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VISITAS A MUSEUS E A EXPOSIÇÕES PERMITEM NÃO
SÓ QUE CRIANÇAS SE ENVOLVAM EM TRABALHOS
SOBRE A VIDA E A OBRA DE ARTISTAS, COMO TAM-
BÉM PROFESSORES, PAIS E TODA A COMUNIDADE
ESCOLAR APRENDAM MAIS SOBRE ARTE
Nesta edição, a revista Avisa lá inicia a pu-
blicação de uma série de artigos sobre a
relação da criança com os espaços de
Arte, como museus e exposições. A inspiração para
a iniciativa vem do trabalho da Escola ALFA2, coor-
denado por Fernanda Assumpção, assessora de
Arte da instituição. Nesta oportunidade, o texto
destaca o trabalho do artista Cildo Meireles3. Em
agosto, será a vez de Ernesto Neto4 e, em novem-
bro, de Nelson Leirner5.
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1 É arquiteta, artista plástica e assessora de Arte da Escola ALFA, em São Paulo – SP.2 A Escola ALFA dedica-se à Educação Infantil, atendendo crianças de 2 a 6 anos. 3 Cildo Meireles (Rio de Janeiro, 1948) é um artista multimídia. Em toda a sua obra, há uma constante manifestação de tensão
e torção no âmbito da estética, da percepção, da ciência ou da economia. Centrada na experiência desses diferentes ramos do conhecimento, sua arte visa gerar novos signifi cados por meio do reconhecimento dos limites e da falibilidade desses sistemas de compreensão.
4 Ernesto Neto (Rio de Janeiro, 1964) expande a prática da escultura utilizando-se, na maior parte das vezes, de tecidos com elas-ticidade, temperos e isopor como principais materiais, e a força da gravidade como elemento determinante. A interação física é outro aspecto fundamental de seu trabalho.
5 Nelson Leirner (São Paulo, 1932) é considerado um artista polêmico, sempre preocupado em atingir as ruas e, assim, criar indagações nas pessoas. Para conseguir isso, utiliza várias estratégias estéticas e/ou comportamentais de modo experimental, mesmo que isso cause estranhamento às pessoas.
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6 A Bienal de Arte de São Paulo é uma iniciativa da Fundação Bienal de São Paulo com o apoio do Ministério da Cultura e da Pre-feitura de São Paulo. A 29a edição fi rmou parceria com a Secretaria de Educação do Estado e a do Município de São Paulo e de outras cidades vizinhas, com diversas instituições privadas de ensino e ONGs para a capacitação de mais de 35 mil educadores. Foi aberta ao público no período de 25 de setembro a 12 de dezembro de 2010, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, localizado no Parque do Ibirapuera, em São Paulo – SP. Site: www.fbsp.org.br
Início de conversa
Na Escola ALFA, a Arte é concebida no currí-
culo como mais uma possibilidade de trabalhar
com o sujeito em todos os seus aspectos. Essa
concepção deriva da compreensão de que a Arte
possibilita à criança traçar novos caminhos, de-
senvolvendo a sensibilidade e adquirindo novos
modos de sentir e de pensar.
Entendemos que a expressão artística assume
grande relevância na Educação Infantil, já que por
ela os pequenos se aproximam da realidade de um
jeito diferente, isto é, pela pintura, pelo desenho,
pela música, pela modelagem, pela fotografia etc.
Por sua riqueza simbólica e pela ludicidade de seus
materiais, a Arte adquire status de linguagem pri-
vilegiada nos espaços educativos infantis, justamen-
te pelo diálogo possibilitado.
Na Escola ALFA, as ações que envolvem alu-
nos, professores, coordenadores e especialistas
denominam-se “ação artística”, que corresponde
ao desenvolvimento simultâneo e permanente de
atividades com três focos diferentes e comple-
mentares: a experimentação, a expressão gráfica
e a investigação.
Bienal e Educação Infantil
O que nos aproximou da 29a Bienal de Arte de
São Paulo6 foi a convicção de que o acesso à Arte
constitui-se em possibilidade de transformação. A
declaração do presidente da Fundação Bienal,
Heitor Martins, veio ao encontro de nossas cren-
ças: “Acreditando na importância da Educação e da
Arte na formação dos cidadãos e na sua maneira
de enxergar o mundo, a Bienal de São Paulo dedi-
ca-se a promover o contato do público com a pro-
dução artística.”
