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ral brasileira quem e como vive, Jess Souza, Andr Grillo et AL. (colaboradores), rea: Sociologia,
Coleo: Humanitas 2009. ISBN: 978-85-7041-787-9
A desigualdade social talvez seja o tema mais recorrente nas conferncias, seminrios e debates do 33
Encontro Anual da Associao de Ps-Graduao e Pesquisa em Cincias Sociais (Anpocs), que ocorre em
Caxambu (MG).
O assunto, que se desdobra nas diferenas de classe, gnero, cor e idade, , para alguns cientistas sociais, o
principal problema a ser pesquisado na sociedade brasileira.
Essa a opinio do socilogo Jess Souza, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que est
lanando, no evento, o livro A Ral Brasileira (Editora UFMG), que organizou com artigos seus e de outros
autores. A ral a grande questo esquecida. O Brasil no tem 500 problemas, mas um grande problema, que
essa desigualdade abissal do qual decorre mais de mil problemas, afirmou.
De acordo com levantamento estatstico contido no livro, um tero dos brasileiros vivem sob condies
precrias e excludos scio-culturalmente.
Para Jess, o problema da ral a questo mais importante no Brasil moderno e est associado a outros
problemas como a segurana pblica, o trabalho informal, o racismo e o preconceito regional. Apesar da
importncia social que tem, a desigualdade no nem percebida enquanto tal. Ns a naturalizamos, na
avaliao do socilogo. Ele, no entanto, acredita que esse pensamento no algo racional, mas tem uma
funo mais eficiente justamente por ser pr-reflexivo.
As ideias esto dentro da cabea para justificar nosso comportamento, assinala. Queremos que matem a
ral, mas ningum vai dizer eu odeio pobre, eles tm mais que morrer. O comportamento efetivo, a ao do
brasileiro, porm, vai ser de bater palmas, disse referindo-se ao episdio em que um policial militar matou um
homem que fazia uma mulher refm, em Vila Isabel, Rio de Janeiro, h cerca de um ms.
Segundo Jess, a imagem do PM dando um tiro certeiro no homem repetida vrias vezes na televiso d
margem a crticas mdia brasileira que, para ele, conservadora e pautada pelo interesse econmico. Na
sua avaliao, a mdia reproduz um comportamento predominante no pas, mesquinho, medocre, avesso ao
debate.
O professor critica os seus pares, inclusive autores da sociologia clssica brasileira, como Gilberto Freyre,
Srgio Buarque de Hollanda, Raimundo Faoro, Fernando Henrique Cardoso, alm do antroplogo Roberto Da
Matta, que, na sua opinio, ajudaram a construir e perpetuar o mito da brasilidade, com conceitos
sofisticados. Para ele, a criao do mito foi extremamente eficiente, est em todas as clulas dos brasileiros.
Ela uma verdadeira cegueira [por meio da qual] ns possamos nos perceber e nos autocriticar.
A nossa cincia se construiu em continuidade e no em crtica. A cincia social foi montada para uma
sociedade que autoindulgente [tolerante com seus erros], que no autocrtica, opina. Em sua avaliao, o
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debate cientfico, assim como o debate pblico e do censo comum, pobre e fragmentrio e no capta a
totalidade. exatamente isso do que o dinheiro precisa.
Alm do mito da brasilidade e da baixa autocrtica, a sociedade tambm se caracteriza pela ausncia de
transformaes polticas e revolues sociais, segundo Jess Souza. O Brasil uma sociedade que semodernizou apenas economicamente. No houve processo de aprendizagem coletiva por meio da luta , diz o
professor ao lembrar o processo que ocorreu na Revoluo Francesa, no sculo 18, quando a ral teve voz
ativa, diferentemente da populao brasileira excluda.
De acordo com ele, o livro tambm mostra como, em vez da luta, a ral brasileira compartilha do consenso que
legitima a desigualdade e a exclui. A importncia do livro, na viso dele, a possibilidade de reflexo. No
existe crescimento de sociedade sem autocrtica, acredita Jess.
Reportagem de Gilberto Costa, da Agncia Brasil, publicada pelo EcoDebate, 28/10/2009
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