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Refletindo sobre a Prática Pedagógica – Desenvolvimento
do sentido de número num contexto de resolução de
problemas de multiplicação e divisão
Relatório de Mestrado
Ana Filipa Gomes da Silva
Trabalho realizado sob a orientação de
Professor Doutor Hugo Alexandre Lopes Menino
Professora Doutora Maria Isabel Antunes Marques de Azevedo Rocha
Leiria, setembro de 2013
Mestrado em Ensino do 1.º e do 2.º Ciclo do Ensino Básico
ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS
INSTITUTO POLITÉCNICO DE LEIRIA
ii
iii
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Professor Doutor Hugo Menino, pelas orientações
e críticas pertinentes e pela disponibilidade, apoio, incentivo em todos
os momentos e pela confiança que sempre me transmitiu.
À Professora Doutora Isabel Rocha, com quem tive o privilégio de
trabalhar, pela disponibilidade e profissionalismo, sem os quais este
estudo não teria sido possível.
Aos alunos da turma do 3.ºano, sem os quais não teria sido possível a
realização deste trabalho e, com quem muito aprendi.
iv
RESUMO
O presente relatório de prática de ensino supervisionada surge no
âmbito do Mestrado em Ensino do 1.º e 2.º Ciclo do Ensino Básico, e
é composto por duas partes distintas que se interligam entre si.
A primeira parte é relativa à dimensão reflexiva, onde descrevo de
forma crítica e reflexiva todo o meu percurso durante a Prática
Pedagógica em contexto de 1.º e 2.º Ciclo. O relato das experiências
vividas nos dois contextos teve como finalidade refletir acerca da
minha prática com o intuito de melhorar intervenções futuras.
A segunda parte é relativa à dimensão investigativa, onde se apresenta
um estudo realizado em contexto de 1.ºCiclo do Ensino Básico,
integrado na área da Matemática. O seu principal objetivo situa-se no
âmbito do conhecimento acerca da compreensão das operações
multiplicação e divisão, por alunos do 3ºano de escolaridade, na
resolução de diferentes tarefas em diversos contextos numéricos.
Para investigar esta questão elaborou-se uma proposta pedagógica na
qual se privilegiou as estratégias, os procedimentos mentais e a
justificação de ideias e conceitos matemáticos utilizados pelos alunos,
na resolução de situações problemáticas.
Em termos metodológicos, optou-se por uma metodologia qualitativa
de investigação e pela realização de três estudos de caso (3 alunos da
turma). Os métodos de recolha de dados foram a observação
participante e as produções dos alunos.
A análise dos dados permitiu evidenciar uma significativa motivação
dos alunos na resolução das tarefas. Observou-se a utilização de
diferentes estratégias e raciocínios flexíveis, em que mobilizaram
diversos aspetos do sentido de número.
Verificaram-se dificuldades ao nível da interpretação e compreensão
dos dados dos enunciados; dificuldades em compreender as relações
envolvidas e efetuar os procedimentos necessários à sua resolução, tal
como avaliar os resultados.
Palavras-chave:
Cálculo Mental; Comunicação; Estratégias/Procedimentos; Resolução
de Problemas; Sentido de Número.
v
ABSTRACT
This report of supervised teaching practice arises under the Master’s
Degree in Education of the 1st and 2
nd Cycle of Basic Education, and is
composed of two distinct parts which are interlinked.
The first part is relative to a reflective dimension, where I describe, in a
critical and reflective manner, my entire path during the Teaching
Practice in the 1st and 2
nd Cycle. The report of the experiences had the
goal of reflecting on my practice with the intuition of bettering future
interventions.
The second part is relative to the investigative dimension, presenting a
study conducted in the context of the 1st Cycle of Basic Education,
integrated in the area of Mathematics. The main purpose lies within the
knowledge of the comprehension of multiplication and division
operations, by students of the 3rd year of schooling, in the resolution of
different tasks within different numerical contexts.
To investigate this issue, a pedagogical proposal was elaborated in
which the strategies, the mental procedures and the justification of ideas
and mathematical concepts utilized by students, were given priority in
the resolution of problematical situations.
In methodological terms, we opted for a qualitative research
methodology and for the conduction of 3 case studies (3 students from
the class). The methods of data collection were participative observation
and the students’ productions.
The data analysis highlighted a significant motivation of the students in
solving the tasks. We observed the use of different strategies and
flexible reasoning, in which diverse aspects of number sense were
mobilized.
We verified difficulties at the level of interpretation and understanding
of the set data; difficulties in understanding the involved relationships
and in carrying out the necessary procedures for its resolution, as well
as evaluating the results.
Keywords:
Mental Calculation; Communication; Strategies/Procedures; Problem
Solving; Number Sense.
vi
Índice Geral
Agradecimentos ........................................................................................................... iii
Resumo ........................................................................................................................ iv
Abstract ........................................................................................................................ v
Índice de Figuras ........................................................................................................ viii
Índice de Tabelas ......................................................................................................... ix
Introdução ..................................................................................................................... 1
Parte I – Dimensão Reflexiva ........................................................................................ 2
1. Prática Pedagógica em contexto de 1.º Ciclo do Ensino Básico ........................... 3
2. Prática Pedagógica em contexto de 2.º Ciclo do Ensino Básico ......................... 13
Parte II – Dimensão Investigativa ................................................................................ 27
Capítulo I – Introdução ............................................................................................... 27
1.1. Motivações, objetivos e questão do estudo .................................................... 27
1.2. Contexto e relevância do estudo/Pertinência do estudo .................................. 28
1.3. Organização geral do estudo ......................................................................... 29
Capítulo II - Revisão da Literatura .............................................................................. 31
2.1. Sentido de número: que significados? ............................................................... 31
2.2. Sentido de número e orientações curriculares ................................................... 33
2.3. Sentido de número num contexto de resolução de problemas ............................ 35
2.4. Aprendizagem da multiplicação numa perspetiva de desenvolvimento do sentido
de número ............................................................................................................... 39
2.5. Relação entre a multiplicação e a divisão .......................................................... 41
Capítulo III - Metodologia de Investigação ................................................................. 43
3.1. Opções Metodológicas ..................................................................................... 43
3.2. Contexto da investigação .................................................................................. 44
3.3. Participantes ..................................................................................................... 44
3.4. Técnicas e instrumentos de recolha de dados .................................................... 45
vii
3.5. Métodos de análise de dados............................................................................. 47
Capítulo IV - Proposta Pedagógica .............................................................................. 49
4.1. Calendarização e exploração das tarefas da proposta pedagógica .................. 50
Capítulo V – Resultados e sua discussão ..................................................................... 56
5.1. O caso da Maria Leonor ................................................................................... 56
5.1.1. Apresentação do caso ................................................................................ 56
5.1.2. Análise do desempenho nas tarefas ............................................................ 56
5.1.3. Síntese do caso .......................................................................................... 61
5.2. O caso do Pedro ............................................................................................ 62
5.2.1. Apresentação do caso ................................................................................ 62
5.2.2. Análise do desempenho nas tarefas ........................................................... 62
5.2.3. Síntese do caso ......................................................................................... 67
5.3. O caso da Érica ............................................................................................. 69
5.3.1. Apresentação do caso ................................................................................ 69
5.3.2. Análise do desempenho nas tarefas ........................................................... 69
5.3.3. Síntese do caso ......................................................................................... 74
Conclusões, limitações e recomendações do Relatório ................................................ 76
Conclusões .............................................................................................................. 76
Limitações e recomendações ................................................................................... 80
Bibliografia ................................................................................................................. 82
Anexos.......................................................................................................................... 1
Anexo 1 – Pedido de autorização aos pais e encarregados de educação...................... 2
Anexo 2 – Tarefa Carteiras de Cromos ..................................................................... 4
Anexo 3 – Tarefa Tampas de garrafas....................................................................... 6
Anexo 4 – Tarefa Colecionar Cartas ......................................................................... 9
Anexo 5 – Tarefa Máquinas de Bebidas .................................................................. 12
Anexo 6 – Codificação de documentos submetidos a procedimentos de análise ...... 15
viii
ÍNDICE DE FIGURAS
FIGURA 1: ESTRATÉGIAS QUE OS ALUNOS A, B E C UTILIZARAM PARA EFETUAR AS
MEDIÇÕES ................................................................................................................................ 10
FIGURA 2: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.1. DA TAREFA CARTEIRAS DE CROMOS (TM1) ....... 57
FIGURA 3: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.1. DA TAREFA TAMPAS DE GARRAFAS (TM2) ........ 58
FIGURA 4: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.2. DA TAREFA TAMPAS DE GARRAFAS (TM2) ........ 59
FIGURA 5: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.1. DA TAREFA COLECIONAR CARTAS (TM3)........... 59
FIGURA 6: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.2. DA TAREFA COLECIONAR CARTAS (TM3)........... 60
FIGURA 7: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.1. DA TAREFA MÁQUINAS DE BEBIDAS (TM4) ....... 61
FIGURA 8: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.1. DA TAREFA CARTEIRAS DE CROMOS (TP1) ........ 63
FIGURA 9: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.2. DA TAREFA CARTEIRAS DE CROMOS (TP1) ........ 64
FIGURA 10: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.1. DA TAREFA TAMPAS DE GARRAFAS (TP2) ........ 64
FIGURA 11: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.1. DA TAREFA COLECIONAR CARTAS (TP3) .......... 65
FIGURA 12: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.2. DA TAREFA COLECIONAR CARTAS (TP3) .......... 66
FIGURA 13: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.1. DA TAREFA MÁQUINAS DE BEBIDAS (TP4) ....... 67
FIGURA 14: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.2. DA TAREFA MÁQUINAS DE BEBIDAS (TP4) ....... 67
FIGURA 15: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.1. DA TAREFA CARTEIRAS DE CROMOS (TE1) ...... 70
FIGURA 16: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.2. DA TAREFA CARTEIRAS DE CROMOS (TE1) ...... 70
FIGURA 17: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.1. DA TAREFA TAMPAS DE GARRAFAS (TE2) ....... 71
FIGURA 18: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.1. DA TAREFA COLECIONAR CARTAS (TE3) .......... 72
FIGURA 19: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.2. DA TAREFA COLECIONAR CARTAS (TE3) .......... 73
FIGURA 20: PRODUÇÃO DA QUESTÃO 1.1. DA TAREFA MÁQUINAS DE BEBIDAS (TE4) ...... 73
ix
ÍNDICE DE TABELAS
TABELA 1: MÉTODOS, FONTES PRINCIPAIS E FORMAS DE REGISTO DOS DADOS ............... 46
1
INTRODUÇÃO
O presente relatório surge no âmbito do curso do Mestrado em Ensino do 1.º e 2.º Ciclo
do Ensino Básico, da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto
Politécnico de Leiria. O relatório é referente à Prática de Ensino Supervisionada em
contexto de 1.º e 2.º Ciclo, e é composto por duas partes distintas que se interligam entre
si.
A primeira parte é relativa à dimensão reflexiva, onde apresento de forma crítica,
fundamentada e reflexiva, variados aspetos da minha prática pedagógica como
expetativas, vivências, atividades pedagógicas, estratégias/metodologias adotadas,
aprendizagens e dificuldades. O relato das experiências vividas nos dois contextos teve
como finalidade refletir acerca da minha prática com o intuito de melhorar intervenções
futuras. Esta parte encontra-se dividida em duas reflexões referentes aos dois contextos
de prática. Primeiramente, o contexto de 1.ºCiclo, seguindo-se o 2.ºCiclo do Ensino
Básico.
A segunda parte é relativa à dimensão investigativa, onde se apresenta um estudo
realizado em contexto de 1.ºCiclo do Ensino Básico, integrado na área da Matemática.
O seu principal objetivo situa-se no âmbito do conhecimento acerca da compreensão das
operações multiplicação e divisão, por alunos do 3ºano de escolaridade, na resolução de
diferentes tarefas em diversos contextos numéricos.
Para investigar esta questão elaborou-se uma proposta pedagógica na qual se privilegiou
as estratégias, os procedimentos mentais e a justificação de ideias e conceitos
matemáticos utilizados pelos alunos, na resolução de situações problemáticas.
A dimensão investigativa principia-se com a introdução; de seguida, é apresentado o
enquadramento teórico que suportou o estudo; o capítulo seguinte corresponde à
metodologia de investigação. Segue-se a apresentação da proposta pedagógica;
posteriormente são apresentados os resultados e sua discussão. Por último, são
evidenciadas as principais conclusões do estudo; são também expostas as principais
limitações que estiveram subjacentes a este trabalho, bem como recomendações para
investigações futuras.
2
PARTE I – DIMENSÃO REFLEXIVA
…ser professor obriga a opções constantes, que cruzam a nossa maneira de ser
com a nossa maneira de ensinar, e que desvendam na nossa maneira de ensinar
a nossa maneira de ser.
Nóvoa, 1992
Pensar a escola enquanto lugar de decisão e de gestão curricular é pensar a prática
pedagógica enquanto atividade de investigação e de intervenção para a mudança. Isto é,
pensar a escola enquanto espaço de reflexão e de diálogo entre os diferentes atores em
presença e pensar que essa reflexão favorece a emergência de uma nova cultura escolar,
matriciada pelas dimensões do ser, do estar, do fazer, do conviver, do comunicar, do
aprender e do fazer aprender.
É necessário que se reconheça o ato educativo como ato social e a escola como uma
organização (ou sistema social) promotora de mudanças sociais ou, pelo menos
preparada para responder aos desafios colocados pela sociedade. Estes papéis da escola
e estes desafios implicam mudanças, nomeadamente ao nível das formas de organizar e
pensar o currículo. É necessário instituir modos de trabalho dentro das escolas que
estruturem novas relações entre os professores, a chamada cultura colaborativa, e novos
processos e modos de trabalho pedagógico.
Pensar a escola desta forma é pensá-la como organização com identidade própria e com
uma autonomia e poder de decisão, onde todos se envolvem criando dispositivos que
conduzam à melhoria das situações de ensino-aprendizagem e de organização do
próprio currículo. Não se pode, mais, esquecer a dimensão social presente na educação.
“Formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de
destrezas” diz-nos Freire (1997:15). Atualmente, da educação escolar não se espera
apenas que veicule valores universais e saberes definidos de forma homogénea para
todo o país, ou seja, que transmita uma cultura-padrão, entendida como única. Espera-
se, também, que incorpore e mobilize saberes e recursos que façam da escola uma
instituição de vivência e de aprendizagem das culturas e da democracia e,
consequentemente, que a tornem um espaço propiciador do sucesso educativo para
todas as crianças.
3
Partindo de uma conceção de escola que se organiza para a participação de todos os
intervenientes no processo educativo, possibilitando a oportunidade de aceder a
instrumentos cognitivos que permitam a todos os alunos moverem-se na sociedade mais
geral e lutar pelo exercício dos seus direitos e dos seus deveres, no sentido de criar
oportunidades de construção de práticas e de aprendizagens significativas, é uma
questão central neste entendimento de educação.
Assim, deste entendimento pressupõe-se que todo o trabalho escolar seja pensado
enquanto “atividade” cognitiva, funcional, emocional e afetiva. Abandona-se uma
perspetiva de escola como organização “burocrática” e enfatiza-se a noção de escola
curricularmente inteligente (Leite, 2000), na qual os saberes escolares e as experiências
do quotidiano são “trabalhados” de forma integrada, globalizadora e globalizante. Nesta
perspetiva, o trabalho pedagógico está associado ao reconhecimento da importância do
envolvimento dos alunos e dos professores “nos processos de construção de saberes
significativos e funcionais, isto é, de saberes que partem de situações reais e que são
ampliados para serem transferíveis para outras situações” (Cortesão et al, 2001).
1. PRÁTICA PEDAGÓGICA EM CONTEXTO DE 1.º CICLO DO ENSINO BÁSICO
Tal como os currículos apontam, no 1.ºciclo do Ensino Básico os alunos devem ser
essencialmente orientados para os conceitos, privilegiando a exploração de situações
reais e significativas que possibilitem a atribuição efetiva de significados, tal como a
interação social no processo de ensino-aprendizagem.
Todo o trabalho pedagógico desenvolvido ao longo do ano, em contexto escolar do
1.ºciclo, proporcionou-me uma oportunidade reflexiva sobre a globalidade da ação
pedagógica e, em particular, sobre algumas especificidades decorrentes do trabalho
diário, desenvolvido com os alunos.
Para responder às necessidades e desafios da educação dos nossos dias, impõe-se ao
professor um novo papel: o de investigador de novas pedagogias e o de reflexivo sobre
a sua própria prática. Estes pressupostos foram as linhas orientadoras pelas quais tentei
desenvolver todo o meu trabalho pedagógico ao longo do ano. Considero que o papel de
investigador é crucial na formação de qualquer professor, uma vez que esta atitude
fornece todo um conjunto de conhecimentos científicos e teóricos que são os pilares da
construção do trabalho pedagógico do professor. Assim, quanto mais conhecimentos e
4
fundamentos científicos e didáticos o professor domina sobre os conteúdos curriculares,
bem como outros tipos de saberes, maior é a sua capacidade de responder aos desafios
educacionais que encontra na sala de aula. Pela minha experiência pedagógica,
considero que todos os conhecimentos científicos e didáticos adquiridos ao longo do
meu percurso académico, foram o fundamento para a construção das minhas práticas
pedagógicas, e isto porque permitiram a criação de dispositivos pedagógicos, em
atividades significativas, funcionais de acordo com os interesses, necessidades e
motivações do grupo de alunos, tendo em conta a linha da metacognição (aprender a
aprender).
A procura de um melhor desempenho profissional, visando a promoção do sucesso
educativo, motivou-me na tentativa de compreensão do modo como as experiências de
aprendizagem facilitam e favorecem o desenvolvimento global dos alunos.
Assim sendo, a atual conceção de currículo e a sua gestão, exigem que o professor não
se limite à aplicação de programas, mas que decida e justifique as suas opções, em
função de situações reais. Esta responsabilidade, que tem subjacente a preocupação pela
qualidade do ensino e da aprendizagem, requer do professor um espírito de pesquisa
próprio de quem quer investigar e, assim, contribuir para o conhecimento sobre a
educação.
Simultaneamente, uma atitude e atividade de pesquisa contribuem para o
desenvolvimento de práticas inovadoras e a melhoria da qualidade da aprendizagem dos
alunos.
Pela experiência adquirida na prática pedagógica, em contexto de 1.º ciclo do ensino
básico, no Agrupamento de Escolas de Nery Capucho, na EB1 João Beare – Marinha
Grande, nomeadamente no 1.º e 3.ºanos de escolaridade, explicito de forma reflexiva, os
aspetos que considerei mais pertinentes e significativos do ponto de vista pedagógico.
Numa primeira análise refiro a caracterização das turmas, bem como o perfil
pedagógico das mesmas.
No primeiro semestre, na prática pedagógica trabalhei com um grupo do 1ºano de
escolaridade. A turma era constituída por 22 alunos, 13 alunos do sexo feminino e 9
alunos do sexo masculino. De uma maneira geral, a turma revelou-se um grupo
interessado e curioso perante as diversas situações de aprendizagem. O ritmo de
5
trabalho dos mesmos tornou-se mais autónomo, responsável e assertivo. Registaram-se
ganhos significativos nos hábitos de trabalho, na organização, na persistência para
melhorar e na participação/construção ativa das aprendizagens.
No segundo semestre, trabalhei com uma turma do 3.ºano de escolaridade, constituída
por 20 alunos, sendo 11 alunos do sexo masculino e 8 alunos do sexo feminino.
Em termos de ensino-aprendizagem, o grupo/turma apresentou alguma heterogeneidade
na aquisição das aprendizagens, com diferentes ritmos de trabalho, nomeadamente na
área da Língua Portuguesa. Os alunos com dificuldades beneficiaram do apoio direto e
individual da professora titular, das estagiárias, tal como o apoio e a ajuda pedagógica
dos pares nos seus trabalhos. Registaram-se ganhos significativos nos hábitos de
trabalho, na organização, na persistência para melhorar e na participação/construção
ativa das aprendizagens.
No entanto, de um modo geral, o grupo revelou-se interessado e curioso perante as
diversas situações de aprendizagem. Estas foram desenvolvidas num sentido construtivo
e encorajador.
Refiro ainda, que foi neste grupo (3.ºano de escolaridade) que desenvolvi o trabalho de
investigação, integrado na área da Matemática, tendo como principal objetivo
aprofundar o conhecimento da compreensão das operações multiplicação e divisão, na
resolução de diferentes tarefas em diversos contextos numéricos.