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O título da Bienal Há sempre um copo de mar
para o homem navegar (inspirado num verso do
poeta alagoano Jorge de Lima) sugeria a importân-
cia da experimentação referida acima. Segundo os
curadores, a dimensão utópica da Arte está contida
nela e não fora dela. Ao pensarmos no projeto
Nosso Terreiro (relatado a seguir), não pretendíamos
fazer uma reflexão política com crianças de Educa-
ção Infantil – pelo menos não com a dimensão pen-
sada e proposta pelos organizadores da Bienal.
Queríamos, sim, abrir um espaço de diálogo, de ex-
perimentação, para além de nossas salas e de nosso
ateliê, invocando os pais, os professores e a comu-
nidade para experimentar e pensar Arte. Também
era nosso objetivo oferecer aos pequenos o acesso
às obras expostas na Bienal, em um trabalho com
base na nossa “ação artística” e também na elabo-
ração de uma exposição.
Reconhecíamos no ato do planejamento que se
tratava de um projeto ousado, considerando-se o
contexto em que ele se desenvolve: a Educação
Infantil. Por que e para quê ousar? Para chamar a
atenção de artistas, de educadores e da sociedade
às possibilidades de ação e de produção de crian-
ças por meio da Arte. Vale ressaltar aqui que, em
geral, há visitas monitoradas para crianças desta
faixa etária em museus do Brasil. O que estaria por
trás dessa exclusão? Qual é a visão de mundo, de
sujeito, de Educação e de Arte? Consideramos que
a Bienal poderia ser tomada como um espaço para
ousar e questionar temas como esses que, a nosso
ver, são de natureza política.
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As crianças levaram objetos vermelhos para a apreciação artística
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A 29a Bienal de Arte de São Paulo elaborou extenso Projeto Educativo, com atividades e materiais de formação
variados para públicos diferentes. Tendo como foco a experiência com a Arte, as ações não constituíram um guia
para a compreensão dos trabalhos, mas uma coleção de convites para quem quisesse se aproximar dos conceitos e
das poéticas que integraram a mostra. A ideia foi encorajar o público a acreditar nas próprias percepções sobre os
trabalhos expostos, lançando mão de seus repertórios e experiências, e, ao mesmo tempo, oferecer informações que
ampliassem seu universo de compreensão da Arte.
Sob a curadoria de Stela Barbieri7, o programa teve início antes da exposição, com a organização de ações de
formação para educadores de escolas públicas e particulares, organizações não governamentais, comunidades e as-
sociações culturais. A equipe de 320 educadores foi especialmente preparada para receber o público ao longo da
mostra por meio de formação organizada em parceria com 22 instituições culturais de São Paulo, dentre elas: Pina-
coteca do Estado de São Paulo8, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP)9, Museu de Arte Contem-
porânea da Universidade de São Paulo (MAC)10, Centro Cultural São Paulo (CCSP)11 e Instituto Itaú Cultural12 – de
modo a propiciar um contato com diferentes experiências em mediação cultural. Cursos para crianças, adolescentes,
jovens e adultos, encontros com críticos, curadores e artistas, e um seminário internacional sobre Educação, arte e
política complementaram as atividades.
Fonte: 29a Bienal – Educativo. Site: www.bienal.org.br/FBSP/pt/Educativo
Projeto Educativoda Bienal
7 Artista plástica, educadora e contadora de histórias; curadora do projeto educativo da 29a Bienal de Arte de São Paulo e diretora da Ação Educativa do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo – SP.
