dão
maior credibilidade a leitura literária ao verem que sua professora também é uma
leitora, envolvida em livros também de diferentes gêneros. Ainda, dependendo do
conteúdo do livro – por sabermos que a literatura adulta pode trazer temáticas nem
sempre apropriadas ao público infantil – é legítimo que a professora leia trechos para as
crianças; não para que elas entendam o conteúdo, mas para motivação e percepção do
ato da leitura como uma atividade que extrapola o ambiente escolar e, assim, ela possa
travar com eles uma relação de leitor para leitor.
d) Oportunizar a descoberta e o acesso às obras de novos escritores
Esse pressuposto não trabalha diretamente com o aluno, mas seu objetivo o
alcança inteiramente. Buscamos trabalhar com os autores estrangeiros e nacionais (Ana
Maria Machado, Monteiro Lobato, Ruth Rocha, Silvia Orthof, Jose Paulo Paes,
Ziraldo), mas não apenas esses. Assim, preocupamo-nos em apresentar escritores e
ilustradores contemporâneos, dando visibilidade acerca dos lançamentos literários
infanto-juvenis. Além disso, sempre que possível, proporcionamos às crianças
participarem da escolha dos novos títulos que serão adquiridos e incluídos ao nosso
acervo, por meio de leitura de resenhas dos catálogos de lançamentos das editoras ou
dicas de livros na internet ou revistas infantis.
e) Acervo ao alcance do leitor
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É de grande importância a proximidade entre o leitor e os livros. Por isso, as
estantes de livros precisam estar ao alcance do leitor, despertando-lhes o interesse e
facilitando as escolhas de gêneros literários e suportes variados.
3. Ações realizadas
A seguir, relataremos as ações desenvolvidas no Projeto “Livro vai... História
vem”.
4.1 Estantes de livros literários
Como dito nos Princípios Norteadores, é importante que o acervo esteja ao
alcance do leitor. Com influência do método montessoriano, os livros de literatura
infantil e juvenil ficam dispostos em estantes baixas, com as capas visíveis - para que,
através delas, o aluno fique motivado a lê-los - e são separados por temática (livros de
contos de fadas, fábulas, livros estrangeiros, de uma mesma coleção ou autor, revistas
em quadrinhos.) Além disso, nas estantes há o Baú da Poesia, Caixa do Sítio do Picapau
Amarelo e a Cesta de Histórias em Quadrinhos, todas decoradas, convidativas e repletas
de bons exemplares.
As estantes estão sempre limpas e organizadas para ajudar as crianças a
compreenderem o compromisso com a conservação do acervo. Ao lado das estantes
ficam os cestos com pequenos tapetes para que elas possam se sentar no chão, ficarem
mais à vontade para ler sozinhas ou compartilharem a leitura de um livro com a
professora ou um amigo. (Figura 1)
4.2 Sistema de empréstimos
O Sistema de Empréstimos é a ação que garante aos alunos a leitura literária
fora do espaço do Laboratório de Alfabetização. As professoras escolhem, de dois em
dois meses, livros que constituem um Lote de Literatura. Esse lote fica disposto nas
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estantes, para leitura em sala e para empréstimo. O empréstimo é realizado de forma
espontânea, ou seja, a professora estimula a prática, mas não a obriga. Há uma tabela de
controle, onde é anotado: nome do leitor, título do livro, data de empréstimo, data
prevista de devolução, data em que foi realmente devolvido e nome da professora
responsável pelo aluno. Essa tabela é colada em um quadro, fazendo com que os alunos
saibam quais títulos estão emprestados e quando eles estarão novamente na estante. Os
livros são levados para casa em sacolas de pano, para não serem danificados. Os
empréstimos têm duração de uma semana. O empréstimo de livros é fundamental para
multiplicar as oportunidades de leitura para cada uma das crianças, na verdade, um novo
