RAUL POMPEIA
O Ateneu
Crônicas de saudades
TEXTO INTEGRAL
Cotejado com a 3-ª edição defi nitiva da
Livraria Francisco Alves, Rio de Janeiro,
s/d (conforme os originais e os desenhos
deixados pelo autor).
Apresentação de
José Antonio Pasta
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gerente editorial Claudia Moraleseditor Fabricio Waltrickeditora assistente Fabiane Zorndiagramadora Thatiana Kalaescoordenadora de revisão Ivany Picasso Batistarevisão Bárbara Borges e Alessandra Miranda de Sáredação Fabio Cesar Alvescolaboração José Munizprojeto gráfico Fabricio Waltrick e Luiz Henrique Dominguez coordenadora de arte Soraia Scarpaeditoração eletrônica Carla Castilho | Estúdio
imagem da capa Série Passagens / Contenções, de Erica Ferrari
cip‑brasil. catalogação na fonte
sindicato nacional dos editores de livros ‑ rj
P849a23.ed.
Pompeia, Raul, 1863‑1895O Ateneu / Raul Pompeia. ‑ 23.ed. ‑ São Paulo : Ática, 2012. 200p. ‑ (Bom Livro)
Inclui apêndiceISBN 978 85 08 14567‑6
1. Romance brasileiro. I. Título. II. Série. .
10‑0437. CDD 869.93 CDU 821.134.3(81)‑3
ISBN 978 85 08 14567‑6 (aluno)ISBN 978 85 08 12873‑0 (professor)Código da obra CL 737813CAE: 268245
201423‑ª edição2‑ª impressão Impressão e acabamento:
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O ATENEU 15
sobrava. Quando me disseram que estava a escolha feita da casa de educação
que me devia receber, a notícia veio achar‑me em armas para a conquista
audaciosa do desconhecido.
Um dia, meu pai tomou‑me pela mão, minha mãe beijou‑me a testa,
molhando‑me de lágrimas os cabelos e eu parti.
Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.
Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido
reclame, mantido por um diretor que de tempos a tempos reformava o esta‑
belecimento, pintando‑o jeitosamente de novidade, como os negociantes que
liquidam para recomeçar com artigos de última remessa; o Ateneu desde muito
tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpa‑
tia da meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios.
O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de
Ramos, do Norte, enchia o império com o seu renome de pedagogo. Eram
boletins de propaganda pelas províncias, conferências em diversos pontos
da cidade, a pedidos, à sustância, atochando a imprensa dos lugarejos, cai‑
xões, sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com o ofegan‑
te e esbaforido concurso de professores prudentemente anônimos, caixões
e mais caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas
públicas de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas, amarelas,
em que o nome de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia‑se ao pasmo vene‑
rador dos esfaimados de alfabeto dos conéns da pátria. Os lugares que os
não procuravam eram um belo dia surpreendidos pela enchente, gratuita,
espontânea, irresistível! E não havia senão aceitar a farinha daquela marca
para o pão do espírito. E engordavam as letras, à força, daquele pão. Um
benemérito. Não admira que em dias de gala, íntima ou nacional, festas
do colégio ou recepção da coroa, o largo peito do
grande educador desaparecesse sob constela‑
ções de pedraria, opulentando a nobreza de
todos os honoríécos berloques.
Nas ocasiões de aparato é que se podia
tomar o pulso ao homem. Não só as conde‑
corações gritavam‑lhe do peito como uma
couraça de grilos:
Ateneu! Ateneu! Aristarco todo era um anún‑
cio. Os gestos, calmos, soberanos, eram de
um rei — o autocrata excelso dos silabários;
a pausa hierática do andar deixava sentir o
esforço, a cada passo, que ele fazia para levar
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