1.1. Análise do processo de ensino-aprendizagem (análise das
planificações/metodologias)
Durante o processo de ensino-aprendizagem utilizaram-se estratégias, envolvendo os
conhecimentos prévios dos alunos, de modo a orientá-los para a descoberta dos
conceitos, ou seja, utilizou-se uma pedagogia construtivista baseada essencialmente na
construção do conhecimento, partindo do conhecido para o desconhecido.
Salienta-se também, o aspeto positivo quer do trabalho em pares, quer do trabalho em
grupo, que se desenvolveu em algumas atividades, uma vez que permitiu aos alunos a
experimentação, partilha de ideias, esclarecimento de dúvidas, operacionalizando os
conhecimentos para deste modo, podermos desenvolver as competências traçadas.
6
Quanto às planificações, a construção das mesmas, teve como princípio fundamental os
conhecimentos prévios dos alunos em relações aos conteúdos que iam sendo
trabalhados, as suas necessidades, interesses e os ritmos de aprendizagem apresentados
pela turma.
Nas metodologias selecionadas/pensadas, salienta-se alguns dos aspetos mais
importantes e a que devemos dar atenção no trabalho com os alunos, tais como: o nível
de desenvolvimento dos mesmos; a identificação dos conhecimentos prévios; a
funcionalidade dos conteúdos a aprender, isto é, a possibilidade de serem efetivamente
utilizados quando as circunstâncias o exigem; a perspetiva de aprender a aprender, as
estratégias de descoberta e as práticas de sistematização; a memorização compreensiva;
a articulação com os esquemas cognitivos e afetivos do aluno; a reflexão sobre como
aprendemos (na linha da metacognição); a comunicação, imprescindível ao processo de
conhecimento, e os processos de interactividade entre os pares e no trabalho de grupo; a
importância dos contributos dos outros na construção da aprendizagem (Leite et al,
2001).
Evidencia-se, também, a funcionalidade e a intencionalidade da aprendizagem, a
compreensão do porquê aprender um determinado conteúdo, desenvolver uma
determinada atividade e resolver um determinado problema.
Todos reconhecemos que a escola desempenha um papel imprescindível na
aprendizagem da linguagem escrita. Ao contrário da língua oral, que a criança adquire
no contexto familiar, natural e espontaneamente, o domínio da vertente escrita da língua
exige o ensino explícito e sistematizado por parte do professor, e a vontade consciente
de aprender por parte do aluno.
Assim, na perspetiva da Educação Básica, é função da escola fazer de cada aluno um
leitor fluente e crítico, capaz de usar a leitura para obter informação, organizar o
conhecimento e usufruir o prazer recreativo que a mesma pode proporcionar. Se nos
primeiros anos de escolaridade uma atenção particular é devida aos processos de
descodificação e automatização, há que desenvolver nos anos subsequentes técnicas de
consulta e estratégias de estudo, proporcionando ao longo de todo o percurso escolar
situações que fomentem o gosto pela leitura e que sedimentem os hábitos que
caracterizam os leitores fluentes (Sim-Sim et al, 1997).
7
1.2. Trabalho Pedagógico (atuação)
Durante a prática pedagógica, utilizaram-se estratégias de compreensão de textos, entre
as quais saliento: antecipação de conteúdos; mobilização de conhecimentos;
identificação do vocabulário desconhecido e descoberta do seu significado
contextualizado; mapeamentos visuais; registo das ideias principais do texto, entre
outras. Estas estratégias utilizadas na compreensão de textos teve como objetivo
proporcionarem ao aluno os seguintes descritores de desempenho de leitura: apreender o
sentido global de um texto; identificar o tema central e aspetos acessórios; localizar
informações específicas e usá-las para cumprir instruções; sintetizar partes do texto;
compreender inferências, mobilizando informações textuais implícitas e explícitas e
conhecimentos exteriores aos textos; extrair conclusões do que foi lido; inferir o
significado de uma palavra desconhecida com base na estrutura interna e no contexto.
Dado que a leitura constitui uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de
capacidades cognitivas em todos os níveis educacionais e, nesse aspeto, contribui
fortemente para o sucesso escolar, foram trabalhadas de forma contínua e sistemática
algumas obras recomendadas pelo Plano Nacional de Leitura, apelando à imaginação
dos alunos, através do conto e estimulando-lhes a curiosidade através da colocação de
questões problemáticas relativas a assuntos que lhes despertassem interesse. Este
trabalho realizou-se com o grupo/turma do 1ºano de escolaridade, dada a importância da
escuta e da compreensão da leitura nos primeiros anos de escolaridade.
A organização das atividades ocorreram de forma interdisciplinar, tendo sempre em
conta os interesses dos alunos a fim de os motivar mais fortemente, promovendo mais
eficazmente o seu desenvolvimento educacional. Deu-se enfase ao trabalho nas áreas
artísticas, nomeadamente na Expressão Plástica, utilizando a ilustração/desenho como
ferramenta de raciocínio e compreensão do material lido (mapeamentos visuais;
pranchas de histórias); na Expressão Dramática, trabalhou-se a dramatização de
histórias lidas, realçando a importância do corpo como fonte de comunicação e de
interação com os outros, bem como a capacidade de compreensão global do texto.
Tal como a leitura, a expressão escrita também não é uma atividade de aquisição
espontânea e natural, exigindo por isso, um ensino explícito e sistematizado e uma
prática frequente.
8
A expressão escrita é um meio poderoso de aprendizagem que requer o domínio
apurado de técnicas e estratégias precisas, diversas e sofisticadas. As funções da escrita
são múltiplas e variadas: escreve-se para identificar algo ou alguém, para mobilizar a
ação, para recordar, para satisfazer pedidos ou exigências, para refletir, para aprender e
para criar (Grabe & kaplan, 1996).
Tendo em consideração os pressupostos acima enunciados, verificamos que estes vão ao
encontro do Programa da Língua Portuguesa, nomeadamente no domínio da Expressão
Escrita que tem como objetivo Escrever para aprender - para aprender a escrever;
para construir e expressar conhecimento (s).
Tentou-se desenvolver e flexibilizar alguns cenários pedagógicos criando,
progressivamente, um ambiente em que os alunos trabalhassem a escrita e aprendessem
a escrever, em colaboração com o professor, tais como: desenvolver pela prática
quotidiana o sentido da funcionalidade da escrita e da leitura; estimular ao máximo a
escrita espontânea dos alunos, valorizando as várias tentativas, não temendo o erro,
antes o admitindo como parte integrante e necessária ao processo de aprendizagem;
criação de condições (espaços e instrumentos motivadores e facilitadores da produção
escrita pelos alunos); diversidade e frequência de práticas de escrita: textos do
quotidiano, notícias, resumos, relatos…; modalidades de produção e aperfeiçoamento de
textos (em grupos, em pares, individualmente, em coletivo); necessidade de entender os
momentos de planificação, textualização e revisão de forma dinâmica e interativa em
função da especificidade das tarefas e das necessidades concretas dos alunos; a vivência
de situações de cooperação em tarefas de revisão de textos significativos, torna-se
facilitador no percurso de aprendizagem dos alunos, e isto porque, aqueles que revelam
mais dificuldades na escrita, e que trabalham a pares demostram, progressivamente,
mais competências metatextuais e metalinguísticas, sobretudo na capacidade de operar
modificações de profundidade como as do nível semântico.
Na área da Matemática, realço a importância das capacidades transversais,
nomeadamente a capacidade de resolução de problemas, de raciocínio e de comunicação
matemáticos e de as usar na construção, consolidação e mobilização dos conhecimentos
matemáticos.
9
Desenvolver a capacidade de resolução de problemas e promover o raciocínio e a
comunicação matemáticos, para além de constituírem objetivos de aprendizagem
centrais neste programa, constituem também importantes orientações metodológicas
para estruturar as atividades a realizar em aula. Isso significa que o professor deve
proporcionar situações frequentes em que os alunos possam resolver problemas, analisar
e refletir sobre as suas resoluções e as resoluções dos colegas. Significa igualmente que
o professor deve dar atenção aos raciocínios dos alunos, valorizando-os, procurando que
eles os explicitem com clareza, que analisem e reajam aos raciocínios dos colegas. A
comunicação deve ter também um lugar destacado na prática letiva do professor.
Através da discussão oral na aula, os alunos confrontam as suas estratégias de resolução
de problemas e identificam os raciocínios produzidos pelos seus colegas. Através da
escrita de textos, os alunos têm oportunidade de clarificar e elaborar de modo mais
aprofundado as suas estratégias e os seus argumentos, desenvolvendo a sua
sensibilidade para a importância do rigor no uso da linguagem matemática (ME, 2007).
Desenvolver a capacidade de comunicação é uma das grandes finalidades do ensino da
Matemática no ensino básico. Ao longo deste percurso os alunos devem desenvolver “a
aptidão para discutir com outros e comunicar descobertas e ideias matemáticas através
do uso de uma linguagem, escrita e oral, não ambígua e adequada à situação” (Abrantes
et al., 1999, p.41).
Refiro também, o trabalhado pedagógico desenvolvido na temática das Trajetórias de
Aprendizagem, pela sua importância no fazer aprendendo, partindo de situações do
quotidiano dos alunos, bem como da realização de tarefas em grau de complexidade
crescente, envolvendo os mesmos numa dinâmica de descoberta, construção e
consolidação dos seus próprios conhecimentos. As Trajetórias de Aprendizagem são
“construtores pedagógicos úteis, bem como construtores teóricos. O conhecimento de
progressões de desenvolvimento – níveis de compreensão e de destreza, cada um mais
sofisticado que o anterior – são essenciais para um ensino de qualidade baseado na
compreensão quer da matemática quer dos processos de pensamento e aprendizagem
dos alunos” (Serrazina & Oliveira, 2010, p.46)
As tarefas apresentadas, quer para o grupo do 1.ºano, quer para o 3.º ano de
escolaridade, procuraram evidenciar percursos de aprendizagem, que permitiram aos
alunos, progressivamente, alargar os seus conhecimentos e capacidades, construindo e
10
manipulando materiais, refletindo sobre as suas experiências, comunicando estratégias,
procedimentos e resultados, resolvendo problemas e fazendo investigações.
O “aprender a aprender”, proposto na situação pedagógica “Grandezas e Medidas”,
possibilitou aos alunos do 1.º ano de escolaridade, o agir sobre a realidade e os objetos
que os rodeiam, isto é, aprender fazendo: medições, comparações, ordenações,
seriações, estimativas, discussões de resultados e registo de ideias. Todo este trabalho,
contribui decisivamente, sob o meu ponto de vista, para o desenvolvimento do
pensamento lógico e da capacidade de raciocínio.
A B C
Para o grupo do 3.ºano de escolaridade, realizou-se uma sequência de atividades
envolvendo as operações da multiplicação e da divisão, realçando a resolução de
situações problemáticas, bem como as estratégias e justificações utilizadas.
No 1.º ciclo, na área de Estudo do Meio, realço a importância do trabalho desenvolvido
relacionado com as Ciências Experimentais. As atividades experimentais fazem também
parte do dia-a-dia, criando nos alunos um interesse especial por experimentar e pensar
sobre fenómenos que até então faziam apenas parte do imaginário das questões sem
solução.
No estudo das ciências naturais alguns conceitos podem tornar-se de difícil
compreensão se forem apresentados apenas teoricamente. Segundo Leite (sem data), a
experimentação na sala de aula é uma componente importante do ensino das ciências,
tornando-se muito interessante pela diversidade de assuntos que abrange, ao mesmo
Figura 1: Estratégias que os alunos A, B e C utilizaram para efetuar as medições
11
tempo desperta maior curiosidade nas crianças ao permitir que elas descubram e
questionem sobre aquilo que estão a observar.
De acordo com o currículo nacional do ensino básico, a curiosidade das crianças pelos
fenómenos naturais deve ser estimulada no 1º ciclo. Os alunos são encorajados a
levantar questões e a procurar respostas através de experiências e de pesquisas simples.
Desta forma, o trabalho experimental concebido como uma atividade de investigação
adequada aos diversos contextos de ensino-aprendizagem, contribui para a criação de
situações de aprendizagem significativas, adaptáveis aos diversos níveis etários,
promovendo um alargamento do conhecimento científico por parte dos alunos.
No que concerne às atividades experimentais desenvolvidas na prática pedagógica,
optou-se por escolher objetos que possibilitassem aos alunos a comparação de algumas
propriedades. Para os registos, foi fundamental a escrita das conceções prévias dos
alunos, pois possibilita-nos partir dos conhecimentos prévios.
Pretende-se orientar os alunos a pensar livremente de forma crítica e criativa,
relacionando evidências e explicações, confrontando diferentes perspetivas de
interpretação científica. Para isso, durante as aulas os alunos realizaram estudos tendo
como base a observação direta, utilizando os sentidos, a recolha de amostras, bem como
a experimentação. É importante que, desde o início, os alunos sejam incentivados a
fazer registos das suas observações, para que lhes seja incutido um método de trabalho e
de observação. Sempre que possível, deve haver planeamento de investigação, deve-se
proporcionar situações de aprendizagem centradas na resolução de problemas, com
interpretação de dados, formulação de problemas e hipóteses, previsão e avaliação de
resultados.
Em suma, considero grande parte das atividades de ensino-aprendizagem desenvolvidas
com os alunos positivas, pela sua intencionalidade, envolvimento dos mesmos, tendo
sempre como meta principal proporcionar experiências significativas e funcionais, num
primeiro contacto com alguns conceitos.
No entanto, referem-se alguns obstáculos, quanto à concretização de algumas tarefas,
nomeadamente a gestão do tempo, que em algumas atividades foi bastante escasso.
12
Considero todo o processo de reflexão bastante importante, uma vez que, é através deste
que refletimos sobre todo o trabalho pedagógico desenvolvido com os alunos – reflexão
sobre a ação. É importante pensar em tudo o que se fez, saber analisar aquilo que se fez,
saber tirar uma conclusão. É necessário pensarmos que numa reflexão sobre uma aula é
importante considerar a intenção do professor, o desenvolvimento da aula e a avaliação
da tarefa desenvolvida.
De facto, os professores que refletem na ação e sobre a ação estão envolvidos num
processo de pesquisa-ação, não só tentando compreender-se a si próprios como
professores, mas também procurando melhorar o seu ensino. Nesta linha de
pensamento, os professores reflexivos desenvolvem a prática com base na sua própria
ação num dado contexto escolar, que constituem sempre um caso único e real. A prática
é sustentada em Teorias da Educação em relação às quais o professor mantém uma
perspetiva crítica.
1.3. Conclusão
Como conclusão, considero que o trabalho escolar realizado durante a prática
pedagógica, em contexto de 1.º ciclo do ensino básico, revelou-se um grande desafio
pedagógico, e reconheço esta oportunidade de trabalho como uma mais-valia para o
meu futuro profissional, uma vez que aprendi e apliquei estratégias de ensino-
aprendizagem diversificadas, respeitando a heterogeneidade e ritmos de trabalho
diferentes presentes na sala de aula.
Um outro aspeto relevante que contribuiu para a minha formação enquanto futura
docente, centrou-se nos momentos reflexivos, quer na autoanálise do meu próprio
trabalho, quer nos momentos de discussão e de partilha de estratégias de ensino-
aprendizagem, bem como novas metodologias de trabalho, com a professora cooperante
e com a professora supervisora. Estes momentos foram bastante proveitosos, porque
proporcionaram-me um progressivo crescimento reflexivo, crítico, fundamentado e
construtivo sobre a ação educativa. Ao longo do ano, contribuíram de forma construtiva
nas minhas planificações, que foram, progressivamente, operacionalizadas em
atividades significativas e funcionais. Nas atuações, considero que os conhecimentos
científicos e didáticos adquiridos ao longo do ano, tornaram a minha ação educativa
mais enriquecida, permitindo uma gestão flexível e crítica do currículo. Do mesmo
13
modo, a confiança que fui adquirindo ao longo de todo o trabalho, permitiu-me
desenvolver estratégias e metodologias de ensino-aprendizagem de acordo com os
interesses e motivações dos alunos, bem como a aquisição de instrumentos que me
proporcionaram uma reflexão e análise das ideias/conhecimentos e ações dos alunos.
Assim, Zeichner e Liston (1996) consideram que há aspetos constituintes das práticas
do professor reflexivo como, analisar e enfrentar os dilemas que se colocam na sua
atividade, assumir os seus valores, estar atento aos contextos culturais e institucionais,
envolver-se na mudança e tornar-se agente do seu próprio desenvolvimento profissional,
que são fundamentais no processo de Ensino – Aprendizagem. Podemos assim referir
que o ensino reflexivo requer uma permanente autoanálise por parte do professor, o que
implica abertura de espírito, análise rigorosa e consciência social.
2. PRÁTICA PEDAGÓGICA EM CONTEXTO DE 2.º CICLO DO ENSINO BÁSICO
No decorrer da prática pedagógica em contexto de 2.ºCiclo do Ensino Básico, considero
que revelei necessidade e interesse pela pesquisa/fundamentação relacionada com
situações pedagógicas, e isto porque, ser professor exige de cada docente uma
autoformação contínua. Senti necessidade de realizar várias leituras, recorrer a materiais
de apoio provenientes de bibliografia específica das várias áreas, nomeadamente
Português e História e Geografia de Portugal; Ciências Naturais e Matemática. Estes
conhecimentos didáticos/científicos permitiram-me planificar/atuar com mais confiança,
uma vez que foram facilitadores na construção das minhas planificações,
nomeadamente no que diz respeito ao rigor científico.
2.1. Escola Básica Guilherme Stephens – Marinha Grande (Turmas
do 6.ºB/6.ºG)
Pela experiência adquirida na prática pedagógica, em contexto de 2.º ciclo do ensino
básico, na Escola Básica Guilherme Stephens – Marinha Grande, nomeadamente no
6.ºano de escolaridade, explicito de forma reflexiva, os aspetos que considerei mais
pertinentes e significativos do ponto de vista pedagógico. Numa primeira análise refiro
a caracterização das turmas, bem como o perfil pedagógico das mesmas.
14
No primeiro semestre, o trabalho na prática pedagógica realizou-se com dois grupos do
6.ºano de escolaridade, a turma 6.ºB na disciplina de História e Geografia de Portugal e
a turma 6.ºG na disciplina de Português.
A turma do 6.ºB era constituída por 27 alunos, 8 alunos do sexo feminino e 19 do sexo
masculino. De uma maneira geral, a turma revelou-se um grupo interessado e curioso
perante as diversas situações de aprendizagem. Registou-se um reforço nos hábitos de
trabalho, na autonomia, na responsabilidade, na organização do trabalho, no exprimir
dúvidas e na participação em atividades de aprendizagem. Apelos frequentes ao
cumprimento de normas e de regras de funcionamento na sala de aula e nos vários
contextos educativos.
A turma do 6.ºG era constituída por 21 alunos, sendo 8 rapazes e 11 raparigas. Regista-
se uma retenção na turma. Destes, quatro alunos têm Necessidades Educativas
Especiais, sendo necessário utilizar metodologias de diferenciação pedagógica para
responder de forma positiva às necessidades dos alunos. Para este grupo, implementou-
se de forma sistemática a diferenciação pedagógica, o ensino individualizado, o trabalho
de pares. Esta capacidade de gestão do currículo foi bastante positiva, uma vez que,
permitiu a identificação de dificuldades e a resposta dada a um leque diversificado de
capacidades da turma, prevendo que os alunos não tenham que estudar as mesmas
coisas, ao mesmo tempo, ao mesmo ritmo e sempre da mesma maneira.
Em termos de ensino-aprendizagem, o grupo/turma caracteriza-se por uma grande
heterogeneidade, no que diz respeito a ritmos de trabalho. Os alunos com dificuldades
beneficiaram do apoio direto e individual da professora titular, das estagiárias, tal como
o apoio e a ajuda pedagógica dos pares nos seus trabalhos. Registaram-se ganhos
significativos nos hábitos de trabalho, na organização, na persistência para melhorar e
na participação/construção ativa das aprendizagens.
De um modo geral, o grupo revelou-se interessado e curioso perante as diversas
situações de aprendizagem. Estas foram desenvolvidas num sentido construtivo e
encorajador.
15
2.1.1. Análise do processo de ensino-aprendizagem (Português e
História e Geografia de Portugal)
O conhecimento do programa de Português do Ensino Básico e dos seus objetivos, bem
como das metas curriculares, permitiu-me planificar e atuar pedagogicamente, de forma
contextualizada, e com pressupostos teóricos que sustentaram as práticas educativas.
Permitiu-me, enquanto professora, conceber o currículo de forma flexível e aberta, com
mais possibilidades de construir intervenções educativas adequadas e induzir um
processo formativo de melhor qualidade para todos os alunos. Esta gestão curricular
permitiu a análise dos temas a lecionar, bem como os objetivos de aprendizagem
definidos no Programa de Português do Ensino Básico. Estes envolveram o
conhecimento das cinco áreas nucleares e o trabalho pedagógico foi planificado tendo
em conta as mesmas: compreensão e expressão do oral; leitura/escrita e conhecimento
explícito da língua.