8 É o museu de arte mais antigo da cidade de São Paulo, com ênfase na produção brasileira até a contemporaneidade. Praça da Luz, 2 – São Paulo – SP. Tel.: (11) 3324-1000. Site: www.pinacoteca.org.br
9 É considerado o mais importante museu de arte ocidental do Hemisfério Sul. Em seu acervo destacam-se pinturas ocidentais, prin-cipalmente italianas e francesas, do século XIII aos nossos dias. Avenida Paulista, 1578 – São Paulo – SP. Tel.: (11) 3251-5644. Site: www.masp.art.br
10 É um dos mais importantes museus de arte moderna e contemporânea da América Latina. Atualmente conta com 2 unidades: MAC USP Cidade Universitária, Rua da Praça do Relógio, 160 (antiga Rua da Reitoria) – Cidade Universitária – São Paulo – SP. Tel.: (11) 3091-3039 e MAC USP Ibirapuera, Pavilhão Ciccillo Matarazzo, 3o piso, Parque Ibirapuera – São Paulo – SP. Tel.: (11) 5573-9932. Site: www.mac.usp.br
11 Oferece espetáculos de teatro, de dança e de música; mostras de artes visuais; projeções de cinema e de vídeo; ofi cinas, debates e cursos, além de manter sob sua guarda expressivos acervos da cidade de São Paulo. Rua Vergueiro, 1000 – Paraíso – São Paulo – SP. Tel.: (11) 3397-4002. Site: www.centrocultural.sp.gov.br
12 Instituto privado, voltado à pesquisa e à produção de conteúdo, ao mapeamento, ao fomento e ao estímulo à produção e difusão de manifestações artísticas. Avenida Paulista, 149 – São Paulo – SP. Tel.: (11) 2168-1777. Site: www.itaucultural.org.br
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Visita das criancas à 29a Bienal de Arte de São Paulo
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13 Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 1937–1980) foi pintor, escultor, artista plástico e performático de aspirações anarquistas. É conside-rado um dos artistas mais revolucionários de seu tempo, cuja obra experimental e inovadora é reconhecida internacionalmente.
14 Mira Schendel (Zurique,1919–1988) estudou as potencialidades gráfi cas das letras em diversas explorações de suas formas, como se cada letra tivesse um mistério contido em seu próprio desenho. Foi a única artista desse time que não nasceu no Brasil, mas foi escolhida por ter vivido no País.
15 Rosângela Rennó (Belo Horizonte, 1962) propõe a ressignifi cação de imagens preexistentes. Negando-se a produzir novas fotogra-fi as, a artista passa a se interessar por imagens recolhidas em álbuns e arquivos fotográfi cos de sua família.
Artistas brasileiros
Tendo em vista a importância e a grandiosidade
de um evento que aconteceria tão próximo de nós
e do papel da Arte na Educação que se desenvolve
em nossa escola, aceitamos o desafio de transpor
a linguagem de diferentes artistas da mostra para
o universo da Educação Infantil, assumindo a Arte
como linguagem privilegiada para esse público. Foi
assim que nasceu o projeto Nosso Terreiro, que en-
volveu as crianças de 2 a 7 anos, com o objetivo de
orientar e organizar as ações desenvolvidas na
Escola ALFA, tomando a 29a Bienal de Arte de São
Paulo como integradora das atividades curriculares
no segundo semestre de 2010.
Considerando a grande quantidade de artistas
com obras na Bienal e a especificidade de nossos
alunos, escolhemos estudar os artistas brasileiros
representados nessa exposição (e que estão nas
prateleiras da biblioteca de Arte da Escola), cujas
obras as crianças, as professoras, os funcionários e
os pais certamente têm mais possibilidade de aces-
so em exposições de galerias e demais espaços.
Seis artistas foram escolhidos para o trabalho, le-
vando-se em consideração as diversidades do fazer
artístico, sua importância histórica no âmbito na-
cional e a capacidade de diálogo direto com a faixa
etária em questão. São eles: Cildo Meireles, Ernes-
to Neto, Hélio Oiticica13, Mira Schendel14, Nelson
Leiner e Rosângela Rennó15.
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A Arte possibilita à criança desenvolver novos modos
de sentir e de pensar
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Com base no estudo de cada um desses artis-
tas, foi possível ensinar técnicas diferentes: inten-
sidade cromática, com Cildo Meireles; instalação,
com Ernesto Neto; construção, com Hélio Oi ti ci-
ca; grafismo de letras, com Mira Schendel; cola-
gem, com Nelson Leirner; e fotografia, com Ro sân-
gela Rennó.
