Ciclo de Conferências 2003: Estudos de Língua e Literatura 59
ReflexõespedagógicasnaobradeGuerraJunqueiro
Carla Espírito Santo Guerreiro
EmmeadosdoséculoXIX,Portugalencontrava-sepolítica,socialeeconomicamentenumestadocaótico.
Para o delinear desta situação em muito contribuíram os políticosfraudulentosecorruptos,maisabsorvidospormesquinhosinteressespessoaisdoquepeloefectivodesenvolvimentodopaís.
Particularmentenoscampos,asituaçãoeradegrandepenú-ria,motivandoumenormefluxodeemigração,sobretudoparaterrasbrasileiras,embuscademelhorescondiçõesdevida.
Énestemomentohistórico,maisconcretamenteem1850,quenapequenavilatransmontanadeFreixodeEspada-à-CintanasceAbílioManuelGuerraJunqueiro,poetaquepelaforçaeengenhodasuapalavrahaviademarcarnãosóoséculoXIX,mastodaanossahistórialiterária.
EmPortugal,asArteseLetrassentiamcomonuncaafaltadeapoiogovernamental,oqueagravavaasdifíceiscondiçõesdevidados Artistas. Os escritores precisavam da protecção do Estado e este oferecia importantescargosnoGovernoemtrocado“controlodapena”,daquisurgindoachamada“literaturaoficial”.
NestaépocasurgiaemCoimbraumgrupodeintelectuais,liderado ideologicamente por Antero de Quental e José Fontana e
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doqualfizerampartealgunsdosmaioresescritoresdahistóriadaLiteraturaportuguesa,taiscomo:EçadeQueirós,RamalhoOrtigãoeTeófiloBraga,entreoutros.
EstaGeração de Setenta, como viria a ser conhecida, éconstituídaporumconjuntodejovensque,influenciadospelacul-turafrancesa,irãoopor-seaumgovernomonárquico,cadavezmaiscontestadonofinaldoséculo,insurgindo-seanívelliteráriocontraumapráticaultra-românticaligadaaAntónioFelicianodeCastilhoeseuspares.Estesjovensescritoresprotagonizaramumaautênticarevoluçãoculturalnopaís,agitandoconsciênciasepoderesinstituídos.São disso exemplo a célebre Questão Coimbrã e as Conferências do Casino.Duranteseteanos,GuerraJunqueiroacompanhafielmenteacontendaliteráriaentreosautoresromânticoseosrealistas,comosseusduelos,osreptosdedialécticaeossarcasmos,departeaparte.
Porvoltadoanode1865,Junqueirodeslumbra-secomaposiçãoideológicaeliteráriadaGeração de 70,emborasemterau-toridadeparapertencerao“Grupodosdissidentes”,comolhechamaEçadeQueirós.NamemóriadoPoetaficamprofundamentegravadasas palavras proclamadas por este grupo: “a poesia não pode ser ape-nas arte, distracção e beleza tem de ser algo mais, tem de ocupar-se da humanidade, ou seja, dos mais fracos, dos mais pobres para que o deixem de ser”.
Portemperamentoeeducação,porsolicitaçãointrínseca,reforçadapelasinfluênciasambientes,GuerraJunqueirofoiboapartedasuavidaumpoetasocialepolítico,atentoecríticorelativamenteaosdesenvolvimentoshistóricosquesedesenrolaramemPortugaleno mundo.
Junqueiroconseguiusempreexteriorizaroseusubjectivismo,daíasuapredilecçãopelomodolírico,aoinvésdonarrativooudramá-tico.Noentanto,todasassuasobraslíricastêmumacaracterísticaqueasuniversaliza:é um lirismo voltado para o mundo exterior, o que o rodeia, nomeadamente, para a situação dos mais desprotegidos e esquecidos pelo poder: os pobres e as crianças.
Opoetausouasuaobraliteráriaparareflectirnãosósobreostemaseosassuntosqueconsideravamaisimportantesemaispre-mentesdasuaépocaepaís,mastambémsobretemaseassuntos,detodasasépocas,porquesãoatemporaiseuniversais.Destemodo,otema da Criança é uma constante em toda a sua produção literária. Preocupadocomasuasituaçãodetotalabandono,aváriosníveis,econscientedaimportânciadasuaformaçãointegralparaaconstruçãodeumPortugalapardorestodaEuropa,Junqueirodedicou-lheamelhor parte da sua obra.
Atítulode ilustraçãodasituação infantil,nosécXIX,emaisconcretamentenodistritodeBragança,atentemosnaspalavras
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dohistoriadorMacedoPinto,quandoem1838,naobraTopografia de Bragança,escrevia:
“Pelo que toca a estabelecimentos públicos de ou parti-culares, científicos, de beneficiência, de espectáculos, etc, nada temos a dizer, porque o distrito está virgem a tal respeito.”