Quanto às planificações, a construção das mesmas, teve como princípio fundamental os
conhecimentos prévios dos alunos em relações aos conteúdos que iam sendo
trabalhados, as suas necessidades, interesses e os ritmos de aprendizagem apresentados
pela turma.
As aulas foram planificadas tendo como pressupostos as competências específicas da
disciplina, as questões orientadoras, os conceitos chave dos conteúdos, as experiências e
os indicadores de aprendizagem e a avaliação.
Na preparação dos diversos materiais, surgiram algumas dúvidas relativas à escolha
e/ou elaboração de atividades, nomeadamente se seriam as mais adequadas para o grupo
de alunos, tendo em conta os temas propostos e as respetivas orientações da professora
cooperante.
No que diz respeito à disciplina de História e Geografia de Portugal, considero que o
trabalho foi positivo. Grande parte das tarefas propostas aos alunos foram adequadas ao
seu nível cognitivo e tiveram como meta desenvolver os objetivos curriculares do 6.ºano
de escolaridade.
É hoje consensual que o professor já não é um mero transmissor de conhecimentos, mas
antes um orientador que contribui para a construção do conhecimento histórico,
16
implicando neste processo ativo o aluno e os seus conhecimentos prévios que, com a
orientação do professor se transformarão em conhecimento histórico, recorrendo a
metodologias, estratégias e recursos variados e diversificados.
Considero que no início da prática pedagógica, revelei algumas dificuldades na
componente da planificação, nomeadamente na seleção de tarefas que fossem
facilitadoras na compreensão e construção dos conhecimentos. No entanto, com o
decorrer da prática pedagógica, tornou-se mais fácil a escolha das
estratégias/metodologias a implementar, os recursos, bem como a gestão do tempo.
2.1.2. Trabalho pedagógico (Português e História e Geografia de
Portugal)
Durante a prática pedagógica, na disciplina de Português, no que respeita à
leitura/escrita, um do aspetos trabalhados, e que considerei bastante importante, do
ponto de vista pedagógico, foi a exploração de textos e as várias estratégias para a
construção do significado do mesmo. Por estratégias de leitura entende-se
procedimentos e atividades planificadas e selecionadas para facilitar o processo de
compreensão. Apontam-se algumas estratégias básicas de leitura que permitiram
orientar a receção para chegar à compreensão: ativar conhecimentos prévios - sobre o
tema, a estrutura do texto, leituras anteriores; desenvolver intencional e explicitamente o
léxico dos alunos, fazer inferências e deduções, colocar hipóteses, fazer antecipações,
predições, questionar o texto, representar visualmente o texto com recurso a esquemas,
sintetizar e resumir a informação, entre outras.
As atividades de leitura devem ser sempre orientadas para uns (ou vários) propósitos (s)
ou finalidades (s): por exemplo, ler para identificar ideias-chave, ler para procurar
informação específica; ler para identificar pontos de visa; ler para debater as posições
do autor, ler para recreação (Silva et al, 2011). As atividades de leitura deverão ter
fundamentos claros e precisos, que constituam desafios de aprendizagem – não basta o
simples “hoje vamos ler o texto da página x…”.
Como tal, foram trabalhadas alguns excertos de obras recomendadas pelo Plano
Nacional de Leitura, apelando à imaginação dos alunos e aos conhecimentos prévios
17
sobre alguns temas, tais como “O Rapaz de Bronze” de Sophia de Mello Breyner
Andresen e “Três histórias do futuro” de Luísa Ducla Soares.
Tendo em consideração os pressupostos acima mencionados, trabalhou-se o texto “Que
grande furo!” de Luísa Ducla Soares, orientando a leitura para a antecipação de
conteúdos. Para atingir este objetivo utilizou-se como recurso um “botão vermelho”
(objeto principal da peripécia) com a finalidade de despertar a curiosidade dos alunos
para a leitura da obra. Esta tarefa revelou-se bastante interessante e culminou num
registo das diferentes hipóteses sugeridas pelos alunos.
A leitura do texto teve como objetivo o preenchimento de um mapeamento visual acerca
do mesmo (compreensão global do texto).
No domínio da Expressão Escrita que tem como objetivo Escrever para aprender - para
aprender a escrever; para construir e expressar conhecimento (s), tentou-se desenvolver
e flexibilizar alguns cenários pedagógicos criando, progressivamente, um ambiente em
que os alunos trabalhassem a escrita e aprendessem a escrever, em colaboração com o
professor, tais como: desenvolver pela prática quotidiana o sentido da funcionalidade da
escrita e da leitura; estimular ao máximo a escrita espontânea dos alunos; criação de
condições (espaços e instrumentos motivadores e facilitadores da produção escrita pelos
alunos); diversidade e frequência de práticas de escrita: textos do quotidiano, notícias,
resumos, relatos…; modalidades de produção e aperfeiçoamento de textos (em grupos,
em pares, individualmente, em coletivo); necessidade de entender os momentos de
planificação, textualização e revisão de forma dinâmica e interativa em função da
especificidade das tarefas.
Para a operacionalização destes objetivos, foram propostas diversas tarefas que
considerei bastante importantes, do ponto de vista pedagógico, tais como: elaboração,
em trabalho de pares, de uma página de diário e, criação de anúncios publicitários
partindo de imagens ou de objetos; criação de anúncios publicitários partindo de
slogans.
No que respeita à compreensão/expressão do oral e leitura, realizaram-se alguns
mapeamentos visuais coletivos, como forma de reconto oral de um texto, já que
segundo Sim-Sim (2007) o recurso a esta estratégia de compreensão de textos narrativos
permite-nos verificar se o aluno conseguiu apreender o sentido global do texto; se
18
identifica o tema central, as personagens principais, os acontecimentos determinantes,
os pequenos detalhes e se tem em linha de conta todos os elementos da narrativa, isto é,
acontecimentos, personagens, contextos espacial e temporal, conflitos e a sua resolução.
De igual modo, esta estratégia também permite verificar a clareza da exposição, a
organização e coerência da estrutura, interesse dos pormenores escolhidos e a indução
do prazer aos ouvintes.
Na expressão do oral, trabalharam-se pequenas dramatizações com o objetivo de
dramatizar textos e situações, as quais destaco: na exploração da história “Três histórias
do futuro”, sugeriu-se a alguns alunos que improvisassem os discursos produzidos por
três personagens presentes na história, nomeadamente o Ministro dos Transportes, o
Ministro da Indústria e o Presidente da República. No que respeita à
apresentação/exploração da tipologia textual, anúncio publicitário, propôs-se aos alunos
que realizassem uma breve improvisação, com o objetivo de publicitar um ou mais
objetos (fornecidos pela professora), argumentando de forma a convencer o
público/turma a adquiri-los.
É de salientar que o Conhecimento Explícito da Língua foi o domínio onde senti mais
dificuldade na exploração dos conteúdos, havendo necessidade de aprofundar
conhecimentos específicos, para uma melhor abordagem. Esta foi uma das que
dificuldade condicionou a dinâmica de trabalho.
Quanto aos métodos utilizados para trabalhar o Conhecimento Explícito da Língua, e
utilizando a definição de Costa et al (2011), centraram-se sobretudo no “Ensino por
definições”.
No entanto, na minha perspetiva reconheço que este não é o método mais adequado para
a construção do Conhecimento Explícito da Língua. O Programa de Português do
Ensino Básico sugere explicitamente que se ponham em prática atividades de
aprendizagem por descoberta. Este tipo de atividades dedicam-se à construção de
conhecimento, e fazem sentido numa abordagem da gramática centrada na consciência
linguística e no conhecimento explícito.
Na disciplina de História e Geografia de Portugal, no plano metodológico, houve uma
preocupação com a contextualização, o significado da aprendizagem da História e a
19
apropriação dos conceitos como uma aprendizagem significativa e construtivista por
parte dos alunos.
Salienta-se também, o aspeto positivo quer do trabalho em pares, quer do trabalho em
grupo, que se desenvolveu em algumas atividades, uma vez que permitiu aos alunos a
partilha de ideias, esclarecimento de dúvidas, operacionalizando os conhecimentos para
deste modo, podermos desenvolver as competências traçadas.
Neste sentido, privilegiei como métodos de ensino a exposição, a interação professor-
aluno, a interação aluno-aluno, a discussão, o trabalho em grupo, tendo em conta os
interesses e as motivações da turma, bem como os conteúdos a estudar e os
conhecimentos prévios dos alunos acerca dos mesmos.
Utilizaram-se como estratégias para a construção do conhecimento histórico, as ideias
prévias dos alunos e as suas representações, transformando-as em aprendizagens
significativas, contextualizadas com os conteúdos que iam sendo estudados. O
conhecimento deve ser problematizado e o aluno deve aprender a raciocinar, a levantar
hipóteses, sugerir explicações, interpretações e desta forma estabelecer um diálogo entre
o passado e o presente.
Na apresentação/contextualização dos diversos temas, utilizou-se, várias vezes, como
recurso o friso cronológico, com o objetivo de ordenar e situar acontecimentos e factos
históricos, numa sequência temporal, distinguindo o que já foi estudado e o período a
iniciar. Ensinar História implica um trabalho diário com temporalidade. Muitas vezes,
para fazer os alunos compreenderem melhor as temporalidades, são usadas as linhas do
tempo ou as frisas temporárias. É importante saber que esse é, apenas um recurso
didático que não pode ser confundido com a temporalidade da História (Schimdt, 2004).
Utilizaram-se, ainda, como recursos, em diversas atividades, mapas e imagens. A
utilização destes é fundamental no ensino da História, uma vez que são considerados
meios facilitadores de aprendizagem, permitindo que os alunos compreendam e criem
esquemas mentais sobre os assuntos a estudar (partindo do concreto para o abstrato).
Segundo Proença (1989), o mapa é um meio indispensável para o ensino da História,
estando a sua utilização ligada à aquisição do conceito de espaço tão necessária à
correta compreensão dos fenómenos históricos.
20
No decorre das aulas, utilizou-se ainda a análise de textos e documentos, fundamentais
no ensino da História. Neste sentido, Proença (1989:292) refere que “ (…) é importante
habituarmos os nossos alunos a analisar documentos históricos, já que, sem eles, não
poderemos falar de História”. O documento fornece-nos provas do passado e, de acordo
com a sua especificidade, sugere, explica ou demonstra aspetos dos fenómenos
históricos estudados. Sendo um instrumento de pesquisa e descoberta para o historiador,
torna-se em instrumento de explicação e auxiliar de descoberta para o aluno, desde que
corretamente explorado pelo professor.
Os documentos foram utilizados com várias finalidades e em diferentes momentos da
aprendizagem. Neste caso, e citando Proença (1989:292) “o documento será utilizado
como base de estudo – os conhecimentos irão ser adquiridos («descobertos») através
dos documentos”.
Assim, atualmente ensinar História é desenvolver no aluno capacidades de compreender
e explicar a realidade em que vive. O aluno deve sentir-se sujeito da história e tomar
uma posição crítica relativamente aos factos históricos e às mudanças que eles
provocaram.
2.2. Escola Básica Padre Franklin – Vieira de Leiria (Turma 5.ºA)
Pela experiência adquirida na prática pedagógica, em contexto de 2.º ciclo do ensino
básico, na Escola Básica Padre Franklin – Vieira de Leiria, nomeadamente no 5.ºano de
escolaridade, nas disciplinas de Matemática e Ciências Naturais, explicito de forma
reflexiva, os aspetos que considerei mais pertinentes e significativos do ponto de vista
pedagógico.
Numa primeira análise refiro a caracterização das turmas, bem como o perfil
pedagógico das mesmas.
No segundo semestre, o trabalho na prática pedagógica realizou-se com um grupo do
5.ºano de escolaridade, na turma 5.ºA nas disciplinas de Matemática e Ciências
Naturais.
21
A turma era constituída por 20 alunos, 7 alunos do sexo feminino e 13 do sexo
masculino. Destes, dois apresentavam Necessidades Educativas Especiais, sendo que
um deles não frequentava as aulas de Matemática.
A turma revelou-se um grupo interessado, caracterizado por uma grande
heterogeneidade, sobretudo no que diz respeito a ritmos de trabalho. Na globalidade, era
uma turma com alguns desajustes no comportamento e no cumprimento de regras na
sala de aula. A falta de capacidade de concentração foi notória em alguns períodos de
tempo, o que originava, por vezes, uma certa agitação na sala de aula e quebra no ritmo
de trabalho. Tornou-se necessário o apelo frequente ao cumprimento de normas e de
regras de funcionamento na sala de aula e nos vários contextos educativos.
Ao longo do período, registou-se um reforço nos hábitos de trabalho, na autonomia, na
responsabilidade, na organização do trabalho, no exprimir dúvidas e na participação em
atividades de aprendizagem.
2.2.1. Análise do processo de ensino-aprendizagem (aspetos específicos
da Matemática e das Ciências Naturais)
No que diz respeito ao processo de ensino-aprendizagem, considero que o trabalho foi
positivo. Grande parte das tarefas propostas aos alunos foram adequadas ao seu nível
cognitivo e tiveram como meta desenvolver os objetivos curriculares do 5.ºano de
escolaridade, na área da Matemática e das Ciências Naturais.
Considero que a concretização das atividades letivas foi positiva, uma vez que atendi
aos interesses e às motivações dos alunos. Previ vários momentos de trabalho e a
utilização de diferentes tipos de tarefas. A diversificação das mesmas e as várias
experiências de aprendizagem permitiram o cumprimento dos objetivos previamente
definidos. Estas tarefas de aprendizagem proporcionaram, no seu conjunto um percurso
de aprendizagem coerente que permitiu aos alunos a construção dos vários saberes
(saber-saber, saber-fazer, saber-ser), tal como a operacionalização dos objetivos.
No que respeita à disciplina de Matemática, considero que as planificações foram
adequadas aos conteúdos e objetivos que se pretendia atingir. Utilizei materiais
didáticos, dispositivos pedagógicos e estratégias diversificadas, tendo como ponto de
22
partida a resolução de situações problemáticas contextualizadas. Em reflexão, e tal
como refere o Programa de Matemática (2007)
“a resolução de problemas é uma capacidade que se articula com as outras
capacidades matemáticas e deve ser trabalhada em todos os temas matemáticos,
conferindo coerência à aprendizagem matemática. Resolver problemas deve ser,
na aula de matemática, tanto um ponto de partida para novas aprendizagens,
como uma ocasião de aplicação de aprendizagens precedentes, na qual os alunos
mobilizam e poem em ação o seu conhecimento”. (p. 45)
Considero que todas as minhas aulas foram planificadas para o desenvolvimento do
espírito crítico, das capacidades de raciocínio e de comunicação.
Em relação à disciplina de Ciências Naturais, revelei algumas dificuldades na
elaboração das planificações, uma vez que os conhecimentos didáticos/científicos
limitaram, de certa forma, a seleção de atividades e estratégias significativas para os
alunos. Desta forma, uma das estratégias utilizada frequentemente foi a técnica da
exposição dialogada, onde se intercalou a exposição com perguntas de forma a que,
através do diálogo orientado, o aluno, gradualmente, construísse o seu próprio
conhecimento. Segundo Proença (1989), para utilizar corretamente esta técnica o
professor necessita de desenvolver a sua competência de formular perguntas. Para esse
efeito, deve: fazer perguntas em função do que é significativo; variar os tipos de
pergunta; ajustar as perguntas à compreensão dos alunos; formular perguntas abertas e
de forma clara; dirigir questões ao raciocínio; dar tempo para reflexão.
O diálogo com os alunos, interação professor-aluno/aluno-aluno e à demonstração,
foram outras estratégias utilizadas com frequência. Reconheço que uma das
metodologias essenciais nesta área, a experimentação/trabalho experimental, foi pouco
trabalhada ao longo das aulas.
No entanto, considero que as planificações foram elaboradas tendo como pressuposto as
três vertentes das Ciências – conhecimentos (saber-saber); processos (saber-fazer) e
atitudes (saber-ser).
23
2.2.2. Trabalho pedagógico (aspetos específicos da Matemática e das
Ciências Naturais)
Ao longo do semestre, o conhecimento científico e didático que fui adquirindo,
permitiu-me desenvolver estratégias e metodologias de ensino-aprendizagem de acordo
com os interesses e motivações dos alunos.
Nas atuações, no que respeita à disciplina de Ciências Naturais, considero que os
conhecimentos científicos e didáticos limitaram a minha ação educativa, havendo
necessidade de reforçar a preparação da mesma, com vista a um maior rigor na
lecionação dos conteúdos. No entanto, fui cuidadosa na utilização dos materiais
preparados, bem como na estruturação da aula, proporcionando experiências
significativas e funcionais, num primeiro contato com alguns conceitos.
É ainda de referir que no trabalho desenvolvido com os alunos, e mais especificamente
nas suas intervenções, por vezes revelei dificuldades em mobilizar e dinamizar as
diferentes interações ocorridas no contexto educativo.
Considero importante refletir sobre uma das metodologias pouco trabalhadas, a
experimentação, uma vez que recorrendo às ciências experimentais, permitiria aos
alunos a descoberta dos conhecimentos, partindo do concreto para o abstrato,
mobilizando conhecimentos sensoriais até chegar aos conhecimentos científicos.
No estudo das ciências naturais alguns conceitos podem tornar-se de difícil
compreensão se forem apresentados apenas teoricamente. Segundo Leite (sem data), a
experimentação na sala de aula é uma componente importante do ensino das ciências,
tornando-se muito interessante pela diversidade de assuntos que abrange, ao mesmo
tempo desperta maior curiosidade nas crianças ao permitir que elas descubram e
questionem sobre aquilo que estão a observar.
Outra metodologia utilizada, e que não posso deixar de referir, diz respeito à construção
de mapas concetuais, nomeadamente, como síntese de matérias estudadas e como meio
de relacionar os conceitos trabalhados. Como procedimento cognitivista, os mapas
concetuais estão especialmente indicados para relacionar os conceitos-chave. Com o
aspeto de um diagrama esquemático, representam o modo como o aluno trabalhou e
incorporou no seu esquema mental os novos conceitos que apareceram destacados, bem
24
como as relações significativas entre eles. É importante que o mapa concetual seja
construído pelo próprio aluno, uma vez que nos revela a compreensão e o nível de
estruturação dos conhecimentos.
Na disciplina de Matemática, de um modo geral, considero que grande parte das
atividades foram significativas para os alunos. Tentei, sempre que possível, diversificar
a natureza das tarefas incluindo nas propostas pedagógicas a prática compreensiva de
procedimentos, tarefas de resolução de problemas e explorações. Recorri a suportes de
aprendizagem, relacionado com cada tópico, como estratégia de ensino para que os
alunos explorassem conceitos e construíssem modelos.
As tarefas apresentadas procuraram evidenciar percursos de aprendizagem, que
permitissem aos alunos, progressivamente, alargar os seus conhecimentos e
capacidades, refletindo sobre as suas experiências, comunicando estratégias,
procedimentos e resultados, resolvendo problemas e fazendo investigações.
Considero pertinente referir alguns percursos de aprendizagem, pela sua
intencionalidade e pela relevância dos procedimentos utilizados pelos alunos para a
construção dos conceitos matemáticos em estudo, nomeadamente: percentagens,
situações aleatórias e áreas.
No estudo dos números racionais não negativos, nomeadamente no subtópico
Percentagens, utilizou-se como metodologia de trabalho a resolução de situações
problemáticas contextualizadas. Utilizou-se como recursos panfletos publicitários com
descontos (situações reais do dia-a-dia), e isto porque “deve tomar-se como ponto de
partida quer situações que incluem elementos do quotidiano dos alunos (por exemplo,
de jornais e revistas e de horários de transportes), quer as que surgem no próprio campo
da Matemática” (ME, 2007:36).
Ainda no estudo das Percentagens, trabalhou-se a interdisciplinaridade com as Ciências
Naturais. A resolução de situações problemáticas foi a estratégia selecionada para
abordar conteúdos sobre o tema “A água”, porque permitiu contextualizar, em termos
matemáticos, situações experienciadas pelos alunos. Estas abordagens interdisciplinares
são uma mais-valia nos conhecimentos dos alunos.
25
No estudo das Situações Aleatórias, com as tarefas apresentadas, pretendeu-se trabalhar
o significado de “situação aleatória”, bem como desenvolver um tipo de raciocínio
diferente do determinista, do certo ou errado, uma vez que se lida com fenómenos
aleatórios.