Todo o processo começou no primeiro semestre
de 2010. No fim de maio e ao longo de junho, as
coordenadoras pedagógicas e eu participamos do
curso elaborado pelo setor Educativo da Bienal
que, além das preciosas informações, distribuiu va-
lioso material. Com isso, iniciou-se uma conversa
com as professoras da Escola sobre a implantação
do projeto. Foi definido que todas as turmas parti-
cipariam do trabalho, realizando as mesmas ativi-
dades, apenas adaptando-as às características de
cada faixa etária. Cada um dos artistas foi traba-
lhado durante duas semanas, em duas etapas, da
seguinte maneira:
1. Atividade artística proposta por mim para todas
as turmas, com referência no trabalho do artista
estudado.
2. Com base no trabalho da semana anterior, cada
professora, levando em conta as características
de seu grupo, elaborou uma proposta de produ-
ção diferente, modificando o suporte inicial.
Essas ações, coletivas ou individuais, caracteri-
zaram-se em atividades como pintar por cima,
cortar e remontar, rasgar e colar em um novo
suporte, fotografar para fazer intervenções etc.
Antes de iniciar os trabalhos, as educadoras
apresentaram para as crianças imagens da vida
e da obra dos artistas e uma breve biografia de
cada um deles.
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Ações artísticas permanentes na Escola ALFA: experimentação, expressão gráfica e investigação
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Aos 10 anos, Cildo Meireles mudou-se para Brasília, e foi nesse período que travou contato com a Arte Mo-
derna e Contemporânea. Em 1967, foi para o Rio de Janeiro e passou a dar mais atenção para obras tridimen-
sionais. Sua primeira instalação foi Desvio para o vermelho, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro (MAM-RJ), em 1967. Nesse mesmo ano, criou Espaços Virtuais: Canto, ambientes assemelhados a inte-
riores de casa, organizados segundo especulações geométricas.
Em 1970, participou da exposição coletiva Information, no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque – EUA
(Museum of Modern Art – MoMA). A mostra reuniu boa parte da produção de matriz conceitual da década de
1960. Cildo participou com Inserções em circuitos ideológicos, trabalhos em que imprime frases subversivas em
cédulas de dinheiro e em garrafas de refrigerante. A intervenção política em objetos banais é constante em sua
produção entre 1970 e 1975.
Morou também nos Estados Unidos da América, de 1971 até 1973. Ao retornar ao Brasil, concentrou seu
trabalho nas linguagens conceituais e na apropriação de objetos não artísticos.
Realizou, em 1975, a instalação Eureka/Blindhotland, na qual investigou propriedades sensoriais não visuais
dos objetos utilizados. Na segunda metade da década de 1970, ampliou essa discussão em esculturas. No início
da década de 1980, alguns elementos pictóricos foram incorporados às suas instalações e esculturas. A obra
deu escala monumental à temática política de Cildo Meireles. A partir de 1989, passou a expor fora do Brasil
com mais frequência.
Um pouco deCildo Meireles
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Desvio para o vermelho, de Cildo Meireles. Acervo do Instituto Inhotim – MG
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Tudo em vermelho
Todas as crianças assistiram a um vídeo16 so-
bre a vida e a obra de Cildo Meireles. Depois, as
professoras solicitaram a cada uma que levasse
para a escola um objeto vermelho. No dia combi-
nado, por sorteio, os pequenos colocaram seus
objetos em um local onde todos puderam sentar-se
em volta para apreciá-los. Tinta vermelha e riscan-
tes de vários tons foram oferecidos, além de car-
tolina para que eles pintassem ou desenhassem
o que quisessem. Para os maiores, havia lápis
grafite para desenho de observação dos objetos,
além de material de pintura.
As crianças das turmas de 5 e 6 anos realiza-
ram, além das atividades apresentadas, uma pes-
quisa individual. Nesse momento, pedimos a cola-
boração dos pais e dos responsáveis. Era preciso
encontrar, em qualquer momento da história da
Arte Brasileira, um artista que, por alguma ra-
zão, lhes despertasse interesse particular e sig-
nificativo. A atividade teve como objetivo cons-
truir repertório visual e prático, com referência
nos artistas brasileiros da Bienal.
Como resultado, as pesquisas revelaram di-
versos tipos de informação, como a história de
vida do artista escolhido, sua trajetória artística
e, principalmente, fotos e imagens de seu traba-
lho. Depois, todos fizeram uma apresentação
para os demais colegas da sala. O envolvimen-
to dos alunos e dos pais e a desenvoltura das
crianças durante a apresentação da pesquisa
para os colegas revelaram a potencialidade da
Arte como integradora do processo de desen-
volvimento infantil.