Comecemos por olhar para a educação da criança desde os primeirostempos,aidadepré-escolar.Arespeitodaeducaçãopré-escolardodistrito,afirmaomesmoautor:
“Nas aldeias e lugarejos é onde se nota a maior misé-ria, as crianças desde poucos dias de idade ficam muitas vezes sozinhas (quantas vezes fechadas em exíguos compartimentos), ou sob a guarda de irmãos mais velhos.
É assim que vão crescendo, é assim que vão aparecendo por si próprios.
Quando já começam a andar, vagueiam na rua todo o dia, procurando a casa só quando precisam de se alimentar. As crianças ainda antes da idade escolar são já solicitadas para os serviços do campo, nomeadamente a guarda do gado. Esta mesma característica irá prolongar-se durante a idade escolar.
Nas populações urbanas, o problema toma característi-cas diferentes, mas não deixa de exigir o afastamento das crian-ças, visto a maioria das mães serem empregadas e estarem fora de casa todo o dia. Aqui, se bem que não haja o abandono da criança a si própria, há no entanto o entregar do bebé à guarda de incautos e inexperientes, ou então entregar o bebé a certas casas particulares que parecem ser autênticos repositórios de crianças.”
APropósitodaformaçãoacadémicaepedagógicadocorpodocentedasescolasdeEnsinoPrimárioexistentes(em1854,segundoo Abade de Baçal existiam no distrito de Bragança 55 escolas mas-culinaseumafeminina),continua,MacedoPinto:
“Algumas das escolas não têm mestres, ou têm mestres de fraca qualidade, tendo, em muitos casos, que fechar. São puras fábricas de descontentamento.”
Este autor conclui com a seguinte constatação:“ Vemos uma multidão de analfabetos e semianalfabetos
a emigrarem para o estrangeiro, sem aquele mínimo de conhe-cimentos que os libertaria do trabalho que existe paredes-meias com o animal de carga […]
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Apardorelevoassumidopelafamília,primeiraescoladeformação da criança, Guerra Junqueiro considera a Escola comoinstituiçãoessencialdavidadequalquerpaís,devendoserorientadapara a formação de caracteres e transmissora de valores e saberes úteisàcriançanasuavidafutura.
Profundo conhecedor da Europa do seu tempo nas suas múlti-plasvertentes,social,culturalecientífica,oautorrevela-seconscientedoatrasoestruturaldasociedadeportuguesa,nomeadamentenoqueconcerneàáreadaEducação.Pedagogicamenteenferma,aescolaportuguesatinhaumcarácteratrofiante,inibindo,aoinvésdedesen-volver,ascapacidadesdacriança,comodeveriaserasuafunção.
Em«AEscolaPortuguesa»,poemadaobraA Velhice do Padre Eterno,oautorapresenta-nosaradiografianítidadaEscoladePrimeiro Ciclo existente no Portugal do século XIX.
Comotivemosoportunidadedeouvir,ascriançassãoapre-sentadascomoum“Doiradoenxamedeabelhas”,decujas“bocasderosa/ Saem murmúrios de estrelas.”1 E estas crianças estão entregues àsordensdeummestre-escola,definidocomo“zangão”2, alguémsemformaçãopedagógicaespecíficaparaconvivercomeorientarcriançasnassuasprimeirasaprendizagens,qual“JoãoFélixc’oasunhasnegras”vai“Mostrandoasvogaisaoslírios”3.
Semqualquerpreocupaçãodeactualizaçãoprofissionalanívelcientíficooupedagógico,esteprofessoréconsiderado“umana-cronismo”4quepelasuaignorânciaefaltadesensibilidadeémesmoapelidado de “professor asinino”5.
OsmétodoseconteúdospedagógicosvigentesnaEscolaportuguesadoséculoXIXtambémnãoescapamàanáliseperspicazeàcríticademolidoradoautor.Oensinoébaseadonométodoesco-lásticoeaactividadeintelectualdospequenosdiscenteslimita-seaumarepetiçãoestérildepalavrasquevisaapenasumdomínio:ame-morizaçãodeconceitos.Assim:“Soletramversoseprosashorríveis”,“Abrem a boca os ditongos/ E as cifras tristes dão ais”.6
Osmétodosnãosãomaisaliciantesqueosconteúdospeda-gógicostransmitidos.Apardasimprescindíveiscartilhaetabuada,apalmatóriaeaférulaeramelementossemprepresentesemqualquerestabelecimentoescolar,oquemuitoindignaJunqueiro,quenãoresisteacomentar:“Barbaridadeirrisória/Estúpidodespotismo/Meterumapalmatórianasmãosdeumanacronismo!”7.Poroposiçãoàbelezaefragilidadecomqueascriançassãodescritas,omestre-escolasurgecomoapersonificaçãodaseveridadeedocastigo,“Empunhandoasrijas férulas” 8.
