PROTAGONISMO JUVENIL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL POR MEIO
DE ATIVIDADES LÚDICAS
LEME, Samira El Ghoz - Secretaria Municipal do Meio Ambiente/SMMA. Email: [email protected]
NORONHA, Maria Glícia Rocha da Costa e Silva - Secretaria Municipal do Meio
Ambiente/SMMA Email: [email protected]
VIANA, Luiz Henrique – Secretaria Municipal do Meio Ambiente/SMMA
Email: [email protected]
Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo A formação em Educação Ambiental pode criar condições para melhorar a convivência familiar e comunitária visto que ela tem por finalidade a mediação das relações entre os indivíduos e a coletividade, e a coletividade e o setor público. Ressalta-se que a promoção de condições para despertar o interesse e participação dos adolescentes requer a busca constante de estratégias pedagógicas diferenciadas e atraentes. Esse artigo apresenta um relato de experiência em Educação Ambiental não formal desenvolvido no período de julho a dezembro de 2008 com adolescentes integrantes do PROJOVEM do CRAS Iguape, situado no bairro Boqueirão em Curitiba, Pr. Ela foi mediada por atividades lúdicas como o jogo Tangram, quebra-cabeça de cartoons, criação de cartões-postais natalinos, utilizados como recursos didáticos de caráter dialógico e prazeroso. Essas estratégias propiciam a sensibilização e informação ambiental, a troca de idéias e vivências entre os participantes relacionadas à sustentabilidade ambiental urbana e a participação ativa dos adolescentes em projetos coletivos de proteção ambiental. Elas favoreceram o despertar de interesse em conhecer a realidade do bairro e da cidade propiciando a aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos no cotidiano numa relação de comprometimento, respeito e amor à natureza e ao lugar onde vivem. Além disso, as atividades lúdicas possibilitaram uma leitura integrada de meio ambiente revelada pela manifestação de aspectos naturais e sociais nas frases expressas pelos participantes. Palavras-chave: Protagonismo juvenil; Sustentabilidade urbana; Educação ambiental; Atividades Lúdicas.
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Introdução
Esse artigo apresenta um relato de experiência em Educação Ambiental não formal
desenvolvido no período de julho a dezembro de 2008 com adolescentes integrantes do
PROJOVEM Adolescente do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Iguape,
situado no bairro Boqueirão em Curitiba, Pr.
Nos tópicos a seguir apresentaremos alguns elementos referenciais teóricos que
orientaram as ações de Educação Ambiental não formal, sobre Protagonismo Juvenil e
ludicidade. Em seguida explicitaremos os procedimentos metodológicos seguidos no
desenvolvimento da pesquisa e na sequência faremos uma apresentação sintética dos
principais resultados encontrados, concluindo com algumas considerações sobre o relato de
experiência.
Educação Ambiental, Protagonismo Juvenil e Ludicidade
O meio ambiente entendido como direito essencial à qualidade de vida e um dever do
poder público e da coletividade quanto à sua preservação e defesa requer a promoção da
educação ambiental e a conscientização pública (BRASIL, 1988). A necessidade do
envolvimento dos setores da sociedade através da promoção do ensino, da conscientização e
do treinamento na educação formal e não-formal também foi indicada na Agenda 21 da ECO-
92, realizada no Rio de Janeiro, que apresentou um programa de ações mundiais para
promover um novo padrão de desenvolvimento e solucionar os problemas ambientais atuais.
Segundo Ruscheinsky (2003) a educação ambiental permite uma objetivação das
ações específicas em prol de mudanças e de reivindicações em relação a direitos que
impliquem em qualidade de vida. Permite através da releitura da realidade, uma
conscientização mais imediata e profunda da interferência dos homens e mulheres no mundo e
na história. Neste sentido, a participação de todos os setores da sociedade, incluindo a
juventude1 é fundamental na construção dos múltiplos saberes necessários à adoção de
atitudes e ações dirigidas à sustentabilidade da vida na Terra, a partir da atuação consciente
em nível local.
O desenvolvimento de processos de formação e de projetos de interesse coletivo que
visem à inclusão desses jovens com suas potencialidades para imprimir mudanças sociais 1 Jovem segundo a Organização Mundial de Saúde compreende a fase entre 15 e 29 anos.