16 Cildo Meireles, produzido pelo Instituto Cultural Inhotim, Brumadinho – MG. 2008. Apresenta os trabalhos em exposição permanente em Inhotim Arte Contemporânea: Desvio para o vermelho, 1967–1984, Através, 1983–1989, Glober Trother, 1991 e Inmensa, 1982-2002.
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Pesquisas de diferentes suportes e materiais
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Entrevista comStela Barbieri
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Revista Avisa lá – Qual é a importância de se visitar
museus e exposições?
Stela Barbieri – É importante criar possibilidades de
acesso para que os alunos conheçam outras culturas
e vivenciem o encontro com a Arte desde sempre.
Uma criança que se relaciona com a Arte pode ter
uma visão mais abrangente do mundo, com respeito
às diferenças em sua maneira de se relacionar consigo
e com os outros.
Revista Avisa lá – E as escolas que não possuem
essa oportunidade de visita na cidade, o que de-
vem fazer?
Stela Barbieri – O mais importante na Educação por
meio da Arte é a formação estética, que pode se dar
com base na observação do entorno e na percepção
do lugar onde se vive – a temperatura, a arquitetura
e a natureza. Os professores podem usar também a
internet, pesquisar artistas que vivam na região e,
assim, criar um território de experiências estéticas
vivo e significativo.
Revista Avisa lá – Como o professor pode ajudar a
turma a se preparar para visitas a museus e a ex-
posições?
Stela Barbieri – O professor pode participar de for-
mações e de cursos a distância, mas pode também
trabalhar com os alunos as percepções do corpo e a
observação de tudo que o cerca. É possível também
criar ateliês para práticas artísticas em que os alu-
nos, além de refletir sobre Arte, possam experimen-
tar seu processo criador. A Arte Contemporânea
propõe o questionamento do mundo atual e isso diz
respeito a todos nós.
Revista Avisa lá – Sobre a Bienal, qual é a impor-
tância de um evento desse porte para as escolas?
Stela Barbieri – A Bienal é uma das maiores exposi-
ções de Arte do mundo, um evento que conta com a
presença de grandes artistas, que estão produzindo a
Arte de nosso tempo, que refletem sobre nossos com-
portamentos, problemas sociais e econômicos atuais e
diferentes temas que nos cercam. As percepções de
cada pessoa são únicas e é importante que a escola
reconheça a singularidade de cada aluno em suas lei-
turas de Arte.
Revista Avisa lá – Ainda sobre a Bienal, como é
possível que os professores e, consequentemente,
os alunos, aproveitem um evento como esse?
Stela Barbieri – Nossa proposta é que as pessoas
reflitam sobre Arte, mas também sobre a vida, sobre o
mundo. Para que os professores e os alunos possam
aproveitar a Bienal como um todo, acreditamos que o
mais importante é estar aberto para sentir. A escola
leva como aprendizado a possibilidade de olhar para
coisas cotidianas de maneira diferente e perceber que
a Arte faz parte da vida.
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Em setembro, combinamos que as crianças visita-
riam a Bienal. Como parte da preparação dessa
saída, as professoras visitaram antes a mostra.
Também houve uma reunião com os pais para
apresentação do projeto Nosso Terreiro. Na oca-
sião, foram sorteados kits do material da Bienal
para os interessados e distribuídos convites para
os responsáveis a fim de que eles pudessem ir com
a escola ao evento.
Exposição de aprendizagens
Em novembro de 2010, a Escola ALFA abriu
as portas para receber alunos, famílias e demais
convidados para a exposição de todos os tra-
balhos realizados no projeto Nosso Terreiro. O
convite para o evento foram copos de quatro
cores diferentes para cada família, com o título
da Bienal: Há sempre um copo de mar para o
homem navegar. Assim como na Bienal, a Escola
dividiu-se por terreiros. Foram seis, correspon-
dendo aos artistas estudados.