Comefeito,aagressividadedapartedequemensinavaeomedo/terrorporpartedequemaprendiaeramossentimentospredo-minantes na escola de então e merecem ao autor a crítica mais severa:
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“Apalmatória,oaçoite,/Aestupidezdecretada!/ALeiincumbindoa noite da educação da alvorada”.9
Por tudo isto, o autor considera que “Esta Escola é umatentado,/Umroubofeitoaoprogresso”10.Emseuentender,ases-colasdoseutempo“sãoaçouguesdeinocência,/Sãotalhosdeanjo,mais nada”.11
SabemosquenoséculoXIX,aprimeiraescoladacriançaéduramentecriticada,porJunqueiro,pornãocumpriroseuverdadeiropapel.Eleacreditaqueamissãodaescolaécompletamenteoutradaquelaquenaquelaépocaeladesempenhavaeque,necessariamente,temdesofrermudançassignificativas.
Desdelogo,opoderpolíticodevealterarasuaposturaperanteoEnsino,permitindoaocorpodocenteumarenovaçãodehábitosemétodos.Sóassimascriançaspoderãodesabrocharparaavidaeparaoconhecimento,deformaacresceremlivreseconscientesdasuavalia.Afinal“Comoqueremquedespontem/Osfrutosnaescolaaldeã,/Seonomedomestreé-Ontemeododiscípulo-Amanhã!”12. Comohá-dehaverrenovaçãoeevolução“Seéopassadoquemensina/Obê-a-baaofuturo?”13
Só se de facto houver uma alteração profunda e radicaldo sistema de ensino português pode a instituição escolar cumprir a mais nobre das missões: ajudar a estimular o desenvolvimento das capacidadeseaptidõeslatentesnacriança,pois,segundoJunqueiro:“Ohomemsaidacriançacomoofrutosaidaflor”e“dapequeninasementequeaescolarégiadestrói/Podefazer-seigualmente/Ouoassassinoouoherói”.14
Comoévisível,naopiniãodopoeta,aactuaçãodaEscolaévitalemarcantenodesenvolvimentodacriança,nãosendodifícilcompreenderpelassuaspalavrasqueenquantonãosefizerumareformaestruturaldosistemaeducativo,aEscolanãocumpriráasuafunção,nãopassandode“umatentado,/Umroubofeitoaoprogresso”15. Ela nãoémaisqueum“paúl”ou“murodaignorância”16queatrofiaaspequenasmentesinfantis”17:“Vósesmagaisepartis/Ascrianças-essaspérolas/Naescola-essealmofariz”.18
AtéaodiaemqueosresponsáveispelaeducaçãoemPortugaltomemmedidassérias,nosentidodereestruturaraescola,ascrianças,“Desgraçadas toutinegras” 19 vão continuar a contemplar com inveja “Asandorinhaspassando/Doazulnolivreesplendor”.20
Alémdachamadaescolarégia,aprimeira,enamaiorpartedoscasos,únicaescoladascriançasportuguesasdoséculoXIX,haviaoutrainstituiçãoquetomavaaseucargoaeducaçãodosjovens:oseminário.Nestelocal,muitosrapazesencontravamaúnicaoportu-nidadedesingrarnavida,fugindoaocicloinfernaldavidaagrícola.
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A ida para o seminário perspectivava-se como a única saída para uma vida tão miserável como a dos pais.
Decarácterreligiosoeaustero,aeducaçãonossemináriosestavanamãodepadresque,namaiorpartedoscasos,nãotinhamformaçãoousensibilidadeparacompreendereeducarosjovensquelheseramconfiados.
Junqueiro,críticopornaturezadaortodoxiacatólica,mostra-separticularmentecáusticorelativamenteaosprincípiospedagógicosadoptadosnoseminário,considerandoqueeleseramatrofiantesparaoserhumano,sendoresponsáveispeladegeneraçãodapurezanaturaldas crianças.
VáriossãoosmomentosliteráriosemqueJunqueiroreflectesobre a forma como os jovens são educados nos seminários. O texto «ComoseFazumMonstro»21descreveopercursobiográficodeumrapazoriundodomeiorural,cujopaidecidequeofilhodeveenveredarpelavidaeclesiásticaparaterumníveldevidamelhorequebrarociclodemisériaemqueafamíliavivehágerações.
Segundoopoeta,obalançodaestadanoseminárioépro-fundamentenegativoe,apósela,acriançapassaaserum“monstro”22 deegoísmo,estupidezeluxúria.