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positivas quanto à convivência familiar e comunitária faz-se necessário, visto que temos
atualmente 10,4 milhões de jovens, muitos deles desempregados, baixa escolaridade e pouca
participação política (BRASIL, IBGE, 2003).
No Brasil, nas últimas décadas, desafios relativos ao meio ambiente e à juventude têm
sido referenciados em ações e programas locais visando o desenvolvimento de valores,
conhecimentos, práticas para a formação dos adolescentes2 quanto à proteção ambiental,
também referenciada no capítulo 25 da Agenda 21. A articulação de políticas públicas
municipais como as de meio ambiente e de caráter sócio assistenciais de proteção básica às
famílias e indivíduos nas áreas que apresentam maiores níveis de vulnerabilidade e risco
(BRASIL, 2009) como é o caso do PROJOVEM Adolescente3, desenvolvido nos Centros de
Referência de Assistência Social (CRAS)4, potencializa ambas as iniciativas em virtude da
união de esforços na busca dos resultados esperados. No traçado metodológico desse
programa, Meio Ambiente aparece como um dos temas transversais a fim de estimular um
olhar mais crítico, bem como refletir sobre a relação natureza-sociedade a partir dos
pressupostos da Agenda 21.
Metodologia
A análise da relação adolescente-ambiente revela como um dos desafios o
envolvimento próativo dos mesmos nas questões ambientais, inclusive devido às
características próprias dessa fase de desenvolvimento humano. Assim, a aliança entre os
pressupostos da Educação Ambiental e do Protagonismo juvenil por meio de atividades
lúdicas nos momentos de encontros com o grupo de adolescentes favorecem que estejam
abertos às mudanças, à revisão de seus referenciais reconhecimento de suas aspirações e à
2 Adolescente é aquele que tem entre 12 e 18 anos incompletos , segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil,1997). 3O PROVEM Adolescente, uma modalidade do Programa Nacional de Inclusão de Jovens – PROJOVEM coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome instituído pela MP Nº 411/2007. Atende jovens com idade entre 15 e 17 anos oriundos de família beneficiária do Programa Bolsa Família em articulação com o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. 3CRAS são unidades municipais de assistência social localizadas em áreas que apresentam indicadores de vulnerabilidade e risco social com a função de desenvolver e articular programas e serviços sócio assistenciais de proteção básica às famílias e aos indivíduos nas áreas de abrangência de modo a potencializar a proteção social. Atualmente funcionam 27 CRAS e 15 Unidades de Atendimento descentralizadas vinculadas aos CRAS voltadas à promoção social (CURITIBA, 2009).
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ação responsável individual e coletivamente. Desta forma, eles podem tornar-se
multiplicadores de práticas em favor da qualidade de vida de si mesmos e em seus locais de
atuação - casa, escola, bairro contribuindo para a sustentabilidade local e planetária.
Para o desenvolvimento das atividades de EA, optou-se pelo jogo como estratégia
metodológica, por oportunizar vivências de prazer, alegria, descontração, imaginação e
inventividade. Além disso, permite fazer descobertas, vencer desafios, investigar, perguntar,
informar, “brincar com as idéias“ (MARCELINO, 1990) e assim, elaborar idéias novas.
Também cria condições à interação, ao respeito mútuo e à cooperação entre as pessoas na
construção de conhecimentos, sentimentos e atitudes voltadas ao bem-estar social e
conservação do patrimônio natural. Além disso, o jogo consiste numa forma prazerosa de
realizar um trabalho educativo e informativo de ações de sensibilização e informação de
educação ambiental. Essa estratégia metodológica contribui para a efetivação da EA enquanto
um processo coletivo que busca principalmente o diálogo como forma de se chegar a
objetivos desejados, contemplando alternativas sociais e naturais que favorecem a grande
maioria das pessoas. Assim sendo, as compreensões de cada individuo enquanto membro de
um grupo social consolida uma representação social, e esta constitui ponto de partida para o
desenvolvimento da EA no processo educativo (REIGOTA,1995; FREIRE,1986 e
TALAMONI, 2003).