Tal como refere Pimentel et al (2010), antes que os alunos lidem com a matemática
formal da Teoria das Probabilidades, precisam de entender o significado de aleatório e
viver algumas experiências em que têm de quantificar naturalmente o conceito de
probabilidade. Estas experiências permitem que explorem o conceito de igual
probabilidade e que descrevam quantitativamente o acaso em diversas situações.
No trabalho com os alunos, exploraram-se algumas situações do dia-a-dia nas quais
estavam implícitas os termos que definem as situações aleatórias.
Realço ainda, a pertinência das atividades propostas no estudo do tópico “Perímetros e
Áreas”, as quais considerei uma mais-valia para a construção dos conhecimentos
geométricos, partindo sempre de uma abordagem concreta para uma abordagem
simbólica.
Foram proporcionadas aos alunos experiências de aprendizagem em que a área e o
perímetro foram trabalhados em simultâneo constituindo momentos importantes de
clarificação de ambos os conceitos e a necessidade de utilizar diferentes tipos de
unidades consoante o atributo a medir.
2.3. Conclusão
Todo o trabalho pedagógico desenvolvido ao longo do ano, em contexto escolar do
2.ºciclo, proporcionou-me uma oportunidade reflexiva sobre a globalidade da ação
pedagógica e, em particular, sobre algumas especificidades decorrentes do trabalho
diário, desenvolvido com os alunos.
Para responder às necessidades e desafios da educação dos nossos dias, impõe-se ao
professor um novo papel: o de investigador de novas pedagogias e o de reflexivo sobre
a sua própria prática. Estes pressupostos foram as linhas orientadoras pelas quais tentei
desenvolver todo o meu trabalho pedagógico ao longo do semestre. Considero que o
papel de investigador é crucial na formação de qualquer professor, uma vez que esta
26
atitude fornece todo um conjunto de conhecimentos científicos e teóricos que são os
pilares da construção do trabalho pedagógico do professor. Assim, quanto mais
conhecimentos e fundamentos científicos e didáticos o professor domina sobre os
conteúdos curriculares, bem como outros tipos de saberes, maior é a sua capacidade de
responder aos desafios educacionais que encontra na sala de aula.
Pela minha experiência pedagógica, considero que todos os conhecimentos científicos e
didáticos adquiridos, foram o fundamento para a construção das minhas práticas
pedagógicas, e isto porque permitiram a criação de dispositivos pedagógicos, em
atividades significativas, funcionais de acordo com os interesses, necessidades e
motivações do grupo de alunos.
A procura de um melhor desempenho profissional, visando a promoção do sucesso
educativo, motivou-me na tentativa de compreensão do modo como as experiências de
aprendizagem facilitam e favorecem o desenvolvimento global dos alunos.
Assim sendo, a atual conceção de currículo e a sua gestão, exigem que o professor não
se limite à aplicação de programas, mas que decida e justifique as suas opções, em
função de situações reais. Esta responsabilidade, que tem subjacente a preocupação pela
qualidade do ensino e da aprendizagem, requer do professor um espírito de pesquisa
próprio de quem quer investigar e, assim, contribuir para o conhecimento sobre a
educação.
Simultaneamente, uma atitude e atividade de pesquisa contribuem para o
desenvolvimento de práticas inovadoras e a melhoria da qualidade da aprendizagem dos
alunos.
27
PARTE II – DIMENSÃO INVESTIGATIVA
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO
Este capítulo apresenta uma introdução ao estudo que realizei e inclui as minhas
motivações, os objetivos e as questões que orientaram a investigação realizada e a
justificação da sua pertinência. No final, termina com a explicitação do modo como está
organizado.
1.1. MOTIVAÇÕES, OBJETIVOS E QUESTÃO DO ESTUDO
Segundo o Programa de Matemática do Ensino Básico, o tema Números e Operações,
apresenta como principal propósito de ensino, desenvolver nos alunos o sentido de
número, a compreensão dos números e das operações e a capacidade de cálculo mental
e escrito, bem como a de utilizar estes conhecimentos e capacidades para resolver
problemas em contextos diversos.
É necessário proporcionar aos alunos situações diversas que lhes permitam desenvolver
o cálculo mental. Para isso, devem ser trabalhadas diferentes estratégias de cálculo
baseadas na composição e decomposição de números, nas propriedades das operações e
nas relações entre números e entre as operações. Devem ser também praticadas na aula
rotinas de cálculo mental, podendo este ser apoiado por registos escritos.
Existem diferentes estratégias de cálculo mental que devem constituir objetivos de
aprendizagem na aula de Matemática. Uma boa capacidade de cálculo mental permite
aos alunos seguirem as suas próprias abordagens, usarem as suas próprias referências
numéricas e adotarem o seu próprio grau de simplificação de cálculo. A discussão na
turma dos vários tipos de estratégias desenvolvidas pelos alunos ajuda-os a construir um
reportório de estratégias com os seus próprios limites e flexibilidade e ensina-os,
também, a decidir quais são os seus registos mais apropriados e proveitosos.
O presente estudo insere-se na área da Matemática, mais concretamente na temática do
desenvolvimento do sentido de número, e tem por objetivo aprofundar o conhecimento
acerca da compreensão das operações de multiplicação e divisão, por alunos de 3ºano de
escolaridade, na resolução de diferentes tarefas em diversos contextos numéricos. No
âmbito deste objetivo foram formuladas as seguintes questões de investigação:
28
Os alunos são capazes de identificar informação relevante sobre determinada
tarefa matemática e o seu objetivo?;
Que estratégias de cálculo mental e escrito, os alunos selecionam, para resolver
tarefas de multiplicação e divisão?;
Como explicitam os alunos as ideias e os processos utilizados na resolução da
tarefa, bem como a justificação dos seus resultados?.
Para investigar estas questões elaborou-se uma proposta pedagógica na qual se
privilegiou, a resolução, pelos alunos, de problemas numéricos.
1.2. CONTEXTO E RELEVÂNCIA DO ESTUDO/PERTINÊNCIA DO ESTUDO
O ensino da Matemática no 1ºciclo da educação básica é essencial para a resolução de
problemas do dia-a-dia das crianças e dos adultos. Um bom domínio dos números e do
cálculo é indispensável para a resolução de diferentes situações do quotidiano. Também
as capacidades de visualização e organização do espaço são fundamentais para nos
podermos orientar no dia-a-dia, para ler mapas, seguir itinerários, ler tabelas, horários,
etc.
No livro A Matemática na Educação Básica (Abrantes, Serrazina e Oliveira, 1999)
refere-se que todos os alunos devem adquirir literacia matemática, no sentido de serem
matematicamente competentes, isto é, os alunos devem ter os conhecimentos
necessários para a execução de um dada tarefa, mas também a capacidade de os
identificar e mobilizar na situação concreta e também a disposição para o fazer.
O caráter formativo da Matemática, expressa-se em aspetos do nível cognitivo, mas
também afetivo e social.
Desde muito pequenas, e portanto antes de uma aprendizagem formal, as crianças são
confrontadas, no seu dia-a-dia, com situações problemáticas que envolvem números e
resolvem-nas da forma que para elas faz mais sentido.
Além disso, a relevância deste estudo relaciona-se com a importância, atualmente
reconhecida, de que a Matemática deve contribuir para o desenvolvimento do raciocínio
e das capacidades de comunicação e de resolução de problemas. Mais do que aprender
regras avulsas, o ensino da Matemática deve promover hábitos de pensamento, de forma
29
que, perante um problema, os alunos sejam capazes de organizar os respetivos dados,
perceber qual a estratégia a utilizar, aplicá-la, questionar o resultado obtido e
argumentar sobre o método seguido. É neste ciclo, que os alunos aprendem a lidar com
ideias matemáticas que são a base de aprendizagens futuras. Por outro lado, é neste ciclo
que muitas das conceções sobre a Matemática são formadas, resultando no gosto por
realizar atividades matemáticas ou na aversão a esta área disciplinar.
Partindo da convicção que os alunos desenvolvem grande parte da sua aprendizagem
recorrendo a métodos próprios e de que a aprendizagem é um processo de construção
ativa do conhecimento, parece-me relevante que o professor conheça como as crianças
agem perante determinadas tarefas que lhe são propostas e quais as estratégias que
utilizam para as resolver. Assim, procurarei fazer uma breve reflexão sobre a
aprendizagem acerca das operações de multiplicação e divisão, conceitos estes que
envolvem aspetos novos do sentido de número, bastante complexos. Em função da
complexidade que envolve a sua aprendizagem, são várias as investigações que revelam
que os alunos podem e necessitam de resolver uma grande variedade de problemas
muito antes da aprendizagem formal destas operações.
Ao longo de muitas décadas, no 1º Ciclo, a aprendizagem da Matemática esteve
associada ao ensino da aritmética, logo saber matemática significava essencialmente
saber a tabuada e saber fazer contas (Abrantes, Serrazina e Oliveira, 1999). Esta visão
continua a influenciar bastante as escolas e, como consequência, a ênfase na aritmética
ainda se faz sentir, continuando a ser atribuído um grande peso ao cálculo, tal como o
comprovam diferentes investigações. Assim, são vários os organismos, tanto nacionais
como internacionais (APM, 1988; NCTM, 2007, NRC, 1989) que recomendam, entre
outros aspetos, a necessidade de dar realce à compreensão e desenvolvimento do sentido
de número e de operação.
1.3. ORGANIZAÇÃO GERAL DO ESTUDO
Este trabalho encontra-se organizado em duas partes distintas. Uma relativa à
explicitação e discussão das principais referências teóricas associadas aos temas centrais
do estudo (capítulo 2) e outra que corresponde à parte empírica do mesmo (capítulos
3,4,5,6).
30
O primeiro capítulo inclui os objetivos e as questões que orientaram a investigação
realizada. São ainda, apresentadas as motivações que me levaram a aprofundar o
conhecimento associado à aprendizagem da multiplicação numa perspetiva se
desenvolvimento do sentido do número e fundamentada a sua pertinência.
No segundo capítulo apresento a Revisão da Literatura. Em particular, foco-me no
significado de sentido do número e seu enquadramento curricular, bem como no
desenvolvimento de sentido do número e resolução de problemas.
O terceiro capítulo corresponde à Metodologia de Investigação. Neste capítulo
apresento e fundamento as opções metodológicas tomadas de acordo com os objetivos e
as questões do estudo, o contexto e os seus participantes. São descritos e justificados os
métodos de recolha de dados, o processo seguido e os procedimentos de análise de
dados.
No quarto capítulo, apresento a Proposta Pedagógica, constituída por uma sequência de
quatro tarefas, fazendo referência às características da mesma, sua planificação e
desenvolvimento.
O capítulo cinco centra-se na Análise dos dados recolhidos relativamente a três alunos
caso. Em cada caso descrevo as estratégias utilizadas, os procedimentos usados pelos
alunos quando resolvem tarefas de multiplicação e divisão e, como explicitam os alunos
as suas ideias e procedimentos nas diversas tarefas.
Por último, apresento a Conclusão deste trabalho, discuto os principais resultados da
investigação e uma reflexão final de todo o trabalho desenvolvido.
31
CAPÍTULO II - REVISÃO DA LITERATURA
Este capítulo procura fazer um enquadramento teórico do tema em que incide esta
investigação.
Na primeira seção foco-me no significado de sentido de número e suas componentes
com base em estudos realizados neste domínio. A segunda seção incide sobre a análise
de documentos curriculares relacionadas com o ensino da Matemática no que se refere
ao sentido do número. Na terceira seção, centro-me no desenvolvimento do sentido de
número num contexto de resolução de resolução de diferentes tarefas matemáticas
multiplicativas (relação entre a multiplicação e a divisão). Por último, a quarta e quinta
secções centram-se na aprendizagem da multiplicação numa perspetiva de
desenvolvimento de número, bem como a relação entre a multiplicação e a divisão.
2.1. SENTIDO DE NÚMERO: QUE SIGNIFICADOS?
O sentido de número é uma expressão que surge na literatura de educação matemática
há cerca de 20/25 anos, geralmente associada aos conhecimentos matemáticos
observados em contextos educativos ou ligados à vida ativa de qualquer cidadão.
A expressão – sentido de número – aparece associada à importância de uma
compreensão global e intuitiva sobre os números e as operações e de uma flexibilidade
no cálculo com os números, nas suas diferentes representações.
Para Greeno (1991), o termo refere-se a várias e importantes capacidades que incluem o
cálculo mental flexível, a estimativa de quantidades numéricas e os julgamentos
quantitativos. Segundo este autor, reconhecemos exemplos de sentido do número, mas
não temos definições satisfatórias que distingam as suas características.
McIntosh et al (1992) confirmam a falta de clareza da origem da expressão,
ressalvando, no entanto, que a sua origem se deve à necessidade de substituir o termo
“numeracia” por outro, mais de acordo com uma visão atualizada e dinâmica da
matemática, integrado naquilo a que atualmente se refere como literacia matemática. De
facto, hoje em dia a matemática está longe de ser simplesmente um conjunto de regras,
factos e fórmulas, tornando-se cada vez mais como um instrumento precioso e
fundamental para compreender, analisar e intervir na sociedade atual. O sentido de
número é uma componente chave da literacia matemática, na medida em que contribui
32
para o desenvolvimento de pensamento flexível, elemento base da capacidade de
resolver problemas.
Uma das descrições mais frequentemente referida nos estudos que se debruçam sobre o
sentido de número é a proposta por McIntosh et al (1992):
“O sentido de número refere-se a uma compreensão geral do indivíduo sobre os
números e as operações juntamente com a capacidade e predisposição para usar
essa compreensão de modo flexível para fazer juízos matemáticos e para
desenvolver estratégias úteis na manipulação dos números e das operações.
Reflete uma capacidade e uma predisposição para usar os números e os métodos
de cálculo como um meio de comunicação, processamento e tratamento da
informação.” (McIntosh et al, 1992, p.3).
Também Serrazina (2007) salienta que “quando nos referimos ao sentido do número
estamos a considera-lo no seu aspeto global, envolvendo diferentes componentes,
nomeadamente:
Significados do número – perceber que os números podem ser usados com
múltiplos significados e múltiplas situações (…);
Conhecer múltiplas relações entre os números, o que implica valorizar o
estabelecimento de relações numéricas, isto é, compreender um número em
relação aos outros (…);
Compreender a grandeza relativa dos números pressupõe, por exemplo, que 19
é grande quando comparado com 3, mas pequeno quando comparado com 98
(…) A ideia de grandeza relativa de um número está muito ligada ao contexto
(…);
Conhecer o efeito relativo das operações sobre os números e compreender as
propriedades das operações implica compreender o que acontece quando se
opera com os números, como, por exemplo, perceber que quando se multiplicam
dois números naturais obtém-se um número maior, mas que quando se
multiplicam dois números racionais isso já não é sempre verdade (…);
Números de referência – um sistema de referências proporciona comparações
mentais para pensar acerca dos números e é um bom auxiliar na análise da
razoabilidade de um resultado para comparar dois ou mais resultados ou na
33
forma de arredondar um número de modo a ser mais fácil de trabalhar com ele
(…)” (p. 8 e 9).
2.2. SENTIDO DE NÚMERO E ORIENTAÇÕES CURRICULARES
Ao nível do currículo, a importância dos alunos desenvolverem o sentido de número
desde os primeiros anos de escolaridade, está bem patente no atual Programa
Matemática do Ensino Básico (PMBE), publicado em 2007. Refere-se aqui que uma das
grandes finalidades de ensino do tema Números e Operações, ao longo do Ensino
Básico, é o desenvolvimento do sentido de número, a par da promoção da compreensão
sobre os números e as operações e do desenvolvimento da fluência de cálculo (ME,
2007).
No PMEB, o propósito principal de ensino do tema referido é o mesmo para o 1.º, 2.º e
3º ciclos: “desenvolver nos alunos o sentido de número, a compreensão dos números e
das operações utilizar dos números e das operações e a capacidade de cálculo mental e
escrito, bem como a de utilizar estes conhecimentos e capacidades para resolver
problemas em contextos diversos” (ME, 2007, p.13). No PMEB e no que diz respeito ao
1.ºciclo, é explicitado o significado de sentido de número: “Sentido de número é aqui
entendido como a capacidade para decompor números, usar como referência números
particulares, tais como 5, 10, 100 ou ½ usar relações entre operações aritméticas para
resolver problemas, estimar, compreender que os números podem assumir vários
significados (designação, quantidade, localização, ordenação e medida) e reconhecer a
grandeza relativa e absoluta de números.” (ME, 2007, p.13).
É consensual que existe, atualmente, a preocupação de desenvolver o sentido de número
dos alunos, uma recomendação que é explicitada em diversos projetos e documentos de
natureza curricular, como já salientámos: “o cálculo mental tem de ser desenvolvido
desde o início do 1.º ciclo e está intimamente relacionado com o desenvolvimento do
sentido de número. Existem múltiplas situações no dia-a-dia da sala de aula que
permitem trabalhá-lo. Em situações que envolvem dinheiro, tempo, massa ou distâncias,
a destreza de cálculo é essencial para a manutenção de uma forte relação com os
números, para que os alunos sejam capazes de olhar para eles criticamente e interpretá-
34
los de modo apropriado.” (ME, 2007, p.10). Neste sentido o cálculo mental é um
elemento crucial da numeracia que a criança deve ser capaz de usar com confiança.
“No dia-a-dia, a maioria dos cálculos que fazemos são mentais. Nem sempre se pode
usar papel e lápis, nem é necessário. Em muitas situações a resposta não tem que ser
exacta, mas basta uma aproximação” (Ponte e Serrazina, 2000).
O desenvolvimento do cálculo mental não pode no entanto, ser entendido sem haver
também um desenvolvimento do sentido do número uma vez que, “ao promover nos
alunos a utilização de métodos próprios para calcular (...) está-se a ajudar no
desenvolvimento do sentido do número e de estratégias próprias de cálculo mental”
(Ponte e Serrazina, 2000).
No PMEB, encontramos explícito que o cálculo mental “está intimamente relacionado
com o sentido de número” e deve ser desenvolvido desde os primeiros anos de
escolaridade. A este propósito refere-se:
“O cálculo mental caracteriza-se por: (i) trabalhar com números e não com
algarismos; (ii) usar as propriedades das operações e as relações entre números;
(iii) implicar um bom desenvolvimento do sentido de número e um saudável
conhecimento dos factos numéricos elementares; e (iv) permitir o uso de registos
intermédios de acordo com a situação (…) Uma boa capacidade de cálculo
mental permite aos alunos seguirem as suas próprias abordagens, usarem as suas
próprias referências numéricas e adoptarem o seu próprio grau de simplificação
de cálculos, permite-lhes também desenvolver a sua capacidade de estimação e
usá-la na análise da razoabilidade dos resultados dos problemas” (p.10).
O cálculo mental, como um poderoso meio de cálculo, é fundamentalmente, um
caminho de aproximação aos números e à informação numérica.
O cálculo mental pode ser descrito como um movimento rápido e flexível através do
mundo dos números. Uma das suas importantes características é poder desenvolver nas
crianças uma diferenciação natural no modo como operam para chegar à solução de um
problema. O cálculo mental dá-lhes a liberdade de seguirem as suas próprias
abordagens, usarem as suas próprias referências numéricas e adotarem o seu próprio
grau de simplificação de cálculos (Ribeiro et al, 2009).
35
Também Abrantes, Serrazina e Oliveira (1999), utilizam a expressão sentido de número,
explicitam o seu significado, seguindo muito de perto, a caracterização apresentada por
McIntosh et al (1992) e sublinham que “constitui uma referência central do ensino dos
números e do cálculo desde os primeiros anos” (p. 46). Este documento, relaciona a
competência matemática com o sentido de número e incluí aí vários aspetos que devem
estar presentes ao longo de toda a educação básica:
a compreensão global dos números e das operações e a sua utilização de maneira
flexível para fazer julgamentos matemáticos e desenvolver estratégias úteis de
manipulação dos números e operações;
o reconhecimento e a utilização de diferentes formas de representações dos
elementos dos conjuntos numéricos, assim como das propriedades das operações
nesses conjuntos;
a aptidão para efetuar cálculos com os algoritmos de papel e lápis, mentalmente
ou usando a calculadora, bem como para decidir qual dos métodos é apropriado
à situação;
a sensibilidade para a ordem de grandeza dos números, assim como a aptidão
para estimar valores aproximados de resultados de operações e decidir a
razoabilidade de resultados obtidos por qualquer processo de cálculo ou por
estimação;
a predisposição para procurar e explorar padrões numéricos em situações
matemáticas e não matemáticas e o gosto por investigar relações numéricas,
nomeadamente, em problemas envolvendo divisores e múltiplos de um número
ou implicando processos organizados de contagem;
a aptidão para dar sentido a problemas numéricos e para reconhecer as operações
que são necessárias à sua resolução, assim como para explicar os métodos e o
raciocínio que forma usados. (p. 64)
2.3. SENTIDO DE NÚMERO NUM CONTEXTO DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
Documentos internacionais de referência, como os publicados pelo National Council of
Teachers of Mathematics em 1991 e 2007, realçam o desenvolvimento do sentido de
número dos alunos como a principal finalidade do tema Números e Operações, no
currículo da Matemática nos primeiros anos. Em Portugal, autores como Brocardo,
36
Serrazina e Rocha (2008) mencionam, igualmente, a importância de pensar os números
e as operações no currículo em termos de sentido de número.