Noiníciodestetexto,Junqueirodescrevepormenorizada-menteavidadespreocupadaealegredeumacriançaquemantémestreitaligaçãocomanatureza,asuaprimeiragrandeescola.Épreci-samenteessecontactoestreitoquelhepermitemanterasuasaudávelalegriaepurezainfantis:“Eleeranessetempoumacriançaloira/Aovento,aosol,pastoreandoosgados/[…]Dormindoaboasestaaopédasclarasfontes/Norijoenegropãocravandoosdentesbrancos,/Radiosocomoaauroraebomcomoaalegria”.23
Comoévisível,peladescriçãodestequadro,apobrezaeavidaduradocampoemnadainibemafelicidadeinfantil;pelocontrário,promovem o seu saudável e harmonioso desenvolvimento.24
Nesteprimeiromomentodopoema,queassumecontornosdetextonarrativo,25orapaz,queépersonagemprincipal,fazjusaocélebre dito latino mens sana in corpore sano,poistudoénelegran-deesemmácula,desdeosolhos(espelhodaalma),quetêm“umalimpidezvirtuosa”26e“reflectemumaaudáciaheróicaevalorosa”27 aotimbredasuavozqueé“imperiosaeclara”28,atéàsuapostura“altivamente recta”29.Comefeito,opequenoheróidesta“história”reúnetodasascondiçõesnecessáriasparaserum“soberbo[...]atletaem miniatura”.30
Porém,odestinodestejovemédrasticamentealteradopeladecisão paterna de os seus estudos se efectuarem num seminário. O pequenoJoãovaiterdepartireopai,“umbravoaldeão”31,apresen-
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ta-lhe,numexcelentediscursoargumentativo,todososmotivosquejustificamaopçãopelavidaeclesiásticaquetomoupelofilho.Osmotivos,deordemestritamentematerialistaemundana,transmitemclaramenteaideianegativaqueopovoportuguêsdoséculoXIXtinhasobreosmembrosdoclero,visívelnaspalavraspaternas:
“ Vou botar-te ao latim, quero fazer-te gente/[...] Hoje padre é melhor talvez que ser doutor/ Aquilo é grande vida; é vida regalada. / Olha, sabes que mais? Manda ao diabo a enxada. / Aquilo é que é vidinha! Aquilo é que é descanso! / Arrecada-se a côngrua, engrola-se o ripanço, / Arranja-se um sermão aí com quatro tretas, / Vai-se escorropichando o vinho das galhetas”.32
Comooexemploacabadodestavida,semprincípiosreli-giososoumorais,mascommuitosproveitosmateriais,éapresentadoopadredaterra,queéalvodeduracrítica:
“Olha, João, vê tu o nosso padre – cura:/ É, sem tirar nem pôr, uma cavalgadura. / Vi-o chegar aqui mais roto que os ciganos;/ Pois tem feito um casão em meia dúzia de anos”.33
Asexpectativasdestepaiparaofuturodofilhonãocoin-cidemcomasdopequenoJoãoquesemostratristeecontrariado34,comoévisívelpelareacçãopaterna:“Masqueéissorapaz?Nadadechoradeira/Tocap’róseminário.Euqueroirparaacova/Sódepoisde te ouvir cantar a missa nova”.35
Depois de uma elipse36,ahistóriadeJoãoprossegue,ago-ra já “coluna da igreja”. 37Depoisdasuaformaçãonoseminário,o“muitíssimoilustreedignopadreJoão”fazasuaapariçãonaaldeia.ÉsobreestenovoJoãoqueosujeitopoéticoteceassuasconside-rações, emais concretamente reflecte sobre ele comoo resultadoconcreto de um processo educativo operado pelo seminário. Desde logoseassinalauma“transfiguração”38,“umaradicalmudança”39,pois“Emvezdoalegrefilhochegaummonstrojádecrépito/Queacabava de vir das jaulas clericais”. 40
Segundooautor,aeducaçãonosemináriofuncionavaemmoldestaisqueatrofiavamentesecorpos,“Emlugardainocente,angélicacriança,/Voltavaumchimpanzé,estúpidoebisonho/[...]Seucorpojuvenil,robustoeflorescente,/Vergavaparaochão,exaustode cansaço.” 41
Junqueirocompara,atravésdametáfora,aidadeJoãoparao seminário com o aprisionamento de um passarinho, cujo cantomorredetristeza:“MetidanasprisõesescurasdeLoiola/Asuaalmainfantil,nãotendoluznemar,/Foicomoosrouxinóis,quedentrodagaiola/ Perdem toda a alegria e morrem sem cantar”.42
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Oautorreflectesobreaalmainfantilecomoaeducaçãonainfânciaéassuntodamaiorimportância,considerandooautorqueela deixa marcas indeléveis na vida futura: “As almas infantis são brandascomoaneve,/Sãopérolasdeleiteemurnasvirginais,/Tudoquantosegravaequantoaliseescreve,/Cristalizaemseguidaenãose apaga mais.”43
GuerraJunqueiro,emváriosmomentosdasuaobrapoéti-ca,fazquestãodesalientaraimportânciadaeducaçãodecriançasejovens,poisquedasuaformaçãopresentedependeráasuaactuaçãofuturacomohomensemulheresdebem,conscientesesocialmenteválidos.
Seaeducaçãoéobjectodeváriasreflexõesnaobrajun-queiriana,tambémaescritaparaosmaisnovoséalvodedetalhadaatenção.
Partilhamosaopiniãodequantosdefendemquealiteraturaportuguesaparacriançasnãoexistiu,enquantotal,antesdasegundametadedoséc.XIX,nomeadamentecomageraçãodeAnteroeEça,conhecidacomoageraçãode70ecomAbílioGuerra Junqueiro.Equandofalamosdeliteraturaparacriançasouliteraturainfantil,falamos, naturalmente, de uma intenção deliberada de escrevê-laparaumpúblico-alvo:acriança.Asobrasantesexistentes,lidasporalgunsprivilegiados,oucujasversõesmaisoumenosadulteradaseramescutadasaosserõesàlareira,ouemmercadosepraçaspúblicas,atravésdejograisouversejadoresambulantes,nãoeramliteraturainfantil.Eramliteraturadeexpressãooralepopular,literaturaparatodos. E adoptada pelas crianças. A distinção infantil ou juvenil não estavafeitanemhaviapreocupaçãoemfazê-la.