Como ação coletiva, montamos o sétimo es-
paço para que cada turma escolhesse livremente
o modo de trabalhar o tema da exposição. O
resultado desse terreiro-síntese expressou o al-
cance do projeto, pelo envolvimento de alunos e
docentes na produção de mares, barcos, casca-
tas, barcos à vela, resultando em uma instalação
de grande criatividade e beleza.
Nos terreiros dos artistas, além da exposição
das obras produzidas pelas crianças, foi montado
um ateliê para os visitantes realizarem atividades
artísticas. Não havia limite de tempo nem de
quantidade. A ideia era envolver pais e filhos em
uma produção conjunta, em que o lúdico assu-
misse prevalência.
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Contato com a produção artística
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No terreiro de Cildo Meireles, realizamos uma
oficina de exploração do vermelho. As professo-
ras montaram as mesas de luz e o retroprojetor
para manuseio de vários objetos translúcidos.
Crianças e pais podiam escolher os objetos (um
ou vários), colocá-los sobre a mesa de luz e vê-los
projetados no teto, com formas que surpreen-
diam e encantavam. No mesmo espaço, sobre
uma mesa, havia também grandes cartolinas ver-
melhas (atividade individual) e um rolo de papel
kraft aberto (atividade coletiva), além de riscantes
e tinta vermelha de vários tons.
Na história da ALFA, muitos foram os projetos
realizados, sempre com o objetivo de integrar os
conhecimentos das diversas áreas trabalhadas na
Educação Infantil e de sintetizar o processo vivido
por crianças e educadores ao longo do ano letivo.
Contudo, o trabalho apresentado foi surpreenden-
te, sobretudo pelas ações e interações proporcio-
nadas pela Arte Contemporânea. A começar por
nosso contato com a equipe do setor Educativo da
Bienal, que se constituiu em parceiro na formação
da nossa equipe; pela receptividade e pelo envol-
vimento dos pais e dos responsáveis em todos os
momentos; pelo envolvimento de vários funcioná-
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Pais e filhos envolvidos em uma produção conjunta
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Livros Catálogo da 29a Bienal de São Paulo: Há sempre um copo de mar para um homem navegar, organizado por Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos: Fundação Bienal de São Paulo: São Paulo. Tel.: (11) 5576-7611. E-mail: [email protected] CILDO MEIRELES, de Paulo Herkenhoff, Geraldo Mosquera e Dan Cameron. Cosac & Naify: São Paulo. Tel.: (11) 3218-1472. Site: http://editora.cosacnaify.com.br/AtendProfessorGeral.aspx
F I C H A T É C N I C A
S U S T A N Ç A
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Ações e interações proporcionadas pela Arte contemporânea
Escola ALFAEndereço: Rua dos Macunis, 333 – Alto de Pinheiros. CEP: 05444-000 – São Paulo – SPTel.: (11) 3031-8656/3819-4567E-mail: [email protected]: www.escolaalfa.comDiretora pedagógica: Cecília Pereira de Almeida AssumpçãoE-mail: [email protected] institucional: Vera Trevisan de SouzaCoordenadora: Carla Gorga GuimarãesAssessora de Arte: Fernanda AssumpçãoE-mail: [email protected]
Inhotim Arte ContemporâneaEndereço: Rua B, 20, Inhotim. CEP: 35460-000 – Brumadinho – MGTel.: (31) 3227-0001E-mail: [email protected]: www.inhotim.org.br
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rios da Bienal, que receberam as crianças, que se
encantaram com suas atitudes e conhecimento –
elas sabiam os nomes dos artistas e de suas
obras; pela habilidade de alguns alunos, que ser-
viram de monitores e guiaram os pais em visita à
mostra; e, finalmente, pela disponibilidade das
professoras, que se apropriaram de novos conhe-
cimentos sobre Arte Contemporânea, arriscaram
inusitadas produções com as turmas e guiaram os
pais e demais visitantes em suas oficinas.
O convite do setor Educativo da Bienal para
que relatássemos o projeto Nosso Terreiro, em um
dos terreiros, foi recebido com grande honra, e o
relato feito pelas profissionais da Escola ALFA co-
roou uma ação que revelou a importância da ação
coletiva na Educação e as reais possibilidades de
avançar em qualidade quando unimos os profissio-
nais da escola, os da Bienal e as famílias, na pro-
moção de algo que faz a diferença não só para as
crianças, mas para toda a comunidade.
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