Realçamos a importância das capacidades transversais, nomeadamente a capacidade de
resolução de problemas, de raciocínio e de comunicação matemáticos e de as usar na
construção, consolidação e mobilização dos conhecimentos matemáticos.
Desenvolver a capacidade de resolução de problemas e promover o raciocínio e a
comunicação matemáticos, para além de constituírem objetivos de aprendizagem
centrais neste programa, constituem também importantes orientações metodológicas
para estruturar as atividades a realizar em aula. Isso significa que o professor deve
proporcionar situações frequentes em que os alunos possam resolver problemas, analisar
e refletir sobre as suas resoluções e as resoluções dos colegas. Significa igualmente que
o professor deve dar atenção aos raciocínios dos alunos, valorizando-os, procurando que
eles os explicitem com clareza, que analisem e reajam aos raciocínios dos colegas. A
comunicação deve ter também um lugar destacado na prática letiva do professor.
Através da discussão oral na aula, os alunos confrontam as suas estratégias de resolução
de problemas e identificam os raciocínios produzidos pelos seus colegas. Através da
escrita de textos, os alunos têm oportunidade de clarificar e elaborar de modo mais
aprofundado as suas estratégias e os seus argumentos, desenvolvendo a sua
sensibilidade para a importância do rigor no uso da linguagem matemática. (ME, 2007)
A importância da resolução de problemas para a aprendizagem da Matemática é
amplamente reconhecida. A aprendizagem da Matemática envolve experiências
fundamentais entre as quais se incluem atividades mais rotineiras que apelam,
nomeadamente à memória e ao treino. O que se defende é que este tipo de atividades
deve ser complementado com outras mais desafiantes, como seja a resolução de
problemas.
Alguns autores referem que a resolução de problemas é o processo de aplicar o
conhecimento previamente adquiridos a situações novas e que pode envolver exploração
de questões, aplicações de estratégias e formulação, teste e prova de conjeturas. Trata-se
de uma atividade muito absorvente, pois quem resolve um problema é desafiado a
pensar para além do ponto de partida, a pensar de modo diferente, a ampliar o seu
pensamento e, por vias, a raciocinar matematicamente.
37
As potencialidades para a aprendizagem da Matemática do envolvimento dos alunos em
atividades de resolução de problemas são múltiplas:
“A resolução de problemas ajuda a desenvolver a compreensão das ideias
matemáticas e a consolidar as capacidades já aprendidas e, por outro lado,
constitui um importante meio de desenvolver novas ideias matemáticas. Por
outras palavras, a resolução de problemas pode constituir o ponto de partida e o
ponto de chegada do ensino-aprendizagem da Matemática.” (Ponte & Serrazina,
2000, p. 55, 56)
Além disso, a resolução de problemas, de acordo com Boavida et al. (2008):
proporciona o recurso a diferentes representações e incentiva a comunicação;
fomenta o raciocínio e a justificação;
permite estabelecer conexões entre vários temas matemáticos e entre a
Matemática e outras áreas curriculares;
apresenta a Matemática como uma disciplina útil na vida quotidiana. (p. 14)
Proporcionar problemas significativos, onde o principal objetivo da educação é levar os
alunos a pensar e a raciocinar, é por vezes, designado por ensinar Matemática através da
resolução de problemas, o que remete para a ideia de que “os problemas estão em
primeiro plano, enquanto via facilitadora da aprendizagem” (Boavida et al, 2008, p.14)
Para Matos et al, (1996), resolver um problema implica: perceber que tipo de resposta é
adequada; que instrumento de cálculo é mais apropriado; que estratégia aplicar e como a
aplicar; rever os dados e os resultados para avaliar a sua razoabilidade e ainda por vezes
usar uma estratégia alternativa. Tudo isto implica um conhecimento prévio de possíveis
estratégias para efetuar o cálculo, uma compreensão da relação entre o contexto do
problema e o cálculo apropriado e ainda a capacidade de refletir sobre os resultados, no
contexto original do problema.
A compreensão do contexto do problema ajuda a perceber qual a operação a escolher
assim como os números a usar, bem como a resposta a dar (Mcintosh et al, 1992).
Também Boero (1992) citado por Ferreira e Rocha (1993) refere a importância do
contexto na resolução dos problemas, na medida em que este tem efeitos no
comportamento cognitivo dos alunos. A este propósito Pires (1980), refere que para
cada operação, quanto mais diversificadas forem as situações problemáticas
apresentadas melhor e mais alargada será a sua compreensão do sentido dessa operação.
38
Aqui o professor tem um papel importante na seleção de situações a apresentar às
crianças que devem ter em conta aspetos ligados às suas experiências extra escola,
assim como na consciencialização da existência de múltiplas estratégias de resolução do
mesmo problema. Para Matos et al (1996), esta consciencialização leva os alunos a
serem capazes de optar por uma estratégia de cálculo que numas situações poderá ser
mais eficiente que noutras e ainda a verificarem a razoabilidade das respostas. Pires
(1980), relembra que, antes da construção do primeiro algoritmo a criança deve resolver
muitas situações problemáticas que envolvam vários raciocínios e assim os vários
sentidos dessa operação.
Fosnot e Dolk (2001) consideram que os contextos deverão reunir três componentes: (i)
permitir o uso de modelos, (ii) “fazer sentido” para os alunos e (iii) criarem surpresa e
suscitarem questões.
Sendo a resolução a resolução de problemas essencial para a aprendizagem de qualquer
tópico ou tema matemático, é considerado um aspeto chave para o desenvolvimento de
sentido de número. Foi neste contexto que selecionei as tarefas da proposta pedagógica,
que no âmbito deste estudo, desenvolvi com os alunos.
Em suma, ensinar Matemática através da resolução de problemas proporciona uma
visão desta disciplina favorável ao estabelecimento de ligações dentro da própria
Matemática, com outras áreas curriculares e com o dia-a-dia dos alunos, permitindo-
lhes aprender como utilizar e aplicar a Matemática fora da escola.
Para resolver qualquer problema, os alunos necessitam de ler o problema; compreender
as quantidades e relações envolvidas; traduzir a informação em linguagem matemática,
efetuar os procedimentos necessários e verificar se a resposta obtida é plausível.
Polya, (2003), descreveu um plano em quatro fases que pode ajudar a resolver o
problema:
compreender o problema;
delinear um plano, ou seja, selecionar uma (ou mais) estratégia (s);
desenvolver esse plano;
avaliar os resultados.
39
2.4. APRENDIZAGEM DA MULTIPLICAÇÃO NUMA PERSPETIVA DE
DESENVOLVIMENTO DO SENTIDO DE NÚMERO
Atualmente, os currículos de Matemática dos primeiros anos de escolaridade, no que
respeita à temática dos Números e Operações, revelam preocupações associadas ao
desenvolvimento do sentido de número. Essa preocupação é tornada explícita, como
acontece no caso do PMEB, em que o propósito principal de ensino do tema Números e
Operações, do 1ºciclo é:
“Desenvolver nos alunos o sentido do número, a compreensão dos números e
das operações e a capacidade de cálculo mental e escrito, bem como a de utilizar
estes conhecimentos e capacidades para resolver problemas em contextos
diversos.” (ME, 2007, P.13).
O desenvolvimento de sentido de número surge a par da compreensão dos números e
operações e do desenvolvimento do cálculo mental, bem como da sua aplicação em
situação de resolução de problemas. Associados a um dos propósitos gerias do ensino
da Matemática sobre a resolução de problemas, referido no PMEB, são mencionados
objetivos específicos onde podem ser incluídos alguns dos aspetos do sentido do
número. Assim, realça-se que os alunos “devem ser capazes de compreender problemas
em contextos matemáticos e não matemáticos e de os resolver utilizando estratégias
apropriadas”, “apreciar a plausibilidade dos resultados obtidos e a adequação ao
contexto das resoluções a que chegam” e, ainda, “monitorizar o seu trabalho e refletir
sobre a adequação das suas estratégias, reconhecendo situações em que podem ser
utilizadas estratégias diferentes” (ME, 2007, p.5).
De acordo com o NCTM, na sua explicitação das Normas para os Números e as
Operações, todos os alunos, do pré-escolar ao 12ºano, devem compreender o significado
das operações e o modo como estas se relacionam entre si, calcular fluentemente e fazer
estimativas plausíveis. No que diz respeito, em particular, à operação multiplicação de
números naturais, o NCTM preconiza para os três primeiros anos um trabalho ao nível
da sala de aula que promova a compreensão dos alunos sobre as diversas situações
associadas à multiplicação, realçando as que correspondem à repetição de grupos iguais
(sentido aditivo da multiplicação). Este trabalho deve ser ancorado na exploração de
tarefas com contextos diversificados, de modo a contribuir para a compreensão desta
operação. O trabalho a realizar com os alunos deve promover a compreensão
aprofundada desta operação, alargando progressivamente o universo numérico,
40
utilizando números cada vez maiores. O desenvolvimento das ideias e procedimentos
associados deve permitir aos alunos a compreensão sobre os vários significados da
operação (sentidos da multiplicação), a resolução de problemas que envolvam diferentes
formas de calcular, adequadas a cada situação, e a fazer estimativas plausíveis (NCTM,
2007).
O PMBE realça como aspetos fundamentais a serem desenvolvidos nos primeiros anos
do 1.º ciclo, a compreensão da multiplicação no sentido aditivo e no sentido
combinatório. Nos 3.º e 4.º anos, o conhecimento da multiplicação, tal como das
restantes operações aritméticas, aparece associado à compreensão dos seus efeitos nos
números, à resolução de problemas em contextos diversos e ao uso de estratégias de
cálculo mental baseadas nas suas propriedades. Além disso, a sua compreensão está,
ainda, associada à resolução de problemas em que se tira partido da sua relação com a
operação divisão (ME, 2007).
Investigadores como Treffers e Buys (2001) e Fosnot e Dolk (2001) partem do princípio
que os alunos desenvolvem o conceito de multiplicação a partir de situações do
quotidiano, onde as crianças vão dando sentido ao que vêm e fazem.
Segundo os mesmos autores, a ideia que os alunos têm de multiplicação determina a
forma como eles multiplicam, o modelo que usam para organizar os dados e como
calculam. Quando a ideia de multiplicar está associada à adição sucessiva os alunos têm
a tendência de juntar várias vezes a mesma quantidade.
Se considerarmos o raciocínio multiplicativo de um modo mais amplo existem situações
que envolvem a multiplicação num sentido muito mais abrangente do que a associação
da multiplicação a uma adição de parcelas repetidas.
Níveis de Aprendizagem
Segundo Treffers e Buys (2001), existem três níveis de cálculo:
cálculo por contagem;
cálculo estruturado;
cálculo formal.
41
O cálculo por contagem (adicionar para multiplicar), corresponde ao primeiro nível da
multiplicação. Inserem-se as estratégias e procedimentos dos alunos que incluem a
repetição formal de adições. Ou seja, quando os alunos perante um contexto utilizam
apenas repetições repetidas, encontram-se ao nível da multiplicação por contagem.
Neste nível, não é explícito o uso da multiplicação como operação.
No cálculo estruturado as estratégias usadas pelos alunos incluem o uso explícito da
operação multiplicação com apoio de modelos (por exemplo a reta numérica vazia).
Neste nível, a ideia que a mesma quantidade se repete “tantas vezes”, é associada a esta
operação e são usadas estruturas adequadas para multiplicar, ou seja, estrutura-se para
multiplicar.
O cálculo formal, corresponde ao cálculo do produto entre dois números, recorrendo a
diferentes relações entre a multiplicação e outras operações, a propriedades adequadas
da multiplicação e a produtos já conhecidos. A grande diferença entre este e o cálculo
estruturado é a ausência de modelos de apoio ao cálculo, sendo realizado apenas a nível
numérico e recorrendo a relações e a propriedades da operação.
Neste nível de cálculo, os alunos devem ser capazes de usar adequadamente as
propriedades da operação, diferentes designações do mesmo produto e valores já
conhecidos das tabuadas, para efetuarem “novos” produtos, tais como: recorrer à
propriedade comutativa da multiplicação; usar a propriedade distributiva da
multiplicação em relação à adição; recorrer a diferentes decomposições de um número e
à propriedade distributiva; usar a relação dobro/metade.
2.5. RELAÇÃO ENTRE A MULTIPLICAÇÃO E A DIVISÃO
As operações multiplicação e divisão estão relacionadas entre si, enquanto operações
matemáticas inversas uma da outra, num universo numérico adequado. A aprendizagem
da divisão deve ser feita em estreita relação com a aprendizagem da multiplicação. O
recurso à disposição retangular favorece esta relação mostrando claramente que a
divisão é a operação inversa da multiplicação.
É fundamental que a divisão seja apresentada em contextos diversos (em situações de
partilha, medida e razão), durante a fase de formação dos conceitos e que os alunos
sejam estimulados a utilizar estratégias intuitivas de resolução de problemas de divisão.
42
A utilização de estratégias aditivas e subtrativas vão assim sendo gradualmente
substituídas por estratégias multiplicativas, até que a relação entre a multiplicação e a
divisão possa, de forma simples, ser pensada utilizando a representação horizontal e
recorrendo a estratégias de cálculo.
No PMEB, um dos objetivos específicos do tema Números e Operações para o 3.º e 4.º
ano é “ Resolver problemas tirando partido da relação entre a multiplicação e a divisão”
(ME, 2007, p.18), destacando a conexão entre as duas operações e a sua utilização em
situação de resolução de problemas.
Compreender o raciocínio multiplicativo, implica uma transformação muito importante
no pensamento das crianças, apesar de muitas vezes as operações multiplicação e
divisão serem consideradas relativamente simples do ponto de vista matemático. Estas
duas operações revestem-se de uma grande complexidade a nível cognitivo, quando são
encaradas em termos de modelação de situações e não apenas do ponto de vista do cál-
culo dado que envolvem novos significados para os números e novos tipos de relações
entre eles que devem ser exploradas (Carvalho e Gonçalves, 2003).
Defende-se que o professor deve criar um ambiente de aprendizagem que ajude os
alunos a desenvolver uma predisposição para a matemática, ao mesmo tempo que
valoriza a utilização didática dos processos e estratégias informais de resolução de
problemas. Como argumenta Ferreira (2005), uma excessiva valorização de processos
formais, sem que ao aluno seja dado tempo para utilizar processos informais, em nada
favorece o desenvolvimento do sentido da divisão e de capacidades de raciocínio em
matemática. Não faz sentido valorizar procedimentos que são apresentados aos alunos já
construídos, apostando numa lógica de repetição conducente à mecanização e
memorização de factos e regras.
De acordo com o PMEB (2007), a partilha dos processos e das estratégias informais na
sala de aula é outro aspeto essencial, uma vez que a interação e a comunicação de ideias
e procedimentos utilizados pelo grupo, favorece a progressão gradual no
desenvolvimento do sentido do número e das operações. Salienta-se a diversidade de
estratégias que podem ser usadas pelos alunos, o nível de estruturação de cada uma
delas e o aproveitamento que delas pode ser feito para auxiliar os alunos na construção
de um pensamento matemático, em que as operações têm, de facto, significado.
43
CAPÍTULO III - METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO
Neste capítulo, organizado em cinco secções, justificam-se as opções metodológicas do
estudo. Assim, na primeira secção, começa-se por articular o seu propósito (descrever e
analisar as estratégias dos alunos, perante uma cadeia de tarefas de contextos
multiplicativos), com as opções metodológicas. Nas duas secções seguintes, são
apresentados o contexto de investigação e os participantes. A descrição das tarefas, as
técnicas e instrumentos de recolha de dados e os métodos de análise dos dados surgem
nas secções quatro, cinco e seis, respetivamente.
3.1. OPÇÕES METODOLÓGICAS
Um dos propósitos deste estudo é compreender que raciocínio/compreensão das ideias
matemáticas os alunos do 3.ºano revelam quando resolvem tarefas de contextos
multiplicativos. Em particular pretendo analisar e interpretar as estratégias que os alunos
utilizaram, a estruturação do pensamento matemático e, ainda, a comunicação e
justificação das ideias e processos matemáticos utilizados nas diversas tarefas.
Considerando os seus objetivos e a sua natureza, a presente investigação segue uma
metodologia com uma abordagem qualitativa de natureza interpretativa. Com efeito, de
acordo com Bodgan e Biklen (1994),
na investigação qualitativa a fonte de dados é o ambiente natural, constituindo o
investigador o instrumento principal;
a investigação qualitativa é descritiva;
os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que
simplesmente pelos resultados ou produtos;
os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma indutiva;
o significado é de importância vital na abordagem qualitativa.
Estes autores, apontam ainda como características fundamentais de uma investigação
qualitativa o facto de esta ser descritiva, sendo que os resultados escritos contêm
citações feitas com base nos dados, fotografias e desenhos, para ilustrar e substanciar a
sua apresentação; os dados tendem a ser analisados de forma indutiva e há uma maior
preocupação com o processo do que com o produto.
44
Como investigadora, o principal objetivo é compreender como os alunos mobilizam
aspetos do sentido de número na resolução de algumas tarefas em diferentes contextos
numéricos, observando, identificando e analisando as estratégias utilizadas pelos
mesmos. Procurei envolver-me ativamente no processo, pelo que, o estudo que
desenvolvi pode enquadrar-se no que Ponte (2002) designa por investigação sobre a
própria prática. Na perspetiva deste autor, a investigação sobre a própria prática surge
pela necessidade do professor compreender e conseguir dar resposta aos problemas da
sua própria prática profissional. Desta forma, “a investigação sobre a sua prática é, por
consequência, um processo fundamental de construção do conhecimento sobre essa
mesma prática e, portanto, uma actividade de grande valor para o desenvolvimento
profissional dos professores que nela se envolvem activamente” (Ponte, 2002, p.6)
No âmbito da abordagem metodológica adotada, optei, dados os objetivos da
investigação, pela modalidade de estudo de caso. Como refere Ponte (2006) esse tipo de
pesquisa tem sempre um forte cunho descritivo, bastante ajustada para os estudos em
educação. Permite ao investigador centrar-se num caso ou situação específica e desta
forma perceber interativos que em grandes estudos não se evidenciam (Bell, 2004).
A opção pelo estudo de caso, justifica-se, assim, porque pretendia refletir, descrever e
analisar as particularidades de certos alunos, no que têm de singular e característico
relativamente às suas estratégias relacionadas com o sentido de número.
3.2. CONTEXTO DA INVESTIGAÇÃO
A investigação desenvolvida decorreu no ano letivo de 2011/2012, numa escola do
1.ºCiclo, situada na freguesia e concelho da Marinha Grande, distrito de Leiria.
A escola encontra-se inserida num meio urbano, essencialmente industrial (vidros,
moldes para plásticos, cartonagem). Possui ainda uma diversificada atividade comercial
e uma ampla zona verde, nomeadamente a existência de espaços verdes.
3.3. PARTICIPANTES
Sendo a escola o local onde decorre grande parte da aprendizagem formal, o presente
estudo envolveu uma turma de 3.ºano de escolaridade. Esta era constituída por 29
alunos (11 rapazes e 8 raparigas), com idades compreendidas entre 7 e os 8 anos.
45
De um modo geral, o grupo revelou-se interessado e curioso perante as diversas
situações de aprendizagem. Estas foram desenvolvidas num sentido construtivo e
encorajador. Eram assíduos e pontuais apresentando, de uma maneira geral, hábitos e
métodos de trabalho e de estudo. Em termos de ensino-aprendizagem, o grupo/turma
apresentou alguma heterogeneidade na aquisição das aprendizagens, com diferentes
ritmos de trabalho.
Para o foco dos estudos de caso selecionei três alunos, embora as tarefas apresentadas
na proposta pedagógica tivessem sido realizadas por toda a turma em que estavam
integrados – experiência de ensino realizada numa turma do 3ºano de escolaridade. A
escolha dos alunos caso foi feita após a realização das tarefas e também após a análise
das suas produções nas diversas tarefas aplicadas ao longo da investigação, tendo em
conta alguns objetivos fundamentais: compreensão do número e operações; capacidade
de resolução de problemas, e seleção da estratégia mais eficaz para a resolução de
tarefas de multiplicação e divisão; comunicação e justificação dos resultados. É ainda de
referir que os três alunos selecionadas, apresentavam níveis de desempenho diferentes,
na área da Matemática, situando-se entre o suficiente, o bom e o muito bom.