Esse relato de experiência em Educação Ambiental não formal ocorreu junto a grupo
de adolescentes integrantes do PROJOVEM do CRAS Iguape, situado no bairro Boqueirão de
Curitiba, desenvolvida em 2008. Essa intervenção educativa foi mediada pela realização de
atividades lúdicas como o jogo Tangram, quebra-cabeça de cartoons, criação de cartões-
postais natalinos, como recursos didáticos de caráter dialógico e prazeroso. Esses propiciam a
sensibilização e informação ambiental, a troca de idéias e vivências entre os participantes
relacionadas à sustentabilidade ambiental urbana e a participação ativa dos adolescentes em
projetos coletivos de proteção ambiental.
A proposta inicial de realização de encontros mensais com duração de duas horas
tinha sido a realização de palestras de Educação Ambiental sobre diferentes temas urbanos
visando sensibilizar e informar os adolescentes do PROJOVEM assistidos pelo Centro de
Referência de Assistência Social (CRAS) Iguape, moradores do bairro do Boqueirão
Curitiba/PR, para fomentar a participação ativa e sensível dos mesmos em ações ambientais
individuais e coletivas de proteção e conservação ambiental em nível local.
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Entretanto, optou-se como abordagem metodológica a realização de rodas de conversa
como espaços interativos de diálogo, troca de experiências, discussão e informação,
conhecimentos e vivência entre os participantes. Essa dinâmica oportuniza conversas,
favorecendo a integração e a participação gradativamente todos os integrantes do grupo.
Durante a roda de conversa, o adolescente aprender a escutar a si mesmo favorece o
processo de autoconhecimento bem como o reconhecimento de sua fala pelo próprio grupo.
Esses diálogos estabelecidos contribuem para ampliação da capacidade de fazer escolhas e
tomar decisões, contribuindo para a incorporação de sua autonomia e identidade própria.
A roda de conversa constitui também uma possibilidade de exercício da cidadania,
democracia, visto que, o exercício de ouvir o outro e ser ouvido por outros fortalece a
construção conjunta de conhecimentos e saberes e a adoção de atitudes dirigidas à construção
de sociedades sustentáveis5. Acredita-se que as histórias e os temas que surgem estimulam os
participantes a se interessarem por outras realidades, por outros temas, mostrando que há
modos diferentes de perceber e agir numa determinada situação.
Foram realizados três encontros, com duração média de 02 horas, com a participação
de 14 adolescentes em média por encontro, abordando as seguintes temáticas: “Juventude,
Meio Ambiente e Sustentabilidade”; “Existe vida na Terra sem água?” e “Natal ambiental”,
finalizados com um processo sistemático de avaliação a fim de aprimorar o processo
educativo.
O primeiro encontro “Juventude, Meio Ambiente e Sustentabilidade” teve por
finalidade sensibilizar os adolescentes para participarem dos encontros a serem realizados;
identificar os temas que mais interessavam a esse grupo para posteriores aprofundamentos e
reconhecer as relações que eles estabelecem a respeito das questões ambientais. Escolheu-se
para o desenvolvimento da roda de conversa o jogo Tangram6 visando motivar a
aprendizagem mediante um processo participativo e próativo que propicie a mobilização de
valores e adoção de posturas positivas para as transformações ambientais locais necessárias.
5 Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global é um documento elaborado por pessoas de vários países do mundo, publicado durante a ECO-92, referência para o desenvolvimento da Educação Ambiental no Brasil. 6 Tangram tem origem chinesa e, segundo conta a lenda, ele surgiu quando um monge chinês deixou cair uma porcelana no chão, que se partiu em sete pedaços. Na tentativa de juntar os cacos quebrados, ele descobriu que as peças formavam uma infinidade de figuras e imagens. Daí a origem de seu nome, que significa “tábua das sete sabedorias” ou “tábua das sete sutilezas”. É um quebra-cabeça composto de sete peças (tans) com formas geométricas resultantes da decomposição de um quadrado: dois triângulos grandes; dois triângulos pequenos; um triângulo médio; um quadrado;um paralelogramo. O desafio do jogo é que todas as peças devem ser usadas e não podem ser sobrepostas durante a montagem de figuras diversas.
