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REFLEXÕES SOBRE UM HOMEM DOENTE
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WILSON LUQUES COSTA
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PRIMEIRA EDIÇÃO
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2013
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SÃO PAULO
BRASIL
2013
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Quando a cidade acorda
o homem doente dorme,
mas quando a cidade dorme
o homem doente também
dorme.
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A dor é o sinal vital
do homem doente.
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Basta de louros!
O homem doente
já é reconhecido
pela sua própria dor.
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O
homem sadio inveja
a
saúde do
homem doente
mas o homem doente
não inveja a doença
do homem sadio.
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Quem
Inventou
O
infinito
foi
o
homem
doente
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Não há placebo
drágea
o homem doente é
assintomático
sofre de ausência de vida
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uma premissa
infundada
ou
oriunda
da indução
´todo homem é mortal´
paradoxo
de
karl popper
ou verificabilidade
de carnap
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o homem sadio é
muitas vezes
solidário
ao solitário
homem doente
porque não se deve
contrariar
o Princípio
da Identidade
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o homem
doente
caminha
lentamente
porque sabe
aonde
não
quer
chegar
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O homem doente
Inventa vocábulos
para suportar a
dor distorce
a sintaxe
da vida
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O homem doente
não tem
passado
nem futuro.
O homem
doente
é
contemporâneo
da
sua
própria
dor.
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O homem sadio aspira
à eternidade
já o homem doente
a rejeita
mesmo
estando
junto a ela
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o mundo
do homem
doente
é um
outro mundo
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O homem doente olha, olha, olha...
E por fim não nos diz nada.
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A reflexão de um
homem doente
é um pensamento
sadio
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O homem sadio faz greve
Para comer
o homem doente faz
greve para viver
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O homem sadio faz greve
Vez em quando
O homem doente está consigo
E com os outros em greve constante
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O homem sadio
possui desígnios
O homem doente
aceita os seus
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Para o homem sadio
a sua cidade
é o seu nosocômio
Para o homem doente
o seu nosocômio
é a sua cidade
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O homem sadio
corre atrás da fortuna
O homem doente
lamenta a sua
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O homem sadio
quer mudar
o mundo
O homem doente quer do mundo
mudar
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O homem sadio é
guloso
O homem doente é
generoso
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O homem doente
Não tem curador.
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no hospital
o homem doente
vê o seu destino
cavalgar sobre
os outros ombros
dos outros
homens doentes.
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o homem sadio é racional
o homem doente é cordial
só não o é
com a sua própria morte.
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A verdadeira filosofia
necessita da solidão
dos enfermos.
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É necessário ser um homem doente
para se tornar um filósofo.
Só a um homem doente
é permitido
o silêncio filosófico.
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No olhar
do homem
doente
há
uma
névoa
Um tipo
de
catarata
anêmica
Um
verde
azul
Glauco
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Em
Seus
ouvidos
brotam
tufos
de
pêlos
lembrando
Ulisses
Diante
Do
perigo
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O homem
doente
é uma
espécie
de Odisseu
encapelado
Um
Borges
Tirésias
Milton
Soçobra
em
mares
estranhos
o
homem
doente
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Poeta
Da
morte
Poeta
Da
vida
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o
homem
doente
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Para
o
homem
doente
a
vida
é
uma
enfermidade.
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O
futuro
do
homem
doente
é
o
hoje.
O
homem
doente
transcende
a
lei
de
espaço e tempo.
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O homem sadio é um homem doente, portanto o homem doente
é um homem sadio.
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Trair-nos com os homens sadios é uma característica das cortesãs,
bem como das enfermidades.
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A vida só pode ser amada por um homem doente, mas também
desprezada.
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O homem
doente é aquele
que tem
uma
esperança
desesperada.
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A diferença
entre um homem
doente e um homem
sadio é o homem.
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É necessário ser
um homem doente
para se tornar um filósofo.
Só a um homem doente
é permitido
o silêncio
filosófico.
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O
homem
doente
está
no seu leito
sozinho
ele fala
ninguém
escuta
ele
escreve
ninguém lê
o homem doente sofre
de
solipsismo imposto
e
autoimposto
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O homem doente
está doente
(tem catarata)
mas vê
coisas que
nem ele
quer ver.
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O homem
sadio tem um pensamento
doente
que a sociedade
considera sadio
já o homem doente
tem um pensamento
sadio
que a mesma
sociedade
considera doente´
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O homem sadio escreve
para ampliar
a sua memória -- já o homem doente
escreve
para diminuir a sua
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o homem sadio é amigo
dos seus
amigos
o homem
doente é amigo
da sua dor
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o homem sadio
move-se
para dentro
de sua cidade
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o homem
doente
também
se
move
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Só
que
Para
dentro
de si
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o
homem
sadio
é
elétrico
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o
homem
doente
é
neutro
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o
homem
sadio
passa
pela
sua
cidade
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Já
o
homem
doente
permanece
na sua
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o
homem
sadio
é
prisioneiro
e
não
aspira
à
liberdade
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O
homem
doente
é
liberto
e
não
aspira
à
sua
prisão
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O
homem
sadio
tornar-se-á
um
dia
também
um homem doente
mas não
um homem
doente
sadio
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O homem doente
quando quer
dizer tudo
diz tudo
pelo silêncio
O homem sadio
quando
não quer dizer
nada
diz nada
pela retórica
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O homem
sadio
discursa
pelo
discurso
O homem doente
discursa
pelo
silêncio
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A
retórica
do
homem
doente
é
o
silencio
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FIM
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