3.4. TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS
De acordo com Bodkan e Biklen (1994) “o termo dados refere-se aos materiais em
bruto que os investigadores recolhem do mundo que se encontram a estudar; são os
elementos que formam a base da análise” (p.149).
Os dados, maioritariamente de natureza qualitativa, foram recolhidos a partir de
diferentes fontes. Assim, dada a natureza e as questões deste estudo, foram métodos
principais de recolha de dados a observação do tipo participante, complementada com
gravações vídeo, e a recolha documental, onde se incluem as produções dos alunos e
outros documentos considerados pertinentes para a investigação. Foram, ainda, sempre
que necessário realizadas conversas informais com os alunos, no que diz respeito a
esclarecimento de raciocínios/estratégias utilizadas em determinadas tarefas.
A recolha de dados empíricos iniciou-se com a implementação da proposta pedagógica.
A tabela seguinte apresenta, de modo resumido, os métodos, as fontes principais e as
formas de registo dos dados e o modo como se interligam entre si.
46
Tabela 1: Métodos, fontes principais e formas de registo dos dados
Métodos Fontes Formas de registo
Observação participante Aulas
- Notas de campo/relatórios
de observação
- Gravação áudio e vídeos
dos momentos de trabalho
com toda a turma
- Registo fotográfico
Recolha documental Alunos
- Produções dos alunos
- Materiais de apoio à aula
Conversas informais Alunos - Notas de campo
A análise da tabela 1 permite evidenciar que os dados recolhidos para o presente estudo
incluem transcrições dos momentos de trabalho com toda a turma de todas as aulas em
que foram exploradas as tarefas da proposta pedagógica, registos produzidos pelos
alunos, registos fotográficos feitos no quadro pelos alunos durante o desenvolvimento
das tarefas e notas de campo registadas por mim durante as aulas, realizadas
imediatamente após a realização de cada tarefa.
Todos os dados forma recolhidos no ambiente natural de sala de aula dentro do horário
letivo.
De seguida procedi à atribuição de um código a cada um dos documentos, o que
permitiu referenciar os dados a incluir nos textos analíticos, tal como localizar a sua
proveniência sempre que haja necessidade de revisitar o contexto em que surgiram
(Anexo 6).
47
3.5. MÉTODOS DE ANÁLISE DE DADOS
Atendendo aos objetivos delineados para o estudo e que deram sentido às questões a
investigar, tal como já foi referido anteriormente, optou-se por uma metodologia de
natureza qualitativa no sentido de obter uma descrição, análise e interpretação o mais
completa possível dos elementos recolhidos.
Segundo Bogdan e Biklen a análise de dados
“é o processo de busca de organização sistemático de transcrições de entrevistas,
notas de campo e de outros materiais que se foram sendo acumulados, com o
objetivo de aumentar a sua própria compreensão desses mesmos materiais e de
lhe permitir apresentar aos outros aquilo que encontrou” (1994, p. 205).
Neste caso, dada a natureza qualitativa dos dados, a sua análise assumiu um carácter
interpretativo. Os dados foram tratados seguindo uma metodologia de análise de
conteúdo. Este método teve como propósito o estabelecimento de categorias, que
permitisse de forma metódica e sistemática analisar as informações obtidas.
O primeiro momento de análise dos dados coincidiu com o período em que decorreu a
sua recolha. A análise, ainda que informal, os registos áudio e vídeo, das notas de
campo e uma leitura atenta dos documentos, produzidos pelos alunos, permitiu a
regulação do processo de recolha de dados, orientando os procedimentos para as aulas
seguintes.
O segundo momento, após a compilação de todo o material, incluiu duas etapas: análise
das produções e intervenções dos alunos estudo de caso (revendo a captação áudio e o
registo fotográfico) e análise das notas de campo recolhidas (complementadas com o
contributo do visionamento das aulas). Tendo por base os elementos referidos, foram
definidas categorias de análise. Dado que se pretendia aprofundar o conhecimento
acerca da compreensão das operações de multiplicação e divisão, por alunos do 3.ºano
de escolaridade, na resolução de diferentes tarefas, procedeu-se a uma organização das
questões, presentes nas diferentes tarefas, em três grupos, que passaram a constituir as
categorias de análise do presente estudo:
Interpretação e compreensão de informação relevante nos enunciados escritos;
Estratégias de cálculo mental e escrito;
Explicitação das ideias e processos utilizados.
48
A revisão da literatura e a análise das produções escritas dos alunos permitiram
reconhecer, seguidamente, subcategorias de procedimentos usados por estes ao
resolverem as tarefas propostas: procedimentos de contagem; procedimentos aditivos;
procedimentos subtrativos e procedimentos multiplicativos. Em cada uma das quatro
subcategorias identificadas foram, ainda, discriminados procedimentos específicos. A
caracterização dos procedimentos foi efetuada detalhadamente, dando exemplos das
produções dos alunos.
49
CAPÍTULO IV - PROPOSTA PEDAGÓGICA
Determinar as tarefas a implementar, a forma como se complementam, as abordagens
pedagógicas a seguir, tendo em conta as aprendizagens visadas, são alguns dos desafios
exigentes que se colocam hoje aos professores. Carvalho (2009), sustenta que a escolha
das atividades, pelo professor e o modo como os alunos se envolvem na sua resolução, é
determinante para a qualidade dos seus desempenhos e para as atitudes que lhes estão
associadas.
Tendo em conta o pressuposto anterior, para a investigação elaborou-se uma proposta
pedagógica na qual privilegiou-se, a resolução, pelos alunos, de problemas numéricos.
Neste sentido, elaborou-se uma proposta pedagógica que foi desenvolvida, ao longo de
quatro aulas, numa turma do 3.ºano de escolaridade. Em termos metodológicos, optou-
se por uma metodologia qualitativa de investigação e pela realização de três estudos de
caso (3 alunos da turma). Os métodos de recolha de dados foram a observação
participante e as produções dos alunos.
Esta sequência inclui um conjunto de quatro tarefas associadas à operação divisão,
encarando-a como inversa da multiplicação. Algumas destas tarefas foram adaptadas de
outros trabalhos de investigação, nomeadamente do estudo de Maria de Fátima Pista
Calado Mendes (2012) “A aprendizagem da multiplicação numa perspetiva de
desenvolvimento do sentido de número: um estudo com alunos do 1.ºciclo”.
Sequência de tarefas:
Tarefa 1 – Carteira de Cromos
Tarefa 2 – Tampas de garrafa
Tarefa 3 – Colecionar cartas
Tarefa 4 – Máquina de Bebidas
50
4.1. CALENDARIZAÇÃO E EXPLORAÇÃO DAS TAREFAS DA PROPOSTA PEDAGÓGICA
Tarefa 1: Carteira de Cromos (Anexo 2)
Introdução
A tarefa 1 é constituída por questões onde a ideia do grupo enquanto unidade está presente e pode ser aprofundada. Parte de uma situação sobre
carteiras de cromos e nas imagens associadas é apenas visível o número de cromos de cada carteira e não os cromos em si, pelo que não podem
ser contados um a um. São lançados alguns desafios que pretendem incentivar os alunos a encontrar produtos equivalentes.
TAREFAS Aplicação
e duração
Ideias disponíveis e em
desenvolvimento
Ideias e procedimentos
que podem ser usados
Questões
Tarefa 1
Carteiras de Cromos
7 de maio de
2012
1h30m
- A ideia de grupo como unidade;
- A propriedade distributiva da
multiplicação em relação à
adição;
- A propriedade comutativa da
multiplicação.
- Usar produtos parciais;
- Usar dobros;
- Fazer decomposições.
Realização
1. A Eva, o Luís e a Leandra fazem coleção
de cromos. Os cromos vendem-se em
carteiras com 4, 6 e 12 cromos.
Questão 1:
1.1. O Tiago tem 24 cromos no total.
Que carteiras de cromos pode ter
comprado?
Explica como pensaste
51
Questão 2:
1.2. Esgotaram-se as carteiras com 12
cromos. A Raquel foi comprar
cromos e ficou com 48. Que
carteiras de cromos pode ter
comprado? Explica como pensaste.
Tarefa 2: Tampas de garrafas (Anexo 3)
Introdução
Espera-se que, na resolução da tarefa, os alunos recorram a procedimentos associados à multiplicação. Para responder à primeira questão, os
alunos podem recorrer sucessivamente ao conceito de dobro, fazendo os cálculos mentalmente ou usando uma estratégia de cálculo que leve à
resposta. A utilização de uma tabela pode ajudar na sistematização dos resultados. Na questão 2, os alunos terão que representar os números
numa reta graduada. A forma como fazem a graduação da reta para representar os números referentes à recolha de tampas leva os alunos a
relacionarem os números e a pensarem na sua ordem de grandeza. Finalmente na questão 3, os alunos têm de concluir que são necessários 7 dias,
sendo necessários 10 dias para recolher 120 000, embora o número de tampas exceda esse valor em cada um dos casos. Poderá promover-se uma
discussão com os alunos sobre a ordem de grandeza dos números que vão surgindo à medida que se vai duplicando os valores.
Tarefa 2 8 de maio de
2012
- Utilizar as relações de dobro;
- Compreender os efeitos das
- Realizar contagens
progressivas e regressivas a
partir de números dados;
Realização
1. Na escola da Raquel, os alunos
decidiram fazer uma recolha de tampas
52
Tampas de garrafas
1h
operações sobre os números
- Utilizar estratégias de cálculo
para adições e multiplicações;
- Relacionar os contextos com as
estratégias usadas.
- Comparar números e ordená-
los em sequências crescentes e
decrescentes;
- Compreender o sistema e
numeração decimal;
- Organizar dados em tabelas
- Registo e discussão dos
resultados.
de garrafas de água durante uma semana.
Começaram numa segunda-feira e o
resultado da contagem, nesse dia foi de
125 tampas. Cada dia, conseguiram
recolher o dobro das tampas do dia
seguinte.
Questão 1
1.1. Quantas tampas conseguiram
recolher em cada um dos dias da
semana? Faz uma estimativa do
resultado final das tampas recolhidas
e compara com o resultado exato.
Explica como pensaste.
Questão 2
1.2. Representa todos os números,
resultantes da contagem das tampas
em cada dia, num reta numérica,
graduando-a adequadamente.
Questão 3
1.3. Se continuassem a recolher da
mesma forma que nos dias
anteriores, ou seja, duplicando
sempre, em cada dia, o número de
tampas do dia anterior, quantos dias
53
seriam necessários para juntarem 15
000 tampas? E 60 000?
Tarefa 3: Colecionar Cartas (Anexo 4)
Introdução
A tarefa Colecionar Cartas parte de duas imagens que incluem situações de divisão diferentes. A primeira apela ao sentido de divisão por
medida. Nesta situação os alunos sabem a medida do grupo (8 cartas), que corresponde ao número de cartas que tem cada carteira, e necessitam
de saber quantos grupos (carteiras) de 8 cartas podem fazer com um total de 146.
A segunda imagem apela ao sentido de divisão por partilha. Nesta situação os alunos têm um total de 144 cromos para repartir por 6 grupos
(crianças) e necessitam de procurar com quantos elementos (cartas) fica cada grupo (criança).
Espera-se que, na sua resolução, os alunos recorram a procedimentos associados às quatro operações, em particular à multiplicação.
Tarefa 3
Colecionar Cartas
21 de maio
de 2012
1h30m
- Divisão por medida e divisão
por partilha;
- Recorrer às outras operações
para resolver problemas de
divisão;
- Relacionar a multiplicação com
a divisão;
- Utilizar estratégias de cálculo
mental e escrito para a operação
multiplicação usando as suas
- Usar adições repetidas;
- Usar subtrações sucessivas;
- Usar a multiplicação e as
suas propriedades para
resolver problemas de divisão;
- Usar produtos conhecidos;
- Usar a disposição retangular
para modelar a divisão;
Realização
1. O Miguel faz coleção de cartas Yu-Gi-
Oh! E ao organizá-las encontrou 144
repetidas. Resolveu distribuí-las
igualmente pelos amigos Tiago,
Guilherme, David, Francisco, Hugo e
João.
Questão 1
1.1. Com quantas cartas ficou cada um
dos amigos? Explica como pensaste.
54
propriedades.
- Registo e discussão dos
resultados.
Questão 2
1.2. O Francisco também faz coleção de
cartas Yu-Gi-Oh! E tem 176 cartas
que vai colocar numa caderneta.
Cada folha da caderneta tem espaço
para guardar 8 cartas, como mostra a
imagem.
1.2.1. Quantas folhas são necessárias
para colocar todas as cartas?
Explica como pensaste.
Tarefa 4: Máquinas de bebidas (Anexo 5)
Introdução
A tarefa Máquinas de bebidas inclui também dois contextos de divisão, um por medida e outro por partilha, em que os números usados são
exatamente os mesmos. O objetivo é tentar perceber se os alunos as resolvem independentemente uma da outra, ligando-se ao contexto, ou se se
apercebem da relação entre elas e resolvem apenas uma, usando o mesmo resultado.
55
Tarefa 4
Máquina de bebidas
22 de maio
de 2012
1h
- Relacionar a multiplicação com
a divisão;
- Divisão por medida e divisão
por partilha;
- Recorrer às outras operações
para resolver problemas de
divisão e, em particular,
relacionar a multiplicação com a
divisão;
- Relacionar problemas entre si
apesar de partirem de contextos
diferentes.
- Usar adições repetidas;
- Usar subtrações sucessivas;
- Usar a multiplicação e as
suas propriedades para
resolver problemas de divisão;
- Identificar os mesmos
números em contextos
diferentes;
- Usar a disposição retangular
para modelar a divisão;
- Registo e discussão dos
resultados.
Realização
Questão 1
1. A Inês viu uma senhora encher a
máquina de venda de garrafas de água e
resolveu conversar com ela. Ficou a
saber que a máquina leva 156 garrafas de
25cl.
A Inês sabe que, no supermercado, as
embalagens trazem 6 garrafas de água.
Então interrogou-se sobre quantas
embalagens precisaria para encher a
máquina. Consegues ajudar a Inês?
Mostra como chegaste à resposta.
Questão 2
2. A Inês descobriu que há outra máquina
de venda de sumos que também leva 156
garrafas de 33cl. Nesta máquina há 6
tipos diferentes de sumo: maçã, pera,
pêssego, uva, laranja e ananás, havendo a
mesma quantidade de garrafas de cada
um. Quando está cheia, quantas garrafas
de sumo de cada sabor leva a máquina?
Mostra como chegaste à resposta.
56
CAPÍTULO V – RESULTADOS E SUA DISCUSSÃO
No presente capítulo são apresentados e analisados os dados recolhidos, junto dos
alunos, tendo por base os objetivos traçados para esta investigação: identificação de
informação relevante sobre determinada tarefa matemática e o seu objetivo; diversidade
de estratégias de cálculo mental e escrito, selecionadas pelos alunos, para resolverem
tarefas de multiplicação e divisão e, explicitação das ideias e processos utilizados na
resolução da tarefa, bem como a justificação dos seus resultados.
Em cada uma das secções é apresentado e caracterizado cada um dos casos estudados, e
faz-se uma análise do desempenho nas tarefas, tendo em conta as categorias definidas,
terminando com uma síntese do desempenho de cada um.
5.1. O CASO DA MARIA LEONOR
5.1.1. APRESENTAÇÃO DO CASO
A Maria Leonor revelou-se uma aluna bastante interessada e trabalhou de forma
autónoma nas atividades propostas. Demonstrou bastante entusiasmo e segurança no
trabalho que desenvolveu. Quer ao nível da comunicação, quer ao nível da participação
oral, a aluna mostrou-se reservada necessitando da solicitação da professora para
participar de forma ativa.
Foi indicada pela professora titular de turma como sendo uma aluna com um bom
desempenho na Matemática.
5.1.2. ANÁLISE DO DESEMPENHO NAS TAREFAS
Revelou dificuldades na interpretação e compreensão dos dados dos enunciados, uma
vez que, em algumas tarefas, não foi capaz de traduzir toda a informação, em linguagem
matemática. Ponte e Serrazina (2000:50) reforçam que, interpretar “é um processo
fundamental que permite dar sentido aos conceitos e ideias matemáticas”, isto é
compreender as relações envolvidas e efetuar os procedimentos necessários à sua
resolução, tal como avaliar os resultados.
57
Ao longo das quatro tarefas, a aluna não revelou grandes dificuldades na resolução das
situações apresentadas. Verificou-se que a mesma não recorreu a procedimentos
algorítmicos (multiplicação ou divisão) para encontrar a solução para o problema.
Como se observa na questão 1.1. da tarefa Carteira de Cromos, a aluna recorreu a
procedimentos multiplicativos para encontrar o número de carteiras necessárias para
perfazer um total de 24 cromos.
A resposta evidencia que a aluna não foi capaz de apresentar todas as possibilidades de
combinar diferentes tipos de carteiras. Evidencia compreender o número de carteiras de
tipo único necessárias para os 24 cromos.
Pelo trabalho desenvolvido parece-me que houve uma certa dificuldade em
contextualizar os dados, como se observa no registo das seguintes expressões
numéricas: (4x3) + (4x3) = 24; (12x1) + (6x2) = 24, e isto porque no enunciado não
existem carteiras de três cromos, de um cromo e de dois cromos. A aluna revela
dificuldades quando aplica a propriedade distributiva da multiplicação em relação à
adição, uma vez que não atribui significado contextual aos diferentes fatores.
Tanto na resolução escrita, como na resolução oral, a aluna considera expressões, como
por exemplo (1x12) + (1x12) = 24 e 2x12 = 24, o que permitiu que identificasse a
igualdade, baseada na propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição.
Não explicita o significado em termos do número e tipo de carteiras de cromos.
Figura 2: Produção da questão 1.1. da tarefa Carteiras de Cromos (TM1)
58
Na questão 1.2., o número total de cromos aumenta para o dobro e há apenas a
considerar dois tipos de carteiras de quatro e seis cromos. Os números usados permitem
trabalhar relações associadas a dobros.
Inicialmente apresenta as hipóteses de solução considerando unicamente um tipo de
carteiras de cromos; apresenta ainda uma outra solução, combinando dois tipos de
carteiras diferentes. Observa-se que o procedimento mental utilizado na questão 1.1.
repete-se novamente na questão 1.2.. Não explora todas as possibilidades de
combinações, ficando a resposta incompleta.
Na tarefa Tampas de garrafas, a aluna recorre a procedimentos multiplicativos, tal
como se verifica nas questões 1.1. e 1.3., recorrendo sucessivamente ao conceito de
dobro. Em ambas as questões, utiliza como estratégia facilitadora de organização dos
dados e de resolução do problema uma tabela representativa do número de tampas
recolhidas em cada dia da semana.
Representa o valor das tampas recolhidas em cada dia, não necessitando de qualquer
cálculo adicional. Aparentemente fá-lo mentalmente. Para adicionar os valores de cada
dia da semana, adiciona os números que lhe facilitam o cálculo.
Na estimativa do resultado final de tampas recolhidas, aproxima-se por defeito do
resultado exato, sem apresentar qualquer justificação.
Na questão 1.2., a forma como a aluna graduou a reta numérica vazia, revela
compreensão na relação entre os diferentes números, estabelecendo relações de
grandeza entre os mesmos. Observa-se que a aluna representa os números corretamente
na reta numérica vazia, no entanto não utiliza uma graduação exata.
Figura 3: Produção da questão 1.1. da tarefa Tampas de garrafas (TM2)
59
A utilização de procedimentos subtrativos é evidente, na 3.ª tarefa, Colecionar Cartas.
A primeira tarefa inclui duas situações, uma que envolve a divisão com o sentido de
partilha e, outra a divisão com o sentido de medida.
Na questão 1.1., recorre a procedimentos subtrativos, utilizando o número 10 como
número de referência, para resolver problemas de divisão.
Na justificação dos resultados comete um erro ao explicitar as ideias e processos
utilizados quando regista “No vinte e quatro tirei seis”. No entanto, quando pedi uma
justificação dos resultados e processos utilizados, a aluna fê-lo corretamente, como se
verifica na transcrição seguinte:
“Professora: O que queres dizer com “No vinte e quatro tirei seis e vi que dava quatro”? Pois eu penso que 24 – 6 dá 18. Não achas?
Mª Leonor: Pois… Eu acho que me enganei… (a aluna referia-se à divisão 24:6=4) Eu
indiquei uma divisão, mas depois ao explicar, escrevi “tirei” em vez de dividir.