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As peças do Tangram utilizado na roda de conversa foram confeccionadas com
reproduções das ilustrações integrantes das capas ilustrativas dos módulos do caderno
“Juventude e Educação Ambiental7. Essas ilustrações representam questões ambientais como
resíduos sólidos, recursos hídricos, biodiversidade urbana, qualidade do ar, convivência
social, e outras, e foram especialmente criadas empregando como linguagem visual o design
pós-moderno, enquanto uma tendência juvenil de comunicação.
Módulo 9 Módulo 10
Após a dinâmica de apresentação da proposta do encontro e da apresentação pessoal
dos participantes, iniciou-se a aplicação do Tangram. Solicitou-se que os adolescentes se
dividissem em subgrupos de quatro pessoas. Para cada subgrupo foi entregue um envelope
contendo o jogo Tangram confeccionado com as imagens do caderno “Juventude e Educação
Ambiental”. (PMC/SMMA), tendo sido retirado os títulos dos módulos a fim de evitar o
direcionamento das reflexões a partir dos mesmos.
2 Caderno “Juventude e Educação Ambiental” elaborado em 2007 pela Secretaria do Meio Ambiente (SMMA) da Prefeitura Municipal de Curitiba (PMC) composto por dez módulos desenvolvido para o desenvolvimento de curso de capacitação de jovens participantes do Programa Agente Jovem (atual PROJOVEM Adolescente) em Educação ambiental (atual PROJOVEM Adolescente).
Capa Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3
Módulo 4 Módulo 5 Módulo 6 Módulo 7
Módulo 8
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De posse dos envelopes, foi solicitado que os subgrupos montassem o Tangram e na
seqüência observassem, refletissem e discutissem sobre a imagem encontrada. Eles deveriam
compor uma frase sobre a imagem, e em seguida escreveriam em uma tarjeta de papel
colorido. Após este momento, um representante de cada subgrupo deveria apresentar o tema
encontrado e compor um painel do grupo intitulado “Juventude, Meio Ambiente e
Sustentabilidade”. No final, solicitou-se que o grupo escolhesse o tema que gostariam que
fosse abordado no próximo encontro, tendo sido escolhido o tema água.
O segundo encontro “Podemos viver sem água?” teve como objetivo refletir sobre a
água como elemento estruturante do sistema da vida na Terra. Para a realização da roda de
conversa, seguimos os momentos propostos no Caderno “Juventude e Educação Ambiental”
que são: “Pra início de conversa”, provocando uma contextualização do tema; “Isso é legal”,
trazendo referenciais legais relativos à gestão da bacia hidrográfica, enfatizando-se a
importância das áreas de preservação permanente, visto a existência do Rio Belém na área de
abrangência dessa comunidade; “Mãos à obra”, informando e indicando possíveis ações que
contribuem para a melhoria da qualidade da água, de modo especial, do Rio Belém; e
finalmente, “Ter atitude” momento em que foram abordados possíveis ações que podem
contribuir para a melhoria da qualidade da água e de vida na cidade.
Inicialmente, foi solicitado que formassem quatro subgrupos e fornecidos dois
cartoons (obtidos via internet), em forma de quebra-cabeças colocados em envelopes para
cada subgrupo. Foi trocada uma peça integrante de outro cartoon em cada um dos envelopes a
fim de estimular a cooperação entre os subgrupos e a troca de informações e vivências
relacionadas ao tema água no ambiente urbano a partir da interação nos subgrupos e entre os
mesmos.
Após a montagem dos cartoons, os participantes criaram um título criativo que na
seqüência foi apresentado para todos do grupo. Posteriormente, houve uma apresentação de
slides abordando diferentes aspectos sobre a água e a vida, enfatizando a Bacia Hidrográfica
do Rio Belém como forma de contextualizar o tema. Após apresentação e discussão do
tema proposto, o grupo optou por abordarmos no próximo encontro o natal e o meio
ambiente, visto que ele seria realizado no mês de dezembro, como forma de abordar essa
relação e constituir um momento de confraternização do grupo.
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O terceiro encontro do grupo “Natal ambiental” teve como objetivo principal
oportunizar situações de autoconhecimento pelos adolescentes relativos a datas
comemorativas como o natal e o ano novo. Visava também fortalecer vínculos afetivos no
momento de encerramento das atividades de meio ambiente e de confraternização do grupo.