espaço se abre: ler livros de sua escolha em casa, no seu próprio tempo, compartilhando
com os amigos e a família. (Figura 2)
4.3 Mural das Estrelinhas
O Mural das Estrelinhas é uma extensão do Sistema de Empréstimos. No
mesmo mural em que está colada a tabela com o controle dos empréstimos, há uma lista
com os nomes dos livros que constituem o Lote de Literatura. Se o aluno tiver gostado
do livro que levou para casa, ao trazê-lo de volta, pode colar uma estrelinha amarela ao
lado do título. Com o tempo, os alunos e as professoras podem usar o Mural como um
parâmetro para saber qual livro está sendo mais elogiado, através de um critério
quantitativo. (Figura 3)
4.4 Apreciação Literária
A Apreciação Literária é uma ação que busca criar um critério qualitativo para
a escolha dos livros, além de propiciar a produção textual desse gênero textual. A
Apreciação Literária, ao longo do Projeto, foi feita de duas maneiras. A primeira
através de fichas de Apreciação Literária, contendo: título do livro, nome do autor e
ilustrador, editora e data de empréstimo/devolução. Essas fichas eram penduradas em
um varal, ficando exposto para os demais leitores lerem, serem auxiliados na escolha do
próximo empréstimo e compartilharem suas impressões. Atualmente, as fichas de
Apreciação Literária foram substituídas por retângulos de papel cartão coloridos, onde
eles escrevem livremente a apreciação do livro lido. É uma oportunidade para dividirem
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um pouco daquilo que o encontro com o livro deixou em cada um, significando o texto
e a si mesmo a partir da leitura.
Vale ressaltar que essa apreciação não se prende somente ao elogio, como o
Mural das Estrelinhas, mas também a crítica, a discussão, a refutação que condiz com o
Princípio Norteador que fomenta o respeito à opinião dos alunos. Interessa-nos abrir
espaço para a partilha, mesmo que seja por meio de desabafos: “detestei esse livro” ou
“o livro é muito sem graça”. (Figura 4)
4.5 Momento da Leitura
O Momento da Leitura vai de encontro com o primeiro Princípio Norteador,
ressaltando a importância da leitura constante com os leitores em formação. O Momento
da Leitura são momentos destinados nos atendimentos pedagógicos para a leitura
literária. Ocorre em sala de aula, nos jardins do Campus da UFJF ou no anfiteatro. Essa
leitura é realizada por leitores convidados para compartilhar um conto ou poesias de sua
preferência; textos de um mesmo autor ou diferentes textos sobre um mesmo tema.
Também são feitas em voz alta ou silenciosamente, ora pela professora e ora pelos
alunos. Os livros são escolhidos a partir do Lote de Literatura ou podem ser trazidos
pelos convidados, pela professora ou pelas crianças caso queiram compartilhar uma
nova descoberta literária, mas sempre privilegiamos a leitura por fruição. (Figura 5)
4.6 Contos e outras histórias da gente
Em 2010, diante da leitura literária de diversos autores, surgiu a necessidade
dos alunos se verem como leitores. Assim, criou-se o livro de contos: Contos e outras
histórias da gente. No ano I (2010) e no ano II, °2 (2011) o formato do livro contava
com uma Apresentação, um Sumário e os textos de cada criança. (Figura 6)
4.7 Jornal Primeiras Palavras
O Jornal Primeiras Palavras, com circulação na Faculdade de Educação da
UFJF, escolas púbicas atendidas pelo Projeto de Extensão e respectivas comunidades,
foi criado para divulgar as atividades feitas pelo Laboratório de Alfabetização. Além de
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entrevistas, reportagens e fotos, os alunos puderam indicar alguns livros de literatura
infantil de sua preferência, na seção Dicas de Leitura. l
4.8 Roda de conversa com autores
Essa iniciativa consiste em aproximar os alunos de autores de literatura. Assim,
tiveram a oportunidade de ouvir um relato pessoal de um escritor e tirar suas dúvidas.