Professora: Ah, então o querias dizer era que no último grupo, que eram 24 cartas, podias utilizar a divisão.
Mª Leonor: Sim… Porque 6x4=24.” (EM3)
Figura 4: Produção da questão 1.2. da tarefa Tampas de garrafas (TM2)
Figura 5: Produção da questão 1.1. da tarefa Colecionar Cartas (TM3)
60
Na questão 1.2., volta a recorrer a procedimentos subtrativos, no entanto não interpreta
corretamente o enunciado, encarando-o como uma situação de divisão como partilha,
trabalhando apenas com o número de folhas (utiliza a mesma estratégia do problema
anterior).
Nesta situação é trabalhada a divisão com o sentido de medida e, tal como refere Pinto e
Monteiro (2008:203), “normalmente os alunos, numa primeira fase resolvem este tipo
de problemas por adições ou subtrações sucessivas”, no entanto e como se observa a
aluna não foi capaz de determinar o número de grupos, tendo em conta a dimensão de
cada grupo (uma folha com oito cartas).
Contudo, na sua justificação revela um bom raciocínio nos procedimentos mentais e, na
comunicação escrita explicita as ideias e os processos e interpreta a informação de
forma eficaz.
A 4.ª tarefa, Máquinas de Bebidas, continha dois problemas com contextos semelhantes
e os mesmos números envolvidos, 156 e 6, mas as situações apresentadas apelavam à
divisão de modo diferente, uma no sentido de partilha e outra no sentido de medida.
Nos registos realizados verificou-se que, a aluna registou a expressão 156:6 = 26 duas
vezes, uma em cada problema, e facilmente relacionou as duas questões, uma vez que o
valor do quociente foi calculado no problema anterior.
Figura 6: Produção da questão 1.2. da tarefa Colecionar Cartas (TM3)
61
Através da análise da produção da questão 1.1., verificou-se que a aluna recorre a
procedimentos multiplicativos, realizando um conjunto de cálculos, recorrendo a
produtos conhecidos e utilizando relações de dobros, o que lhe permite encontrar
produtos parciais cuja soma é igual a 156. Recorreu ainda a adições sucessivas para
encontrar o número de embalagens necessárias, a partir do 120.
5.1.3. SÍNTESE DO CASO
A aluna revelou ser capaz de usar conceitos e destrezas matemáticas que lhe permitiram
realizar as tarefas apresentadas. Verificou-se um bom domínio do cálculo mental. No
entanto, quando solicitada para explicitar e justificar os seus procedimentos, ao nível da
comunicação oral, revelou algumas dificuldades em verbalizar os seus raciocínios.
Ao nível da interpretação e compreensão dos dados dos enunciados revelou
dificuldades, uma vez que, em algumas tarefas, não foi capaz de traduzir toda a
informação, em linguagem matemática. Mcintosh et al (1992) referem que a
compreensão do contexto do problema ajuda a perceber qual a operação a escolher
assim como os números a usar, bem como a resposta a dar.
A aluna recorreu sobretudo a procedimentos multiplicativos e subtrativos para resolver
as diferentes tarefas propostas, que tinham como pressupostos conceitos de
multiplicação e de divisão. O desempenho da aluna evidencia que a mesma foi capaz de
usar adequadamente as propriedades da multiplicação, encarando-a como operação
inversa da divisão e valores já conhecidos das tabuadas, para calcular novos produtos.
Deste modo, recorreu à propriedade comutativa da multiplicação, ainda que sem
Figura 7: Produção da questão 1.1. da tarefa Máquinas de Bebidas (TM4)
62
contextualizar os fatores; propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição;
relações de dobros/metades.
Nas tarefas que envolviam a divisão com o sentido de partilha e de medida, a aluna
apresentou desempenhos diferentes, uma vez que, foi capaz de explicitar por escrito
todos os procedimentos matemáticos necessários à resolução do problema. No entanto,
ao traduzir a informação em linguagem matemática, observou-se que selecionou a
mesma estratégia (subtrações sucessivas), verificando-se deste modo que não foi capaz
de delinear a estratégia mais eficaz para resolver um problema de divisão por medida.
Tendo por base os três níveis de cálculo propostos por Treffers e Buys (2001), e após a
análise das estratégias e procedimentos utilizadas pela aluna, parece-me que há
evidências, nomeadamente o uso de propriedades da operação e o uso de relações
numéricas multiplicativas, que permitem afirmar que o seu nível de aprendizagem situa-
se no cálculo formal na multiplicação. Contudo, relativamente à divisão a aluna está
num nível anterior uma vez que ainda recorre à subtração, sem formalizar as relações
multiplicação/ divisão.
5.2. O CASO DO PEDRO
5.2.1. APRESENTAÇÃO DO CASO
O Pedro revelou-se um aluno empenhado, atento, bastante participativo e interessado
em todas as tarefas que realizou. Demonstrou bastante segurança no trabalho que
desenvolveu.
Foi indicado pela professora titular de turma, como sendo um aluno com
aproveitamento muito bom, na área da Matemática.
5.2.2. ANÁLISE DO DESEMPENHO NAS TAREFAS
O aluno foi capaz de compreender as relações envolvidas e efetuar os procedimentos
necessários à sua resolução, tal como avaliar os resultados. Recorreu sobretudo a
representações simbólicas, como se verifica na resolução das tarefas, para traduzir a sua
abordagem do problema, utilizando símbolos (números e operadores) e linguagem
escrita.
63
No entanto revelou algumas dificuldades na interpretação e compreensão dos dados dos
enunciados, tal como se verifica na primeira tarefa Carteiras de Cromos.
Na questão 1.1., os registos mostram-nos a exploração feita pelo aluno a partir da tarefa
proposta. Refletindo sobre o que escreveu, verifica-se que recorreu a procedimentos
multiplicativos para encontrar o número de carteiras necessárias para perfazer um total
de 24 cromos. A resposta mostra que o mesmo não foi capaz de apresentar todas as
possibilidades de combinar diferentes tipos de carteiras. Evidencia compreender o
número de carteiras de tipo único necessárias para os 24 cromos.
Nas diferentes possibilidades de combinar os tipos de carteiras, verifica-se que o aluno
revela dificuldades na compreensão e interpretação do problema. Observando os seus
registos verifica-se as seguintes expressões numéricas (5x4) + (1x4) = 24; (2x4) + (4x4)
= 24. Estas mostram que o aluno apenas trabalha com um tipo de carteiras (carteiras de
4 cromos), registando diferentes expressões numéricas para representar 6x4 = 24,
recorrendo à propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição.
Na comunicação escrita explicita as ideias e os processos e volta a registar as diversas
hipóteses, recorrendo ao sentido aditivo da multiplicação, caracterizado por Treffers e
Buys (2001:172), como “o primeiro nível da multiplicação, onde se multiplica
utilizando um procedimento de adição formal”, para explicitar algumas expressões
numéricas. No entanto, revela dificuldades quando transforma processos multiplicativos
Figura 8: Produção da questão 1.1. da tarefa Carteiras de Cromos (TP1)
64
em processos aditivos, tal como se observa no registo da seguinte expressão: “(…) eu
também vi que 6x4 = 24 porque 6+6+6+6 = 24, também vi que 4x6 = 24 porque
4+4+4+4+4+4 = 24 (…)”.
Não explora todas as possibilidades de combinações, apresentando uma resposta
incompleta.
Na questão 1.2., na justificação dos procedimentos utilizados recorre, uma vez mais, ao
sentido aditivo da multiplicação revelando dificuldades em traduzir processos
multiplicativos em processos aditivos.
Na segunda tarefa Tampas de garrafas, verifica-se que o aluno recorre a procedimentos
multiplicativos e utiliza estratégias de organização dos dados e de resolução do
problema, utilizando procedimentos mentais semelhantes ao caso da aluna Maria
Leonor.
Figura 10: Produção da questão 1.1. da tarefa Tampas de garrafas (TP2)
Figura 9: Produção da questão 1.2. da tarefa Carteiras de Cromos (TP1)
65
A utilização de procedimentos formais é evidente na terceira e quarta tarefas,
Colecionar Cartas e Maquinas de Bebidas, respetivamente.
Em ambas as tarefas, os registos evidenciam a utilização de estratégias multiplicativas,
recorrendo à representação horizontal, assim como o recurso a estratégias de cálculo
mental. Segundo Treffers e Buys (2001) a utilização de estratégias aditivas e subtrativas
vão sendo gradualmente substituídas por estratégias multiplicativas, até que a relação
entre multiplicação e divisão possa, de forma simples, ser pensada utilizando a
representação horizontal e recorrendo a estratégias de cálculo mental.
Na questão 1.1. da tarefa Colecionar Cartas, o aluno recorre a estimativas para calcular
o quociente da divisão por aproximações sucessivas e com recurso à multiplicação.
Utiliza como estratégias de cálculo mental e escrito produtos conhecidos até chegar ao
número de cartas com que ficou cada amigo, ou seja, determina o tamanho de cada
grupo, isto é, o valor que cabe a cada um dos elementos do divisor
É ainda de referir que, nos procedimentos mentais verifica-se que trabalhou o número
como um todo e não como dígitos, e trabalhou com quantidades com significado, não
perdendo o sentido de número, o que vai ao encontro da perspetiva defendida por Rocha
e Menino (2008) relativamente à exploração de tarefas de divisão com recurso ao
cálculo do quociente por aproximações sucessivas. Revela compreensão e raciocínio,
recorrendo às outras operações para resolver problemas de divisão, em particular,
relaciona a multiplicação com a divisão.
Figura 11: Produção da questão 1.1. da tarefa Colecionar Cartas (TP3)
66
Ainda na questão 1.2. da terceira tarefa e na questão 1.1. da tarefa Máquinas de
Bebidas, volta a recorrer a procedimentos formais, utilizando a representação horizontal
e recorrendo, uma vez mais, a produtos conhecidos e a estratégias de cálculo mental,
para resolver problemas de divisão.
Nesta situação é trabalhada a divisão com o sentido de medida e, tal como refere Pinto e
Monteiro (2008), nos problemas deste tipo, o divisor é entendido como uma unidade
com a qual vamos “medir” o dividendo, significando o quociente o número de vezes
que o divisor “cabe” no dividendo. Tal como se verifica no raciocínio desenvolvido pelo
aluno que nos mostra o divisor como uma unidade para “medir” o dividendo.
No final, quando lhe perguntei como resolveu o problema o aluno justifica as estratégias
usadas e raciocínios implícitos, mostrando que recorre a produtos conhecidos para
descobrir o quociente:
“Professora: Porque é que escolheste o 20?
Aluno: Porque eu sei que 2x8=16, então 20x8=160.
Professora: E isso quer dizer o quê?
Aluno: Quer dizer que já tenho 20 grupos de 8… Mas ainda é pouco…
Professora: Consegues explicar porquê?
Aluno: Sim… Porque não são 160 cartas, mas são 176.
Professora: Então quantos grupos de 8 ainda te faltam?
Aluno: Faltam dois, porque 2x8=16, depois se somar tudo dá 176.
Professora: Agora já sabes dizer quantas folhas são necessárias…
Aluno: Sim, vinte mais duas que é igual a 22.
Professora: E o que significa o 22?
Aluno: O número de folhas para as cartas.”
(EP3)
Figura 12: Produção da questão 1.2. da tarefa Colecionar Cartas (TP3)
67
Ainda na quarta tarefa, Máquinas de Bebidas, na questão 1.2., nos registos realizados
verificou-se que, o aluno voltou a registar a expressão 156:6=26. Recorre a
procedimentos multiplicativos e, utiliza como estratégias de cálculo mental e escrito
produtos conhecidos. Recorreu ainda a subtrações sucessivas para determinar o número
de vezes que o divisor “cabe” no dividendo, isto é para encontrar o número máximo de
latas de cada tipo de sumo.
5.2.3. SÍNTESE DO CASO
No decorrer da proposta pedagógica, o aluno revelou um desempenho positivo,
verificando-se um bom domínio do cálculo mental escrito.
Figura 13: Produção da questão 1.1. da tarefa Máquinas de Bebidas (TP4)
Figura 14: Produção da questão 1.2. da tarefa Máquinas de Bebidas (TP4)
68
A análise das estratégias adotadas pelo aluno na resolução de problemas numéricos
parece evidenciar que usa o raciocínio dedutivo e sistemas de referência.
Revela que compreende o efeito das operações, nomeadamente multiplicação e divisão,
tendo em conta o contexto do problema. No que diz respeito à aplicação de
conhecimentos e da destreza com os números e as operações em contexto de cálculo o
aluno mostrou, em várias situações, que usa estratégias e raciocínios flexíveis.
Recorreu sobretudo a procedimentos multiplicativos para resolver as diferentes tarefas
propostas, que tinham como pressupostos conceitos de multiplicação e de divisão.
Nas tarefas que envolviam a divisão com o sentido de partilha e de medida, utilizou
números de referência para “medir” o dividendo, de modo a encontrar o quociente.
Ao traduzir a informação em linguagem matemática, observou-se que selecionou a
mesma estratégia (representação horizontal e cálculo mental) para resolver os
problemas.
Em todas as situações parece situar-se no nível do cálculo formal, utilizando os números
e estabelecendo relações numéricas que lhe permitem atingir competências de cálculo
inteligentes e flexíveis, sem precisar de recorrer a materiais estruturados (Treffers e
Buys, 2001).
Quando solicitado para explicitar e justificar os seus procedimentos, ao nível da
comunicação oral, revelou algumas dificuldades em comunicar os seus raciocínios, quer
oralmente quer por escrito, como se verifica na transcrição seguinte:
“Professora: Pedro, consegues explicar como pensaste?
Pedro: Eu vi que 25x6=150 e eu vi que ainda não dava mas depois eu fiz 1x6=6 e depois juntei 150+6=156 e cheguei à resposta.” (o aluno lê o registo escrito)
Em Matemática, e como refere Boavida et al (2008) comunicar oralmente o nosso
pensamento exige um esforço de organização de ideias e passá-lo ao formato escrito é
ainda mais exigente, pois o ato de escrever obriga a refletir sobre o próprio trabalho e a
clarificar pensamentos sobre as ideias desenvolvidas. Assim, escrever em Matemática e
a propósito da Matemática é algo que deve ser incentivado desde muito cedo.
69
Como se verifica na comunicação escrita produzida pelo aluno, este situa-se apenas na
escrita de cálculos e resultados, não se verificando, ainda, uma organização de ideias
que nos mostre como foi resolvido o problema, que estratégias foram usadas e que
raciocínios foram desenvolvidos.
5.3. O CASO DA ÉRICA
5.3.1. APRESENTAÇÃO DO CASO
A Érica revelou-se uma aluna bastante interessada e curiosa pelas atividades propostas.
Em muitas situações não avançou na resolução do problema, sem que lhe confirmasse
que os seus procedimentos estavam corretos, o que poderá ter a ver com a insegurança
relativamente às suas capacidades matemáticas.
Foi indicada pela professora titular de turma como uma aluna média.
5.3.2. ANÁLISE DO DESEMPENHO NAS TAREFAS
A aluna revelou dificuldades na interpretação e compreensão dos dados dos enunciados,
uma vez que, em algumas tarefas, não foi capaz de traduzir toda a informação, em
linguagem matemática.
Em algumas tarefas, recorre à representação icónica para organizar visualmente a
informação, para estruturar o seu pensamento e para delinear a estratégia de resolução.
Utiliza estruturas multiplicativas muito simples para encontrar a resposta ao que lhe é
pedido, tal como se verifica nos registos apresentados na questão 1.1. da tarefa
Carteiras de Cromos.
70
Verifica-se que a aluna, não recorre à propriedade distributiva da multiplicação em
relação à adição, utilizando apenas procedimentos aditivos, sem utilizar o sentido
aditivo da multiplicação, como se verifica nas seguintes expressões numéricas:
“6+6+4+4+4=24; 12+4+4+4=24; 12+6+6=24” representativas das várias possibilidades
de combinar os diferentes tipos de carteiras. A aluna recorre ao cálculo por contagem
(Treffers e Buys, 2001), uma vez que adiciona para multiplicar, não estando explicito o
uso da multiplicação como operação.
Apresenta todas as hipóteses de solução considerando unicamente um tipo de carteiras
de cromos, bem como combinando dois tipos de carteiras diferentes. No entanto, a
resposta apresentada é incompleta, uma vez que a aluna refere apenas um dos tipos
únicos de carteiras.
Observa-se que o procedimento mental utilizado na questão 1.1. repete-se novamente na
questão 1.2.. Não explora nenhuma das possibilidades de combinações, apresentando
apenas as carteiras de tipo único, ficando a resposta incompleta.
Figura 15: Produção da questão 1.1. da tarefa Carteiras de Cromos (TE1)
Figura 16: Produção da questão 1.2. da tarefa Carteiras de Cromos (TE1)
71
Recorre a estruturas multiplicativas simples, observando-se a necessidade de contagens
progressivas a partir de números dados. Refletindo sobre a estratégia utilizada pela
aluna parece-me evidente que esta apresenta algumas dificuldades ao nível do cálculo
mental; não estabelece relações de dobros/metades; não recorre a produtos conhecidos.
Na tarefa Tampas de garrafas, a aluna utiliza os mesmos procedimentos mentais que os
outros alunos estudados. No entanto, em algumas questões, a resposta não vai ao
encontro da pergunta do enunciado, tal como se verifica na questão 1.1.. Tal facto,
poderá evidenciar alguma incompreensão na interpretação do enunciado, como se
verifica pelos registos apresentados.
Nesta questão a aluna mostra a estimativa, mas não apresenta os cálculos do resultado
exato e a resposta é descontextualizada, fazendo apenas a leitura dos dados da tabela.
Na terceira tarefa, Colecionar Cartas, recorre, à representação icónica, recorrendo a
esquemas e figuras para ilustrar ideias, conceitos, procedimentos matemáticos ou
relações entre eles. Tem necessidade de representar o seu pensamento através do
icónico e recorre à distribuição das cartas utilizando um número de referência; fá-lo as
vezes necessárias para encontrar a resposta correta.
Figura 17: Produção da questão 1.1. da tarefa Tampas de garrafas (TE2)
72
As representações utilizadas pela aluna revelam que esta compreendeu os dados do
problema, estabeleceu as devidas relações, trabalhando-o como uma situação de divisão
como partilha.
Em paralelo, utiliza procedimentos subtrativos, com a intenção de verificar a
distribuição de todas as cartas.
Na justificação do raciocínio e dos procedimentos utilizados, observa-se que a aluna foi
capaz de interpretar e explicitar as ideias e os processos utilizados na representação
icónica, ainda que apresente uma pequena lacuna (desenha apenas cinco figuras).
Na questão 1.2. da tarefa Colecionar Cartas, a aluna recorre novamente à representação
icónica para estruturar o seu pensamento. Utiliza como estratégia de resolução
procedimentos de contagem sem estabelecer relações numéricas e sem recorrer a
números de referência. Nos registos apresentados, verifica-se que a mesma teve
necessidade de representar todas as folhas necessárias, o que nos mostra que a estratégia
selecionada é indicadora de um problema de divisão com o sentido de medida.
Figura 18: Produção da questão 1.1. da tarefa Colecionar Cartas (TE3)
73
Este procedimento poderá ser um indicador de que a aluna ainda revela algumas
dificuldades em traduzir a informação do problema, recorrendo simultaneamente à
representação icónica, mas também simbólica.
A análise da quarta tarefa, Máquinas de Bebidas, revela-nos que a aluna estruturou o
seu pensamento com representações simbólicas, quer para a compreensão do problema,
quer para a seleção da estratégia para o resolver.
Parece-me pertinente referir os procedimentos mentais utilizados na tarefa anterior, na
qual a aluna utilizou apenas estratégias aditivas para resolver uma divisão apresentado
no mesmo contexto - divisão como medida.
Nesta situação verificou-se que a aluna recorreu, pela primeira vez, a procedimentos
multiplicativos, realizando um conjunto de cálculos, recorrendo a produtos conhecidos e
Figura 19: Produção da questão 1.2. da tarefa Colecionar Cartas (TE3)
Figura 20: Produção da questão 1.1. da tarefa Máquinas de Bebidas (TE4)
74
utilizando relações de dobros, o que lhe permitiu encontrar produtos parciais cuja soma
é igual a 156, como se verifica nos registos e na transcrição seguinte:
“Professora: Então afinal, quantas embalagens são necessárias para encher a máquina?
Aluna: Eu pensei que se somasse 120 garrafas mais as 36 garrafas ia dar as 156
garrafas que precisava.
Professora: Mas não respondeste… Eu perguntei quantas embalagens são necessárias?
Aluna: Eu fiz 10x6=60… Depois voltei a fazer o mesmo e fiquei com 120 garrafas.