O encontro foi iniciado com a dinâmica “relógio musical”8, momento em que foram
sorteadas algumas frases para os participantes, dentre elas: “ Na época do natal eu me
sinto...”, “Para mim o Natal significa...” e “Em 2009 eu quero.... pra isso eu vou...”. A cada
pausa da música, a dupla formada conversaria sobre sua pergunta.
Posteriormente, foram abordados aspectos sobre o costume de presentear e enviar
cartões no Natal, trazendo como referência, o primeiro cartão de natal com fim comercial, em
1834, que tinha como dizer “Alegre Natal e Feliz Ano Novo”9. Após essa exposição, foi
abordada a dinâmica das práticas sociais, destacando-se que hoje o envio de cartões natalinos
impressos está sendo substituído pelo envio de mensagens virtuais, via celular, computadores,
entre outros.
Posteriormente, foi solicitado para cada participante criar um cartão de natal a ser
trocado com outro do grupo, por meio de sorteio ou outra forma que escolhessem. O encontro
foi finalizado com uma avaliação deste momento e com uma confraternização natalina entre
jovens e técnicos com troca de cartões criados por eles.
8 Relógio musical: dinâmica realizada solicitando que os integrantes do grupo façam duplas, e depois formem dois círculos, sendo que os membros da dupla ficam um de frente para o outro. Solicita-se que ao som de uma música eles circulem para a direita, e ao parar a música, conversem com quem está à frente deles. 9 Disponível no site http://www.cyberartes.com.br/indexAprenda.asp?edicao=167
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Resultados Obtidos
O primeiro encontro resultou, após a mediação pelo Tangram, na confecção de um
painel de parede representando as diferentes leituras de mundo inseridas no contexto social
em que vivem os jovens e que são interpretadas a partir de percepções pessoais distintas. Foi
possível perceber que a imagem das capas ilustrativas dos módulos do caderno “Juventude e
Meio Ambiente” transmitiram mensagens não-verbais ligadas ao movimento dos sentimentos
e da imaginação, capazes de agregar novos conhecimentos.
Figura 1. Painel do grupo – Juventude, Meio Ambiente e Sustentabilidade - PROJOVEM CRAS Iguape – 2008
O painel construído destaca temas emergentes da problemática ambiental,
normalmente abordados nos veículos de comunicação bem como nos conteúdos curriculares,
tais como o aquecimento global, desmatamento; reciclar produtos e desperdício da água. As
manifestações dos jovens indicam que eles estão informados sob uma perspectiva
conservacionista, apontando relações de capacidade de suporte do planeta e a necessidade de
adoção de posturas adequadas por parte de todos na gestão das problemáticas evidenciadas.
O segundo encontro, a partir da proposta de criação de títulos criativos originados pela
apropriação dos conteúdos transmitidos pelas imagens dos cartoons, os títulos resultantes
foram: “O mundo está afundando” (cartoon 01);“ Correndo atrás da água”; “Se a água não
vem, nós vamos até lá” (cartoon 2); “Titanic”; “Quer nadar no Titanic”; “Santa Catarina”
(cartoon 3); “Mergulho profundo; “Peixe louco”; “Procurando Nemo” (cartoon 4): “Fecharam
a torneira”; “As cavas da prainha”; “Rio Tietê”; “Acabou a água” (cartoon 5): “Puxaram a
descarga!”; “Rio Belém”; “Rio Tietê” (cartoon 6); “O mar não está para peixe”; “Rio Atuba”;
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“Rio Iguaçu” (cartoon 7); “Furou o cano”; “Estou afundando”; “A casa dela está um tsunami”
(cartoon 8).
De um lado foi possível perceber, durante a realização da atividade e com as frases
elaboradas, a influência dos veículos de comunicação quanto à difusão de informações
relacionadas ao meio ambiente; Evidenciamos forma de expressão e linguagem “irreverente,
gozadora” frente às situações representadas nos cartoons; verificou-se também algumas
relações com o cotidiano vivido relacionadas ao tema água, como por exemplo, as enchentes
de Santa Catarina em 2008, ocorrências de tsunami no mundo, entre outros. Por outro lado,
durante a apresentação dos subgrupos, observou-se a dificuldade dos adolescentes em escutar
e expressar oralmente quanto aos aspectos abordados e possíveis relações com seu cotidiano.