Além de promover o interesse em conhecerem mais obras desse autor, os alunos
também foram incentivados – como em todo o projeto – a se verem como autores,
capazes de escreverem suas próprias histórias.(Figura 7)
4.9 Jornal Mural
O gênero Jornal Mural também é explorado no Laboalfa. Montado em
um mural de cortiça no corredor da Faculdade de Educação, cada Jornal Mural tem um
ou mais temas, com a finalidade de divulgar para a Faculdade o que está sendo realizado
no Laboratório. A relação entre o Jornal Mural e o Projeto Livro vai...História vem é a
divulgação, através dessa ação, de quais leituras estão sendo realizadas pelos alunos em
diferentes gêneros e autores, como Poesia, Histórias em quadrinhos, Narrativas de
Enigmas, Histórias de Lobo Mau, entre outros.
4. Conclusão
O Projeto Livro vai...História vem mostrou-se de fundamental relevância
para realizarmos um trabalho eficaz no Laboratório de Alfabetização. Apresentando a
leitura literária, cativando e formando novos e competentes leitores, podemos concluir
que esse tipo de iniciativa é cada vez mais relevante nas parcerias estabelecidas entre os
projetos de extensão universitária e as escolas da rede pública. Trabalhar com o ensino
da escrita se mostrou imensamente mais fácil para as professoras bolsistas e mais
prazeroso para os alunos a partir das ações definidas no projeto.
Podemos perceber diversos resultados obtidos pelo Projeto Livro vai... História
vem. O primeiro deles é o número de leituras realizadas anualmente pelos alunos
freqüentes no Laboratório de Alfabetização: uma média de 32 títulos lidos através do
sistema de empréstimos e de 30 livros lidos, com ou sem mediação da professora, no
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Momento da Leitura. Além disso, através do despertar para a leitura literária, soma-se
como resultado a confecção de 58 pequenos livros (Contos e outras histórias da gente) e
36 textos de apreciação literária, até o presente momento.
O resultado se mostra satisfatório, principalmente se lembrarmos o
quadro inicial dos alunos, no princípio do período letivo: crianças com pouco contato
com a leitura literária e, por isso, que demonstravam pequeno ou nenhum interesse.
Concluímos também que, mesmo completando quatro anos, o Projeto
está sempre em constante reelaboração. E essa característica deve-se a mudança dos
sujeitos, que, por complexos que sejam, estão sempre se revendo e reinventando. Tanto
os professores como os alunos apresentam suas necessidades, redefinindo seus espaços
como leitores e recriando suas próprias histórias.
Referências
ALENCAR, Socorro Edite Accioli de. De Emília a Dona Quixotinha: uma aula de
leitura com Monteiro Lobato. Dissertação de Mestrado, Centro de Humanidades,
Universidade Federal do Ceará, 2004.
CADEMARTORI, Ligia. O professor a e literatura: para pequenos, médios e grandes.
Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise, didática. São Paulo:
Moderna, 2000
JOLIBERT, Josette. Formando Crianças leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
MOREIRA, Nadja da Costa Ribeiro. Portadores de texto: concepções de crianças
quanto a atributos, funções e conteúdo. In: KATO, Mary Aizawa. A concepção da
escrita pela criança. Campinas/SP: Pontes, 2002.
PAIVA, Aparecida. A produção literária para crianças: onipresença e ausência das
temáticas. In: PAIVA, Aparecida e SOARES, Magda. Literatura infantil: políticas e
concepções. Belo Horizonte: Autêntica, 2008
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PAULINO, Graça. Deslocamento e configurações do letramento literário na escola.
Belo Horizonte: Scripta, 2004.
QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Sei por ouvir dizer. Porto Alegre: Erexim, 2007
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Anexo: imagens
Imagem 1
Estantes e baús com Lote de Literatura
Imagem 2
Tabela de Controle dos empréstimos
14
Imagem 3
Mural das Estrelinhas
Imagem 4
Fichas de Apreciação Literária
15
Imagem 5
Momento da Leitura
Imagem 6
Livro “Contos e outras histórias da gente”
16
Imagem 7
Roda de conversa com escritora
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