OquerealmenteaconteceufoiqueaGeraçãode70,porintermédio de alguns dos seus elementos mais destacados era detentora deumaconsciênciacríticarelativamenteànecessidadedeescreverpara a criança em moldes mais semelhantes aos actuais. A pedagogia emergente apontava alguns caminhos e mostrava a criança como umserhumanocomcaracterísticasprópriasenãosimplesmenteumindivíduo em estágio para a fase adulta.
EçadeQueirós,em1903,aoescrevernassuasCartas de Inglaterra,aquelaquepodemosconsiderarcomoaprimeiracríticaliteráriasobreliteraturainfantilportuguesa,traçaumapanorâmicadoquesepassavaatéentãononossopaís.Comoespíritocríticoehumorquelhereconhecemos,comparaaproduçãonacionalcomariquezadaliteraturaparacriançasqueencontrounoestrangeiroediz:“ABélgica,aHolanda,aAlemanha,prodigalizamesseslivrosparacrianças;naDinamarca,naSuécia,elessãoumaglóriadaliteraturaeumadasriquezasdomercado.EmPortugalnada”.44
Oescritorrefereaquiloqueoimpressionounoslivrosque
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sedestinavamàinfânciaelamentaqueosnãohajanonossopaís,ressaltandoofactodenãoserememnadainferiores“ànossaliteraturade homens sisudos”45, seremcontadosnuma linguagem“simples,pura,clara”46 e não serem “ornatos de sala”.47FalandodePortugal,Eçadizainda:“EuàsvezesperguntoamimmesmooqueéqueemPortugallêemaspobrescrianças.CreioqueselhesdáFilintoElísio,Garção, ou outro qualquer desses mazorros sensaborões, quandoosinfelizesmostraminclinaçãopelaleitura.Istoétantomaisatrozquanto a criança portuguesa é excessivamente viva, inteligente eimaginativa.”48.
Resumindo, Eça deQueirós considera a Literatura paracriançasfundamentalnaconstruçãodassuaspersonalidades,nosentidodestasviremasercidadãosequilibradoseconscientes,afirmando:“estoucertoqueseexistisseumaliteraturainfantilcomoadaSuéciaoudaHolanda,paracitarpaísestãopequenoscomoonosso,erguer-se-iaconsideravelmenteentrenósonívelintelectual.”49
Paraconcluirasuareflexãosobreliteraturainfantil,oautorcriticaasociedadeportuguesa,atravésdasuaomnipresenteironia
“Eu bem sei que esta ideia de compor livros para crian-ças faria rir Lisboa inteira. [...] Lisboa quer coisa superior; quer a bela estrofe lírica, o fadinho ao piano, o rico drama em que se morre de paixão ao luar [...] enfim, tudo o que o roman-tismo português inventou de mais nobre. Educar os seus filhos inteligentemente está decerto abaixo da sua dignidade.”50
GuerraJunqueiroconcordaemtudocomestavisãonegraapresentada porEça e porque considera que a infância é fase dodesenvolvimentohumanode importânciavital resolvededicar-lheatenção,tambémsobaformadeliteratura.Assim,em1877,aLito-grafiaUniversalpublicaasuaobraemprosaContos para a Infância,obradequesefizeramváriasediçõesapartirde1881,demonstrati-vas de boa aceitação por parte do público comprador. Os principais temaspresentes:oamordemãe,abondade,averdade,ajustiça,asolidariedade,otrabalho,aperfeiçãodanatureza,agratidão,obem,acrençaemDeusenomundometafísico,sãoaspectosqueoescritorexalta,comvistaaqueojovemleitordescubraeescolhaumaescaladevalorespositivose,consequentemente,construtivosdepersona-lidades íntegras.
Nãopretendemosfazerumaanáliseexaustiva,masapenasilustrar,comalgunsexemplosmaissignificativos,astemáticasatrásenunciadas.Destemodo,sobreoamordemãe,temososcontos:«Amãe»51,queabreacolectânea,e«Aurnadaslágrimas»·. O primeiro é umaadaptaçãodocontodeAndersen,emqueumamãedesesperadatentareaver,portodososmeios,ofilhinhoqueamortelhelevou.Nosegundocasoédenotarque,aquiloquehojeemdianospareceria
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mórbidoesusceptíveldeferirasensibilidadedascrianças,eraaceitenofimdo séculoXIXcomozona temáticaprópriapara literaturainfantil.52
Relativamente a atributos e valores como a bondade, averdade,ajustiça,asolidariedade,otrabalhoeagratidão,elesestãopresentesnamaiorpartedaobra,comooprovamosseguintestítu-los: «Doçura e Bondade»53,«PresenteporPresente»54,«OPinheiroambicioso»55,«BoaSentença»56,«ReconhecimentoeIngratidão»57,«Os animais agradecidos»58e«Inconvenientedariqueza»59,paranãodarmaisquealgunsexemplos.