Durante o terceiro e último encontro denominado “Natal ambiental” o clima estava
descontraído e receptivo, e culminou com um momento de confraternização de Natal entre os
técnicos e adolescentes. Inicialmente, foram evidenciadas resistências entre os participantes
quanto à troca das mensagens elaboradas, fato que revela dificuldades de expressão de
sentimentos e valores a eles associados pelos participantes. Houve participante que
confeccionou mais de um cartão, presenteando mais de um colega; houve também aqueles
que levaram para casa cartões para presentear parentes e amigos. Este fato evidencia que a
atividade motivou uma manifestação de sentimentos junto ao convívio familiar.
Além disso, a confecção de cartões postais natalinos propiciou o reconhecimento de
valores normalmente vinculados a esta data comemorativa, bem como propiciou reflexões
sobre o ano que passou e numa visão de curto prazo, projetar sonhos futuros. Foi possível
observar que além de constituir uma oportunidade de encerramento das atividades de
educação ambiental com o grupo este momento favoreceu a expressão afetiva entre os
participantes bem como propiciou a vivência do espírito de Natal e ano novo como ritos de
convivência social.
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Figura 2 e 3 – Exemplo de cartões natalinos produzidos durante o encontro
PROJOVEM CRAS Iguape – 2008
Considerações Finais
A formação dos adolescentes em Educação Ambiental pode criar condições para
melhorar a convivência familiar e comunitária visto que ela tem por finalidade a mediação das
relações entre os indivíduos e a coletividade, e a coletividade e o poder público.
Constatou-se que a utilização e o desenvolvimento de atividades lúdicas nas ações de
Educação Ambiental proporcionam integração dos adolescentes na busca de soluções
ambientais locais. Elas favoreceram o despertar de interesse em conhecer a realidade do
bairro e da cidade propiciando a aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos no cotidiano
numa relação de comprometimento, respeito e amor à natureza e ao lugar onde vivem.
Além disso, as atividades lúdicas possibilitaram uma leitura integrada de meio
ambiente revelada pela manifestação de aspectos naturais e sociais nas frases expressas pelos
participantes. As atividades lúdicas contribuíram para a síntese das etapas anteriores da roda
de conversa e a verificação da abordagem.
A criação de um painel, frases criativas, de cartões postais, evidenciou que a
metodologia utilizada permite a síntese das etapas anteriores da roda de conversa e a
identificação das diferentes leituras de mundo inseridas no contexto social em que vivem os
adolescentes, interpretadas a partir de percepções pessoais distintas.
Fica evidenciada também a (re)construção de uma leitura integrada de meio ambiente
revelada pela indicação de aspectos naturais e sociais nas produções expressas pelo grupo,
com ênfase nos aspectos naturais, mas com potencialidades e valores capazes de promover o
envolvimento dos mesmos para a participação ativa na proteção do meio ambiente em
projetos coletivos.
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Capítulo VI- Do meio ambiente. Constituição Federativa do Brasil. 1988. Disponível em http://www.lei.adv.br/225-88.htm. Acesso em: 26.mai.2009.
BRASIL. Síntese dos Indicadores Sociais traz um retrato do Brasil em 2003. Disponível emhttp://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=317&id_pagina=1. Acesso em: 26.mai.2009.
FREIRE, P. Educação e mudança. São Paulo: Atual, 1986.
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MARCELINO, NC. Pedagogia da animação. Campinas. SP: Papirus, 1990.
REIGOTA, M. Meio ambiente e representação social. São Paulo: Cortez, 1995.
RUSCHEINSKY, A. (Org). Educação ambiental: abordagens múltiplas. Porto Alegre: Artmed,. 2002
Tangram. Disponível em http://wikipedia.rog/wki/tangram .Acesso em 20.out.2008.
TALAMONI, J. L. B. & SAMPAIO, A. C. (Org.) Educação ambiental: da prática pedagógica à cidadania. São Paulo: Escrituras Editora, 2003.