Professora: E essas 120 garrafas correspondem a quê?
Aluna: Eu sei...mas não sei explicar muito bem…
Professora: Então vamos observar o que tu escreveste.
Aluna: 10 embalagens de 6 já leva 60 garrafas, mais outras 10 fica 120 garrafas.
Professora: Então, 120 garrafas correspondem a quantas embalagens? Observa lá a tua
tabela…
Aluna: 20 embalagens.
Professora: Já distribuímos 120 garrafas e foram necessárias 20 embalagens. Mas ainda
não acabou. Sabemos que a máquina leva 156 garrafas.
Aluna: Pois… faltam 36 garrafas, por isso é que eu fiz 6x6.
Professora: E o que representa o 6x6?
Aluna: São 6 embalagens com 6 garrafas, por isso são necessárias 20 mais 6
embalagens.”
(EE4)
A utilização destes procedimentos poderá levar-me a inferir, pelo modo como a aluna
organizou os dados, que a mesma formulou conjeturas inerentes a um problema de
medida.
5.3.3. SÍNTESE DO CASO
Ao nível da interpretação e compreensão dos dados dos enunciados revelou
dificuldades, uma vez que, em algumas tarefas, não foi capaz de traduzir toda a
informação, em linguagem matemática.
Verifica-se que na maioria das tarefas, em particular nas de divisão, a aluna recorre à
representação icónica para organizar visualmente a informação, para estruturar o seu
pensamento e para delinear a estratégia de resolução. Observa-se o uso de
figuras/desenhos e tabelas para ilustrar conceitos e procedimentos.
75
Analisando o desempenho da aluna nas diferentes tarefas, nomeadamente Carteiras de
Cromos e Colecionar Cartas, observa-se que a aluna estrutura a multiplicação usando
adições repetidas. Não é explícito o uso da multiplicação como operação, uma vez que
utiliza apenas procedimentos aditivos. Esta estratégia permite-nos afirmar que o seu
nível de aprendizagem situa-se no cálculo por contagem (Treffers e Buys, 2001), uma
vez que a aluna não recorre à propriedade distributiva da multiplicação em relação à
adição, tal como à propriedade comutativa da multiplicação.
Numa análise global do trabalho da aluna, verifica-se que os procedimentos e as
estratégias utilizadas refletem diferentes desempenhos, evidenciando diferentes níveis
de cálculo quer para a compreensão do problema, quer para a seleção da estratégia para
o resolver.
Em algumas tarefas, observa-se que o cálculo mental ainda não é uma estratégia eficaz.
Como se verifica na questão 1.2. da tarefa, Colecionar Cartas, que envolve divisão por
medida, a aluna tem necessidade de recorrer ao cálculo por contagem, não
estabelecendo relações de dobros/metades, tal como não recorre a produtos conhecidos.
Analisando as tarefas, Colecionar Cartas e Máquinas de Bebidas, a aluna recorre uma
vez mais, à representação icónica para estruturar o seu pensamento, no entanto recorre a
números de referência, estabelecendo relações entre os números.
76
CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES DO
RELATÓRIO
O presente capítulo está organizado em duas secções. Na primeira é apresentada uma
síntese do relatório, na qual se refere, uma vez mais, o contributo dos momentos
reflexivos para a minha formação enquanto futura docente, o problema e as questões de
investigação, a metodologia utilizada, a proposta pedagógica e o contexto em que se
desenvolveu o estudo. De seguida, apresentam-se as principais conclusões referentes às
questões de investigação.
Na secção seguinte são referidas as principais limitações que estiveram subjacentes a
este trabalho, bem como recomendações para investigações futuras.
CONCLUSÕES
A realização da componente reflexiva contribuiu para a minha formação enquanto
futura docente, quer na autoanálise do meu próprio trabalho, quer nos momentos de
discussão e de partilha de estratégias de ensino-aprendizagem, bem como novas
metodologias de trabalho com os vários intervenientes da prática. Estes momentos
foram bastante proveitosos, porque proporcionaram-me um progressivo crescimento
reflexivo, crítico, fundamentado e construtivo sobre a ação educativa.
Na dimensão investigativa, o estudo realizado teve como objetivo aprofundar o
conhecimento acerca da compreensão das operações de multiplicação e divisão, por
alunos do 3ºano de escolaridade, na resolução de diferentes tarefas em diversos
contextos numéricos. No âmbito deste objetivo foram formuladas as seguintes questões
de investigação:
- Os alunos são capazes de identificar informação relevante sobre determinada tarefa
matemática e o seu objetivo?;
- Que estratégias de cálculo mental e escrito, os alunos selecionam, para resolver
tarefas de multiplicação e divisão?;
- Como explicitam os alunos as ideias e os processos utilizados na resolução da
tarefa, bem como a justificação dos seus resultados?.
77
O trabalho desenvolvido seguiu uma metodologia qualitativa de investigação, em que os
dados foram recolhidos, em ambiente natural da sala de aula, e centraram-se não nos
produtos, mas nos processos, que se procuraram descrever e interpretar (Bogdan e
Biklen, 1994).
No âmbito da abordagem metodológica adotada e dados os objetivos do trabalho, optei
pela modalidade de estudo de caso. Como refere Ponte (2006), este tipo de pesquisa que
tem sempre um forte cunho descritivo, permite ao investigador centrar-se num caso ou
situação específica e desta forma perceber interativos que em grandes estudos não se
evidenciam (Bell, 2004).
A opção pelo estudo de caso (especificamente em três alunos da turma), justifica-se,
assim, porque pretendia-se refletir, descrever e analisar as particularidades de certos
alunos, no que têm de singular e característico relativamente às suas estratégias
relacionadas com o sentido de número.
Com o propósito de ir ao encontro dos objetivos traçados elaborou-se uma proposta
pedagógica na qual se privilegiou, a resolução de problemas numéricos associados à
operação divisão, encarando-a como inversa da multiplicação.
Utilizaram-se diferentes métodos de recolha de dados, maioritariamente de natureza
qualitativa. Assim, dada a natureza e as questões deste estudo, os principais métodos de
recolha de dados centraram-se na observação do tipo participante, complementada com
gravações vídeo, e a recolha documental, onde se incluem as produções dos alunos e
outros documentos considerados pertinentes para a investigação. Foram ainda, sempre
que necessário, realizadas conversas informais com os alunos, no que diz respeito a
esclarecimento de raciocínios/estratégias utilizadas em determinadas tarefas.
Dada a natureza qualitativa dos dados, a sua análise assumiu um carácter interpretativo.
Os dados foram tratados seguindo uma metodologia de análise de conteúdo. Este
método teve como propósito o estabelecimento de categorias, que permitiu de forma
metódica e sistemática analisar as informações obtidas.
Dado que se pretendia aprofundar o conhecimento acerca da compreensão das
operações de multiplicação e divisão, na resolução de diferentes tarefas, procedeu-se a
78
uma organização das questões, presentes nas diferentes tarefas, em três grupos, que
passaram a constituir as categorias de análise do presente estudo:
Interpretação e compreensão de informação relevante nos enunciados escritos;
Estratégias de cálculo mental e escrito;
Explicitação das ideias e processos utilizados.
A revisão da literatura e a análise das produções escritas dos alunos permitiram
reconhecer, seguidamente, subcategorias de procedimentos usados por estes ao
resolverem as tarefas propostas: procedimentos de contagem; procedimentos aditivos;
procedimentos subtrativos e procedimentos multiplicativos.
Relativamente ao primeiro objetivo formulado, “Os alunos são capazes de identificar
informação relevante sobre determinada tarefa matemática e o seu objetivo?”, verificou-
se que os alunos em estudo revelaram dificuldades, e isto porque, em algumas tarefas,
observou-se que nem toda a informação pertinente foi traduzida em linguagem
matemática.
Esta dificuldade foi evidente na primeira tarefa, Carteiras de Cromos. Nesta, os alunos
apresentaram lacunas ao nível da compreensão dos enunciados escritos, nomeadamente
na interpretação dos dados relativos ao sentido combinatório dos diferentes tipos de
carteiras.
Relativamente às tarefas que envolviam a divisão com o sentido de partilha e medida
também foram evidentes dificuldades ao nível da interpretação e compreensão dos
enunciados. Esta dificuldade condicionou a seleção da estratégia mais eficaz para a
resolução da tarefa. Observou-se que os alunos selecionaram a mesma estratégia, não
contextualizando o sentido da divisão por partilha e por medida. Tendo em conta as
etapas da resolução de um problema propostas por Pólya (1975), a primeira etapa
começa por procurar compreender o problema, para isso é necessário identificar o que é
dado e o que é pedido e tentar representá-lo matematicamente. Da compreensão que os
alunos fazem do enunciado, resulta a conceção de um plano para a sua resolução.
Analisando o segundo e terceiro objetivos, “Que estratégias de cálculo mental e escrito,
os alunos selecionam, para resolver tarefas de multiplicação e divisão?” e “Como
79
explicitam os alunos as ideias e os processos utilizados na resolução da tarefa, bem
como a justificação dos seus resultados?”, respetivamente e, tendo por base os níveis de
cálculo propostos por Treffers e Buys (2001), conclui-se que os alunos em estudo não se
encontram no mesmo nível de cálculo.
Numa análise global do trabalho, verificou-se que os procedimentos e as estratégias
utilizadas refletem diferentes desempenhos, evidenciando diferentes níveis de cálculo
quer para a compreensão do problema, quer para a seleção da estratégia para o resolver.
Após a análise das estratégias e procedimentos utilizados chegou-se à conclusão que os
alunos recorreram sobretudo a categorias de procedimentos de contagem, aditivos,
subtrativos e multiplicativos para resolver as diferentes tarefas, que tinham como
pressupostos conceitos de multiplicação e de divisão.
No desempenho mais elementar, o caso da Érica, verificou-se o recurso à representação
icónica para organizar visualmente a informação, para estruturar o pensamento e para
delinear a estratégia de resolução. Observou-se o uso de diferentes representações como
figuras/desenhos e tabelas para ilustrar conceitos e procedimentos matemáticos.
Não é explícito o uso da multiplicação como operação, uma vez que utilizou apenas
procedimentos aditivos.
Nas tarefas que envolviam a divisão, a aluna teve necessidade de recorrer ao cálculo por
contagem, não estabelecendo relações de dobros/metades, tal como não utilizou
produtos conhecidos; recorre à representação icónica para estruturar e organizar
visualmente o seu pensamento.
Pela análise dos desempenhos da M. ª Leonor e do Pedro, chegou-se à conclusão que os
mesmos se situam no nível de cálculo formal, e isto porque a reflexão sobre as ideias
matemáticas e a sua ligação com estratégias, procedimentos e representações utilizados
pelos alunos permitiu verificar a mobilização e a manipulação de conhecimentos e
ideias matemáticas, em contexto de cálculo. De facto, nas representações simbólicas dos
alunos verifica-se que recorrem sobretudo a procedimentos multiplicativos,
evidenciando o uso adequado das propriedades da multiplicação, quer a propriedade
comutativa da multiplicação, quer a propriedade distributiva da multiplicação em
relação à adição. Na resolução das tarefas é evidente o uso do raciocínio dedutivo e
80
sistemas de referência, a aplicação de conhecimentos e destreza com os números e as
operações em contexto.
Relativamente às tarefas de divisão com sentido de partilha e medida, observou-se que
os alunos, ao traduzirem a informação em linguagem matemática, selecionaram as
mesmas estratégias para resolver os problemas.
Pelo trabalho desenvolvido, verificou-se que a M. ª Leonor recorreu essencialmente a
subtrações sucessivas. O uso desta estratégia permite situar a aluna no cálculo formal,
ainda que num nível anterior, uma vez que as relações multiplicação/divisão ainda são
se encontram formalizadas.
No caso do Pedro, verificou-se o uso da representação horizontal e o cálculo mental
para resolver as tarefas. É explícito o uso do divisor para “medir” o dividendo,
utilizando números de referência, de modo a encontrar o quociente.
Na justificação das ideias e dos processos utilizados, bem como na avaliação dos
resultados, quer na dimensão oral, quer na dimensão escrita as dificuldades foram
evidentes. A análise das produções escritas permite-me afirmar que a comunicação
apenas incide nos cálculos e nos resultados, não se verificando ainda uma organização
de ideias que nos mostre como foi resolvido o problema, que estratégias foram usadas e
que raciocínios foram desenvolvidos.
LIMITAÇÕES E RECOMENDAÇÕES
Nesta última secção, será importante começar por referir que uma das limitações a
apontar neste trabalhado está relacionada com a gestão do tempo, uma vez que as aulas
para aplicar as propostas, para a discussão das estratégias e procedimentos utilizados,
bem como a comunicação e justificação das ideias e raciocínios matemáticos
resumiram-se apenas a quatro aulas de 90 minutos. Este fator limitou o
desenvolvimento do trabalho, e isto porque, durante a implementação das tarefas, nem
sempre foi possível a discussão partilhada das diversas estratégias de resolução.
Outra limitação, que se pode apontar a esta investigação, diz respeito às rotinas de
trabalho deste grupo. Da minha observação, parece-me que a apresentação, explicação,
defesa/argumentação e partilha de ideias e raciocínios, em grande grupo, não era uma
prática frequente. Este fator limitou as interações dos alunos no desenrolar das diversas
81
propostas. Verificaram-se, deste modo, algumas dificuldades na comunicação
matemática, nomeadamente na justificação dos procedimentos, dos raciocínios e na
avaliação dos resultados obtidos.
No âmbito das recomendações, importa referir a importância da comunicação
matemática na sala de aula, que favorece, significativamente, o processo de ensino e
aprendizagem da Matemática. Valorizar a comunicação corresponde a assumir que a
Matemática é uma atividade humana, criativa e social e que a sua aprendizagem se
desenvolve a partir da interação entre todas as pessoas da aula.
As interações que ocorrem na sala de aula despoletadas por uma tarefa criam inúmeras
oportunidades de aprendizagem que dificilmente surgem numa aula de trabalho
individualizado.
A partilha de estratégias de resolução em pequeno ou grande grupo permite, não só, que
os alunos verbalizem o seu pensamento, tendo para isso que o organizar, como ainda
que expliquem e justifiquem as suas resoluções.
Assim, a comunicação matemática pode facilitar uma melhor compreensão e
interiorização dos conceitos envolvidos, a incorporação de processos alternativos de
resolução e a construção de conhecimentos. Neste sentido, e como refere Boavida et al
(2008:78), “fala-se de comunicação como um meio para desenvolver mais e melhores
compreensões: comunicar para aprender.”.
Para alcançar estes propósitos é fundamental que o professor tenha em conta os
seguintes aspetos: a escolha criteriosa das tarefas a propor aos alunos, que permitam um
leque mais diversificado de estratégias de resolução de problemas e a criação de uma
cultura de sala de aula que contemple espaço/tempo para interações adequadas, que
permitam que os alunos partilhem as suas ideias e raciocínios.
82
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Zeichner, K. (1993). A formação reflexiva de professores: Ideias e práticas. Lisboa:
Educa.
1
ANEXOS
2
ANEXO 1 – PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO AOS PAIS E ENCARREGADOS DE
EDUCAÇÃO
3
Como alunas da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Leiria, a frequentar
o Mestrado de Educação em Ensino do 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico, vimos por este meio
solicitar aos pais/encarregados de educação, autorização para a recolha de dados usando
meios áudio, vídeo e fotográficos dos vossos educandos. Estes têm como objetivo, apenas, a
publicação no nosso trabalho de investigação, no âmbito do estágio profissional. Mais
declaramos que as imagens ou som daí resultantes não serão divulgadas nem serão utilizadas
para quaisquer outros fins, sendo sempre preservado o anonimato dos alunos
Agradecemos a vossa colaboração!
As estagiárias:
Ana Filipa Silva
Telma Freitas
Autorização
Eu,__________________________________________________ encarregado de
educação do(a) aluno(a) ________________________________________________,
Autorizo: Sim Não
Assinatura Encarregado de educação
________________________________________
4
ANEXO 2 – TAREFA CARTEIRAS DE CROMOS
5
Carteiras de Cromos
1. A Eva, o Luís e a Leandra fazem coleção de cromos. Os cromos vendem-se em
carteiras com 4,6 e 12 cromos.
1.1. O Tiago tem 24 cromos no total. Que carteiras de cromos pode ter comprado?
Explica como pensaste.
1.2. Esgotaram-se as carteiras com 12 cromos. A Raquel foi comprar cromos e ficou
com 48. Que carteiras de cromos pode ter comprado? Explica como pensaste.
Nome:
_________________________________________________________
Data:
________________________________________________________________________
Ano: _____
4 cromos 6 cromos 12 cromos
R:
R:
6
ANEXO 3 – TAREFA TAMPAS DE GARRAFAS
7
Tampas de garrafas
1. Na escola da Raquel, os alunos decidiram fazer uma recolha de tampas de garrafas de
água durante uma semana. Começaram numa segunda-feira e o resultado da
contagem, nesse dia foi de 125 tampas. Cada dia, conseguiram
recolher o dobro das tampas do dia anterior.
1.1. Quantas tampas conseguiram recolher em cada um dos dias
da semana? Faz uma estimativa do resultado final das tampas recolhidas e
compara com o resultado exato. Explica como pensaste.
1.2. Representa todos os números, resultantes da contagem das tampas em cada
dia, num reta numérica, graduando-a adequadamente.
Nome:
_________________________________________________________
Data:
________________________________________________________________________
Ano: _____
R:
8
1.3. Se continuassem a recolher da mesma forma que nos dias anteriores, ou seja,
duplicando sempre, em cada dia, o número de tampas do dia anterior, quantos
dias seriam necessários para juntarem 15 000 tampas? E 60 000?
R:
9
ANEXO 4 – TAREFA COLECIONAR CARTAS
10
Colecionar Cartas
2. O Miguel faz coleção de cartas Yu-Gi-Oh! e ao organizá-las encontrou 144 repetidas.
Resolveu distribuí-las igualmente pelos amigos Tiago, Guilherme, David, Francisco,
Hugo e João.
2.1. Com quantas cartas ficou cada um dos amigos? Explica como pensaste.
Nome:
_________________________________________________________
Data:
________________________________________________________________________
Ano: _____
R:
11
2.2. O Francisco também faz coleção de cartas Yu-Gi-Oh! e tem 176 cartas que vai
colocar numa caderneta. Cada folha da caderneta tem espaço para guardar 8 cartas,
como mostra a imagem.
2.2.1. Quantas folhas são necessárias para colocar todas as cartas? Explica como
pensaste.
R:
12
ANEXO 5 – TAREFA MÁQUINAS DE BEBIDAS
13
Máquinas de Bebidas
1.A Inês viu uma senhora encher a máquina de venda de garrafas de água e resolveu
conversar com ela. Ficou a saber que a máquina leva 156 garrafas.
A Inês sabe que, no supermercado, as embalagens trazem 6 garrafas de água. Então
interrogou-se sobre quantas embalagens precisaria para encher a máquina.
Consegues ajudar a Inês?
Mostra como chegaste à resposta.
Nome:
_________________________________________________________
Data:
________________________________________________________________________
Ano: _____
R:
14
2. A Inês descobriu que há outra máquina de venda de sumos que também leva 156
garrafas. Nesta máquina há 6 tipos diferentes de sumo: maçã, pera,
pêssego, uva, laranja e ananás, havendo a mesma quantidade de
garrafas de cada um. Quando está cheia, quantas garrafas de sumo de
cada sabor leva a máquina?
Mostra como chegaste à resposta.
R:
15
ANEXO 6 – CODIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS SUBMETIDOS A PROCEDIMENTOS
DE ANÁLISE
16
Quadro 1 - Codificação de documentos submetidos a procedimentos de análise
TAREFAS
MARIA
LEONOR PEDRO ÉRICA
PRODUÇÕES
REALIZADOS
PELOS ALUNOS
NAS TAREFAS
(REGISTOS NAS
FOLHAS DE
TRABALHO
INDIVIDUAL)
1. CARTEIRAS DE
CROMOS TM1 TP1 TE1
2. TAMPAS DE
GARRAFAS TM2 TP2 TE2
3. COLECIONAR
CARTAS TM3 TP3 TE3
4. MÁQUINAS DE
BEBIDAS TM4 TP4 TE4
TRANSCRIÇÕES
DAS AULAS EM
QUE FORAM
EXPLORADAS
AS TAREFAS DA
PROPOSTA
PEDAGÓGICA
1. CARTEIRAS DE
CROMOS - - -
2. TAMPAS DE
GARRAFAS - - -
3. COLECIONAR
CARTAS EM3 EP3 EE3
4. MÁQUINAS DE
BEBIDAS
-
EP4 EE4
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