Aperfeiçãodanaturezacomoreflexodamagnitudeeper-feiçãodivinaseagrandezadeummundodesuperiorespiritualidade,muitoacimadaspequenezaemisériahumanas,sãocrençasdoautor,estando presentes em textos como: «A canção da cerejeira»60, «Acriança,oanjoeaflor»61,«PerfeiçãodasobrasdeDeus»62,«OstrêsvéusdeMaria»63,«Aalma»·, «O ermitão»64 e «O linho».65
NatérciaRocha,nasuaBreve história da Literatura para Crianças em Portugal (pp.49/50)afirma:
“Embora preocupados com a adequação das leituras previstas para as crianças, autores como Junqueiro e Ante-ro não se desprendem de intenções imediatistas ligadas ao “dever” e ao “saber”. Basta compulsar a antologia Tesouro Poético da Infância, de Antero ou ler algumas páginas da obra Contos para a Infância ou do poema Tragédia Infantil, de Junqueiro, para se poder avaliar a distância entre intenções e realizações”. A autora acrescenta: “A criança é então vista com uma aura poética, desajustada e opressiva. Os autores debruçam-se sobre recordações de infância, tomando por tema a criança imaginada através de factores afectivos individuais. Daí uma certa ambiguidade entre as obras literárias ao dispor das crianças e aquelas que simplesmente a tomam por tema.”
Apesar desta posição crítica, Natércia Rocha não podedeixardeafirmar:
“Contudo, o próprio fenómeno da procura frequente da criança como tema literário encaminha para o melhor conheci-mento da realidade da criança e as transformações no âmbito da criação literária sofrem condicionamentos gerados pelas correntes pedagógicas e pelas situações político-sociais”.
Embora muitos dos textos presentes em Contos para a In-fâncianãosejamdaautoriadeJunqueiroesim,adaptaçõesdecontostradicionais66 ou de autores consagrados da literatura infantil67,comoAndersenouosirmãosGrimm,estaobranãodeixadeterumenorme
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valorintrínseconaépocaemquesurgiunopanoramaliterárioportu-guês,sendodo“maissingelo,maisgraciosoemaishumano.”68.
Ocarácterdecompilaçãoqueolivroapresentaéassumidopelopróprioautor,quandoocomparametaforicamentecom“umramodeflores,masnãodefloresextravagantes,comcoloridosinsensatosearomasvenenososediabólicos.Éumramodeflorinhascândidas,queasmães,ànoite,deixarãosemtemornacabeceiradosberços.”69
Oprefáciodaobra,daautoriadeJunqueiro,éumdocumentodeprofundovalorpedagógicoe,jápelasuaactualidade,jápeloquereveladaalmadopoeta,nãoresistimosaescutaralgumasdassuaspassagens.
“A alma de uma criança é uma gota de leite com um raio de luz.
Transformar esse lampejo numa aurora, eis o problema.A mão brutal do pedagogo áspero, tocando nessa alma, é
como se tocasse numa rosa: enodoa-ªPara educar as crianças é necessário amá-las. As esco-
las devem ser o prolongamento dos berços. Por isso, os gran-des educadores como Froebel, têm uma espécie de virilidade maternal.
O leite é o alimento do berço, o livro o alimento da esco-la. Entre ambos dever
A existir analogia: pureza, fecundidade, simplicidade.Livros simples! Nada mais complexo.Não são os eruditos gelados que os escrevem; são as
almas intuitivas que os adivinham.”70
Comoévisívelnareflexãoinicialqueabreestaobraemprosadedicadaaosmaispequenos,GuerraJunqueironãodesdenhouemescreverparaascriançase,aofalardoslivrosquesedevemes-creverparaainfância,revela-sebemconscientedeque,aocontráriodoquemuitosescritorespensavam,eaindapensam,escreverparaascriançasnãoémaisfácildoquefazê-loparaleitoresadultos.
Comefeito,pelaleituradestaobra,podemosconcluirqueoautorcumpretodasasfunções(estética,pedagógicaesocial)quesepretendequeumaobraalcancejuntoaumpúblicoinfanto-juvenil.Destemodo,Contos para a Infânciarecreiaeformaoleitor,tornando-odisponível aos valores estéticos e aos valores éticos e transforma-o e comeleasociedade,apontando-lhevaloresconcretosqueorientarãoa sua acção e actuação cívica.
Recreando, formandoe transformando,visará,pois,este
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livro,queseintegraplenamentenoconceitodeliteraturainfantilejuvenil,fazerdacriançaedojovem,noseutempopróprio,umhomemlivreeactivo,criadordeumanovacultura.
AobradeGuerraJunqueirofezparteintegrantedocânoneliterárioduranteváriasdécadas(40,50,60doséc.XX),pois,partedela,foiseleccionadapelopoderinstituído(EstadoNovo)parafi-gurarnosmanuaisescolares,eserviu,longotempo,paratransmitirdeterminados valores e ajudar a formar consciências.
Concluímos,apósestudodetalhadodosenunciadostextuaispresentesnosmanuaisescolaresdaterceiraequartaclassesdadécadade50,queapenasfoiseleccionadaaproduçãoliteráriadoautorqueevidenciavaoamoràTerra,aoruralismo,àsactividadesprimárias,bemcomoosgrandesvalorescomoaHonestidade,oTrabalho,oamoraDeuseàFamília,orespeitoeobediênciaàsinstituiçõesegovernantes.
Junqueiro foi tido e conceituado porque a sua presençaliterária nos livros escolares evidencia a sua faceta de nacionalista crente e “esconde” o seu lado contestatário e iconoclasta.
DeháanosaestaparteGuerraJunqueirotemsidoexcluídodocontextoescolar.Estefactodeve-se,emnossoentender,amu-dançasnogostoliterário,relacionadascomareavaliaçãodegénerosrepresentadospelasobrascanónicas,71bemcomoàentradanocânonedemuitasobras,graçasabemsucedidascampanhaspublicitáriasede propaganda.72
Nãopodemosconcluirsemressaltarque,emborahomemde seu tempo,Guerra Junqueiro foi um espírito de vanguarda noquerespeitaàssuasreflexõespedagógicas,umafacetasuamenosconhecidaquetentámosevidenciarnestenossotrabalho.
Portudooquefoiapresentado,nós,leitoreseeducadores,temosporobrigaçãomantervivaasuamemóriaatravésdousoedivulgação da sua obra literária.
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Notas1 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra, «A Escola Portuguesa», A Musa em Férias,
Obra Completa (Poesia),Porto,Lello&Irmão-Editores,s./d,p.686. A metáfora é o recurso mais usado neste poema a nível do plano estilístico-se-
mântico.2 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. ci, p.686.3 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.687.4 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.6875 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. Cit.,p.688.6 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. Cit., P.688.Aníveldoplanoestilístico-semântico,ousodestahipálageserveparatransmitir
otédioetristezaquenoséculoXIXoprocessodeensino-aprendizagemimpunhaàscrianças.
Ao invés de ser um local de motivação e incentivo ao conhecimento e desenvol-vimentoharmoniosodacriança,aescolaeraumespaçodeterroresofrimentoextremos.
7 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. Cit., p.688.8 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. Cit.,p.689.9 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. Cit., p.688.Atente-senaimportânciadametáforacomtodaacargaafectivaqueelatransmi-
te.Anoite,símbolododesconhecidoedoobscurantismo,éidentificadacomoprofessoreaalvorada,promessadevidaeconcretizaçõesfuturas,correspondeaopequenoaprendente.Estadefiniçãodecadaumdoselementosdoprocessodeensino/aprendizagemaprofundaaindamaisofossoexistenteentreosdois.
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10 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit. ,p.688.11 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit. ,p.689. Novamenteametáforaatransmitirocarácternegativoedestrutivoqueaescola
representava no universo infantil do século XIX.12 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.687.13 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit, p.687.14 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.688.15 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit., p.688.16 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.688.17 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit., p.688.18 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.689.Estaéumadasmetáforasmaisexpressivasdestetexto,poistransmitedeforma
crua e nua o modo como a criança era tratada na escola: completamente castrada nos seus desejos e vontades e abafada na sua criatividade. Ao escolher como se-gundotermodecomparaçãooobjecto“almofariz”,usadoparaesmagarereduzirapó,Junqueirotransmite,demodonítido,aopressãodequeeramvítimasospequenosestudantesnaescolapúblicadoséculoXIX..
19 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.687.20 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.686.21 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,«ComoseFazumMonstro»,A Velhice do
Padre, Obra Completa (Poesia),Porto,Lello&Irmão-Editores,s./d,p.474.22 “Que transfiguração!Que radicalmudança!/ Em lugar da inocente,Angélica
criança,/Voltavaumchimpanzé,estúpidoebisonho,/[...]Aignorânciaprofunda,aestupidezsuína,/Aluxúriad’Igreja,ardente,clandestina,/Oremorso,oterror,ofanatismoinquieto”,in JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,«ComosefazumMonstro», A Velhice do Padre Eterno, Obra Completa (Poesia),Porto,Lello&Irmão-Editores,s./d,p.383.
23 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit., p.383.24 Adescriçãodavidanocampoétãoidílicaqueoautorchegaacompararoca-
rácterpictóricodacenadescritaaumapinturadeautorconsagrado:“EàtardequandooSol,extraordinárioRubens,/Nafantasmagoriaesplendidadasnuvens,/Coloristafebrillança,desfaz,derrama/Otopázio,orubi,aprata,ooiro,achama”,in JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.383.Aníveldoplanoestilís-tico-semântico,atente-secomoaenumeraçãoassindéticaconfereumespecialvisualismopictóricoaoquadroapresentado.
Este é mais um exemplo de como a miscigenação modal é uma constante em toda aproduçãoliteráriadeJunqueiro.
25 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit., p.38�.26 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.384.27 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit., p.38�.28 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.384.29 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit., p.38�.30 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.384.31 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit., p.38�.Éimportanteconstataraníveldoplanotécnicocompositivo,apresençadeum
tomoralizanteeousodeumregistodelínguapopularparaconferirverosimi-lhançaàspalavrasdocamponês.
32 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit..
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33 NoséculoXIX,estaatitudepaternaemnadanossurpreende,umavezqueeramsempreosprogenitoresquetomavamtodasasdecisõesconcernentesàvidadosseusfilhos,fosseaníveldoplanopessoalouprofissional.
34 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.385.35 Estratégia literária própria domodo narrativo,mais uma vez a comprovar a
miscigenaçãomodalpresentenaobraliteráriajunqueiriana.36 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.385.37 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.385.38 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.385.39 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit, p.385.Atente-senaexpressividadedametáfora,“jaulas”,afazercorresponderosemi-
nário a um local onde estão encerrados animais.40 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.385.41 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.385.Notemos,novamenteaforçaexpressivadametáfora.Nestecaso,aaproximação
dotermosemináriodoconceitodeprisãotransmiteaideiaqueoautortemsobreaeducaçãonestainstituiçãoreligiosa,associadaaencarceramentoeaoobscu-rantismodarígidaortodoxiacatólica.
42 JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit., p.386.43 QUEIRÒS,Eçade,CartasdeInglaterra,EdiçõesLivrosdoBrasil,cap.V,«A
LiteraturadeNatal»,Lisboa,s/d.,p.53.44 QUEIRÒS,Eçade,op. cit.,51.45 QUEIRÒS,Eçade,op. cit.,52.46 QUEIRÒS,Eçade,op. cit.,53.47 QUEIRÓS,Eçade,op. cit.,53.48 QUEIRÒS,Eçade,op. cit.,53.49 QUEIRÒS,Eçade,op. cit.,54.50 ” In JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,«AUrnadasLágrimas»,Contos para
a Infância, LelloeIrmãoEditores,Porto,s./d.,p.9.51 “Eraumavezumaviuvaquetinhaumafilhinhamuitolinda,aquemadorava
sobretodasascoisas.Nãoseseparavadelaumsómomento;masumdiaapobrepequerruchacomeçouasofrer,adoeceuemorreu.Adesditosamãe,quetinhapas-sadoasnoiteseosdiasasemrepousarummomento,àcabeceiradafilha,julgouendoidecerdemágoaedesaudades.Nãocomia,nãofaziamaisnadasenãochorarelamentar-se[...]viu-aapareceraela,asuaqueridafilha,trazendonasmãosumaurnaquevinhacheiaatéàsbordas[...]Sechoraresmais,transbordará,eastuaslágrimascorrerãosobremim,inquietando-menotúmuloeperturbandoaminhafelicidadenoparaíso.Apequenadesapareceueamãenãotornouachorarparanãoaafligir.” In JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,«AUrnadasLágrimas»,Contos para a Infância, LelloeIrmãoEditores,Porto,s./d.,pp.89-90.
52 In JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit., p. 29.53 In JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.61.54 In JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra, op. cit.,p.69.55 In JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.77.56 In JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.91.57 In JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.131.58 In JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.179.
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59 In JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.27.60 In JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.51.61 In JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.79.62 In JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.115.63 In JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.169.64 In JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.,p.183.65 Casos,porexemplo,de:A serpente branca,p.231,João e os seus camaradas,
p.119,João Pateta,p.241,O Oiro,p.47,Orabequista.,p.101, in,JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,Contos para a Infância, LelloeIrmãoEditores,Porto,s./d.
66 Casos de: A mãe,p.5,O valente soldado de chumbo,p.159eArapariguinhaeosfósforosdeHansChristianHandersen,O chapelinho encarnado,p.193,eBranca de Neve,p.211,dosirmãosGrimm,in JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,op. cit.
67 In JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,«DuasPalavras»,Contos para a Infância, LelloeIrmãoEditores,Porto,s./d.,p.6.
68 In JUNQUEIRO,AbílioManuelGuerra,«DuasPalavras»,Contos para a Infância, LelloeIrmãoEditores,Porto,s./d.,pp.6-7.
69 In,AbílioManuelGuerra,«DuasPalavras»,Contos para a Infância, Lello e Irmão Editores,Porto,s./d.,pp.5-6.
70 NaopiniãodeHaroldBloom,cadaépocapossuiumrepertório relativamentereduzidodegénerosquelutamunscomosoutrospelasobrevivência,afirmandoqueaselecçãodeobrasliteráriasquetêmumestatutocanónicoseprendetam-bémcomaideologiadosgrupossociaisdominantes,instituiçõeseducativasetradiçõesdecrítica.Cf.BLOOM,Harold,O Cânone Ocidental, Lisboa,CírculodeLeitores,1994,p.40.
71 BLOOM,Harold,op. cit.,p.39.
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